2. Conferncia nacional dos bispos do Brasil Evangelizao da
juventude Desafios e perspectivas pastorais
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Ivanise Bombonatto
4. 5 Apresentao Aps dois anos de reflexo e duas Assemblias da
CNBB, a Igreja do Brasil recebe como presente o documento:
Evangelizao da juventude: desafios e perspectivas pastorais. No
mesmo perodo em que o papa se encontra com a juventude brasileira,
a CNBB publica este como instrumento dinamizador da ao
evangelizadora no Brasil. Contemplando a realidade juvenil atual e
desejan- do oferecer luzes para o trabalho junto aos jovens, este
documento referncia para todos que, na Igreja, tm se colocado na
evangelizao desta parcela to impor- tante da sociedade: pastorais
da juventude, movimentos, congregaes religiosas, novas comunidades,
grupos juvenis e de crisma, Pastoral Vocacional, Pastoral da Educao
e servios diversos. A evangelizao da juventude interessa muito
Igreja e aos seus pastores. Temos um compromisso srio com a formao
das novas geraes que, pressionadas por tantas propostas de vida,
necessitam de muito dis- cernimento, de coragem, de verdadeiros
caminhos e, principalmente, de nossa presena amiga: Os jovens tm o
direito de receber da Igreja o Evangelho e de ser introduzidos na
experincia religiosa, no encontro com Deus e no contato com as
riquezas da f crist.
5. 6 E os pastores da Igreja tm grande desejo de lhes co-
municar a Boa-Nova de Jesus Cristo e de acolh-los na comunidade
eclesial (Estudos da CNBB, n. 93, Apresentao). Estamos certos de
que o presente e o futuro da prpria Igreja dependem desta nossa opo
afetiva e efetiva por eles, como, tambm, a nossa sociedade
progredir medida que puder contar com cidados verdadeiramente
capacitados a testemunhar, defender e propagar os valores do
Evangelho, todos eles a favor da vida plena para o ser humano. A
busca de unidade de nossas foras eclesiais em vista de um trabalho
mais eficiente encontra neste documento as suas linhas gerais e
motivaes. A di- versidade de carismas, espiritualidades e pedagogia
de trabalho juvenil para ns uma riqueza na Igreja de Jesus Cristo.
Quanto mais estivermos convencidos do valor da unidade na
diversidade mais os nossos jovens se beneficiaro, as nossas
comunidades se fortalecero e a nossa sociedade sentir a fora
positiva de uma juventude convicta e entusiasmada pelos verdadeiros
valores pregados por Jesus Cristo. Uma adequada evangelizao,
iluminada pelo Esprito Santo que faz novas todas as coisas, nos
garantir uma juventude mais amada e animada em vista do Reino de
Deus. A nossa presena educativa
6. 7 no meio dos jovens e nossas estruturas organizativas
encontraro neste documento valiosas orientaes e mo- tivaes para que
os jovens se tornem verdadeiramente apaixonados por Jesus Cristo e
seus fiis discpulos em vista do bem de todos. Braslia, 26 de maio
de 2007 Memria de So Filipe Neri, Evangelizador da juventude Dom
Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretrio-Geral
da CNBB
7. 9 Introduo 1. Jesus, vendo que eles o seguiam,
perguntou-lhes: Que procurais? Eles responderam: Mestre, onde
moras? Ele respondeu: Vinde e vede. Foram, viram onde Jesus morava
e permaneceram com ele aquele dia (Jo 1,38-39). A juventude mora no
corao da Igreja e fonte de renovao da sociedade. Os jovens de todos
os tempos e lugares buscam a felicidade. A Igreja continua olhando
com amor para os jovens, mostrando- lhes o verdadeiro Mestre
Caminho, Verdade e Vida que os convida a viver com ele. Ns,
pastores, consideramos urgente e importante o tema da evangelizao
da juventude para refleti- lo luz da Palavra de Deus e de tantas
riquezas e desafios deste momento histrico-cultural em que vivemos.
2. Jesus envia a Igreja ao mundo para dar continui- dade sua obra.
Evangelizar constitui, de fato, a graa e a vocao prpria da Igreja,
a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou
seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graa.1 Junto aos
jovens, ela quer ser um meio atravs do qual eles se percebam como
filhos 1 EN, n. 14.
8. 10 amados de Deus e irmos de todos, capazes de entender e
acolher com alegria a Boa-Nova que transforma a partir de dentro de
cada um e ao seu redor.2 3. A f h de ser apresentada aos jovens
como um encontro amoroso com Deus, que toma feies humanas na pessoa
de Jesus Cristo: No incio do ser cristo, no h uma deciso tica ou
uma gran- de idia, mas o encontro com um acontecimento, com uma
pessoa que d vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo
decisivo.3 Desse modo, estaro em jogo duas realidades: o encontro
pes- soal com Jesus Cristo e a aceitao de um projeto de vida
baseado no seu Evangelho. Essa adeso necessariamente incorpora a
realidade em que o jovem vive como conseqncia de verdadeira
encarnao crist. 4. Queremos renovar a opo afetiva e efetiva4 de
toda a Igreja pela juventude na busca conjunta de 2 Evangelizar,
para a Igreja, levar a Boa-Nova a todas as parcelas da humanidade,
em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transform-las a
partir de dentro e tornar nova a prpria humanidade: Eis que fao
novas todas as coisas [...]. A Igreja evangeliza quando, unicamente
firmada na potncia divina da mensagem que proclama, ela procura
converter ao mesmo tempo a conscincia pessoal e coletiva dos
homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio
concreto que lhes so prprios (EN, n. 18). 3 Bento XVI, Encclica
Deus Amor, n. 1. 4 Cf. Documento de Santo Domingo, n. 114.
9. 11 propostas concretas que favoream uma verdadei- ra
evangelizao desta parcela da nossa sociedade. A responsabilidade de
anunciar Jesus Cristo e seu projeto aos jovens convoca-nos a uma
constante vigilncia para que a vontade de Deus e os sinais dos
tempos sejam respondidos de modo adequado, principalmente em uma
poca de muitas mudan- as.5 5. Queremos colaborar com a pluralidade
de pasto- rais, grupos, movimentos e servios que existem em nossas
Igrejas particulares para que trabalhem em conjunto, visando ao bem
da juventude, e para que os nossos jovens, reconhecidos como
sujeitos e protagonistas, contribuam com a ao de toda a Igreja,
especialmente na evangelizao dos outros jovens. 6. Desejamos,
juntos, abrir caminhos para favorecer o desenvolvimento dos jovens,
quanto ao anncio 5 Mais que a uma reflexo, somos chamados a uma
maior proximidade do mundo juvenil, para que, a partir da prpria
juventude, descubramos caminhos novos na evangelizao, contemplando
seus reais anseios e apresentando-lhes a pessoa de Jesus Cristo,
com seu rosto verdadeiro, capaz de encantar e atrair, para que os
jovens o conheam, o sigam e encontrem nele uma resposta
convincente; consigam acolher uma mensagem e tornarem-se seus
discpulos [...]. A evangelizao da juventude no se justifica apenas
pela preocupao da Igreja em aumentar os seus membros, ou garantir
seu futuro. O empenho na evangelizao da juventude nasce da
conscincia da prpria Igreja de sua misso evangelizadora, de sua
fidelidade ao mandato recebido e pela convico da riqueza presente
na juventude, e que, sem ela, a Igreja seria fartamente empobrecida
(Homilia de Dom Jos Mauro Pereira Bastos na 44 Assemblia Geral da
CNBB).
10. 12 do querigma,6 educao aos valores cristos,7 formao bblica
e teolgica, iniciao vida litrgica, ao ensino religioso nas escolas
e univer- sidades,8 educao para a solidariedade e para a
fraternidade;9 superao de preconceitos;10 educao psicoafetiva;
formao na ao11 e para a cidadania. Estamos convictos de que a
forma- o da juventude contribui para a promoo da dignidade de sua
vida em todos os aspectos.12 7. Alegramo-nos com as muitas aes
positivas que acontecem no meio da juventude e desejamos que a
Igreja seja cada vez mais sinal e portadora do amor de Deus aos
jovens, apresentando-lhes a pessoa e o projeto de Jesus Cristo como
proposta 6 A Igreja existe para evangelizar, isto , para anunciar a
Boa Notcia do Reino, proclamado e realizado em Jesus Cristo (cf.
EN, n. 14): sua graa e vocao pr- pria. O centro do primeiro anncio
(querigma) a pessoa de Jesus, proclamando o Reino como uma nova e
definitiva interveno de Deus que salva com um poder superior quele
que utilizou na criao do mundo. Esta salvao o grande dom de Deus,
libertao de tudo aquilo que oprime a pessoa humana, sobretudo do
pecado e do Maligno, na alegria de conhecer a Deus e ser por ele
conhecido, de o ver e se entregar a ele (CNBB. Diretrio Nacional de
Catequese. Braslia, CNBB, 2006. n. 30). 7 Cf. CNBB, Diretrizes
gerais 2003-2006, doc. 71, n. 23. 8 Ibid., n. 24. 9 Ibid., n. 123b.
10 Ibid., n. 131. 11 Ibid., n. 201. 12 Ibid., n. 85f.
11. 13 segura e transformadora para si e para o seu meio,
convocando-os a se tornarem realmente membros atuantes em suas
comunidades de f, amando-os e acreditando em suas potencialidades,
entendendo- os em suas buscas para contribuir com a defesa e a
promoo da vida, incentivando-os a serem cada vez mais agentes de
transformao da prpria realidade, estimulando os que j esto
engajados a viverem um processo contnuo de crescimento, converso
pessoal e compromisso com a socieda- de, desenvolvendo um esforo
amplo e constante de evangelizao de jovens que lhes proporcione o
conhecimento da Palavra de Deus e que os ajude a discernir,
criticamente, ideologias e propostas religiosas que tentam reduzir
ou instrumentalizar a f.13 8. A evangelizao exige testemunho de
vida, anncio de Jesus Cristo e adeso a ele, adeso comunidade,
participao na misso da Igreja e transformao da sociedade.14
Evangelizar im- plica, em primeiro lugar, proporcionar o anncio
querigmtico da pessoa de Jesus Cristo. Em se- guida, esta
experincia dever ser aprofundada em grupos de convivncia que devem
conduzir cate- 13 Ibid., n. 105f. 14 EN, nn. 17-24.
12. 14 queticamente a uma maturidade na f e prontido para ser
discpulo e protagonista na construo do Reino de Deus por toda a
vida, buscando a transformao da sociedade.15 9. O presente texto
quer ser um instrumento para a evangelizao da juventude. Ele
pretende no esgotar o assunto nem aprofundar a compreenso do
fenmeno juvenil mas sim oferecer propostas evangelizadoras s
realidades locais de modo provocador, na busca de novos caminhos,
num dilogo franco e construtivo com a cultura ps- moderna.
Dividimos as reflexes em trs partes: I. Elementos para o
conhecimento da realidade dos jovens. II. Um olhar de f a partir da
Palavra de Deus e do Magistrio. III. Linhas de ao. 15 Cf. Diretrio
geral para a catequese, n. 49.
13. 15 I. Elementos para o conhecimento da realidade dos jovens
10. Conhecer os jovens condio prvia para evan- geliz-los. No se
pode amar nem evangelizar a quem no se conhece. Por esse motivo,
iniciamos com alguns elementos das realidades juvenis, bus- cando
conhecer a gerao de jovens cuja evangeli- zao se apresenta como um
dos grandes desafios da Igreja neste incio do sculo XXI. necessrio
ter em conta a variedade de comportamentos e situaes da juventude
hoje e a dificuldade de delinear um nico perfil da mesma no mundo e
no Brasil. Alm do mais, trata-se de uma situao exposta oscilao
constante, marcada ainda com maior impacto pela velocidade social
das mudanas culturais e histricas, com as vulnera- bilidades e
potencialidades dos jovens, tudo isso confrontado com uma
experincia significativa da Igreja quanto evangelizao da juventude.
