O Ateneu especial

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Raul d’Ávila Pompéia nasceu a 12 de abril

de 1863, em Jacuacanga, Angra dos Reis,

Rio de Janeiro.

Estudou direito, militou nos movimentos abolicionistas, colaborou na

Gazeta de Notícias, envolveu-se em diversas polêmicas e suicidou-se

numa noite de Natal aos 32 anos.

O ATENEU, Raul Pompeia

O Ateneu retrata, reconhecidamente, um período da vida de seu autor. Entre os 10 e os 16 anos, Raul Pompeia conheceu na Corte a educação escolar sob regime de internato. O escritor foi aluno do famoso Colégio Abílio, dirigido pelo renomado educador Dr. Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas. Raul aproveita-se da experiência para transfigurá-la em sua narrativa. Deve-se considerar, portanto, Sérgio como alter ego do autor; o Ateneu e seu diretor Aristarco Argolo de Ramos como paralelos ficcionais do Colégio Abílio e do Dr. Abílio César Borges

Alter ego (por vezes grafada alterego) é uma locução substantiva com origem no latim "alter" (outro) e "ego" (eu) cujo significado literal é "o outro eu". O alter ego é uma outra personalidade de uma mesma pessoa podendo ser um amigo ou alguém próximo em que se deposita total confiança.

Na Literatura, o alter ego significa a identidade oculta de uma personagem, que pode ser também uma estratégia usada pelo autor do livro para se revelar indiretamente aos leitores. Na literatura brasileira, a personagem Emília, do Sítio do Picapau Amarelo, é considerada por alguns críticos como o alter ego do escritor Monteiro Lobato.

Egoísmo, injustiça, ambição e hipocrisia são alguns dos valores a que Sérgio estará exposto nesse período. Assim, o limitado espaço do internato torna-se uma espécie de microcosmo da sociedade. Raul Pompéia atacou as oligarquias dominantes em comícios, satirizando-as por meio de caricaturas e artigos em diversos jornais. Por isso, sofreu perseguições políticas que culminaram com a sua reprovação nos exames finais da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Para poder concluir o curso, transferiu-se para o Recife, onde continuou tendo intensa atividade intelectual, colaborando com jornais do Rio de Janeiro, sob vários pseudônimos. O Colégio Ateneu também pode ser interpretado como uma miniatura da sociedade imperial da época na qual Aristarco encarna a figura do poder arbitrário, narcisista e ambicioso, própria dos imperadores.

Composição da obra

-Para exApresenta-se dividida em 12 capítulos, os quais podem ser agrupados em quatro partes:

1ª – O Ateneu visto antes da entrada de Sérgio (cap. I) 2ª – O primeiro ano de Sérgio no internato (cap. II a VII) 3ª – O segundo ano do protagonista no Ateneu (cap. VIII ao XI) 4ª – O incêndio que ocasionou a queda do Ateneu (cap. XII)

Apresenta um foco narrativo em 1ª pessoa. O narrador, Sérgio, reconstrói pela memória dois anos vividos num internato para meninos, o Ateneu. Considerado um colégio de excelência, dirigido pelo reconhecido pedagogo Aristarco Argolo de Ramos. O internato acolhia em suas classes alunos provenientes de respeitáveis famílias cariocas e até de outros Estados. Sérgio chega a esse ambiente com 11 anos.

O Ateneu (Crônica de Saudades)

"Vais encontrar o mundo”, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. “Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, (...)

Em O Ateneu, Raul Pompéia subverte a ótica romântica segundo a qual o tempo da infância é sinônimo de felicidade inocente. O romance é um retrato impiedoso dos bancos escolares, em que "cada rosto amável daquela infância era máscara de uma falsidade, o prospecto de uma traição".

Os elementos naturalistas decorrem da concepção instintiva e animalesca das personagens, cujo comportamento é determinado pela sexualidade e condição social. Há um certo gosto “naturalista” pelas “perversões”. É o que ocorre nas descrições de Ângela e na tensão de homossexualismo que existe nas relações de Sérgio com Sanches, Bento Alves e Egbert.

