CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA PRIMEIRA PARTE CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA PRÓLOGO "PAI, ... a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo" (Jo 17,3). "Deus, nosso Salvador ... quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2,3-4). "Não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12), afora o nome de JESUS. I - A VIDA DO HOMEM CONHECER E AMAR A DEUS 1) Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade de sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os tempos se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros de sua vida bem-aventurada. 2) A fim de que este chamado ressoe pela terra inteira, Cristo enviou os apóstolos que escolhera, dando-lhes o mandato de anunciar o Evangelho: "Ide, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20). Fortalecidos com esta missão, os apóstolos “saíram a pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). 3) Os que com a ajuda de Deus acolheram o chamado de Cristo e lhe responderam livremente foram por sua vez impulsionados pelo amor de Cristo a anunciar por todas as partes do mundo a Boa Notícia. Este tesouro recebido dos apóstolos foi guardado fielmente por seus sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração, anunciando a fé, vivendo-a na partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na oração . II. Transmitir a fé - a catequese 4) Bem cedo passou-se a chamar de catequese o conjunto de esforços empreendidos na Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a crerem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, por meio da fé, tenham a vida em nome dele, para educá-los e instruí-los nesta vida, e assim construir o Corpo de Cristo. . 5) "A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, a qual compreende especialmente um ensino da doutrina cristã, dado em geral de maneira orgânica e sistemática, com o fim de os iniciar na plenitude da vida cristã." 6) Sem confundir-se com eles, a catequese se articula em torno de determinado número de elementos da missão pastoral da Igreja que têm um aspecto catequético e que preparam a catequese ou dela derivam: primeiro anúncio do Evangelho ou pregação missionária para suscitar a fé; busca das razões de crer; experiência de vida cristã; celebração dos sacramentos; integração na comunidade eclesial; testemunho apostólico e missionário. 7) "A catequese anda intimamente ligada com toda a vida da Igreja. Não é somente a extensão geográfica e o aumento numérico, mas também e mais ainda o crescimento interior da Igreja, sua correspondência ao desígnio de Deus que dependem da catequese mesma."
1. CATECISMO DA IGREJA CATLICA PRIMEIRA PARTE CATECISMO DA
IGREJA CATLICA PRLOGO "PAI, ... a vida eterna esta: que eles te
conheam a ti, o Deus nico verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus
Cristo" (Jo 17,3). "Deus, nosso Salvador ... quer que todos os
homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1 Tm
2,3-4). "No h, debaixo do cu, outro nome dado aos homens pelo qual
devamos ser salvos" (At 4,12), afora o nome de JESUS. I - A VIDA DO
HOMEM CONHECER E AMAR A DEUS 1) Deus, infinitamente Perfeito e
Bem-aventurado em si mesmo, em um desgnio de pura bondade, criou
livremente o homem para faz-lo participar de sua vida
bem-aventurada. Eis por que, desde sempre e em todo lugar, est
perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procur-lo, a conhec-lo e a
am-lo com todas as suas foras. Convoca todos os homens, dispersos
pelo pecado, para a unidade de sua famlia, a Igreja. Faz isto por
meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador quando os tempos
se cumpriram. Nele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no
Esprito Santo, seus filhos adotivos, e portanto os herdeiros de sua
vida bem-aventurada. 2) A fim de que este chamado ressoe pela terra
inteira, Cristo enviou os apstolos que escolhera, dando-lhes o
mandato de anunciar o Evangelho: "Ide, fazei que todas as naes se
tornem discpulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
Esprito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E
eis que eu estou convosco todos os dias at a consumao dos sculos"
(Mt 28,19-20). Fortalecidos com esta misso, os apstolos saram a
pregar por toda parte, agindo com eles o Senhor, e confirmando a
Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" (Mc 16,20). 3) Os
que com a ajuda de Deus acolheram o chamado de Cristo e lhe
responderam livremente foram por sua vez impulsionados pelo amor de
Cristo a anunciar por todas as partes do mundo a Boa Notcia. Este
tesouro recebido dos apstolos foi guardado fielmente por seus
sucessores. Todos os fiis de Cristo so chamados a transmiti-lo de
gerao em gerao, anunciando a f, vivendo-a na partilha fraterna e
celebrando-a na liturgia e na orao . II. Transmitir a f - a
catequese 4) Bem cedo passou-se a chamar de catequese o conjunto de
esforos empreendidos na Igreja para fazer discpulos, para ajudar os
homens a crerem que Jesus o Filho de Deus, a fim de que, por meio
da f, tenham a vida em nome dele, para educ-los e instru-los nesta
vida, e assim construir o Corpo de Cristo. . 5) "A catequese uma
educao da f das crianas, dos jovens e dos adultos, a qual
compreende especialmente um ensino da doutrina crist, dado em geral
de maneira orgnica e sistemtica, com o fim de os iniciar na
plenitude da vida crist." 6) Sem confundir-se com eles, a catequese
se articula em torno de determinado nmero de elementos da misso
pastoral da Igreja que tm um aspecto catequtico e que preparam a
catequese ou dela derivam: primeiro anncio do Evangelho ou pregao
missionria para suscitar a f; busca das razes de crer; experincia
de vida crist; celebrao dos sacramentos; integrao na comunidade
eclesial; testemunho apostlico e missionrio. 7) "A catequese anda
intimamente ligada com toda a vida da Igreja. No somente a extenso
geogrfica e o aumento numrico, mas tambm e mais ainda o crescimento
interior da Igreja, sua correspondncia ao desgnio de Deus que
dependem da catequese mesma."
2. 8) Os perodos de renovao da Igreja so tambm tempos fortes da
catequese. Eis por que, na grande poca dos Padres da Igreja, vemos
Santos Bispos dedicarem uma parte importante de seu ministrio
catequese. a poca de So Cirilo de Jerusalm e de So Joo Crisstomo,
de Santo Ambrsio e de Santo Agostinho, e de muitos outros Padres
cujas obras catequticas permanecem como modelos. 9) O ministrio da
catequese haure energias sempre novas nos Conclios. O Conclio de
Trento constitui neste ponto um exemplo a ser sublinhado: deu
catequese prioridade em suas constituies e em seus decretos; est
ele na origem do Catecismo Romano, que tambm leva seu nome e
constitui uma obra de primeira grandeza como resumo da doutrina
crist. Este conclio suscitou na Igreja uma organizao notvel da
catequese. Graas a santos bispos e telogos, tais como So Pedro
Cansio, So Carlos Borromeu, So Turbio de Mogrovejo, So Roberto
Belarmino, levou publicao de numerosos catecismos. 10) Diante
disto, no estranha que, no dinamismo que seguiu o Conclio Vaticano
II (que o papa Paulo VI considerava como grande catecismo dos
tempos modernos), a catequese da Igreja tenha novamente despertado
a ateno. Do testemunho deste fato o Diretrio geral da Catequese, de
1971, as sesses do Snodo dos Bispos dedicadas evangelizao (1974) e
catequese (1977), as exortaes apostlicas correspondentes, Evangelii
nuntiandi (1975) e Catechesi tradendae (1979). A sesso
extraordinria do Snodo dos Bispos de 1985 pediu: "Seja redigido um
catecismo ou compndio de toda a doutrina catlica seja sobre a f
seja sobre a moral". O Santo Padre Joo Paulo II endossou este
desideratum expresso pelo Snodo dos Bispos, reconhecendo que "este
desejo responde plenamente a uma verdadeira necessidade da Igreja
universal e das Igrejas particulares". Ele envidou todos os esforos
em prol da realizao deste desideratum dos Padres do Snodo. III. O
OBJETIVO E OS DESTINATRIOS DESTE CATECISMO 11) O presente Catecismo
tem por objetivo apresentar uma exposio orgnica e sinttica dos
contedos essenciais e fundamentais da doutrina catlica tanto sobre
a f como sobre a moral, luz do Conclio Vaticano II e do conjunto da
Tradio da Igreja. Suas fontes principais so a Sagrada Escritura, os
Santos Padres, a Liturgia e o Magistrio da Igreja. Destina-se ele a
servir "como um ponto de referncia para os catecismos ou compndios
que so elaborados nos diversos pases". 12) O presente Catecismo
destinado principalmente aos responsveis pela catequese: em
primeiro lugar aos Bispos, como doutores da f e pastores da Igreja.
oferecido a eles como instrumento no cumprimento de seu ofcio de
ensinar o Povo de Deus. Por meio dos Bispos, ele se destina aos
redatores de catecismos, aos presbteros e aos catequistas. Ser
tambm til para a leitura de todos os demais fiis cristos. IV. A
ESTRUTURA DESTE CATECISMO 13) O projeto deste Catecismo inspira-se
na grande tradio dos catecismos que articulam a catequese em tomo
de quatro "pilares": a profisso da f batismal (o Smbolo), os
sacramentos da f, a vida de f (os Mandamentos), a orao do crente (o
"Pai-Nosso"). PARTE 1: A PROFISSO DA F 14) Os que pela f e pelo
Batismo pertencem a Cristo devem confessar sua f batismal diante
dos homens. Por isso, o Catecismo comea por expor em que consiste a
Revelao, pela qual Deus se dirige e se doa ao homem, bem como a f,
pela qual o homem responde a Deus (Seo 1). O Smbolo da f resume os
dons que Deus outorga ao homem como Autor de todo bem, como
Redentor, como Santificador, e os articula em tomo dos "trs
captulos" de nosso Batismo a f em um s Deus: o Pai Todo-Poderoso, o
Criador, Jesus Cristo, seu Filho, nosso Senhor e Salvador, e o
Esprito Santo, na Santa Igreja (Seo II). PARTE II: OS SACRAMENTOS
DE F 15) A segunda parte do Catecismo expe como a salvao de Deus,
realizada uma vez por todas por Cristo Jesus e pelo Esprito Santo,
se toma presente nas aes sagradas da liturgia da Igreja (Seo 1),
particularmente nos sete sacramentos (Seo II).
3. PARTE III: A VIDA DA F 16) A terceira parte do Catecismo
apresenta o fim ltimo do homem, criado imagem de Deus: a
bem-aventurana e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir
reto e livre, com a ajuda da f e da graa de Deus (Seo I), por meio
de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado
nos dez Mandamentos de Deus (Seo II). PARTE IV: A ORAO NA VIDA DA F
17) A ltima parte do Catecismo trata do sentido e da importncia da
orao na vida dos crentes (Seo 1). Ela termina com um breve
comentrio sobre os setes pedidos da orao (Seo II), Com efeito,
nesses sete pedidos encontramos o conjunto dos bens que devemos
esperar e que nosso Pai celeste quer conceder-nos. V. INDICAES
PRTICAS PARA O USO DESTE CATECISMO 18) Este Catecismo foi pensado
como uma exposio orgnica de toda a f catlica. Por isso preciso l-lo
como uma unidade. Numerosas referncias dentro do prprio texto, bem
como o ndice analtico no fim do volume permitem ver a ligao de cada
tema com o conjunto da f. 19) Muitas vezes os textos da Sagrada
Escritura no so citados literalmente, mas so feitas apenas
referncias (mediante a indicao "cf."). Para uma compreenso mais
aprofundada de tais passagens, preciso consultar os prprios textos.
Essas referncias bblicas constituem um instrumento de trabalho para
a catequese. 20) Quando em certas passagens se usa corpo menor,
graficamente isto indica que se trata de observaes de tipo
histrico, apologtico, ou de exposies doutrinais complementares. 21)
As citaes, em corpo menor, de fontes patrsticas, litrgicas,
magisteriais ou hagiogrficas so destinadas a enriquecer a exposio
doutrinal. Com freqncia esses textos foram escolhidos para uso
diretamente catequtico. 22) No final de cada unidade temtica, uma
srie de textos sucintos resumem em frmulas condensadas o essencial
do ensinam do ensinamento. Esses "resumindo" tm por objetivo
oferecer sugestes a catequese local para frmulas sintticas e
memorizveis. VI. AS ADAPTAES NECESSRIAS 23) Neste Catecismo a nfase
posta na exposio doutrinal. Quer ele ajudar a aprofundar o
conhecimento da f. Por isso mesmo est orientado para o
amadurecimento desta f, para seu enraizamento na vida e sua
irradiao no testemunho. 24) Por sua prpria finalidade, este
Catecismo no se prope realizar as adaptaes da exposio e dos mtodos
catequticos exigidas pelas diferenas de culturas, de idades, de
maturidade espiritual, de situaes sociais e eclesiais daqueles a
quem a catequese dirigida. Tais adaptaes indispensveis cabem aos
catecismos apropriados e mais ainda aos que ministram instruo aos
fiis: Aquele que ensina deve "fazer-se tudo para todos" (1 Cor
9,22), a fim de conquistar todos para Jesus Cristo...
