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O CORPO DO PIÁ NO CCJ
TELMA LAZARO
INTRODUÇÃO
Compreendendo que o entendimento do corpo e todos os fenômenos
envolvidos no movimento são os temas centrais da vida (LABAN, 1978) e seu
desdobramento para a sociedade são os fatos mais importantes desta. Observando
que intervenção na vida humana acontece primariamente no corpo (FERNANDES,
Ciane, 2006) e que, toda a expressividade desenvolvida após esta (poética,
imagem, escrita, leitura, política, estética) são em si mesmas, maneiras de expandir
o território do movimento.
Este ensaio é uma observação da experiência do Programa de Iniciação
Artística (PIÁ) com o corpo no centro da reflexão.
Para tanto, o PIÁ, implantado no CCJ em 2014, é apresentado como um
homúnculos (ou um pequeno corpo).
O objetivo deste ensaio é o de subverter o pensamento organizacional
clássico, e dar luz ao pensamento orgânico, muitas vezes citado em vários
momentos importantes do Programa, durante o ano.
Para que o Programa seja identificado com um organismo vivo, é importante
retirar o corpo da lógica mecânica e biológica e coloca-lo sob a luz da atitude
holística ou integral:
A metáfora do corpo-organismo, é uma metáfora chave para compreender muitos fenômenos do mundo, tais como organismo social, organismo político. O organismo seria um princípio de conhecimento, um fundamento original que permite discutir fenômenos particulares manifestos nos comportamentos. Desse modo, funciona como um instrumento metodológico e teórico, que possibilita entender como certo fenômeno torna-se um fato identificável. Ele explica o vivo, ajuda a organizar, distinguir e distribuir os diversos segmentos do saber, e os direciona para uma ação ou objetivo. O conceito de corpo-organismo abrange significado de um corpo holístico, que inclui diversos aspectos, seja físico, emocional ou mental. Essa noção revela o corpo como um
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organismo complexo, que engloba desejos, emoções, necessidades biológicas, em que todos os dispositivos que participam da aprendizagem encontram-se interligado. (MORGAN, Gareth et al., 1996)
SOBRE ESTE “CORPO”
Eu poderia lhes contar dele através de seu olhar brilhante, de suas palavras
graúdas, de seus grandes sonhos, de suas narrativas. Eu poderia falar dele até
mesmo através de suas origens, seu lugar no mundo ou seu tempo estendido.
Poderia, diante de tantas palavras, escolher aquelas que o definem como
sujeito histórico e explanar sobre sua vocação.
Mas sobre o Piá no CCJ eu escolhi falar de seu corpo. Cruamente. De seu
sistema de vida.
O corpo do Piá no CCJ, como o seu e como o meu corpo tem específicas
necessidades, peculiar estrutura e determinada busca homeostática do próprio
equilíbrio.
Ele está sujeito a todo tipo de mudanças, à instabilidade, ao tempo e a morte.
Assim, este ensaio pretende ser uma maneira de integrar a maior parte
possível das informações sobre o funcionamento dinâmico-operacional dos
encontros espaço-criança-equipe-tempo deste organismo e de sua anatomia
autonomia no CCJ.
Este é o primeiro ano do Piá no CCJ (Centro Cultural da Juventude).
O trabalho realizado durante o ano foi fundamentado em narrativas, e com
elas percorremos todo o espaço físico. As histórias foram se fundindo ao espaço
físico do CCJ e assim, foi possível cartografar o espaço.
CARTOGRAFIA COMO EPIDERME
O desenvolvimento da cartografia permitiu a observação para o espaço como
material fenomenológico e não estático na experiência dos encontros. Essa
cartografia é uma característica da equipe e do Piá no CCJ hoje aparece desta
maneira:
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Cerca viva na entrada: Portal mágico e jardim secreto
Mesa de atividades externa: Barco da Invisibilidade
Corredores do primeiro andar: Labirinto da Medusa
Arena: Centro de Treinamento de heróis
Biblioteca: Centro de Pesquisa de Aventureiros
Brinquedoteca: sala do Piá
Elevador: Cápsula do tempo
Estúdio: Útero de dragões
Área Verde: Floresta/ Bosque onde moram Curupira e Caipora
Horta: Casa da Cuca e do Saci
A pele é onde acontece a regulação de temperatura (SOBOTTA, Johannes.,
2000) . É o lugar onde se transpira para o corpo resfriar e, onde vive o eriçar de
pelos diante do medo e do frio. Onde o meio interno se envolve, ganha característica
e cor.
