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24 Revista Meio Ambiente Industrial Setembro/Outubro 2009 do resíduo eletroeletrônico A gestão sustentável Resíduos

A gestão sustentável do resíduo eletroeletrônico

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Artigo publicado na Revista Meio Ambiente Industrial na edição de Setembro/Outubro de 2009 de autoria de André Luis Saraiva, Diretor e Idealizador do PRAC - Programa de Responsabilidade Ambiental Compartilhada

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A questão do gerenciamento e da destinação dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos está se tornando um dos principais temas de discussão

no meio ambiente industrial. Isso pode ser verificado, sobretudo, em iniciativas individuais do setor produtivo, na mobilização de entidades de classes e na

busca pelo incentivo do consumo consciente

Por Lilian Quintanilha

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quipamentos eletroeletrônicos são televisores, rádios, telefones celulares, eletrodomésticos portáteis, todos os equipamentos de microinformática, MP3s,

i-pods, filmadoras, ferramentas elétricas, DVDs, lâmpadas fluorescentes, brinquedos eletrônicos e muitos outros produtos desenvolvidos para atender à demanda de um novo tempo e que, atualmente, são praticamente descartáveis, uma vez que ficam tecnologicamente ultrapassados em períodos cada vez mais curtos ou pela inviabilidade econômica de conserto, em comparação com aparelhos novos.

A produção e o consumo desenfreado de novos produtos eletroeletrônicos acabam por gerar uma montanha de produtos descartados. Entender o ciclo de vida completo de cada um, desde a escolha da matéria-prima até o

encaminhamento pós-consumo, é uma preocupação crescente de consumidores, organizações da sociedade civil e instâncias governamentais. Descartar equipamentos eletroeletrônicos de forma incorreta significa jogar matéria-prima valiosa no lixo e constitui uma atitude que não está alinhada com os princípios da sustentabilidade. Hoje, o tema vem chamando a atenção e ganhando espaço entre consumidores e setor produtivo. É possível reaproveitar ou, ainda, reciclar esses resíduos, evitando o impacto ambiental, entre muitos outros benefícios.

Segundo a Abinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, a Diretiva da União Européia – Diretiva 2002/96/CE, de janeiro de 2003, divide os equipamentos em dez categorias de eletroeletrônicos (ver Quadro 1).

Quadro 1 - Divisão dos equipamentos, segundo a Diretiva 2002/96/CE

Nº Categoria Exemplos

1 Grandes eletrodomésticos Geladeiras, máquinas de lavar roupa e louça, fogões, microondas

2 Pequenos eletrodomésticos Aspiradores, torradeiras, facas elétricas, secadores de cabelo

3 Equipamentos de informática e de telecomunicações Computadores, laptops, impressoras, telefones celulares, telefones

4 Equipamentos de consumo Aparelhos de televisão, aparelhos de DVD, vídeos

5 Equipamentos de iluminação Lâmpadas fluorescentes

6 Ferramentas elétricas e eletrônicas (com exceção de ferramentas industriais fixas de grandes dimensões)

Serras, máquinas de costura, ferramentas de cor tar grama

7 Brinquedos e equipamentos de espor te e lazer Jogos de vídeo, caça-níqueis, equipamentos espor tivos

8 Aparelhos médicos (com exceção de todos os produtos implantados e infectados)

Equipamentos de medicina nuclear, radioterapia, cardiologia, diálise

9 Instrumento de monitoramento e controle Termostatos, detectores de fumo

10 Distribuidores automáticos Distribuidores automáticos de dinheiro, bebidas, produtos sólidos

Fonte: Adaptado do Anexo I A, Parlamento Europeu (2003b)

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a responsabilização do poluidor pagador, prevendo a responsabilidade pós-consumo do produtor como forma de incentivar a concepção e produção dos equipamentos elétricos e eletrônicos que contemplem plenamente e facilitem o seu conserto, eventual atualização, reutilização, desmontagem e reciclagem; e a Diretiva 2002/95/CE, relativa à restrição do uso de determinadas substâncias perigosas nos equipamentos elétricos e eletrônicos.