1. As transformaes culturais e os jovens 11. A modernidade abriu as
portas do mundo para uma nova atitude do homem e da mulher
face
14. 16 vida, acentuando a centralidade da razo, a liberdade, a
igualdade e a fraternidade. Num pri- meiro momento, a Igreja
fragilizou-se ao resistir possibilidade de mudana, distanciando-se
da juventude, da sua linguagem, de suas expresses e maneiras de ser
e viver diante do avano da modernidade. Uma das finalidades do
Conclio Vaticano II, convocado pelo Papa Joo XXIII, era ajustar
melhor as instituies da Igreja s necessidades de nosso tempo.1 12.
Nas ltimas dcadas, ao lado da cultura moderna vem-se fortalecendo a
cultura ps-moderna. A ps-modernidade no uma nova cultura que se
contrape de modo frontal modernidade. Cons- tatam-se mudanas no
cenrio, grande velocidade e volume da informao, rapidez na mudana
do cotidiano por parte da tecnologia, novos cdigos e
comportamentos. Devido globalizao e ao poder de comunicao dos meios
eletrnicos, essas mudanas vm penetrando fortemente no meio juvenil.
13. A ps-modernidade no substitui a modernidade. As duas culturas
vivem juntas. Os valores da modernidade continuam sendo importantes
para os jovens: a democracia, o dilogo, a busca de felicidade
humana, a transparncia, os direitos 1 Cf. SC, n. 1.
15. 17 individuais, a liberdade, a justia, a sexualidade, a
igualdade e o respeito diversidade. Uma Igreja que no acolhe esses
valores encontra grandes dificuldades para evangelizar os jovens.
14. Os jovens de hoje e a Igreja em que vivem so influenciados
pelos impactos da modernidade e da ps-modernidade. Alguns elementos
deste momento histrico exercem grande influncia na mentalidade, nos
valores e no comportamento de todas as pessoas. Ignorar estas
mudanas difi- cultar o processo de evangelizao da juventude o grupo
social que assimila esses valores e mentalidade com mais rapidez.
Uma evangeliza- o que no dialoga com os sistemas culturais uma
evangelizao de verniz, que no resiste aos ventos contrrios.2 15.
Dentre os muitos elementos da nova cultura ps-moderna3 que influem
no processo de evangelizao dos jovens e no fenmeno da indiferena de
uma parcela da juventude face Igreja, destacamos a subjetividade,
as novas expresses da vivncia do sagrado e a centra- lidade das
emoes. 2 A ruptura entre o Evangelho e a cultura sem dvida o drama
da nossa poca, como o foi tambm de outras pocas (EN, n. 20). 3 Mais
informaes sobre esse assunto podem ser encontradas no Anexo 1:
Impacto das tendncias do mundo contemporneo sobre os jovens.
16. 18 1.1 A subjetividade 16. A subjetividade, no contexto
ps-moderno, particu- larmente em referncia juventude, merece
estudos e conhecimentos aprofundados para que o dilogo e a
linguagem estabelecidos com os jovens tenham impacto e fora de
convocao para o seguimento de Jesus. A evangelizao da juventude
exige atua- lizao permanente do conhecimento da dinmica de sua
subjetividade. H de se levar em conta a sua complexidade. Este
conhecimento possibilitar um adequado tratamento do fenmeno do
subjetivismo que gera, facilmente, a permissividade, o egosmo, a
identificao simples da felicidade com o prazer, a incompetncia para
lidar com a pluralidade de solicitaes e ofertas, entre outras.
Estas questes afetam a subjetividade humana, particularmente a
juvenil. 17. O ideal coletivo dos anos 1970-1980 de cons- truir um
mundo melhor foi sendo substitudo por uma maior preocupao com as
necessida- des pessoais, com os sentimentos, com o pr- prio corpo,
com a melhora da auto-estima, com a confiana, com a libertao dos
traumas etc. O ambiente de descrdito dos grandes ideais coletivos
em que vivem faz com que segmentos da juventude tenham forte
tendncia de viver somente no presente, na cultura do
descartvel.
17. 19 Este fenmeno tem o efeito de se concentrar, no momento
atual, na busca de sensaes e emo- es passageiras. Ao mesmo tempo, h
outros segmentos que manifestam preocupao com um futuro mais
prximo. 18. Nesse contexto faz-se necessrio buscar um equilbrio
entre o projeto individual e o projeto coletivo. Os dois grandes
movimentos de nosso tempo, o movimento pela justia social e o mo-
vimento pela auto-realizao, so metades de um todo esperando para se
unirem numa grande fora de renovao.4 Porm, o equilbrio deve ser
promovido com muita sensibilidade, pois a auto-realizao pressupe a
relao com o outro, com a comunidade. Ao mesmo tempo, de maneira
alguma a comunidade deve ser sinnima de uni- formidade. 1.2 As
novas expresses da vivncia do sagrado 19. Em tal conjuntura,
acontece uma redescoberta da dimenso religiosa. H a busca de uma
espiritua lidade que d unidade e gosto vida. Trata-se, entretanto,
de uma religiosidade mais individual. Face a tanto medo, pressa e
caos, muitas pessoas voltam-se para vrios tipos de manifestaes 4
Cf. Steinem, G. Revolution from within. Boston, Little/Brown,
1993.
18. 20 religiosas e msticas (ocultismo, nova era, esote- rismo,
horscopos, astrologia...). Outras pessoas refugiam-se em grupos
fundamentalistas em que as verdades so ensinadas de maneira
dogmati- zada, evitando, assim, a angstia da dvida. 20. Embora esta
mudana cultural possa oferecer uma terra frtil religio, importante
analisar com cautela tais expresses do sagrado. A abertura para o
transcendente no significa, necessariamente, uma aceitao das
religies organizadas. Muito fermento espiritual est sendo elaborado
fora das instituies. H estudos que demonstraram que muitos jovens
esto procurando razes para viver sem envolver-se com uma Igreja.
Trata-se de uma espiritualidade centrada na pessoa e no a partir de
uma vivncia institucional e, por isso, busca-se algo que satisfaa
suas necessidades. 21. No entanto, a mudana cultural abre uma porta
para o processo de evangelizao dos jovens. Hoje mais fcil trabalhar
a espiritualidade, em todas as suas dimenses, que na dcada de 1980,
quando o tempo dedicado s celebraes e orao era freqentemente visto
como algo secundrio face urgncia da transformao social. necessrio,
contudo, resistir tentao de reduzir ou manipu- lar a mensagem do
Evangelho para ganhar mais adeptos.
19. 21 1.3 A centralidade das emoes 22. Se antes se exaltava a
razo, hoje se acentua a emoo. Se a importncia dada s emoes po-
sitiva, sua absolutizao leva a um esvaziamento intelectual, do
compromisso transformador e da conscincia crtica, leva
superficialidade e falta de perseverana, podendo facilmente
conduzir ao fundamentalismo, que tem suas expresses dentro de todas
as grandes religies. 23. O fenmeno religioso que mais chama a
ateno, dentro desse novo contexto cultural centrado nas emoes, o
crescimento do neopentecostalismo, que acentua a subjetividade e o
elemento afetivo em sua metodologia de evangelizao.5 Este fenmeno
mais visvel pelo nmero de Igrejas pentecostais que nascem a cada
dia, principal- mente nas periferias das grandes cidades. Com a
diversificada oferta de escolha do sagrado, por parte do
consumidor, a f regulada pelo mercado, de modo especial, pela TV. A
religio deixou de representar o espao da relao do crente com Deus
para se transformar em veculo de ascenso social ou em promessa de
felicidade 5 H tambm outros aspectos do neopentecostalismo, como o
atendimento per- sonalizado, ausncia de burocracia e de exigncias,
simplicidade de doutrina, flexibilidade moral, esprito de
tolerncia, organizao simplificada que elimina intermedirios, espaos
bonitos, encontros alegres e informais.
20. 22 plena. Troca-se a elaborao analtica que exige a dor da
busca e da reflexo por sesses de entre- tenimento religioso.6 24. A
tendncia de acentuar os sentimentos, no mundo contemporneo, tem
forte penetrao no meio dos jovens e levanta questes importantes
referentes metodologia de trabalho pastoral. Por outro lado, medida
que aumenta o nvel de escolaridade dos jovens, aumenta, tambm, a
necessidade de uma base intelectual da f; caso contrrio, muitos
acabam abandonando sua f. importante lem- brar que as duas culturas
continuam convivendo juntas: a modernidade, que acentua a razo, e a
ps-modernidade, que acentua a centralidade das emoes. 25. H
necessidade de levar em conta os dois enfoques da cultura
contempornea e manter um equilbrio entre os dois plos: o racional e
o emocional. Emoes, sentimentos e imaginao precisam ser integrados
em uma metodologia que tenha objetivos claros. Ao mesmo tempo, a
razo deve deixar espao para as emoes e a imaginao. A mensagem do
Evangelho precisa ser apresentada como resposta s dimenses da vida
do jovem. 6 Dr. William Csar Castilho Pereira, professor da
PUC-Minas. Cf. Pereira, William Csar Castilho (org.). Anlise
institucional na vida religiosa consagrada. Belo Hori- zonte/Rio de
Janeiro, O Lutador/CRB, 2005.
21. 23 A formao deve ser integral, isto , considerar as
diversas dimenses da pessoa humana e os processos grupais. 2.
Perfil da juventude brasileira 26. Nossa inteno considerar a
juventude com suas potencialidades para renovar a sociedade e a
Igre- ja. A juventude a fase do ciclo de vida em que se concentram
os maiores problemas e desafios, mas , tambm, a fase de maior
energia, criatividade, generosidade e potencial para o engajamento.
27. Com relao juventude, a noo construda bem recente. Para efeitos
de polticas pblicas, a idade adotada no Brasil vai dos 15 aos 29
anos, com diviso em subgrupos por agrupamento de interesses e
afinidades, caminhando na linha da definio pela necessidade de
afirmao dos di- reitos juvenis. Trata-se de uma fase marcada por
processos de desenvolvimento, insero social e definio de
identidades, o que exige experimen- tao intensa em diversas esferas
da vida.7 J no podemos mais olhar para a juventude como ciclo de
breve passagem para a vida adulta. O perodo da juventude se alongou
e seu transformou, ga- 7 Cf. Freitas, Maria Virgnia de. Juventude e
adolescncia no Brasil; referncias conceituais. So Paulo, Ao
Educativa, 2005. p. 31.
22. 24 nhando maior complexidade e significao social, trazendo
novas questes para as quais a sociedade ainda no tem respostas
integralmente formula- das.8 Desse modo, incluir os jovens na
Igreja, hoje, significa olhar para as mltiplas dimenses em que eles
esto inseridos. Para, a partir da, trat-los como sujeitos com
necessidades, poten- cialidades e demandas singulares em relao s
outras faixas etrias. A juventude requer estrutura adequada para
seu desenvolvimento integral, para suas buscas, para a construo de
seu projeto de vida e sua insero na vida profissional, social, re-
ligiosa etc. To importante, tambm, olhar para a juventude conforme
sua diversidade, segundo as desigualdades de classe, renda
familiar, regio do pas, condio de moradia rural ou urbana, no
centro ou na periferia, de etnia, gnero etc.; em funo destas
diferenas, os recursos disponveis resultam em chances muito
distintas de desenvol- vimento e insero.9 28. Dentre o complexo
perfil da juventude brasileira, destacamos alguns elementos que
consideramos primordiais, na viso da realidade para a evange- lizao
dos jovens: perfil socioeconmico, prota- gonismo e participao
social, e perfil religioso. 8 Ibid., pp. 31-32. 9 Ibid., pp.
31-32.
