EsperançA

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SEMPRE VEM A BONANÇA QUANDO A ALMA TEM ESPERANÇAA noite preta e estéril deixa de teimosiaQuando é penetrada pela lua branca nua .

A travessia desolada dos dias de Natal deixa de teimosiaQuando o Deus menino acena do jumento e convida para dentro.

O temporal renitente deixa de teimosiaQuando o arco-iris colore o céu de ingênua poesia.

A noite parada das insônias deixa de teimosiaQuando a ansiedade recosta no peito da alvorada.

O pranto contido das mágoas difusas deixa de teimosiaQuando rende-se aos doces afagos do amante descontraído.

A cara amarrada dos que padecem calados deixa de teimosiaQuando a risada da criança sufocada sai livre e desembestada.

Sempre vem a bonança quando a alma tem esperança.

Sem ela minhas noites seriam banguelas e peladas de euforia,e o pó cintilante das estrelas estabanadas só pra piorar minha alergia .

Meus dias seriam desolados que nem o repicar do sino ,sem convite e sem aceno do Deus menino.Aposto que não me daria nem uma volta na garupa do seu jumento, pra todo mundo me notar e poder me cartear: visse!

� Meu temporal seria renitente que nem dor de dente;

� Arco-iris só no derradeiro dia do ano e pintado na caixa de lápis de cor.

� (se passasse de ano, não matasse nambú e não bulinasserapariga..)

� Minhas noites de insônia se espichariam que nem tripa.

� Nem a espivitada Sônia, buchuda quase por parir, pra me acudir.

� Minhas mágoas entupidas virariam piçarro no estio do sertão,

� Ainda que Afrodite com seus amassos e sarros e sem-vergonhice de língua desentupisse!

� Minha cara sisuda e carracunda não teria cura,

� visse o que visse de belezura:

� nem garrote sendo parido na braquiária verde,

� nem bando de maritaca zunindo no céu azul de abril,

� nem jacú crepitando na panela de barro,

� nem banho de córgo depois de fazer amor debaixo da paineira,

� nem festança e dança e comilança de dia de reis,

� nem arroz com pequi e ora pro nobis,

� nem cachaça com siriguela,

� nem bicho-de-pé no vão do mindinho comixando que nem sexo na ribanceira, nem curau no tacho, nem marmita com canjiquinha,

� nem noite de São João com quentão e rabo de saia...

� Oh, bicho esperança, ainda que eu não te dê um vintém,

� gruda no meu peito e faz de mim o teu refém!

� Sempre vem a bonança quando a alma tem esperança.

Ela chegou; ela Claudia de mãos dadas com a bonança! GIL