No Quadro 2 se encontram informações sobre algumas das substâncias que podem ser encontradas nos Reee’s e seus prejuízos à saúde humana. Os dados são do Relatório de Estudos de apresentação das propostas das Diretivas 2002/96/CE e 2002/95/CE pela Comissão das Comunidades Européias ao Parlamento Europeu.

O processo de reciclagem desses produtos é complexo e requer a utilização de tecnologias avançadas, devido à diversidade de materiais de sua composição e à periculosidade das substâncias tóxicas presentes. Contudo, Saraiva conta que a reciclagem de equipamentos eletrônicos já é obrigatória nos países desenvolvidos, onde se adota o REP – Princípio da Responsabilidade Estendida do Produtor, sendo o produtor ou importador responsável pelo gerenciamento ambientalmente correto do seu produto no pós-consumo.

Panorama dos Reee’s

Embora, de acordo com os entrevistados, ainda não haja no país um estudo oficial sobre o lixo tecnológico,

segundo iniciativas individuais, o Brasil gera mais de 600 mil toneladas de sucata eletrônica

De acordo com os entrevistados, no Brasil a realidade de geração e impacto desses resíduos ainda não é tão bem conhecida, ainda porque não há nem mesmo uma Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Os entrevistados afirmam que é necessário integrar a gestão desses resíduos uma futura PNRS com a especificidade e relevância que esse tipo de resíduo requer, tanto pelo grau de risco que apresenta para a saúde ambiental e humana, quanto pelo volume de resíduos gerados. André Vilhena, diretor executivo do Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, observa que a situação atual da reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil ainda é de iniciativas pró-ativas individuais do empresariado. Segundo ele, se o tema for incluído no texto da Política Nacional de Resíduos Sólidos poderá ganhar mais espaço. “Como no Brasil ainda não há plantas de reciclagem de Reee’s, a

Composição – Esses equipamentos, em termos gerais, são constituídos de diversos materiais, como metais ferrosos e não-ferrosos, vidro e plástico. Quando descartados são caracterizados como Reee’s - Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos, que no Brasil recebem outras denominações, como e-lixo, lixo tecnológico, lixo eletrônico, sucata eletrônica, etc. Além de serem constituídos de materiais que podem ser reciclados, possuem, também, substâncias tóxicas, tais como: mercúrio, usado nos visores; cádmio; berílio; e chumbo, usado em soldas e nos tubos de imagem de televisores e computadores.

André Saraiva, diretor de Responsabilidade Socio-ambiental da Abinee, explica que esses metais pesados são acumulativos e podem afetar drasticamente o meio ambiente e a saúde humana, se destinados de forma inadequada. ”Quando os equipamentos eletrônicos são jogados diretamente no lixo comum, seguindo para os depósitos de lixo, sem controle, essas substâncias são liberadas e penetram no solo, contaminando lençóis freáticos e, aos poucos, animais e seres humanos”, explica Saraiva.

Em função dos impactos negativos decorrentes do manuseio, da reciclagem e da disposição inadequada de Reee’s, a Comunidade Européia aprovou duas Diretivas: a Diretiva 2002/96/CE, que estabelece regras para a gestão adequada desses resíduos, tendo como princípio

Os equipamentos são constituídos de diversos materiais, como metais ferrosos e não-ferrosos, vidro e plástico, e quando descartados são caracterizados como Resíduos de

Equipamentos Elétricos e Eletrônicos

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reciclagem é feita no exterior”, explica Vilhena.De acordo com o diretor do Cempre, a situação do

resíduo tecnológico no país ainda é uma questão que requer muita atenção de iniciativas públicas. “Além disso, no momento, o aparato legal não é suficiente o bastante para tomadas de decisões adequadas visando à sustentabilidade”, comenta Vilhena.

