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Não me envergonho do Evangelho,pois é o poder de Deus para a salvaçãode todo o que crê – primeiro do judeu,e também do grego. (Romanos 1:16)
UM EVANGELHO IMPOSSÍVEL
O apóstolo Paulo, na carne, tinha todas as razões
para se envergonhar do Evangelho que pregava,
porque contradizia absolutamente tudo o que era
considerado verdade e sagrado entre os seus
contemporâneos.
E ainda tinha mais uma razão: o Evangelho é uma
mensagem absolutamente impossível e
inacreditável; uma palavra absurda para a
sabedoria do mundo.
Enquanto cristãos, às vezes falhamos em perceber
quão espantoso é quando alguém verdadeiramente
crê na nossa mensagem. Num certo sentido, o
Evangelho é tão inacreditável que a sua expansão
desde o Império Romano é a prova da sua
natureza sobrenatural. O que poderia fazer um
gentio – que desconhecia por completo as
Escrituras do Velho Testamento e estava enraizado
na filosofia grega ou nas superstições pagãs –
acreditar em tal mensagem, de um homem
chamado Jesus?
• Ele nasceu sob circunstâncias duvidosas,
numa família pobre de uma das mais desprezadas
regiões do Império Romano; e mesmo assim, o
Evangelho afirma que ele era o eterno Filho de
Deus, que foi concebido pelo Espírito Santo no
ventre de uma virgem judia.
• Ele era um carpinteiro e um pregador religioso
itinerante, sem nenhuma formação oficial; e mesmo
assim, o Evangelho afirma que ele foi além da
sabedoria dos filósofos gregos e da erudição dos
romanos antigos.
• Ele era pobre e não tinha lugar para deitar a
cabeça; e mesmo assim, o Evangelho afirma que,
ao longo de três anos, ele alimentou milhares com
uma palavra, curou todo o tipo de doenças entre os
homens e até ressuscitou mortos.
• Ele foi crucificado fora de Jerusalém como um
blasfemo e inimigo do Estado; e mesmo assim, o
Evangelho afirma que a sua morte foi o evento
crucial da História humana e é o único meio de
salvação do pecado e de reconciliação com Deus.
• Ele foi colocado num sepulcro emprestado; e
mesmo assim, o Evangelho afirma que ao terceiro
dia ele ressuscitou dentre os mortos e se
apresentou a muitos dos seus seguidores.
Quarenta dias depois, ascendeu aos céus e
sentou-se à destra de Deus.
Assim, o Evangelho afirma que um pobre
carpinteiro judeu, que foi rejeitado pelo seu próprio
povo como um lunático e blasfemo e foi crucificado
pelo Estado, é agora o Salvador do mundo, o
Senhor dos senhores e Rei dos reis. Ao seu nome
todo o joelho – incluindo o de César – se dobrará.
Quem poderia algum dia acreditar em tal
mensagem, a não ser pelo poder de Deus? Não há
outra explicação. O Evangelho nunca teria saído de
Jerusalém, muito menos teria ido por todo o
Império Romano e por todas as nações do mundo,
a menos que Deus tivesse planeado trabalhar
através dele. A mensagem teria morrido à
nascença se dependesse de aptidões
organizacionais, da eloquência ou da apologética
dos pregadores. Todas as estratégias missionárias
do mundo e todos os esquemas de marketing
copiados de Wall Street não poderiam ter feito
avançar esta mensagem tola e problemática.
Esta verdade é, tanto um encorajamento, como um
aviso para os que procuram propagar a fé na qual
crêem.
Primeiro, é um encorajamento saber que a
proclamação simples e fiel do Evangelho vai
garantir a continuação da sua propagação no
mundo. Em segundo lugar, é um aviso para que
não sucumbamos à mentira que diz que podemos
fazer avançar o Evangelho através do nosso
brilhantismo, eloquência ou estratégias inteligentes.
Tais coisas não têm o poder de gerar a
“impossível” conversão dos homens. Temos que
nos lançar, com um desespero esperançoso, no
único meio bíblico de propagação do Evangelho –
a proclamação corajosa e clara da mensagem da
qual não nos envergonhamos, porque: “É o poder
de Deus para a salvação de todo o que crê!”
Vivemos numa era de descrença e cepticismo. A
nossa fé é ridicularizada, vista como um mito inútil,
e nós somos rotulados como uns fanáticos de
mente fechada, ou como umas mentes pobres,
vítimas de uma artimanha religiosa.
Tais ataques muitas vezes põem-nos na
defensiva, e esforçamo-nos para retaliar, para
provar a nossa posição e relevância com a
apologética. Embora algumas áreas desta
disciplina sejam muito úteis e necessárias, temos
que perceber que o poder ainda permanece na
proclamação do Evangelho. Não conseguimos
levar um homem a crer, tal como não conseguimos
ressuscitar mortos. É trabalho do Espírito de Deus.
