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Monografia: "Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e no mundo – elementos para uma política governamental de software"Autor: Deivi Lopes Kuhn
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e
no mundo – elementos para uma política governamental de
software
Deivi Lopes Kuhn
Porto Alegre, dezembro de 2005.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
Software Livre e as alterações no mercado de software no Brasil e
no mundo – elementos para uma política governamental de
software
Deivi Lopes Kuhn
Orientadora: Professora Marcilene Martins
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Ciências
Econômicas, na Faculdade de Ciências
Econômicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
Porto Alegre, dezembro de 2005.
Agradecimentos
A todos os voluntários que desenvolveram os softwares livres que permitiram a construção
desta monografia, seja por acreditarem na importância da liberdade de acesso a tecnologia, seja
por simples exercício intelectual.
A todos aqueles que acham que o conhecimento deve ser livre e compartilhado de todas as
maneiras, seja através de um código fonte, seja pela educação formal, na qual destaco o esforço
da professora Marcilene Martins pelo tempo dedicado a orientação deste trabalho e pelas
importantes sugestões e correções.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 1
1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A ANÁLISE DAS FIRMAS E DOS
MERCADOS.................................................................................................................... 4
1.1 Concepções de firma...................................................................................................... 4
1.2 Elementos de Estrutura de Mercados Oligopólico.......................................................... 6
1.2.1 Mercados Atomísticos ou Concentrados.................................................................. 6
1.2.2 Fontes de Barreiras a Entradas................................................................................. 7
1.3 Estratégias competitivas das firmas............................................................................... 9
1.3.1 Estratégias de crescimento....................................................................................... 9
1.3.2 Estratégias de Preços............................................................................................... 13
1.4 Concepções sobre a intervenção do Estado.................................................................... 14
2. CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE SOFTWARE PROPRIETÁRIO.............. 18
2.1 O Software como um bem não-rival ............................................................................. 18
2.2 Composição de custos e formação de preços no mercado de software proprietário....... 20
2.2.1 Caracterização dos custos........................................................................................ 21
2.2.2 A discriminação de preços como estratégia competitiva.......................................... 22
2.3 Barreiras à entrada e dinâmica da concorrência no setor................................................ 26
2.3.1 Economias de Rede................................................................................................. 27
2.3.2 “Aprisionamento” de clientes.................................................................................. 28
2.3.3 Bens Complementares como fonte de aprisionamento tecnológico......................... 29
2.3.3.1 Hardware.......................................................................................................... 31
2.3.3.2 Software............................................................................................................ 33
2.3.4 Fontes Adicionais de Barreiras à Entrada.............................................................. 38
2.4 Conseqüências do poder de mercado sobre a concorrência........................................... 40
3 - O SOFTWARE LIVRE COMO UM NOVO PARADIGMA TÉCNICO-
ORGANIZACIONAL NO MERCADO DE SOFTWARE................................................. 43
3.1 O surgimento e Evolução do Software Livre................................................................ 43
3.1.1 O surgimento do Software Livre............................................................................. 43
3.1.2 A consolidação do movimento de Software Livre................................................... 46
3.1.3 O Novo modelo de produção de software – A Catedral e o Bazar.......................... 47
3.1.4 A Open Source Initiative e novo foco do movimento de Software Livre................ 49
3.2 Vantagens na adoção de Software Livre por parte das empresas usuárias...................... 50
3.2.1 Vantagens na adoção de Software Livre por empresas............................................ 51
3.2.2. A especificidade do usuário governo...................................................................... 53
3.3 Impacto do Software Livre sobre as dimensões de produção e concorrência no setor de
software......................................................................................................................... 56
3.3.1 Estratégias das empresas fornecedoras de software face ao avanço do Software
Livre no mercado.................................................................................................... 56
3.3.2 Novo modelo de negócios com software livre......................................................... 57
4 - MERCADO BRASILEIRO DE SOFTWARE: SITUAÇÃO ATUAL E
PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS COM A DIFUSÃO DO SOFTWARE LIVRE.... 60
4.1. Aspectos da estrutura e do desempenho recente do setor........................................... 60
4.2. Aspectos da dinâmica competitiva do setor................................................................. 62
4.3. Medidas de Política e Perspectivas da Adoção de Software Livre............................... 64
4.3.1 Principais ações do Governo Federal pró-Software Livre....................................... 64
4.3.2 Perspectivas de mudanças na dinâmica do mercado com a difusão do Software
Livre....................................................................................................................... 67
4.3.3 Vantagens e desafios do novo modelo.................................................................... 73
CONCLUSÃO................................................................................................................... 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 82
REFERÊNCIAS NA INTERNET....................................................................................... 87
GLOSSÁRIO...................................................................................................................... 90
INTRODUÇÃO
A tecnologia da informação tem comprovado a cada dia sua força dentro da economia
global, seja como setor de grande faturamento ou seja como elemento da nova dinâmica
tecnológica do capitalismo. Contudo, neste novo mercado com suas características específicas,
um subsetor em especial se destaca: o mercado de software que possui na sua alta rentabilidade
um aspecto importante se comparado aos demais setores de tecnologia.
O mercado de Software se tornou estratégico dentro das disputas entre as empresas da
área. Porém, mesmo com tanto interesse das empresas em entrar neste setor, ele continua, sendo
um mercado bastante concentrado em grande parte de suas áreas de atuação. onde poucos
conseguem consolidar seus produtos a se estabelecer como alternativa para os consumidores.
Todavia, um novo movimento, denominado predominantemente no Brasil como
Software Livre e nos Estados Unidos como Open Source, vem provocando profundas alterações
na dinâmica do setor e chamando a atenção pela qualidade de seus produtos e pela sua crescente
utilização, sobretudo no mundo empresarial.
Este novo modelo de desenvolvimento de software, o qual passa a ser considerado um
serviço ao invés de um produto, promove uma grande mudança na estrutura, nas estratégias e
nos resultados no setor e mais amplo ainda, em todo o mercado de tecnologia da informação. O
novo e grande concorrente não vem mais de uma pequena empresa que revoluciona com um
produto totalmente novo, como no início do crescimento do setor, nem de grandes empresas que
se articulam para conquistar um novo mercado, mas sim de um novo modelo, surgido de um
movimento social, usando instrumentais totalmente novos e não personificados em nenhuma
empresa específica.
O Software nada mais é que rotinas escritas em uma determinada linguagem que são
convertidas para linguagem de máquina. No modelo tradicional de Software, as empresas
desenvolvem cada rotina necessária para o seu funcionamento, convertem em linguagem de
máquina e distribuem apenas o seu produto através de licenças de uso sobre ele e tratando o
código original como segredo industrial. No modelo de Software Livre, o acesso ao código não
possui restrições, qualquer um pode acessá-lo, alterá-lo e redistribuí-lo a vontade. As empresas
do setor passam a ser remuneradas pelos serviços que prestam para os usuários deste software.
Em todo o mundo este novo modelo se apresenta como uma alternativa de
desenvolvimento tecnológico e de economia para empresas usuárias de tecnologia e para os
governos, ambos muito dependentes e aprisionados a fornecedores de Software. O próprio
Governo Brasileiro, especialmente depois da posse do Presidente Lula, vêm utilizando
softwares livres em praticamente todos os seus setores, e estabaleceu o seu uso como objetivo
estratégico para todo o Governo.
O presente trabalho vai analisar as mudanças ocorridas na indústria de software, bem
como os motivos que levaram o Governo Federal a estabelecer o uso de um modelo específico
do mercado de software como uma decisão estratégica. Para tanto, o primeiro capítulo fará uma
rápida revisão na literatura de análise de modelos de concorrência concentradas, utilizando
referenciais de economia industrial.
Já o segundo capítulo, procura aplicar esses referenciais de análise ao setor de tecnologia
da informação, com ênfase para o mercado de software, abordando temas como economias de
rede, barreiras a entrada, custos de substituição por produtos similares e estrutura de preço. Com
esta caracterização, pretende-se mostrar os fundamentos da excessiva concentração existente no
mercado e da dificuldade de novas tecnologias e produtos se estabelecerem quando originadas e
defendidas fora das empresas líderes do setor.
O terceiro capítulo trata do surgimento do modelo de Software Livre, desde o seu início
como movimento de caráter social, as alterações introduzidas no próprio processo de produção
de conhecimento materializado em software. Também será demonstrado como os movimentos a
favor do Software Livre se colocam em termos de argumentação e suas posturas políticas e
filosóficas nas suas argumentações, correlacionando como tanto a produção de software, quanto
a adoção por parte dos indivíduos e empresas se justificam em cada um dos modelos.
A partir deste diagnóstico e das estratégias usadas nos movimentos socias, serão
abordadas as alterações que a introdução do Software Livre trouxe para a dinâmica
concorrencial do setor e sua relação com uma estrutura de mercado extremamente concentrada,
descrevendo as estratégias das empresas do setor, bem como o novo modelo de negócios que
está se espalhando pelo mercado.
O último capítulo irá analisar a estrutura atual do mercado de software no Brasil e sua
dinâmica competitiva, mostrando como a estratégia de adoção de Software Livre e do novo
modelo de produção de software pode alterar o mercado. A partir deste ponto, será analisado a
política pró-Software Livre do Governo Federal, mostrando algumas ações já realizadas e em
andamento dentro das políticas governamentais, sua influência sobre o mercado privado na
adoção de Software Livre e em que medida isto pode contribuir para o desenvolvimento
nacional. Finalizando o trabalho será demonstrado as perspectivas da difusão do Software Livre
no mercado nacional, vantagens e desafios para do novo modelo e apontando para um possível
reposicionamento do país no mercado mundial de produção de software.
1 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA A ANÁLISE DAS FIRMAS E DOS
MERCADOS
O presente capítulo irá fazer uma breve revisão do referencial teórico de economia
industrial, focando em mercados de concorrência oligopolista. Será abordado o debate
econômico em relação às diferentes concepções de firma. A partir disto, analisaremos os
principais elementos de estruturas de mercado, como barreiras à entrada, diferenciação de
produtos e barreiras à saída.
A base desta caracterização de estrutura do setor analisaremos as estratégias de
crescimento e de posicionamento das firmas em mercados concentrados. Por fim faremos uma
breve análise das diferentes concepções sobre a intervenção do estado atividade industrial.
1.1 Concepções de firma
Ao realizarmos a análise sobre um determinado mercado, o primeiro ponto que precisa ser
considerado são os objetivos identificados para as empresas que atuam neste mercado. Esta
questão tem sido objeto de debate, seja pela maneira com que as diferentes concepções teóricas
e suas visões do funcionamento do sistema econômico tratam o assunto, seja pela própria
evolução das firmas caracterizada por profundas mudanças no seu funcionamento e objetivos, ao
longo da história do capitalismo.
Na visão da economia política clássica a empresa não desempenha um papel central.
Dado que ela considera os indivíduos enquanto detentores de capital, os burgueses é que
surgem como sendo o principal elemento de análise. Já a moderna empresa está separada dos
seus proprietários, criando um ente jurídico à parte, bem diferente das empresas típicas do início
do capitalismo, onde a empresa se confundia com a família que a possuía.
Já com a teoria neoclássica, sobretudo a partir de Alfred Marshal, a firma passa à
condição de elemento central na análise, porém, ainda ligada à visão do capitalista que a
controla, e que no decorrer das gerações leva ao declínio da empresa familiar, abrindo caminho
para novos concorrentes. Segundo Marshall, mesmo que os filhos dos empresários, de maneira
geral, consigam manter a empresa funcionando, “(...) depois de passada uma geração, quando
as velhas tradições deixarem de ser um guia seguro, e quando os liames que uniam os antigos
empregados já tiverem se dissolvido, o negócio desmantelará...” (Marshall, 1982. pg 256).
Outros elementos fundamentais nesta concepção neoclássica da firma são as hipóteses
da livre mobilidade de capitais e dos rendimentos decrescentes de escala, os quais, agora
generalizados para toda a economia, e não mais restritos à agricultura, como na visão da teoria
ricardiana. Em relação aos objetivos da firma, tal concepção, porquanto mais interessada na
eficiência alocativa, ressaltará a maximização de lucro como tradução da função-objetivo das
firmas. Assim, as empresas tomariam decisões visando, a curto prazo, maior lucratividade com a
sua base atualmente instalada, ao passo que a longo prazo buscariam a definição de um tamanho
ótimo de sua planta industrial.
A contraposição à abordagem neoclássica da firma e dos mercados ganha força no debate
econômico, a partir do início dos anos 20, com um artigo de Piero Sraffa, onde este autor
criticava vários pressupostos da abordagem tradicional, e concluia que seria necessário retornar
a análise para o monopólio, ao invés da concorrência perfeita. As principais críticas deste autor
eram sobre a lei de rendimentos decrescentes, que teriam sido assim definidas para garantir que
as curvas de oferta tivessem formas geométricas desejadas, e que a teoria do tamanho ótimo das
firmas contraria a realidade.
Entre as visões de firma alternativas a da abordagem neoclássica, temos a gerencialista
que mostra que as empresas atuais são comandadas por gerentes profissionais, e que estes
possuem objetivos, ou ainda, função utilidade, diferentes do que unicamente o lucro. Neste
sentido, um gerente poderia trocar um pouco de lucro por um aumento de vendas, o que elevaria
o seu reconhecimento entre outros gerentes. Neste modelo, o crescimento das vendas da
empresa ocupa papel central.
Para os neoschumpeterianos, destacando as obras de Richard Nelson e Sidney Winter, as
empresas agem de acordo com rotinas cristalizadas através de sua experiência. A empresa não é
um ente que simplesmente possui custos variáveis, mas sim um conjunto de rotinas que incluem
conhecimento, interpretação de informações do ambiente externo e uma sistemática de
produção. Uma parte destes conhecimentos e rotinas são não formalizados, sendo adquiridos na
prática.
A firma também pode ser vista como um arranjo institucional duradouro, de acordo com a
contribuição de Richard Coase, e não mais como simples contratações de fatores no mercado.
Segundo esta teoria, haveria duas formas de alocação de recursos, uma típica de mercado, e
outra hierárquica, interna à empresa. Porém, esta concepção ainda se baseia na eficiência
alocativa, entre contratações de mercado e uso da hierarquia interna, buscando uma boa
utilização dos custos de transação.
1.2 Elementos de Estrutura de Mercados Oligopólicos
1.2.1 Mercados Atomísticos ou Concentrados
Um fator fundamental a ser observado quando analisamos as estruturas de mercado é o
seu grau de concentração, isto é, verificar quantas indústrias estão atuando no mercado e a
participação que elas têm nas quantidades produzidas. Esta medida nos permite, entre outras
coisas, verificar se existe um poder de mercado significativo colocado para as firmas. Uma
empresa líder em um mercado concentrado possui o poder de controlar os seus preços,
estabelecendo uma relação de vantagem em relação aos concorrentes e, principalmente, aos
demais setores da economia.
Na visão neoclássica todos os produtos são idênticos ou homogêneos, não sendo possível
que uma empresa pratique preço diferente das demais. Na prática ocorre justamente o contrário,
a concorrência existe através de produtos similares, mas não idênticos, normalmente com preços
diferentes, o que é chamado de diferenciação de produtos. Esta diferenciação pode levar à
possibilidade de uma empresa fixar o preço de seus produtos num patamar acima das demais,
desde que os seus consumidores estejam dispostos a pagar a mais pelo produto de uma
determinada marca.
A diferenciação de produtos pode ocorrer de muitas maneiras e alguns mercados podem
ser mais propícios à diferenciação que outros. Costuma-se ainda a classificar os produtos sob
diferentes formas de diferenciação, a horizontal, que consiste em alterações do produto que
pode fazer com que alguns consumidores prefiram este produto, mas outros podem não gostar
desta mesma característica. Outra diferenciação possível é a vertical, onde novas características
são adicionadas ao produto, levando a que o comprador prefira este produto por um mesmo
nível de preços. Normalmente este último tipo de diferenciação leva a maiores diferenciais de
preço (George; Joll, 1983: pg 81).
A hipótese, típica de uma análise neoclássica, de que mercados homogêneos sem barreiras
à entrada são concorrenciais, em oposição a mercados oligopolizados, leva a uma concepção
enganosa dos mecanismos de competição. A análise da dinâmica concorrencial a partir da
abordagem de Schumpeter diz que um mercado concentrado pode, sim, ser tão ou mais
concorrencial do que os mercados com grande número de ofertantes.
Conforme Possas,
“Um mercado atomístico, composto de empresas economicamente
insignificantes e desprovidas de qualquer poder de mercado, enquanto
paradigma competitivo, é um lamentável ficção da ortodoxia econômica
que, se verdadeira, debilitaria o ambiente competitivo e o processo de
concorrência ao ponto de tornar este último inoperante, com
conseqüentes prejuízos ao consumidor e ao bem-estar social, quando
visto em perspectiva dinâmica.” (Possas, 2002, pg 419)
1.2.2 Fontes de Barreiras a Entradas
Quando tomamos o grau de concentração dentro de uma determinada indústria, como
indicador do seu poder de mercado estamos esquecendo um aspecto importante, o da inter-
relação entre diferentes empresas de diferentes ramos industriais. Tanto quanto com o número
de firmas atualmente concorrentes, uma empresa estará também constantemente preocupada
com a entrada de novos concorrentes.
A microeconomia tradicional ou neoclássica se baseia no conceito marshalliano de
concorrência determinada pelo número e tamanho dos concorrentes, ignorando assim a
concorrência potencial, isto é, novas empresas interessadas em iniciar operações em uma
determinada indústria.
A economia clássica prevê que existe livre mobilidade de capitais entre indústrias. Assim,
ao existir um setor com lucratividade acima da média, haveria empresas interessadas em iniciar
suas atividades nesta indústria para tentar se apropriar de parte destes lucros extraordinários. Por
outro lado, se a lucratividade for inferior à média, algumas empresas ou mudariam de ramo, ou
encerrariam suas atividades, diminuindo a oferta de produtos, elevando o preço até o padrão
normal de lucratividade. Nesta análise dinâmica, a migração entre diferentes setores industriais
só terminaria quando a lucratividade fosse a mesma para todas as firmas.
Na prática, porém, podemos verificar que inúmeras indústrias mantém lucros acima da
média durante longo tempo, indicando tanto a presença de barreiras à mobilidade de capitais,
quanto a incapacidade destes novos capitais de concorrer em igualdade de condições com os
capitais já estabelecidos. Segundo Kupfer, Joe S. Bain, principal formulador da teoria das
barreiras à entrada de novas firmas na indústria, definiu este conceito da seguinte maneira:
“Barreiras a entrada corresponde a qualquer condição estrutural
que permita que empresas já estabelecidas em uma indústria possam
praticar preços superiores ao competitivo sem atrair novos capitais.”
(Kupfer, 2002. pg 113)
Alguns exemplos de barreiras à entrada são a manutenção de capacidade ociosa planejada,
diferenciação de produtos, registro de marca, patentes, segredo industrial, tecnologia
empregada, controle sobre matérias-primas ou sobre a cadeia de comercialização, volume de
capital mínimo necessário, custos financeiros de entrada, entre outros. (Silva: 1999, pg 120).
Economia de Escala
Quando analisamos os custos de produção de uma determinada firma, podemos identificar
os custos fixos, que são aqueles independentes da quantidade produzida, e os custos variáveis,
que aumentam a cada nova unidade produzida. Quando analisamos uma determinada curva,
temos um grande debate teórico sobre como a estrutura de custos das firmas reage ao aumento
da quantidade produzida. A economia de vertente neoclássica defende que, a partir de certo
ponto, o custo de produzir uma unidade adicional aumenta, levando a deseconomias de escala.
Esta definição de como se comportam os custos de uma empresa é determinante para
definirmos o tamanho que ela terá no mercado. Caso haja deseconomias de escala, podemos
dizer que o mercado terá várias empresas, competindo cada uma no seu ótimo em termos de
custo. Por outro lado, caso haja economias de escala, não haveria limites para o tamanho ótimo
da firma.
Vários fatores sugerem que a segunda alternativa é mais razoável. A argumentação para
existência de deseconomias de escala normalmente está associada à deficiências gerenciais que
ocorreriam dentro da firma devido ao seu tamanho. Esta hipótese poderia fazer sentido no início
do século passado, numa firma familiar, conforme Alfred Marshall havia definido, mas não nas
modernas corporações administradas por gerências profissionais. Além disso, problemas
relacionados, por exemplo, ao fluxo de informações intra ou entre empresas, foram resolvidos
em grande parte pelas modernas tecnologias da informação e comunicação.
Assim, o que se observa, na prática, é que para uma dada escala produtiva relevante, as
empresas tendem a operar sob condição ou de retornos constante ou de retornos crescentes de
escala. Ao considerarmos uma estrutura de custos com retornos de escala constantes ou ainda
crescentes, passamos a não ter um ponto ótimo de produção, mas sim uma quantidade mínima
que precisa ser produzida, o que a literatura chama de “Escala Mínima Eficiente” (Lootty e
Szapiro, 2002. pg 52). Uma firma precisa produzir uma quantidade igual ou superior a esta
quantidade caso queira se manter competitiva.
Diferenciação de Produto
A competição via diferenciação de produtos pode constituir-se em mais uma forma de
barreira à entrada. Os consumidores possuem dificuldades de avaliar e conhecer produtos,
levando à assimetria de informação, e as empresas com boa reputação passam a ter vantagens
sobre outras empresas que não disponham da mesma condição. Uma empresa entrante precisa
manter preços inferiores para incentivar os consumidores a adquirir seus produtos o que, por
outro lado, pode levar a uma guerra de preços perigosa para o entrante, que não tem como
avaliar a capacidade das empresas rivais em tal situação.
Barreiras à Saída
Quando uma empresa abandona um determinado mercado nem sempre ela consegue
recuperar os investimentos que realizou no momento de sua entrada. Os custos de saída têm
grande relação com as barreiras à entrada na medida que pode se constituir num importante fator
de influência para a decisão de entrar ou não em um mercado. A empresa sempre avalia o
cenário de não conseguir obter sucesso. O peso da incerteza e dos riscos ligados a um
investimento aumentam diretamente em relação aos recursos que não podem ser resgatados após
serem investidos, os quais, caracterizariam então o que se denominam custos irrecuperáveis
(Hasenclever e Ferreira, 2002: pg 141). Alguns exemplos desse tipo de custo são os gastos em
publicidade, pesquisa específica para o produto, custos de credibilidade, formação de redes de
fornecimento e comercialização, criação de ativos intelectuais - como software, marca, etc.
Apesar de tais custos representarem, em muitas indústrias, peso significativo em termos de
volume de investimento, dificilmente eles poderão ser recuperados.
1.3 Estratégias competitivas das firmas
1.3.1 Estratégias de crescimento
Como discutimos em relação à natureza e dos objetivos das firmas, o seu crescimento é
um dos objetivos mais presentes no âmbito das estratégias das empresas. Para entendermos
como elas conseguem efetivar este objetivo é fundamental analisarmos as estratégias de
crescimento mais utilizadas.
Diversificação
Uma das estratégias normalmente usadas pelas empresas é a diversificação de produtos e
de área de atuação. As motivações para esta estratégia de expansão estão ligadas a vários
motivos:
• Incerteza
Os administradores das corporações, ao verificarem a incerteza inerente a qualquer
mercado, procuram diversificar a área de atuação da empresa para garantir que, caso ocorra
alguma alteração substancial no seu mercado original, ela tenha condições de manter sua
existência no futuro.
• Interesse dos administradores
Os administradores de uma empresa, interessados em sua reputação perante o mercado
não atuam apenas no interesse de aumentar a lucratividade da empresa. Um dos principais
fatores de valorização de um administrador é o tamanho da empresa gerida por ele, sendo esta a
sua principal motivação nas decisões por ele tomadas.