23. 25 2.1 Perfil socioeconmico 29. Para caracterizar a
juventude, as estatsticas brasileiras geralmente seguem os
parmetros de organismos internacionais, considerando o grupo etrio
de 15 a 24 anos.10 Em 2000, no ltimo re- censeamento geral da
populao, estavam nessa faixa etria cerca de 34 milhes de pessoas, o
que representa 20% da populao brasileira.11 Se acrescentarmos a
esse contingente os indivduos de 25 a 29 anos, em geral designados
pelos dem- grafos de jovens adultos, teramos um total de 47 milhes.
A juventude brasileira marcada por uma extrema diversidade e
manifesta as diferen- as e as desigualdades sociais que
caracterizam nossa sociedade. Trata-se de um contingente
populacional bastante significativo, em idade pro- dutiva, que se
constitui em uma importante fora a ser mobilizada no processo de
desenvolvimento de nosso pas. 30. Dentre as vrias diferenciaes que
recortam a juventude, esto as de classe social, cor e etnia, sexo,
local de moradia, as diferentes situaes de responsabilidade face
famlia, alm das varia- 10 Em pases da Europa, para efeito de execuo
de polticas pblicas, h uma ten- dncia de considerar como jovens os
indivduos com at 30 anos de idade. 11 Cf. IBGE. Censo Demogrfico de
2000.
24. 26 es relativas ao gosto musical ou estilo cultural e as
pertenas associativas, religiosas, polticas. 31. H jovens que tm um
padro de vida elevado, mas so uma minoria. A maioria dos 34 milhes
de jovens brasileiros representa um dos segmentos populacionais
mais fortemente atingidos pelos mecanismos de excluso social. As
estatsticas demonstram que a juventude um dos grupos mais
vulnerveis da sociedade brasileira. Ela especialmente atingida
pelas fragilidades do sistema educacional, pelas mudanas no mundo
do trabalho e, ainda, o segmento etrio mais destitudo de apoio de
redes de proteo social. 32. Eis alguns dos principais problemas com
os quais se deparam, hoje, os jovens brasileiros:12 a dispa- ridade
de renda; o acesso restrito educao de qualidade e frgeis condies
para a permanncia nos sistemas escolares; o desemprego e a insero
no mercado de trabalho; a falta de qualificao para o mundo do
trabalho; o envolvimento com drogas; a banalizao da sexualidade; a
gravidez na adolescncia; a AIDS; a violncia no campo e na cidade; a
intensa migrao; as mortes por causas externas (homicdio, acidentes
de trnsito e suicdio); o limitado acesso s atividades espor- tivas,
ldicas, culturais e a excluso digital. 12 Cf. Anexo 2: Situao
socioeconmica da juventude brasileira.
25. 27 33. O impacto da pobreza, em uma sociedade que sacraliza
o consumo, relativiza os valores, atinge a famlia, o primeiro lugar
de socializao do jovem. Cresce o nmero de homens e mulheres que no
fundam lares estveis, levando o ncleo familiar a se desintegrar.
Essa situao deixa fortes cicatrizes emocionais na personalidade de
muitos jovens em um momento crtico de suas vidas. Impressiona o
nmero de jovens nas comunidades juvenis que enfrentam problemas
emocionais srios. 34. Destacam-se trs marcas da juventude na
atuali- dade: o medo de sobrar, por causa do desempre- go, o medo
de morrer precocemente, por causa da violncia, e a vida em um mundo
conectado, por causa da Internet.13 O sentido e a dureza dessas
marcas anseiam por uma Boa Notcia que, a partir de um olhar de f,
pode ser encontrada no interior da prpria juventude.14 13 Novaes,
Regina & Vital, Christina. A juventude de hoje: (re)invenes da
partici- pao social. In:Thompson, Andrs (org.). Associando-se
juventude para construir o futuro. So Paulo, Peirano, 2006. pp.
112-113. 14 H 32,1 milhes de brasileiros com mais de 16 anos e
algum tipo de acesso In- ternet, segundo o Ibope. Eram menos de 10
milhes em 2002. (Folha de S. Paulo, 13/02/06, pgina A2). A pesquisa
realizada pelas ONGs Ibase e Plis revelou que 51,2% dos 8.000
jovens entrevistados nas regies metropolitanas no tinham acesso a
computadores, mas a excluso digital muito influenciada pelo
pertencimento de classe: se 80% dos jovens das classes A/B tm esse
acesso, entre os jovens das classes D/E este ndice cai para 24,2%
(Ibase & Plis, 2005, p. 27).
26. 28 35. Esse quadro aponta a necessidade de promover mudanas
mais profundas e estruturais no modelo de desenvolvimento
econmico-social adotado no pas, com reorientao de investimentos que
garan- tam os direitos bsicos da populao aos jovens em particular
nas reas de educao, criao de empregos, infra-estrutura urbana,
sade, acesso cultura e ao lazer, que tm repercusses na situ- ao de
segurana pblica. Joo Paulo II acusou o liberalismo de subordinar a
pessoa humana e condicionar o desenvolvimento dos povos s foras
cegas do mercado, sobrecarregando desde seus centros de poder aos
pases menos favorecidos com cargas insuportveis. No mesmo discurso
o Santo Padre considerava que o neoliberalismo cau- sou o
enriquecimento exagerado de uns poucos custa do empobrecimento
crescente de muitos, de forma que os ricos so cada vez mais ricos e
os pobres cada vez mais pobres.15 2.2 Protagonismo e participao
social 36. Duas imagens da juventude predominam nos meios de
comunicao e na opinio pblica. De um lado, as propagandas e as
novelas apresentam 15 Joo Paulo II, falando na sua visita a Cuba,
em 1998, em que afirmou claramente que nem o marxismo nem tampouco
a verso neoliberal do capitalismo apresen- taram solues para um
desenvolvimento equilibrado.
27. 29 os jovens como modelos de beleza, de sade e de alegria,
despreocupados, e impem padres de vida e de consumo aos quais
poucos jovens realmente tm acesso. Os jovens tambm so
caracterizados pela fora, ousadia, coragem, gene- rosidade, esprito
de aventura, gosto pelo risco. De outro, nos noticirios, esto os
jovens envolvidos com problemas de violncia ou comportamentos de
risco, que so, na maioria das vezes, negros e oriundos dos setores
populares. 37. Essas duas imagens polares convergem para o mesmo
senso comum que considera a juventude individualista, consumista e
politicamente desin- teressada. Mas esses so esteretipos que no do
conta da diversidade de experincias da juventude brasileira. Por um
lado, verdade que: a) segundo pesquisas da Unicef, 65% dos
adolescentes (de 12 a 17 anos) nunca participaram de atividades
associativas e/ou comunitrias;16 b) de acordo com um levantamento
nacional recente, realizado pelo Instituto Cidadania, entre jovens
de 15 a 24 anos de todo o Brasil,17 apenas uma minoria participa 16
Secretaria Geral da Presidncia da Repblica, Coordenao Nacional do
Projovem, maro 2005, Regina Novaes. 17 Para maiores informaes ver
Abramo, Helena & Branco, Pedro Paulo (orgs.). Retratos da
juventude. So Paulo, Fundao Perseu Abramo/Instituto da Cida- dania,
2005.
28. 30 formalmente de movimentos estudantis, sindica- tos,
grupos religiosos, associaes profissionais e partidos; 15% dos
jovens participam de algum agrupamento juvenil. 38. No entanto,
atualmente no Brasil h uma srie de novas formas de participao
juvenil, entre as quais podemos destacar: a) a pertena a grupos
(pastorais, movimentos eclesiais, novas comuni- dades, redes, ONGs
e outras organizaes juvenis) que atuam para transformar o espao
local, nos bairros, nas favelas e periferias; b) a participao em
grupos que trabalham nos espaos de cultura e lazer: grafiteiros,
conjuntos musicais, de dana e de teatro de diferentes estilos,
associaes es- portivas; c) mobilizaes em torno de uma causa e/ou
campanha: grupos ecolgicos, comits da Campanha contra a Fome, aes
contra a violncia e pela paz, grupos por uma outra globalizao etc.;
d) grupos reunidos em torno de identidades es- pecficas: mulheres,
negros, indgenas, pessoas com deficincia. 39. Para alm do discurso
corrente de que os jovens de hoje no participam, so desinteressados
e aliena- dos, alguns estudos recentes tm demonstrado que os jovens
desejam participar ativamente da vida social, tm muitas sugestes do
que deve ser feito para melhorar a situao do pas e querem dar
sua
29. 31 contribuio. Entretanto, no encontram espaos adequados:
as formas de participao presentes na sociedade e no Estado so
percebidas pelos jovens como muito distantes de sua realidade
cotidiana.18 2.3 Perfil religioso 40. Constata-se que o perfil
religioso do jovem bra- sileiro semelhante ao da populao. Segundo o
Censo de 2000, os catlicos no pas eram 73,8% da populao. Entre os
jovens de 15 a 24 anos, eram 73,6%. Enquanto no conjunto da populao
a presena evanglica representava 15,5%, entre os jovens a adeso s
Igrejas evanglicas era um pouco menor: 14,2%. A maior diferena
encon- trava-se no grupo que se identificava como sem religio: na
populao, 7,4%, e entre os jovens: 9,3%.19 41. Embora expressivo,
este dado no deve ser in- terpretado como um avano do atesmo entre
a juventude brasileira. A maioria desses jovens vive alguma
experincia religiosa. Alguns estudos tm 18 Ibase & Plis.
Juventude brasileira e democracia; participao, esferas e polticas
pblicas. Rio de Janeiro, s.n., 2005. p. 72. 19 Em todas as faixas
etrias as outras religies (espiritismo kardecista, umbanda,
candombl, judasmo, religies orientais, isl etc.) somaram 3% e,
entre os jovens de 15 a 24 anos, 3,3%.
30. 32 demonstrado que a grande maioria dos jovens sem religio
acredita em Deus ou tem outras crenas e, portanto, so inspirados
por uma mstica, muito embora no estejam vinculados a uma instituio
religiosa em particular.20 42. Alm disso, fenmenos que marcam a
dinmica do campo religioso na atualidade so intensifica- dos quando
se trata da populao jovem, como a busca contnua por uma expresso de
f que d sentido s suas vidas (o que acelera o trnsito religioso); a
atrao por manifestaes religiosas exticas; e a elaborao de snteses
pessoais a partir do repertrio de crenas e prticas dis- ponveis em
vrios sistemas religiosos. Nesse contexto, florescem
espiritualidades relacionadas idia do estabelecimento de uma Nova
Era, que integraria o ser humano ao cosmo, em uma dimenso holstica,
e responderia a preocupaes desde aquelas relativas sade fsica e
psquica, 20 Em uma pesquisa nacional representativa da juventude
brasileira, realizada em metrpoles, cidades grandes, mdias e
pequenas, e tambm no interior, 11% dos jovens se apresentaram como
sem religio, sendo que 10% declararam acreditar em Deus, mas no ter
religio, e 1% identificou-se como ateu e agnstico (cf. Juven- tude,
percepes e comportamentos: a religio faz a diferena, artigo de
Novaes, Regina em Retratos da juventude brasileira; anlise de uma
pesquisa nacional. So Paulo, Fundao Perseu Abramo, 2005. pp.
263-290). Outro estudo desenvolvido numa metrlope refora essa
constatao: 98,5% dos 800 jovens entrevistados, com idades entre 15
e 24 anos, disseram acreditar em Deus (cf. Novaes & Mello,
Jovens do Rio, 2002).
31. 33 com as correspondentes prticas teraputicas, at o
respeito e defesa da biosfera. 43. Isso se d em uma fase do ciclo
vital em que as pessoas costumam se questionar acerca de vrios
aspectos de suas vidas: caminhos profissionais, continuidade dos
estudos, relacionamento afe- tivo. recorrente a experimentao em
muitos desses mbitos originando vnculos provisrios. Tambm a adeso
religiosa torna-se campo de reflexes e experincias. Muitos jovens
colocam em xeque a herana religiosa recebida na fam- lia, o que tem
levado a diferentes percursos: a opo consciente pela tradio
religiosa na qual foram educados; o rompimento com essa herana que
pode se traduzir na converso a outro sistema religioso ou a
desvinculao religiosa. Inclusive, tem-se verificado que jovens que
no passaram por uma socializao religiosa tm aderido a diferentes
grupos religiosos. 44. Muitos jovens ligados s instituies
religiosas dispem generosamente de seu tempo livre para desenvolver
as atividades de seu grupo. Tambm porque nessas ocasies costumam
estar em contato com outros jovens e se alegram nesta convivn- cia.
