Curso Lacan e a Psicanálise- Aula 11: Seminário 9 (A identificação): as imagens, os...

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Lacan e a

Psicanálise:

interlocuções com a contemporaneidade

Tema:

Seminário 9 (A identificação): as imagens, os significantes e a identidade

Coordenação Alexandre Simões

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Antes de entrarmos no próximo tema relativo ao Seminário 9 de Jacques Lacan

vale retornarmos um pouco ao que foi desenvolvido na parte

conclusiva de nosso último encontro sobre o Seminário 8

(A transferência):

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Vimos que o Seminário 8 é basicamente um seminário que nos indaga sobre a

posição do psicanalista na condução da análise:

“É por isso mesmo que me asseguro de que o que lhes digo, de fato, jamais é embaraçoso para o papel que devo manter diante de alguns de vocês, que é o de analista. Isso está ligado, precisamente, ao que visa meu discurso deste ano, a saber, a posição do psicanalista. ( continua ->)

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(cont.) Trata-se daquilo que está no coração da resposta

que o analista deve dar para dar conta do poder da transferência. Essa posição, eu a distingo dizendo que no próprio lugar que é o seu, o analista deve se

ausentar de todo ideal do analista. (->)

(...) A títulos diversos, e sob diversas rubricas, pode-se, com certeza, formular a propósito do analista algo que seja da ordem do ideal. Existem qualificações do analista, e isso já é bastante para constituir um núcleo dessa ordem. O analista não deve ser totalmente ignorante de um certo número de coisas, isso é certo. Mas não é isso, de modo algum, que entra em jogo em sua posição essencial.” (Seminário 8, p. 371).

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“Mas ainda há uma outra coisa que, chegando aqui ao termo de meu discurso, não posso deixar de indicar e que concerne à função do pequeno a.

O que Sócrates sabe, e que o analista deve ao menos entrever, é que, no nível do pequeno a, a

questão é inteiramente diferente daquela do acesso a algum ideal. O amor somente pode

circundar o campo do ser. E o analista, este só pode pensar que qualquer objeto pode preenchê-

lo. Aí coloca a questão do que vale qualquer objeto que entre no campo do desejo. Não há objeto que tenha maior preço que um outro -

aqui está o luto em torno do qual está centrado o desejo do analista.”

(Seminário 8, p. 381).

Pensar a posição do psicanalista não a partir do ideal, mas do objeto:

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Seminário 9:

a identificação (1960-1961)

Todavia, nele Lacan vai expor apontamentos bastante esclarecedores quanto ao que vinha se passando na série de seminários anteriores, bem como em relação a alguns temas que ainda seriam explorados nos anos seguintes.

Trata-se de um seminário denso.

De início, Lacan afirma que as temáticas de seus

seminários anteriores contemplaram, de forma alternada, dois grandes

campos:

de um lado, o sujeito;

de outro, o significante;

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Um ponto de avanço no Seminário 9, quando

comparado com o percurso anterior, reside basicamente

no exame mais atento e concentrado da relação do sujeito com o significante;

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É, pois, nesta perspectiva (a do alinhavamento de instâncias que pareciam se aproximar mas que, até então, não haviam sido efetivamente

abordadas em conjunto e no remetimento mútuo) que Lacan localizará a

identificação.ALEXANDRE SIMÕES

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Significante

Objeto

Sujeito

Para onde Lacan se encaminha?

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Significante

Traço Unário,Identificação

Sujeito

Por qual meio Lacan se aproximará desse ponto?

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A relação do sujeito com o significante, quando aprofundada por Lacan, o conduz a se perguntar sobre a

forma como o sujeito é afetado pelo Simbólico

Isto, por sua vez, o leva a pensar na nomeação.

As instâncias do significante no Seminário 9:

Nomeação

Identificação

Traço Unário

TRAÇO UNÁRIO

termo que Lacan extrai do texto de Freud:

Psicologia das massas e análise do eu (1921)

Lacan propõe que o nome é o ponto de ancoragem

onde o sujeito se constitui, e é a partir do qual que se

pode falar em identificação.

Neste sentido, o nome tem valor de traço unário.

Essa identificação remete à perda do objeto.

Na medida em que esta perda se efetiva, o sujeito se identifica com

um traço do objeto. Essa identificação é sempre parcial,

referindo-se somente a um traço único da "pessoa objetalizada”.

Para verificarmos o valor clínico dessa argumentação, é

importante destacar que o traço unário não é um traço que faz apelo à lembrança do objeto.

Ou seja, ele não é um traço que tenha por função representar o objeto. Trata-se apenas de uma marca distintiva, sem significação.

Por isso, o nome próprio é o exemplo paradigmático do traço unário, porque ele encarna um

traço distintivo. O nome próprio, longe de se traduzir, se transfere

como tal.

Ao invés de propor que o ordenador da identificação, tal como a maior parte da

tradição pós-freudiana concebia até aquele

momento, era a relação do sujeito com uma imagem,

será proposto que

“... o que se trata na identificação deve ser a relação do sujeito com o

significante.”

Sobre a identificação

Notemos que o imaginário não será descartado, nem mesmo desvalorizado, entretanto, será alinhado ao simbólico: “ ... quando se fala de identificação, pensa-se de entrada no outro (o semelhante), àquilo que alguém se identifica. A

porta está para mim facilmente aberta para colocar o acento, para insistir, sobre a diferença do outro com o Outro, do

pequeno outro com o grande Outro, que é um tema do qual posso dizer que vocês já estão familiarizados.”

Enfim, Lacan privilegiará a dimensão simbólica ao invés da imaginária, no caso da identificação.

Isto se concebe em Lacan a título de

Primazia do Significante

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Neste caminho, Lacan distinguirá o significante do signo.

Signo: é aquilo que representa algo para alguém.

Significante: é aquilo que representa um sujeito para outro significante

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Dado que uma investigação constante deste seminário é a provável relação do externo que

se torna interno e, daí, deixa de ser externo (em outras palavras: se revira), Lacan é levado a se

indagar sobre circunstâncias espaciais e geométricas.

É neste itinerário que ele irá propor uma “estrutura topológica do sujeito”.

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A partir deste ponto, Lacan prosseguirá até o

fim de sua vida, na investigação/construçã

o de uma possível

ciência do sujeito

Usualmente, Lacan era interrogado sobre onde estava a verdade em seu discurso. Lacan respondia: “eu sou um psicanalista e, como tal, devo lhe decepcionar (décevoir: iludir, lograr, enganar, decepcionar). Eu não digo a verdade sobre a verdade. Eu posso lhe conduzir bastante longe na pista do ‘quem sou eu?’ sem que você tenha garantia um só instante acerca da verdade do que eu lhe digo e, todavia, naquilo que eu lhe digo, não se trata senão da verdade.”

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Prosseguiremos com o tema

Seminário 10 (A angústia): a construção do objeto a ou nem tudo é significante

Até lá!

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