• Recursos ociosos
A existência de recursos ociosos dentro da empresa, levam a estratégias de crescimento
para propiciar melhor aproveitamento. Além deste aspecto de eficiência, é normal que as
próprias pessoas envolvidas em atividades com relativo grau de ociosidade procurem novas
atividades.
• Poder de mercado
Uma firma pode traçar uma estratégia de diversificação a fim de aumentar o seu poder de
mercado, expandindo o número de produtos a fim de alcançar novos mercados correlatos ou
substitutos.
• Fontes de matéria prima
A fabricação de produtos que dependam dos mesmos fatores de produção acabam sendo
incentivadas. Uma firma que necessita de uma determinada matéria-prima, e tenha
conhecimento pleno sobre seu mercado passa a ter uma vantagem para iniciar a produção de um
outro produto que use a mesma matéria-prima.
• Redes de distribuição
A montagem de uma rede de distribuição é um dos aspectos mais importantes para a
capacidade de escoamento de uma produção. Uma empresa que promova a entrada de um
produto similar terá grande facilidade de usar a mesma rede de distribuição para seu novo
produto.
• Aproveitar Imagem
Uma empresa que possua boa imagem em seus produtos, conseguindo ligar o seu nome à
qualidade, passa a ter uma vantagem para conquistar os consumidores para seu novo produto.
Os consumidores esperam que este novo produto tenha a mesma qualidade dos produtos já em
comercialização.
Integração Vertical
As firmas podem ainda adotar a estratégia de expandir sua área de atuação para outras
partes da cadeia produtiva de seu produto, englobando tanto a etapa de fornecimento de
insumos como etapas posteriores de produção. Este tipo de ação, denominada integração
vertical, comumente está ligada à segurança de uma firma que pode temer que um elemento da
sua cadeia produtiva possa ter problemas de qualidade ou capacidade para expansão, ou ainda
que ela possa se destacar no controle da cadeia produtiva.
A integração vertical também pode ser motivada unicamente pelo desejo de crescimento e
expansão a firma, que vê numa área correlata, um setor de fácil investimento. Além disso,
controlar um elo a mais da cadeia produtiva pode ser importante na estratégia de competição
com os concorrentes, além de levantar mais uma barreira à entrada de concorrentes.
A Teoria dos Custos de Transação, por sua vez, nos diz que na negociação de uma firma
com um fornecedor existem custos adicionais, os custos de transação, que podem levar a
incorporação da atividade para buscar maior eficiência. Estes custos são influenciados por vários
fatores, como: quantidade de vezes que ocorre a transação, complexidade da relação entre os
agentes econômicos, racionalidade limitada, incertezas, oportunismo, etc.
Aquisições e Fusões
Dentre as estratégias de crescimento das firmas a de aquisições e fusões tende a ser de
grande relevância. Os motivos da tomada de decisão deste tipo de estratégia são variados e
normalmente complexos.
Do lado da empresa a ser adquirida podemos ter:
– A firma, ou o mercado em que ela atua, está passando por um período desfavorável, e
esta pode ser uma maneira de manter o capital investido;
– O dono da firma é obrigado a vendê-la para pagar obrigações tributárias;
– A firma pode ter alcançado um determinado estágio de crescimento que se tornou
muito grande para uma gerência não profissional;
(George, Joll; 1983: pg 121)
A Firma que está adquirindo ou as que estão em fase de fusão podem ser motivadas por:
– Economia de escala: aumentando a especialização nas atividades em cada fábrica,
melhorando a escala ótima de cada fábrica ou ainda levando a economia de custos
não produtivos, como o de marketing;
– Complementaridades: uma firma pode ser melhor do que a outra em uma
determinada atividade, de maneira que a fusão ou aquisição pode melhorar a
eficiência de ambas;
– Velocidade e segurança: as fusões e aquisições são uma maneira mais rápida de se
obter o crescimento de uma firma. É uma estratégia muito utilizada em caso de
crescimento horizontal;
– Monopólio e poder de mercado: pode ser a maneira mais fácil de eliminar a
concorrência ou de aumentar o poder sobre o mercado.
– Fatores financeiros e promocionais: o valor das ações das firmas pode influenciar
positivamente a estratégia de fusão, pois os investidores podem ter diferentes
percepções, vendo em uma firma melhores perspectivas do que em outra.
Conforme George e Joll, as estratégias de aquisições e fusões são normais quando uma
grande empresa se sente ameaçada por uma empresa menor e inovadora, já que:
“O lucro auferido pela pequena empresa firma em sua escala
de produção será muito menor que os prejuízos potenciais da grande
firma se esta não conseguir responder com seu próprio produto ou
processo melhorado. Nessas circunstâncias, a grande firma pode estar
preparada para pagar mais pela firma inovadora do que o valor desta
para seus atuais proprietários (isto é, mais do que o valor atual do
fluxo futuro de lucros que eles podem esperar).” (George, Joll e
Lynk, 1983: pg. 96)
1.3.2 Estratégias de Preços
Dentro da análise da dinâmica concorrencial em mercados concentrados e com barreiras à
entrada, a teoria do preço limite pretende explicar as estratégias de preços das empresas a fim de
evitar que novas empresas venham a ter incentivos à entrada em seus setores. Esta análise parte
da hipótese de que uma empresa que esteja auferindo lucros extraordinários avalie que novas
empresas terão interesse de entrar neste mercado a fim de compartilhar parte desta renda. Entre
as estratégias possíveis de manutenção de sua posição, a empresa estabelecida pode adotar o
preço competitivo, que, por definição, não atrairia a entrada de novas empresas. Outra
possibilidade seria definir o preço correspondente ao nível de lucro máximo, atraindo
definitivamente a empresa entrante e determinando que no futuro possa haver queda de
lucratividade. Contudo, como há barreiras à entrada e/ou vantagens competitivas para a empresa
estabelecida e formadora de preço, ela poderia fixá-lo ao nível de um “preço limite”, o qual, ao
mesmo tempo em que permite auferir um pouco de lucro extraordinário, consegue impedir a
entrada de novas empresas no mercado.
Uma outra estratégia de preços compatível com estruturas de mercados oligopólicas,
desde que atendida a condição de segmentação do mercado consumidor, é a política de
discriminação de preços. Esta é uma estratégia normalmente adotada em mercados concentrados
visando aumentar o lucro e o volume de produtos comercializados, segmentando os
compradores conforme os diferentes valores que cada um atribui ao produto, isto é, conforme a
elasticidade de demanda de cada um. Esta estratégia pode ocorrer de diferentes maneiras, como
segmentar a demanda em diferentes mercados, cobrando, por exemplo, um preço maior em
países com renda mais alta, ou ainda, separando o público de um mesmo mercado, dando
descontos à parcela mais sensível a preço, como normalmente ocorre para estudantes.
1.4 Concepções sobre a intervenção do Estado
Enfoque das falhas de mercado
Na teoria econômica há um debate intenso sobre o papel do Estado na economia. Porém,
existe um certo consenso de que a participação do Estado se justifica em certas situações onde o
mercado não consegue por si só determinar a melhor situação para a sociedade, seria o que os
economistas neoclássicos chamam de “falhas de mercado” (Ferraz; et alli, 1999: pg 549). Os
cinco principais tipos de falha mercado são:
• Estruturas de mercado ou condutas não competitivas
Em mercados onde existem fortes economias de escala, quanto menos empresas
participarem deles menores serão os custos de produção, o que leva a uma estrutura
oligopolista. Nestes casos é necessário evitar que estas empresas adotem condutas
anticompetitivas, limitando, para tanto, o seu poder de mercado.
• Externalidades
Conforme o modelo tradicional de concorrência todos os custos da produção de um bem é
apropriado pelo produtor, bem como todos os benefícios do bem são apropriados pelo
consumidor. Porém na prática este pressuposto muitas vezes não ocorre, causando com que
custos ou benefícios extras não sejam capturados pelas transações de mercado, causando o que
chamamos de externalidades.
As externalidades ocorrem quando a atividade de uma empresa gera impactos
prejudiciais ou positivos, normalmente de maneira indireta, em outras empresas, ou em
particulares, causando custos e prejuízos ou benefícios para estes. No primeiro caso denomina-
se de externalidade negativa, o segundo de externalidade positiva. A poluição é um exemplo
típico de externalidade negativa, enquanto investimentos em pesquisa pura a positiva.
Uma externalidade negativa está relacionada com um custo que existe ao produzir um
produto, mas que não se estabelece como um custo direto do produtor. Um caso comum disto é
a poluição, que não é um custo direto para a produtor, mas sim um custo para a sociedade
afetada por ela. Na prática, esta característica faz com que o bem seja ofertado em excesso no
mercado.
Já a externalidade positiva pode ser definida quando um bem produzir benefícios extras
para outras pessoas além do comprador. As atividades de pesquisa e desenvolvimento, ou ainda
a produção de bens com características próximas a de bens públicos exemplificam este caso.
Conforme Stiglitz & Walsh (2003: 351) , “Bens que geram externalidades positiva – como
pesquisa e desenvolvimento – terão oferta subótima no mercado.” Um outro tipo de
externalidade positiva é o que se denomina externalidade de rede, que ocorre quando um
consumidor é beneficiado a cada novo consumidor existente. O exemplo clássico é quando dois
sistemas de telefonia que não estão interligados concorrem entre si. O consumidor tenderá a
entrar na rede do fornecedor com a maior base de usuários instalada. Quanto maior a vantagem,
maior será a dificuldade para o concorrente em desvantagem de competir, e maior será o lucro
extraordinário que a maior rede terá. (Stiglitz e Walsh, 2003. pg 207)
• Bens Públicos
Os bens públicos são aqueles que possuem duas características particulares, a não-
exclusividade, que significa que não é possível atribuir o preço do bem a um agente econômico
em específico não sendo possível portanto a sua comercialização, e a não-rivalidade, que diz
que o aumento de unidades consumidas não afeta os custos de produção.
A classificação de um bem como rival é quando o consumo de uma unidade interfere no
consumo de outros. Uma pessoa que esteja passando em uma calçada, por exemplo, não impede
que outras pessoas possam usá-la, ao contrário do que ocorre com o consumo de uma barra de
chocolate. A informação é um caso típico de bem não-rival; uma pessoa que esteja usando uma
idéia não impede que outra a utilize ao mesmo tempo.
Um bem excludente é aquele em que é possível controlar o consumo, ou ainda que se
possa excluir pessoas de seu consumo. Ele é não excludente quando os custos de se controlar o
consumo é muito alto, ou ainda quando este controle não é possível. A segurança pública,
apesar de ser percebida como um bem com diferentes valores pelas pessoas, possui uma
característica de bem não-excludente, pois os benefícios gerados por ela não podem ser
separados.
• Direito de propriedade comuns
Bens que são de propriedade pública normalmente necessitam de proteção por parte do
Estado, pois os agentes tendem a não ter motivações para a sua conservação.
• Diferenças entre as taxas de preferências intertemporais sociais e privadas
As empresas tendem a não investir em atividades com retorno muito demorado e incerto,
mesmo que seja de alto interesse social. Pesquisas científicas apresentam estas características.
O enfoque da regulação do mercado – Teoria dos Custos de Transação (TCT)
A TCT surgiu com um artigo de Ronald Coase, denominado “The Nature of the Firm”,
em que ele defende que as empresas existem principalmente porque podem decidir
hierarquicamente a alocação de fatores de produção, ao contrário do que ocorre no mecanismo
de mercado, indicando a existência de um custos implícitos ao se atuar no mercado, o Custo de
Transação. Este artigo iniciou o estudo da TCT, que seriam as condições nas “quais os custos
de transação deixam de ser desprezíveis e passam a ser um elemento importante nas decisões
dos agentes econômicos, contribuindo para determinar a forma pela qual são alocados os
recursos da economia”. (Fiani, 2002: 267)
A TCT tem tido grande aplicação em áreas como a análise da concorrência e a regulação
econômica.
No enfoque da defesa da concorrência ocorre uma mudança de postura em relação à
integração vertical de grandes empresas, vista até este momento apenas como uma tentativa de
diminuir a concorrência, passa também a ser considerada como uma tentativa de aumento de
eficiência econômica ao eliminar estes custos de transação.
Já sobre a regulação econômica, a TCT levou a uma reavaliação das vantagens do
modelo de concessão de serviços públicos, demonstrando a necessidade de regulação direta
nestes setores. O modelo de concessão para serviços públicos não garante, conforme esta teoria,
que a empresa concessionária não tenha excesso de poder de mercado, justamente por
desconsiderar os custos de transação envolvidos, principalmente porque os serviços de
concessão necessitam ser de longo prazo para garantir investimentos, dificultando a previsão de
alterações no setor. Mesmo que seja atribuído a exploração de um serviço público, é
fundamental a existência de regulação para controlar preços, custos e investimentos. (Fiani,
2002: 285-286)
O enfoque neo-schumpeteriano da política industrial
Os neo-schumpeterianos rejeitam o enfoque de falhas de mercado, refutando pressupostos
como equilíbrio, informação perfeita e racionalidade dos agentes. A concorrência neste
paradigma é um processo dinâmico, de rivalidade entre as empresas que procuram se diferenciar
para ganhar posições no mercado justamente através das fontes de assimetria competitiva.
(Ferraz, et alli, 2002: 557)
A competição para esta corrente está relacionada principalmente com o surgimento da
estratégia das firmas de buscarem inovações a fim de obter vantagens em relação aos seus
competidores, focando a capacitação da empresa como elemento central. Assim, os monopólios
temporários não seriam entraves para o desenvolvimento, mas sim um motivo para a busca de
inovações, fundamental para o crescimento e desenvolvimento.
A política industrial neste contexto passa a ser um elemento importante para fortalecer o
ambiente competitivo ao criar incentivos de coorperação entre as empresas, manter um ambiente
institucional que favoreça investimentos em P&D a fim de gerar mais inovações de empresas
interessadas em conquistar parcelas maiores do mercado. É importante ressaltar que neste
contexto política industrial pode se confundir com regulação econômica, pois o fomento a
inovação e a ampliação das capacitações das empresas deve ser dosada com a garantia de um
ambiente competitivo que exerça uma pressão contínua das empresas concorrentes. (Fagundes,
2005)
2. CARACTERIZAÇÃO DO MERCADO DE SOFTWARE
PROPRIETÁRIO
Por software proprietário entende-se qualquer software que possui restrições, no seu
licenciamento, ao uso, alteração, estudo do seu funcionamento ou impossibilidade de
redistribuição. As empresas que trabalham neste modelo normalmente só disponibilizam o
programa já em sua forma executável (linguagem de máquina) que, em conjunto com as
restrições pela licença, lhe garante total controle sobre o software desenvolvido.
É importante ressaltar que a cobrança pela distribuição de software pode ocorrer tanto no
mundo proprietário como no livre, confusão comum na imprensa mundial.1 O acesso ao código,
por outro lado, não garante que o software seja livre, já que outras restrições podem se criadas
no seu licenciamento.
A análise da evolução das novas tecnologias, tem sido acompanhada de um amplo debate
sobre como as modernas tecnologias de informação e comunicação têm influenciado a dinâmica
econômica. O avanço da informática e das telecomunicações tem diminuído os custos de
comunicação e integração dentro das empresas, além de aparecer como elemento fundamental
para a comercialização e distribuição dos bens produzidos na economia mundial.
Este papel central que as inovações tecnológicas trazidas pela informática têm
apresentado em relação a economia vêm garantindo a atenção dos investidores privados e
autoridades governamentais, neste último caso, devido a sua importância estratégica na
dinâmica econômica. Neste capítulo pretendemos caracterizar o chamado mercado da tecnologia
da informação2, com ênfase no mercado de software. Para tanto, analisaremos as
especificidades que este mercado apresenta, começando com a que se refere à natureza do
produto software como um bem não-rival.
2.1 O Software como um bem não-rival
O software é que um conjunto de rotinas escritas numa linguagem que permite a
conversão futura para linguagem de máquina. Em essência, o software nada mais é do que
conhecimento em sua forma pura. Justamente por este motivo ele é tratado na maioria das
legislações como objeto de Direito Autoral, da mesma maneira que um livro.
1 Consulte: http://www.gnu.org/philosophy/selling.pt.html2 Shapiro & Varian, assim como outros autores usam o termo “Economia da Informação”.
O conhecimento é classificado tradicionalmente na economia como um bem não rival,
isto é, o consumo de uma unidade não interfere no consumo das outras pessoas. Uma
característica clássica de bens públicos. O consumo de uma unidade adicional de um bem como
este é zero, já que depois de ter sido construída não custa nada distribuí-la.
“Produzir uma nova idéia pode ser muito caro, mas a idéia só precisaser produzida uma vez. Seu computador pessoal corporifica milhares de novasidéias, mas essas não precisam ser reproduzidas cada vez que se fabrica maisum computador. (...) o desenho de um computador portátil só teve que serproduzido uma vez. Bens cujo consumo ou uso por uma pessoa não excluemo consumo por outra pessoa são bens não-rivais (não há rivalidade noconsumo)” (Stiglitz; Walsh, 2003: pg 339)
Além de ser um bem não rival o software também possui a característica de ser de difícil
exclusão, conforme Silveira3:
“Uma invenção transformada em um bem que gere muitos benefícios aquem não está disposto a pagar por ele, desestimula enormemente aqueles queestariam interessados em comprá-lo. As externalidades benéficas de uma idéiasão constatáveis pela observação daqueles que não a criaram, nem gastaramtempo em sua pesquisa e produção. Pessoas que não tiveram nenhum custopara produzir uma determinada solução podem reproduzí-la ao custo marginaligual a zero.”
A exclusão, neste caso, depende unicamente de uma legislação que crie mecanismos
para isto. É extremamente difícil controlar quem está usando ou não um software, bem como o
que alguém que compra uma licença de uso vai fazer em relação ao software. Ele pode
simplesmente “emprestar” as mídias de instalação para algum parente ou amigo.
As empresas de software através de campanhas tentam fazer com que as pessoas
cumpram os termos das licenças de uso dos softwares. Porém, isto ocorre de maneira desigual
entre países, e, de modo geral, nas economias em desenvolvimento, grande parte dos softwares
usados não são legalmente licenciados.
As empresas de software proprietário têm adotado um esforço de marketing importante
no convencimento do não uso de software ilegais, tentando evitar que as pessoas compartilhem
software umas com as outras. A Free Software Foundation, importante organização social de
apoio ao Software Livre defende a substituição do termo pirataria, implantado para caracterizar
o uso de software ilegal:
3 Disponível em: http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/TeseSA/TeseCapituloVI
“PiracyPublishers often refer to prohibited copying as "piracy." In this way,
they imply that illegal copying is ethically equivalent to attacking ships on thehigh seas, kidnapping and murdering the people on them.
If you don't believe that illegal copying is just like kidnapping andmurder, you might prefer not to use the word "piracy" to describe it. Neutralterms such as "prohibited copying" or "unauthorized copying" are availablefor use instead. Some of us might even prefer to use a positive term such as"sharing information with your neighbor."4
Podemos dizer, portanto, que o software possui características de bem público, ainda que
não na forma pura, apresentando aspecto de bens não rivais, de maneira pura, e uma certa
dificuldade de exclusão de consumidores.
2.2 Composição de custos e formação de preços no mercado de software
proprietário
É fundamental o entendimento que o software, por ser um bem da mesma natureza que a
informação, não é nada mais do que conhecimento convertido em linguagem de máquina e deve
ser estudado da mesma maneira como qualquer outra forma de informação, como as publicações
eletrônicas. A maioria das legislações em vários países do mundo, considera o software sujeito
às mesmas leis de Direito Autorais que as obras artísticas estão submetidas5, à exceção de
alguns países como os Estados Unidos que estabeleceram a possibilidade de patentes para o
software e vêm pressionando a União Européia a fazer o mesmo6.
A difusão de informação, antes efetuada principalmente pelo meio impresso, sofre uma
forte revolução com o surgimento da internet. Ao produzirmos um determinado conteúdo
precisávamos, no passado, nos preocupar com os meios de distribuição a ser utilizado para
torná-lo acessível a quem pudesse ter interesse. Com a internet, o custo de reprodução da
informação foi levado a zero. Qualquer um pode disponibilizar uma determinada informação e
fora algum eventual custo fixo não existe nenhum custo marginal envolvido, isto é, custo
adicional por mais uma unidade comercializada. Esta estrutura de custo particular faz com que a
quantidade de informações existentes na internet seja muito grande e de acesso público, já que
4 Disponível em http://www.gnu.org/philosophy/words-to-avoid.html5 Com referência ao Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio define software como:“Programa de computador é uma criação intelectual que possui a expressão de um conjunto organizado deinstruções em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, suscetível de sergravado em meios corpóreos e de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação. Oregime de proteção aos programas de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitosautorais e conexos vigentes no País, no que couber”. Consulte: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/sti/proAcao/proIntelectual/proInt_proComputador.php#cont6 Consulte: http://swpat.ffii.org/index.pt.html
ela não está sendo vendida justamente ao seu custo marginal. (Shapiro; Varian, 1999: pg 40)
2.2.1 Caracterização dos custos
A composição de custos da informação é bem diferente da tradicionalmente verificada na
economia. Ela está baseada principalmente no chamado “custo da primeira cópia”. O software,
tal como um livro ou um filme, tem seus custos de produção praticamente concentrados antes da
produção da primeira cópia.
Para produzirmos um software é necessário um projeto amplo das funcionalidades
exigidas pelos diferentes componentes que o constituirão, bem como a elaboração do conjunto
de rotinas para o seu funcionamento. A partir daí tem início a parte de codificação propriamente
dita. Na conclusão do produto, praticamente todos os custos de produção já ocorreram. Os
demais custos, como os de reprodução ou de correção de erros (Bug) são marginais, à exceção
do custo de suporte que tem alguma relevância.
Este baixo custo de reprodução aliado a não existência de restrição de capacidade
produtiva faz com que a empresa produtora possa tanto produzir algumas cópias como milhões
de cópias sem o mínimo esforço. Conforme Shapiro, “É essa combinação de baixos custos
incrementais e operação em larga escala que leva a margens de lucro bruto de 92% desfrutadas
pela Microsoft”. (Shapiro; Varian, 1999: pg 37)
A conseqüência do custo marginal próximo a zero e da inexistência de limite de
capacidade instalada faz com que esta estrutura de custos fique diferente e principalmente
incompatível com a análise marginalista tradicional. Nesse sentido, Sylos-Labini, ao falar sobre
a estrutura de custo das empresas, defende que: “Ao contrário do que afirma a doutrina
tradicional, a qual assume que o custo marginal de curto prazo tenha forma de U, existem boas
razões (...), para supor que este seja constante, pelo menos no período relevante para o
empresário.” (Sylos-Labini, 1984: pg 68). Com efeito, a análise econômica neoclássica
tradicional, que se baseia na hipótese do equilíbrio entre custos de produção e demanda, o qual,
determinado em termos de quantidade produzida e preços, perde efetivamente aplicação para
este tipo de mercado. A busca pelo equilíbrio entre custo marginal e receita marginal perde o
sentido, já que passa a existir uma indeterminação. (Sylos-Labini, 1984: pg 155)
Outro ponto fundamental é que os investimentos realizados para a produção de um
software não podem ser recuperados, nem mesmo de forma parcial, no momento de desistência
do projeto. Isto é, ao contrário do que ocorre em qualquer atividade industrial tradicional, onde
no caso de se decidir encerrar o projeto no meio do processo produtivo. Pode-se vender
máquinas, estoque de matéria-prima e produtos não acabados, no caso do software, todo o
trabalho produzido não tem qualquer valor se não houver a conclusão do produto. É o que se
chama de “custos amortizados” (Shapiro; Varian, 1999: pg 36).