Segundo estimativa feita a partir do “Diagnóstico da Geração de Resíduos Eletroeletrônicos no Estado de Minas Gerais”, divulgado pela Feam – Fundação Estadual do Meio Ambiente, o Brasil gera em torno de 680 mil toneladas de Reee’s ao ano. Para se ter uma idéia da geração desse resíduo nas grandes capitais, foi constatado também que só em Minas Gerais são descartadas cerca de 40 mil toneladas ao ano de materiais metálicos integrantes dos Reee’s, provenientes de telefones celulares e fixos, aparelhos de televisão, computadores, rádios, máquinas de lavar roupa, geladeiras e freezers. Compostos por ferro, alumínio, cobre, chumbo, cádmio, mercúrio, ouro, prata e paládio, esses resíduos têm cerca de 30% do seu total gerado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em se tratando de plásticos, são geradas 17 mil toneladas ao ano. Já no caso de vidros, a geração é de, aproximadamente, seis mil toneladas ao ano.

Outra informação importante, de acordo com o diagnóstico, é que entre os anos de 2001 e 2030, cada brasileiro deve gerar em média, a cada ano, em torno de 3,4 kg de Reee’s. O diagnóstico ainda aponta que o Brasil terá acumulado, aproximadamente, 22 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos para disposição no mesmo período.

A partir da identificação dos potenciais problemas ambientais provocados pelos Reee’s, a Feam iniciou um Grupo de Trabalho, com a participação da Abinee e de empresas do setor, bem como com o apoio do setor acadêmico e de

demais entidades envolvidas nas discussões, que envolvem a elaboração de normativas para implementação de políticas públicas relativas à gestão desse tipo de resíduo no Estado de Minas Gerais, além de apresentar ao Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente sugestões de âmbito nacional.

Simone Dianni, sócia da Lixo Digital do Brasil, conta que segundo um levantamento do CDI – Comitê para Democratização de Informática, publicado em junho de 2008, só no Brasil, todos os anos mais de um milhão de computadores são descartados e dez milhões de máquinas novas chegam ao mercado para serem comercializadas. “Só na cidade de Itatiba, SP, em uma semana recolhemos 1,5 toneladas de sucata de computadores, isso porque fizemos uma campanha circunscrita à região central, com divulgação de apenas 15 dias. Como a cidade tem aproximadamente 100 mil habitantes, calcula-se que poderíamos arrecadar cinco mil toneladas de sucata eletrônica”, afirma Simone. Para ela, enquanto não for estabelecida a cultura da reciclagem do detrito tecnológico, não haverá condições de quantificar o percentual de seu reaproveitamento.

Simone observa que, assim como em qualquer ramo da reciclagem, reaproveitar sucata a fim de torná-la matéria-prima novamente só vale a pena, economicamente, se for

Redondo, da Itautec: “No ano de 2008, a Itautec destinou para reciclagem 469,97 toneladas de materiais oriundos do processamento de equipamentos eletroeletrônicos”

Segundo estudo divulgado pela Feam, entre os anos de 2001 e 2030 o Brasil terá acumulado 22 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos para disposição

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levada em consideração a quantidade, e, segundo ela, esse tipo de produto é exportado pelo fato de a reciclagem ainda não ser feita no Brasil. “Isso significa uma demora para o retorno financeiro, pois o trabalho de desmonte e separação empregados retarda, em média, quatro meses a reciclagem. Já o plástico e o ferro, por exemplo, podem ser vendidos no mercado interno, promovendo um giro mais rápido, mas, após a recente crise econômica, sofremos uma brusca queda das commodities, tornando o ramo da reciclagem eletrônica tecnicamente inviável para a obtenção de lucro”, analisa.

adequada dos resíduos eletroeletrônicos – estenderam a visão da entidade e construíram um documento chamado Proposta Abinee TIC’s – Tecnologia da Informação e Comunicação.