Particularmente, no imagine ele que lhe confiado um nico tipo de
almas, e que conseqentemente lhe permitido ensinar e formar de modo
igual todos os fiis verdadeira piedade, com um s e mesmo mtodo,
sempre igual! Saiba ele bem que uns so em Jesus Cristo como que
criancinhas recm-nascidas, outros, como que adolescentes, e
finalmente alguns esto como que na posse de todas as suas foras...
Os que so chamados ao ministrio da pregao devem, na transmisso dos
mistrios da f e das regras dos costumes, adaptar suas palavras ao
esprito e inteligncia de seus ouvintes. ACIMA DE TUDO A
CARIDADE
4. 25) Para concluir este Prlogo, oportuno lembrar este
princpio pastoral enunciado pelo Catecismo Romano: Toda a
finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser posta no amor que
no acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que preciso crer,
esperar ou fazer; mas sobretudo preciso fazer sempre com que aparea
o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de
virtude perfeitamente cristo no tem outra origem seno o Amor, e
outro fim seno o Amor. PRIMEIRA PARTE - A PROFISSO DE F PRIMEIRA
SEO "EU CREIO" - "NS CREMOS" 26 Quando professamos nossa f,
comeamos dizendo: "Eu creio" ou "Ns cremos". Por isso, antes de
expor a f da Igreja tal como confessada no Credo, celebrada na
Liturgia, vivida na prtica dos Mandamentos e na orao,
perguntamo-nos o que significa "crer". A f a resposta do homem a
Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz
superabundante ao homem em busca do sentido ltimo de sua vida. Por
isso vamos considerar primeiro esta busca do homem (capitulo 1), em
seguida a Revelao divina, pela qual Deus se apresenta ao homem
(captulo II), e finalmente a resposta da f (captulo III). CAPTULO I
O HOMEM "CAPAZ DE DEUS I - O DESEJO DE DEUS 27 O desejo de Deus est
inscrito no corao do homem, j que o homem criado por Deus e para
Deus; e Deus no cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o
homem h de encontrar a verdade e a felicidade que no cessa de
procurar: O aspecto mais sublime da dignidade humana est nesta
vocao do homem comunho com Deus. Este convite que Deus dirige ao
homem, de dialogar com ele, comea com a existncia humana. Pois se o
homem existe, porque Deus o criou por amor e, por amor, no cessa de
dar-lhe o ser, e o homem s vive plenamente, segundo a verdade, se
reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador. 28 Em
sua histria, e at os dias de hoje, os homens tm expressado de
mltiplas maneiras sua busca de Deus por meio de suas crenas e de
seus comportamentos religiosos (oraes, sacrifcios, cultos, meditaes
etc.). Apesar das ambigidades que podem comportar, estas formas de
expresso so to universais que o homem pode ser chamado de um ser
religioso: De um s (homem), Deus fez toda a raa humana para habitar
sobre toda a face da terra, fixando os tempos anteriormente
determinados e os limites de seu hbitat. Tudo isto para que
procurassem a divindade e, mesmo se s apalpadelas, se esforassem
por encontr-la, embora Ele no esteja longe de cada um de ns. Pois
nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17,23-28). 29 Mas esta
"unio ntima e vital com Deus" pode ser esquecida, ignorada e at
rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter
origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a
ignorncia ou a indiferena religiosas, as preocupaes com as coisas
do mundo e com as riquezas, o mau exemplo dos crentes, as correntes
de pensamento hostis religio, e finalmente essa atitude do homem
pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de
seu chamado. 30 "Alegre-se o corao dos que buscam o Senhor!" (Sl
105,3). Se o homem pode esquecer ou rejeitar a Deus, este, de sua
parte, no cessa de chamar todo homem a procur-lo, para que viva e
encontre a felicidade. Mas esta busca exige do homem todo o esforo
de sua inteligncia, a retido de sua vontade, "um corao reto", e
tambm o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar a
Deus.
5. Vs sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande
o vosso poder, e a vossa sabedoria no tem medida. E o homem,
pequena parcela de vossa criao, pretende louvar-vos, precisamente o
homem que, revestido de sua condio mortal, traz em si o testemunho
de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o
homem, pequena parcela de vossa criao, quer louvar-vos. Vs mesmo o
incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delcias no vosso
louvor, porque nos fizestes para vs e o nosso corao no descansa
enquanto no repousar em vs. II. AS VIAS DE ACESSO AO CONHECIMENTO
DE DEUS 31 Criado imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a
Deus, o homem que procura a Deus descobre certas "vias" para aceder
ao conhecimento de Deus. Chamamo-las tambm de "provas da existncia
de Deus", no no sentido das provas que as cincias naturais buscam,
mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que
permitem chegar a verdadeiras certezas. Estas "vias" para chegar a
Deus tm como ponto de partida a criao: o mundo material e a pessoa
humana. 32 O mundo: a partir do movimento e do devir, da
contingncia, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus
como origem e fim do universo. So Paulo afirma a respeito dos
pagos: "O que se pode conhecer de Deus manifesto entre eles, pois
Deus lho revelou. Sua realidade invisvel - seu eterno poder e sua
divindade - tornou-se inteligvel desde a criao do mundo atravs das
criaturas" (Rm 1,19-20). E Santo Agostinho: "Interroga a beleza da
terra, interroga a beleza do mar, interroga a beleza do ar que se
dilata e se difunde, interroga a beleza do cu... interroga todas
estas realidades. Todas elas te respondem: olha-nos, somos belas.
Sua beleza um hino de louvor (confessio). Essas belezas sujeitas
mudana, quem as fez seno o Belo (Pulcher, pronuncie "plquer"), no
sujeito mudana?" 33 O homem: Com sua abertura verdade e beleza, com
seu senso do bem moral, com sua liberdade e a voz de sua
conscincia, com sua aspirao ao infinito e felicidade, o homem se
interroga sobre a existncia de Deus. Mediante tudo isso percebe
sinais de sua alma espiritual. Como "semente de eternidade que leva
dentro de si, irredutvel s matria" sua alma no pode ter origem seno
em Deus. 34 O [fca15] mundo e o homem atestam que no tm em si mesmo
nem seu princpio primeiro nem seu fim ltimo, mas que participam do
Ser em si, que sem origem e sem fim. Assim por estas diversas
"vias", o homem pode aceder ao conhecimento da existncia de uma
realidade que a causa primeira e o fim ltimo de tudo, "e que todos
chamam Deus" 35 As faculdades do homem o tomam capaz de conhecer a
existncia de um Deus pessoal. Mas, para que o homem possa entrar em
sua intimidade, Deus quis revelar-se ao homem e dar-lhe a graa de
poder acolher esta revelao na f. Contudo, as provas da existncia de
Deus podem dispor f e ajudar a ver que a f no se ope razo humana.
III. O CONHECIMENTO DE DEUS SEGUNDO A IGREJA 36 "A santa Igreja,
nossa me, sustenta e ensina que Deus, princpio e fim de todas as
coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razo
humana a partir das coisas criadas. Sem esta capacidade, o homem no
poderia acolher a revelao de Deus. O homem tem esta capacidade por
ser criado " imagem de Deus[fca20] . 37 Todavia, nas condies
histricas em que se encontra, o homem enfrenta muitas dificuldades
para conhecer a Deus apenas com a luz de sua razo: "Pois, embora a
razo humana, absolutamente falando, possa chegar com suas foras e
lume naturais ao conhecimento verdadeiro e certo de um Deus
pessoal, que governa e protege o mundo com sua Providncia, bem como
chegar ao conhecimento da lei natural impressa pelo Criador em
nossas almas, de fato, muitos so os obstculos que impedem a mesma
razo de usar eficazmente e com resultado desta sua capacidade
natural.
6. As verdades que se referem a Deus e s relaes entre os homens
e Deus so verdades que transcendem completamente a ordem das coisas
sensveis e quando estas verdades atingem a vida prtica e a regem,
requerem sacrifcio e abnegao. A inteligncia humana, na aquisio
destas verdades, encontra dificuldades tanto por parte dos sentidos
e da imaginao como por parte das ms inclinaes, provenientes do
pecado original. Donde vemos que os homens em tais questes,
facilmente procuram persuadir-se de que seja falso ou ao menos
duvidoso aquilo que no desejam que seja verdadeiro" 38 Por isso, O
homem tem necessidade de ser iluminado pela revelao de Deus, no
somente sobre o que ultrapassa seu entendimento, mas tambm sobre
"as verdades religiosas e morais que, de per si, no so inacessveis
razo, a fim de que estas no estado atual do gnero humano possam ser
conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem
mistura de erro IV. COMO FALAR DE DEUS? 39 Ao defender a capacidade
da razo humana de conhecer a Deus, a Igreja exprime sua confiana na
possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os
homens. Esta convico esta na base de seu dilogo com as outras
religies, com a filosofia e com as cincias, como tambm com Os
no-crentes e os ateus. 40 Uma vez que nosso conhecimento de Deus
limitado, tambm limitada nossa linguagem sobre Deus. S podemos
falar de Deus a partir das criaturas e segundo nosso modo humano
limitado de conhecer e de pensar. 41 As criaturas, todas elas,
trazem em si certa semelhana com Deus, muito particularmente o
homem criado imagem e a semelhana de Deus. Por isso as mltiplas
perfeies das criaturas (sua verdade, bondade e beleza) refletem a
perfeio infinita de Deus. Em razo disso podemos falar de Deus a
partir das perfeies de suas criaturas, "pois a grandeza e a beleza
das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor" (Sb 13,5).
42 Deus transcende a toda criatura. Por isso, preciso
incessantemente purificar nossa linguagem daquilo que possui de
limitado, de proveniente de pura imaginao, de imperfeito, para no
confundirmos o Deus "inefvel, incompreensvel, invisvel, inatingvel
com as nossas representaes humanas. Nossas palavras humanas
permanecem sempre aqum do Mistrio de Deus. 43 Assim falando de
Deus, nossa linguagem se exprime, sem dvida, de maneira humana, mas
ela atinge realmente O prprio Deus, ainda que sem poder exprimi-lo
em sua infinita simplicidade. Com efeito, preciso lembrar que
"entre o Criador e a criatura no se pode notar uma semelhana, sem
que se deva notar entre eles uma ainda maior dessemelhana, e que
"no podemos apreender de Deus o que ele , mas apenas O que ele no e
de que maneira os outros seres se situam em relao a ele. RESUMINDO
44 O homem , por natureza e por vocao, um ser religioso. Porque
provm de Deus e para Ele caminha, o homem s vive uma vida
plenamente humana se viver livremente sua relao com Deus. 45 O
homem feito para viver em comunho com Deus, no qual encontra sua
felicidade: "Quando eu estiver inteiramente em Vs, nunca mais haver
dor e provao; repleta de Vs por inteiro, minha vida ser verdadeira"
46 Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua
conscincia, o homem pode atingir a certeza da existncia de Deus,
causa e fim de tudo. 47 A Igreja ensina que o Deus nico e
verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido com certeza
por meio de suas obras graas luz natural da razo humana. 48 Podemos
realmente falar de Deus partindo das mltiplas perfeies das
criaturas, semelhanas do Deus infinitamente perfeito, ainda que
nossa linguagem limitada no esgote seu mistrio. 49 "Sem o Criador,
a criatura se esvai. Eis por que os crentes sabem que so impelidos
pelo amor de Cristo a levar a luz do Deus vivo queles que o
desconhecem ou o recusam.
7. CAPTULO II DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM 50 Mediante a razo
natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas
obras. as existe outra ordem de conhecimento que O homem de modo
algum pode atingir por suas prprias foras, a da Revelao divina. Por
uma deciso totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. F-lo
revelando seu mistrio, seu projeto benevolente, que concebeu desde
toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela
plenamente seu projeto enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor
Jesus Cristo, e o Esprito Santo ARTIGO 1 - A REVELAO DE DEUS I.