2.2.2 A discriminação de preços como estratégia competitiva
Uma estratégia comum em mercados oligopolistas é a chamada discriminação de preços.
Por meio deste expediente os produtores tentam se apropriar do máximo possível que os
consumidores estariam dispostos a pagar, praticando preços diferenciados conforme o perfil dos
consumidores.
No mercado de tecnologia é comum a utilização do mecanismo de discriminação
intertemporal de preços. Quando ocorre o lançamento de uma nova tecnologia ela é fixada com
um preço inicialmente alto para que as pessoas interessadas em novidades tecnológicas e com
poder de compra suficiente as adquiram a um valor mais alto. (Shapiro; Varian, 1999: pg 57)
Este mesmo mecanismo é normalmente aplicado também no mercado de softwares,
principalmente naqueles que possuem um alto grau de inovação, como no caso dos jogos
eletrônicos. Os lançamentos sempre possuem um valor superior a jogos mais antigos,
independente da complexidade.
Uma estratégia comum é a de oferecer preços diferenciados para estudantes e
professores. Além destes serem mais sensíveis a preço, há também a necessidade de cativá-los a
fim de expandir a influência que um software tem no mercado. Do ponto de vista da empresa de
software, fazer com que estudantes utilizem o seu produto sempre é uma vantagem competitiva
importante caso estes se tornem agentes decisores em empresas.
Outra forma de segmentar o público é separar os usuários que têm maior necessidade de
adquirir um determinado produto. Ao se lançar uma nova versão de um software, os
consumidores que já adquiriram uma versão anterior, têm poucas motivações para realizar o
“upgrade” de seu software. A Microsoft tem usado o expediente de fornecer atualizações de
seus produtos a preços diferenciados, já que é necessário um esforço muito maior para
convencer um usuário a atualizar seu sistema a partir de versões anteriores.
A fim de melhor ilustrarmos essa dinâmica de discriminação de preços, podemos analisar
o mercado de sistemas operacionais, mais propriamente o Microsoft Windows. Atualmente ele é
vendido nas seguintes versões.7
– Windows Starter Edition
Versão do Windows com limitações de funcionalidades artificialmente implantadas,7 As informações nesta análise partiram de várias fontes como Chagas ( 2003), da descrição dos produtos pela
Microsoft e da observação direta do autor.
como a capacidade de executar apenas três aplicativos simultaneamente, abrir no máximo três
janelas por aplicativo, e outras limitações em relação às versões tradicionais. Esta versão é
distribuída unicamente em países em desenvolvimento. O público-alvo é o mercado mais
sensível a preço, só é fornecido em contratos OEM8, isto é, acompanhando os computadores.
– Windows XP Home Edition
Voltado para usuário doméstico normal que possui sensibilidade a preço superior à
identificada para o meio empresarial. Ele é mais adequado a usos mais complexos do que o
Starter Edition, mas possui limitações em termos de funções, número de conexões remotas e
principalmente softwares para administração remota, elemento fundamental para grandes
corporações.
– Windows XP Professional
Voltado para o mercado empresarial, que é menos sensível a preços. A Microsoft define
a versão como “a edição com mais recursos, oferece os níveis mais altos de performance,
produtividade e segurança. É a melhor escolha para usuários empresariais e para usuários
caseiros que exigem o máximo de seu sistema.”9
– Windows 2003 Standart Edition
Voltado para o mercado de servidores10 básicos.
– Windows 2003 Enterprise Edition
Uso em servidores avançados, com vários processadores.
– Windows 2003 Datacenter Edition
Para ambiente de missão crítica, permitindo características como uso em cluster.
– Windows 2003 Web Edition
Versão especial para o ambiente World Wide Web.
8 Original Equipament Manufacturer. É uma modalidade diferenciada de distribuição de softwares, onde eles nãosão comercializados aos consumidores finais, mas unicamente aos fabricantes de computadores. Neste tipo decontrato, o software é normalmente associado à máquina com a qual foi distribuída, a qual, não pode serrevendida ou instalada em outro computador pelo próprio usuário. A Microsoft pratica ainda uma políticadiferenciada de suporte para esta modalidade de venda, repassando totalmente a responsabilidade ao Fabricantede computador, e se livrando de um importante custo variável, o suporte .
9 Consulte http://www.microsoft.com/brasil/windowsxp/pro/comprar/escolhendo.asp10 Servidores são equipamentos dedicados a determinadas funções que estão disponíveis aos computadores via
rede de comunicação.
Tabela 1 - Microsoft Windows – Versões e Preços
Versão Preço
Windows XP Home Edition – Atualização R$ 399,00
Windows XP Home Edition – Completo R$ 499,00
Windows XP Professional – Atualização R$ 699,00
Windows XP Professional – Completo R$ 799,00
Windows 2003 Server Edition US$ 999,00
Windows 2003 Enterprise Edition US$ 3.999,00
Windows 2003 Datacenter Preço não disponível
Windows 2003 Web Edition US$ 399,00
Fontes: Microsoft11 e Kalunga12 em novembro de 2005
Outra estratégia de discriminação de preços utilizada pela Microsoft está relacionada ao
idioma do sistema operacional de Desktop. Como é muito difícil que um usuário final utilize um
produto desenvolvido para um idioma diferente do seu, a Microsoft consegue produzir uma
segmentação especial de preços, criando políticas de preços diferentes para cada idioma. Esta é
inclusive uma das estratégias em relação ao starter edition, que está disponível em poucos
idiomas. Conforme declara a própria Microsoft:
“Windows XP Starter Edition Geographic and Language
Availability
Starting in October 2004, Windows XP Starter Edition will ship on
new, low-cost PCs available through PC original equipment manufacturers
(OEMs) and Microsoft OEM distributors. The offer is currently available in
Thailand, Indonesia, Malaysia, India and throughout Latin America.”13
É também interessante observar o comportamento da política de preços da Microsoft em
relação ao Microsoft Windows 2003 Web Edition, uma versão feita especificamente para
hospedar páginas da World Wide Web através da internet. Este novo produto, lançado em abril
de 2003, é uma resposta às dificuldades da Microsoft em conseguir avançar no mercado de
servidores WEB, dominado pelo software livre Apache. A participação máxima da Microsoft
com o seu servidor Internet Information Server – IIS, chegou a menos que 35%, e atualmente11 Disponível em http://www.microsoft.com/windowsserver2003/howtobuy/licensing/pricing.mspx12 Disponível em http://www.kalunga.com.br/search.asp?keyword=microsoft&keywordType=1&cookie%
5Ftest=113 Disponível em http://www.microsoft.com/presspass/press/2004/aug04/08-11WinXPStarterPilotPR.mspx
está estabilizada em torno de 20%, enquanto o Apache está próximo a 70% do mercado14.
No passado, a Microsoft comercializava seu servidor web incluído nos demais produtos e
pelo mesmo preço do Server Edition ou Enterprise Edition (antes chamado de Advanced
Server). Porém, a criação deste novo produto foi necessária para permitir a adoção de uma
política de preço diferenciada, a fim de tentar atrair mais consumidores e tentar ao menos
diminuir o ritmo do avanço do Apache. O gráfico abaixo mostra que a estratégia conseguiu ao
menos interromper a tendência de queda acentuada do uso do IIS na internet.
Figura 1 – Participação dos principais servidores web na internet
Fonte: Netcraft – http://news.netcraft.com/archives/web_server_survey.html
A capacidade de segmentação de mercados nem sempre ocorre de maneira considerada
legal. A Microsoft estabeleceu que as vendas de produtos Microsoft em contratos corporativos
de alto volume, no Distrito Federal, onde são normalmente realizadas as compras do Governo,
só poderiam ser feitas por uma de suas revendedoras, a TBA15. Com isto, ela monopolizou o
mercado de compras governamentais, menos sensível a preço e bastante aprisionada a seus
produtos. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE considerou esta prática
ilegal e a Microsoft foi obrigada a não mais estabelecer restrições a vendas de produtos baseadas
em representantes exclusivos por região. Em seu parecer de condenação, o CADE afirma:
14 Disponível em http://news.netcraft.com/archives/web_server_survey.html15 Consulte: http://www.tba.com.br
“(...) observa-se claramente que as relações concorrenciais,notadamente se analisadas em cotejo com as peculiaridades do mercado emquestão, foram lesadas pela forma como foram estabelecidos os critérios decredenciamento quantitativos e qualitativos, claramente utilizados pelaMicrosoft de forma a discriminar potenciais revendedores, limitando efalseando a concorrência.”16
Com a condenação por concorrência desleal a Microsoft foi penalizada com uma multa
equivalente 10% do seu faturamento, excluídos impostos, sobre suas vendas para o Governo
Federal no ano de 1998, e a TBA, sua associada, condenada a pagar o equivalente a 7% do
faturamento do mesmo ano. O parecer do CADE faz clara referência à situação de
aprisionamento e à presença de grandes barreiras a entradas no setor, que, em conjunto com a
prática de exclusividade, concedida, no caso, à TBA, criaram uma situação de restrição
deliberada de concorrência.
2.3 Barreiras à entrada e dinâmica da concorrência no setor
Conforme visto no capítulo anterior, as barreiras à entrada impedem o ingresso de novos
capitais em uma determinada indústria, eliminando um dos conceitos-chave para a dinâmica
concorrencial neoclássica.
O mercado de Tecnologia da Informação possui características diferentes das demais
indústrias, sendo afetada por barreiras específicas e bastante significativas, conforme o setor a
ser analisado. Ao mesmo tempo que possui um mercado dinâmico aonde pequenas empresas
surgem a todo o momento com novidades tecnológicas, isto é, com pequenas barreiras à entrada,
possui, por outro lado, um mercado consolidado de softwares, principalmente de aplicativos e
sistemas operacionais, com grandes barreiras à entrada, e que representam a parte mais
significativa em termos de faturamento no mercado. Este tipo de mercado será o foco da análise
durante praticamente todo o trabalho.
2.3.1 Economias de Rede
O mercado de Tecnologia da informação de modo geral é muito suscetível a economias
de rede. Um mercado com externalidades de rede é aquele em que os consumidores se
beneficiam com o aumento do número de pessoas que fazem parte desta rede. O exemplo
clássico é o mercado de telefonia. Quanto maior o número de pessoas conectadas a um
determinado sistema, maior será o valor que cada usuário atribui ao sistema. No caso do
16 Parecer do Cade sobre o Processo Administrativo nº08012.008024/1998-49
Software temos um exemplo extremo em que as exterioridades de rede chegam a ser mais
importantes que a qualidade do software em si. Mercados com este tipo de funcionamento
fortalecem os fortes e enfraquecem os fracos. (Shapiro; Varian, 1999)
No mercado de computadores um software aplicativo, como um editor de texto, por
exemplo, terá tanto mais força quanto maior o número de usuários, principalmente pelo próprio
valor que os consumidores atribuem ao produto. Podemos dizer que o preço que um consumidor
estaria disposto a pagar por um software aumenta em relação ao número de usuários.
A percepção de maior valor atribuído pode ser explicada pelos seguintes fatores
(Shapiro; Varian, 1999: pg 204):
• Usuários Treinados
O número de usuários que conhecem uma tecnologia pode representar economias de
treinamento para uma empresa. Além disso, os funcionários não gostam de ser treinados em
tecnologias que não lhe trarão benefícios no futuro.
• Continuidade do produto
No mercado de tecnologia existe a tendência, quando ocorre uma disputa entre
empresas, que apenas a vencedora tenha sucesso, se tornando ainda mais forte. Apostar numa
tecnologia que pode fracassar pode levar a um custo desnecessário. Os consumidores tendem
a apostar em tecnologias mais fortes, com maior tendência de se consolidar.
• Aplicações complementares
A existência de aplicações compatíveis e complementares aumenta a utilidade de um
software. Quanto maior o sucesso de um software, maior a probabilidade da existência de
softwares desenvolvidos para ele.
• Custos de troca coletivos
Além dos custos de troca individuais, existem os coletivos, que só podem existir se
forem realizados pela maioria dos usuários. Normalmente romper com um padrão que já é
utilizado pela maioria não é tarefa trivial.17 No mercado de Tecnologia da Informação, a
consideração deste aspecto merece especial atenção. O melhor exemplo de como este tipo de
custo pode afetar negativamente a escolha das melhores soluções é a definição do layout de
teclado. O atual baseado no padrão “qwerty” foi definido no final do século XIX para máquinas
de escrever. A disposição de teclas foi feita no sentido de diminuir a velocidade dos datilógrafos
já que os equipamentos da época tinham sérios problemas de travamento de teclas. Em 1932, foi
desenvolvido um formato de teclado com disposição de teclas mais intuitiva e ergonômica, o
17 Um bom exemplo, na economia tradicional, é o tamanho da bitola das estradas de ferros existentes nos dias dehoje. Elas foram definidas, no passado, com base no tamanho das carroças, as mesmas usadas desde a época doImpério Romano. Apesar de disputas por diferentes bitolas que ocorreram em certas regiões da Europa e nosEstados Unidos até hoje a bitola padrão “carroça romana” prevalece. (Shapiro; Varian, 1999: 243)
formato Dvorak. Porém, ele jamais se consolidou no mercado.18
Podemos explicar a dificuldade de troca para um novo padrão pelo alto custo de troca
coletivo envolvido. Quando se procura substituir um padrão com fortes características de rede,
faz-se necessário uma coordenação coletiva para efetuá-la, já que individualmente o custo de
cada um fazer a substituição é muito grande. Caso uma empresa decidisse adotar o novo teclado
teria que treinar os seus funcionários, poderia não conseguir profissionais no mercado que
conhecesse este layout de teclado e não conseguiria influenciar individualmente o mercado para
adotar o novo padrão. O resultado é que todos seguem usando um padrão de baixa qualidade,
extremamente ineficiente, o que é um fenômeno bastante comum nos mercados de tecnologia.
2.3.2 “Aprisionamento” de clientes
Pelo que discutimos até aqui, fica claro que a estratégia de competição entre as empresas
dos ramos de tecnologia da informação, principalmente no setor de software, visa atingir o
predomínio em termos de participação no mercado, criando sempre que possível situações de
aprisionamento de seus clientes a uma determinada ferramenta. Este objetivo passa a ser o real
foco de ação das empresas, contrariando o conceito neoclássico de maximização de lucros.
Mesmo sem atingir a liderança no mercado, um bom número de clientes aprisionados
pode representar, para as empresas fornecedoras de software, um bom lucro no futuro, na
medida que as empresas usuárias deste produto passam a ter um custo de troca muito
significativo. A empresa fornecedora pode fazer uma estratégia de discriminação de preços, e
aumentar os preços para quem já é usuário. Porém, a situação mais comum é quando um
determinado produto de uma empresa perde sua possibilidade de crescimento no mercado, mas
ainda possui um público segmentado cativo. Um exemplo deste problema é o que vem
ocorrendo no mercado de computadores de grande porte, sobretudo quando utilizados pelos
governos.
Este tipo de plataforma computacional envolve sistemas que possuem um volume de
transações muito grande, que precisa, portanto, de um sistema dedicado e com capacidade de
“throughput”19. Governos, Bancos e Universidades normalmente são os clientes preferenciais
deste segmento. Nos últimos anos os produtores destes sistemas não têm conseguido aumentar
seu mercado, principalmente pelo avanço da microinformática que esta fazendo com que
servidores baseados em plataformas semelhantes aos microcomputadores pessoais tenham um
18 Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Dvorak_Simplified_Keyboard19 “In computer technology, throughput is the amount of work that a computer can do in a given time period
Historically, throughput has been a measure of the comparative effectiveness of large commercial computersthat run many programs concurrently.” Disponível emhttp://whatis.techtarget.com/definition/0,,sid9_gci213140,00.html
aumento considerável de performance. Em vários casos ligam-se vários destes computadores em
“clusters” com capacidade de processamento equivalente aos computadores de grande porte.
Porém, quem já trabalha com estes ambientes de grande porte, possuei um nível de
aprisionamento que dificilmente é rompido. Este problema se torna ainda mais complicado em
entes estatais, pois uma estratégia de troca deste tipo tem que ser avaliada levando em
consideração um período de planejamento muito longo, muitas vezes de quase uma década, o
que é especialmente difícil para o Estado.
2.3.3 Bens Complementares como fonte de aprisionamento tecnológico
Quando um usuário ou uma empresa precisa escolher uma determinada arquitetura de
hardware, depara-se uma série de elementos envolvidos nesta tomada de decisão. Se, por
exemplo, um usuário de Macintosh resolve trocar o seu computador, muito provavelmente ele
irá comprar outro computador da mesma marca. O motivo para isto é a série de equipamentos
adicionais, software, etc, que normalmente o usuário já possui e que não poderia aproveitar em
caso de substituição de plataforma. Uma plataforma computacional normalmente não possui
bens substitutos na mesma proporção que um bem tradicional, como um automóvel, por
exemplo.
Para um software ter sucesso no mercado ele precisa de aplicativos complementares,
normalmente desenvolvidos por outras empresas. Esta sistemática, por um lado, benéfica para
ambas as empresas desenvolvedoras representa, contudo, um complicador a mais na relação
entre os concorrentes, pois passa a existir uma estreita relação entre os elos de uma cadeia de
software.
Não necessariamente a empresa que inicialmente desenvolveu um software tem absoluto
controle sobre um mercado onde há necessidade de software complementar. A economia
tradicional analisa este caso como mercado com Bens Complementares, onde o preço de oferta
em relação a uma demanda potencial é determinado em conjunto pelas duas firmas. Isto pode
levar a uma disputa pelo controle desta cadeia de valor.
Conforme Shapiro & Varian:
“Este aprisionamento bilateral pode conduzir a um certo equilíbrio deterror, sem falar em algumas negociações que envolvam altos interesses. Ocaso clássico é o de uma ferrovia que construiu um ramal para servir a umcliente individual (...). Uma vez construída a linha tem pouco ou nenhumvalor além de servir ao cliente único, de modo que a ferrovia está retida poreste cliente. Ao mesmo tempo o cliente acharia muito caro financiar a
construção de um novo ramal, de modo que o cliente fica retido pela ferrovia,levando ao que os economistas chamam de monopólio bilateral.” (Shapiro;Varian, 1999: pg 156-157)
A existência de aprisionamento bilateral entre duas aplicações, uma dependente da outra
para se sobrepor no mercado, pode levar rapidamente a uma disputa pelo controle da cadeia de
valor. (Porter, 1992: pg 385) A empresa que obtém este controle pode assim “drenar”
lucratividade da outra, porém, não pode entrar em disputa direta, sob o risco de perder o seu
mercado. Em situações como esta, a empresa que desenvolveu o software que serve de infra-
estrutura básica passa a ter uma vantagem na medida que mudanças de especificação e
implementação serão inicialmente conhecidas apenas por ela.
Um caso interessante é a relação entre a Microsoft e a Nestcape na disputa pelo mercado
de navegadores para internet. O surgimento da internet, levou sem dúvida, a um aumento de
importância dos sistemas computacionais, que se reproduz no valor que o mercado atribui aos
produtos. Neste sentido, a existência de um navegador de qualidade como o Netscape,
distribuído de maneira gratuita, foi importante para determinar inclusive o preço de sistemas da
Microsoft. Porém, esta última empresa, vendo o sucesso que o navegador estava obtendo, e
avaliando possíveis riscos futuros, resolveu entrar na disputa para conquistar este segmento de
mercado.
Com a vantagem de produzir o sistema operacional mais importante sobre o qual era
executado o Netscape, ela resolveu entrar no mercado com o seu Internet Explorer. Ela passou a
fornecer seu navegador gratuitamente, mas com a vantagem de já distribuí-lo em conjunto com
o seu sistema operacional, o que lhe dava, logo de início, uma grande base de usuários com o
software instalado. Como segundo passo ela deu sua cartada final, integrando o navegador ao
sistema operacional, de forma que nenhuma máquina com Windows funcionasse sem o seu
navegador, consolidando de vez a sua vantagem no setor.20 Este fato gerou inclusive uma ação
nos Estados Unidos sobre abuso de poder pela Microsoft.21
As Barreiras à entrada, ou ainda os custos de troca envolvem praticamente todos os
aspectos de uma ambiente computacional, incluindo o Hardware, Software, Treinamento, etc...
(Shapiro; Varian, 1999). Uma estratégia de aumento de barreiras a entrada, com ênfase em bens
complementares que levam a aprisionamento tem sido a tônica deste mercado. Nos próximos
ítens vamos analisar como este mecanismo funciona.
2.3.3.1 Hardware20 Ao lançar o Windows 98 a Microsoft optou por realizar a integração com o Navegador Internet Explorer com o
sistema operacional. 21 Disponível em http://www.usdoj.gov/atr/cases/ms_index.htm
Durante as décadas de 70 e 80, a produção de computadores, mesmo os de uso pessoal,
consistia em computadores desenvolvidos sem um padrão definido, com quase total
incompatibilidade entre eles. Assim, cada componente usado era específico para o computador
em questão. O final da década de 80 representou o avanço de uma arquitetura em específico, a
IBM – PC, que se propagou a partir de uma especificação de equipamento desenvolvida pela
IBM e licenciada por um custo muito baixo e para qualquer fabricante que tivesse interesse em
produzi-lo, prática que revolucionou o mercado. A intenção da IBM de tentar criar um padrão
para o segmento de computadores pessoais acabou tendo sucesso, mesmo que esse não fosse o
seu segmento de mercado preferencial22.
Um dos motivos para este sucesso foi a crescente percepção das dificuldades envolvidas
em intoreperar diferentes plataformas computacionais construídas para serem incompatíveis23,
bem como da possibilidade de aumento de escala trazida pela padronização. Antigamente, um
determinado fabricante que produzisse uma placa de vídeo, por exemplo, teria que construí-la
unicamente para um determinado padrão definido pela empresa que comercializava este
computador. A partir do momento em que vários fabricantes começaram a produzir
computadores com um mesmo padrão, esta mesma fábrica poderia se especializar na produção
de uma determinada placa, que teria um universo de compradores muito maior, levando a um
crescimento significativo da escala produtiva.
Passamos então a ter o domínio dos computadores IBM - PC compatíveis. Porém,
mesmo com a consolidação desta plataforma como a dominante no mercado, existem várias
plataformas diferentes que conseguiram resistir no tempo, sobretudo aquelas de uso
extremamente especializado. É o caso de plataformas corporativas baseadas em sistemas
operacionais Unix e processador RISC, ou ainda computadores pessoais como o Macintosh.
É importante ressaltar que, neste caso, não foi a melhor tecnologia que se consolidou,
mas sim a melhor estratégia de comercialização. A IBM, desenvolvedora do novo padrão de
mercado, apesar de ter adotado a estratégia vencedora, não obteve o mesmo sucesso em manter
o controle sobre sua criação, principalmente por errar na aposta de qual seriam os setores-chave
no mercado de computadores pessoais24.
A substituição de um determinado hardware envolve vários custos de troca. O primeiro
destes relaciona-se aos periféricos e equipamentos adquiridos para trabalhar em conjunto uma
dada plataforma. Por exemplo, podemos comprar uma impressora, um scanner, ou um
22 O foco de atuação da IBM era o fornecimento de computadores de grande porte e os softwares necessários paraseu funcionamento.
23 Como não existia uma plataforma com posição dominante no mercado, os fabricantes dificultavam que seuscomputadores conseguissem trocar informações com os concorrentes.
24 Considera-se setores-chave: processador e sistema operacional
dispositivo de armazenamento, como uma unidade de fita para backup. Estes equipamentos
muito provavelmente serão de uso específico para a arquitetura de hardware que já exista. No
momento de fim de ciclo de vida do computador existente, o comprador certamente terá que
pesar se mantém seu investimento em periféricos já realizados, os quais, na maioria das vezes,
ainda não encerraram seu ciclo de vida, ou se compra todos os componentes necessários para a
nova plataforma.