A cartografia do processo revestiu esse corpo inteiro em camadas e
sensações. Pode-se dizer que a cara desse corpo, a cor dos olhos, os cabelos, o
formato dos dentes, as unhas, a resistência ao frio ou calor é também o fruto de uma
genética.
A pele é nobre porque separa nosso meio interno do restante do Universo.
Porque nos envolve para que possamos nos desenvolver. Assim é com a cartografia
que irá cobrir esse corpo em muitas histórias, crenças, sensações, reações. E é fato
que, cada espaço geográfico desse organismo teve sim sua experiência tátil. Essas
podem ser repetidas com um guia de aventuras em mãos. E serão deveras
repetidas.
E a cartografia não irá desgastar-se, como não se desgasta a pele diante de
afeto, cócegas e do frio.
E a cada aventura, a cartografia ganha aqui e ali suas marcas. Uma memória
de pele é diferente da memória mental porque é uma memória de sensações.
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3. O PRÉDIO COMO ESQUELETO
Programas arquitetônicos carregam em si a ambição de ordenar espacialmente atividades humanas. As atividades, por natureza própria, são mais ou menos demandantes de acessibilidade. Não é incomum que experienciemos edificações onde a lógica da distribuição das atividades contraria a lógica do percurso, a lógica de distribuição das gradações de acessibilidade. Isso pode ocorrer, e amiúde ocorre, tanto em edifícios comerciais quanto residenciais ou institucionais; edifícios bem dotados de tecnologia e estética mas que não funcionam adequadamente. E aí começam as reformas...A condição de acessibilidade ora descrita tem natureza eminentemente espacial; independe de função, atividade ou atratores. É só forma, formato topológico, configuração, modo de arranjo. Uma forma que não segue a função. Tudo é forma e as formas, no andar da carruagem, terminam ditando a natureza do evento. Funções ou atividades posicionadas em espaços cuja condição de acessibilidade seja desconforme com a natureza daquela função, em geral, não sobrevivem naquele posicionamento, seja na escala do edifício ou da cidade. A natureza espacial comanda a natureza comportamental, a natureza dos eventos, seguindo automaticamente o mecanismo topológico das gradações de acessibilidade. (AGUIAR, Douglas Vieira de, 2003).
O espaço é completamente subjetivo e sobre ele existem profundas teorias.
Por isso vamos nos ater a situação de empilhamento dessa arquitetura (CCJ)
e lembrar que estamos falando de um espaço com andares, unidos por escadas
centrais, como um esqueleto está unido pela coluna vertebral.
E, talvez as escadarias tenham aqui papel fundamental, vertebral.
Nem todos irão para a sala, mas todos passam pelas escadas. Nem sei para
onde irá e seu nome, mas sei que está descendo ou subindo. Talvez essa certeza
baste para um arquiteto desenhar um lugar com uma escada assim, grande e no
centro da entrada. O Piá fica logo abaixo dessa escadaria vertebral. De dentro da
brinquedoteca vemos nada menos que os pés das pessoas através da claraboia e
ouvimos quem desce e quem sobe. Com algumas semanas de encontros
conseguimos distinguir através dos sons o descer e o subir.
Voltando a entrada do prédio esqueleto: Ao adentrar o espaço, veremos uma
mesa com um funcionário à esquerda da escada ( com uma série de ferramentas de
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informação, inscrição, escolhas). É o crânio que disfere uma reflexão bem
interessante. Ser ou não ser? Para onde você irá agora?
À direita desta escada ainda, tem um teatro chamuscado e à esquerda dela
uma Arena. Duas órbitas.
Descemos a escada e então, ao lado esquerdo dela, tem salas de vidro.
Chamam-nas de “aquário”. A biblioteca de vidro à direita, e a brinquedoteca no meio
do espaço, embaixo das escadas. A brinquedoteca é o lugar onde a criança pulsa.
Essas estruturas de vidro (aquários, biblioteca), fisicamente frágil é análoga à
caixa torácica logo abaixo do crânio, com suas finas clavículas e costelas em pares
abaixo destas, e sua capacidade de expansão e contração. Dentro das costelas há
um coração e um par de pulmões. É uma estrutura óssea e flexível, a caixa torácica.
Descendo outra escada, estaremos no piso inferior. Este esqueleto terá
assim pernas que serão seus estúdios e ateliês; E dois pés que são sua área verde,
cheio de raízes.
O pé direito comporta uma horta e o esquerdo um bosque.
Esses pés irão suportar todo o peso do corpo do Piá, serão o chão das
narrativas, terão a textura firme, intuição descalça e a vocação de correr.