Tal disponibilidade fica reduzida quando os jovens iniciam os
estudos universitrios ou a vida profissional ou, ainda, quando
associam trabalho
32. 34 e estudo. Sem negar as motivaes religiosas desta busca
de participao no grupo, so manifestaes que se iniciam com fora na
adolescncia, na des- coberta de outras realidades alm da famlia,
onde possam construir sua autonomia e sua independn- cia. Da, a
importncia pedaggica e teolgica de um acompanhamento adaptado da
vivncia grupal nessa fase. 45. A preocupao com a evangelizao da
juventude leva-nos, tambm, a olhar a crescente busca dos
adolescentes21 por espaos grupais. Na ausncia de uma proposta
evangelizadora que corresponda s necessidades dos adolescentes,
estes acabam se inserindo nos grupos destinados aos jovens. Neste
cenrio, muitas vezes provocador de res- postas equivocadas para
adolescentes e tambm para jovens, necessitamos conhecer e
aprofundar os elementos que marcam a vida destes sujeitos, 21 A noo
de adolescncia, construda pela Unicef, que tambm adotada pelo
Estatuto da Criana e do Adolescente ECA e para efeito de polticas
pblicas, delimita a idade dos 12 aos 18 anos incompletos. Apresenta
a adolescncia como fase especfica do desenvolvimento humano
caracterizado por mudanas e transformaes mltiplas e fundamentais
para que o ser humano possa atingir a maturidade e se inserir na
sociedade no papel de adulto. No entanto, considera que muito mais
que uma etapa de transio, contemplando uma populao que apresenta
especificidades, das quais decorrem uma riqueza e potencial ni-
cos. preciso considerar a adolescncia na sua condio de grandes
diversidades e desigualdades, em seus espaos naturais, culturais e
sociais (cf. Freitas, Maria Virgnia de. Juventude e adolescncia no
Brasil; referncias conceituais. So Paulo, Ao Educativa, 2005. p.
29).
33. 35 para que a evangelizao possa oferecer propostas
diferenciadas, segundo cada realidade. 46. Sensveis s manifestaes
artsticas e culturais da sociedade contempornea, jovens de
diferentes identidades religiosas aderem com entusiasmo a eventos
semelhantes no mbito religioso (shows, concentraes em estdios
etc.). Assim tem cres- cido o nmero de bandas e artistas
religiosos. 47. Em nossa Igreja h uma presena significativa de
jovens em vrios setores da vida eclesial: nas comunidades eclesiais
de base e nas parquias, participando das equipes de liturgia e de
canto, atuando como catequistas, em diversas pasto- rais. Esto
presentes tambm nas pastorais da juventude, nos movimentos
eclesiais, nas novas comunidades e nas diferentes iniciativas
promo- vidas pelas congregaes religiosas e institutos seculares.
48. Muitas vocaes sacerdotais e religiosas e para ou- tros
ministrios eclesiais tm sido suscitadas por essa participao. Chama
a ateno o fato de que um nmero crescente de jovens esteja buscando
propostas vocacionais exigentes nos campos da contemplao e da ao.
Outro trao a destacar a responsabilidade e a seriedade com que
muitos jovens catlicos, animados pela sua f, tm abra- ado a dimenso
do servio, seja no cuidado aos
34. 36 mais pobres, seja na atuao em movimentos e organizaes
sociais com vistas construo de uma sociedade justa e solidria. No
entanto, nem sempre os jovens atingidos pela ao pastoral da Igreja
na catequese crismal, grupos de jovens e em outras iniciativas
pastorais tm sido conquistados para um slido engajamento na
comunidade de f e muitas vezes eles no se sentem acolhidos em
algumas parquias. 3. Valor da experincia acumulada da Igreja 49.
Diante do desafio de evangelizar a juventude con- tempornea, a
Igreja no est comeando do zero. H um caminho histrico percorrido
por ela que revela uma herana muito rica. H uma corrente atravs da
qual uma gerao de jovens e agentes evangelizadores adultos passa a
experincia acu- mulada para outra. A Igreja Catlica uma das
organizaes que tm mais experincia acumula- da e sistematizada no
trabalho com a juventude. importante resgatar essa experincia,
estando atentos aos sinais dos tempos. Em cada poca, medida que
mudavam os desafios, os enfoques, os valores e o ambiente cultural
da sociedade, a mentalidade dos jovens tambm mudava. Os jo- vens so
mais sensveis s mudanas e propensos a aceitar o novo. Tudo o que
acontece na socie-
35. 37 dade tem seus reflexos na ao evangelizadora da
juventude. Os jovens que so atingidos pela ao evangelizadora esto
inseridos simultaneamente na sociedade e na Igreja. 50. Em cada
poca h necessidade de adequar as concepes e as prticas de
evangelizao para se relacionar com os jovens. Se a Igreja
apresentou uma proposta que se tornou predominante, no significa
que todos os jovens tenham aderido a ela. Aprendemos com as
conquistas e os erros do passado.22 Nem tudo muda de uma poca para
a outra. Mudam, s vezes, os enfoques, o ponto de partida, alguns
elementos da metodologia, sendo que outros permanecem. Na Igreja do
Brasil, muitas foras pastorais atuam junto aos jovens e com eles.
Cada uma delas tem a sua prpria riqueza e contribui, no interior da
Igreja, para a evangelizao da juventude. Destacamos entre elas as
pastorais da juventude, os movimentos 22 Das coisas mais tristes
hoje ver o assassinato de grupos de jovens. Nossa juven- tude mais
eliminada pela violncia do que se participasse de guerras. Este ano
da juventude (na Arquidiocese de Mariana) um grande ato penitencial
da Igreja, por no saber ouvir a juventude [...]. Falta muito para
assumirmos Puebla, e sofremos por isso. A Igreja precisa ser povo,
tem que ir pobreza. Isso cria mstica. Igreja que reza deve
trabalhar com os pobres e pelos pobres. No podemos deixar cair os
braos diante de tanta luta da vida contra a morte. Mas diante da
vida sendo assassinada, Cristo vem para trazer a mensagem: Eu vim
para que todos tenham vida! Acreditar, lutar pela vida, vivifica
este mundo (Dom Luciano Mendes de Almeida no 8 Encontro Nacional da
Pastoral da Juventude, em Janeiro de 2006 Campinas, SP, falando
sobre a opo pelos jovens e pobres feita em Puebla).
36. 38 eclesiais, o servio pastoral das congregaes e as novas
comunidades. Reconhecemos que a evangelizao dos jovens obra de
muitas mos, inclusive com a contribuio da Pastoral Familiar,
Pastoral Vocacional, Pastoral Catequtica, ao missionria.23 23 Esta
rica herana da Igreja do Brasil e da Amrica Latina est descrita no
Anexo 3.
37. 39 II. Um olhar de f a partir da Palavra de Deus e do
Magistrio 51. Escutando e compreendendo os gritos e clamores dos
jovens, a Igreja chamada a evangelizar e ser evangelizada na
atualidade. necessrio olhar com f e luz da palavra da Igreja o
caminho evangelizador a ser percorrido, a partir do objetivo geral
da ao evangelizadora da Igreja no Brasil, ponto de referncia de
toda a ao pastoral: EVANGELIZAR proclamando a Boa-Nova de Jesus
Cristo, caminho para a santidade, por meio do servio, dilogo,
anncio e testemu- nho de comunho, luz da evanglica opo pelos
pobres, promovendo a dignidade da pessoa, renovando a comunidade
eclesial, formando o povo de Deus e participando da construo de uma
sociedade justa e solidria, a caminho do Reino definitivo.
38. 40 52. Ser cristo significa conhecer a pessoa de Jesus
Cristo, fazer opo por ele, unir-se a tantos outros que tambm o
encontraram e, juntos, trabalhar pelo Reino e por uma nova
sociedade. A evan- gelizao da juventude passa por alguns eixos
temticos, a saber, o seguimento de Jesus Cristo, a Igreja,
comunidade dos seguidores de Jesus, e a construo de uma sociedade
solidria. A Igreja, consciente de sua misso, oferece seu ensinamen-
to e a sua viso a respeito da juventude e de sua evangelizao. 1. O
seguimento de Jesus Cristo 53. A busca juvenil de modelos e
referncias uma porta que se abre para o processo de evan- gelizao.
Aqui est a grande oportunidade de apresentar Jesus Cristo. Contudo,
o seguimento de Jesus Cristo no se equipara ao seguimento de outros
lderes religiosos ou mestres. Estes podem indicar o caminho e
apontar a porta, mas no so o caminho nem a porta. Quando
encontramos o caminho, podemos legitimamente esquecer o lder ou o
mestre. Jesus Cristo, porm, sendo Deus, , ele mesmo, Caminho,
Verdade e Vida. Assim, seguir o caminho entrar no Caminho, entrar
em Cristo e Cristo em ns, numa profunda in- terioridade mtua,
formando uma como nica
39. 41 personalidade mstica.1 J no sou eu que vivo, mas Cristo
que vive em mim (Gl 2,20). 54. Com criatividade pastoral,
importante apresen- tar e testemunhar Jesus Cristo dentro do
contexto em que o jovem vive hoje e como resposta s suas angstias e
aspiraes mais profundas. Devemos apresentar Jesus de Nazar
compartilhando a vida, as esperanas e as angstias do seu povo.2 Um
Jesus que caminha com o jovem, como ca- minhava com os discpulos de
Emas, escutando, dialogando e orientando.3 55. Jesus Cristo o ponto
culminante da ao de Deus na histria humana. O Verbo se fez carne e
morou em nosso meio (cf. Jo 1,14). o fato mais deci- sivo da
histria da humanidade. Jesus o rosto humano de Deus e o rosto
divino do homem.4 testemunha do amor infinito de Deus, que se
revela em seus ensinamentos, em seus milagres e exemplo de vida. A
partir da morte e ressurreio de Jesus Cristo e do envio do Esprito
Santo, a Boa-Nova se espalhou para a humanidade. 1 Cf. Paulo VI, no
Documento sobre Indulgncias. 2 Documento de Puebla, n. 176. 3 Um
resumo interessante da vida de Jesus apresentado em Celam.
Civilizao do Amor; tarefa e esperana, orientaes para a pastoral da
juventude latino-americana. So Paulo, Paulinas, 1997. pp. 101-121.
4 Cf. Ecclesia in America, n. 67.
40. 42 56. Jesus congrega ao seu redor um crculo de dis- cpulos
e discpulas que o seguem. nesta vida comunitria que vo aprender o
sentido de vida. O relacionamento diferente. Devem reconhecer- se
como irmos (cf. Mt 10,24-25). Os Evangelhos mencionam, em primeiro
lugar, os Doze (cf. Mt 10,1) e, depois, para alm desse pequeno
grupo, os setenta e dois que ele envia em misso (cf. Lc 10,1) e
todos os demais que o seguem (cf. Mt 8,21). Jesus sabia que no
estaria muito tempo com eles. Precisava form-los e transform-los
para a misso que deveriam assumir com seu retorno ao Pai. 57. O
jovem assim como todo cristo convida- do por Jesus a ser discpulo.
O convite pessoal: Vem e segue-me (Lc 18,22). Ele sempre chama os
seus pelo nome (cf. Jo 10,4). O entusiasmo provocado pelo convite
revelado por Andr, que corre em busca do seu irmo Simo e lhe
anuncia jubiloso: Encontramos o Messias (Jo 1,41). O seguimento e o
testemunho at dar a vida so dois aspectos essenciais da resposta do
discpulo. O relacionamento entre o Mestre e o discpulo significa
uma vinculao pessoal com ele: Vs sois meus amigos (Jo 15,14).