Ele explica que a proposta contempla, além da abrangência do PL proposto, procedimentos e disciplinas a serem implementadas, como cria, também, mecanismos legais para que estes produtos, no final da vida útil, pudessem ser recebidos, convergindo, assim, para um documento mais amplo e que poderia ser implementado como uma referencia nacional.

O diretor da Abinee ainda firma que, no que diz respeito à Proposta Abinee TIC’s, foi pensado e sugeridas redações ao legislativo com os seguintes conteúdos:

Os fabricantes, importadores, distribuidores e •aqueles que comercializam equipamentos de informática e de telecomunicações no Estado de São Paulo ficam obrigados a criar e manter um Programa de Recolhimento, Reciclagem ou Destruição de Equipamentos de Informática e de Telecomunicações de forma ambientalmente adequada, em um prazo não superior a um ano a partir da data de publicação desta Lei; Os estabelecimentos mencionados no parágrafo •anterior, ou outros pontos de coleta a serem

Os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, se descartados de forma incorreta, significam o desperdício de matéria-prima valiosa, além de

constituir uma atitude contrária aos princípios da sustentabilidade

Proposta Abinee – Entre as iniciativas do setor privado, destaca-se a mobilização da Abinee junto às suas associadas, que, através da Área de Responsabilidade Socioambiental, criou um GT – Grupo de Trabalho Legislativo com os setores envolvidos na casa, tanto de Informática como de Telecomunicações. “O objetivo deste GT é acolher instrumentos legais publicados pelo legislativo e participar, de forma proativa e direta, na construção destes referidos instrumentos, e não mais ficar a reboque dos mesmos”, destaca Saraiva. Dando um exemplo do que aconteceu em São Paulo, Saraiva conta que quando receberam a proposta do PL 033/2008 – que institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final do lixo tecnológico, e que tem como objetivo fazer com que fabricantes, importadores e comerciantes se responsabilizem a adotar mecanismos de coleta, recebimento, armazenamento, transporte, reciclagem e destinação ambientalmente

estabelecidos pelos fabricantes e importadores desses equipamentos, receberão dos usuários os produtos usados ou em final de vida útil, das respectivas marcas que comercializam ou oferecem serviços;É facultativa aos estabelecimentos mencionados a •recepção de equipamentos de outras marcas;O Poder Público é responsável pela destinação •final ambientalmente adequada dos equipamentos de informática e de telecomunicações de fonte não identificada, marca ignorada, observando-se a responsabilidade compartilhada;Os estabelecimentos mencionados devem •disponibilizar aos consumidores informações claras sobre os procedimentos a serem tomados quanto à devolução dos equipamentos de informática e de telecomunicações no final da vida útil;O responsável pelo gerenciamento e destinação •

Rodrigues, da Umicore: “A cada bateria recarregável reciclada poupa-se a emissão de 70% de CO2 e gera-se uma economia de 70% no consumo de energia nos processos”

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final previstos na presente Lei, salvo disposição legal específica, poderá contratar terceiros para a execução de quaisquer etapas do processo, desde que devidamente licenciados pelo órgão ambiental competente;A pessoa física ou jurídica contratada para a •execução de quaisquer etapas do gerenciamento será responsável pelos atos praticados no exercício de suas atividades;A administração pública, em um prazo não superior •a um ano a partir da data de publicação desta Lei, implementará em suas compras e contratações critérios que contemplem preferencialmente equipamentos de informática e de telecomunicações que, após o seu consumo ou término de vida útil, sejam parte integrante de Programas de Recolhimento, Reciclagem ou Destruição;A administração pública, por meio de seus órgãos ou •instituições competentes, definirá em regulamento específico os procedimentos, inclusive os fiscais, de forma a atender ao disposto nesta lei, em um prazo não superior a um ano a partir da data de publicação desta Lei.