DEUS REVELA SEU "PROJETO BENEVOLENTE" 51 "Aprouve a Deus, em sua
bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tomar conhecido o
mistrio de sua vontade, pelo qual os homens, por intermdio de
Cristo, Verbo feito carne, no Esprito Santo, tm acesso ao Pai e se
tomam participantes da natureza divina[fca4] ". 52 Deus, que
"habita uma luz inacessvel" (1 Tm 6,16), quer comunicar sua prpria
vida divina aos homens, criados livremente por ele, para fazer
deles, no seu Filho nico, filhos adotivos. Ao revelar-se, Deus quer
tornar os homens capazes de responder-lhe, de conhec-lo e de am-lo
bem alm do que seriam capazes por si mesmos. 53 O projeto divino da
Revelao realiza-se ao mesmo tempo "por aes e por palavras,
intimamente ligadas entre si e que se iluminam mutuamente". Este
projeto comporta uma "pedagogia divina" peculiar: Deus comunica-se
gradualmente com o homem, prepara-o por etapas a acolher a Revelao
sobrenatural que faz de si mesmo e que vai culminar na Pessoa e na
misso do Verbo encarnado, Jesus Cristo. So Irineu de Lio fala
repetidas vezes desta pedagogia divina sob a imagem da
familiaridade mtua entre Deus e o homem: "O Verbo de Deus habitou
no homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a apreender
a Deus e acostumar Deus a habitar no homem, segundo o beneplcito do
Pai" II. AS ETAPAS DA REVELAO DESDE A ORIGEM, DEUS SE D A CONHECER
54 "Criando pelo Verbo o universo e conservando-o, Deus proporciona
aos homens, nas coisas criadas, um permanente testemunho de si e,
alm disso, no intuito de abrir o caminho de uma salvao superior,
manifestou-se a si mesmo, desde os primrdios, a nossos primeiros
pais." Convidou-os a uma comunho ntima consigo mesmo, revestindo-os
de uma graa e de uma justia resplandecentes. 55 Esta Revelao no foi
interrompida pelo pecado de nossos primeiros pais. Deus, com
efeito, "aps a queda destes, com a prometida redeno, alentou-os a
esperar uma salvao e velou permanentemente pelo gnero humano, a fim
de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverana na
prtica do bem, procuram a salvao[fca12] E quando pela desobedincia
perderam vossa amizade, no os abandonastes ao poder da morte. (...)
Oferecestes muitas vezes aliana aos homens e s mulheres. A ALIANA
COM NO 56 Desfeita a unidade do gnero humano pelo pecado, Deus
procura antes de tudo salvar a humanidade passando por cada uma de
suas partes. A Aliana com No depois do dilvio exprime o
8. princpio da Economia divina para com as "naes", isto , para
com os homens agrupados "segundo seus pases, cada um segundo sua
lngua, e segundo seus cls" (Gn 10.5) 57 Esta ordem ao mesmo tempo
csmica, social e religiosa da pluralidade das naes destina-se a
limitar o orgulho de uma humanidade decada que unnime em sua
perversidade, gostaria de construir por si mesma sua unidade
maneira de Babel[fca17] . Contudo, devido ao pecado, o politesmo,
assim como a idolatria da nao e de seu chefe, constitui uma contnua
ameaa de perverso pag para essa Economia provisria. 58 A Aliana com
No permanece em vigor durante todo o tempo das naes[fca20] , at a
proclamao universal do Evangelho. A Bblia venera algumas grandes
figuras das "naes", tais como "Abel, o justo", o rei-sacerdote
Melquisedeque, figura de Cristo, ou os justos "No, Daniel e
J[fca23] ". Assim, a Escritura exprime que grau elevado de
santidade podem atingir os que vivem segundo a Aliana de No, na
expectativa de que Cristo "congregue na unidade todos os filhos de
Deus dispersos" (Jo 11,52). DEUS ELEGE ABRAO 59 Para [fca24]
congregar a humanidade dispersa, Deus elegeu Abro, chamando-o "para
fora de seu pas, de sua parentela e de sua casa" (Gn 12,1), para
fazer dele "Abrao", isto , "o pai de uma multido de naes" (Gn
17,5): "Em ti sero abenoadas todas as naes da terra" (Gn
12,3[fca25] ). 60 O povo originado de Abrao ser o depositrio da
promessa feita aos patriarcas, o povo da eleio, chamado a preparar
o congraamento, um dia, de todos os filhos de Deus na unidade da
Igreja; ser a raiz sobre a qual sero enxertados os pagos tornados
crentes. 61 Os patriarcas e os profetas, bem como outras
personalidades do Antigo Testamento, foram e sero sempre venerados
como santos em todas as tradies litrgicas da Igreja. DEUS FORMA SEU
POVO ISRAEL 62 Depois dos patriarcas, Deus formou Israel como seu
povo, salvando-o da escravido do Egito. Fez com ele a Aliana do
Sinal e deu-lhe, por intermdio de Moiss, a sua Lei, para que o
reconhecesse e o servisse como o nico Deus vivo e verdadeiro, Pai
providente e juiz justo, e para que esperasse o Salvador prometido.
63 Israel o Povo sacerdotal de Deus, aquele que "traz o Nome do
Senhor" (Dt 28,10). o povo daqueles "aos quais Deus falou em
primeiro lugar[fca34] ", o povo dos "irmos mais velhos" da f de
Abrao. 64 Por meio dos profetas, Deus forma seu povo na esperana da
salvao, na expectativa de uma Aliana nova e eterna destinada a
todos os homens[fca37] , e que ser impressa nos coraes. Os profetas
anunciam uma redeno radical do Povo de Deus, a purificao de todas
as suas infidelidades, uma salvao que incluir todas as naes. Sero
sobretudo os pobres e os humildes do Senhor os portadores desta
esperana. As mulheres santas como Sara, Rebeca, Raquel, Mriam,
Dbora, Ana, Judite e Ester mantiveram viva a esperana da salvao de
Israel. Delas todas, a figura mais pura a de Maria. III. CRISTO
JESUS "MEDIADOR E PLENITUDE DE TODA A REVELAO" DEUS TUDO DISSE NO
SEU VERBO 65 "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora,
aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que so os ltimos,
falou-nos por meio do Filho" (Hb 1,1-2). Cristo, o Filho de Deus
feito homem, a Palavra nica, perfeita e insupervel do Pai. Nele o
Pai disse tudo, e no h outra palavra seno esta. So Joo da Cruz,
depois de tantos outros, exprime isto de maneira luminosa,
comentando Hb 1,1-2: Porque em dar-nos, como nos deu, seu Filho,
que sua Palavra nica (e outra no h), tudo nos falou de uma s vez
nessa nica Palavra, e nada mais tem a falar, (...) pois o que antes
falava por partes aos profetas agora nos revelou inteiramente,
dando-nos o Tudo que seu Filho. Se atualmente, portanto, algum
9. quisesse interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma viso ou
revelao, no s cairia numa insensatez, mas ofenderia muito a Deus
por no dirigir os olhares unicamente para Cristo sem querer outra
coisa ou novidade alguma. NO HAVER OUTRA REVELAO 66 "A Economia
crist, portanto, como aliana nova e definitiva, jamais passar, e j
no h que esperar nenhuma nova revelao pblica antes da gloriosa
manifestao de Nosso Senhor Jesus Cristo". Todavia, embora a Revelao
esteja terminada, no est explicitada por completo; caber f crist
captar gradualmente todo o seu alcance ao longo dos sculos. 67 No
decurso dos sculos houve revelaes denominadas "privadas", e algumas
delas tm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas no
pertencem, contudo, ao depsito da f. A funo delas no "melhorar" ou
"completar" a Revelao [fca49] definitiva de Cristo, mas ajudar a
viver dela com mais plenitude em determinada poca da histria.
Guiado pelo Magistrio da Igreja, o senso dos fiis sabe discernir e
acolher o que nessas revelaes constitui um apelo autntico de Cristo
ou de seus santos Igreja. A f crist no pode aceitar "revelaes" que
pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelao da qual Cristo a
perfeio. Este o caso de certas religies no-crists e tambm de certas
seitas recentes que se fundamentam em tais "revelaes. RESUMINDO 68
Por amor, Deus revelou-se e doou-se ao homem. Traz assim uma
resposta definitiva e superabundante s questes que o homem se faz
acerca do sentido e do objetivo de sua vida. 69 Deus revelou-se ao
homem, comunicando-lhe gradualmente seu prprio Mistrio por meio de
aes e de palavras. 70 Para alm do testemunho que Deus d de si mesmo
nas coisas criadas, ele manifestou-se pessoalmente aos nossos
primeiros pais. Falou-lhes e, depois da queda, prometeu-lhes a
salvao e ofereceu-lhes sua aliana. 71 Deus fez com No uma aliana
eterna entre Ele e todos os seres vivos[fca51] . Esta h de durar
enquanto durar o mundo. 72 Deus escolheu Abrao e fez uma aliana com
ele e sua descendncia. Da formou seu povo, ao qual revelou sua lei
por intermdio de Moiss. Pelos profetas preparou este povo a acolher
a salvao destinada humanidade inteira. 73 Deus revelou-se
plenamente enviando seu prprio Filho, no qual estabeleceu sua
Aliana para sempre. O Filho a Palavra definitiva do Pai, de sorte
que depois dele no haver outra Revelao. ARTIGO 2 A TRANSMISSO DA
REVELAO DIVINA 74 Deus "quer que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,4), isto , de Jesus
Cristo[fca1] . preciso, pois, que Cristo seja anunciado a todos os
povos e a todos os homens, e que desta forma a Revelao chegue at as
extremidades do mundo: Deus disps com suma benignidade que aquelas
coisas que revelara para a salvao de todos os povos permanecessem
sempre ntegras e fossem transmitidas a todas as geraes. 1. A TRADIO
APOSTLICA 75 "Cristo Senhor, em quem se consuma a revelao do Sumo
Deus, ordenou aos Apstolos que o Evangelho, prometido antes pelos
profetas, completado por ele e por sua prpria boca promulgado,
fosse
10. por eles pregado a todos os homens como fonte de toda a
verdade salvfica e de toda a disciplina de costumes,
comunicando-lhes os dons divinos." A PREGAO APOSTLICA... 76 A
transmisso do Evangelho, segundo a ordem do Senhor, fez-se de duas
maneiras: oralmente - "pelos apstolos, que na pregao oral, por
exemplos e instituies, transmitiram aquelas coisas que ou receberam
das palavras, da convivncia e das obras de Cristo ou aprenderam das
sugestes do Esprito Santo"; por escrito - "como tambm por aqueles
apstolos e vares apostlicos que, sob inspirao do mesmo Esprito
Santo, puseram por escrito a mensagem da salvao[fca6] "
...CONTINUADA NA SUCESSO APOSTLICA 77 "Para que o Evangelho sempre
se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apstolos deixaram
como sucessores os bispos, a eles 'transmitindo seu prprio encargo
de Magistrio." Com efeito, "a pregao apostlica, que expressa de
modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma
sucesso contnua at a consumao dos tempos". 78 Esta transmisso viva,
realizada no Esprito Santo, chamada de Tradio enquanto distinta da
Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Por meio da
Tradio, "a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e
transmite a todas as geraes tudo o que ela , tudo o que cr". "O
ensinamento dos Santos Padres testemunha a presena vivificante
desta Tradio, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da
Igreja crente e orante." 79 Assim, a comunicao que o Pai fez de si
mesmo por seu Verbo no Esprito Santo permanece presente e atuante
na Igreja: "O Deus que outrora falou mantm um permanente dilogo com
a esposa de seu dileto Filho, e o Esprito Santo, pelo qual a voz
viva do Evangelho ressoa na Igreja e atravs dela no mundo, leva os
crentes verdade toda e faz habitar neles abundantemente a palavra
de Cristo" II. A RELAO ENTRE A TRADIO E A SAGRADA ESCRITURA UMA
FONTE COMUM... 80 "Elas esto entre si estreitamente unidas e
comunicantes. Pois, promanando ambas da mesma fonte divina, formam
de certo modo um s todo e tendem para o mesmo fim." Tanto uma como
outra tornam presente e fecundo na Igreja o mistrio de Cristo, que
prometeu permanecer com os seus "todos os dias, at a consumao dos
sculos" (Mt 28,20). DUAS MODALIDADES DISTINTAS DE TRANSMISSO 81 "A
SAGRADA ESCRITURA A PALAVRA DE DEUS ENQUANTO REDIGIDA SOB A MOO DO
ESPRITO SANTO". Quanto Sagrada Tradio, ela "transmite integralmente
aos sucessores dos apstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo
Senhor e pelo Esprito Santo aos apstolos para que, sob a luz do
Esprito de verdade, eles, por sua pregao, fielmente a conservem,
exponham e difundam". 82 Dai resulta que a Igreja, qual esto
confiadas a transmisso e a interpretao da Revelao, "no deriva a sua
certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada
Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual
sentimento de piedade e reverncia" TRADIO APOSTLICA E TRADIES
ECLESIAIS
11. 83 A Tradio da qual aqui falamos a que vem dos apstolos e
transmite o que estes receberam do ensinamento e do exemplo de
Jesus e o que receberam por meio do Esprito Santo Com efeito, a
primeira gerao de cristos ainda no dispunha de um Novo Testamento
escrito, e o prprio Novo Testamento atesta o processo da Tradio
viva. Dela preciso distinguir as "tradies" teolgicas,
disciplinares, litrgicas ou devocionais surgidas ao longo do tempo
nas Igrejas locais. Constituem elas formas particulares sob as
quais a grande Tradio recebe expresses adaptadas aos diversos
lugares e s diversas pocas. luz da grande Tradio que estas podem
ser mantidas, modificadas ou mesmo abandonadas, sob a guia do
Magistrio da Igreja. III. A INTERPRETAO DO DEPSITO DA F O DEPSITO
DA F CONFIADO TOTALIDADE DA IGREJA 84 "O patrimnio sagrado" da f
("depositum fidei"), contido na Sagrada Tradio e na Sagrada
Escritura, foi confiado pelos apstolos totalidade da Igreja.