41. 43 58. O grande modelo do seguimento Maria. Nela
descobrimos todas as caractersticas do discipu- lado: a escuta
amorosa e atenta (cf. Lc 1,26-38), a adeso vontade do Pai (cf. Lc
1,38), a atitude proftica (cf. Lc 1,39-55) e a fidelidade a ponto
de acompanhar seu filho at a cruz (cf. Jo 19,25-27) e continuar sua
misso evangelizadora (cf. At 2). 59. Com efeito, o seguimento de
Jesus um exerccio que inclui procedimentos prprios, fecundando o
corao do discpulo e discpula, gerando uma conscincia tica prpria
para sustentar uma con- duta que no mundo aponte o compromisso com
a vida e caminho do Reino definitivo. De modo especial, o
discipulado se exercita no caminho catecumenal que Jesus Mestre
aponta para a ex- perincia dos seus discpulos, como apresentado em
Mc 8,2710,52. Partindo dali, Jesus e seus discpulos atravessavam a
Galilia, mas ele no queria que ningum o soubesse. Ele ensinava seus
discpulos e dizia-lhes: O Filho do Homem vai ser entregue s mos dos
homens, e eles o mataro. Morto, porm, trs dias depois ressuscitar.
Mas eles no compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de
perguntar. Chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus
perguntou-lhes: Que dis- cuteis pelo caminho?. Eles, no entanto,
ficaram calados, porque pelo caminho tinham discutido
42. 44 quem era maior. Jesus sentou-se, chamou os Doze e lhes
disse: Se algum quiser ser o primeiro, seja o ltimo de todos,
aquele que serve a todos! (Mc 9,30-35). 60. O desafio para o jovem
assim como para todos os que aceitam Jesus como caminho escutar a
voz de Cristo em meio a tantas outras vozes. O jovem escuta a voz
do Mestre de diferentes ma- neiras. A ao evangelizadora deve
ajud-lo a ter contato pessoal com Jesus Cristo nos Evangelhos, por
meio de sua mensagem, suas atitudes, sua ma- neira de tratar as
pessoas, sua coragem proftica e a coerncia entre seu discurso e sua
vida. Os Evangelhos assinalam com freqncia que Jesus rezava e
passava horas e noites em orao diante do Pai. As celebraes e a orao
so espaos importantes onde este encontro pessoal acontece e
aprofundado, no silncio e na contemplao. O jovem encontra o Senhor
na leitura dos Evan- gelhos e na vida comunitria, na qual aprende a
escutar a voz de Deus no meio das circunstncias prprias de nosso
tempo, vivenciando assim o mistrio da Encarnao. 61. A formao do
discpulo acontece na vida de comunidade, onde se experimenta o
mandamento novo do amor recproco, que suscita um ambiente de
alegria, de amizade, de carinho, de acolhida
43. 45 e de respeito. O encontro com Cristo, presente entre
aqueles que se renem em seu nome (cf. Mt 18,20), no amor, trar
conseqncias e deixar marcas indelveis na capacidade de
relacionamen- to entre as pessoas, envolvendo os sentimentos, a
inteligncia, a liberdade e o compromisso com um novo modo de agir
na Igreja e na sociedade. Comunidades e grupos assim formados
atrairo os que vierem de fora. 62. Quem se torna discpulo de Jesus,
transforma-se em portador de sua mensagem. Jesus chama o discpulo
para envi-lo em misso. No encontro com Cristo, o novo discpulo
sente-se impelido pelo Esprito Santo a anunciar aos outros a
experi- ncia que teve com Cristo e como nele reconheceu o Messias,
o Salvador. Como o Pai me enviou, tambm eu vos envio. Recebei o
Esprito Santo (Jo 20,21-22). Depois da ressurreio: Ide, fazei com
que todos os povos se tornem meus discpu- los (Mt 28,19). 63. O
jovem o evangelizador privilegiado de outros jovens. uma afirmao
repetida em muitos do- cumentos da Igreja. Esta misso s pode nascer
do encontro pessoal com o Mestre, aprendendo a ser sempre mais
semelhante a Ele. Para evange- lizar, exige-se a experincia de ser
evangelizado,
44. 46 isto , de ter descoberto que Jesus o Caminho, a Verdade
e a Vida. 64. O encontro com Jesus Cristo no algo abstrato.
necessrio caminhar com os jovens e fazer com eles a experincia de
Jesus, Palavra eterna do Pai. Ele est presente na Sagrada
Escritura, na liturgia, sobretudo na Eucaristia; na comunidade
reunida em seu nome, nos irmos e irms, especialmen- te nos mais
necessitados.5 Caminhos pastorais para suscitar este encontro so a
orao pessoal, o dilogo ecumnico e religioso, o cotidiano da vida
(escola, bairro, trabalho, famlia...), as artes (msica, teatro,
dana...) e toda a criao, numa relao harmoniosa com as criaturas.
65. A evangelizao da juventude deve incluir uma slida formao tica,
com uma proposta moral consistente. Assim, a nova Evangelizao mani-
festar sua fora missionria, sendo anunciada como Palavra viva. 66.
A sensibilidade especial dos jovens para as situ- aes de pobreza e
desigualdade social nos abre um caminho espiritual e de formao de
consci- ncia. Jesus revela que o pobre um sinal de sua presena em
nosso meio. Tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes
de beber. Era fo- 5 Cf. Ecclesia in America, n. 12.
45. 47 rasteiro e me acolhestes. Estive nu e me vestistes,
doente e me visitastes, preso e viestes ver-me (Mt 25,35-36). O
pobre algum que no nos deixa dormir em paz. Jesus alerta contra o
perigo da prioridade dada s riquezas materiais, raiz da m
distribuio de renda. H uma pergunta que no pode deixar de nos
incomodar: Por que a verdade de nossa f no teve maior incidncia
social na Amrica Latina, num continente de cristos? O discpulo se
compromete com coerncia de vida e de ao na transformao dos sistemas
polticos, econmicos, trabalhistas, culturais e sociais que mantm na
misria espiritual e material milhes de pessoas em nosso
continente.6 2. Igreja, comunidade dos discpulos de Jesus 67.
Quando evangelizados com testemunho e metodologia os jovens se
empolgam com a pessoa e o projeto de Jesus Cristo. Por que, con-
tudo, face Igreja muitos mostram resistncia? Muitos jovens tm
dificuldade para entender que eles so Igreja ou no se sentem
acolhidos nas comunidades. Constatamos que a imagem que muitos
deles tm da Igreja de algo ultrapassado, 6 Celam. V Conferncia do
Episcopado da Amrica Latina e do Caribe, Documento de participao.
So Paulo, Paulinas, 2005.
46. 48 burocrtico, e que fala uma linguagem que no se conecta
com sua vida. Freqentemente compre- endem-na apenas como instituio
e no como a comunidade dos seguidores de Jesus. Em muitos ambientes
universitrios e meios de comunicao, a Igreja apresentada como
cmplice da injustia e, em diferentes situaes histricas, contra o
pro- gresso humano. Falta aos jovens o conhecimento de tantas
experincias de santidade e solidariedade na histria da Igreja,
tendo como protagonistas os missionrios Bem-aventurado Pe.
Anchieta, Pe. Manoel de Nbrega, Bartolomeu de Las Casas. Em nosso
tempo, tambm destacam-se outros exemplos de vida crist, santidade e
martrio: So Domingos Svio, Santa Maria Goretti, Santo Frei Galvo,
Bem-aventurada Madre Teresa de Calcu- t, o Servo de Deus, Joo Paulo
II, os brasileiros Pe. Manoel Gomes Gonzalez, o coroinha Adlio
Daronch e Albertina Berkenbrock, a serem proxi- mamente
beatificados, assim como Ir. Dulce, Dom Oscar Romero, Dom Helder
Cmara, Ir. Dorothy, Pe. Josimo, Pe. Ezequiel Ramim, Dom Luciano
Mendes de Almeida, Dom Jos Mauro Pereira Bastos e tantos outros.
Nas cidades grandes, chama a ateno a ausncia dos jovens na vida
eclesial, de modo especial os de nvel social e escolaridade mais
elevada, para os quais no h um trabalho
47. 49 pastoral especfico. Em alguns lugares, a Igreja se
afastou e os perdeu. Advertimos a respeito da ne- cessidade urgente
de apresentar missionariamente a verdadeira face da Igreja
juventude e trabalhar a relao entre f e razo. 68.
AsresistnciascontraaIgrejasevencemprogressi- vamente com o
amadurecimento da compreenso dos contextos histricos e quando se
destacam os aspectos positivos, como a credibilidade da Igreja nas
pesquisas sobre as instituies sociais, como tambm o contato com
experincias autnticas de Igreja que contradizem as afirmaes
negativas. 69. A Igreja santa, mas formada por homens e mu- lheres
marcados pela realidade do pecado. Devido fraqueza humana, ela
sofre continuamente a tentao de se afastar da mstica do seu
fundador. A Igreja que evangeliza precisa ser continuamente
evangelizada. Pode-se criticar muito a Igreja. Ns o sabemos e o
Senhor mesmo nos disse que ela
comoumaredecompeixesbonseruins,umcampo com trigo e joio. O Papa Joo
Paulo II, que nos mostrou o verdadeiro rosto da Igreja nos numero-
sos beatos e santos que proclamou, tambm pediu perdo pelo mal
causado, no correr da histria, pelas palavras ou atos de homens da
Igreja.7 7 Homilia de Bento XVI para mais de um milho de jovens na
Jornada Mundial da Juventude em Colnia, em 2005.
48. 50 70. Mesmo com a presena significativa de jovens no espao
eclesial, constatamos a ausncia da grande maioria. Isto se reflete,
tambm, na dificuldade de atrair vocaes para o ministrio
presbiteral, para a vida consagrada e para o laicato. Na evan-
gelizao da juventude est em jogo o presente e o futuro da Igreja.
No entanto, a Igreja trabalha com a juventude no somente para
buscar voca- es que garantem sua continuidade mas tambm para
despertar a riqueza que trazem, ajudando-os a descobrir a vocao
para o servio do Reino e a transformao da Igreja e de toda a
sociedade. 71. importante que os jovens sejam ajudados a entender
que as cincias humanas apontam para a ambivalncia de todas as
estruturas. Por um lado, elas so necessrias. Sem as estruturas no h
continuidade no tempo, e a mensagem original morre. A Igreja a
presena viva do Cristo atuante na histria. Sem a Igreja, no estaria
viva a mensa- gem de Jesus hoje e no teramos os Evangelhos. Atravs
da Igreja, uma gerao de crentes passa sua f seguinte. Por outro
lado, as estruturas se desgastam com o tempo, dificultando a
compre- enso da Boa-Nova, que est em sua origem. Por isso, h
necessidade de renovao contnua. 72. Um caminho importante para
despertar nos jovens o amor pela Igreja e o sentido de pertena a
ela
49. 51 a referncia s experincias das primeiras Comu- nidades
dos Atos dos Apstolos, para concretizar hoje a vida eclesial que
nasceu do derramamento do Esprito no Pentecostes, na qual
resplandecia (cf. At 2,42-47) a orao, a fidelidade Palavra, a
partilha dos bens e a Eucaristia (Frao do Po). 73. Em nosso tempo,
luz do Conclio Vaticano II e de tantas manifestaes dos papas e dos
bispos, insiste-se na Comunho e Participao, palavras e realidades
que indicam um caminho a ser tambm proposto aos jovens. Sua raiz o
Batismo, pelo qual se manifesta uma igualdade fundamental entre
todos os cristos, fazendo-os todos responsveis pela Igreja, cada
qual segundo a prpria vocao. A Igreja, novo povo de Deus, descrita
como Corpo de Cristo, uno na variedade dos membros, onde todos tm
igual dignidade. uno o povo eleito de Deus: Um s Senhor, uma s f,
um s batismo;8 comum a dignidade dos membros pela sua regenerao em
Cristo, comum, a graa de filhos, comum, a vocao perfeio; uma s a
salvao, uma s a esperana e a uni- dade, sem diviso.9 8 Cf. Ef 4,5.