Em se tratando do PL 033/2008, Saraiva comenta que, olhando para o instrumento apresentado, verifica-se que ele não previa multa para o consumidor. “Se todos os atores desta cadeia envolvidos têm responsabilidade, por que

o consumidor deveria ficar de fora? Ele é um dos atores mais importantes desse processo. Afinal de contas, o conceito a ser construído no país pelo setor é o da Gestão Integrada e Compartilhada, aquela que considera a divisão de ações e tarefas entre todos os participantes na criação, execução e/ou manutenção do programa de recolhimento, reciclagem ou destruição, envolvendo as empresas produtoras, importadoras, distribuidoras e as que comercializam equipamentos de informática e de telecomunicações no Estado de São Paulo, bem como o Poder Público e os usuários”, fala Saraiva.

Já em relação às substancias tóxicas, o diretor da Abinee afirma que a preocupação não esta no setor, pois este adota mecanismos de alto desempenho, tanto na fabricação como na escolha de seus parceiros integradores, mas está fora dele, representado pela informalidade. “A informalidade domina quase 35% desse mercado. De quem é a responsabilidade de tratar este produto no final da vida útil? Da indústria? Creio que não. No ato da aquisição, o consumidor não sabe o que está fazendo?”, questiona Saraiva.

Ele ainda ressalta outro ponto importante no PL, que é o fato de alguns instrumentos legislativos tentarem estabelecer multa de 1 mil UFESP´s – Unidade Fiscal do Estado de São Paulo, cerca de R$ 14 mil, para os fabricantes, comerciantes e importadores que descumprirem as medidas previstas no texto da lei. Para Saraiva, o pano de fundo desse trabalho deve visar a um comportamento de sustentabilidade, e não de penalidade, devendo fomentar a educação ambiental e o consumo consciente.

Iniciativas – Hoje, algumas empresas já realizam a coleta e/ou o recebimento dos Reee’s. No caso dos celulares, por exemplo, é possível devolver o aparelho nas próprias operadoras. Já no caso dos computadores e notebooks, normalmente, no manual há indicações de onde levar o

resíduo, ou podem ser entregues nas assistências técnicas dos fabricantes.

HP – Kami Saidi, diretor de operações para o Mercosul e do Programa Integrado de Sustentabilidade Ambiental da HP Brasil, conta que a HP tem como meta mundial reciclar e reutilizar 450 mil toneladas de produtos eletrônicos e

Saraiva, da Abinee: “A reciclagem de equipamentos eletrônicos é obrigatória nos países desenvolvidos, onde se adota o Princípio da Responsabilidade Estendida do Produtor”

O processo de reciclagem é complexo e requer a utilização de tecnologias avançadas, pela diversidade de materiais de sua composição e periculosidade das substâncias tóxicas

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materiais até o ano de 2010. “A HP incentiva seus clientes a descartarem seus equipamentos antigos e obsoletos de forma ambientalmente correta e segura, através de seu Programa de Reciclagem e Campanhas de Trade In”, conta Saidi. Trade-in é um termo utilizado para definir o método de compra de um produto novo, no qual se entrega um item usado como parte do pagamento. Todos os equipamentos eletrônicos descartados pelos clientes nestas campanhas realizadas ao longo do ano pela HP Brasil são destinados à reciclagem. Saidi ressalta que entre 2006 e 2007, a campanha obteve alcance de111 toneladas de materiais reciclados.

O diretor da HP explica que, até serem, de fato, reciclados, todos os equipamentos passam por um processo rígido e os resíduos são transformados em matéria-prima e reinseridos na cadeia produtiva de outros novos produtos. Entre 2005 e 2007, a HP Brasil coletou mais de mil toneladas. “Em 2007, para um único modelo de impressora, pelo período de três meses, foram arrecadadas mais de 3.500 unidades obsoletas, que resultaram em, aproximadamente, 21 toneladas de material reciclado de hardware durante a promoção”, destaca.