"Apegando-se firmemente ao mesmo, o povo santo todo, unido a seus
Pastores, persevera continuamente na doutrina dos apstolos e na
comunho, na frao do po e nas oraes, de sorte que na conservao, no
exerccio e na profisso da f transmitida se crie uma singular
unidade de esprito entre os bispos e os fiis." O MAGISTRIO DA
IGREJA 85 "O ofcio de interpretar autenticamente a Palavra de Deus
escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistrio vivo da
Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo", isto ,
foi confiado aos bispos em comunho com o sucessor de Pedro, o bispo
de Roma. 86"Todavia, tal Magistrio no est acima da Palavra de Deus,
mas a servio dela, no ensinando seno o que foi transmitido, no
sentido de que, por mandato divino, com a assistncia do Esprito
Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e
fielmente a expe, e deste nico depsito de f tira o que nos prope
para ser crido como divinamente revelado." 87 Os fiis, lembrando-se
da palavra de Cristo a seus apstolos: "Quem vos ouve a mim ouve"
(Lc 10,16[fca25] ), recebem com docilidade os ensinamentos e as
diretrizes que seus Pastores lhes do sob diferentes formas. OS
DOGMAS DA F 88 O Magistrio da Igreja empenha plenamente a
autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto ,
quando, utilizando uma forma que obriga o povo cristo a uma adeso
irrevogvel de f, prope verdades contidas na Revelao divina ou
verdades que com estas tm uma conexo necessria. 89 H uma conexo
orgnica entre nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas so luzes
no caminho de nossa f que o iluminam e tornam seguro. Na verdade,
se nossa vida for reta, nossa inteligncia e nosso corao estaro
abertos para acolher a luz dos dogmas da f. 90 Os laos mtuos e a
coerncia dos dogmas podem ser encontrados no conjunto da Revelao do
Mistrio de Cristo. "Existe uma ordem ou 'hierarquia' das verdades
da doutrina catlica, j que o nexo delas com o fundamento da f crist
diferente[fca31] ." SENSO SOBRENATURAL DA F 91 Todos os fiis
participam da compreenso e da transmisso da verdade revelada.
Receberam a uno do Esprito Santo, que os instrui e os conduz
verdade em sua totalidade. 92 "O conjunto dos fiis... no pode
enganar-se no ato de f. E manifesta esta sua peculiar piedade
mediante o senso sobrenatural da f de todo o povo, quando, 'desde
os bispos at o ltimo dos fiis leigos', apresenta um consenso
universal sobre questes de f e costumes."
12. 93 "Por este senso da f, excitado e sustentado pelo Esprito
da verdade, o Povo de Deus, sob a direo do sagrado Magistrio, (...)
adere indefectivelmente f 'uma vez para sempre transmitida aos
santos'; e, com reto juzo, penetra-a mais profundamente e na sua
vida a coloca mais perfeitamente em obra." O CRESCIMENTO NA
COMPREENSO DA F 94 Graas assistncia do Esprito Santo, a compreenso
tanto das realidades como das palavras do depsito da f pode crescer
na vida da Igreja: "Pela contemplao e estudo dos que crem, os quais
as meditam em seu corao", em especial "a pesquisa teolgica que
aprofunda o conhecimento da verdade revelada". "Pela ntima
compreenso que os fiis desfrutam das coisas espirituais[fca43] ";
"Divina eloquia cum legente crescunt as palavras divinas crescem
com o leitor[fca44] ". "Pela pregao daqueles que, com a sucesso
episcopal, receberam o carisma seguro da verdade." 95 "Fica,
portanto, claro que segundo o sapientssimo plano divino, a Sagrada
Tradio, a Sagrada Escritura e o Magistrio da Igreja esto de tal
modo entrelaados e unidos que um no tem consistncia sem os outros,
e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ao do mesmo Esprito
Santo, contribuem eficazmente para a salvao das almas." RESUMINDO
96 O que Cristo confiou aos apstolos, estes o transmitiram por sua
pregao e por escrito, sob a inspirao do Esprito Santo, a todas as
geraes, at a volta gloriosa de Cristo. 97 "A Sagrada Tradio e a
Sagrada Escritura constituem um s sagrado depsito da Palavra de
Deus, no qual, como em um espelho, a Igreja peregrinante contempla
a Deus, fonte de todas as suas riquezas. 98 "Em sua doutrina, vida
e culto, a Igreja perpetua e transmite a todas as geraes tudo o que
ela , tudo o que cr. 99 Graas a seu senso sobrenatural da f, o Povo
de Deus inteiro no cessa de acolher o dom da Revelao divina, de
penetr-lo mais profundamente e viver dele com mais plenitude. 100 O
encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus foi
confiado exclusivamente ao Magistrio da Igreja, ao Papa e aos
bispos em comunho com ele. ARTIGO 3 - A SAGRADA ESCRITURA I. CRISTO
- PALAVRA NICA DA SAGRADA ESCRITURA 101 Na condescendncia de sua
bondade, Deus, para revelar-se aos homens, fala-lhes em palavras
humanas: Com efeito, as palavras de Deus, expressas por lnguas
humanas, fizeram-se semelhantes linguagem humana, tal como outrora
o Verbo do Pai Eterno, havendo assumido a carne da fraqueza humana,
se fez semelhante aos homens". 102 Por meio de todas as palavras da
Sagrada Escritura, Deus pronuncia uma s Palavra, seu Verbo nico, no
qual se expressa por inteiro: "Lembrai-vos que uma mesma a Palavra
de Deus que est presente em todas as Escrituras, que um mesmo Verbo
que ressoa na boca de todos os escritores sagrados; ele que, sendo
no incio Deus junto de Deus, no tem necessidade de slabas, por no
estar submetido ao tempo. 103 Por este motivo, a Igreja sempre
venerou as divinas Escrituras, como venera tambm o Corpo do Senhor.
Ela no cessa de apresentar aos fiis o Po da vida tomado da Mesa da
Palavra de Deus e do Corpo de Cristo.
13. 104 Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra incessantemente
seu alimento e sua fora[fca8] , pois nela no acolhe somente uma
palavra humana, mas o que ela realmente: a Palavra de Deus Com
efeito, nos Livros Sagrados o Pai que est nos cus vem
carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. II.
INSPIRAO E VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA 105 Deus o autor da Sagrada
Escritura. "As coisas divinamente reveladas, que se encerram por
escrito e se manifestam na Sagrada Escritura, foram consignadas sob
inspirao do Esprito Santo" "A santa Me Igreja, segundo a f
apostlica, tem como sagrados e cannicos os livros completos tanto
do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes,
porque, escritos sob a inspirao do Esprito Santo, eles tm Deus como
autor e nesta sua qualidade foram confiados prpria Igreja." 106
Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados.. "Na redao
dos livros sagrados, Deus escolheu homens, dos quais se serviu
fazendo-os usar suas prprias faculdades e capacidades, a fim de
que, agindo ele prprio neles e por meio deles, escrevessem, como
verdadeiros autores, tudo e s aquilo que ele prprio queria." 107 Os
livros inspirados ensinam a verdade. "Portanto, j que tudo o que os
autores inspirados (ou hagigrafos) afirmam deve ser tido como
afirmado pelo Esprito Santo, deve-se professar que os livros da
Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que
Deus em vista de nossa salvao quis fosse consignada nas Sagradas
Escrituras." 108 Todavia, a f crist no uma "religio do Livro". O
Cristianismo a religio da "Palavra" de Deus, "no de uma palavra
escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo". Para que as
Escrituras no permaneam letra morta, preciso que Cristo, Palavra
eterna de Deus vivo, pelo Esprito Santo nos "abra o esprito
compreenso das Escrituras". III. O ESPRITO SANTO, INTRPRETE DA
ESCRITURA 109 Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem maneira dos
homens. Para bem interpretar a Escritura preciso, portanto, estar
atento quilo que os autores humanos quiseram realmente afirmar e
quilo que Deus quis manifestar-nos pelas palavras deles. 110 Para
descobrir a inteno dos autores sagrados, h que levar em conta as
condies da poca e da cultura deles, os "gneros literrios" em uso
naquele tempo, os modos, ento correntes, de sentir, falar e narrar.
Pois a verdade apresentada e expressa de maneiras diferentes nos
textos que so de vrios modos histricos ou profticos ou poticos, ou
nos demais gneros de expresso." 111 Mas, j que a Sagrada Escritura
inspirada, h outro princpio da interpretao correta, no menos
importante que o anterior, e sem o qual a Escritura permaneceria
letra morta: "A Sagrada Escritura deve tambm ser lida e
interpretada com a ajuda daquele mesmo Esprito em que foi escrita".
O Conclio Vaticano II indica trs critrios para uma interpretao da
Escritura conforme o Esprito que a inspirou 112 1. Prestar muita
ateno "ao contedo e unidade da Escritura inteira". Pois, por mais
diferentes que sejam os livros que a compem, a Escritura una em
razo da unidade do projeto de Deus, do qual Cristo Jesus o centro e
o corao, aberto depois de sua Pscoa. O corao de Cristo designa a
Sagrada Escritura, que d a conhecer o corao de Cristo. O corao
estava fechado antes da Paixo, pois a Escritura era obscura. Mas a
Escritura foi aberta aps a Paixo, pois os que a partir da tm a
compreenso dela consideram e discernem de que maneira as profecias
devem ser interpretadas. 113 2. Ler a Escritura dentro "da Tradio
viva da Igreja inteira". Consoante um adgio dos Padres, "Sacra
Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus
instrumentis scripta a sagrada Escritura est escrita mais no corao
da Igreja do que nos instrumentos materiais. Com efeito, a Igreja
leva
14. em sua Tradio a memria viva da Palavra de Deus, e o Esprito
Santo que lhe d a interpretao espiritual da Escritura ("...segundo
o sentido espiritual que o Esprito d Igreja. 114 3. Estar atento "a
anagogia da f " Por "anagogia da f" entendemos a coeso das verdades
da f entre si e no projeto total da Revelao. Os SENTIDOS DA
ESCRITURA 115 Segundo uma antiga tradio, podemos distinguir dois
sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual,
sendo este ltimo subdividido em sentido alegrico, moral e analgico.