Outro fator relevante é o conhecimento já existente dentro da empresa e a relação de
confiança que pode ter sido construída com um determinado fornecedor. Vamos dizer que um
determinado servidor de rede que realize tarefas consideradas críticas em uma determinada
empresa necessite ser substituído. A equipe responsável pela sua manutenção certamente já
possui conhecimento sobre o hardware atualmente instalado. Este conhecimento foi obtido,
como normalmente ocorre em setores com constante inovação, pela dedicação de horas de
estudo da equipe. Alterar a plataforma pode implicar na necessidade de investimento em
treinamento ou recontratação, além do risco de custos de paradas não programadas. Além disso,
o normal é que se crie, com o tempo, uma relação de confiança entre a equipe interna e a
empresa fornecedora, reduzindo as incertezas de sucesso no novo investimento, o que pode ser
fundamental no momento de se optar por um fornecedor25.
As empresas que produzem computadores e periféricos, conhecedoras desta sistemática,
montam suas estratégias com o objetivo de criar o aprisionamento dos seus consumidores à sua
tecnologia, ou para tentar conquistar um novo mercado. É comum que fabricantes criem um
determinado padrão proprietário26, prevendo impedir, no futuro, que seus clientes migrem para
outra plataforma e que algum outro fornecedor, ao verificar uma determinada situação de
aprisionamento, tente licenciar – obter autorização para uso - este padrão para diminuir custos
de troca de seus possíveis novos clientes. É importante ressaltar que para difundir um
determinado padrão de hardware é comum que os fornecedores façam alianças estratégias com
outros.
2.3.3.2 Software
O mercado de Software, por sua vez, possui um custo de aprisionamento ainda maior
que o do mercado de Hardware. No software a criação de padrões proprietários é bem mais
25 Como existe um grande número de fornecedores de hardware, e os mais importantes costumam ter um preçomuito elevado, justamente pelos problemas de assimetria de informação, tornando-se um aspecto importanteneste contexto.
26 Apesar de parecer contraditório, o termo padrão proprietário é muito utilizado na área de informática e dizrespeito a um conjunto de regras para uma determinada situação, normalmente envolvendo comunicação efuncionamento de componentes, nem sempre de acesso público.
comum e eficiente, já que as dificuldades de conseguir interoperar com um hardware, por se
tratar de um meio físico, são bem menores do que com o software, que é um bem intangível.
A primeira decisão a ser tomada para montar uma estrutura de informática é a escolha do
Sistema Operacional de estações de trabalho e de servidores de rede. Atualmente existem várias
opções, tais como: Microsoft Windows (estações e servidores), várias versões de sistemas Unix
e derivados próximos (servidores), Gnu/Linux (estações de trabalho e servidores) e Macintosh
(estações de trabalho). Existem ainda outras alternativas para computadores de grande porte, de
uso especializado.
Uma escolha como esta envolve muitos aspectos, já que o custo de aprisionamento de
software possui, além das características já listadas para o Hardware, como a padronização e
outros softwares complementares, outras que ainda precisamos analisar:
Software Aplicativos
Um sistema operacional, não agrega, por si só, nenhum valor para um usuário. O que de
fato é utilizado são os aplicativos que são executados a partir de um determinado sistema. Cada
sistema possui uma plataforma de desenvolvimento própria e incompatível com os demais.
Desta forma, ao se optar por um ambiente de informática é necessário adquirir aplicativos para
funções específicas, como processadores de texto, planilhas eletrônicas, software para
compressão de dados, ferramentas gráficas, etc...
Estes softwares adicionais possuem um custo muito superior ao do sistema operacional
em si. Por exemplo, se uma empresa adquirir o sistema operacional Microsoft Windows, e
quiser instalar o editor de textos e a planilha eletrônica da Microsoft, ela terá que desembolsar
mais R$ 1399,00 por uma licença desta “suíte de escritório”. A partir deste momento já estará
ocorrendo um custo de aprisionamento, já que esta “suíte” funciona unicamente neste sistema
operacional. Se esta empresa resolver substituir o sistema operacional, ela também terá que
realizar novamente o investimento nestes aplicativos.
A própria Microsoft, atenta a este mecanismo, produz aplicativos unicamente para o seu
sistema operacional, e também faz alianças estratégicas para que outros fornecedores de
aplicativos não produzam para outras plataformas. Um caso famoso é o da empresa Corel que
produz um aplicativo líder na área de construção de imagens vetoriais, o Corel Draw, além de
uma série de outros aplicativos, como editores de textos e de imagens. Em 1999 a Corel, lançou
o Corel Linux, uma distribuição Gnu/Linux voltada para estações de trabalho e portou27 ou
emulou28 alguns de seus aplicativos para este novo sistema operacional. A Corel não estava
numa situação financeira tranqüila e traçou uma estratégia para que seus clientes não tivessem
custos adicionais ao adquirir seus aplicativos. Desta forma ela resolveu investir no projeto de
uma versão de sistema operacional, aproveitando, contudo, o trabalho que a comunidade
mundial de Software Livre já havia realizado, e lançou o seu “Corel Linux”, uma distribuição
Gnu/Linux que era fornecida gratuitamente na compra de um produto da Corel. Em 2000 a
Microsoft fez um investimento de 135 milhões de dólares em ações sem direito a voto e ambas
as empresas anunciaram um “acordo estratégico” para adoção da tecnologia de desenvolvimento
“.NET” da Microsoft29. A partir deste momento a Corel parou de investir na sua divisão de
Software Livre e a vendeu menos de um ano depois.
Periféricos e drivers
Quando um produtor de periféricos lança um determinado produto, por exemplo, uma
impressora, ele deve decidir para que arquitetura de hardware ela será construída, bem como os
sistemas operacionais que serão instalados nestes computadores. Para cada sistema operacional
o fabricante terá que desenvolver um “driver”, software responsável pela comunicação física do
equipamento com o sistema operacional.
Os sistemas líderes de mercado sempre serão contemplados com o fornecimento de
driver para o dispositivo, mas novos produtos de empresas entrantes, ou mesmo produtos já
consolidados, mas com participação pequena no mercado30, dificilmente terão a atenção destes
fornecedores. Desta forma, temos uma preocupação extra para quem decide trocar o sistema
operacional. É necessário verificar o suporte aos periféricos já existentes. Este fator,
principalmente numa grande empresa, é um aspecto relevante e em algumas vezes, de grande
complexidade.
Comunicação
Hoje não podemos pensar em computadores sem pensar na comunicação entre eles. As
redes de computadores, tanto empresariais (conhecidas como intranet) como a rede mundial, a
27 Re-desenvolvimento de um software para uma nova plataforma.28 No caso, emular significa utilizar uma aplicação intermediária para permitir que um aplicativo desenvolvido
para um sistema operacional/plataforma seja executada em outra.29 Disponível em http://www.microsoft.com/presspass/press/2000/Oct00/CorelPR.mspx30 É importante destacar que em informática sempre se trabalha com o mercado mundial, e que mesmo uma
pequena participação, digamos de 1%, representa um enorme número de máquinas.
internet, agregam grande parte do valor que atribuímos às soluções de informática.
Uma das estratégias de concorrência mais utilizadas é tentar criar protocolos de
comunicação proprietários e incompatíveis entre diferentes sistemas. Um caso famoso é a
disputa por servidores de autenticação corporativos entre a Microsoft e a Novell. Quando a
Microsoft lançou sua plataforma Windows NT de servidores de rede, a Novell era líder do
mercado e utilizava um protocolo de comunicação próprio o que dificultava a sua
interoperabilidade31. O principal esforço da Microsoft foi construir ferramentas de migração de
dados entre as plataformas Novell e Windows NT, além de procurar interoperar com os sistemas
de sua concorrente. Em paralelo a Microsoft construiu seu próprio protocolo de rede e
autenticação. Quando ocorreu o lançamento da versão 2000 do Windows NT foi removida a
maior parte das funcionalidades de interoperabilidade com a Novell, já que agora ela era a líder
de mercado e não mais a Novell.
Dominar os meios e protocolos de comunicação é uma vantagem enorme para uma
empresa. De maneira geral, a medida tomada para minimizar este problema é a normatização
através de organismos independentes. A Internet se baseia em um protocolo aberto, plenamente
definido e padronizado de maneira independente. Sem dúvida, este foi um dos fatores
fundamentais para o seu sucesso, pois manteve sua independência em relação aos diferentes
fornecedores.
Formato de Armazenamento
O armazenamento de dados é outro ponto comum de disputa entre as empresas de um
determinado setor do mercado de tecnologia da informação. As empresas líderes procuram criar
mecanismos de armazenamento próprios através de formatos secretos de armazenamento como
estratégia para aumentar o custo de troca de seus clientes.
O valor para qualquer um que utilize sistemas de informática está nos dados que estão
armazenados e foram processados pela solução atual. Em praticamente todas as áreas de
aplicação da informática existe uma disputa importante sobre formato de armazenamento de
arquivos. Na área de automação de escritório, que envolve Editor de Textos e Planilha
Eletrônica, o produto líder é o Microsoft Office, que utiliza formatos proprietários e secretos.
Estes formatos não são fornecidos para nenhuma outra empresa, o que torna o custo de
substituição extremamente elevado, já que seria necessário converter os documentos um a um.
Como alternativa, houve um trabalho de engenharia reversa32, que demandou um esforço
31 A Novell usava um sistema de comunicação proprietário usando o protocolo IPX/SPX que ela mesma haviadesenvolvido.
32 É o processo de análise de um artefato (um aparelho, um componente elétrico, um programa de computador,
muito grande, para que outros aplicativos conseguissem ler e escrever neste formato. Porém a
Microsoft, ao realizar lançamento de novas versões, foi alterando as características dos seus
formatos de arquivo, introduzindo complicadores para a plena compatibilidade. Hoje, porém, já
existe uma série de software que conseguem fazer conversão de maneira satisfatória, porém
ainda com erros quando são utilizados recursos muito novos do MS Office.
Mesmo superada esta barreira em termos de conversão, muitas empresas, pessoas,
órgãos públicos e instituições de ensino, ainda exigem o formato proprietário da Microsoft para
troca de documentos, o que praticamente impede que novos concorrentes se consolidem no
mercado. Em vários momentos outras suítes de escritório equivalentes apresentaram esta
compatibilidade de arquivos, um número maior de funcionalidades no produto e preços
significativamente menores, mesmo assim, não conseguiram avançar na sua participação no
mercado, como ocorreu com a suíte da Corel em 200233.
Treinamento
Um dos custos envolvendo o uso de Software é o treinamento para os usuários e a equipe
de suporte. Este custo está sempre vinculado à implantação de um novo software, porém a
transição entre diferentes versões de um mesmo software ocorre de maneira mais ou menos
transparente e dificilmente requer um novo treinamento. Ao se pensar em realizar uma migração
para um novo software as empresas medem também custos como o de treinamento e o da
necessidade de parada dos novos funcionários neste período.
Porém, um desafio maior do que a necessidade de treinamento em si é a construção de
uma rede de empresas que forneçam este tipo de treinamento. Empresas especializadas em
treinamento normalmente focalizam nos cursos de maior procura, isto é, procuram fornecer
cursos apenas para empresas líderes em determinados setores.
Outro complicador é a possibilidade de que os funcionários já existentes ou ainda
disponíveis no mercado já conheçam este ou aquele software. É bastante usual as empresas
líderes fazerem uma estratégia de cooptação, principalmente dos estudantes de informática
através de acordos com universidades e escolas ou ainda com vantagens especiais diretamente
para estudantes e professores. Trata-se aqui, conforme Shapiro & Varian (1999, pg 65), da
estratégia de “pegue-os enquanto são jovens”:
“Se você vende um bem com grande custo de troca (...) então
etc.) e dos detalhes de seu funcionamento, geralmente com a intenção de construir um novo aparelho ouprograma que faça a mesma coisa, sem realmente copiar alguma coisa do original.
33 Disponível em: http://www.newsfactor.com/perl/story/19693.html
compensará oferecer grandes descontos para “viciar” os consumidores em seproduto. Embora os produtores de software não estejam nas portas dasescolas impingindo seus produtos (ainda), as motivação é, em grande parte, amesma.”
De certa maneira este tipo de motivação faz com que seja tolerado um certo nível de uso
de Software ilegal em meios acadêmicos e por usuários individuais, pois eles podem representar
uma futura renda ao se tornarem decisores em empresas e possibilitam ampliação de mercado e,
principalmente, a formação de uma massa crítica de usuários .34
Desenvolvimento interno à empresa
Outro problema comum de aprisionamento a uma determinada solução são os
desenvolvimentos de sistemas de uso interno à empresa que dependem de um determinado
aplicativo ou utilizem como base algum banco de dados ou servidor proprietário.
A indústria de Banco de Dados possui uma interface de comunicação com aplicações
padronizadas, chamada SQL ANSI que é utilizada para comunicação entre aplicações e os
bancos de dados. Porém, para obter ganhos de performance, os bancos de dados implementam a
possibilidade de programação de ações no próprio banco, as chamadas “stored procedures”35. A
linguagem usada neste tipo de programação é sempre proprietária e não pode ser simplesmente
migrada de um banco para outro. A falta de esforço de padronização neste caso faz parte da
disputa atualmente existente no mercado de banco de dados, e a quantidade de desenvolvimento
completamente vinculado a um determinado banco aumenta os custos de troca por um outro
produto, já que estas rotinas terão que ser reimplementadas na linguagem específica do novo
banco de dados.
2.3.4 Fontes Adicionais de Barreira à Entrada
Além dos custos de aprisionamento, que influenciam de maneira significativa as escolhas
futuras dos consumidores-usuários, existem outros fatores significativos como barreiras à34 O termo normalmente usado pelo senso comum para software ilegal é pirataria. Existe um forte movimento
dentro da comunidade de Software Livre contra o uso deste termo, já que compartilhar um bem não-rival nãosignifica economicamente algo comparável com a pilhagem, conforme já falamos nos capítulo anterior.
35 “ A stored procedure is a program (or procedure) which is physically stored within a database. They are usuallywritten in a proprietary database language like Transact-SQL for Microsoft SQL Server, PL/SQL for Oracledatabase, or PL/pgSQL for PostgreSQL. The advantage of a stored procedure is that when it is run, in responseto a user request, it is run directly by the database engine, which usually runs on a separate database server andis generally faster at processing database requests. The database server has direct access to the data it needs tomanipulate and only needs to send the final results back to the user, doing away with the overhead ofcommunicating potentially large amounts of interim data back and forth”. Disponível emhttp://en.wikipedia.org/wikipedia.org/wiki/Stored_procedures.
entrada para as empresas entrantes.
Investimento inicial
Para se iniciar a produção de um software exige-se um grande investimento das
empresas. Um programa como o sistema operacional Linux tinha 5,7 milhões de linhas de
código no final do ano de 2004, para se ter exemplo do esforço envolvido na criação inicial de
um software complexo. Este investimento possui a característica especial de não poder ser
recuperado, uma vez que, ao contrário do que ocorre em outras formas de investimento, a
criação de um software é basicamente uma produção intelectual e não baseada em ativos
tangíveis. Quando se investe, por exemplo, em uma fábrica, caso a produção fracasse pode-se
vender as máquinas e a infra-estrutura dela para recuperar parte do dinheiro investido. Isto não é
possível com o software.
Este aspecto se torna ainda mais crítico pela estrutura globalizada do mercado de
softwares básico e de uso genérico, o investimento em software deve ser necessariamente feito
em escala mundial, o que requer normalmente investimentos ainda maiores já no início do
projeto. Além disso, será necessário uma grande cadeia de distribuição, o que dificulta muito a
entrada de novas empresas.
O ciclo de vida curto
O mercado de tecnologia da informação é bastante dinâmico. Gordon Moore, um dos
fundadores da Intel afirmou que o número de transistores, indicador de capacidade de
processadores, duplicaria a cada 18 meses.36 Isto é, a capacidade de processamento aumenta em
um ritmo muito grande, fenômeno que é acompanhado pelos softwares, que precisam estar em
constante atualização. Desta forma um software recém desenvolvido tem pouco tempo de
maturação entre seu lançamento e o fim de seu ciclo de vida.
Dificuldade de previsão de mudanças no mercado
Entre o início da criação de um software e seu lançamento podem ocorrer grandes
alterações na conjuntura de mercado, e, principalmente nos seus concorrentes. Além da
dinâmica de inovação, outro fator determinante é que o mercado de informática é um dos mais
globalizados, funcionando da mesma maneira em todos os países e com rápida difusão
36 Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Moore's_law
tecnológica.
Além disso, o avanço da informatização causada pelo barateamento de equipamentos faz
com que novos nichos de mercados surjam a todo o momento, criando novas oportunidades para
as empresas, criando um ambiente competitivo bastante dinâmico, sem empresas com posições
consolidadas em todos os mercados.
Custos de Troca
Ao se lançar um novo produto é fundamental levar em consideração o custo de troca dos
softwares já em operação a fim de atrair o mercado já existente. Isto normalmente exige
esforços, como o investimento em funcionalidade de integração, desenvolvimento e automação
de atividades de migração, interfaces que apresentem vantagens e características próprias, mas
que ao mesmo tempo sejam de fácil aprendizado para quem utiliza outro software similar, a fim
de atrair a migração de clientes importantes para demonstrar confiabilidade para possíveis novos
clientes.
Nesse sentido, quando computamos os custos de implantação de uma estrutura de
Tecnologia da Informação devemos considerar os seguintes aspectos, conforme Fink (2003):
– Hardware– Sistema Operacional– Infraestrutura de Rede– Ferramentas e utilitários de Administração– Desenvolvimento– Atualização das soluções em uso– Gerenciamento e Administração do ambiente– Ambiente físico (energia, ar condicionado, espaço físico, etc)– Licenças– Custo do suporte a todo o ambiente– Indisponibilidade do ambiente (downtime)– Garantias– Treinamento– Desastres e outros riscos
Como atrativo para troca, algumas empresas acabam tendo que utilizar padrões reais, o
que pode impedí-las de aprisionar sua base de cliente no futuro. Há normalmente um equilíbrio
tênue entre tentar prender o cliente, reforçando o aprisionamento, e adotar uma estratégia de uso
de padrões que garante uma maior aceitação no mercado, justamente pela percepção por parte
dos consumidores da importância de eliminar custos de troca.
Outro item fundamental é a formação da sua base de técnicos treinados e a rede de
treinamento e suporte ao produto, que podem ser decisivos na escolha de substituição.
2.4 Conseqüências do poder de mercado sobre a concorrência
Em perspectiva histórica, o mercado de software evoluiu de forma extremamente
concentrada, indicando, desde o seu início, a dificuldade de concorrência no setor. O exemplo
típico e mais notório é o quase monopólio que a Microsoft possui no mercado de sistemas
operacionais. Todavia, muitos outros setores estão também bastante concentrados.
As barreiras à entrada a novos concorrentes podem ser intransponíveis, como ocorreu na
tentativa da IBM, uma das maiores corporações de hardware e software do mundo, de
conquistar o mercado de sistema operacional com o seu OS/2.
A IBM havia criado o projeto da plataforma computacional dominante nos dias de hoje,
a IBM-PC. Num momento de indefinição completa do mercado, onde existiam várias opções
praticamente equivalentes de vários fornecedores, ela teve a percepção de que existia a
possibilidade e necessidade de padronização nos componentes de hardware das plataformas
computacionais, e que uma empresa isolada dificilmente teria condições de se impor perante o
mercado como alternativa dominante. Apesar da estratégia de dominação ter sido correta, a IBM
não percebeu que os mercados de sistemas operacionais e, em menor nível, o de processadores,
seriam as posições-chave na nova estrutura de mercado.
A Microsoft, contratada pela IBM para produzir a primeira versão de sistema operacional
para o seu IBM-PC, surge neste momento como principal competidor da IBM, conseguindo
conquistar o domínio praticamente completo do mercado de sistemas operacionais para esta
plataforma. Graças à estrutura de mercado já detalhada, especialmente no que se refere às fortes
barreiras à entrada e às economias de rede, ela manteve uma situação de monopólio estável, com
pouco risco de competição. Conforme Stiglitz & Walsh (2003: pg 207): “De fato, o Windows
tornou-se o sistema operacional dominante, usado em mais de 90% de todos os computadores
pessoais”. A IBM tentando retomar o controle do mercado desenvolveu um sistema operacional
de 32 bits chamado OS/2, de qualidade muito superior ao conjunto MS-DOS e Windows 3.0
que funcionavam a 16 bits, dominante na época. Ela que licenciava o seu sistema operacional a
um preço inferior aos da Microsoft, promoveu vários mecanismos para tentar minimizar os
custos de troca de seus clientes, como executar aplicações desenvolvidas para MS-Windows,
além de um grande esforço de marketing. Porém o seu produto não conseguiu avançar no
mercado e acabou sendo abandonado.
Este episódio demonstra como são significativos os riscos de entrar no mercado de
software quando já existe um competidor com grande poder de mercado. Esta tem sido a tônica
dentro do mercado de software, levando inclusive a situações onde as melhores opções
tecnológicas não conseguem se consolidar no mercado. (Silveira, 2005)
A estratégia de manter o controle sobre seus consumidores também tem sido constante
entre as empresas dominantes. Além da já citada disputa entre a Microsoft e a Netscape, outras
empresas já foram acionadas na justiça dos Estados Unidos por tentar limitar a concorrência,
como a própria IBM, em relação aos seus computadores de grande porte.
3. O SOFTWARE LIVRE COMO UM NOVO PARADIGMA
TÉCNICO-ORGANIZACIONAL NO MERCADO DE SOFTWARE
O presente capítulo analisa a emergência de um novo paradigma técnico-organizacional
que está tendo forte impacto no mercado de software, o Software Livre. Analisaremos o
surgimento deste software como movimento social, sua evolução e seu modelo de
desenvolvimento, distribuído e aberto, realizado em torno de comunidades que incluem
desenvolvedores, usuários, tradutores, empresas e universidades, e que têm apresentado um
modelo de desenvolvimento mais produtivo que o tradicional.
Ressaltaremos as especificidades deste modelo em relação às formas tradicionais de
análise de setores industriais, bem como, suas significativas diferenças com o desenvolvimento
de software baseado no conjunto código fechado e licenciamento de uso. Com a consolidação
deste movimento, buscamos verificar as alterações ocorridas no mercado por parte dos
produtores de software e a ampliação do poder dos consumidores. Estas mudanças têm levado a
uma clara alteração na conduta das empresas dominantes do setor.
3.1 Surgimento e evolução do Software Livre
3.1.1 O surgimento do Software Livre
Com a produção comercial dos primeiros computadores, o desenvolvimento de software
era feito especificamente para cada atividade e empresa. Os softwares básicos, como sistema
operacional e processadores de texto, não eram considerados produtos à parte e eram
comercializados em conjunto com o hardware. Os códigos fontes dos programas não eram
considerados como “segredo industrial” e eram seguidamente compartilhados com os
proprietários de equipamentos. Este modelo de funcionamento permaneceu de meados de 1960
até o início da década de 80. Era uma época de acesso restrito a computadores. Apenas grandes
empresas, instituições de governo e de pesquisa possuíam acesso a este equipamento. Mesmo
com estas dificuldades surgiu uma rede de hackers37, cujos membros compartilhavam códigos
de programas entre si e com as empresas que forneciam estes equipamentos.37 “o termo "hacker" (lenhador) foi inicialmente usado para designar quem possui habilidades técnicas para
explorar meandros e nuances em programas de computador, e utiliza essa habilidade para resolver problemas”(Rezende, 2000)
No início da década de 80 o mercado de software passou por profundas mudanças. O
software tornou-se um produto distinto e cobrado à parte. Os equipamentos vendidos eram
fornecidos apenas com os binários38 e incluíam um contrato de uso que limitava a sua
distribuição e estudo. Esta nova realidade conflitou principalmente com os centros acadêmicos
dos Estados Unidos.