Ele acrescenta que a experiência da HP na condução de um programa de devolução e reciclagem de produtos foi complementada pelo Programa Planet Partners para suprimentos de impressoras LaserJet. Saidi conta que só em 2008 mais de 60 mil toners e mais de 350 mil cartuchos de tinta foram coletados e reciclados através desse programa

Quadro 2 - Substâncias que podem ser encontradas nos Reee’s e seus prejuízos à saúde humana

Substância Utilizada em Danos

Chumbo Soldagem de placas de circuitos impressos, vidros dos tubos de raios catódicos, soldas e vidros das lâmpadas elétricas e

fluorescentes

Danos nos sistemas nervosos central periféricos dos seres humanos. Foram observados, também, efeitos no sistema

endócrino, além de efeitos negativos no sistema circulatório e nos rins

Mercúrio Termostatos, sensores, relês e interruptores. Exemplo: placas de circuitos impressos, equipamentos de medição, lâmpadas

de descarga, equipamentos médicos, de transmissão de dados e de telecomunicações e telefones celulares. Só na União

Européia são utilizadas 300 toneladas de mercúrio em sensores de presença. Estima-se que 22% do mercúrio consumido anualmente sejam utilizados em equipamentos elétricos e

eletrônicos

O mercúrio inorgânico disperso na água é transformado em metilmercúrio nos sedimentos depositados no fundo. O metilmercúrio acumula-se facilmente nos organismo vivos e concentra-se através da cadeia alimentar pela via dos peixes. O metilmercúrio provoca efeitos crônicos e causa danos ao

cérebro

Cádmio Em placas de circuitos impressos, o cádmio está presente em determinados componentes, como chips SMD, semicondutores

e detectores de infravermelhos. Os tubos de raios catódicos mais antigos contêm cádmio

Os compostos de cádmio são classificados como tóxicos e com risco de efeitos irreversíveis à saúde humana. O cádmio e os

seus compostos acumulam-se no corpo humano, especialmente nos rins, podendo vir a deteriorá-los com o tempo. Essa

substância é absorvida por meio da respiração, mas também pode ser ingerida através dos alimentos. Em caso de exposição

prolongada, o cloreto de cádmio pode causar câncer, além de apresentar risco de efeitos cumulativos no meio ambiente

devido à sua toxicidade aguda e crônica

PBB e PBDE retardadores de chama

bromados - PBB e os éteres difenílicos

polibromados – PBDE

Regularmente incorporados em produtos eletrônicos, como forma de assegurar uma proteção contra a inflamabilidade, o

que constitui a principal utilização. Os 5-BDE, 8-BDE e 10-BDE são, principalmente, usados nas placas de circuitos impressos,

nas cober turas de plástico dos televisores, componentes, como os conectores, e nos eletrodomésticos de cozinha. Sua liberação para o meio ambiente se dá no processo de reciclagem dos plásticos componentes dos equipamentos

São desreguladores endócrinos. Uma vez liberados no meio ambiente, os PBB podem atingir a cadeia alimentar, onde

se concentram. Foram detectados PBB em peixes de várias regiões. A ingestão de peixes é um meio de transferência de

PBB para os mamíferos e as aves. Não foi registrada qualquer assimilação nem degradação dos PBB pelas plantas

Os Reee’s possuem, também, substâncias tóxicas, como mercúrio, usado nos visores; cádmio; berílio; e chumbo, usado em soldas e nos tubos de imagem de televisores e computadores

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no Brasil. “Em 2009, a meta é coletar e reciclar, em média, 25% a mais de unidades que no ano anterior e reinserir o material proveniente da reciclagem desse material na própria cadeia de produção de novos cartuchos de tinta”, enfatiza. Desde 2005, a HP usou mais de 14,5 toneladas métricas de resina plástica reciclada em mais de 565 milhões de cartuchos de tinta.

A empresa tem 55 Centros de Serviços ao Cliente, que apoiam a coleta dos equipamentos de seus consumidores no Brasil, e desenvolveu o Smart Bin, um totem com tecnologia RFID – Radio Frequence Identification para coleta de suprimentos de impressão para a reciclagem que, após a fase experimental, segundo Saidi, será distribuído em pontos estratégicos em todo o Brasil. Ele conta que quando cheios, esses totens emitem automaticamente um sinal de radiofrequência para uma central de logística que faz a coleta dos materiais, encaminhando-os para reciclagem.