A concordncia profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua
riqueza leitura viva da Escritura na Igreja. 116 O sentido literal.
o sentido significado pelas palavras da Escritura e descoberto pela
exegese que segue as regras da correta interpretao. "Omnes sensus
fundantur super litteralem - Todos os sentidos (da Sagrada
Escritura) devem estar fundados no literal. 117 O sentido
espiritual. Graas unidade do projeto de Deus, no somente o texto da
Escritura, mas tambm as realidades e os acontecimentos de que ele
fala, podem ser sinais. 1. O sentido alegrico. Podemos adquirir uma
compreenso mais profunda dos acontecimentos reconhecendo a
significao deles em Cristo; assim, a travessia do Mar Vermelho um
sinal da vitria de Cristo, e tambm do Batismo. 2. O sentido moral.
Os acontecimentos relatados na Escritura devem conduzir-nos a um
justo agir. Eles foram escritos "para nossa instruo" (1Cor 10,11)
3. O sentido anaggico. Podemos ver realidades e acontecimentos em
sua significao eterna, conduzindo-nos (em grego: "anagog";
pronuncie "anagogu") nossa Ptria. Assim, a Igreja na terra sinal da
Jerusalm celeste. 118 Um dstico medieval resume a significao dos
quatro sentidos: Littera gesta docei, quid credas allegoria,
moralis quid agas, quo tendas anagogia. A letra ensina o que
aconteceu; a alegoria, o que deves crer; a moral, o que deves
fazer; a anagogia, para onde deves caminhar. 119 " dever dos
exegetas esforar-se, dentro dessas diretrizes, por entender e expor
com maior aprofundamento o sentido da Sagrada Escritura, a fim de
que, por seu trabalho como que preparatrio, amadurea o julgamento
da Igreja. Pois todas estas coisas que concernem maneira de
interpretar a Escritura esto sujeitas, em ltima instncia, ao juzo
da Igreja, que exerce o divino ministrio e mandato do guardar e
interpretar a Palavra de Deus" Ego vero Evangelio non crederem,
nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas. Eu no creria no
Evangelho, se a isto no me levasse a autoridade da Igreja catlica"
IV O CNON DAS ESCRITURAS 120 Foi a Tradio apostlica que fez a
Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados lista dos
Livros Sagrados". Esta lista completa denominada "Cnon" das
Escrituras. Ela comporta 46 (45, se contarmos Jr e Lm juntos)
escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo Testamento.
Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros, Deuteronmio, Josu, Juizes, Rute, os
dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das
Crnicas, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, os dois livros
dos Macabeus, J, os Salmos, os Provrbios, o Eclesiastes (ou Colet),
o Cntico dos Cnticos, a Sabedoria, o Eclesistico (ou Sircida),
Isaas, Jeremias, as Lamentaes, Baruc, Ezequiel, Daniel, Osias,
Joel, Ams, Abdias, Jonas, Miquias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias, para o Antigo Testamento; os Evangelhos de
Mateus, de Marcos, de Lucas e de Joo, os Atos dos Apstolos, as
Epstolas de So Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda aos
Corintios, aos Glatas, aos Efsios, aos Filipenses, aos Colossenses,
a primeira e a segunda aos Tessalonicenses, a primeira e a segunda
a Timteo, a Tito, a Filmon, a Epstola aos Hebreus, a Epstola de
Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as trs Epstolas de Joo, a
Epstola de Judas e o Apocalipse, para o Novo Testamento.
15. O ANTIGO TESTAMENTO 121 Antigo Testamento uma parte
indispensvel da Sagrada Escritura. Seus livros so divinamente
inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliana
nunca foi revogada. 122 Com efeito, "a Economia do Antigo
Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de
Cristo, redentor de todos". "Embora contenham tambm coisas
imperfeitas e transitrias", os livros do Antigo Testamento do
testemunho de toda a divina pedagogia do amor salvfico de Deus:
"Neles encontram-se sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma
salutar sabedoria concernente vida do homem, bem como admirveis
tesouros de preces; nestes livros, enfim est latente o mistrio de
nossa salvao" 123 Os cristos veneram o Antigo Testamento como
verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaou vigorosamente a
idia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o
teria feito caducar (marcionismo). O NOVO TESTAMENTO 124 "A Palavra
de Deus, que fora de Deus para a salvao de todo crente, apresentada
e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo
Testamento." Estes escritos fornecem-nos a verdade definitiva da
Revelao divina. Seu objeto central Jesus Cristo, o Filho de Deus
encarnado, seus atos, ensinamentos, paixo e glorificao, assim como
os incios de sua Igreja sob a ao do Esprito Santo. 125 Os
Evangelhos so o corao de todas as Escrituras, "uma vez que
constituem o principal testemunho da vida e da doutrina do Verbo
encarnado, nosso Salvador". 126 Na formao dos Evangelhos podemos
distinguir trs etapas: 1. A vida e o ensinamento de Jesus. A Igreja
defende firmemente que os quatro Evangelhos, "cuja historicidade
afirma sem hesitao, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de
Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a
eterna salvao deles, at o dia em que foi elevado". 2. A tradio
oral. "O que o Senhor dissera e fizera, os apstolos, aps a ascenso
do Senhor, transmitiram aos ouvintes, com aquela compreenso mais
plena de que gozavam, instrudos que foram pelos gloriosos
acontecimentos de Cristo e esclarecidos pela luz do Esprito de
verdade." 3. Os Evangelhos escritos. "Os autores sagrados
escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das
muitas transmitidas ou oralmente ou j por escrito, fazendo sntese
de outras ou explanando-as com vistas situao das igrejas,
conservando, enfim, a forma de pregao, sempre de maneira a
transmitir- nos, a respeito de Jesus, coisas verdadeiras e sincera.
" 127 O Evangelho quadriforme ocupa a Igreja um lugar nico, como
atestam a venerao que lhe tributa a liturgia e o atrativo
incomparvel que desde sempre tem exercido sobre os santos: No
existe nenhuma doutrina que seja melhor, mais preciosa e mais
esplndida que o texto do Evangelho. Vede e retende o que nosso
Senhor e Mestre, Cristo, ensinou com suas palavras e realizou com
seus atos. acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas
oraes; nele encontro tudo o que necessrio para minha pobre alma.
Descubro nele sempre novas luzes, sentidos escondidos e
misteriosos. A UNIDADE ENTRE O ANTIGO E O NOVO TESTAMENTO 128 A
Igreja, j nos tempos apostlicos, e depois constantemente em sua
Tradio, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos
graas tipologia. Esta discerne, nas obras de Deus contidas na
Antiga Aliana, prefiguraes daquilo que Deus realizou na plenitude
dos tempos, na pessoa de seu Filho encarnado. 129 Por isso os
cristos lem o Antigo Testamento luz de Cristo morto e ressuscitado.
Esta leitura tipolgica manifesta o contedo inesgotvel do Antigo
Testamento. Ela no deve levar a esquecer que este conserva seu
valor prprio de Revelao, que o prprio Nosso Senhor reafirmou. De
resto tambm o Novo Testamento exige ser lido luz do Antigo. A
catequese crist primitiva recorre constantemente a ele.
16. Segundo um adgio antigo, o Novo Testamento est escondido no
Antigo, ao passo que o Antigo desvendado no Novo "Novum in Vetere
latet et in Novo Vetus patet". 130 A tipologia exprime o dinamismo
em direo ao cumprimento do plano divino, quando "Deus ser tudo em
todos" (1 Cor 15,28), Tambm a vocao dos patriarcas e o xodo do
Egito, por exemplo, no perdem seu valor prprio no plano de Deus,
pelo fato de serem ao mesmo tempo etapas intermedirias deste plano.
V. A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA 131 " to grande o poder e
a eficcia encerrados na Palavra de Deus, que ela constitui
sustentculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da
f, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual." "
preciso que o acesso Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos
fiis." 132 "Que o estudo das Sagradas Pginas seja, portanto, como
que a alma da Sagrada Teologia. Da mesma palavra da Sagrada
Escritura tambm se nutre salutarmente e santamente floresce o
ministrio da palavra, a saber, a pregao pastoral, a catequese e
toda a instruo crist, na qual deve ocupar lugar de destaque a
homilia litrgica." 133 A Igreja "exorta com veemncia e de modo
peculiar todos os fiis cristos... a que, pela freqente leitura das
divinas Escrituras, aprendam 'a eminente cincia de Jesus Cristo(Fl
3,8). Com efeito, ignorar as Escrituras ignorar Cristo. RESUMINDO
134 Omnis Scriptura divina unus liber est, et hic unus liber est
Christus, "quia omnis Scriptura divina de Christo loquitur, et omn
is Scriptura divina in Christo impletur" - Toda a Escritura divina
um nico livro, e este livro nico Cristo, j que toda Escritura
divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo.
135 "As Sagradas Escrituras contm a Palavra de Deus e, por serem
inspiradas, so verdadeiramente Palavra de Deus. " 136 Deus e o
autor da Sagrada Escritura inspirar seus autores humanos; age neles
e por meio dele. Fornece assim a garantia de que seus escritos
ensinem sem erro a verdade salvfica. 137 A interpretao das
Escrituras inspiradas deve antes de tudo estar atenta quilo que
Deus quer revelar por intermdio dos autores sagrados para nossa
salvao. O que vem do Esprito s plenamente entendido pela ao do
Esprito. 138 A Igreja recebe e venera como inspirados os 46 livros
do Antigo e os 27 livros do Novo Testamento. 139 Os quatro
Evangelhos ocupam um lugar central, j que Cristo Jesus o centro
deles. 140 A unidade dos dois Testamentos decorre da unidade do
projeto de Deus e de sua Revelao. O Antigo Testamento prepara o
Novo, ao passo que este ltimo cumpre o Antigo; os dois se iluminam
reciprocamente; os dois so verdadeira Palavra de Deus. 141 "A
Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o
prprio Corpo do Senhor": ambos alimentam e dirigem toda a vida
crist. "Tua Palavra a lmpada para meus ps, e luz para meu caminho"
(Sl 119,105[fca70] ). CAPTULO III - A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS 142
Por sua Revelao, "o Deus invisvel, levado por seu grande amor, fala
aos homens como a amigos, e com eles se entretm para os convidar
comunho consigo e nela os receber". A resposta adequada a este
convite a f. 143 Pela f, o homem submete completamente sua
inteligncia e sua vontade a Deus. Com todo o seu ser, o homem d seu
assentimento a Deus revelador. A Sagrada Escritura denomina
"obedincia da f" esta resposta do homem ao Deus que revela.
17. ARTIGO 1 - EU CREIO [a6] 144 i. A OBEDINCIA DA F Obedecer
("ob-audire") na f significa submeter-se livremente palavra ouvida,
visto que sua verdade garantida por Deus, a prpria Verdade. Desta
obedincia, Abrao o modelo que a Sagrada Escritura nos prope, e a
Virgem Maria, sua mais perfeita realizao. ABRAO "O PAI DE TODOS OS
CRENTES" 145 A Epstola aos Hebreus, no grande elogio f dos
antepassados, insiste particularmente na f de Abrao: "Foi pela f
que Abrao, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma terra
que devia receber como herana, e partiu sem saber para onde ia" (Hb
11,8). Pela f, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra
Prometida[fca8] . Pela f, Sara recebeu a graa de conceber o filho
da promessa. Pela f, finalmente, Abrao ofereceu seu filho nico em
sacrifcio. 146 Abrao realiza, assim, a definio da f dada pela
Epstola aos Hebreus: "A f uma posse antecipada do que se espera, um
meio de demonstrar as realidades que no se vem" (Hb 11,1). "Abrao
creu em Deus, e isto lhe foi levado em conta de justia" (Rm 4,3).
Graas a esta "f poderosa" (Rm 4,20), Abrao tornou-se "o pai de
todos os que haveriam de crer" (Rm 4,1 1.18) 147 O Antigo
Testamento rico em testemunhos desta f. A Epstola aos Hebreus
proclama o elogio da f exemplar dos antigos, "que deram o seu
testemunho" (Hb 11,2.39). No entanto, "Deus previa para ns algo
melhor": a graa de crer em seu Filho Jesus, "o autor e realizador
da f, que a leva perfeio" (Hb11,40; 12,2). MARIA "BEM-AVENTURADA A
QUE ACREDITOU" 148 A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita
a obedincia da f. Na f, Maria acolheu o anncio e a promessa trazida
pelo anjo Gabriel, acreditando que "nada impossvel a Deus" (Lc
1,37[fca15] ) e dando seu assentimento: "Eu sou a serva do Senhor;
faa-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1,38). Isabel a saudou:
"Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte
do Senhor ser cumprido" (Lc 1,45). em virtude desta f que todas as
geraes a proclamaro bem-aventurada. 149 Durante toda a sua vida e
at sua ltima provao, quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, sua f
no vacilou. Maria no deixou de crer "no cumprimento" da Palavra de
Deus. Por isso a Igreja venera em Maria a realizao mais pura da f.