A licença fornecida com o Windows XP, por exemplo, impede o estudo de como o
software funciona. Cada instalação obriga que o usuário concorde com os termos da licença que
exige: “You may not reverse engineer, decompile, or disassemble the Software, except and only
to the extent that such activity is expressly permitted by applicable law notwithstanding this
limitation.”39
No Massachusetts Institute of Technology (MIT), um hacker chamado Richard Stallman,
contrariado com este modelo de distribuição de software, iniciou um movimento para o retorno
do acesso ao código e ao compartilhamento do conhecimento na área. Isto culminou com o seu
pedido de demissão do MIT para que se dedicasse a desenvolver um sistema operacional
completamente livre, que se chamaria GNU40, e que seria desenvolvido de acordo com o padrão
Unix, dominante na época. Surgiu com isto o movimento de Software Livre (Stallman, 2002: pg
15)
A primeira ação de Richard Stallman foi criar, conceituar e propagar o conceito deSoftware Livre, que passou a ser definido pelo projeto como o seguinte conjunto de liberdades:
– “A liberdade de executar o programa para qualquer propósito(liberdade no. 0)”
– “A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo paraas suas necessidades (liberdade no. 1). Acesso ao código-fonte é umpré-requisito para esta liberdade.”
– “A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudarao seu próximo (liberdade no. 2).”
– “A liberdade de aperfeiçoar o programa e liberar os seusaperfeiçoamentos de modo que toda a comunidade se beneficie(liberdade no. 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito paraesta liberdade. “ 41
Como decorrência do projeto GNU, ocorreu a criação da Free Software Foundation,
instituição que daria suporte ao projeto de construção deste novo sistema. Ela passou a receber
doações e comercializar programas e documentação de Softwares Livres. Uma das primeiras
ações realizadas foi criar um marco legal para o desenvolvimento do Software Livre. 38 Binários é como são comumente denominados os programas de computador após serem convertidos para
linguagem de máquina.39 Disponível em http://www.microsoft.com/windowsxp/home/eula.mspx40 Acrônimo recursivo de “Gnu is not Unix”41 Disponível em: www.gnu.org
Em 1985, a Free Software Foundation lançou a primeira versão da sua licença, a
General Public License (GNU). A GPL logo se tornou a referência para licenciamento para
Software Livre, sendo ainda hoje a principal licença utilizada em programas livres. Ela utiliza o
Copyright para garantir a liberdade dos desenvolvedores, um mecanismo que a comunidade de
Software Livre costuma chamar de Copyleft. Esta licença, além de garantir as quatro liberdades
fundamentais descritas pela Free Software Foundation, garante que este software permanecerá
com estas liberdades no futuro e também para trabalhos derivados.
Um software licenciado sob GPL pode ser redistribuído, estudado, alterado com a
garantia de que ninguém possa se apropriar deste código ou ainda adicioná-lo em um produto
que não tenha o mesmo tipo de licenciamento, garantindo, assim, que qualquer trabalho
derivado retorne para a comunidade de desenvolvimento. Este caráter de proteção da GPL tenta
resolver um problema central que havia nas formas de licenciamento anteriores, notadamente
com a licença BSD42, de apropriação por empresas de Software Proprietário de código livre sem
retorno algum para a comunidade que o criou. Várias empresas usaram este artifício em seus
produtos, inclusive a Microsoft43.
Com a GPL, o movimento de Software Livre teve um marco institucional/jurídico que
foi fundamental para o seu desenvolvimento. Porém, por possuir um caráter muito restritivo
houve uma propagação de licenças mais ou menos permissivas, o que acabou levando a Free
Software Foundantion a manter uma lista de licenças de Software Livre com o seu grau de
compatibilidade com a GPL. A própria FSF lançou uma licença menos restritiva, a Lesser
General Public License (GNU), que possuía efeito semelhante a GPL, mas permitia que
Software Proprietário se conectasse44 a um software com este tipo de licenciamento sem
necessariamente ser um Software Livre, o que acaba muitas vezes sendo necessário ao se
construir bibliotecas.
Um aspecto importante do trabalho da FSF é que a fundação trabalha essencialmente em
duas vertentes. A primeira, apoiando o desenvolvimento de Software Livre, seja contratando
desenvolvedores, seja fornecendo infra-estrutura para o desenvolvimento. Outra é a
“evangelização”, isto é, campanhas para o convencimento sobre as vantagens do uso de
Software Livre. O foco do discurso usado é o convencimento dos desenvolvedores e usuários
sobre a liberdade. As pessoas devem ter consciência que a escolha do software que ela irá
utilizar influencia a liberdade do conhecimento tecnológico embutido.
Em outras palavras podemos dizer que o discurso de convencimento utiliza
principalmente aspectos ideológicos, focados no convencimento individual, tanto de
42 http://www.xfree86.org/3.3.6/COPYRIGHT2.html#543 http://www.infomediatv.com.br/visualiza_video.php?id_video=11144 Formalmente, realizasse chamadas de sistema.
programadores, como de usuários. Este tipo de discurso fez com que a aceitação da Free
Software Foundantion encontrasse grande resistência dentro dos Estados Unidos, onde o próprio
termo “Free Software” é muito pouco utilizado. Notadamente na América Latina este discurso
teve maior penetração e praticamente não se usa outro termo que não “Software Livre”.
3.1.2 A consolidação do movimento de Software Livre
A partir do início do trabalho da Free Software Foundation e do espírito de
compartilhamento que já existia nas universidades, o conceito de Software Livre começou a se
expandir. Contudo, ainda existiam grandes dificuldades para mobilizar desenvolvedores para
trabalhar nos projetos, sobretudo pelas dificuldades de comunicação e coordenação deste tipo de
projeto. O desenvolvimento era lento e poucos softwares já estavam totalmente prontos para
uso. Os principais eram mantidos por desenvolvedores contratados pela FSF a partir de doações,
venda de documentação e de mídias com os softwares por parte da Free Software Foundation. O
mais notável desta época era o GNU Compiler Collection - GCC, primeiro conjunto de
programas que permitia que todo o desenvolvimento de um software fosse realizado em
Software Livre.
Com a popularização da internet foi vencida a principal dificuldade para o
desenvolvimento compartilhado. Ela criou um novo ambiente onde o custo de comunicação
entre pessoas dos mais diferentes países poderia ser reduzido significativamente. A escala
mundial da rede de computadores permitiu que pessoas em todo o mundo interessadas em um
determinado software pudessem ajudar no desenvolvimento, documentação e correção de bugs
de programas livres, de maneira praticamente voluntária.
Em 1992, um estudante finlandês chamado Linus Torvalds publica na internet o primeiro
esboço de um sistema operacional que ele estava desenvolvendo e pediu que quem estivesse
interessado no referido sistema respondesse que tipo de característica gostaria que este software
tivesse. Ele começou a atrair um grande número de pessoas em todo o mundo, que passaram a
contribuir no seu projeto. Nascia assim o mais notável projeto em Software Livre, o sistema
operacional Linux. (Torvalds; Diamond, 2001: pg 112).
A partir de então, mais e mais projetos nasceram na internet e permitiram que
desenvolvedores em todo o mundo pudessem compartilhar suas necessidades e interesses
pessoais na produção da mais variada gama de softwares. Esta diversidade de tipos de software
em desenvolvimento pode ser explicada pelas motivações que levam os desenvolvedores a
participarem de projetos. A principal motivação parece ser algum interesse pessoal, justamente
por precisar de algum software em especial, ou ainda pela necessidade de uma funcionalidade
ainda não implementada. (Reis, 2003: pg 104)
A organização de cada comunidade envolvida com um determinado software difere
bastante de uma para outra, porém, de maneira geral podemos dizer que a estrutura de decisão
das comunidades de software livre está baseada numa estrutura meritocrática, onde os
elementos que mais contribuíram para o projeto e com maior reconhecimento dos demais
desenvolvedores passam a ter peso maior sobre as decisões.
Em termos de infra-estrutura para o trabalho cooperativo, foram desenvolvidos vários
softwares que auxiliam na organização da comunidade envolvida. Existem vários sites
especializados em fornecer estas ferramentas para comunidades de desenvolvedores. O mais
famoso, o Source Forge, possui mais de 140.000 projetos e mais de um milhão de usuários
registrados45. Existem ainda sites de hospedagem de projetos no Brasil, como o Código Livre46 e
o Colaborar47.
3.1.3 O Novo modelo de produção de software – A Catedral e o Bazar
No ano de 2000, Eric Raymond, famoso desenvolvedor e membro da comunidade de
Software Livre, lança um texto chamado de “The Catedral and the Bazaar”, onde analisa
comparativamente a forma como os softwares tradicionais e Livres são desenvolvidos
(Raymond, 1998).
Eric Raymond inicia sua análise discorrendo sobre a consolidação do kernel Linux48, que
surgiu de uma maneira surpreendente, já que ele considerava que sistemas grandes, com este
grau de complexidade, só poderiam “ser construídos como as catedrais, habilmente criados
com cuidado por mágicos ou pequenos grupos de magos trabalhando em esplêndido
isolamento com nenhum beta para ser liberado antes de seu tempo”49.
O autor verifica que o estilo de trabalho de Linus Torvalds, criador do Linux, de gerir o
projeto de maneira quase anárquica e liberando rapidamente versões criou um ambiente propício
para o desenvolvimento de Software Livre. E ele próprio passou a utilizar esta sistemática de
gerenciamento em um projeto no qual ele contribuía, e que em 1996 passara a liderar, o
popclient. Neste projeto ele aplicou as seguintes ações:
“1. Eu liberei cedo e freqüentemente (quase nunca menos que uma veza cada dez dias; durante períodos de desenvolvimento intenso, uma vezpor dia).
45 Confira em: www.sourceforge.net46 Disponível em: http://codigolivre.org.br/47 Disponível em: colaborar.softwarelivre.gov.br48 Kernel é o núcleo de um sistema operacional, a parte considerada mais complexa e importante de um sistema.49 Confira em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-1.html
2. Eu aumentei minha lista de beta testers adicionando a ela todo mundoque me contatava sobre o fetchmail.3. Eu mandei extensos anúncios à lista de beta testers toda vez que euliberava, encorajando as pessoas a participar.4. E eu ouvia meus beta testers, questionando-os sobre decisões dedesenvolvimento e incitando-os toda vez que eles mandavam consertose respostas.”50
Eric Raymond detectou durante a evolução do seu projeto que a intensa colaboração
tanto de programadores, ajudando no desenvolvimento, quanto de usuários, ajudando na
detecção de erros, foram fundamentais para o sucesso. O autor comenta que:
“Aqui, eu penso, é o centro da diferença fundamental entre osestilos bazar e catedral. Na visão catedral de programação, erros eproblemas de desenvolvimento são difíceis, insidiosos, um fenômenoprofundo. Leva meses de exame minucioso por poucas pessoasdedicadas para desenvolver confiança de que você se livrou de todoseles. Por conseguinte, os longos intervalos de liberação e o inevitáveldesapontamento quando as liberações por tanto tempo esperadas não sãoperfeitas.”51
Na visão bazar, por outro lado, se assume que erros são geralmente um fenômeno trivial
ou se tornam triviais muito rapidamente quando expostos a centenas de ávidos co-
desenvolvedores triturando cada nova liberação. Conseqüentemente, liberar os novos códigos
freqüentemente leva a ter mais correções e, como um benéfico efeito colateral, se tem menos a
perder se um erro ocasional aparece.
Teríamos então, com o trabalho de Linus Torvalds52, potencializado pela ampliação da
internet, um novo modelo de desenvolvimento, que possuiria grande vantagem em relação ao
modelo de desenvolvimento tradicional, executado tanto na produção de software proprietário,
como pelo próprio desenvolvimento de Software Livre em vários projetos, como os geridos pela
Free Software Foundation.
Os projetos gerenciados desta maneira teriam como vantagem um maior número de
pessoas ajudando no desenvolvimento e principalmente na procura e correção de erros dos
programas. Haveria também um maior retorno por parte dos usuários de novos caminhos e
funcionalidades com que os desenvolvedores deveriam se preocupar. Concluindo, este modelo
seria bem mais eficiente do que o modelo catedral e iria naturalmente sobrepor-se a ele. 50 Disponível em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-6.html51 Disponível em: http://www.geocities.com/CollegePark/Union/3590/pt-cathedral-bazaar-4.html52 Em seu livro “Só por Prazer”, onde descreve a história do Linux, Linus argumenta que seu trabalho no sistema
operacional iniciou apenas como interesse intelectual, mas resolveu compartilhar com algumas pessoas. Logo,começou a ter bons retornos de problemas e sugestões. Então tornou o sistema público. Desde o início dodesenvolvimento ele nunca pensou em cobrar licença pelo software, sempre o tomou como um hobby.
3.1.4 A Open Source Initiative e novo foco do movimento de Software Livre
Em 1998, Eric Raymond e mais algumas figuras destacadas da comunidade de Software
Livre resolveram iniciar um movimento para alterar como se denominava e tratava o conceito de
Software Livre. Eles construíram uma alternativa ao termo “free software” e passaram a utilizar
“open source”. Em conjunto, criaram uma organização, chamada Open Source Initiative53 (OSI),
com o objetivo de propagar e divulgar as liberdades e vantagens deste novo modelo de produção
de software, sobretudo para o meio corporativo.
Um dos motivos levantados foi a tradicional confusão a que se induz com a palavra
“free”, por significar tanto a liberdade (free speach) como a gratuidade (free bear). Eles
defendiam que o uso deste termo trazia uma complicação desnecessária para o entendimento do
conceito pelas pessoas comuns. Facilmente, produtores de software proprietário poderiam
colocar seu software grátis na internet e chamá-lo de “Free Software”. A utilização do termo
“open-source software” seria mais precisa e exata, dizendo exatamente o que é a parte
fundamental da questão, o acesso ao código fonte.
Na definição que a nova entidade formulou para o termo Código Aberto eles utilizaram
como referência uma formulação de outra comunidade, a Debian, uma das maiores
distribuições54 Gnu/Linux. É importante notar que o projeto Debian foi um dos que não
adotaram o novo termo e continuam a denominar seu trabalho como “free software”. A
“Definição do Código Aberto”55 é muito semelhante utilizada pela “Free Software Foundation”,
porém mais focada em aspectos práticos.
Apesar desta diferença terminológica, a grande alteração na ação da nova entidade está
na argumentação para o incentivo de uso. A principal intenção de Eric Raymond era alterar o
discurso do foco ético usado pela FSF. Ele considerava necessário usar um discurso que fosse
adequado para as empresas, até porque sendo o modelo bazar de desenvolvimento mais
eficiente, haveria interesses econômicos nesta adoção, e isto seria suficiente para que os
executivos passassem a adotá-la em suas empresas. Sobre a ideologia empregada sob o termo
“free software”, Eric Raymond afirma:
“the term makes a lot of corporate types nervous. While thisdoes not intrinsically bother me in the least, we now have a pragmaticinterest in converting these people rather than thumbing our noses at
53 Disponível em: http://www.opensource.org54 Distribuição é um conjunto de aplicativos livres fornecidos em conjunto para facilitar o processo de instalação
de um computador. Inclui, normalmente, o sistema operacional Gnu/Linux e mais uma série de aplicativos paraos mais diferentes usos.
55 Disponível em: http://www.opensource.org/docs/definition_plain.php
them. There's now a chance we can make serious gains in themainstream business world without compromising our ideals andcommitment to technical excellence -- so it's time to reposition. Weneed a new and better label.”56
Percebe-se claramente uma mudança de postura em relação ao fenômeno. Numa
vertente, a da FSF, utiliza-se o termo Software Livre, o discurso apela mais para aspectos éticos
e morais da liberdade de conhecimento. Já a OSI, que defende o termo Código Aberto, mostra
as vantagens práticas de seu uso e é voltada para o mercado corporativo. Conforme Stallman:
“The fundamental difference between the two movements is intheir values, their ways of looking at the world. For the Open Sourcemovement, the issue of whether software should be open source is apractical question, not an ethical one. As one person put it, ``Opensource is a development methodology; free software is a socialmovement.'' For the Open Source movement, non-free software is asuboptimal solution. For the Free Software movement, non-freesoftware is a social problem and free software is the solution.”57
3.2 Vantagens na adoção de Software Livre por parte dos usuários
Para um melhor entendimento dos fatores que levam as empresas e os governos a
adotarem o software livre como alternativa ao software proprietário, precisamos analisar, no
âmbito das estratégias dos consumidores, quais são as motivações e vantagens envolvidas com
esta opção, que é também uma alternativa à estrutura de mercado anterior, excessivamente
concentrada e com grande poder sobre o mercado por parte do fornecedor. (Shapiro; Varian,
1999)
3.2.1 Vantagens na adoção de Software Livre por empresas
Bens substitutos e poder de mercado do fornecedor
Quando uma empresa passa a utilizar um determinado produto ou insumo no seu
processo produtivo, ela tem vantagens ao utilizar um produto que possua um maior número de
fornecedores alternativos, evitando assim excesso de poder de mercado das empresas
fornecedores. Ao existir uma boa possibilidade de troca por parte do consumidor, maior poder
ele terá em negociações, estabelecendo limites para o preço estabelecido pelo produtor.
56 Disponível em: http://www.catb.org/~esr/open-source.html57 Disponível em: http://www.gnu.org/philosophy/free-software-for-freedom.html
Se pensarmos no mercado de software livre, e na decorrência do código ser aberto e
acessível, percebemos como é mais fácil criar um novo produto neste segmento, já que o
reaproveitamento de código do software já existente permite uma rápida evolução de novos
projetos, bastante diferente do desenvolvimento de software tradicional, em que a evolução de
um software ou tecnologia está vinculado a decisão de apenas uma empresa.
Este aspecto garante que um projeto que esteja sendo mal conduzido, digamos, no
sentido de redirecionar sua estratégia para controlar o consumidor através, por exemplo, de
alteração nos termos de licenciamento, possa ser objeto de rápida substituição. Na comunidade
de software livre existem vários exemplos de empresas e indivíduos que, vendo seu avanço de
mercado, resolvem mudar de estratégia, dirigindo-se para o modelo proprietário. Dado que com
o Software Livre existe a liberdade de derivação do código, é facilitado o surgimento de uma
comunidade ou mesmo de empresas, que resolvam dar continuidade ao seu desenvolvimento.
No caso de um projeto mal gerido, ou que esteja tomando caminhos tecnológicos errados que
possam levar a problemas no futuro do software, o mais comum é que parte da comunidade
participante do seu desenvolvimento crie um projeto à parte58.
Flexibilidade na escolha de fornecedores
Uma empresa que tenha o código fechado terá pleno controle sobre seus consumidores,
uma vez que possuirá grande controle sobre os serviços que podem ser prestados para este
software. Isto ocorre porque nenhuma outra empresa tem a possibilidade de dar um suporte
pleno ao produto, pois não pode nem determinar erros, nem providenciar sua solução,
garantindo contratos de serviços enquanto houver clientes utilizando o software. Quanto mais
crítico para os consumidores for o aplicativo, maior será a necessidade de se possuir uma boa
manutenção no software.
Como qualquer empresa pode acessar e alterar o código de um programa livre, várias
empresas podem entrar no setor e conseguir dar um suporte satisfatório, garantindo um limite
menor para os preços praticados e o poder de escolha dos consumidores.
É importante ressaltar que uma empresa que lança um software livre continua tendo
vantagem no suporte a este software. Normalmente as empresas que desenvolvem inicialmente
um projeto livre continuam sendo ao longo do tempo a principal mantenedora dele, possuindo
vantagens em relação às demais, na medida que o seu conhecimento normalmente está um passo
à frente das outras empresas que prestam serviços relativos a este software. Para algumas
empresas, este têm sido inclusive um incentivo à abertura de código a fim de ganhar
58“fork” na denominação do setor.
reconhecimento do mercado e obter bons contratos de suporte.
Uso de padrões abertos
Um padrão é um conjunto de características e rotinas de funcionamento que caracterizam
um determinado objeto. Em relação a software, podemos dizer que são normatizações, públicas
ou não, que estabelecem as características e a comunicação dos softwares. Um padrão de
mercado é quando um determinado software com suas rotinas e protocolos específicos de
comunicação passa a ser dominante no mercado, o que praticamente obriga a sua utilização aos
concorrentes, o que nem sempre é permitido por restrições de licenciamento.
Um padrão aberto é aquele que possui um documento que define sua especificação, bem
como permite a sua ampla utilização. Estas normas “expandem as exterioridades de rede,
reduzem a incerteza e reduzem o aprisionamento do consumidor (Shapiro; Varian, 1999: pg
297).
Para as comunidades de desenvolvimento de Software Livre a estratégia mais usada é
optar por padrões abertos, que podem ser facilmente seguidos por qualquer empresa, já que não
há motivos para criar aprisionamento, pois temos o código aberto.
Absorção tecnológica
Quando uma empresa possui uma equipe interna de manutenção do ambiente de
tecnologia da informação, ou é uma empresa em que tecnologia é a área fim, o uso de Software
Livre permite ampliar o conhecimento da equipe, já que existe a possibilidade de conhecer cada
detalhe do software que está sendo utilizado. No software proprietário, os fornecedores
disponibilizam informações conforme seus interesses comerciais e normalmente as controlam
como segredo industrial estratégico.
Custo de atualização
Uma das estratégias fundamentais das empresas produtoras de Software Proprietário é
promover a atualização de seus produtos adicionando novas funcionalidades ao software.
Porém, a motivação para atualização por parte das empresas é pequena, já que dificilmente uma
nova versão deve agregar funcionalidades que realmente representem benefícios para ela. Para
incentivar a aquisição de novas versões, as empresas têm estabelecido ciclos de manutenção dos
softwares variáveis, na medida que elas verificam que existe pouca possibilidade de substituição
do produto. Com o fim da manutenção de um software ele passa a ser um risco para a empresa,
pois qualquer novo Bug ou falha de segurança pode tornar todo o ambiente vulnerável a ataques
por Crackers.
Com o software livre inexiste esta situação de necessidade incondicional de atualização
de versão. Já que o acesso ao código garante que qualquer empresa faça a manutenção dele,
permitindo que o software continue a ser utilizado por mais tempo. De qualquer forma,
enquanto houver interesse pela manutenção de um software, existirão pessoas com motivação
para a sua manutenção.
3.2.2. A especificidade do usuário governo
Os Governos, além de grandes consumidores de tecnologia da informação e
comunicação, possuem especificidades na sua escolha tecnológica que influenciam de modo
decisivo as estratégias das empresas fornecedoras de tecnologia. Entre estas diferenças podemos
citar:
Escolha intertemporal
As escolhas dos decisores políticos não estão regidas exatamente pela mesma lógica das
empresas privadas. O universo de planejamento das empresas privadas normalmente é de longo
prazo. Investimentos realizados neste momento que possam trazer maiores liberdades de escolha
no futuro e, conseqüentemente, menores custos, são realizados com maior intensidade. Os
governantes, por possuírem um horizonte de planejamento determinado pelos mandatos, no
Brasil de 4 ou 8 anos, tendem a preferir investimentos que tenham retornos no curto prazo.
Quanto menor o nível de profissionalização do órgão público, menor o horizonte de escolhas.