Os homens são trazidos à fé apenas através da
obra sobrenatural de Deus, e Ele prometeu fazê-lo,
não por sabedoria humana ou conhecimento
intelectual, mas pela pregação de Cristo crucificado
e ressurrecto dentre os mortos!
Temos que aprender a lidar com o facto de que o
nosso Evangelho é uma mensagem inacreditável.
Não devíamos esperar que alguém nos ouvisse,
muito menos cresse, a não ser por um gracioso e
poderoso trabalho do Espírito de Deus. Quão sem
esperança está a nossa pregação longe do poder
de Deus! Quão dependente de Deus é o pregador!
Todo o nosso evangelismo não é mais do que um
trabalho tolo a menos que Deus mova os corações
dos homens. Contudo, Ele prometeu fazer isso se
nós formos fiéis a pregar essa singular mensagem
que tem poder para salvar – o Evangelho!
UM EVANGELHO PODEROSO
Nas Escrituras abundam demonstrações do poder
de Deus. Ele cria o mundo com uma palavra. Faz
sair o exército de estrelas segundo o seu número.
Chama-as pelos seus nomes, por causa da
grandeza do Seu força, e da força do Seu poder,
nenhuma delas faltará. (ver Is.40:26)
Ele separa os mares com um sopro das suas
narinas. Os montes derretem-se perante Ele como
cera diante do fogo, como as águas que se
precipitam num abismo (ver Mq.1:4). Brinca com o
Leviatã como com um passarinho. Segundo a Sua
vontade Ele opera com o exército do céu e os
moradores da terra. Não há quem possa estorvar a
sua mão, e lhe diga: “Que fazes?” (ver Dn.4:35).
Assim é o poder do nosso Deus, e nenhuma destas
demonstrações de força divina se podem comparar
ao poder revelado através do Evangelho de Jesus
Cristo.
Reconhecendo que o Evangelho é loucura para os
homens, um escândalo para todos, podemos agora
começar a apreciar a exultação de Paulo no poder
do Evangelho. Por esta razão, ele podia, no
Areópago, declarar que um Judeu crucificado é o
Deus do Universo, e o Salvador do mundo! Ele não
precisava de argumentos persuasivos ou
eloquência no discurso. Ele sabia que os homens
seriam convertidos se ele continuasse a pregar
corajosamente e claramente esta singular
mensagem. Foi esta mesma confiança que
sustentou William Carey e tantos outros incontáveis
missionários nos longos anos de seca antes da
colheita. O Evangelho é o poder de Deus para
salvação. Os homens serão convertidos se ele for
pregado!
A palavra “poder” é traduzida do grego dúnamis, da
qual deriva a palavra “dinamite”. Não há nada de
subtil acerca deste agente explosivo. Quando é
dada a ignição, poder é libertado, e os efeitos são
evidentes para todos.
O mesmo pode ser dito do Evangelho de Jesus
Cristo. A verdadeira pregação do Evangelho vai
criar distúrbios. Quer os homens corram para ele
com uma violenta paixão, quer se oponham com
igual violência. Qualquer das formas, vai aborrecer
o mundo.
A genuína conversão de um homem pelo
Evangelho é possivelmente a maior demonstração
de poder de Deus. Seria mais expectável um
homem experimentar uma explosão de dinamite no
seu colo e não notar os efeitos do seu poder, do
que ser salvo pelo Evangelho e não ser
radicalmente transformado.
Quanto ao poder do Evangelho, é útil fazermos a
nós mesmos duas questões. A primeira é:
“Reconhecemos o grande poder que é necessário
para salvar os homens?” A salvação não é um
trabalho leve, é impossível, a não ser para Deus.
Isso deve-se à condição decaída, e de corrupção
moral, do homem. As Escrituras ensinam que a
imagem de Deus no homem foi seriamente
desfigurada, e que a corrupção moral poluiu o seu
ser por completo. Desta forma, o homem declarou
guerra a Deus e faz tudo, com a força que tem,
para suprimir a Sua verdade.
As Escrituras ensinam que o homem não pode ir a
Deus, porque ele não quer ir a Deus, e ele não
quer ir a Deus porque o seu coração é mau. Jesus
ensinou esta verdade em João 3:19-20:
“E a condenação é esta: que a luz veio ao mundo,
e os homens amaram mais as trevas do que a luz,
porque as suas obras eram más. Porque todo
aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a
luz, para que as suas obras não sejam
reprovadas.”
Os muros de depravação que envolvem o coração
de um homem são muito maiores e mais fortes do
que aqueles que envolviam Jericó. Se os homens
não conseguem derrubar os muros de uma cidade
com um grito, também não vão conseguir derrubar
a depravação nos seus próprios corações. Tem
que ser o poder de Deus. Por esta razão,
frequentemente se diz que o poder de Deus
manifestado na salvação de um homem excede
muito o poder de Deus manifestado na criação do
Universo. Deus criou o mundo ex nihilo, do nada.