ARTICULAÇÕES
Dentro deste organismo existe um programa de monitoria muito eficiente,
que funciona com a contratação de jovens monitores culturais. Neste organismo, a
monitoria aparece como articulações.
Sobre as articulações deve-se saber que não há movimentos sem elas, que
suportam peso, que se dobram quando precisam e que se ferem quando a carga é
muito grande e que dão ao corpo a noção de posicionamento.
Sobre as articulações devemos lembrar que se nutrem no movimento
(principalmente o delicado e circular), e que, funcionam ao longo do corpo num
sistema parecido ao de roldanas.
Sempre que precisarmos diminuir a dificuldade de alavanca do movimento,
ou aumentar o apoio, iremos aumentar o número de articulações envolvidas nele.
Assim, nos deslocaremos harmoniosamente.
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O Piá no CCJ se articulou muito bem. Com o tempo, o deitar-se e levantar-
se do Piá no CCJ irá utilizar um número tão grande de articulações que este
movimento tão básico poderá acontecer em espiral, dado o número e eficiência
dos monitores envolvidos.
O SISTEMA LOCOMOTOR
O sistema locomotor do piá no CCJ é a presença dos pais, seu movimento
concêntrico (para dentro) ou excêntrico (para fora), a incapacidade de desativar
mesmo no repouso, o tônus, o sinergismo com a Equipe e o Programa, a
organização de força/relaxamento necessários, especializados e precisos.
As mães sabem que para o movimento acontecer é imprescindível energia (e
alimento que vire energia), recrutamento de força, planejamento, aquecimento,
familiarização, especificidade e repouso (BROWN, Lee, 2003).
PROCESSOS COMO IRRIGAÇÃO
Os processos são como grandes artérias que atravessam todas as turmas e
as duplas.
Estão sob a epiderme cartográfica do CCJ e dentro de seu esqueleto azul.
Essas artérias levam e recebem nutrientes ( ideias, jogos, propostas) de um
lugar a outro, de um dia para outro, de uma turma para outra, em um processo
circulatório que quando para cria uma estase.
Como a circulação não acontece em estase. Quando os processos são
interrompidos (como na Copa do Mundo), a própria circulação/processo o desloca
num retorno venoso para dentro do coração, que por sua vez o bomba para os
pulmões, (GUYTON, Arthur, 2006) que oxigena os processos com novas poéticas e
o devolve à circulação das turmas.
É interessante que os processos tenham de fato circulado entre as turmas e
que conseguimos repetir, determinada experiência com outra dupla em outra turma
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e que, de alguma maneira, a disponibilidade das duplas tenha dado aos fenômenos
um tempo estendido, necessário à arte.
E.
Silêncios.
Necessários.
Também é verdade que cada profissional e cada variação de linguagem tenha
dado ao processo um valor diferente e extraído dele diferentes possibilidades.
A Pesquisa Ação está presente quando sabemos que tipo de escolha ou
provocação artística irá abrir as portas do imaginário e, quando nos deparamos
novamente com esta proposta modificada após ter sido atravessada por outras
turmas e duplas de artistas educadores.
Essa didática confere aos encontros uma fluência direta e flexível que ira ser
transformada e irá transformar-se para irrigar novos encontros.
6.1 A Interlinguagem
A importância da interlinguagem nos processos irrigadores é a de saber
quem somos no todo. A diversidade de provocações durante os encontros sobre
um mesmo tema, narrativa, imagem, os potencializa.
Sobre a interlinguagem na irrigação é necessário lembrar que o sangue
dentro do corpo sempre aumenta de pressão quando a resistência é maior e diminui
de pressão quando a complacência é maior.
O corpo do Piá no CCJ apresenta grande complacência e não grande
resistência. Assim, a fluência é grande e os encontros são devidamente oxigenados.