Vários países tentaram profissionalizar suas estruturas de informática, parte criando empresas
estatais, como o Brasil, com o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), a
Empresa de Processamento da Dados da Previdência Social (Dataprev) e a Datamec S.A. -
Sistema e Processamento de Dados.
Sistemas de alta tecnologia
As necessidades do governo em termos de base tecnológica normalmente são bem
maiores que as das empresas privadas. No caso dos Governos de países grandes, as
necessidades em termos de tamanhos das bases de dados e de poder de processamento são
enormes, exigindo, na maioria das vezes, sistemas dedicados e de alta tecnologia. O uso de
tecnologias de ponta, que ainda não se consolidaram no mercado aumenta o risco dos projetos,
pois envolvem tecnologias que podem morrer em pouco tempo.
Equipamentos especializados
O uso de equipamentos e softwares extremamente especializados possui um custo alto se
comparado com softwares e equipamentos de uso geral, que se beneficiam de maiores
economias de escala. Alguns exemplos notórios de sistemas dedicados são os de
reconhecimento biométrico, usado para verificação de digitais de passaporte, e sistemas de
acesso intenso como os usados no Brasil para declaração de imposto de renda via internet e para
as eleições informatizadas.
Estrutura estatal
Com o avanço da política neo-liberal sobre os países em desenvolvimento, houve uma
grande redução da estrutura de pessoal dos diferentes governos. Isto impactou em maior ou
menor grau os países. Durante a década de 90 o Governo Federal do Brasil teve uma
significativa redução de pessoal, muito significativa nas áreas vinculadas com tecnologia.
Dentre as empresas de informática governamentais promoveram muitas ações no sentido de
diminuir a participação estatal no desenvolvimento de soluções, através de sucessivos planos de
demissões voluntárias, diminuição de investimentos e privatização da DATAMEC.
As conseqüências deste tipo de política foi, em praticamente todo o mundo, o repasse de
atividades de desenvolvimento críticas para o seu funcionamento ao setor privado, aumentando
o aprisionamento a fornecedores e diminuindo o profissionalismo no setor.59
Segurança
Um dos aspectos mais críticos para qualquer nação é a certeza de que os dados dos
cidadãos estejam armazenados de maneira segura e confiável. O Governo tem a
responsabilidade perante a lei de manter sigilo sobre os dados que estão sob a sua
responsabilidade, o que aumenta muito os requisitos de segurança para um sistema.
Há uma profunda diferença entre as estratégias de segurança entre as empresas de
software proprietário e das comunidades e empresas de Software Livre.
59 Consulte: http://www.terra.com.br/istoe/1611/brasil/1611voo.htm
No modelo de software proprietário, quando ocorre um erro de segurança com um
determinado aplicativo, a única empresa capaz de corrigir os erros é a empresa que o
desenvolveu. Quando trabalhamos com Software Livre qualquer pessoa tem acesso ao código e,
caso tenha interesse em efetuar a correção, poderá fazê-lo.
Além disso, as motivações para difusão da informação de que um erro foi encontrado são
bem diferentes. Uma empresa de Software Proprietário tende a divulgar o mínimo de
informações possível sobre o problema, enquanto as comunidades de software livre não têm
interesse em ocultar o problema, visto que este é uma forma de conseguir colaboração para o
seu projeto.
Porém, o maior problema quando comparamos a possibilidade de acesso irrestrito ao
código é o auditabilidade do software. No modelo proprietário é impossível realizar uma
auditoria plena do software, que pode ocultar problemas de segurança. O Software livre e o
acesso irrestrito ao código permite que cada funcionalidade dele seja verificada.
Algumas empresas de software proprietário têm cedido a governos os seus códigos para
auditoria, o que não resolve plenamente o problema, pois o governo teria que ter uma grande
estrutura para revisar todos os códigos. O fato de qualquer pessoa poder revisar o código faz
com que as revisões sejam mais intensas, aumentando a qualidade do desenvolvimento e
diminuindo a possibilidade de algum erro.
3.3 Impacto do Software Livre sobre as dimensões de produção e concorrência no
setor de software
Nos estágios iniciais de sua difusão, o Software Livre foi mais utilizado em meios
acadêmicos e por profissionais e especialistas da área, pois as vantagens de se trabalhar com
acesso irrestrito ao código ampliava a possibilidade de aprendizado, incentivando o seu uso.
Porém, alguns softwares logo se destacaram e obtiveram uma consolidação rápida no mercado,
o que exigiu que empresas se especializassem no mundo livre. Entre estes podemos citar o
Apache, servidor de páginas WEB, o Bind, servidor para resolução de nomes de internet, o
postfix e sendmail, software para comunicação via e-mail.
O sucesso destes softwares e a consolidação desta nova forma de produção de software
levaram à ampliação do número de empresas focadas em aplicativos em Software Livre, assim
como seu uso no meio empresarial. As novas empresas basicamente reuniam pacotes de
Software Livre e comercializavam alguma maneira de instalação automatizada, em conjunto
com o suporte.
A ampliação do uso pelo meio empresarial começou a mudar a maneira como os
softwares eram desenvolvidos. Ao invés de trabalhar apenas com voluntários, a grande maioria,
como um hobby, passou a ter também apoio significativo de empresas que estavam interessadas
na evolução de algum software. Além disso, grandes empresas que poderiam se beneficiar com
a complementaridade com algum software, passaram a investir diretamente no
desenvolvimento. Entre estas podemos citar as gigantes IBM, Sun e Intel.
3.3.1 Estratégias das empresas fornecedoras de software face ao avanço do
Software Livre no mercado
A análise das vantagens trazidas pelo modelo de produção de Software Livre evidencia
que há um grande aumento do poder do consumidor em relação ao existente no mercado de
Software Tradicional, que se traduz em custos potencialmente mais baixos para os
consumidores. Além disto, a maior quantidade de empresas no setor, característica típica nos
setores de serviços, reforça a concorrência garantindo uma melhor qualidade da sua oferta.
As estratégias das empresas baseadas em software proprietário já sofreram importantes
adaptações para se adequarem à nova realidade de mercado. Grandes empresas procuraram abrir
seus códigos em mercados onde não tinham como concorrer diretamente com as empresas
dominantes. A Sun microsystems promoveu a abertura do código de seu sistema operacional
Solaris60, a Novell, que vinha perdendo mercado para Microsoft no ramo de servidores, seguiu o
mesmo caminho com vários softwares e bibliotecas de comunicação61. Este movimento em
direção ao Software Livre pode representar uma melhora das expectativas dos consumidores
sobre o futuro da tecnologia, incentivando sua adoção pelos consumidores.
Por outro lado, atrair uma comunidade que ajude no desenvolvimento do Software pode
ser um elemento estratégico na diminuição dos custos de desenvolvimento. Algumas empresas
têm atuado no sentido de manter duas versões de seus sistemas, uma livre, para a qual qualquer
um pode contribuir, e uma versão fechada, que inclui os componentes proprietários.
Outra forma de enfrentar esta nova modalidade de concorrência é demonstrar aos seus
consumidores que a empresa abdica de controlar sozinha um determinado segmento, criando e
utilizando padrões abertos para seus produtos. A Microsoft, após pressão de vários governos,
anunciou que a nova versão do seu pacote de escritório MS Office usará um formato de
arquivos com um padrão aberto62 , o que irá diminuir muito o seu poder sobre este mercado,
pois permitirá que outros pacotes possam ler e gravar no seu formato.
Outra estratégia importante das empresas que defendem irremediavelmente o conceito
60 Consulte: http://www.opensolaris.org/os/61 Consulte: http://forge.novell.com/modules/news/62 Consulte: http://idgnow.uol.com.br/AdPortalv5/ComputacaoPessoalInterna2_211105.html
do Software Proprietário é criar propagandas tentando mostrar que seus produtos são mais
baratos que as alternativas em Software Livre, como a campanha denominada “Get the Facts”63
na qual defende que o uso de Windows é mais barato que o do sistema operacional Linux.
Observa-se, assim, que o novo ambiente de concorrência criado com o avanço do
Software Livre mudou significativamente as condutas das empresas de Software Proprietário
conforme listado nos exemplos acima, na tentativa de manterem suas posições no mercado, com
o resultado de aumentarem as opções e vantagens para os consumidores.
3.3.2 Novo modelo de negócios com software livre
A implantação do modelo de negócios para o software tradicional, chamado de
proprietário, se baseia, em relação à produção, no desenvolvimento fechado ao estilo Catedral
descrito por Eric Raymond. Neste modelo, as empresas reúnem fisicamente um conjunto de
programadores que passam a trabalhar de maneira dedicada ao desenvolvimento de um
determinado software através de atividades centralizadamente coordenadas. Para realizar este
desenvolvimento é usado um conjunto de outros softwares proprietários que servem como infra-
estrutura de desenvolvimento, o que eleva o custo de investimento inicial necessário.
Nos últimos anos, este modelo catedral gerou um processo de desenvolvimento que se
assemelha ao de uma linha industrial e que se denomina, genericamente, como “Fábricas de
Software”. A Índia, por exemplo, se especializou em empresas que recebem pequenos
fragmentos de softwares que precisam ser desenvolvidos nos países centrais, contratam mão-de-
obra e fornecem este pequeno fragmento.
A comercialização do software desenvolvido no modelo tradicional ocorre através da
atribuição de licenças de uso que estabelece permissão do seu uso. Estas licenças variam
bastante em termos de funcionamento, mas de maneira geral são intransferíveis, não permitem
revenda nem que se estude o software. Esta tem sido a estratégia dominante das empresas do
setor na medida que permite a ampliação do poder das empresas sobre os seus consumidores no
futuro.
Existem ainda outros serviços associados ao software, como treinamento, suporte
documentação e consultoria. A tendência geral das firmas de software proprietário é credenciar
empresas parceiras para prestar estes serviços, pois eles demandam uma estrutura grande e
distribuída, além de serem negócios menos estratégicos para o sucesso do empreendimento. O
suporte nem sempre pode ser repassado para outra empresa, já que para que ele seja realizado
de maneira adequada normalmente é necessário acesso ao código do software, o que não é
63 Consulte: http://www.microsoft.com/brasil/fatos/default.mspx
repassado para outras empresas. A estratégia adotada é criar níveis de suporte diferenciados,
onde os primeiros níveis, de solução mais simples, sejam fornecidos por outras empresas, e os
que requerem acesso ao código sejam realizados diretamente pela empresa desenvolvedora.
Ao verificarem o crescimento e o potencial do Software Livre, as empresas passaram a
incorporar distribuição e suporte a estes softwares. De maneira mais significativa o mesmo
mercado que prestava serviços ao software proprietário começaram a adotar esta nova
modalidade de software sem grandes alterações na maneira como trabalhavam, porém com a
vantagem de acesso ao código, o que lhes permitia prestar qualquer nível de suporte.
Outras empresas viram que a grande dificuldade dos usuários era organizar o grande
número de softwares existentes, de forma a criar um ambiente completo para determinada
tarefa. Elas passaram então a reunir vários softwares em um pacote, chamado de distribuição.
Estas empresas começaram a dominar o mercado, pois passaram a oferecer a consistência
adequada para ambientes críticos, como empresas e governos. Entre as distribuições mais
conhecidas estão a Red Hat, Suse, Mandriva e Ubuntu. Existem ainda distribuições organizadas
em comunidades que, com o tempo, também passaram a ter uma boa participação no mercado,
como a Debian, a Slackware e a brasileira Kurumin. (Ferraz, 2002: 15)
Verifica-se uma grande penetração de Software Livre em empresas que desenvolvem
softwares personalizados, mercado dominado por médias e pequenas empresas. Quando
desenvolvem aplicativos com software proprietário, as empresas arcam com um aumento dos
seus custos fixos, na medida que precisam adquirir pacotes de desenvolvimento proprietários,
servidores de rede e de Banco de Dados. Ao passo que adotando software livre elas conseguem
eliminar estes custos, facilitando inclusive atualizações tecnológicas. Assim, elas passam a ter
uma grande vantagem competitiva em relação às demais empresas, já que seus clientes também
terão seus custos reduzidos, pois não precisarão adquirir a infra-estrutura proprietária para
implantação deste software. Além disso, como o código dos softwares de infra-estrutura são
abertos existe a possibilidade de se melhorar a interação com o programa em desenvolvimento,
quando comparado com o uso de software proprietário.
Atualmente as grandes empresas do setor de Tecnologia da Informação, inclusive
fornecedores de software, estão excluídas de grande parte do mercado de software já que
ocorreu uma grande concentração no setor, exatamente como no mercado de sistemas
operacionais com a Microsoft. Como as chances de concorrência são pequenas, elas passaram a
adotar a estratégia de apoiar e incentivar a adoção de software livre, adequando seus produtos
para plataformas livres, especialmente ao sistema operacional Gnu/Linux, e a prestar suporte e
serviços para a implantação de Software Livre para grandes empresas e governos.
Esta ampla aceitação do Software Livre por parte das empresas consolidou um ambiente
completo, pré-condição necessária para o sucesso de uma adoção mais generalizada de
alternativas livres. Hoje, em praticamente todas as áreas existem empresas habilitadas a prestar
serviços e consultoria para área de Software Livre. Mesmo as empresas extremamente ligadas
ao Software Proprietário passaram de alguma forma a incorporar esta alternativa de negócio nos
seus portifólios de negócios.
Do ponto de vista do desenvolvimento de Software Livre, a ampliação da base
empresarial aumentou consideravelmente os investimentos e a participação na construção e
evolução destes softwares, já que ao necessitarem dar suporte a uma determinada solução, por
ter acesso ao seu código fonte, qualquer empresa pode alterar e corrigir problemas que estes
softwares livres possam ter. Além disto, quando algum cliente precisa de uma determinada
evolução neste software, estas empresas acabam fazendo investimentos ou ainda contribuindo
com novos códigos.
4. MERCADO BRASILEIRO DE SOFTWARE: SITUAÇÃO ATUAL E
PERSPECTIVAS DE MUDANÇAS COM A DIFUSÃO DO SOFTWARE
LIVRE
O presente capítulo inicia com uma caracterização de como o setor de software
brasileiro se insere no mercado mundial, analisando algumas principais variáveis da estrutura e
das estratégias competitivas adotadas no setor . A partir deste diagnóstico procuramos avaliar
como a difusão do Software Livre pode vir a impactar a estrutura produtiva e, principalmente,
as estratégias das empresas que operam neste setor, no Brasil.
Em um segundo momento, enfocamos a orientação de política do governo brasileiro para
o setor, analisando a opção de políticas ativas em favor de software livre, suas implicações em
relação ao consumidor governo e seus reflexos na velocidade de incorporação desta nova
alternativa no país, apontando suas possíveis conseqüências no futuro.
4.1. Aspectos da estrutura e do desempenho recente do setor
O Brasil é reconhecido internacionalmente por ter uma boa estrutura na área de
Tecnologia da Informação, em parte creditadas às políticas ativas que foram realizadas em
vários momentos da história do país, como a reserva de mercado durante a década de 70, e o
desenvolvimento de sistemas de automação bancários na década de 80. (Pires, 1995)
O mercado mundial de software é dominado pelos países desenvolvidos, principalmente
os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão. A participação do mercado de software fica em torno
de 1% e 2% das economias da grande maioria dos países, sendo que os países desenvolvidos
alcançam os índices mais elevados. Já a estratégia de inserção dos países nos mercados
globalizados varia bastante entre as economias. (Veloso, et alli. 2003).
A tabela abaixo procura comparar vários países em termos de representatividade da
indústria de software no PIB nacional, bem como a quantidade de exportações de cada um.
Tabela 2 - Mercado de Software de países selecionados em 2001
País Vendas
(em milhões deUS$)
Exportações
(em milhões deUS$)
Empregos Tamanho emrelação ao PIB
Estados Unidos 200.000 Não disponível 1.042.000 2.0%
Japão 85.000 73 534.000 2.0%
Índia 8.200 6.220 350.000 1,7%
Brasil 7.700 100 158.000 1,5%
Coréia do Sul 7.694 35 Não disponível 1,1%
China 7.400 400 186.000 0,6%
Espanha 4.330 Não disponível 20.000 0,7%
Israel 3.700 2.600 15.000 3,4%
Argentina 1.340 35 15.000 0,4%
Fonte: MIT - Slicing the Knowledge-Based Economy in Brazil, China and India: a tale of 3 software
industries. Disponível em: http://www.softex.br/media/MIT_final_ing.pdf
Ao compararmos as estratégias de mercado adotadas pelos países listados na tabela
acima, percebemos, no que tange aos países em desenvolvimento dois tipos de estratégias. A
Índia e Israel estão voltados para a exportação, principalmente de software para os países
desenvolvidos, possuindo um mercado interno com pouca participação relativa no PIB. Já o
Brasil, China e Coréia do Sul possuem um mercado interno muito forte e desenvolvido
indicando que o uso das ferramentas de informática nos processos produtivos é bastante
significativo. (Veloso, et alli. 2003)
Em termos de balança de pagamentos, o Brasil possui uma grande desproporção nas suas
contas, apresentando um déficit de um bilhão de dólares64. Para tentar melhorar este indicador o
Governo Brasileiro passou a investir em iniciativas como o Programa SOFTEX, coordenado por
uma OSCIP, chamada de Sociedade Softex, que tem como objetivo “Situar o Brasil entre os 5
maiores produtores e exportadores de software do mundo”65.
Verificamos que a participação relativa do mercado de software no PIB brasileiro que
atinge a participação de 1,5%, que é bastante superior a da maioria dos países em
desenvolvimento, e aproximando-se inclusive da participação do mercado nos Estados Unidos
de 2%. Mesmo alguns países desenvolvidos possuem índice inferior de importância do software
na economia do que o Brasil, como por exemplo a Espanha.
64 Disponível em: http://www.softex.br/media/psi.ppt65 Consulte: http://www.softex.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=165
Em relação à geração de empregos, possuímos um número de 158.000 empregos
gerados, o que é bastante significativo em relação ao mercado mundial. As atividades
relacionadas ao mercado de software são mão-de-obra intensivas, favorecendo o mercado
brasileiro, aonde a mão-de-obra é relativamente barata e com qualificação. Fora os países que já
se orientaram para o desenvolvimento de software para o mercado externo, o Brasil aparece em
situação extremamente privilegiada em número de trabalhadores.
A concentração no mercado de software no Brasil é extremamente baixa, 76% das
empresas possuem até 50 empregados e as 15 maiores representam apenas 30% do mercado.
Estas firmas estão focadas em desenvolvimento para pequenos nichos de mercado, já que este
mercado não apresenta elevadas barreiras à entrada. Em relação aos segmentos de
especialização, o Brasil possui uma posição relevante em softwares embarcados, componentes
de software e aplicativos personalizados. (Veloso, et alli, 2003).
4.2. Aspectos da dinâmica competitiva do setor
A indústria brasileira de software passou por profundas modificações a partir do fim da
reserva de mercado para o setor de informática, a qual vigorou de 1972 até 1990. Existe um
grande debate sobre os benefícios e problemas decorrentes da adoção dessa política de reserva
de mercado, já que ao mesmo tempo em que levou a um encarecimento excessivo do hardware,
inviabilizando uma informatização mais ampla, que já estava em curso em todo o mundo,
também permitiu o desenvolvimento de pesquisas avançadas, principalmente na área de
software. O mercado brasileiro de software possui uma estrutura produtiva bastante diversa , o
que pode representar ou um benefício decorrente da reserva de mercado, ou simplesmente
empresas com estratégias voltadas primordialmente para o mercado interno, que, por seu
tamanho, pode gerar esta diversidade.
Por seu grande mercado interno, o Brasil possui um grande número de pequenas
empresas, voltadas para nichos específicos de mercado, sobretudo softwares especializados,
serviços de adequação, treinamento e suporte a ambiente de TI.
Em sua grande maioria, as pequenas empresas que operam neste segmento de mercado
especializado, operam com foco em desenvolvimento e procuram desenvolver softwares para
atividades específicas, normalmente com especialização em uma área de atuação, como
educação, saúde, etc. Para as empresas desenvolvedoras, um objetivo importante é conseguir
reduzir os custos de produção - parte composto por gastos com licenciamento de software - a
fim de ampliar o mercado consumidor, já que seu mercado é menos concentrado fortalecendo
estratégias de concorrência por preço. Neste contexto, o Software Livre aparece como elemento
importante para a redução desses custos de produção, bem como para diminuir os custos de
softwares complementares de seus clientes. Conforme pesquisa da Softex, estas empresas
normalmente já existiam antes do “boom” do uso de software livre, e possuem um modelo
misto, parte com software proprietário, parte com software livre. (Softex, 2005: pg 33)
As empresas prestadoras de suporte, treinamento e consultoria para TI possuem uma
dedicação maior ao modelo de Software Livre. Além disso, tais empresas normalmente possuem
menos tempo de mercado, indicando já a grande influência das oportunidades criadas com o
avanço do Software Livre, bem como um mercado com menores barreiras à entrada, justamente
pelo seu trabalho menos dependente de conhecimentos específicos66.
Já as empresas de maior porte do setor de software, atuam principalmente no ramo de
softwares embarcados, suporte, consultoria e desenvolvimento para grandes empresas e
governo. Neste segmento de mercado, verifica-se uma grande participação de firmas
estrangeiras, indicando um mercado mais competitivo se comparado com os de alguns
principais países em desenvolvimento, como é o caso da Índia, por exemplo.
Nas grandes empresas, o uso de Software Livre tem sido uma constante, porém, com
intensidade bem variada, sobretudo como infraestrutura para seu desenvolvimento, como banco
de dados, servidores de aplicação e sistema operacionais. Outro aspecto fundamental para estas
empresas é o acesso a novas tecnologias que o modelo de Software Livre permite, criando um
ambiente mais atualizado tecnologicamente do que o anterior.
Já para os softwares embarcados, que representa um mercado com grande crescimento
no país, o uso de Software Livre representa vantagens ainda mais nítidas que nos demais
segmentos de mercado, já que o software é apenas um elemento na composição do produto
principal, o que facilita a decisão das empresas de criar e usar Software Livre neste novo
paradigma. Grandes empresas nacionais, como a Cyclades, ou mesmo internacionais, como a
IBM, Nokia e Siemens, têm realizado grandes investimentos no país para desenvolvimento
deste tipo de software, e utilizando intensamente Software Livre.
4.3. Medidas de Política e Perspectivas da Adoção de Software Livre
4.3.1 Principais ações do Governo Federal pró-Software Livre
Já no início da campanha presidencial de 2002 havia a expectativa da adoção, caso se66 O desenvolvimento de software personalizado requer um grande conhecimento na área de atuação para a qual o
software foi desenvolvido, bem como das tecnologias empregadas.
confirmasse a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, de uma política de incentivo ao Software
Livre67, como ocorreu em vários outros Governos do Partido dos Trabalhadores, como o do
Estado do Rio Grande do Sul, com o Governador Olívio Dutra68. De fato, logo no início do
mandato se iniciaram várias ações voltadas para o objetivo de adotar Software Livre para uso do
Governo, bem como medidas de apoio e de incentivo à sua adoção no mercado.
Todavia, em que pese o fato de o Governo Brasileiro, ao lançar seu plano de Política
Industrial, ter incluído nele o Software Livre, através de um “Programa de Incentivo ao
Desenvolvimento de Software Livre”, com o objetivo de estimular o mercado deste tipo de
solução no país, verifica-se que as ações decorrentes dessa política industrial ainda não foram
implementadas pelos Ministérios responsáveis, sendo no momento apenas uma expectativa.
Feita esta observação, apresenta-se a seguir as principais ações de política do Governo
Federal tanto para incentivo ao uso pelos órgãos federais, como para fomentar esta alternativa
nos mercados nacional e internacional, bem como os seus possíveis impactos na estrutura do
mercado de software nacional.
