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PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO SEXTA VARA FEDERAL DE EXECUÇÃO FISCAL
JUS
TIÇA FEDERA
L
Seção
Judiciária do Rio deJa
nei
ro
Processo n° 0515365-87.2008.4.02.5101 (2008.51.01.515365-1)
SENTENÇA (B2)
FLORESTAS RIO DOCE S/A opôs embargos à execução fiscal nº
2008.5101.501418-3, que lhe move a FAZENDA NACIONAL, arguindo,
preliminarmente, a nulidade da autuação que originou a execução embargada, em
decorrência da ausência de fundamentação técnica e do consequente cerceamento
de defesa. No mérito, alega a irregularidade das exclusões efetivadas pela Receita
Federal em sua Declaração de Imposto Territorial Rural – ITR/2000, concernentes
às Áreas de Preservação Permanente – APP, de Utilização Limitada – Reserva Legal
e com atividade de exploração extrativa, bem como daquelas ocupadas com
benfeitorias. Sustenta ainda a inconsistência dos critérios adotados pelo Fisco no
Termo de Verificação de Infração – ITR/2000 para a aferição dos valores da terra
nua, das culturas e das pastagens cultivadas e melhoradas. Inicial (fls. 05/22) com
documentos (fls. 23/127, 131/151 e 151/168).
A Exequente impugnou os embargos sustentando que a autuação
fiscal questionada decorreu da ausência de comprovação, pela Embargante, dos
requisitos legais necessários para a exclusão das áreas de reserva legal e de
preservação permanente da área tributável. Ressalta a liquidez e certeza do título
executivo e a ausência de vício no respectivo procedimento administrativo.
Impugnação (fls. 169/182) com documentos (fls. 183/365).
Em réplica, a Embargante rebateu os argumentos da impugnação
e reiterou os da inicial, postulando a realização de prova pericial (fls. 367/370). A
seu turno, a Embargada informou não ter provas a produzir (fl. 384).
JFRJFls 696
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a MANOEL ROLIM CAMPBELL PENNA.Documento No: 24405200-72-0-696-6-934192 - consulta à autenticidade do documento através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade .
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Foi deferida a realização de perícia de engenharia florestal (fl.
398), tendo a Embargante apresentado seus quesitos e indicado Assistente Técnico
(fls. 399/401), vindo o laudo do expert do Juízo (fls. 455/505), acompanhado de
documentos (fls. 506/608), sobre o qual as partes se manifestaram (fls. 612/641 e
643/644).
O i. Perito do Juízo prestou esclarecimentos solicitados pelas
partes (fls. 646/653) sobre os quais se manifestaram (fls. 463/465 e 465/v), vindo
então novos esclarecimentos do expert (fls. 665/672), seguidos de manifestação da
Embargante (fls. 676/679).
A Embargada requereu prorrogação de prazo para sua
manifestação por 30 dias (fl. 674), ao que lhe foi deferido o prazo de cinco dias (fls.
681/682), vindo então novamente postular a prorrogação de prazo, desta feita por
quarenta dias (fls. 684/685), pedido este indeferido pelo M. Juízo (fls. 688/690).
Relatados, decido.
Prius, observo que a preliminar de nulidade da autuação
suscitada pela Embargante, na realidade, relaciona-se com o mérito da lide, com o
qual será analisada.
Examinando o auto de infração originário da cobrança e o
respectivo termo de verificação (fls. 47/54 e 71/81) verifica-se que foram apuradas
pelo Agente Fiscal diferenças nos valores de Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural, declarados como devidos pela Embargante na DITR/2000, decorrentes da
glosa de: áreas de preservação permanente e de utilização limitada; benfeitorias;
área com atividade de exploração extrativa; valor VTN; valor das culturas,
pastagens cultivadas e melhoradas e florestas plantadas; grau de utilização; Valor
da Terra Nua - VTN tributável; alíquota e cálculo do imposto.