7. EQUIPE E RESPIRAÇÃO
Os pulmões desempenham múltiplas funções, mas a principal delas é a de servir de local de encontro entre o ar fresco
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que é inalado e o sangue venoso misto, de modo que a quantidade apropriada de oxigê- nio possa deixar o ar e passar para o sangue e a quan- tidade apropriada de dióxido de carbono possa se des- locar do sangue venoso para o ar. Na intimidade dos pulmões, o local de encontro entre ar e sangue, a mem- brana alveolocapilar, é uma estrutura muito delgada (menos de 0,1 micrômetro de espessura) com vasta área de superfície (aproximadamente 70 m2 no adul- to) e que permite rápida passagem dos gases. A “quan- tidade apropriada” de trocas gasosas (oxigênio e dió- xido de carbono) requer, entretanto, um sofisticado me- canismo sensorial que detecta a necessidade de mais ou de menos ar e envia ao cérebro mensagens para aumentar ou diminuir a ventilação, visando adequá-la às necessidades do organismo. A função última da troca de gases nos pulmões é tornar possível a troca de gases entre toda e qual- quer célula no organismo e o sangue capilar que che- ga próximo às células. Para que isto ocorra, as trocas gasosas devem incluir o transporte de oxigênio no san- gue arterial até chegar aos tecidos, sua liberação às células que dele necessitam e o transporte de dióxido de carbono através do sangue venoso que retoma aos pulmões pela circulação pulmonar. A circulação pulmonar é parte integrante dos pulmões. A magnitude do fluxo sangüíneo nos capila- res pulmonares e a sua distribuição têm a mesma im- portância da distribuição do ar inalado para os alvéo- los. Para que funcionem adequadamente, os pulmões necessitam de dois sistemas que operam em sincronia: um desses sistemas garante o suprimento de ar, en- quanto que o outro cuida do suprimento sangüíneo. O sistema respiratório possui uma bomba de ar que trans- fere ar do meio ambiente para as centenas de milhões de alvéolos, enquanto que o sistema circulatório usa uma bomba de sangue que propele todo o fluxo san- güíneo através de centenas de milhões de capilares que envolvem os alvéolos. Do ponto de vista da enge- nharia dos sistemas de transporte de fluidos, os dois sistemas têm muito em comum: são sistemas de resis- tências relativamente baixas e que podem aumentar grandemente o fluxo, quando solicitados pela demanda. ( MANÇO, José Carlos, 1998)
A respiração do corpo do Piá no CCJ é a composição da equipe. A equipe
funciona como os pulmões deste corpo: acelera a frequência de reuniões,
aproximações, diálogos, afetos e contatos a fim de enviar oxigênio para todas as
suas partes. Quando uma das partes deste corpo não está recebendo oxigênio
suficiente, a equipe aumenta sua frequência. Respira rápido e breve (se precisar).
Quando a normalidade se estabelece, a equipe volta a funcionar de maneira
profunda e em sintonia com todas as demais partes do corpo. Afim de não aumentar
níveis de adrenalina (que aceleram os processos), a fim de manter este corpo como
terra fértil para a criação.
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A equipe, como pulmões do organismo sabe que: Seu trabalho mais
importante é a inspiração ativa, profunda e intermitente. E enfim, que a boa
circulação dos processos depende desta inspiração profunda.
REFERÊNCIAS, AFERENCIAS E EFERENCIAS DE UMA COORDENAÇÃO DE FORMAÇÃO E PESQUISA
A coordenação das funções acontece em etapas, respeitam demandas
específicas e gerais e ainda criam novas rotas de acordo com novas necessidades.
O corpo tem comando cerebral, mas diferentemente da representação que a
cientologia oferece, esse comando acontece de maneira integrada com o organismo,
e sua finalidade sempre será a de dividir funções de acordo com necessidades
específicas, criar novas formas e rotas, estruturar, sinalizar, instaurar mecanismos
de ajustes e adaptação (LUNDY-EKMAN, Laurie, 2011).
Essa comunicação acontece em ambas as direções ao mesmo tempo.
Enquanto uma dessas células é estimulada, outra parte dela está devolvendo
estímulos. Elas também são responsáveis pela preservação e por formarem uma
barreira nutritiva e protetora ao cérebro, chamada barreira hematoencefálica.
Nota-se, neste momento, a manutenção do Programa com sua característica
de continua formação dos AEs e AEs coordenadores, proveniente de ações e
reflexões coletivas, assembleias, formações.
SINAPSES E OS POTENCIAIS DE AÇÃO DE UMA
COORDENAÇÂO REGIONAL
Sinapse é a comunicação de um neurônio com outro e deste com outro e
assim sucessivamente, até que aconteça uma aferência (comunicação do corpo
para o cérebro) e uma eferência.
Observando o Piá como organismo, podemos acrescentar que a coordenação
regional desempenha este papel sociedade-equipamentos-sociedade-secretaria.
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SABER DECOR, (DE CORAÇÃO)
Até determinado período da antiguidade, os gregos acreditavam que a parte central do intelecto humano se encontrava no coração. Por ser o órgão que responde prontamente a toda emoção forte, vários sentimentos foram atribuídos a ele, como alegria, dor, medo, ódio, ternura, etc. [4,9]. Resquícios desse pensamento perduram até hoje conforme o coração é citado como órgão dos sentimentos, porém, sempre metaforicamente. Já para o homem homérico, esses sentimentos eram funções próprias do coração.