Os elementos expressionistas estão na descrição, através de símiles exagerados, dos ambientes e pessoas, compondo “quadros” de muita riqueza plástica, especialmente visual, e desnudando de forma cruel os lugares, colegas, professores. As frases transmitem grande carga emocional. O estilo é nervoso e ágil. A redução das personagens a caricaturas grotescas parece proveniente da intenção de deformar, de exagerar, como se Raul Pompeia estivesse “vingando-se” de todos.

Os elementos impressionistas evidenciam-se no trabalho da memória como fio condutor. O passado é recriado por meio de “manchas” de recordação, - daí a existência de um certo esfumaçamento da realidade, pois o internato é reconstituído por meio das impressões, mais subjetivas que objetivas, eivadas de um espírito de vingança, sofrimento e autopunição.

Na literatura, o artista deve procurar o registro das impressões momentâneas, segundo o estado de espírito que o invade num único e dado momento. Em vez de retratar a coisa como ela é (Realismo), registra a impressão que ela provoca no observador. O texto impressionista é muito sensorial, pois explora as nuanças cromáticas, olfativas, gustativas. Há quem, por isso, rotule O Ateneu de romance impressionista.

ALGUNS PERSONAGENS DA OBRA O ATENEU

Sérgio: Personagem central, pois é a partir da sua ótica que a história é contada. Aristarco: é o diretor do Ateneu. D. Ema: esposa do autoritário diretor . Ângela: É uma empregada do colégio, Sanches: É o sedutor que oferece proteção aos meninos novos e indefesos e ainda os ajuda nos estudos. Rebelo: É o aluno modelo, exemplar. Franco: É a vítima, o mártir. Bento Alves: Mantem uma relação de namoro com Sérgio. Egbert: Um verdadeiro amigo. Barreto: É um aluno, fanático religioso.

Logo no início do primeiro ano de colégio, Sérgio é aconselhado por Rebelo, que o adverte: "Faça-se forte aqui, faça-se homem. Os fracos perdem-se". Recém-saído da estufa de carinho e proteção familiar, Sérgio vê-se de repente parte de um grupo no qual "os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo". A partir dessas observações, Rebelo conclui: "Faça-se homem, meu amigo. Comece por não admitir protetores". Em pouco tempo de internato, Sérgio vê enfraquecida a decisão tomada de seguir o conselho de Rebelo e não admitir para si os chamados "protetores" – meninos de forte compleição física – que resguardavam os mais fracos em troca, principalmente, de favores amorosos. Ao forçar uma certa reserva em relação aos colegas, o narrador sente-se angustiado e acovardado, e assim deseja alguém que lhe valha, "naquele meio hostil e desconhecido".

Sanches, que se aproximara de Sérgio fingindo salvá-lo de um afogamento, cumprirá esse papel. Além da proteção, Sanches ajudará Sérgio nos estudos. Apesar da amizade, o narrador sente um certo asco pelo companheiro e, quando este o pressiona com intenções sexuais, ele se afasta. No final do primeiro ano, outra amizade se compõe. Bento Alves torna-se uma espécie de herói no Ateneu após capturar um funcionário fugitivo que cometera um crime dentro do colégio. Forte e generoso, Bento Alves é admirado por Sérgio. Logo, ambos tornam-se companheiros. Passam também a estudar juntos. Bento aceita um embate corporal com Malheiros para defender a honra do novo amigo. E aqui o narrador aceita melhor o papel de "namorada", porém sem favores sexuais. No segundo ano de Sérgio no Ateneu, Bento Alves inesperadamente rompe essa amizade.

Sérgio vive uma fase mística. Elege Santa Rosália, cuja imagem possui em gravura, como sua padroeira. Reza e identifica-se com a religião e a Astronomia. Depois de conhecer Barreto, menino beato muito exagerado em sua crença, desiste da adoração religiosa. Aproxima-se de Franco, garoto alvo das punições exemplares de Aristarco. O contorno de marginalidade flagelada desse aluno atrai Sérgio nesse período. No segundo ano, Franco adoece e, propositadamente, expõe-se ao sereno e à soalheira, agravando seu estado e provocando com isso a própria morte. Morre abraçado à imagem de Santa Rosália que furtara de Sérgio.