II. "SEI EM QUEM PUS MINHA F" (2TM 1,12) CRER SOMENTE EM DEUS 150 A
f primeiramente uma adeso pessoal do homem a Deus; , ao mesmo tempo
e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus
revelou. Como adeso pessoal a Deus e assentimento verdade que ele
revelou, a f crist diferente da f em uma pessoa humana. E justo e
bom entregar-se totalmente a Deus e crer absolutamente no que ele
diz. Seria vo e falso pr tal f em uma criatura. CRER EM JESUS
CRISTO, O FILHO DE DEUS 151 Para o cristo, crer em Deus ,
inseparavelmente, crer naquele que Ele enviou, "seu Filho bem-
amado", no qual Ele ps toda sua complacncia; Deus mandou que O
escutssemos. O prprio Senhor disse a seus discpulos: "Crede em
Deus, crede tambm em mim" (Jo 14,1). Podemos crer em Jesus Cristo
por que ele mesmo Deus, o Verbo feito carne: "Ningum jamais viu a
Deus: o Filho unignito, que est voltado
18. para o seio do Pai; este o deu a conhecer" (Jo 1,18). Por
ter ele "visto o Pai" (Jo 6,46), ele o nico que o conhece e pode
revel-lo. CRER NO ESPRITO SANTO 152 No se pode crer em Jesus Cristo
sem participar de seu Esprito. E o Esprito Santo que revela aos
homens quem Jesus. Pois "ningum pode dizer 'Jesus Senhor' a no ser
no Esprito Santo" (1 Cor 12,3). "O Esprito sonda todas as coisas,
at mesmo as profundidades de Deus... O que est em Deus, ningum o
conhece a no ser o Esprito de Deus" (1 Cor 2,10-11). S Deus conhece
a Deus por inteiro. Cremos no Esprito Santo porque Ele Deus. A
Igreja no cessa de confessar sua f em um s Deus, Pai, Filho e
Esprito Santo. III. AS CARACTERSTICAS DA F A F UMA GRAA 153 Quando
So Pedro confessa que Jesus o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe
declara que esta revelao no lhe veio "da carne e do sangue, mas de
meu Pai que est nos cus". A f um dom de Deus, uma virtude
sobrenatural infundida por Ele. "Para que se preste esta f,
exigem-se a graa prvia e adjuvante de Deus e os auxlios internos do
Esprito Santo, que move o corao e o converte a Deus, abre os olhos
da mente e d a todos suavidade no consentir e crer na verdade." A F
UM ATO HUMANO 154 Crer s possvel pela graa e pelos auxlios
interiores do Esprito Santo Mas no menos verdade que crer um ato
autenticamente humano. No contraria nem a liberdade nem a
inteligncia do homem confiar em Deus e aderir s verdades por Ele
reveladas. J no campo das relaes humanas, no contrrio nossa prpria
dignidade crer no que outras pessoas nos dizem sobre si mesmas e
sobre suas intenes e confiar nas promessas delas (como, por
exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para entrar assim
em comunho recproca. Por isso, ainda menos contrrio nossa dignidade
"prestar, pela f, revelao de Deus plena adeso do intelecto e da
vontade" e entrar, assim, em comunho ntima com ele. 155 Na f, a
inteligncia e a vontade humanas cooperam com a graa divina:
"Credere est actus intellectus assentientis veritati divinae ex
imperio voluntatis a Deo motae per gratiam - Crer um ato da
inteligncia que assente verdade divina a mando da vontade movida
por Deus atravs da graa". A F E A INTELIGNCIA 156 O motivo de crer
no o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e
inteligveis luz de nossa razo natural. Cremos "por causa da
autoridade de Deus que revela e que no pode nem enganar-se nem
enganar-nos". "Todavia, para que o obsquio de nossa f fosse
conforme razo, Deus quis que os auxlios interiores do Esprito Santo
fossem acompanhados das provas exteriores de sua Revelao. Por isso,
os milagres de Cristo e dos santos, as profecias, a propagao e a
santidade da Igreja, sua fecundidade e estabilidade "constituem
sinais certssimos da Revelao, adaptados inteligncia de todos",
"motivos de credibilidade" que mostram que o assentimento da f no
"de modo algum um movimento cego do esprito". 157 A f certa, mais
certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na prpria
Palavra de Deus, que no pode mentir. Sem dvida, as verdades
reveladas podem parecer obscuras razo e experincia humanas, mas "a
certeza dada pela luz divina maior que a que dada pela luz da razo
natural. "Dez mil dificuldades no fazem uma nica dvida. 158 "A f
procura compreender": E caracterstico da f o crente desejar
conhecer melhor Aquele em quem ps sua f e compreender melhor o que
Ele revelou; um conhecimento mais penetrante despertar por sua vez
uma f maior, cada vez mais ardente de amor. A graa da f abre "os
olhos do corao" (Ef.
19. 1,18) para uma compreenso viva dos contedos da Revelao,
isto , do conjunto do projeto de Deus e dos mistrios da f, do nexo
deles entre si e com Cristo, centro do Mistrio revelado. Ora, para
"tomar cada vez mais profunda a compreenso da Revelao, o mesmo
Esprito Santo aperfeioa continuamente a f por meio de seus dons.
Assim, segundo o adgio de Santo Agostinho, "eu creio para
compreender, e compreendo para melhor crer". 159 F e cincia. "Porm,
ainda que a f esteja acima da razo, no poder jamais haver
verdadeira desarmonia entre uma e outra, porquanto o mesmo Deus que
revela os mistrios e infunde a f dotou o esprito humano da luz da
razo; e Deus no poderia negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais
contradizer a verdade." "Portanto, se a pesquisa metdica, em todas
as cincias, proceder de maneira verdadeiramente cientfica, segundo
as leis morais, na realidade nunca ser oposta f: tanto as
realidades profanas quanto as da f originam-se do mesmo Deus. Mais
ainda: quem tenta perscrutar com humildade e Perseverana, os
segredos das coisas, ainda que disso no tome conscincia, e como que
conduzido pela mo de Deus, que sustenta todas as coisas, fazendo
com que elas sejam o que so." A LIBERDADE DA F 160 Para que o ato
de f seja humano, "o homem deve responder a Deus, crendo por livre
vontade. Por conseguinte, ningum deve ser forado contra sua vontade
a abraar a f. Pois o ato de f por sua natureza voluntrio". "Deus de
fato chama os homens para servi-lo em esprito e verdade. Com isso
os homens so obrigados em conscincia, mas no so forados... Foi o
que se patenteou em grau mximo em Jesus Cristo." Com efeito, Cristo
convidou f e converso, mas de modo algum coagiu. "Deu testemunho da
verdade, mas no quis imp-la pela fora aos que a ela resistiam. Seu
reino... se estende graas ao amor com que Cristo, exaltado na cruz,
atrai a si os homens." A NECESSIDADE DA F 161 E necessrio, para
obter esta salvao, crer em Jesus Cristo e naquele que o enviou para
nossa salvao "Como, porm, "sem f impossvel agradar a Deus' (Hb
11,6) e chegar ao consrcio dos seus filhos, ningum jamais pode ser
justificado sem ela, nem conseguir a vida eterna, se nela no
permanecer at o fim" (Mt 10,22; 24,13". A PERSEVERANA NA F 162 A f
um dom gratuito que Deus concede ao homem. Podemos perder este dom
inestimvel; So Paulo alerta Timteo sobre isso: 'Combate... o bom
combate, com f e boa conscincia; pois alguns, rejeitando a boa
conscincia, vieram a naufragar na f" (1Tm 1,18-19). Para viver,
crescer e perseverar at o fim na f, devemos aliment-la com a
Palavra de Deus; devemos implorar ao Senhor que a aumente; ela deve
"agir pela caridade" (Gl 5,6), ser carregada pela esperana e estar
enraizada na f da Igreja. A F - COMEO DA VIDA ETERNA 163 A f nos
faz degustar como por antecipao a alegria e a luz da viso beatfica,
meta de nossa caminhada na terra. Veremos ento a Deus "face a face"
(1Cor 13,12), "tal como Ele " (1Jo 3,2). A f j , portanto, o comeo
da vida eterna:Enquanto desde j contemplamos as bnos da f, como um
reflexo no espelho, como se j possussemos as coisas maravilhas que
um dia desfrutaremos, conforme nos garante nossa f. 164 Por ora,
todavia, "caminhamos pela f, no pela viso" (2Cor 5,7), e conhecemos
a Deus "como que em um espelho, de uma forma confusa...,
imperfeita" (1Cor 13,12). Luminosa em virtude daquele em que ela
cr, a f muitas vezes vivida na obscuridade. A f pode ser posta
prova. O mundo em que vivemos muitas vezes parece estar bem longe
daquilo que a f nos assegura; as experincias do mal e do
sofrimento, das injustias e da morte parecem contradizer a Boa
Nova; podem abalar a f e tornar-se para ela uma tentao. 165 ento
que devemos nos voltar para as testemunhas da f: Abrao, que creu,
"esperando contra toda esperana" (Rm 4,18); a Virgem Maria, que na
"peregrinao a f[fca63] " foi at a "noite da
20. f", comungando com o sofrimento de seu Filho e com a noite
de seu tmulo e tantas outras testemunhas da f: "Com tal nuvem de
testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que
nos envolve, corramos com perseverana para o certame que nos
proposto, com os olhos fixos naquele que autor e realizador da f,
Jesus" (Hb 12,1-2[a66] ). ARTIGO 2 - NS CREMOS 166 A f um ato
pessoal: a resposta livre do homem iniciativa de Deus que se
revela. Ela no , porm, um ato isolado. Ningum pode crer sozinho,
assim como ningum pode viver sozinho. Ningum deu a f a si mesmo,
assim como ningum deu a vida a si mesmo. O crente recebeu a f de
outros, deve transmiti-la a outros. Nosso amor por Jesus e pelos
homens nos impulsiona a falar a outros de nossa f. Cada crente como
um elo na grande corrente dos crentes. No posso crer sem ser
carregado pela f dos outros, e pela minha f contribuo para carregar
a f dos outros. 167 "Eu creio": esta a f da Igreja, professada
pessoalmente por todo crente, principalmente pelo batismo. "Ns
cremos": esta a f da Igreja confessada pelos bispos reunidos em
Conclio ou, mais comumente, pela assemblia litrgica dos crentes.
"Eu creio" tambm a Igreja, nossa Me, que responde a Deus com sua f
e que nos ensina a dizer: "eu creio", "ns cremos". I. "OLHAI,
SENHOR, PARA A F DA VOSSA IGREJA" 168 antes de tudo a Igreja que cr
e que desta forma carrega, alimenta e sustenta minha f. E antes de
tudo a Igreja que, em toda parte, confessa o Senhor ("Te per orbem
terrarum sancta confitetur Ecclesia A vs por toda a terra proclama
a Santa Igreja", assim cantamos no Te Deum), e com ela e nela tambm
ns somos impulsionados e levados a confessar: "Eu creio", "nos
cremos". por intermdio da Igreja que recebemos a f e a vida nova no
Cristo pelo batismo. No "Ritual Romano", o ministro do batismo
pergunta ao catecmeno: "Que pedes Igreja de Deus?" E a resposta: "A
f." "E que te d a f?" "A vida eterna." 169 A salvao vem
exclusivamente de Deus, mas, por recebermos a vida de f por meio da
Igreja, esta ltima nossa me: "Ns cremos na Igreja como a me de
nosso novo nascimento, e no como se ela fosse a autora de nossa
salvao". Por ser nossa me, a Igreja tambm a educadora de nossa f.
II. A LINGUAGEM DA F 170 No cremos em frmulas, mas nas realidades
que elas expressam e que a f nos permite "tocar". "O ato (de f) do
crente no pra no enunciado, mas chega at a realidade (enunciada).