9 Conclio Vaticano II, Lumen gentium, n. 32.
50. 52 74. Por isso, muitos documentos do Magistrio ponti- fcio
e episcopal apontam para a renovao da vida da Igreja atravs do
caminho do servio, no qual todos os fiis, comeando dos ministros
ordena- dos, buscam superar a tentao do autoritarismo e assumir o
modelo do lava-ps, atentos palavra do Senhor: Sabeis que os
governantes das naes as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vs
no dever ser assim. Ao contrrio, aquele que quiser tornar-se
grande, entre vs, seja aquele que serve, e o que quiser ser o
primeiro, dentre vs, seja o vosso servo. Desse modo, o Filho do
Homem no veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos (Mt 20,25-28). O modelo de todos Jesus, o Bom
Pastor, que conhece os seus pelo nome e est disposto a dar sua vida
por eles. 75. Cada cristo, por seu batismo, responsvel pela
construo da Igreja, para que ela seja um espelho do amor de Deus no
mundo e sinal do Reino. Na histria da Igreja, todas as vezes que se
buscaram formas mais elevadas de vida no Evangelho, colocou-se na
vida fraterna seu apoio funda- mental.10 importante que os jovens
tenham a experincia de relacionamento fraterno autntico e do
exerccio da autoridade como servio em sua 10 Cf. CNBB, Diretrizes
gerais 2003-2006, doc. 71.
51. 53 comunidade paroquial, nas comunidades eclesiais de base,
nas pastorais nas quais se envolvem, nos movimentos eclesiais ou
novas comunidades com os quais se comprometem, como sinal de que
possvel viver com autenticidade o seguimento de Jesus. 76. Nas
atividades pastorais com a juventude, faz-se necessrio oferecer
canais de participao e en- volvimento nas decises, que possibilitem
uma experincia autntica de co-responsabilidade, de dilogo, de
escuta e o envolvimento no processo de renovao contnua da Igreja.
Trata-se de va- lorizar a participao dos jovens nos conselhos,
reunies de grupo, assemblias, equipes, processo de avaliao e
planejamento. 77. Mas a Igreja no existe somente para fortalecer a
vivncia da f em comunidade. Existe para construir o Reino, e o
Reino mais amplo do que a Igreja peregrina. A Igreja, comunidade
dos que crem em Jesus, constitui na terra o germe e o incio deste
Reino, que, como fermento ou pequena semente, faz a massa crescer e
tornar-se imensa rvore. 78. O Conclio Vaticano II prope, como vocao
da humanidade inteira, e como meta a ser efetiva e intensamente
procurada, a fraternidade universal. Afirma, tambm, que a revelao
crist favorece
52. 54 poderosamente esta comunho entre as pessoas, e ao mesmo
tempo leva a uma compreenso mais profunda das leis da vida
social.11 Se a juventude for levada a enxergar uma Igreja que
procura ser isso, graas ao caminho que segue, ter menos di-
ficuldade de assumi-la com sua alegria vibrante. 79. importante
falar da Igreja aos jovens como o Mistrio que persevera atravs da
histria huma- na devido presena do Esprito Santo. A Igreja existe
no somente para ser um lugar de encontro agradvel e de segurana dos
que partilham a mesma f; ela existe para evangelizar, isto , para
anunciar a Boa Notcia do Reino, proclamado e realizado em Jesus
Cristo,12 atravs de nossas fragilidades e riquezas. 80. Um grande
desafio reconhecermos que tambm no segmento da sociedade chamado
juventude se encontram as sementes ocultas do Verbo, como fala o
Decreto Ad gentes, do Vaticano II.13 Entrar 11 Cf. Gaudium et spes,
n. 38. Outros textos relevantes so Gaudium et spes, n. 78b (a
fraternidade universal condio da paz) e Gaudium et spes, n. 92 (o
dilogo em vista da fraternidade, respeitando a diversidade de
etnias, culturas e religies). A fraternidade universal ressaltada
tambm como fim do anncio de Cristo (Ad gentes, n. 8) e do
apostolado dos cristos leigos (Apostolicam actuositatem, p. 14) e
fundamento da oposio da Igreja a toda forma de discriminao das
pessoas humanas (Nostra aetate, n. 5). 12 Cf. EN, n. 14. 13 AG, n.
11.
53. 55 em contato com o divino da juventude enten- der sua
psicologia, sua biologia, sua sociologia e sua antropologia com o
olhar da cincia de Deus. O jovem necessita que falemos para ele no
so- mente de um Deus que vem de fora mas tambm de um Deus que real
dentro dele em seu modo juvenil de ser alegre, dinmico, criativo e
ousado. A evangelizao da Igreja precisa mostrar aos jovens a beleza
e a sacralidade da sua juventude, o dinamismo que ela comporta, o
compromisso que daqui emana, assim como a ameaa do pe- cado, da
tentao do egosmo, do ter e do poder e, com isto, auxiliar tambm na
conscientizao de tudo aquilo que procura danificar esta obra de
Deus. Uma verdadeira espiritualidade possibilita ao jovem
encontrar-se com a realidade sublime que h dentro dele, manter um
dilogo constante com aquele que o criou. 81. Considerar o jovem
como lugar teolgico acolher a voz de Deus que fala por ele. A
novidade que a cultura juvenil nos apresenta neste momento,
portanto, sua teologia, isto , o discurso que Deus nos faz atravs
da juventude. De fato, Deus nos fala pelo jovem. O jovem, nesta
perspectiva, uma realidade teolgica, que precisamos apren- der a
ler e a desvelar. No se trata de sacralizar o jovem, imaginando-o
como algum que no
54. 56 erra; trata-se de ver o sagrado que se manifesta de
muitas formas, tambm na realidade juvenil. Trata-se de fazer uma
leitura teolgica do que, de forma ampla, chamamos de culturas
juvenis. Numa poca em que se fala tanto de inculturao ou em outros
termos de encarnar-se na rea lidade, de aceitar o novo, o plural e
o diferente, na evangelizao da juventude, estaremos diante de feies
muito concretas e imprevisveis. Dizer que, para a Igreja, a
juventude uma prioridade em sua misso evangelizadora, afirmar que
se quer uma Igreja aberta ao novo, afirmar que amamos o jovem no s
porque ele representa a revitalizao de qualquer sociedade mas tambm
porque amamos, nele, uma realidade teolgica em sua dimenso de
mistrio inesgotvel e de perene novidade. 3. Construo de uma
sociedade solidria 82. As Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora da
Igreja no Brasil afirmam que participar da construo de uma
sociedade justa e solidria constitui um dos objetivos da ao
evangelizadora da Igreja no Brasil.14 14 Um breve resumo do empenho
da Igreja na solidariedade com todos se encontra em CNBB,
Diretrizes gerais... 2003-2006, doc. 71, nn. 152-175.
55. 57 83. A evangelizao dos jovens no pode visar so- mente a
suas relaes mais prximas como o grupo de amigos, a famlia , a
amizade, a fraternidade, a afetividade, o carinho, as pequenas
lutas do dia-a-dia. A ao evangelizadora deve tambm motivar o
envolvimento com as grandes questes que dizem respeito a toda a
sociedade, como a economia, a poltica e todos os desafios sociais
de nosso tempo. H necessidade de animar e capacitar o jovem para o
exerccio da cidadania, como uma dimenso importante do discipulado.
A dimenso poltica e social da f, contudo, deve ser apresentada aos
jovens de maneira que no se reduza a apenas uma ideologia. 84. A
sociedade brasileira , hoje, uma das mais desi- guais do mundo.15
Tal situao reflete um modelo social que prope um ideal de consumo
ilusrio e inatingvel para os pobres, somente possvel para os mais
ricos. Esse modelo alimenta a difuso da violncia, resultado dos
muitos conflitos e tenses produzidos por um mundo desigual, incapaz
de respeitar a dignidade das pessoas. Uma desigual- dade que, aos
olhos do cristo, um escndalo e, ao mesmo tempo, um desafio, diante
do qual no 15 Com pequenas oscilaes, os pobres se apropriam de 12 a
14% da renda nacional. Os 10% mais ricos se apropriam de cerca de
50% da renda nacional (cf. Henri- ques, Ricardo [org.].
Desigualdade e pobreza no Brasil. Braslia, Ipea, 2000. pp.
21-47).
56. 58 basta protestar ou lamentar, mas preciso redo- brar com
lucidez e perseverana o empenho na construo de uma sociedade justa
e solidria. 85. O cristo se identifica com aquele que o bom
samaritano, que socorre a vtima dos assaltantes, smbolo de toda
vtima inocente do mal do mundo, sem se perguntar sobre a raa ou a
religio dele. Ele cura inmeras pessoas, vtimas da doena ou daquelas
foras malignas que atacam os seres humanos. Ele traz uma palavra de
esperana aos pobres e reparte o po com eles, promessa de um futuro
diferente, de um outro mundo possvel. Ele acolhe e perdoa os
pecadores. Ele miseri- cordioso. Estende a mo para levantar o cado,
acolhe com abrao o que volta arrependido e vai ao encontro do
afastado. Devolve o ser humano s suas tarefas, s suas
responsabilidades e sua dignidade.16 4. Pronunciamentos do
Magistrio sobre a juventude 86. O Magistrio da Igreja se ocupou
muitas vezes da evangelizao da juventude.17 Apresentamos alguns
ensinamentos da Igreja que podem bali- 16 Cf. Lc 15,11ss; Jo
8,1-11; Lc 23,39-43. 17 No Anexo 4 temos um aprofundamento deste
tema.
57. 59 zar as atividades que posteriormente queremos propor, em
vista de um novo impulso em to im- portante tarefa pastoral.
saudvel e inspirador alimentar-nos do Magistrio da Igreja com relao
evangelizao da juventude. Claro que seria impossvel apresentar tudo
o que se fez e se falou sobre juventude; portanto, chamamos ateno
aqui somente para alguns textos. 87. Joo Paulo II, na
Christifideles laici, retomou a riqueza do que o Conclio Vaticano
II falou sobre a juventude, afirmando que a Igreja tem tantas
coisas para dizer aos jovens, e os jovens tm tantas coisas para
dizer Igreja. Este dilogo recproco, que dever fazer-se com grande
cordialidade, clareza e coragem, favorecer o encontro e o
intercmbio das geraes, e ser fonte de riqueza e de juventude para a
Igreja e para a sociedade civil. Na sua mensagem aos jovens o
Conclio diz: A Igreja olha para vs com confiana e amor [...]. Ela a
verdadeira juventude do mundo [...]. Olhai para ela e nela
encontrareis o rosto de Cristo.18 88. Continua atual o desafio
lanado por Joo Paulo II aos jovens brasileiros: urgente colocar
Jesus como alicerce da existncia humana. Os melhores amigos,
seguidores e apstolos de Cristo foram sempre aqueles que
perceberam, um dia, dentro 18 Cf. Exortao Apostlica Christifideles
laici, n. 46.
58. 60 de si, a pergunta definitiva, incontornvel, diante da
qual todas as outras se tornam secundrias: Para voc, quem sou eu? A
vida, o destino, a histria presente e futura de um jovem dependem
da resposta ntida e sincera, sem retrica, sem subterfgios, que ele
puder dar a esta pergunta. Ela j transformou a vida de muitos
jovens.19 89. J em Medelln, o episcopado da Amrica Latina
referia-se juventude como uma grande fora nova de presso e como um
novo organismo social com valores prprios.20 A Igreja v na
juventude a constante renovao da vida da hu- manidade. A juventude
o smbolo da Igreja, chamada a uma constante renovao de si mesma.