Adoção de software livre como alternativa preferencial
A adoção de Software Livre por órgãos governamentais já ocorria há vários anos em
praticamente todos os setores, porém de maneira marginal. Empresas como o SERPRO e a
DATAPREV possuíam alguma experiência já realizada na adoção de Software Livre para
alguma atividade específica, como servidores de DNS69, por parte de SERPRO, e CVS70 , no
caso da DATAPREV.
Logo no início do Governo Lula, a expectativa de ampliação do uso de Software Livre se
confirmou, e vários órgãos, sobretudo aqueles mais ligados ao setor de tecnologia, passaram a
ampliar seu uso. Notadamente o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação iniciou um
processo completo de migração de praticamente todo o seu parque computacional para Software
Livre, incluindo estações de trabalho. Outros órgãos seguiram esta iniciativa, promovendo o uso
interno de Software Livre.
Porém, as ações em favor do uso de Software Livre dentro do governo só se estruturam a
partir de outubro de 2003, data em que o Presidente da República, através de decreto, altera a
estrutura do programa Governo Eletrônico, remodelando os comitês que constituem o programa.
O primeiro comitê instituído foi o “Comitê Técnico de Implementação de Software Livre”,
67 Consulte: http://jbonline.terra.com.br/destaques/eleicoes2002/mat1609inclusao.html68 Consulte: http://www.ulbra.tche.br/~danielnm/bytche/nro1/swlivre/entrevista_olivio.htm69 DNS: Serviço para resolução de nomes de endereços de internet.70 CVS: Ferramenta para apoio ao desenvolvimento
coordenado pelo ITI.71
No primeiro planejamento deste comitê foram elencados os seguintes objetivos:
“A) Ampliar a capacitação dos técnicos e servidores públicos para autilização de software livreB) Ampliar significativamente a adesão e o comprometimento dosservidores públicos com o software livreC) Desenvolver um ambiente colaborativo para permitir a expansão dosoftware livreD) Definir e implantar padrões de interoperabilidadeE) Efetivar o software livre como ferramenta corporativa padrão dogoverno federalF) Conter o crescimento do legadoG) Disseminar a cultura de software livre nas escolas e universidadesH) Elaborar e por em vigência a regulamentação técnico-legal dosoftware livreI) Promover migração e adaptação do máximo de aplicativos e serviçospara plataforma aberta e software livreJ) Elaborar e iniciar implantação de política nacional de software livreK) Articular a política de software livre a uma política de fomento àindústriaL) Ampliar significativamente a oferta de serviços aos cidadãos emplataforma abertaM) Envolver a alta hierarquia do governo na adoção do software livre”72
A partir da institucionalização do objetivo de implementar Software Livre, podemos
destacar várias outras ações amplamente divulgadas pela mídia, por parte de diferentes
Ministérios, Empresas Públicas e Autarquias para implantar Software Livre como opção
preferencial nas suas infra-estruturas.
O projeto do Governo Brasileiro teve ampla repercussão e apoio no mundo. Uma simples
pesquisa no Google73 pelos termos “brazil open source government” retorna 9,9 milhões de
registros, indicando uma ampla cobertura da opção governo brasileiro sobre o software livre74. O
projeto do Governo Brasileiro motivou inclusive menções e cartas de apoio, como as publicadas
este ano pelo presidente da Sun Microsystems, uma das maiores empresas de software do
mundo75, e de pesquisadores do MIT76.
Apesar do claro posicionamento dos orgãos governametais em favor da adoção de
software livre, destaca-se a dificuldade de coordenação e lentidão no processo de adoção desde
71 Consulte: http://www.softwarelivre.gov.br/documentos/DecretoComite/view72 Disponível em: http://www.softwarelivre.gov.br/documentos/73 No meio de informática é comum vermos o número de páginas sobre um assunto em ferramentas de busca a fim
de saber a relevância do tema.74 O resultado é surpreendente, já que “Brazil soccer” retorna “apenas” 3,5 milhões de registros.75 Consulte: http://br.sun.com/sunnews/press/2005/20050531.html76 Consulte: http://info.abril.com.br/aberto/infonews/032005/21032005-2.shl
o início do mandato, o que levou a críticas da imprensa77. A adoção de Software Livre pelos
diferentes órgãos de governo é extremamente desigual até o presente momento.
A lentidão no processo de migração do governo brasileiro para o software livre pode ser
atribuída principalmente às seguintes dificuldades:
1. Não há coordenação centralizada de Tecnologia da Informação e Comunicação dentro do
Governo. Cada órgão tem autonomia nas suas escolhas, havendo, no máximo, a indicação de
uso preferencial78.
2. Desafios inerentes da substituição de plataformas. Como vimos no decorrer deste trabalho,
um dos grandes objetivos das empresas que trabalham com software proprietário é criar
mecanismos de aprisionamento, isto é, dificultar a migração para outra plataforma.
3. Há uma difícil escolha de prioridades entre as áreas. Um ministério voltado para áreas
diversas acaba não priorizando em suas atividades a migração para Software Livre.
Desenvolvimento do mercado privado de software livre
Além do uso interno de Software Livre ao nível das instituições governamentais,
e o conseqüente aumento do mercado para o setor, outras ações de política foram
implementadas para incentivar a adoção desta alternativa pelo mercado como um todo. Entre
elas:
1. Lançamento de um edital de seleção para financiamento de pesquisa e desenvolvimento
tecnológico com Software Livre79.
2. Melhora da base jurídica das licenças de software livre, em conjunto com a Creative
Commons80, organização não governamental dos Estados Unidos, através da publicação da
versão brasileira da Gnu General Public License – GPL81, a licença mais usada por softwares
livres.
3. Patrocínio de eventos de Software Livre através de várias instituições82.
4. Desenvolvimentos específicos com Software Livre, como o concurso para jogos em software
livre83.
5. Adaptação de aplicativos para rodarem sobre Software Livre, como o imposto de renda.
77 Constulte: http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A108/N293/HTML/Elio.HTM78 No anexo 1, em cópia de ofício da Casa Civil se torna claro esta limitação ao dizer “avaliar a conveniência da
utilização preferencial do software livre nas futuras aquisições de hardware.”79 Disponível em: http://www.mct.gov.br/Temas/info/Dsi/CATI/Programas/EDITAL_CNPq_01_SWlivrehtm.htm80 Consulte: http://creativecommons.org/license/cc-gpl81 A Free Software Foundation jamais havia permitido tradução da licença, essencial para sua validade jurídica no
país.82 Consulte: http://chopin.softwarelivre.org/6.0/83 Consulte: http://www.jogosbr.org.br/
6. Criação de Softwares Livres para situações especiais, como de segurança84 ou ainda o projeto
Agrolivre da Embrapa85.
4.3.3 Perspectivas de mudanças na dinâmica do mercado com a difusão do
Software Livre
Desenvolvimento tecnológico
Como vimos no capítulo 2, no antigo modelo, baseado unicamente em código fechado
existiam barreiras à entrada para a competição no mercado de software. Quando analisamos este
aspecto sob a ótica da capacidade de inovação de cada país, aquele quadro se repete. A
possibilidade de inserção em mercados em que já existe uma empresa líder consolidada é
praticamente nula, mesmo para países com grande capacidade de investimento. O caso da
competição pelo mercado de sistemas operacionais entre a IBM e a Microsoft demonstra com
exatidão como a maior empresa do setor nos Estados Unidos não foi capaz de disputar a
liderança pelo mercado.
Pensando neste contexto da concorrência entre empresas, percebe-se que uma única
empresa teria a atribuição de determinar como se daria o ritmo de inovações dentro do mercado
de sistemas operacionais, e isto sem grandes preocupações com a concorrência. Apesar deste ser
um exemplo extremo, a impossibilidade de concorrência é bastante comum em vários setores do
mercado de software.
Analisando agora pela ótica da capacidade de desenvolvimento tecnológico dos países, é
intuitivo que ocorrerá grande dificuldade de participar do desenvolvimento de software caso não
haja acesso ao código, e conseqüentemente, à tecnologia envolvida, o que pode levar, inclusive,
a uma situação de falta de incentivos para pesquisas acadêmicas quando estas ocorrerem
dissociadas das empresas detentoras das tecnologias.
No caso de países em desenvolvimento, como o Brasil, o quadro se torna ainda mais
complicado. Com o passar do tempo, e o decorrente aumento de complexidade dos sistemas
computacionais, mais difícil se tornará a possibilidade de um desenvolvimento tecnológico
dissociado das empresas dominantes, até porque todos os componentes precisam ser refeitos, o
que é uma tarefa extremamente trabalhosa.
Ao introduzirmos o modelo de Software Livre, e o conseqüente acesso à tecnologia,
decorrente da possibilidade de uso dos códigos fontes, passamos a ter uma situação84 Consulte: http://www.iti.br/twiki/bin/view/Main/PressRelease2005Jun28A85 Consulte: http://www.agrolivre.gov.br/
completamente diferente, em que os pesquisadores e as empresas podem aproveitar todo o
conhecimento já existente e consolidado e trabalhar no seu desenvolvimento. O software, como
qualquer outro conhecimento, não pode se desenvolver sem o acúmulo já construído pela
humanidade.
O Brasil, como os demais países, especialmente em desenvolvimento, passam a ter uma
nova realidade competitiva, com acesso irrestrito a tecnologias de ponta e podendo utilizá-las
como ponto de partida para o desenvolvimento da produção de novas tecnologias, pois elimina
as grandes diferenças existentes em relação aos países centrais. Ocorre uma alteração completa
na lógica de desenvolvimento tecnológico, passando, de país consumidor, para desenvolvedor
ativo. O sistema operacional Linux na sua versão 2.4, por exemplo, possui um mantenedor86
brasileiro87, algo impensável na estrutura anterior.
Inclusão digital
O acesso a novas tecnologias, especialmente a internet, é uma questão estratégica
considerada por todos os decisores públicos interessados tanto na melhor difusão de informação
como na competititividade do país.
Quando comparamos o acesso à internet entre os diferentes países do mundo
encontramos uma desproporção significativa entre os países desenvolvidos e as economias
periféricas. A penetração média da internet na população dos países mais desenvolvidos alcança
mais da metade da população . O Brasil é o 10º país em número de usuários na internet, mas o
índice de acesso da população é de apenas 12,2%, bem inferior aos países desenvolvidos, como
os Estados Unidos (62,3%), Alemanha (50%) e mesmo a Coréia (65,7%), porém ainda com um
índice superior a de países como Índia (3,2%) e China (7,2%)88.
O Software Livre aparece neste contexto, como facilitador do acesso à internet ao reduzir
parte dos custos associados, eliminando a necessidade de licenciamento de software para a
plataforma computacional necessária para realizar este acesso.
No Brasil a discussão sobre a importância da inclusão tem sido amplamente debatida
pela sociedade. O Governo Federal tem procurado atuar nesse sentido, por meio de vários
projetos como o Computador para Todos (antigo PC Conectado), que promoveu a redução na
alíquota de impostos para computadores até dois mil e quinhentos reais, e liberando linhas de
financiamento específicas para computadores de baixo custo que utilizem Software Livre.
86 Mantenedor é o desenvolvedor mais alto na cadeia de decisão de um projeto, sendo responsável pela inserçãode novos códigos, correções de bugs e caminhos futuros de desenvolvimento.
87 Marcelo Tosatti88 Disponível em: http://www.teleco.com.br/internet.asp
Além do acesso individual, que está limitado a uma parte da população que teria renda
suficiente para comprometer neste intuito, iniciativas que permitem acesso coletivo, com
público alvo muito mais amplo, surgiram no Brasil. A maioria destas iniciativas foram de
natureza estatal e adotaram a estratégia de uso de Software Livre como estratégia de redução de
custos, melhora no serviço prestado e qualificação dos usuários. Iniciativas como os telecentros,
da prefeitura de São Paulo, do projeto Casa Brasil, entre tantas outras, utilizam na sua infra-
estrutura exclusivamente Software Livre.
Outro projeto recente que está em fase inicial é a participação no projeto “One Laptop
per Child” desenvolvido pelo laboratório do Media Lab89, pertencente ao MIT - Massachusetts
Institute of Technology. O Brasil irá ajudar no desenvolvimento da solução, principalmente do
software que será usado, e irá adquirir inicialmente um milhão de unidades para distribuição a
professores e alunos da rede pública de ensino.
Mercado de serviços
Ao analisarmos, no início deste capítulo, a estrutura do mercado nacional de software,
verificamos que ele é composto predominantemente por pequenas empresas produtoras de
softwares personalizados ou prestadoras de serviços. A relação básica destas empresas com o
software proprietário é na condição de prestadoras de serviços relacionados com pacotes de
software proprietário ou utilizá-los como infraestrutura para o desenvolvimento de aplicativos
personalizados. O pagamento de licença passa a ser um custo tanto para a produção, como para
os clientes, que também precisarão destes pacotes para colocar o software em produção. O
desenvolvimento de pacotes de software, sob o modelo baseado em licenciamento de uso é
marginal para as empresas brasileiras.
O modelo de negócios criado pelo Software Livre é mais adequado para a realidade das
empresas nacionais. A prestação de serviço leva a mercados mais fragmentados e com maior
intensidade de uso de mão-de-obra. Conforme vimos no capítulo 3, existem diferenças
significativas entre o suporte prestado no modelo proprietário, em que apenas pode ocorrer
suporte a funções básicas, e ao software livre, que, conforme as capacitações da empresa, pode
ser realizado de maneira completa e autônoma.
Se analisarmos a ótica dos custos envolvidos, o uso de Software Livre permite que as
empresas desenvolvedoras de software proprietário passem a ter um custo menor no seu
processo de desenvolvimento, pois diminuem os custos associados a, pelo menos, licenças de
sistema operacionais para estações de trabalho, servidores de rede, banco de dados e ambientes
89 Consulte: http://www.media.mit.edu/
de desenvolvimento. Por outro lado, seus clientes não tendo os custos do ambiente necessários
para a produção da aplicação podem pagar um preço maior pelo software e serviços adquiridos.
Balança de pagamentos
Como vimos na análise do mercado de software nacional, o Brasil possui um déficit em
balança de pagamentos de um bilhão de dólares neste setor. A eliminação do pagamento de
licenças de uso para as empresas estrangeiras produtoras de software proprietário pode levar a
um melhor equilíbrio.
Relação capital trabalho
Mesmo se considerarmos que a migração e a implantação de sistemas baseados em
Software Livre90 sejam mais intensiva em mão-de-obra, por necessitarem de mais serviços na
personalização do que a alternativa do modelo proprietário, tal não significa um efeito negativo
em termos de produtividade. No Brasil, a relação entre capital e trabalho é bastante diferente da
vigente nos países desenvolvidos, o que leva a uma relação custo-benefício diversa.
É importante ressaltar que mesmo o maior uso de mão-de-obra não representa
necessariamente, neste caso, uma menor produtividade. Existem importantes diferenças nos
níveis de capacitação nos trabalhos realizados, já que o grau de conhecimento aplicado e
adquirido tende a ser superior com o uso de Software Livre. Além disso, o resultado do trabalho
pode ter profundas diferenças. Ao usar pacotes fechados o grau de personalização do produto
pode não ser adequado para a empresa em questão, o que não ocorre com o uso de Software
Livre, onde existe maior autonomia para adequações de ambiente, e conseqüentemente uso mais
intensivo dos recursos disponíveis. Na prática, muitos equipamentos considerados obsoletos têm
sido recolocados em atividade através do uso de software livre.91
Capacitação
O uso e desenvolvimento com Software Livre ampliam as possibilidades de absorção de
conhecimentos, quando comparado ao Software Proprietário, conforme discutido no capítulo
anterior. No caso do Brasil, isto pode determinar uma ampliação do desenvolvimento de capital
90 Estudos financiados pela Microsoft tentam demonstrar que o custo em mão-de-obra é mais caro na adoção desistemas proprietários. Estes estudos são mais peças de marketing e possuem pouco ou nenhum rigormetodológico. Consulte: http://www.microsoft.com/brasil/fatos/casestudies/default.mspx
91 Existem vários projetos em software livre voltados exclusivamente para o melhor aproveitamento e ampliaçãoda vida útil de equipamentos.
humano no setor de software, considerado ponto estratégico na atual diretriz de política
industrial para o país.
A motivação dos desenvolvedores que contribuem no desenvolvimento de Software
Livre evidencia claramente este vínculo, conforme mostra o estudo sobre “ O impacto do
Software Livre e de Código Aberto na indústria de Software do Brasil”, o qual conclui que “A
grande maioria dos respondentes destacou opções relacionadas à capacitação, como
'desenvolver novas habilidades' e 'compartilhar conhecimento'. ” (Softex, 2005: 51)
Economia de rede
Como exploramos no capítulo 2, o mercado de tecnologia da informação é basicamente
comandado pelas economias de redes, em que o valor de um determinado produto é dado pela
quantidade de pessoas que utilizam um determinado software. Desta forma, adotar um produto
que ainda não tenha conquistado massa crítica de utilização pode ser uma estratégia de risco.
Neste tipo de mercado as escolhas individuais definitivamente não resultam em um
resultado socialmente mais produtivo, a dita “mão invisível” leva a escolhas individuais não
apenas ineficientes, com ainda prejudiciais para todo o sistema, principalmente porque o
mecanismo de concorrência assume significado totalmente distinto.92. Mesmo se considerarmos
o nível microeconômico, a eficiência alocativa, até hoje a grande vantagem do sistema
capitalista de produção, não se aplica ao mercado de tecnologia da informação, já que passa a
não existir qualquer correlação entre preços e custos de produção bem como da demanda, que
passa a ser comandada principalmente pelo efeito de rede.
Neste caso, como vimos no capítulo 1, a teoria econômica, em todas as visões analisadas,
trabalha com a lógica de que estes tipos de mercados necessitam de alguma forma de regulação
governamental, ou melhor, de uma diferente estrutura institucional que permita um ambiente de
maior competitividade e desenvolvimento.
Outra hipótese de atuação por parte do Estado é usar o seu peso perante o mercado,
como principal comprador, para acelerar a adoção de alguma tecnologia estratégica para o país.
Como a atração de uma tecnologia para seus consumidores é tanto maior quanto mais usuários
existirem, o Estado pode criar, por si só, a massa crítica de usuários para a consolidação de uma
alternativa tecnológica superior.
No caso da competição entre modelos produtivos entre Softwares Proprietários e Livres,
levantamos até aqui todas as vantagens que o segundo modelo pode trazer para a inserção
92 Para uma análise crítica dos pressupostos pouco realistas da teoria neoclássica no estudo econômico veja, porexemplo, o artigo de Joseph Stiglitz “There is no Invisible Hand”, disponível em:http://www2.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/download/opeds/There_Is_No_Invisible_Hand.htm
nacional no mercado competitivo de desenvolvimento de software, justificando desta forma os
incentivos por parte do Estado. Nesta perspectiva romper a barreira criada pelas economias de
rede pode ser crucial para que o país possa consolidar uma posição de vanguarda neste setor.
Indução da escolha dos agentes privados
Um outro aspecto fundamental das vantagens da adoção de Software Livre pelo governo
é a sua influência sobre as escolhas das empresas privadas. Conforme pesquisa divulgada pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia sobre a adoção de Software Livre no Brasil93, foi constatado
uma grande participação do Estado do Rio Grande do Sul, com 25% das empresas que adotam
Software Livre, ou ainda, que são especializadas em serviços para este mercado. Em termos
absolutos este estado é o segundo no país, pouco abaixo de São Paulo (43%), em número de
empresas usuárias de Software Livre, e muito acima dos demais estados (o terceiro colocado,
Santa Catarina, tem 7%). O referido trabalho atribui o motivo desta posição de destaque do
RGS ao grande incentivo dado ao Software Livre pelo Governo do Estado, durante a gestão do
Governador Olívio Dutra.
Este exemplo mostra como os estados podem, ao estabelecer uma meta de apoio ao
Software Livre, influenciar o mercado, seja em termos das expectativas das empresas
fornecedoras, que esperam manter seus contratos, seja pelas empresas que não possuem
qualquer relação com o governo, apenas pela expectativa decorrente de consolidação deste novo
modelo de mercado.
Se expandirmos a análise para os consumidores individuais, podemos claramente
perceber que o estado passa a ser também um elemento educador, ao mostrar a existência de
alternativas bem como a viabilidade de sua implantação, ressaltando uma importante função
para o estado como referência para a decisão dos demais agentes econômicos.
Também podemos verificar que a adoção de novas tecnologias está bastante relacionada
ao elemento de incerteza nas escolhas, principalmente pela importância de que a tecnologia se
consolide no futuro, garantindo sucesso ao investimento. O uso de uma opção pelo estado pode
mostrar, em caso de ampla adoção, que a alternativa tecnológica terá futuro mercadológico,
melhorando as expectativas do mercado. No caso específico do Software Livre, outro aspecto
relevante é a melhora da confiança de que esta alternativa pode ser usada com segurança e
confiabilidade, inclusive para grandes aplicações, rompendo desta forma com campanhas de
desinformação vinculadas pelas empresas dependentes do modelo de licenciamento de software.
93 Disponível em: http://observatorio.softex.br/components/com_observatorio/arquivos/pesquisa_swl.pdf
4.3.3 Vantagens e desafios do novo modelo
Como vimos ao longo do trabalho o novo paradigma de produção de software,
denominado de Software Livre, implicou em profundas alterações na dinâmica dos mercados de
software, nas escolhas dos consumidores e no acesso a tecnologias em todo o mundo.
Vamos agora discutir quais as vantagens que o Software Livre traz para a estrutura de
mercado de software, especialmente para o Brasil, bem como as implicações da velocidade de
adoção deste novo paradigma como vantagem competitiva para as empresas do país.
Difusão da informática
Um aspecto importante para o entendimento da cadeia produtiva de informática é a
necessidade constante de bens complementares para qualquer solução, o que já discutimos no
capítulo 2. Hoje, o componente software possui a maior participação na construção de qualquer
infraestrutura computacional, mais pelos aspectos de poder de mercado do que pela importância
tecnológica em si. Este aspecto eleva bastante o custo de qualquer solução, limitando a sua
aquisição e atualização por parte das empresas e dos usuários privados.
A difusão da informática nos diferentes âmbitos produtivos do sistema é um elemento
fundamental na produtividade das empresas e na ampliação das capacitações da população. O
uso da informática como ferramenta de apoio é um elemento estratégico no posicionamento das
empresas no mercado competitivo, bem como para a competitividade das indústrias nacionais no
mercado internacional, aspecto este que não pode ser desconsiderado pelos formuladores de
políticas dos diferentes níveis de governo.
Aumento da produtividade global na construção de softwares
O desenvolvimento de software nada mais é do que conhecimento e regras descritas em
um determinado idioma que permitem a sua conversão para linguagem de máquina e sua
posterior execução pelos computadores. Por isto seu funcionamento é praticamente o mesmo
que encontramos na produção técnico-científica ao escrevermos artigos e livros. Sua
especificidade é justamente a possibilidade de distribuir apenas o resultado deste conhecimento,
isto é, apenas o software já em linguagem de máquina, o que corresponderia, em analogia com
a produção de livros, a apenas divulgar as conclusões da pesquisa, sem a descrição do processo
que a construiu94.
O conhecimento é um acúmulo coletivo da humanidade, aonde os trabalhos e conclusões
já realizadas, servem de ponto de partida para o avanço da ciência. Este trabalho, por exemplo,
só pode ser construído com as contribuições de inúmeros autores citados. O modelo de Software
Livre permite uma melhor estrutura para a construção de novos conhecimentos, ao permitir que
o trabalho já realizado possa ser reaproveitado na construção de novos trabalhos. No software
proprietário a construção de um software envolve a codificação de todas as suas funcionalidades
ou a aquisição de componentes proprietários95, que provavelmente nunca terão seu código
conhecido ou reaproveitado. Com Software Livre é permitida a construção de trabalhos
derivados, permitindo aos desenvolvedores se focarem na solução do problema que estão se
propondo a resolver.