Todavia, temos acesso a essas realidades com o auxlio das formulaes
da f. Estas permitem expressar e transmitir a f, celebr-la em
comunidade, assimil-la e viv-la cada vez mais. 171 A Igreja, que "a
coluna e o sustentculo da verdade" (1 Tm 3,15), guarda fielmente a
f uma vez por todas confiada aos santos. E ela que conserva a
memria das Palavras de Cristo, ela. que transmite de gerao em gerao
a confisso de f dos apstolos. Como uma me que ensina seus filhos a
falar e, com isto, a, compreender e a comunicar, a Igreja, nossa
Me, nos ensina a linguagem da f para introduzir-nos na compreenso e
na vida da f. III. UMA NICA F 172 H sculos, mediante tantas lnguas,
culturas, povos e naes, a Igreja no cessa de confessar sua nica f,
recebida de s Senhor, transmitida por um nico batismo, enraizada na
convico de que todos os homens tm um s Deus e Pai, So Irineu de
Lio, testemunha desta f, declara: 173 "Com efeito, a Igreja, embora
espalhada pelo mundo inteiro at os confins da terra, tendo recebido
dos apstolos e dos discpulos deles a f... guarda [esta pregao e
esta f] com cuidado, como se habitasse em uma s casa; nelas cr de
forma idntica, como se tivesse uma s alma; e prega as verdades de
f, as ensina e transmite com voz unnime, como se possusse uma s
boca".
21. 174 "Pois, se no mundo as lnguas diferem, o contedo da
Tradio uno e idntico. E nem as Igrejas estabelecidas na Germnia tm
outra f ou outra Tradio, nem as que esto entre os iberos, nem as
que esto entre os celtas, nem as do Oriente, do Egito, da Lbia, nem
as que esto estabelecidas no centro do mundo..." "A mensagem da
Igreja , portanto, verdica e slida, pois nela que um nico caminho
de salvao aparece no mundo inteiro." 175 "Esta f que recebemos da
Igreja, ns a guardamos com cuidado, pois sem cessar, sob a ao do
Esprito de Deus, guisa de um depsito de grande preo encerrado em um
vaso precioso, ela rejuvenesce e faz rejuvenescer o prprio vaso que
a contm." RESUMINDO 176 A f uma adeso pessoal do homem inteiro a
Deus que se revela. Ela inclui uma adeso da inteligncia e da
vontade Revelao que Deus fez de si mesmo por suas aes e palavras.
177 Por conseguinte, "crer" tem uma dupla referncia: pessoa e
verdade; verdade, por confiana na pessoa que a atesta. 178 No
devemos crer em ningum a no ser em Deus, o Pai, o Filho e o Esprito
Santo 179 A f um dom sobrenatural de Deus. Para crer, o homem tem
necessidade dos auxlios interiores do Esprito Santo 180 "Crer" e um
ato humano, consciente e livre, que corresponde dignidade da pessoa
humana. 181 "Crer" e um ato eclesial. A f da Igreja precede, gera,
tenta e alimenta nossa f. A Igreja a me de todos os crentes.
"Ningum pode ter a Deus por Pai, que no tenha Igreja por me. " 182
"Ns cremos em tudo o que est contido na Palavra de Deus escrita ou
transmitida, e que a Igreja prope a crer c divinamente revelado. "
183 A f necessria salvao. O prprio Senhor afirma: Aquele que crer e
for batizado ser salvo; aquele que no crer ser condenado (Mc 16,
16). 184 "A f um antegozo do conhecimento que nos tornar
bem-aventurados na vida futura". SEGUNDA SEO A PROFISSO DA F CRIST
OS SMBOLOS DA F 185 Quem diz creio diz "dou minha adeso quilo que
no cremos". A comunho na f precisa de uma linguagem comum da f,
normativa para todos e que una na mesma confisso de f. 186 Desde a
origem, a Igreja apostlica exprimiu e transmitiu sua prpria f em
frmulas breves e normativas para todos. Mas j muito cedo a Igreja
quis tambm recolher o essencial de sua f em resumos orgnicos e
articulados, destinados sobretudo aos candidatos ao Batismo: Esta
sntese da f no foi elaborada segundo as opinies humanas mas da
Escritura inteira recolheu- se o que existe de mais importante,
para dar, na sua totalidade, a nica doutrina da f. E assim com a
semente de mostarda contm em um pequenssimo gro um grande nmero de
ramos, da mesma forma este resumo da f encerra em algumas palavras
todo o conhecimento da verdadeira piedade contida no Antigo e no
Novo Testamento. 187 Estas snteses da f chamam-se "profisses de f",
pois resumem a f que os cristos professam. Chamam-se "Credo em razo
da primeira palavra com que normalmente comeam: "Creio".
Denominam-se tambm "Smbolos da f". 188 A palavra grega "symbolon"
significava a metade de um objeto quebrado (por exemplo, um sinete)
que era apresentada como sinal de reconhecimento. As partes
quebradas eram juntadas para se verificar a identidade do portador.
O "smbolo da f" , pois, um sinal de reconhecimento e de
comunho
22. entre os crentes. "Symbolon" passa em seguida a significar
coletnea, coleo ou sumrio. O "smbolo da f" a coletnea das
principais verdades da f. Da o fato de ele servir como ponto de
referncia primeiro e fundamental da catequese. 189 A primeira
"profisso de f" feita por ocasio do Batismo. O "smbolo da f"
inicialmente o smbolo batismal. Uma vez que o Batismo dado "em nome
do Pai e do Filho e do Esprito Santo" (Mt 28,19), as verdades de f
professadas por ocasio do Batismo esto articuladas segundo sua
referncia s trs pessoas da Santssima Trindade. 190 O smbolo est,
pois, dividido em trs partes: "Primeiro, fala-se da primeira Pessoa
divina e da obra admirvel da criao; em seguida, da segunda Pessoa
divina e do Mistrio da Redeno dos homens; finalmente, da terceira
Pessoa divina, fonte e princpio de nossa santificao[fca6] ". Esses
so "os trs captulos de nosso selo (batismal[fca7] )". 191 "Estas
trs partes so distintas, embora interligadas. Segundo uma comparao
usada com freqncia pelos Padres, chamamo-las de artigos. Pois da
mesma forma que em nossos membros existem certas articulaes que os
distinguem e os separam, assim tambm nesta profisso de f, com
acerto e razo, se deu o nome de artigos s verdades em que devemos
crer especificamente e de forma distinta" . Segundo uma antiga
tradio, j atestada por Santo Ambrsio, tambm se costuma contar doze
artigos do Credo, simbolizando com o nmero dos apstolos o conjunto
da f apostlica. 192 As profisses ou smbolos da f tm sido numerosos
ao longo dos sculos e em resposta s necessidades das diversas
pocas: os smbolos das diferentes Igrejas apostlicas e antigas, o
Smbolo "Quicumque", dito de Santo Atansio[fca11] , as profisses de
f de certos Conclios (Toledo; Latro; Lio[fca14] ; Trento[fca15] )
ou de certos papas, como a "Fides Damasi[fca16] " (Profisso de F de
So Dmaso) ou o "Credo do Povo de Deus" [SPF], de Paulo VI
(1968[fca17] ) . 193 Nenhum dos smbolos das diferentes etapas da
vida da Igreja pode ser considerado ultrapassado e intil. Eles nos
ajudam a viver e a aprofundar hoje a f de sempre por meio dos
diversos resumos que dela tm sido feitos. Entre todos os smbolos da
f, dois ocupam um lugar particularssimo na vida da Igreja. 194 O
Smbolo dos Apstolos, assim chamado por ser, com razo considerado o
resumo fiel da f dos apstolos. o antigo smbolo batismal da Igreja
de Roma. Sua grande autoridade vem do seguinte ato: "Ele o smbolo
guardado pela Igreja Romana, aquela onde Pedro, o primeiro apstolo,
teve sua S e para onde ele trouxe comum expresso de f (sententia
communis = opinio comum. 195 O Smbolo denominado
niceno-constantinopolitano tem sua grande autoridade no fato de ter
resultado dos dois primeiros Conclios ecumnicos (325 e 381). Ainda
hoje ele comum a todas as grandes Igrejas do Oriente e do Ocidente.
196 Nossa exposio da f seguir o Smbolo dos Apstolos que constitui,
por assim dizer, "o mais antigo catecismo romano. Contudo, a
exposio ser completada por constantes referncias ao Smbolo
niceno-constantinopolitano, muitas vezes mais explcito e mais
detalhado. 197 Como no dia de nosso batismo, quando toda a nossa
vida foi confiada "a regra de doutrina" (Rm 6,17), acolhamos Smbolo
de nossa f que da vida. Recitar com f o Credo entrar em comunho com
Deus Pai, Filho e Esprito Santo tambm entrar em comunho com a
Igreja inteira, que nos transmite a f e no seio da qual cremos:
Este Smbolo o selo espiritual, a meditao do nosso corao e o guardio
sempre presente; ele , seguramente, o tesouro da nossa alma.
CAPTULO I - CREIO EM DEUS PAI 198 Nossa profisso de f comea com
Deus, pois Deus o Primeiro e o ultimo" (Is 44,6), o Comeo e o Fim
de tudo. O Credo comea com Deus Pai, pois o Pai a Primeira Pessoa
Divina da Santssima Trindade; nosso Smbolo comea pela criao do cu e
da terra, porque a criao o comeo e o fundamento de todas as obras
de Deus.
23. ARTIGO 1 "CREIO EM DEUS PAI TODO-PODEROSO, CRIADOR DO CU E
DA TERRA" PARGRAFO 1 - CREIO EM DEUS 199 "Creio em Deus": esta
primeira afirmao da profisso de f tambm a mais fundamental. O
Smbolo inteiro fala de Deus, e, se fala tambm do homem e do mundo,
f-lo pela relao que eles tm com Deus. Os artigos do Credo dependem
todos do primeiro, da mesma forma que os mandamentos explicitam o
primeiro deles. Os demais artigos nos fazem conhecer melhor a Deus
tal como se revelou progressivamente aos homens. "Os fiis fazem
primeiro profisso de crer em Deus". I. "CREIO EM UM S DEUS" 200 com
estas palavras que comea o Smbolo niceno-constantinopolitano. A
confisso da Unicidade de Deus, que tem sua raiz na Revelao Divina
da Antiga Aliana, inseparvel da confisso da existncia de Deus, e
igualmente fundamental. Deus nico, s existe um Deus. "A f crist
confessa que h Um s Deus, por natureza, por substncia e por
essncia." 201 A Israel, seu eleito, Deus revelou-se como o nico:
"Ouve, Israel: O Senhor nosso Deus o nico Senhor! Portanto, amars o
Senhor teu Deus com todo o teu corao, com toda a tua alma e com
toda a tua fora" (Dt 6,4-5). Por meio dos profetas, Deus chama
Israel e todas as naes a se voltarem para Ele, nico: "Voltai-vos
para mim e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou
Deus e no h nenhum outro!... Com efeito diante de mim se dobrar
todo joelho, toda lngua h de jurar por mim, dizendo: S no Senhor h
justia e fora". 202 Jesus mesmo confirma que Deus "o nico Senhor" e
que preciso am-lo de todo o corao, com toda a alma, com todo o
esprito e com todas as foras. Ao mesmo tempo, d a entender que ele
mesmo "o Senhor". Confessar que "Jesus Senhor" o especfico da f
crist. Isso no contraria a f em Deus nico. Crer no Esprito Santo
"que Senhor e d a Vida" no introduz nenhuma diviso no Deus nico:
Cremos firmemente e afirmamos simplesmente que h um s verdadeiro
Deus eterno, imenso e imutvel, incompreensvel, Todo-Poderoso e
inefvel, Pai, Filho e Esprito Santo: Trs Pessoas, mas uma Essncia,
uma Substncia ou Natureza absolutamente simples. II. DEUS REVELA
SEU NOME 203 A seu povo, Israel, Deus revelou-se, dando-lhe a
conhecer o seu nome. O nome exprime a essncia, a identidade da
pessoa e o sentido de sua vida. Deus tem um nome. Ele no uma fora
annima. Desvendar o prprio nome dar-se conhecer aos outros; , de
certo modo, entregar-se a si mesmo, tomando-se acessvel, capaz de
ser conhecido mais intimamente e de ser chamado pessoalmente. 204
Deus revelou-se progressivamente a seu povo e com diversos nomes,
mas a revelao do nome divino feita a Moiss na teofania da sara
ardente, pouco antes do xodo e da Aliana do Sinai, que se tomou a
revelao fundamental para a Antiga e a Nova Aliana. O DEUS VIVO 205
Deus chama Moiss do meio de uma sara que queima sem consumir-se.