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Com efeito, no que tange às áreas de preservação permanente, a
Lei nº 9.393/96, dispondo sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural –
ITR, assim estabeleceu (redação vigente à época da autuação):
"Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior. § 1º - Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á: (...) II - área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas: a) de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, com a redação dada pela Lei nº 7.803, de 18 de julho de 1989; (...) § 7° A declaração para fim de isenção do ITR relativa às áreas de que tratam as alíneas 'a' e 'd' do inciso II, § 1o, deste artigo, não está sujeita à prévia comprovação por parte do declarante, ficando o mesmo responsável pelo pagamento do imposto correspondente, com juros e multa previstos nesta Lei, caso fique comprovado que a sua declaração não é verdadeira, sem prejuízo de outras sanções aplicáveis."
Como se depreende da leitura do citado artigo, a área de
preservação permanente é isenta de ITR e, sendo este um imposto sujeito a
lançamento por homologação, cumpre ao contribuinte somente declarar a área
isenta, sem a necessidade de comprovação, sendo incabível o condicionamento de
tal isenção a uma exigência não prevista em lei, porquanto a lei tributária isentiva
deve ser interpretada literalmente, eis que a sua incidência ou seu afastamento não
comporta interpretação extensiva, na forma do artigo 111, inciso II, do Código
Tributário Nacional.
Ocorre que, após a apresentação de impugnação administrativa
pela Embargante, o lançamento consubstanciado no referido auto de infração foi
julgado procedente, nos termos do Acórdão nº 03-20.261 – 1 ª Turma da DRJ/BSA
(fls. 56/66):
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“DAS ÁREAS DE RESERVA LEGAL E DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
A área de utilização limitada/reserva legal parcialmente glosada, para ser excluída do ITR, deveria estar averbada à época do respectivo fato gerador e ser reconhecida, juntamente com a área de preservação permanente, com de interesse ambiental pelo IBAMA/órgão conveniado, ou ter o protocolo do requerimento tempestivo do Ato Declaratório Ambiental – ADA. (fl. 56)
(...) Assim, torna-se imprescindível que as áreas de utilização
limitada/reserva legal e de preservação permanente sejam reconhecidas mediante ato do IBAMA/órgão conveniado ou, no mínimo, que seja comprovada a protocolização tempestiva do ADA, nos termos da citada IN e da intimação inicial, além da averbação da área de reserva legal à época da ocorrência do seu fato gerador (01/01/2000).
(...) Portanto, a exclusão pretendida não está condicionada ao
cumprimento de mera formalidade, pois a averbação tempestiva da área de reserva legal, à margem da matrícula do imóvel é obrigação prevista em lei, razão pela qual não se discute, no presente processo, a materialidade da área de utilização limitada/reserva legal glosada pela autoridade fiscal.
Assim, as áreas de utilização limitada/reserva legal somente serão
excluídas de tributação se cumprida a exigência de averbação, até a data de ocorrência do fato gerador do ITR do respectivo exercício. (fls. 61/62)”
Todavia, tal exigência da Administração contraria o entendimento
consolidado pelas Turmas que integram a Primeira Seção do Colendo Superior
Tribunal de Justiça, no sentido da desnecessidade de Ato Declaratório Ambiental do
IBAMA – ADA para a exclusão da área de preservação permanente da base de
cálculo do ITR, verbis:
TRIBUTÁRIO - IMPOSTO TERRITORIAL RURAL - BASE DE CÁLCULO - EXCLUSÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - DESNECESSIDADE DE ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL DO IBAMA. 1. O Imposto Territorial Rural - ITR é tributo sujeito a lançamento por homologação que, nos termos da Lei 9.393/96, permite da exclusão da sua base de cálculo a área de preservação permanente, sem necessidade de Ato Declaratório Ambiental do IBAMA. 2. Recurso especial provido. (STJ – 2ª Turma - REsp n° 665123/PR - Rel. Ministra ELIANA CALMON - DJ de 05/02/2007, p. 202).
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PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ITR. BASE DE CÁLCULO. EXCLUSÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. DESNECESSIDADE DE ATO DECLARATÓRIO DO IBAMA. 1. A orientação das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido de que "o Imposto Territorial Rural - ITR é tributo sujeito a lançamento por homologação que, nos termos da Lei 9.393/96, permite da exclusão da sua base de cálculo a área de preservação permanente, sem necessidade de Ato Declaratório Ambiental do IBAMA" (REsp 665.123/PR, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 5.2.2007). No mesmo sentido: REsp 587.429/AL, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 2.8.2004. 2. Recurso especial desprovido. (STJ – 1ª Turma – REsp n° 812.104/AL - Rel. Ministra DENISE ARRUDA - DJ de 10/12/2007, p. 296).