Outra ação da empresa, existente desde 2002, é o Programa de Reciclagem de Baterias de Produtos HP, que integra a Gestão Ambiental implantada pela empresa em todo o Brasil. De acordo com Saidi, em 2007, cerca de 3 toneladas de pilhas e baterias foram recolhidas para a reciclagem, através desse programa da HP no Brasil. Ele também permitiu que, junto a clientes corporativos e coletores internos de seus escritórios, em 2008, a HP recolhesse 3 toneladas desses materiais para a reciclagem.

Para hardware, Saidi explica que, até serem, de fato, reciclados, todos os equipamentos passam por um processo rígido de desmontagem, separação de suas partes segundo o tipo – plástico, metal e borracha – e trituração. Segundo ele, depois de triturados, os resíduos são transformados em matéria-prima e reinseridos na cadeia produtiva de outros novos produtos. “A reciclagem de hardware totalizou 395 toneladas em 2008. A companhia recicla qualquer

equipamento eletrônico da empresa ou de seus funcionários e colaboradores”, lembra.

O diretor da HP também lembra que o processo de reciclagem das baterias de notebooks, iPAQs, calculadoras e câmeras digitais HP consiste na coleta e no envio destes para um centro de reprocessamento que é totalmente certificado e controlado por órgãos ambientais, para garantir a qualidade do processo de reciclagem e evitar qualquer eventual dano à saúde e ao meio ambiente. “Neste centro, as baterias são cortadas e moídas. O pó metálico proveniente deste processo passa por reações químicas, filtragem e prensa para separar os resíduos líquidos dos sólidos. O resultado dessa separação são sais e óxidos metálicos que podem ser utilizados na fabricação de outros produtos, como tinta, cerâmica, vidro e refratários”, detalha Saidi. “As baterias de servidores e UPS, compostas por chumbo-ácido, são enviadas diretamente para o parceiro HP homologado, que providencia a separação e reutilização deste material em outras baterias”, acrescenta o diretor.

Saidi conta que, nos Estados Unidos, a HP já reutiliza materiais de seus cartuchos de tinta reciclados para a fabricação de novos cartuchos. Esse cartucho reciclado reinserido na resina, juntamente com plástico de garrafas PET, se torna peça de impressoras e scanners. Ele ainda afirma que, no Brasil, estão no desenvolvimento de aplicações nesse mesmo sentido.

Destinação correta, segundo a HP:

Hardware• Quando recebido contato do cliente pelo e-mail

[email protected], informam pontos dos Centros de Serviço ao Cliente para a entrega do produto obsoleto HP.

Suprimentos de Impressão• O cliente os contata pelo email [email protected] e

posteriormente é informado da coleta dos seus suprimentos de toner ou cartuchos de tinta. Sugerem a quantidade mínima de cinco unidades do produto.

Baterias• A empresa disponibiliza um processo gratuito de

devolução de baterias e destinação para a reciclagem das baterias utilizadas nos notebooks e handhelds HP. O cliente deve contatar pelo email reciclagem@ hp.com, e receberá informações de locais ou um ticket do correio pago pela HP para o encaminhamento de suas baterias.

Saidi, da HP: “A empresa conta, atualmente, com 55 Centros de Serviços ao Cliente, que apoiam a coleta dos equipamentos de seus consumidores no Brasil”

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Resíduos

Diretrizes mais citadas pelos entrevistados quando o assunto é gestão e gerenciamento adequado dos Reee’s

Localidade Legislação Objetivo

Mundial Convenção de Basiléia Regulamenta o movimento transfronteiriço de resíduos tóxicos entre os países signatários