Por isso ela quer desenvolver, dentro da pastoral de conjunto, uma
autntica Pastoral da Juventude, educando os jovens a partir de sua
vida, permi- tindo-lhes plena participao na comunidade eclesial.
90. Em Puebla, o episcopado faz duas opes pre- ferenciais que
marcaram a Conferncia: a opo preferencial pelos pobres e pelos
jovens. Falando das opes pastorais, a Conferncia inicia dizendo 19
Joo Paulo II aos jovens brasileiros em Belo Horizonte (1/7/1980) em
A palavra de Joo Paulo II no Brasil. So Paulo, Paulinas, 1980. pp.
37 e 38. 20 Valemo-nos de Concluses de Medelln; II Conferncia Geral
do Episcopado Latino- Americano. Uma publicao do Regional Sul 3 da
CNBB, 1968. Referimo-nos ao captulo sobre juventude, pp.
32-37.
59. 61 que a Igreja confia nos jovens, sendo eles a sua
esperana. Por ser dinamizadora do corpo social e especialmente do
corpo eclesial, a Igreja faz uma opo preferencial pelos jovens com
vistas sua misso evangelizadora no continente. 91. Em Santo
Domingo, os bispos reafirmam a opo preferencial pelos jovens feita
em Puebla, de modo no s afetivo mas tambm efetivamente: opo por uma
Pastoral Orgnica da Juventude, com acompanhamento, com apoio real,
com dilogo, com maiores recursos pessoais e materiais e com dimenso
vocacional. 92. O Episcopado Brasileiro ressalta: Cuidado
particular merecem os jovens, considerando-se a situao que
encontram na sociedade de hoje. Ela lhes apresenta uma oferta
imensa de experincias potenciais e de conhecimentos, mas no lhes
fornece recursos adequados para satisfazer suas aspiraes. Alm
disso, muitas vezes os desvia para caminhos ilusrios de busca do
prazer. Os jovens so um grande desafio para o futuro da Igreja,21
que deve torn-los protagonistas da evangelizao e artfices da
renovao social.22 21 CNBB, Diretrizes gerais..., doc. 71, n. 198.
22 Joo Paulo II, Christifideles laici, n. 46; cf. tambm CNBB,
Diretrizes gerais..., doc. 61, nn. 236 e 237.
60. 62 III. Linhas de ao 93. Depois de analisar a realidade e o
perfil desta nova gerao de jovens, na primeira parte deste
documento, e, em seguida, confrontar esta reali- dade juvenil com
os princpios da f, queremos apresentar alguns desafios, princpios
orientado- res e linhas de ao que brotam desta realidade e das
diversas experincias positivas que j vm acontecendo em nossa
Igreja. 94. No fostes vs que me escolhestes; fui eu que vos escolhi
(Jo 15,16). Do encontro pessoal com Jesus Cristo nasce o discpulo,
e do discipulado nasce o missionrio. O encontro pessoal a primeira
etapa. Em seguida, nasce um itinerrio, em cujas etapas vai
amadurecendo pouco a pouco o com- promisso com a pessoa e o projeto
de Jesus Cristo, luz do mistrio pascal. Cada etapa abre horizon-
tes ao jovem para definir seu projeto de vida. O jovem aprende a
escutar o chamado de Cristo; a buscar uma vida interior de valores
evanglicos; a sair do individualismo para pensar e trabalhar com os
outros; a participar de uma comunidade eclesial concreta; a se
sensibilizar, como o bom samaritano, com o sofrimento alheio; a
partici- par de uma pastoral orgnica com os outros; a entender que
a luta pela justia um elemento
61. 63 constitutivo da evangelizao; e a se comprometer de
maneira decisiva com a misso. Estas etapas devem levar a uma opo
vocacional, entendida como vocao de leigo ou vocao de especial
consagrao, como presbtero ou religioso(a). O que sustenta a
caminhada a graa de Deus. 95. Acreditamos que para responder de
maneira qua- lificada aos anseios da juventude, s necessidades da
Igreja e aos sinais dos tempos, necessitamos das seguintes linhas
de ao: 1a linha de ao: formao integral do(a) discpulo(a) 2a linha
de ao: espiritualidade 3a linha de ao: pedagogia de formao 4a linha
de ao: discpulos e discpulas para a misso 5a linha de ao:
estruturas de acompanhamento 6a linha de ao: ministrio da
assessoria 7a linha de ao: dilogo f e razo 8a linha de ao: direito
vida
62. 64 1a linha de ao: formao integral do(a) discpulo(a)
Desafios e princpios orientadores 96. Desafia-nos, de modo
especial, a promoo de um processo de evangelizao que leve em conta
as diferentes dimenses da formao integral num caminho que desperte
e cultive os jovens e a co- munidade eclesial para a irrenuncivel
dimenso vocacional do grupo.1 O conceito de formao integral
importante para considerar o jovem como um todo, evitando assim
reducionismos que distoram a proposta de educao na f, reduzin- do-a
a uma proposta psicologizante, espiritualista ou politizante.2 1 Um
grupo no nasce pronto, nem nasce grupo. Como a pessoa, ele precisa
ser preparado e convocado vida. Precisa ser gestado, para depois
nascer como grupo, passar pelas diversas etapas de crescimento at
chegar maturidade. Como a gente, o grupo tambm morre um dia: alguns
precocemente, outros depois de cumprirem sua misso e darem frutos
Se o gro de trigo no morrer.... preciso, pois, conhecer as etapas
de um planejamento pelas quais passa o grupo, a fim de poder, como
assessor(a), orientar o processo. Faz-se necessrio, igualmente, um
plano de formao que oriente o processo e possibilite o seu
acompanhamento em cada etapa (Teixeira, Carmem Lcia [org.]. Passos
na travessia da f; metodologia e mstica na formao integral da
juventude. So Paulo, CCJ, 2005. p. 34). O caminho vocacional
descrito aqui pode ser visualizado no grfico B do Anexo 5. 2 Estas
dimenses podem ser visualizadas no grfico A do Anexo 5.
63. 65 97. O discipulado comea com o convite pessoal de Jesus
Cristo: Vem e segue-me (Lc 18,22). Na formao para o discipulado
necessrio partir de uma formao integral. Quem trabalha na formao de
jovens necessita estar atento s cinco dimenses: psicoafetiva,
psicossocial, mstica, sociopoltico-ecolgica e capacitao. Trata-se
de efetivar, pedagogicamente, um conceito que se encaixa no
contexto da sensibilidade da cultura jovem e aponta para uma nova
sntese que integre o racional com o simblico, a afetividade, o
corpo, a f e o universo. Cada uma das cinco dimenses vista como uma
relao que o jovem tem com um aspecto da sua vida, respondendo s
perguntas de fundo que todo ser humano faz, consciente ou
inconscientemente. Dimenso psicoafetiva Processo da personalizao
98. As perguntas de fundo so: Quem sou eu? Qual a relao comigo
mesmo? So perguntas importan- tes para o autoconhecimento e para a
construo da personalidade do jovem. Sem a capacidade de
autoconhecimento e autocrtica, o jovem incapaz de analisar as
situaes com objetivida- de, de administrar os conflitos e de se
relacionar com outros de uma maneira equilibrada. Sem
64. 66 esta dimenso torna-se difcil o silncio interior e o
encontro com Deus na orao e a verdadeira converso. Dimenso
psicossocial Processo de integrao 99. As perguntas de fundo so:
Quem o outro? Como relacionar-me com ele? Como tratar as relaes de
gnero? Como entender o relacionamento virtual hoje existente? Essa
dimenso acentua a importn- cia das relaes entre as pessoas que
acontecem, por exemplo, nas amizades, nos grupos, na vida em
comunidade, na famlia, no meio ambiente. A felicidade do jovem
depende da sua capacidade de comunicar-se com os outros, num dilogo
que considera e respeita a cultura. 100. A amizade algo natural e
importante na vida do jovem. Face a uma cultura contempornea que
incita concorrncia, o Evangelho prope um relacionamento baseado no
amor e no servio. 101. A evangelizao da nova gerao de jovens
precisa ir alm do nvel das idias e da formao terica. No se constri
a comunidade crist somente com idias. H necessidade de descer ao
nvel da afetividade, de viver relaes de fraternidade voltadas para
o discipulado. Nosso esforo ser criar condies para que as pessoas
possam vi- ver relaes de solidariedade e de fraternidade
65. 67 que permitam sua maior realizao, no contexto atual.3
Comunidade pressupe amizade, calor humano, a aproximao afetiva e um
projeto de vida em comum. 102. Essa dimenso busca motivar o jovem
para o envolvimento na comunidade eclesial. medida que ele se sente
valorizado em suas capacidades, consegue perceber o valor de
caminhar com aque- les que partilham da mesma f em Jesus Cristo.
Alm do mais, pouco a pouco, vai se envolvendo nas suas atividades e
se corresponsabilizando na sua misso. Os Atos dos Apstolos
descrevem a comunidade dos primeiros cristos como sendo um s corao
e uma s alma (At 4,32), e isto o jovem vai experimentando na vida
comunitria. 103. A sexualidade, dom de Deus, uma dimenso
constitutiva da pessoa humana, que nos impul- siona para a realizao
afetiva no relacionamento com o outro. Porm, os jovens vivem, hoje,
em um ambiente erotizado em que a sexualidade , infelizmente,
banalizada e freqentemente trans- formada em meio egosta de prazer
e de manipu- lao e corrupo das relaes mais profundas entre as
pessoas. Neste contexto importante desenvolver um programa de
educao para o amor que integre a sexualidade em um projeto 3 Cf.
CNBB, Diretrizes gerais... 2003-2006, doc. 71, n. 113.
66. 68 mais amplo de crescimento e maturidade no qual ela seja
baseada na liberdade e no no medo; leve em conta as exigncias da
tica crist; leve ao amor e responsabilidade; desperte para a auto-
estima, principalmente no cuidado com o corpo do prprio jovem e dos
outros; tenha Deus, criador da vida, da sexualidade e da alegria,
como sua fonte de inspirao. 104. Um dos importantes espaos de
formao acon- tece no relacionamento familiar. Atingida por tantos
fatores externos, nem sempre a famlia capaz de cultivar valores
essenciais para a vida. O jovem, ento, exercitando no seio da
famlia o amor, o perdo, a pacincia, o dilogo, o servio, vai
amadurecendo como pessoa e, enquanto se forma, vai, ele mesmo,
sendo portador de valores em benefcio da famlia. Dimenso mstica
Processo teolgico-espiritual 105. As perguntas de fundo so: Qual a
minha relao com Deus? De onde vim? Para onde vou? Qual o sentido da
minha vida? Qual o sentido da morte? Qual o sentido do sofrimento?
106. A dimenso teolgica cultivada no estudo, na catequese e no
aprofundamento dos dados bsicos da f. Desse aprofundamento faz
parte a iniciao leitura da Palavra de Deus, do conhecimento de
67. 69 Jesus Cristo e da Igreja. A dimenso espiritual
corresponde experincia de Deus. Isso pode ser feito atravs de
retiros, da vivncia sacramental, da orao e do servio aos pobres. No
basta estudar Deus; necessrio tambm ter uma expe- rincia de Deus. A
relao com Deus est tambm presente nas outras dimenses e as ilumina.
Os aspectos teolgico e espiritual no s caminham juntos mas tambm se
complementam. Dimenso sociopoltico-ecolgica Processo de
participao-conscientizao 107. As perguntas de fundo so: Qual a
minha relao com a sociedade ao meu redor? Como organizar a
convivncia social? Podemos mudar a sociedade? Como me percebo como
ser integrado nature- za? A conscincia da cidadania faz ver que
todo poder emana do povo e em seu nome exercido. Essa dimenso abre
o jovem para os problemas so- ciais locais, nacionais e
internacionais: problemas de moradia, sade, alimentao, m qualidade
da educao, direitos humanos desrespeitados, discri- minao contra a
mulher, violncia, guerra, ecolo- gia, biodiversidade. No se pode
pregar um amor abstrato que encobre os mecanismos econmicos,
sociais e polticos geradores da marginalizao de grandes setores de
nossa populao. Aqui h
68. 70 necessidade de formar o jovem para o exerccio da
cidadania e direitos humanos luz do ensino social da Igreja. H
necessidade de conectar a f com a vida, a f com a poltica. Dimenso
de capacitao Processo metodolgico 108. As perguntas de fundo so:
Qual a minha relao com a ao? A f sem ao, diz So Tiago, est morta.
