Retábulo - Casa de Santos, 2014

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Keith Haring, A Vida de Cristo, 1990. Bronze e ouro.

Retábulo – Casa de SantosIlídio Salteiro

18 de dezembro 2014

• O que é o retábulo?

• Como surge esta temática?

• A importância do retábulo: religião e estética.

• A crise iconoclasta de meados do século XX. O Concilio do Vaticano II

• Considerações finais.

Retábulo – Casa de Santos

Carlo Crivelli. Retábulo da igreja de S. Lourenço em Massa Fermana, 1468.

1. O que é um retábulo? Etimologicamente retábulo implica a existência de altar.

Predela (1).

Surge no início do segundo milénio, como uma simples tábua estruturável em díptico, tríptico, políptico ou arquitetura.

Portátil.

Molduras e planimetrias são um todo.

(1)

Retábulo da paixão de Cristo, capela de Santo Antão, Faniqueira, Batalha.Madeira esculpida e policromada, 1510 (c.) Proveniente do mosteiro da Batalha ?

Delimitação do espaço.

A predela (1) é um embasamento ou envasamento.

Sobre a predela ergue-se a representação de um templo, de uma catedral gótica, maneirista ou barroca: o retábulo.

(1)

Marinus Boezem(1937),Green Cathedral, Almere, 1987 /1997.

Marinus Boezem(1937),Green Cathedral, Almere, 1987 /1997.

Parede / MuroUma estrutura de andares de acordo com as ordens arquitetónicas dórica, jónica, coríntia, compósita, …

Colunas, pilastras, mísulas, capitéis.

Motivos decorativos fitomórficos e zoomórficos.

Aberturas, vãos, edículas. «Povoados» de imagens e representações.

CoberturaEntablamento. Frontão com várias formas.Aduelas.Abóbadas.

Bispo Frei Amador Arrais, Gaspar Coelho, Fernão Gomes e de Simão Rodrigues, Retábulo-mor da Sé de Portalegre, finais século XVI.

Considerações:

É uma estrutura complexa, evolutiva na forma consoante locais e épocas.

É um marco da cultura ocidental com consequências diretas nas artes plásticas.

É uma casa, um santuário, onde apenas o sentido da visão pode penetrar.

Bispo Frei Amador Arrais, Gaspar Coelho, Fernão Gomes e de Simão Rodrigues, Retábulo-mor da Sé de Portalegre, finais século XVI.

2. Como surge este tema na minha investigação em arte? Quando se percebeu…

• Que era mais do que moldura.• Que é um todo, complexo.• Que é um centro essencial.• Que transforma o espaço religioso em espaço museológico.• Que nele reside a génese da coisa artística.• Que está na génese da cultura ocidental.• Que é o fim de todas as peregrinações.

Estas “perceções” devem-se a Robert Smith, A Talha em Portugal, 1962.

O tempo litúrgico é estruturado em função de um calendário estabelecido em concordância com os pontos culminantes do movimento da Terra e do Sol: os equinócios e os solstícios.Trata-se de um ciclo sobre a vida onde a missa é apenas a representação resumida e quotidiana desse tempo.O «retábulo» e as «soluções retabulares» desempenham outras funções.

• 1.º Tempo do Advento — quatro semanas antes do Natal;• 2.º Tempo do Natal —24 de Dezembro; (solstício de Inverno).• 3.º Epifania — 6 de Janeiro; o reconhecimento universal do nascimento de Cristo com a visita dos Reis

Magos);• 4.º Apresentação de Jesus no Templo — 2 de Fevereiro (São Lucas, II, 22--24);• 5.º Anunciação — 25 de Março; festeja a conceção de Jesus;• 6.º A Visitação — 31 de Maio; celebra a visita de Maria à sua prima Isabel, grávida de São João Batista;• 7.º Septuagésima — setenta dias antes da Páscoa;• 8.º Tempo da Quaresma — quarenta dias antes da Páscoa; é um tempo de penitência, e celebra Moisés,

Elias, João Batista e Cristo no deserto; 75• 9.º Semana Santa — o triunfo, a Paixão e a morte de Cristo;• 10.º Páscoa — a Ressurreição; domingo a seguir à lua cheia do equinócio da Primavera, e é a partir deste

que se ordena todo o ano litúrgico;• 11.º Tempo pascal — cinquenta dias depois da Páscoa;• 12.º Ascensão — quarenta dias depois da Páscoa, numa quinta-feira; celebra a subida de Jesus ao céu (São

Marcos, XVI, 19; São Lucas XXIV, 51);• 13.º Pentecostes — cinquenta dias depois da Páscoa; celebra a descida do Espírito Santo;• 14.º Transfiguração — 6 de Agosto; é a festa da divinização da natureza humana de Cristo (fig. 25);• 15.º Tempo comum — depois do Pentecostes e até ao Advento; é um tempo de proclamação da difusão

do cristianismo;• 16.º Assunção — 15 de Agosto; celebra a dormição ou a morte da Virgem.

3. A importância do retábulo: religiosa e estética.

O que se vê no retábulo?

Espaço religioso e espaço museológico.

No templo podemos ver o religioso e a estético?

No museu podemos ver o estético e o religioso?

Thomas Struth, S. Zacarias, Veneza, 1995

Retábulo-mor da igreja matriz de Figueiró dos Vinhos. Estrutura retabular do século XVI com pintura do Batismo de Cristo de José Malhoa de 1904.

A peregrinação é comum ao templo e ao museu. Periodicamente.

Quando é necessário.

O retábulo é o «fim».

Nuno Teotónio Pereira, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 1962-1065.