Já no tocante às demais diferenças apuradas pelo agente fiscal
(benfeitorias; área com atividade de exploração extrativa; valor VTN; valor das culturas, pastagens
cultivadas e melhoradas e florestas plantadas; grau de utilização) são desnecessárias maiores
digressões, eis que, após a realização de complexa perícia técnica, o minucioso
laudo apresentado pelo I. Expert do Juízo às fls. 455/608, complementado às fls.
646/653, expõe as seguintes conclusões:
“Concluiu-se após os trabalhos periciais que os levantamento de campo e da análise dos dados, bem como do resultado de vetorização das áreas que os imóveis (...) correspondem a 23.409,8023 há (VINTE E TRES MIL QUATROCENTOS E NOVE HECTARES, OITENTA ARES E VINTE E TRES CENTIARES). E que o imóvel possuía uma área averbada como uso limitado de 4.674,57 ha (QUATRO MIL SEISCENTOS E SETENTA E QUATRO HECTARES E CINCOENTE E SETE ARES). (...)
Entende o perito do juízo deverá levar em consideração que o valor de
R$ 46,17/ha, considerado pelo INCRA que é um valor coerente para VTN, entretanto, levando em conta que o imóvel em 1999 foi considerado de interesse social e que o somatória das áreas de RL averbada e APP correspondiam a um total de 6.556.9669 ha (SIS MIL QUINHENTOS E CINCOENTE E SEIS HECTARES NOVENTA E SEIS ARES E SESSENTA E NOVE CENTIARES), bem como a área de Plano de Manejo Florestal Sustentado aprovado por órgão competente correspondia a 12.562,00 ha (DOZE MIL QUINHENTOS E SESSENTA E DOIS HECTARES) totalizando 19.118,9669 ha (DEZENOVE MIL CENTO E DEZOITO HECTARES, NOVENTA E SEIS ARES E SESSENTA E NOVE CENTIARES). Entende o perito do juízo, salvo melhor juízo, todas estas áreas deveriam ser excluídas da tributação do ITR bem como as áreas de preservação permanente e reserva lega. E quanto ás áreas de APP, por si só já são declaradas como de utilização limitada e protegidas independente de gravame ou autorização de órgão competente. (fl. 504).” (grifo nosso)
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Neste ponto cumpre consignar que, não obstante tratar-se de
perícia com elevado grau de complexidade, a atuação do i. experto foi pautada por
louváveis dedicação e competência, desde a apresentação de detalhada proposta de
honorários (fls. 409/412), seguida das diligências técnicas de fls. 424/435,
445/448 e 452/454 e da elaboração do abrangente, bem fundamentado e
conclusivo laudo pericial de fls. 455/608, com a prestação dos pertinentes
esclarecimentos de fls. 646/653. Por isso que se mostram totalmente
despropositadas as alegações da Embargada às fls. 643/644, seguidas de
injustificada ausência de manifestação acerca dos consistentes esclarecimentos
prestados pelo i. perito às fls. 646/653.
Nessa conformidade, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO nestes
embargos (CPC, art. 269, inc. I), para desconstituir os créditos tributários
representados pela CDA que lastreia a execução fiscal nº 2008.5101.501418-3,
condenando a Embargada ao pagamento de honorários advocatícios que, atento aos
parâmetros do art. 20, § 4º, do CPC, hei por bem fixar em R$ 20.000,00 (vinte mil
reais); e ao ressarcimento dos honorários periciais suportados pela Embargante,
devidamente atualizados desde quando despendidos e até a data do reembolso. Sem
custas (Lei nº 9.289/1996, art. 7º).
Traslade-se cópia da presente para os autos da execução fiscal.
P. R. I.
Sentença sujeita ao reexame necessário (CPC, art. 475, inc. II),
razão por que, havendo ou não recurso, oportunamente os autos devem ser alçados
ao Eg. T.R.F. da 2ª Região.
Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2013.
ASSINATURA ELETRÔNICA MANOEL ROLIM CAMPBELL PENNA
Juiz Federal Titular
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