Como trabalhar? Como me organizar atravs de um consistente projeto
pessoal de vida? Como administrar meu tempo? Como organizar as
estruturas de coordenao que facilitam o acompanhamento sistemtico,
a comunicao, o aprofundamento e a continuidade? Como coorde- nar
uma reunio de grupo e assegurar concluses concretas? Como montar um
curso? Como avaliar e acompanhar sistematicamente, no dia-a-dia, os
processos grupais de educao na f? Como planejar e avaliar a ao
evangelizadora? As habilidades so necessrias para acompanhar as
estruturas de apoio para o processo de evangeliza- o dos jovens.
Sem estas habilidades, os projetos pastorais no caminham. Pistas de
ao 109. Avaliar periodicamente a situao pastoral para verificar se
todas as dimenses da formao in-
69. 71 tegral esto sendo contempladas, no processo de
evangelizao dos jovens, identificando as lacunas a serem
preenchidas. 110. Fazer um trabalho de conscientizao vocacional,
ajudando o jovem a definir e a elaborar o seu pro- jeto de vida,
contemplando todas as dimenses da formao. 111. Organizar uma
catequese crismal que, estando atenta formao integral dos jovens,
procure oferecer-lhes, enquanto esto no processo cate- qutico,
oportunidades significativas de vivncia grupal, de atividades
comunitrias, de meditao da Palavra de Deus, de experincia de orao,
engajamento nas pastorais existentes nas comu- nidades etc. 112.
Mobilizar as escolas para que elas garantam em todo o processo
pedaggico uma formao inte- gral dos jovens. 113. Envolver as
famlias nos diferentes programas da ao evangelizadora,
orientando-as a contri- burem de forma mais intensa na educao da f
de seus filhos e buscando parceria com a Pastoral Familiar. 114.
Elaborar subsdios que favoream o amadureci- mento juvenil e
promover cursos e encontros com temticas relacionadas educao para o
amor, corporeidade, homossexualidade, questes de gnero, etnia,
entre outras.
70. 72 115. Estimular uma prtica humanizadora com jo- vens por
meio da elaborao e prtica de novas maneiras de relacionamento que
superem as contradies existentes e garantam o exerccio do poder
coletivo, da iniciativa e da criatividade de seus participantes,
alm de estimular o processo de formao integral, a comunho, a
comunica- o e o Mistrio da Encarnao Mistrio da transformao do Reino
de Deus concretizado na capacidade de as pessoas se amarem. 2a
linha de ao: espiritualidade Desafios e princpios orientadores 116.
A rapidez das mudanas, os atrativos de diferentes nveis e a agitao
do cotidiano desafiam a vivn- cia de uma verdadeira
espiritualidade. Muitos jovens no vivem num contexto cristo, numa
famlia crist, no foram iniciados na f. 117. Por isso, todos ns
pastores, agentes de pastoral, catequistas, educadores de jovens,
pais de famlia, lideranas perguntamos: Como provocar no jovem o
desejo do seguimento ao Senhor? Como motiv-lo a uma espiritualidade
compreensvel e acessvel, cheia de sentido, gosto, orientao,
segurana e alegria de viver? Como trabalhar a
71. 73 espiritualidade segundo a opo pelos pobres e o
compromisso com a construo de uma sociedade justa e solidria, a
Civilizao do Amor? 118. A vocao santidade e a certeza de que a ju-
ventude um lugar teolgico da comunicao de Deus desafiam a Igreja a
uma proposta de espiri- tualidade como caminho que d sentido vida,
em um constante dilogo com o Pai, atravs de Jesus, no Esprito
Santo. Consoante com os tempos e com as caractersticas juvenis, a
espiritualidade proposta aos jovens deve contemplar a alegria, o
movimento, a expresso corporal, a msica, os smbolos, o envolvimento
com a vida, a amizade, a convivncia, a espontaneidade etc. 119. A
espiritualidade a motivao central e a bssola para orientar a vida
de acordo com a vontade de Deus. Dessa forma, propomos aos jovens
uma mstica: centrada em Jesus Cristo e no seu proje- to de vida;
acolhedora do cotidiano como lugar privilegiado de crescimento e
santificao; alegre e cheia de esperana; marcada pela experincia
comunitria onde se medita a Palavra de Deus e se celebra a
Eucaristia; apoiada no modelo do sim de Maria e na certeza de sua
presena materna e auxiliadora; conduzida pelo compromisso com o
Reino, traduzida no compromisso com a trans- formao social a partir
da sensibilidade diante do sofrimento do prximo.
72. 74 120. Para alimentar constantemente a espiritualidade
crist, o jovem necessita encontrar instrumentos, pessoas e momentos
que o marquem profunda- mente, provocando nele o desejo de
verdadeira mudana. Estes meios colocam o jovem num processo
constante de reviso de vida e de dis- cernimento vocacional diante
de Deus e diante do mundo. Alm disso, o jovem que, ao optar pelo
Senhor, assume uma nova postura diante da vida , naturalmente,
percebido, notado, admira- do e seguido pelos seus companheiros:
Jovens evangelizando jovens. Entre tantos meios para este exerccio
cotidiano de crescimento na f, destacamos: 121. A orao pessoal: o
dilogo pessoal, ntimo, profundo com Jesus Cristo, no Esprito Santo,
nos fortalece na dignidade de filhos diante do Pai. O jovem
criativo quando se sente vontade com Deus e amado por Ele. Olhando
para Jesus, que no se cansava de rezar ao Pai, principalmente nos
momentos de maiores decises, o jovem se sente motivado a fazer o
mesmo. Alm do mais, tudo pode ser matria de orao e de conversa com
aquele que s deseja a entrega total, irrestri- ta, constante a ele
e, por isso, doao aos irmos e irms. A sintonia com Jesus Cristo
cura as feridas, corrige os passos, orienta a vida, perdoa
73. 75 os pecados, acorda do comodismo e da inrcia, critica as
omisses e d a alegria de viver. No d para ser de Cristo se no se
reservam momentos especiais para estar com ele. Este contato amigo
anima converso, retomada do projeto de vida, ao desejo de
santidade, ao discernimento vocacional, ao compromisso com os mais
pobres e sofredores, ao envolvimento na comunidade, ao
fortalecimento da f, da esperana e do amor. 122. A orao comunitria:
nem sempre fcil re- zar com os outros, mas sabemos o quanto isto
importante para a espiritualidade crist. Em comunidade, eleva-se a
Deus uma voz unssona. Juntos louvamos, pedimos, agradecemos, cho-
ramos, cantamos, silenciamos. Em comunidade, apresentamos a Deus os
sucessos, as fraquezas, os sonhos, as lutas do povo. As celebraes
so mo- mentos fortes de espiritualidade. Entre elas, desta- camos a
missa dominical. Ela ultrapassa os dias, as preocupaes, as
frustraes, os problemas, o cansao, to presentes na rotina dos
outros dias da semana. Domingo o dia de encontrar-se com os outros
jovens e irmos, tambm eles desejosos de novas respostas e foras
para o seu cotidiano. Domingo o dia do Senhor. preciso recuper-lo
como um dia especial de revigoramento espiritual, em que a
Eucaristia ocupa lugar central.
74. 76 123. Aparticipaonacomunidade:desdeoincioda Histria da
Salvao Deus forma um povo e vai se comunicando com ele, num
processo constante de dilogo, convite converso e ao compromisso,
com promessas de felicidade e fidelidade. Deus quis salvar a pessoa
no isoladamente mas parti- cipante de um povo que o conhecesse na
verdade e santamente o servisse (cf. LG, n. 9). A espiritua lidade
da comunho fraterna essencial na vida crist e todo jovem convidado,
desde cedo, a fazer esta experincia fundante da f atravs de seu
envolvimento nas diversas responsabilidades assumidas na
comunidade. O nosso testemunho de unidade, cultivado no exerccio de
cada membro de uma mesma comunidade, mostrar ao mundo a fora
transformadora da religio bem vivida. Ao lado dos outros,
descobrimos no s o que temos de comum ou de diferente, mas
acreditamos na comunicao de Deus que se serve de todos para falar a
todos. 124. ALeituraOrantedaBblia(LOB):ummtodo que vem de antiga
tradio da Igreja para ajudar no estudo e orao da Bblia. Ele
contempla quatro passos: leitura, meditao, orao e contemplao da
Palavra de Deus. tambm chamada de Lectio Divina. Deus, querendo
deixar registrado na his- tria todo o seu projeto e sua vontade,
serviu-se
75. 77 de vrias pessoas para escrever as experincias, as
maravilhas, as quedas, as lutas, as fraquezas e as conquistas do
seu povo. Quanto mais mer- gulhamos nas Escrituras, mais nos
identificamos com este povo e adquirimos entendimento do que somos,
para onde vamos e o que devemos fazer. Nas Sagradas Escrituras
entra-se em contato com o povo que seguro da escolha de Deus nunca
desanima e sempre se mostra criativo para en- frentar o mundo e
propor novos caminhos. Jesus Cristo a Palavra de Deus por excelncia
, ao se colocar como Caminho, Verdade e Vida (Jo 14,6) nos convida
a conhec-lo profundamente. Assim, crer na Palavra de Deus essencial
para um processo de crescimento do jovem que quer se comprometer
cada vez mais com este projeto do Criador. 125. A vivncia dos
sacramentos: de maneira toda especial encontramo-nos com Jesus na
celebrao dos sacramentos. O jovem, batizado, desejoso de se tornar
adulto na f, descobre, atravs da preparao e da celebrao do
sacramento da Crisma, uma ocasio de receber os dons do Es- prito
Santo e de ser ungido, isto , consagrado para a misso. importante
que esta preparao leve o adolescente e o jovem a ter uma experin-
cia comunitria da f! Animado porque a Igreja
76. 78 reconhece este grau de maturidade, o jovem se alimenta
constantemente da misericrdia de Deus e do Po descido do cu. O
sacramento da Recon- ciliao, preparado de maneira adequada e
jovial, capaz de envolver e regenerar aquele que, nesta fase
delicada da vida, se sente bastante agredido, atormentado, seduzido
por tantos contra-valores da sociedade comodista e hedonista. Deus,
que perdoa, tambm oferece um alimento eficaz ao jovem fraco e
frgil: o Corpo e o Sangue de seu amado Filho Jesus. A evangelizao
da juventude precisa ter um corao eucarstico! A comunho eucarstica,
o exerccio da adorao ao Sants- simo e tantas outras manifestaes
litrgicas, com linguagem apropriada, revigoram a vida do jovem e o
incentivam a ser, tambm ele, po para as necessidades do prximo.
126. A devoo a Nossa Senhora: o reconhecimento da presena materna
de Maria se desenvolve a partir das celebraes litrgicas e das
diversas expresses da piedade popular. Entre elas destaca- se a
reza do tero, com a qual, enquanto o jovem se sente abraado pela
Me, medita os mistrios da Paixo, Morte e Ressurreio de Jesus. De
grande valia so tambm as celebraes e as fes- tas marianas, as
peregrinaes aos santurios de Nossa Senhora, as procisses em sua
homenagem.
77. 79 Ao mesmo tempo em que a comunidade em suas oraes
apresenta os jovens a Maria, ela, tambm, apresenta Maria aos
jovens. 127. Osdiversosencontrosespirituais:nossatradio eclesial
comprova o valor perene