Contudo, quando Deus salva um homem, faz uma
coisa muito mais difícil. É muito mais fácil criar algo
“bom” do nada, do que recriar algo “bom” de uma
massa decaída de corrupção.
Não conseguimos realmente apreciar o poder do
Evangelho na salvação de um homem até que
compreendamos algo da queda e corrupção moral
do homem. Quanto mais vemos a depravação do
homem, mais vemos o poder do Evangelho na
salvação. Também nos tornamos profundamente
cientes de que as metodologias e estratégias de
marketing, tabuletas e anúncios à vista, da maioria
do evangelicalismo contemporâneo são vaidade.
Se os homens devem ser salvos, devem ser salvos
pelo sobrenatural poder de Deus através da
pregação do Evangelho!
A segunda pergunta é: “Reconhecemos que o
poder para salvar se encontra unicamente no
Evangelho?”
O Evangelho de Jesus Cristo é o poder de Deus
para salvação. Não é apenas o principal, ou uma
parte, mas é o todo. Para ter grande influência nos
homens, só precisa se proclamado. Não é preciso
uma revisão para se tornar relevante, uma
adaptação para ser entendido, ou uma defesa para
ser validado. Se ficarmos de pé e o proclamarmos,
ele cuidará de si mesmo.
Um pregador que deixe de lado todo o seu arsenal
(à excepção da proclamação do Evangelho, a
obra da intercessão, e o trabalho do amor
sacrificial) fará mais pelo mundo do que todos os
esquemas dos estrategas e inovadores.
Um estudo do evangelicalismo contemporâneo
mostra que este corajoso pensamento já não é
crido. Apenas soa bem nos hinos antigos, mas
realmente crer nele e aplicá-lo seria considerado
ingénuo, no mínimo. Muitas das “igrejas modelo”
dos nossos dias mais parecem uma Six Flags over
Jesus1 do que o barco de Sião2. Eles não só
oferecem o evangelho (uso este termo de forma
hesitante), mas oferecem também tantos outros
atractivos, que se torna difícil – se não impossível –
encontrar o Evangelho. O poder já não reside
numa mensagem simples, mas em fortes
lideranças, estratégias revolucionárias,
sensibilidade cultural e capacidade de moldar a
Igreja conforme o que a cultura ditar.
À medida que o nosso mundo se torna
progressivamente menos religioso e mais anti-
cristão, o evangelicalismo corre sem rumo,
tentando encontrar um remédio. Estudamos
cuidadosamente as modas e tendências da nossa
cultura e depois fazemos as necessárias mudanças
ao Evangelho para o manter relevante. Quando a
nossa cultura já não quer o que temos, damos-lhes
o que querem. Quando isso gera uma multidão de
homens carnais, escrevemos um livro do tipo
“como conseguir...” que explica a estratégia que
usámos para outros a seguirem. Contudo,
falhamos em perceber que não estamos tornar o
Evangelho relevante. Só estamos a procurar
agradar a uma cultura sem Deus, para a manter
dentro dos nossos muros. No fim, o Evangelho vai-
-se, Deus não é honrado, e a cultura vai para o
inferno.
A Igreja precisa de homens que façam frente à
oposição das massas, com nada que os ajude ou
defenda, além do Evangelho e do Deus que
prometeu trabalhar através dele.
Quão incómoda era a armadura de Saul para
David, e quão ridículo estava David com ela? A sua
agilidade e força foram enfraquecidas pelo enorme
peso dela. Mesmo assim, ele tomou a decisão
crucial de a tirar, e enfrentar o gigante com nada
mais do que o Nome do Senhor.
Da mesma forma, temos que recusar a armadura e
as armas de Saul, e ir à batalha com nada mais do
que “as pedras lisas” do Evangelho.
Temos que tomar a decisão crucial de deixar de
lado as propagandas, as estratégias, as técnicas
inteligentes do evangelismo dos tempos modernos,
e enfrentar os gémeos gigantes da descrença e
cepticismo, com Bíblias abertas e a mensagem
clara e descomprometida de Cristo crucificado.
Então, veremos o poder de Deus manifestado na
genuína conversão dos maiores pecadores.
© Heart Cry Missionary Society.
Website: www.heartcrymissionary.com
Original: Paul Washer: HeartCry Magazine – Set-Out2008,
nº58, “An Impossible, yet Powerful Gospel”, usado com
permissão.
Tradução e adaptação: www.portaltestemunho.blogspot.com
Nota do Tradutor:1 Nome de uma mega-igreja americana2 Alusão ao antigo hino “The old ship of Zion”
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