4. A crise iconoclasta de meados do século XX e o concilio do Vaticano II A aproximação entre estética e a religião arredou o retábulo do espaço religioso cristão, acompanhando, paradoxalmente, os movimentos artísticos iconoclastas de meados do século XX.

MRAR, 1952. Nuno Teotónio Pereira, João de Almeida, Nuno Portas, Erich Corsépius, Diogo Pimentel, Luís Cunha, António Freitas Leal, Manuel Cargaleiro, José Escada, Flórido de Vasconcelos, Madalena Cabral e Maria José de Mendonça.)

Nuno Teotónio Pereira, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 1962-1065.

As imagens distraem.

O retábulo é secundarizado.

Igrejas salão.

A igreja é reduzida a uma sala, sem santuário.

Nuno Teotónio Pereira, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 1962-1065.

O concilio do Vaticano II 1962-1965.

O sacerdote sobe de estatuto.

De «pastor» a representante de Cristo.

O altar é o centro.

O altar é corpo em sacrifício.

Nuno Teotónio Pereira, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 1962-1965.

O essencial são as liturgias:

A ceia, a liturgia, a festa, a reunião, o acontecimento partilhado em coletivo.

Os cinco elementos essenciais do espaço religioso depois de 1965, sem retábulo

altar

sede

sacrário

ambão

pia batismal

Enzo Cucchi, Mario Botta,Retábulo-mor da capela de Santa Maria dos Anjos,

Monte Tamaro, 1996.

Algumas considerações finais O retábulo propicia atitudes contemplativas, atemporais e individuais, com dimensão religiosa, artística e cultural.

Sem retábulo prevalece a participação coletiva num evento, num acontecimento, numa liturgia.

Sem retábulo a nave que nos dirige até ao núcleo é irrelevante. Vence o círculo, o anfiteatro , a plateia com público, o colectivo.

Mas a nossa dimensão individual necessita do «retábulo».

De que modo?

Bento XVI apelou ao «Belo».

Keith Haring, A Vida de Cristo, 1990. Bronze e ouro.

Depois da proliferação de imagens, será a ausência de imagens que continuará?

Haverá uma «estética cristã?»

João Marcos, Vida de Cristo, pintura sobre madeira na igreja do Seminário de Penafirme.Bispo, pintor, «atelier como lugar de oração». 2014.

João Marcos, Anastasis, 1989, pintura sobre madeira na igreja do Bairro da Tabaqueira, em Rio de Mouro, Sintra.

Kiko Argüello (1939), Madrid, Catedral de Almudema, 2004.Pintor y fundador del Caminho Neocatecumenal.

Robert Crumbs, Genesis, 2009

Siza Vieira, Marco de Canavezes, 2002.

Nuno Teotónio Pereira, Igreja do Sagrado Coração de Jesus, 1962-1965.

Enzo Cucchi, Mario Botta,Retábulo-mor da capela de Santa Maria dos Anjos,

Monte Tamaro, 1996.

Keith Haring, A Vida de Cristo, 1990. Bronze e ouro.

João Marcos, Vida de Cristo, pintura sobre madeira na igreja do Seminário de Penafirme, 1990.Bispo, pintor, «atelier como lugar de oração». 2014.

Kiko Argüello (1939), Madrid, Catedral de Almudema, 2004.Pintor y fundador del Caminho Neocatecumenal.

Robert Crumbs, Genesis, 2009

• Atanázio, Manuel C. Mendes (1959) A Arte Moderna e a Arte da Igreja, Coimbra: Ministério das Obras Públicas.• Cheetham, Francis W. (1984) English Medieval Alabasters with a catalogue of the Collection in the Victoria and Albert

Museum, Oxford: Phaidon-Christie's.• Fernandes, José Manuel (2000) «Arquitectura religiosa», em A Igreja e a Cultura Contemporânea em Portugal,

coordenação de Manuel B. Cruz e Natália C. Guedes, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2000.• França, José-Augusto (1974) A Arte em Portugal no Século XX, Lisboa: Livraria Bertrand.• Gonçalves, A. Nogueira (1984) Estudos de História da Arte do Renascimento, Porto: Paisagem Editora.• Lameira, Francisco (2000) A Talha no Algarve durante o Antigo Regime, Faro: Câmara Municipal de Faro.• Luís Cunha, Arquitectura Religiosa Moderna, Porto, 1957.• Machado, José Pedro (1967) «Retábulo» in Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2.ª edição, Editorial Confluência.• Menéres, Clara (2000) «As Artes Plásticas de Temática Religiosa», em A Igreja e a Cultura Contemporânea em Portugal,

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em [2014-06-04] URL: eduscol.education.fr/cid46365/le-renouveau-de-l-art-sacre-dans-les-annees-1945-1960-et-la-querelle-de-l-art-sacre.html

• Salteiro, Ilídio (1987) A Arquitectura Retabular em Portugal no Século XVI. Tese de mestrado. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Consultado em [2014-06-06]. URL: arte.com.pt/text/salteiro/arquitecturaretabularsecxvi.pdf

• Salteiro, Ilídio (2006) Pintura Retabular ainda,novos modos de o fazer e pensar. Tese de doutoramento. Lisboa: Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Consultado em [2014-06-08] URL: arte.com.pt/text/salteiro/retabulo1.pdf.

• Salteiro, Ilídio, «Retábulo - Casa de Santos», em Santuários, Revista do Congresso Internacional Culturas, Arte, Romarias, Peregrinações, Paisagens e Pessoas, volume 1 nº 1, Alandraol, 2014.

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