A própria palavra coragem deriva etimologicamente do latim cor – cordis/coração. (BEZAS, Georges; et al., 2012)
O coração do nosso organismo não pode cessar evidentemente.
Evidentemente esse organismo depende dos outros órgãos para existir.
Pulmões que os oxigenam, sangue, informações cerebrais, músculos.
Para a criança que pulsa no Piá do CCJ a perfeita sintonia entre as duplas,
fluência dos processos, a integridade do espaço físico, a comunicação rápida
com a coordenação, e a secretaria, a presença da família são os imperativos para
sua pulsação.
Quando o coração recebe sangue suficiente, ele fecha suas valvas
receptoras. Assim são as crianças. Chegam abertas e pulsam até que todo o
processo passe por elas. O processo sai modificado desta criança e passa para uma
próxima, e depois outra, em outro dia. Assim, a criança determina quanto recebe
em que velocidade corre, quantos músculos devem ser ativados, qual é a próxima
pergunta para o crânio, e quais espaços deste esqueleto precisamos.
A criança, no seu trabalho primeiro de pulsar e ser irá largar a aula tão bem
planejada para brincar, irá chamar estranhos para o lanche, provocar crise de riso
com uma paródia, irá ser presidente do Brasil, irá fazer poções para matar a Cuca e
se arrepender, irá andar de trem, cantar bom dia numa quinta feira sem graça, pedir
explicações complicadíssimas sobre a existência da realidade x verdade. A criança
sabe de cor (de coração) quando parar. Saberá nos perguntar por que precisamos
do governo para trabalhar, saberá distinguir-se a si e aos seus. Saberá fazer amigos
com línguas estranhas, saberá ajudar, colher, devolver cuidar para que suas
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potentes mães maravilhas não percam a hora. A criança pulsante sabe de cor. E irá
colocar suas mãos pequenas, bem no meio do tórax dos adultos e irá mostrar-lhes
calmamente a esquerda, à direita e lá permanecerá com sua mão pequena.
Corações não descansam. Não esperam. Não pedem limites.
Não assuste um coração. Ele nem gosta. Nem de repousos, nem de força.
Corações precisam de bom alimento, de calor e de calma.
Cordialmente (do coração) as crianças recebem e devolvem
continuadamente. Intermitentemente.
CONCLUSÃO
O Piá no CCJ, que, antes de ser toda sua narrativa, poética, estética, era
apenas seu nome curto. Foi virando corpo e tomando forma e existindo.
Não sei se viveria sem seu cérebro sofisticado criado nas escolas
contemporâneas e sua defesa da memória. Não sei se viveria sem seu esqueleto
azul. Não sei se seus processos fluiriam com a mesma retroalimentação sem os
profundos respiros, diálogos e percepção das equipes. Sem a observação concreta
da gestão do espaço.
Certamente se essa edição do Piá no CCJ fossem experiências isoladas ele
não apareceria na minha frente como um homúnculo vicejante.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. AGUIAR, Douglas Vieira de. Alma espacial. Arqtexto. Porto Alegre. N. 3/4 (2003), p. 84-91, 2003
2. BEZAS, Georges; WERNECK, Alexandre Lins. Idioma grego: análise da etimologia anatomocardiológica: passado e presente. Rev Bras Cir Cardiovasc, v. 27, n. 2,, 2012.
3. BROWN, Lee E. et al. Recomendação de procedimentos da Sociedade Americana de Fisiologia do Exercício (ASEP) I: avaliação precisa da força e potência muscular. Rev. bras. ciênc. mov, v. 11, n. 4, 2003.
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4. FERNANDES, Ciane. O Corpo em movimento: o sistema Laban-Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. Annablume, 2006. 5. GUYTON, Arthur Clifton; HALL, John E.; GUYTON, Arthur C. Tratado de fisiologia médica. Elsevier Brasil, 2006. 6. LABAN, Rudolf. Domínio do movimento; edição organizada por Lisa Ullmann. São Paulo: Summus, 1978.
7. LUNDY-EKMAN, Laurie. Neurociência fundamentos para reabilitação. Elsevier Brasil, 2011. 8. MANÇO, José Carlos. Fisiologia e fisiopatologia respiratórias. Medicina (Ribeirao Preto. Online), v. 31, n. 2, p. 177-190, 1998.
9. Morgan, Gareth, Cecília Whitaker Bergamini, and Roberto Coda. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.
10. SOBOTTA, Johannes. Atlas de anatomia humana: tronco, vísceras e extremidades inferiores. Guanabara Koogan, 2000.
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