Nesse mesmo segundo ano, Sérgio estreita relações com Egbert, um garoto muito bonito e delicado. Porém, quem mais vai causar impacto nas memórias do narrador é D. Ema, mulher de Aristarco. Convidado para um jantar na casa do diretor, graças ao bom desempenho nas provas, Sérgio impressiona-se com a figura de D. Ema, que até então era algo distante e motivo de boatos entre os alunos. A mulher do diretor surge nos sonhos do narrador como uma imagem ambígua, misto de "mãe" e "mulher". Quando Sérgio, no final do segundo ano, adoece e é enviado à casa do diretor, como se fazia sempre que um aluno adoecia, D. Ema cuida dele e intensificam-se os conflitos internos do narrador.

Um grito faz Sérgio estremecer no leito e escancarar a janela; o Ateneu está em chamas. Américo, um menino estranho, que ficara na escola, obrigado pela família e que sumira dali, é o principal suspeito do incêndio. Desaparecera também a senhora do diretor que, desconsolado, presencia tristemente sua obra sucumbir.

-“Do interior do prédio, como das estradas de um animal que morre, exalava-se um rugido surdo e vasto. Pelas janelas, sem batentes, sem bandeiras, sem vidraça, estaladas, carbonizadas, via-se arder o teto; desmembrava-se o telhado, furando-se bocas hiantes para a noite. Os barrotes, acima de invisíveis braseiros, como animados pela dor, recurvavam crispações terríveis precipitando-se no sumidouro.” (cap.XII)

DESFECHO

O ATENEU

1. “Vais encontrar o mundo, disse-lhe o pai à porta do Ateneu. Coragem para a luta”.

2. Sérgio foi para o Ateneu aos 11 anos.

3. Em certas festividades, o garoto já havia visitado o colégio.

4. Foi apresentado ao diretor Aristarco e sua esposa D.Ema.

5. Conheceu Rebelo. Tornaram-se colegas, mas Sérgio não estava satisfeito com a descrição do Ateneu que Rebelo fazia e se afastou.

6. Após um acidente na piscina torna-se próximo de Sanches que começou a tratá-lo de forma nada comum.

7. Aristarco que era como um pai revela-se um homem cruel e hipócrita.

8. Sérgio conhece aquele que era alvo de várias chacotas e humilhações, Franco.

9. Os alunos do Ateneu eram catequizados, Sérgio por influência de sua prima, já falecida, era devoto de Santa Rosália, que por muito tempo o acompanhou.

10. O grêmio possui vários integrantes e é liderado por um professor, Dr. Cláudio. Nearco torna-se uma peça indispensável no grêmio do colégio “Amor ao Saber”.

12. Bento, que impediu a fuga do culpado pelo homicídio nutri uma amizade com Sérgio.

11. Ângela, uma empregada do internato, foi motivo de um homicídio.

13. Mesmo nas férias de 2 meses, a amizade entre Sérgio e Bento permaneceu.

14. Vários transtornos aconteceram, confusões, indisciplinas, neste início de ano. Dentre esses ocorreu a separação dos dois amigos.

15. Sérgio conhece uma amizade verdadeira, Egbert. Acontece algo muito intenso e puro entre Sérgio e ele.

16. Desde que Sérgio reencontra D. Ema percebe que seu sentimento por Egbert “esfria”, e seus pensamentos o levam a todo instante para D. Ema.

17. Franco morre e gera desconforto, “produzira uma penumbra de pânico” entre todos que integravam o Ateneu.

18. A família de Sérgio partiu para a Europa, deixando-o sob os cuidados de Aristarco

19. Sérgio se depara com uma enfermidade, Sarampo. Fica por um longo tempo isolado, recebendo apenas os cuidados de D. Ema e raramente a visita de Aristarco

20. FOGO! FOGO! FOGO!

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