Ele diz a Moiss: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abra o, o
Deus de Isaac e o Deus de Jac" (Ex 3,6). Deus o Deus dos pais,
Aquele que havia guiado os patriarcas em suas peregrinaes. Ele o
Deus fiel e compassivo que se lembra deles e de suas prprias
promessas; vem para libertar seus descendentes da escravido. Ele o
Deus que, para alm do espao e do tempo, pode e quer faz-lo, e que
colocar sua onipotncia em ao a servio desse projeto. "Eu sou AQUELE
QUE
24. Moiss disse a Deus: "Quando eu for aos filhos de Israel e
disser: O Deus de vossos pais me enviou at vs, e me perguntarem:
Qual o seu nome?, que direi?" Disse Deus a Moiss: "Eu sou AQUELE
QUE ". Disse mais: "Assim dirs aos filhos de Israel: EU SOU me
enviou at vs... Este o meu nome para sempre, e esta ser a minha
lembrana de gerao em gerao (Ex 3,13-15). 206 Ao revelar seu nome
misterioso de Iahweh, "Eu sou AQUELE QUE " ou "Eu Sou Aquele que
SOU" ou tambm "Eu sou Quem sou", Deus declara quem Ele e com que
nome se deve cham-lo. Este nome divino misterioso como Deus
mistrio. Ele ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de
um nome, e por isso mesmo que exprime da melhor forma a realidade
de Deus como ele , infinitamente acima de tudo o que podemos
compreender ou dizer: ele o "Deus escondido" (Is 45,15), seu nome
inefvel, e ele o Deus que se faz prximo dos homens. 207 Ao revelar
seu nome, Deus, revela ao mesmo tempo sua fidelidade, que de sempre
e para sempre, vlida tanto para o passado ("Eu sou o Deus de teus
pais", Ex 3,6) como para o futuro ("Eu estarei contigo", Ex 3,12).
Deus, que revela seu nome como "Eu sou", revela-se como o Deus que
est sempre presente junto a seu povo para salv-lo. 208 Diante da
presena atraente e misteriosa de Deus, o homem descobre sua
pequenez. Diante da sara ardente, Moiss tira a sandlias e cobre o
rosto [fca37] em face da Santidade Divina. Diante da glria de Deus
trs vezes santo, Isaias exclama: "Ai de mim estou perdido! Com
efeito, sou um homem de lbios impuros (Is 6,5). Diante dos sinais
divinos que Jesus faz, Pedro exclama "Afasta-te de mim, Senhor,
porque sou um pecador" (Lc 5,8). Mas porque Deus santo, pode
perdoar o homem que se descobre pecador diante dele: "No executarei
o ardor da minha ira... porque sou Deus e no homem, eu sou santo no
meio de ti (Os 11,9). O apstolo Joo dir: "Diante dele
tranqilizaremos nosso corao, se nosso corao nos acusa, porque Deus
maior do que nosso corao e conhece todas as coisas" (1Jo
3,19-20[a38] ). 209 Por respeito santidade de Deus, o povo de
Israel no pronuncia seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o
nome revelado substitudo pelo ttulo divino "Senhor" ("Adonai", em
grego "Krios"). com este ttulo que ser aclamada a divindade de
Jesus: "Jesus Senhor". "DEUS DE TERNURA E DE COMPAIXO" 210 Depois
do pecado de Israel, que se desviou de Deus para adorar o bezerro
de ouro, Deus ouve a intercesso de Moiss e aceita caminhar no meio
de um povo infiel, manifestando, assim o seu amor. A Moiss, que
pede para ver sua glria, Deus responde: "Farei passar diante de ti
toda a minha beleza e diante de ti pronunciarei o nome de Iahweh"
(Ex 33,18-19). E o Senhor passa diante de Moiss e proclama:
"Iahweh, Iahweh, Deus de ternura e de compaixo, lento para a clera
e rico em amor e fidelidade" (Ex 34,6). Moiss confessa ento que o
Senhor um Deus que perdoa. 211 O Nome divino "Eu sou" ou "Ele "
exprime a fidelidade de Deus, que, apesar da infidelidade do pecado
dos homens e do castigo que ele merece, "guarda seu amor a
milhares" (Ex 34,7). Deus revela que "rico em misericrdia" (Ef
2,4), indo at o ponto de dar seu prprio Filho. Ao dar sua vida para
libertar-nos do pecado, Jesus revelar que ele mesmo traz o Nome
divino: "Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, ento sabereis
que EU SOU" (Jo 8,28[a44] ). S DEUS 212 Ao longo dos sculos, a f de
Israel pde desenvolver e aprofundar as riquezas contidas na revelao
do nome divino. Deus nico, fora dele no h deuses[fca45] .
Transcende o mundo e a histria. Foi Ele quem fez o cu e a terra:
"Eles perecem, mas tu permaneces; todos ficam gastos como a
roupa... mas tu existes, e teus anos jamais findaro!"
(S1102,27-28). Nele "no h mudana, nem sombra de variao" (Tg 1,17).
Ele "AQUELE QUE ", desde sempre e para sempre, e assim que
permanece sempre fiel a si mesmo e s suas promessas[a46] . 213 A
revelao do nome inefvel "EU SOU AQUELE QUE SOU" contm, pois, a
verdade de que s Deus . E neste sentido que a traduo dos Setenta e,
na esteira deles, a Tradio da Igreja compreenderam o nome divino:
Deus a plenitude do Ser e de toda perfeio, sem origem e sem fim. Ao
passo que o das as criaturas receberam dele todo o seu ser e o seu
ter, s ele seu prprio ser, e por si mesmo tudo o que [a47] .
25. III. DEUS, "AQUELE QUE ", VERDADE E AMOR 214 Deus, "Aquele
que ", revelou-se a Israel como Aquele que e rico em amor e em
fidelidade" (Ex 34,6). Esses dois termos exprimem de forma
condensada as riquezas do nome divino. Em todas as suas obras Deus
mostra sua benevolncia, bondade, graa, amor, mas tambm sua
confiabilidade, constncia, fidelidade, verdade. "Celebro teu nome
por teu amor e verdade" (Sl 138,2[fca48] ). Ele a Verdade, pois
"Deus Luz, nele no h trevas" (1Jo 1,5), e Amor", como ensina o
apstolo Joo (1Jo 4,8[a49] ). DEUS A VERDADE 215 "O princpio de tua
palavra a verdade, tuas normas so justia para sempre" (Sl 119,160).
"Sim, Senhor Deus, s tu que s Deus, tuas palavras so verdade" (2Sm
7,28); por isso que as promessas de Deus sempre se realizam. Deus a
prpria Verdade, suas palavras no podem enganar. por isso que
podemos entregar-nos com toda a confiana verdade e fidelidade de
sua palavra em todas as coisas. O comeo do pecado e da queda do
homem foi uma mentira do tentador que induziu duvidar da palavra de
Deus, de sua benevolncia e fidelidade. 216 A verdade de Deus sua
sabedoria que comanda toda ordem da criao e do governo do
mundo[fca52] . Deus, que sozinho criou o cu e a terra , e o nico
que pode dar o conhecimento verdadeiro de toda coisa criada em sua
relao com ele. 217 Deus verdadeiro tambm quando se revela: o
ensinamento que vem de Deus "uma doutrina de verdade" (Ml 2,6).
Quando enviar seu Filho ao mundo, ser "para dar testemunho da
Verdade" (Jo 18,37): "Ns sabemos que veio o Filho de Deus e nos deu
a inteligncia para conhecermos o Verdadeiro". DEUS AMOR 218 Ao
longo de sua histria, Israel pde descobrir que Deus tinha uma nica
razo para revelar-se a ele e para t-lo escolhido dentre todos os
povos para ser dele: seu amor gratuito. E Israel entendeu, graas a
seus profetas, que foi tambm por amor que Deus no cessou de salv-1o
e de perdoar-lhe sua infidelidade e seus pecados. 219 O amor de
Deus por Israel comparado ao amor de um pai por seu filho. Este
amor mais forte que o amor de uma me por seus filhos. Deus ama seu
Povo mais do que um esposo ama sua bem- amada; este amor se
sobrepor at s piores infidelidades; ir at a mais preciosa doao:
"Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho nico" (Jo 3,16 220
O amor de Deus "eterno" (Is 54,8): "Os montes podem mudar de lugar
e as colinas podem abalar-se, mas o meu amor no mudar" (Is 54,10).
"Eu te amei com um amor eterno, por conservei por ti o amor" (Jr
31,3). 221 Mas So Joo ir ainda mais longe ao afirmar: "Deus Amor"
(1Jo 4,8.16); o prprio Ser de Deus Amor. Ao enviar, na plenitude
dos tempos, seu Filho nico e o Esprito de Amor, Deus revela seu
segredo mais ntimo: Ele mesmo eternamente intercmbio de amor: Pai,
Filho e Esprito Santo, e destinou- nos a participar deste
intercmbio. IV. O ALCANCE DA F NO DEUS NICO 222 Crer em Deus, o
nico, e am-lo com todo o prprio ser em conseqncias imensas para
toda a nossa vida. 223 Significa conhecer a grandeza e a majestade
de Deus. "Deu, grande demais para que o possamos conhecer" (J
36,26). E por isso que Deus deve ser o "primeiro a ser
servido".(Santa Joana dArc, dictum).
26. 224 Significa viver em ao de graas. Se Deus o nico, tudo o
que somos e tudo o que possumos vem dele: "Que que possuis, que no
tenhas recebido?" (1Cor 4,7). "Como retribuirei ao Senhor todo o
bem que me fez?" (Sl 116,12[a71] ). 225 Significa conhecer a
unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos eles so
feitos " imagem e semelhana de Deus" (Gn 1,27[a72] ). 226 Significa
usar corretamente das coisas criadas. A f no Deus nico nos leva a
usar de tudo o que no Ele, na medida em que isso nos aproxima dele,
e a desapegar-nos das coisas, na medida em que nos desviam dele:
Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vs. Meu
Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vs. Meu Senhor
e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo pai doar-me por inteiro a
vs. 227 Significa confiar em Deus em qualquer circunstancia, mesmo
na adversidade. Uma orao de Sta. Teresa de Jesus (Poes. 9)
exprime-o de maneira admirvel: Nada te perturbe Nada te assuste
Tudo passa Deus no muda A pacincia tudo alcana Quem a Deus tem Nada
lhe falta. S Deus basta RESUMINDO 228 "Ouve, Israel, o Senhor nosso
Deus o nico Senhor.... (Dt 6,4; Mc 12,29). " preciso
necessariamente que o supremo seja nico, isto , sem igual... Se
Deus no for nico no Deus" 229 A f em Deus leva-nos a nos voltar s
para Ele como nossa primeira origem e nosso fim ltimo, e a nada
preferir nem substitui-lo por nada. 230 Ao revelar-se, Deus
permanece Mistrio inefvel: "Se o compreendesses, ele no seria
Deus". 231O Deus de nossa f revelou-se como Aquele que ; deu-se a
conhecer como "cheio de amor e fidelidade" (Ex 34,6). Seu prprio
ser Verdade e Amor. A PROFISSO DA F CRIST OS SMBOLOS DA F -
PARGRAFO 2 - O PAI I. "EM NOME DO PAI, DO FILHO E DO ESPRITO SANTO"
232) Os cristos so batizados "em nome do Pai, do Filho e d Esprito
Santo" (Mt 28,19). Antes disso, eles respondem "Creio" trplice
pergunta que os manda confessar sua f no Pai, no Filho e no
Esprito: "Fides omnium christianorum in Trinitate consistit - A f
de todos os cristos consiste na Trindade. 233) Os cristos so
batizados "em nome" do Pai e do Filho e do Esprito Santo, e no "nos
nomes" destes trs, pois s existe um Deus, o Pai Todo-Poderoso, seu
Filho nico e o Esprito Santo: a Santssima Trindade. 234) O mistrio
da Santssima , portanto, a fonte de todos os outros mistrios da f,
a luz que os ilumina. o ensinamento mais fundamental e essencial na
"hierarquia da