As manifestações da sabedoria popular nos contos trinta e dois e tangerinos de Fontes Ibiapina

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RELATOS DA SABEDORIAPOPULAR NO CONTO

“TRINTA E DOIS” DE FONTESIBIAPINA.

* Almiranes dos Santos Silva

* Anderson Guilherme Pereira de Paiva(pós-graduação: Literatura e Estudos

Culturais - UESPI)

HERANÇAS CULTURAIS

Todas as culturas possuem uma sabedoria popular que faz parte de sua herança cultural, adquirida e transmitida de geração em geração, a transmissão dessa herança dá as bases de sustentação para o reconhecimento do próprio indivíduo enquanto ser participante de uma determinada cultura.

Cada geração recebeu de seus

antepassados ,seja pelo exercício

prático, seja pela audição de normas e

saberes ,seja pela observação e

imitação, um acervo de bens e valores que

procurou

absorver,conservar, dinamizar, enriquecer,

para por sua vez, transmiti-lo à geração

seguinte. (...) (WEITZEL, 1995).

Por meio da linguagem se perpetuou a

tradição cultural.

Cada povo transmitindo, conhecimento e

experiências vividas excitava a imaginação

e criou inegáveis fontes literárias de valor

incomensuráveis

A tradição oral, evoluída natural e

espontaneamente, deu origem a literatura.

•Brito (2004, p.35):

Todos os povos dos mais primitivos aos

contemporâneos possuem na sua experiência seus

mitos, crenças religiosas, costumes valores éticos

que refletem uma forma de agir e pensar, construindo

sua tradição cultural.

•Hall (2003, p.48) ao dizer que “um homem deve ter

uma nacionalidade, assim como deve ter um nariz e

duas orelhas.”

•Candido (1965, p.26) diz que “a obra se espelha na

sociedade para representá-la.”

As manifestações artísticas são

coextensivas à própria vida social, não

havendo sociedade que não as manifeste

como elemento necessário à sua

sobrevivência, pois como vimos, elas são

uma das formas de atuação sobre o

mundo e equilíbrio coletivo e individual.

(CANDIDO, 1965, p.81)

João Nonom de Moura Fontes Ibiapina

- representante da prosa regionalistacontemporânea;-Nasceu na fazenda Lagoa Grande município de Picos, Piauí, em 14 de junho de 1921. A fazenda é uma fonte inspiradora de várias de suas personagens, tendo grande influência em sua vida literária;

-Encontrou no conto sua melhor forma de

expressão literária;

• Documento folclórico, a cultura popular e o

mundo sertanejo;

• Memória ,o homem rural e seus problemas.

• Preocupação em ser fiel ao linguajar nordestino,

exibindo os tipos humanos que aqui residem,

com os seus hábitos e costumes.

•Resgatando episódios curiosos e pitorescos da

vivência na infância, através disso preservando a

história do seu estado e a sua própria história.

•Magalhães da Costa (2002, p. 06) afirma que

os contos de Ibiapina trinta e dois e tangerinos

são:

Duas obras-primas, de rara e extraordinária

beleza, onde se salientam o modo próprio e

original de contar do ficcionista, a agudeza do

repórter atento e do retratista fiel, de seu

mundo e de sua gente, o intérprete verdadeiro

do povo cuja memória transpôs sem distorções

e com riqueza de detalhes, revela-nos

sentimentos, costumes, meios de vida e

ocupações, divertimentos, falas, crendices, e

superstições.

•Sendo ele mesmo um narrador – personagem

que narra um episódio da seca que castigou o

ano que dá nome ao conto, os relatos da seca

de 1932 que são expostos a partir do ponto de

vista de um menino “o menino encapetado, o

fogoió traquinas”, que foi o próprio escritor na

sua “rica e bem desfrutada infância”.

(COSTA, 2002, p.06)

•O cenário do conto é o pedaço de chão

denominado Samambaia, onde predomina uma

vivência simples, apegada aos valores

religiosos e a terra;

• O tempo é cronológico, mais precisamente a narrativa

se inicia no dia catorze de dezembro de 1932, um dia

após o dia de santa Luzia.

•Experiência das pedrinhas de sal:

As pedras de sal, postas ao sereno durante a noite,

amanheceram secas que nem língua de papagaio!

Muitos já sabiam que as chuvas dos cajus não vieram.

E quando as chuvas dos cajus não assinam o ponto,

pode tirar o cabelo da venta – não haverá inverno.

(IBIAPINA, 1957, p.09)

•sinal do céu;

-A sabedoria popular, que é um constituinte

significante da identidade sertaneja;

-Encontrou no conto sua melhor forma de

expressão literária;

• Documento folclórico, a cultura popular e o

mundo sertanejo;

• “perscrutavam a flora, a fauna, os astros que

povoam o céu de sua região, num sentido

muitas vezes desconfiado, mas que não deixa

de alimentar a ilusão, amenizar a angústia e

fortalecer a sua esperança.”

•Tais crenças demonstram antes de tudo que o

meio é a fortaleza, o alicerce em que o

sertanejo tem para se apegar, lhe dando

encaminhamentos de como agir em um

ambiente muitas vezes adverso.

•Santa Luzia descera do céu com um

recado triste. “E Santa Luzia jamais

mentiu para aquela gente.” (IBIAPINA

p.09).

•“(...) a matutada de samambaia

amanheceu de crista caída.” (IBIAPINA,

p.09).

•“(...) e o espírito do povo se abismava,

numa melancolia tão profunda, que

parecia de cada casa haver saído um

defunto.” (IBIAPINA, p.09).

•Assim o estudo em questão se pauta

nessa interconexão entre literatura e

preservação da sabedoria popular de

um povo, uma vez que a literatura é

uma das ferramentas de preservação

cultural e identitária, observamos que

no conto “trinta e dois” de Fontes

Ibiapina há a presença de elementos

da tradição cultural popular da

sociedade piauiense transpostos para

a literatura, sendo através desta

perpetuados para as gerações futuras,

como diz Hall (2003, p.34) ao elencar os cinco elementos de manutenção da história de uma nação, um desses cinco elementos é a narrativa da nação, em que histórias contadas, recontadas na literatura, na mídia, na cultura popular simbolizam uma série de estórias, imagens, panoramas, cenários, que dão sentido à nação, que faz com que os indivíduos se reconheçam e se orgulhem de partilharem de uma determinada sociedade.

Obrigada pela atenção!

Referencias

BRITO, Stela Maria Viana. O Regionalismo presente na obra chão de meu

Deus na obra de Fontes Ibiapina. Piauí: Grafset – Gráfica e editora Rêgo

Ltda., 2004.

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. São Paulo: Nacional, 1965.

COSTA, Magalhães. In: Prefácio do livro Trinta e Dois e Tangerinos. Teresina-PI:

Livraria e Editora Corisco LTDA, Vol. 2, 2002.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz

Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 8ª ed. Rio de Janeiro: Dp & A, 2003.

IBIAPINA, João Nonom de Moura Fontes. Chão de meu Deus (contos). Edição

do caderno de letras “Meridiano”. Teresina

WEITZEL,Antônio Henrique.Folclore literário e linguístico;pesquisa de literatura

oral e de linguagem popular.Juiz de fora,1995.

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