Esta vantagem de reaproveitamento do trabalho já realizado amplia significativamente a
capacidade de desenvolvimento da humanidade, trazendo benefícios na eficiência do sistema
produtivo e principalmente acelerando a produção de inovações tecnológicas no setor.
Diminuição das diferenças tecnológicas do Brasil com os países desenvolvidos
O acesso à tecnologia é um ponto chave para a competitividade de um a país em relação
ao restante do mundo e determina o padrão de desenvolvimento de cada país na dinâmica global
do capitalismo. Conforme vimos o Software Livre leva a queda das barreiras de acesso a
tecnologias permitindo que os países, sobretudo aqueles que estavam a margem do
desenvolvimento de inovações tecnológicas, passem a ter um novo padrão de inserção na
divisão internacional do trabalho.
No caso do Brasil, o avanço do modelo de desenvolvimento de Software Livre permite
que as empresas nacionais possam competir em condições de igualdade com as dos países
desenvolvidos, o que antes ocorria apenas como exceção.
Estrutura produtiva Brasileira e Software Livre
Conforme vimos no início do capítulo, a estrutura das empresas de desenvolvimento de
software no Brasil possui como características a alta fragmentação, o desenvolvimento de
apliações especializadas e a criação de softwares para sistemas embarcados.
94 Richard Stallman no texto “The Right to Read”, faz esta analogia no sentido inverso, ao descrever como seria omundo se as mesmas regras aplicadas ao Software no modelo proprietário fossem transpostas para produção delivros e textos. (Stallman, 1997)
95 A aquisição de componentes não é pratica comum, principalmente pela possibilidade de aprisionamentodescrita no capítulo anterior.
Ao considerarmos as empresas que se baseiam na prestação de serviços notamos este
novo modelo de desenvolvimento de software favorece justamente a prestação serviços, sendo
esse o foco de rentabilidade do modelo de Software Livre, diferente o papel acessório que estas
empresas possuíam no modelo de software proprietário. Os benefícios para este tipo de empresa
ocorre de maneira direta, ao eliminar seus custos, permitir novas possibilidades de trabalho na
adequação de sistemas livres e suporte as soluções.
Para o desenvolvimento de aplicações no Brasil, temos como principal característica o
desenvolvimento de aplicações específicas, que sempre demandarão desenvolvimento
específico para cada empresa. Estas empresas passam a ter uma grande vantagem ao eliminar os
custos complementares de licenciamento que seus consumidores terão ao implantar seus
softwares, permitindo uma ampliação de seu mercado e um aumento de suas receitas.
Já para as empresas de software embarcado, o segmento mais moderno da estrutura
industrial brasileira, o Software Livre já vem sendo utilizado a vários anos, pois permite que o
desenvolvimento de softwares integrados a equipamentos fique restrito apenas à nova
necessidade, sem necessidade de construção de todos os componentes necessários, ao promover
o reaproveitamento. Várias empresas vêm noticiando que passarão a usar esta estratégia,
principalmente as que produzem celulares inteligentes. Nokia, Siemens, Motorola, Palm, já
estão executando projetos neste sentido.
As empresas ameaçadas em seu modelo de negócios pelo surgimento de Software Livre
são as que produzem pacotes de software de uso genérico, o que inclui algumas das principais
empresas nacionais em termos de faturamento, como a Microsiga e a Datasul. A consolidação
deste novo modelo vai exigir destas empresas um esforço para se readequar a nova realidade do
mercado, tanto ao migrar seus sistemas para Software Livre, como para a nova realidade de
concorrência.
Liderança na adoção de um novo paradigma
Toda vez que ocorre uma mudança de paradigma surge oportunidades para novas
empresas se destacarem no mercado e as empresas brasileiras podem aproveitar o avanço do
Software Livre pode se aumentar sua participação no mercado.
A liderança na adoção de uma nova tecnologia normalmente é uma vantagem estratégica
importante para qualquer empresa. O país pode, com o incentivo a adoção ao Software Livre,
se reposicionar no mercado internacional de software, deixando de ser apenas um grande
mercado consumidor de softwares proprietários para se tornar um dos centros mundiais de
desenvolvimento tecnológico nesta área. Esta possibilidade certamente não pode ser
desconsiderada, já que o país possui alguns requisitos importantes, como mão-de-obra barata e
especializada, grande mercado nacional e políticas ativas por parte do governo.
CONCLUSÃO
Ao longo deste trabalho analisamos o mercado de software, destacando várias
características específicas que tornam o funcionamento deste mercado bastante diferente das
demais indústrias. Características como economias de rede, altas barreiras a entradas para boa
parte do mercado, estrutura de custo médio declinante e grande possibilidade de aprisionamento,
tornaram o mercado excessivamente concentrado, aonde o poder dos grandes oligopólios
permite uma posição apenas de defesa de sua posição via estratégias de aprisionamento.
Identificamos que o setor de software tem sua organização e dinâmica baseadas na
existência de dois distintos modelos de produção e distribuição de softwares, os quais se
definem segundo o critério adotado quanto à forma de licença de uso: os modelos de Software
Proprietário e Software Livre.
As conseqüências da consolidação do modelo de Software Proprietário foi a formação de
um mercado excludente, tanto no sentido de participação de novas empresas, como do ponto de
vista dos consumidores para os quais o custo de aquisição de software passou a representar
grande parte dos seus dispêndios na montagem e manutenção dos seus ambientes de
informática. Este aspecto se torna ainda mais crítico ao pensarmos que o uso destes
componentes tecnológicos é de importância fundamental para a produtividade das empresas.
O acesso à tecnologia, por outro lado, se torna ainda mais difícil tanto entre diferentes
países quanto entre grandes e pequenas e média empresas, já que o modelo proprietário trata o
código fonte como segredo industrial estratégico para a manutenção de sua posição de mercado.
As demais empresas são usadas apenas em atividades acessórias, como as de suporte e
treinamento. Dentre os grandes softwares aplicativos proprietários, como sistemas operacionais,
pacotes de escritório, editores gráficos, e muito outros, não existe nenhum deles, com grande
participação de mercado, desenvolvido fora do eixo Estados Unidos/Europa.
A consolidação do modelo proprietário ocasionou a impossibilidade de acesso ao código
fonte, que implica, sob a ótica dos desenvolvedores, uma alteração na forma como adquirem
novos conhecimentos e na sua capacidade de desenvolvimento de novos softwares em relação
ao que ocorria quando o software era apenas um componente acessório na venda de hardware. A
reação de grande parte dos desenvolvedores foi passiva, mas um grupo preocupado com o novo
ambiente criado com este modelo, formulou uma forma alternativa de desenvolvimento, aonde o
acesso ao código fonte era considerado como elemento fundamental da liberdade de acesso
tecnológico.
Este movimento não conseguiu, no primeiro momento, grande expressão no mercado, e o
modelo proprietário conquistou praticamente todos os segmentos da indústria de software.
Contudo, a popularização do acesso a internet levou a uma profunda mudança em todo o
mercado de tecnologia, ampliando rapidamente o alcance do discurso do Software Livre, ao
mesmo tempo em que permitia a criação de ambientes colaborativos que ampliaram
significativamente a capacidade e coordenação dos desenvolvedores de Software Livre. O
desenvolvimento de software através deste novo modelo se mostrou comparativamente mais
eficiente e com maior qualidade que o desenvolvido sob o sistema proprietário.
A produção de alternativas em Software Livre para vários softwares, permitiu o
surgimento de empresas voltadas para o fornecimento dos serviços envolvidos no
desenvolvimento destes softwares. Parte do próprio movimento de Software Livre passou a
alterar seu discurso, focando a maior produtividade e melhor qualidade da produção de
software, a fim de convencer mais empresas a adotarem o novo modelo.
O desenvolvimento e uso de Software Livre crescem de maneira significativa, já
dominando vários nichos de mercado de software e se consolidando como alternativa em
praticamente todos os segmentos. Mesmo no mercado mais concentrado e com maior poder de
aprisionamento, o de sistema operacional de estações de trabalho, o Software Livre Linux vem
ampliando de maneira consistente sua participação, e breve deve reverter a vantagem em
economia de rede que o Microsoft Windows detém.
As vantagens de utilização do novo modelo estão se tornando cada vez mais claras tanto
para os consumidores quanto para as empresas que se adaptaram à nova possibilidade de
negócios, assim como para os governos e as grandes empresas; sendo que estes últimos são os
alvos preferenciais das estratégias de aprisionamento das empresas de software proprietário.
Tudo indica que o novo modelo de Software Livre continuará com grande crescimento, podendo
em breve se consolidar como predominante no mercado de software, ainda que convivendo com
o modelo proprietário.
No Brasil houve um nível de aceitação do Software Livre aparentemente superior ao de
outros países em desenvolvimento. Hoje o país tem grande destaque na comunidade de software
livre, principalmente como grande usuário, mas também como participante do esforço mundial
de desenvolvimento cooperado. Foi também no Brasil onde surgiram as primeiras leis que
estabeleciam uso preferencial pela administração pública de Software Livre que tiveram grande
repercussão mundial.
Ao considerarmos a estrutura do mercado de software no Brasil, com bastante
fragmentação, voltada principalmente para o mercado de serviços, desenvolvimento de software
personalizados e de sistemas embarcados, podemos verificar uma grande adequação do
posicionamento das empresas nacionais com os setores que mais utilizam e produzem Software
Livre no mundo, o que ressalta a importância desta alternativa para o mercado nacional.
O Governo Brasileiro, a partir do mandato do Presidente Lula, vem criando políticas de
incentivo ao uso interno de Software Livre, de apoio ao desenvolvimento, e para sua adoção
pelo mercado privado. Esta opção do governo brasileiro, apesar dos constantes questionamentos
quanto à capacidade do Estado de realizar uma mudança efetiva na sua infraestrutura de
informática, demonstra a importância dada tanto para o setor de software como para o novo
paradigma produtivo. A produção de software é uma das prioridades da política industrial do
governo e o Software Livre teve tratamento específico na sua formulação. José Dirceu, então
Ministro Chefe da Casa Civil chegou a declarar que o “O Software Livre faz parte das políticas
estruturantes do Governo Lula”
Do ponto de vista das vantagens internas ao governo, avalia-se que o uso de Software
Livre melhorará as condições de negociação para o Estado, reduzindo o seu nível de
aprisionamento, ampliará a quantidade de empresas nacionais prestadoras de serviços ao
governo, além da possibilidade de ampliar ainda mais o uso da informática como instrumento
relevante para a eficiência dos controles estatais, tão importantes para nosso país.
A implantação de uma política pró-Software Livre, pelo Brasil, poderia também
contribuir para acelerar a capacidade do país de responder à mudança que está ocorrendo no
mercado mundial no que se refere à difusão desse modelo de software. O uso de Software Livre
na estrutura estatal tem o poder de incentivar que empresas privadas se especializem neste tipo
de solução, bem como de ampliar o número de usuários conhecedores deste software, o que
pode ser um elemento fundamental para reverter a grande vantagem de economias de rede que
os Softwares Proprietários, especialmente a empresa Microsoft, possui no mercado nacional.
Esta capacidade de realizar mudanças no mercado foi apontada pela Softex, como vimos
no capítulo 4, e ressalta a importância e capacidade de uma política estatal pró-Software Livre
de promover mudanças na sua estrutura e conduta, inclusive de maneira significativa.
É importante notar que para mercados como o de software proprietário, com tantas
características que levam a uma excessiva concentração de fornecedores, conforme discutimos
no capítulo 2, é fundamental alguma ação do Estado no sentido de regulação econômica. No
caso do Brasil, a adoção, por parte do Governo Federal, do Software Livre, pode induzir a
mudanças na conduta das empresas e na estrutura do mercado, o que pode contribuir para evitar
a necessidade de ações para a regulação e defesa da concorrência.
Mesmo com o ritmo de adoção lento de Software Livre pelo governo brasileiro, já se
torna perceptível a mudança no mercado. Praticamente todas as empresas prestadoras de
serviços e de treinamento já incluem alguma estratégia de incorporação de Software Livre ao
seu portifólio de serviços oferecidos. Mesmo no caso de empresas nacionais que fazem uso do
modelo proprietário, observa-se que elas estão procurando alternativas mistas de negócio e
produção, como a Microsiga.
Do ponto de vista do sistema econômico nacional, o Software Livre pode ser um
diferencial competitivo para as empresas nacionais, permitindo um nível maior de
informatização em comparação aos demais países do mundo, já que esta alternativa permitiria
uma menor quantidade de gastos com licenças, uma ampliação da quantidade de softwares
utilizados e uma melhor adequação dos softwares usados na estratégia tecnológica das firmas.
Além disso, o Software Livre pode contribuir para uma maior inclusão digital,
principalmente pela redução de custos, o que pode significar uma ampliação das alternativas de
acesso público à informática. Atualmente seu uso tem sido a alternativa preferencial para
solução tecnológica deste tipo de estabelecimento. Deve promover também um maior nível de
legalização dos softwares utilizados no país, melhorando o acesso para aqueles que mantém
seus softwares regularizados.
Em suma, avaliamos como sendo inquestionável a vantagem deste novo modelo de
software para a ampliação do conhecimento tecnológico em nível das firmas, das instituições
governamentais e não-governamentais e para o público em geral, uma vez que o conhecimento
integrado ao software deixa de ser um segredo industrial e passa a ser compartilhado entre todos
os usuários que tiverem interesse. No caso específico do Brasil, representa o fim da diferença
tecnológica entre os países centrais, estabelecendo condições mais igualitárias para o
desenvolvimento tecnológico.
Contudo qualquer mudança tecnológica sempre traz desafios. Em primeiro lugar temos
as empresas que estão numa posição cômoda no mercado de software proprietário que se sentem
ameaçadas pela possível alteração de paradigma. Do ponto de vista dos consumidores temos
grande dificuldades de substituição, graças ao aprisionamento tecnológico que torna, algumas
vezes, pouco trivial a implantação de Software Livre. Um risco para o futuro deste modelo é a
pressão que os Estados Unidos está fazendo em relação ao restante do mundo para que a
comunidade internacional, especialmente União Européia, aprovem patentes de software, o que
significaria o início da patente de algoritmos, isto é, de idéias e conhecimento, ao contrário da
legislação atual da maioria dos países que limita as patentes para produtos.
O movimento de Software Livre, nascido como uma reação autônoma dos
desenvolvedores de softwares ao poder das empresas, criou condições para que o Brasil possa se
inserir no mercado internacional de forma destacada, não mais como simples receptor de
tecnologias de informática, mas como agente ativo no desenvolvimento tecnológico do setor. O
apoio que diferentes instâncias governamentais têm dado ao Software Livre, aliado às condições
favoráveis já existentes no Brasil, como um mercado interno forte e estruturado, boas
instituições de ensino e pesquisa, e empresas com boa competitividade, poderá levar o país à
condição de um dos líderes deste novo mercado, podendo inclusive se aproximar dos principais
países desenvolvidos do mundo neste segmento de mercado.
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GLOSSÁRIO
.NET
Microsoft .NET é um framework desenvolvido pela Microsoft para rodar aplicações
escritas em diferentes linguagens. Este framework permite que qualquer aplicação seja
executada de qualquer lugar do mundo, em qualquer dispositivo sem a necessidade de
instalação de novos componentes nas estações de trabalho.
Apache
O servidor Apache é o mais bem sucedido servidor web livre. Foi criado em 1995 por
Rob McCool, então funcionário do NCSA (National Center for Supercomputing Applications),
Universidade de Illinois. Faz parte como tecnologia principal da Apache Software Foundation,
responsável por mais de uma dezena de projetos envolvendo tecnologias de transmissão via
web, processamento de dados e execução de aplicativos distribuídos.
Backup
Em informática, backup refere-se à cópia de dados de um dispositivo para o outro com o
objetivo de posteriormente recuperar os dados, caso haja algum problema.
Bug
Um bug é qualquer falha em um programa de computador que o impede de funcionar
como esperado
Cluster
Um cluster é formado por um conjunto de computadores, que utiliza-se de um tipo
especial de sistema operacional classificado como sistema distribuído. É construído muitas
vezes a partir de computadores convencionais (desktops), sendo que estes vários computadores
são ligados em rede e comunicam-se através do sistema de forma que trabalham como se fosse
uma única máquina de grande porte.
Código Fonte
Conjunto de palavras escritas de forma ordenada, contendo instruções em alguma
linguagens de programação, de maneira lógica. Após compilado, transforma-se em software, ou
seja, programas executáveis.
Corel Draw
O CorelDRAW é um programa de design gráfico pertencente à Corel. O CorelDRAW é
um aplicativo de ilustração vetorial e layout de página que possiblita a criação e a manipulação
de vários produtos, como por exemplo: desenhos artísticos, publicitários; logótipos; capas de
revistas, livros, CDs; imagens de objectos para aplicação nas páginas de Internet) botões, ícones,
animações gráficas, etc) confecção de cartazes, etc.
Crackers
Usuário que acessa informações restritas, reservadas ou conficenciais, invade
computadores, sem autorização, com objetivos ilegais, descobrindo senhas ou empregando
meios irregulares, em regra causando prejuízos e/ou visando o proveito econômico.
Dvorak
O Teclado Simplificado Dvorak, desenvolvido pelos desingners August Dvorak e
William Dealey em 1920s e 1930s como uma alternativa para o mais eficiente ao QWERTY.
Ele é o mais recomendado por ergonomistas, pois, uma pessoa digitando no DVORAK em
inglês se esforça 20 vezes menos do que se estivesse digitando num teclado QWERTY.
Engenharia reversa
É o processo de análise de um artefato (um aparelho, um componente elétrico, um
programa de computador, etc.) e dos detalhes de seu funcionamento, geralmente com a intenção
de construir um novo aparelho ou programa que faça a mesma coisa, sem realmente copiar
alguma coisa do original.
Fork
Em engenharia de software, um fork acontece quando um desenvolvedor (ou um grupo
de desenvolvedores) pega o código de um projeto e decide começar outro independente do
anterior.
Gnu/Linux
Linux é um núcleo (ou "cerne"; em Inglês ‘kernel’), o que propriamente se refere ao
sistema de software que oferece uma camada de abstração referente a equipamentos como
discos, controle de sistema de arquivos, multi-tarefa, balanceamento de carga, rede e segurança.
Um núcleo não é um sistema operacional completo. Sistemas completos construídos em torno
do kernel do Linux usam o sistema GNU que oferece um interpretador de comandos, utilitários,
bibliotecas, compiladores e ferramentas, bem como outros programas como o editor Emacs. Por
essa razão, Richard M. Stallman, criador e líder do projeto GNU, pede aos usuários que se
refiram ao sistema completo como GNU/Linux.
Hacker
Entre programadores, o termo refere-se a pessoas habilidosas em programação,
adminstração e segurança. Originalmente o termo indica um especialista em qualquer área.
IIS
O IIS (Internet Information Services) é um servidor de páginas web criado pela
Microsoft para seus sistemas operacionais para servidores. Sua primeira versão foi introduzida
com o Windows NT Server versão 4, e passou por várias atualizações.
Intranet
Intranet é uma rede de computadores privativa que utiliza as mesmas tecnologias que são
utilizadas na Internet. Uma Intranet pode ou não estar conectada a Internet ou a outras redes.
Interoperabilidade
É a capacidade de softwares e equipamentos computacionais de se comunicar uns com
os outros conforme regras pré-estabelecidas.
Kernel
Kernel é o núcleo de um sistema operacional, a parte considerada mais complexa e
importante de um sistema.
Macintosh
Macintosh, ou Mac, é o nome dos computadores pessoais fabricados e comercializados
pela Apple Computer desde janeiro de 1984. O nome deriva de McIntosh, um tipo de maçã
apreciado por Jef Raskin. O Macintosh foi o primeiro computador pessoal a popularizar a
interface gráfica (GUI), na época um desenvolvimento revolucionário. Ele é muito utilizado
para o tratamento de vídeo, imagem e som.
OEM
Sigla para o termo em inglês Original Equipment Manufacturer. É uma modalidade
diferenciada de distribuição de softwares, onde eles não são comercializados aos consumidores
finais, mas unicamente aos fabricantes de computadores. Neste tipo de contrato, o software é
normalmente associado à máquina com a qual foi distribuída, a qual, não pode ser revendida ou
instalada em outro computador pelo próprio usuário.
Processador
Processadores são circuitos digitais que realizam operações como: cópia de dados,
acesso a memórias e operações lógicas e matemáticas, sendo o principal componente de um
computador. Os processadores comuns trabalham apenas com lógica digital binária.
Qwerty
QWERTY é o layout de teclados actualmente mais utilizado em computadores e
máquinas de escrever. O nome vem das primeiras 6 letras "QWERTY".
RISC
Reduced Instruction Set Computer ou Conjunto reduzido de instruções computacionais
(RISC), é uma linha de arquitetura de computadores que favorece um conjunto simples e
pequeno de instruções que levam aproximadamente a mesma quantidade de tempo para serem
executadas. A maioria dos microprocessadores modernos são RISCs, por exemplo DEC Alpha,
SPARC, MIPS, e PowerPC. O tipo de microprocessador mais largamente usado em desktops, o
x86, é mais CISC do que RISC, embora chips mais novos traduzam instruções x86 baseadas em
arquitetura CISC em formas baseadas em arquitetura RISC mais simples prioridade de
execução.
Scanner
O Digitalizador ou Scanner é um equipamento eletrônico responsável por digitalizar
imagens, fotos e textos para o computador.
Servidores
Em informática, um servidor é um computador que fornece serviços a uma rede de
computadores. Esses serviços podem ser de diversa natureza, por exemplo, servidor de
arquivos, servidor de correio eletrônico ou servidor de web. Os computadores que acedem aos
serviços de um servidor são chamados clientes.
Software
Conjunto de instruções passadas para um computador para que ele execute um
determinada tarefa. Essas instruções são criadas a partir de linguagens de programação
apropriadas.
Software Livre
O termo Software Livre se refere aos softwares que são fornecidos aos seus usuários
com a liberdade de executar, estudar, modificar e repassar (com ou sem alterações) sem que,
para isso, os usuários tenham que pedir permissão ao autor do programa.
SQL ANSI
Structured Query Language, ou Linguagem de Questões Estruturadas ou SQL, é uma
linguagem de pesquisa declarativa para banco de dados relacional, normatizada pela American
National Standarts Institute – ANSI.
Stored procedure
Stored Procedure é uma coleção de comandos executados em Banco de dados,
normalmente usados para acelerar procedimentos repetitivos
UNIX
UNIX é um Sistema Operativo (ou sistema operacional) portável, multitarefa e
multiusuário originalmente criado por um grupo de programadores da AT&T e dos Bell Labs
Upgrade
Atualizar, modernizar; tornar (um sistema, software ou hardware) mais poderoso ou mais
atualizado adicionando novo equipamento ou atualizando o software com sua última versão.
World Wide Web
A World Wide Web -- "a Web" ou "WWW" para encurtar -- ("teia do tamanho do
mundo", traduzindo literalmente) é uma rede de computadores na Internet que fornece
informação em forma de hipertexto. Para ver a informação, pode-se usar um software chamado
navegador (browser) para descarregar informações (chamadas "documentos" ou "páginas") de
servidores de internet (ou "sites") e mostrá-los na tela do usuário. O usuário pode então seguir
os links na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta para o
servidor para interagir com ele. O ato de seguir links é comumente chamado de "surfar" na
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