União Européia RoHS Restringe o uso do chumbo, mercúrio, cádmio, cromo hexavalente e polibromatos, PBB e PBDE na fabricação de

eletrônicos

União Européia WEEE Substituição de substâncias tóxicas; aumenta da taxa de reciclabilidade; incentivo à reciclagem e proibição de depósito

inadequado

Brasil Lei 6.938/81 – Política Nacional do Meio Ambiente Preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao

desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana

Brasil PL 203/1991 – Política Nacional de Resíduos Sólidos, em discussão

Institui diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos – incluídos os perigosos –, às

responsabilidades dos geradores e do Poder Público e aos instrumentos econômicos aplicáveis

Brasil Resolução Conama nº401/2008 Estabelece limites máximos de metais pesados em pilhas e baterias comercializadas no país

São Paulo PL 033/2008 Institui normas e procedimentos para a reciclagem, gerenciamento e destinação final do lixo tecnológico

Umicore – Ricardo Rodrigues, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Umicore Brasil, conta que, com atuação na coleta de baterias recarregáveis e celulares no Brasil desde 2005, a Umicore possui um exclusivo processo de reciclagem, denominado Val’eas, para a recuperação dos metais desses produtos, que ocorre em suas fábricas na Suécia e na Bélgica. “O nosso processo foi desenvolvido com tecnologia de última geração para garantir a sustentabilidade do meio ambiente. Com ele, reaproveitamos os metais contidos em baterias recarregáveis e celulares que, após todo o processo, volta ao ciclo industrial para a fabricação de novas baterias, celulares e outros produtos”, acrescenta.

Rodrigues explica que esse processo não necessita de pré-processamento, já que as baterias são depositadas por inteiro em um forno, onde se inicia o processo de fundição e a parte plástica é valorizada como fonte de energia. O gerente detalha que os gases do processo passam por um forno de pós-combustão, que os reduz a gases inertes. Por fim, estes gases passam por um lavador para a retirada de eventuais impurezas. As saídas sólidas do processo são os

metais a serem utilizados como matéria-prima para a produção de novas baterias recarregáveis e as escórias são utilizadas como agregado para concreto.

Já na reciclagem de celulares, Rodrigues conta que os materiais passam por um processo de trituração e homogeneização. “Na etapa seguinte, amostras do material são analisadas para determinação da composição química do lote e, após esse passo, os materiais são enviados a um forno de alta temperatura,

onde a parte orgânica é queimada e os metais se concentram em uma fase líquida. Depois de retirados do forno, os metais concentrados em lingotes seguem para separação e refino”, explica Rodrigues. O gerente ressalta que as escórias, já sem metais, tanto das baterias como dos celulares, são utilizadas como agregado para concreto.

Ele ainda lembra que ao final do processo, a Umicore emite o Certificado de Destruição e Reciclagem, no caso de celulares, e o Certificado de Reciclagem para baterias recarregáveis. “Dessa forma, o cliente recebe a comprovação

A realidade de geração e impacto de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos ainda não é tão bem conhecida, porque não há nem mesmo uma Política Nacional de Resíduos Sólidos

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de que os resíduos foram tratados com as melhores práticas de reciclagem e não foram descartados na natureza”, comenta.

O gerente afirma que, em 2007, a Umicore Suécia reciclou, no total, mil toneladas de sucata eletrônica, e que só a Umicore Brasil enviou para a Suécia 30 toneladas de materiais para a reciclagem. Já em 2008, Rodrigues afirma que foram exportadas do Brasil para a Suécia 90 toneladas, e que o total de reciclagem foi o mesmo do ano anterior. Um estudo realizado pela Umicore apontou que a cada bateria recarregável reciclada poupa-se a emissão de 70% de CO

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– dióxido de carbono – na atmosfera e gera uma economia de 70% no consumo de energia nos processos. “Com a

Motorola – O programa de preservação ambiental da Motorola está completando 10 anos e, de acordo com Luiz Ceolato, supervisor de Meio Ambiente, atingiu a marca de 280 toneladas de componentes eletrônicos recolhidos para reciclagem. Segundo dados da própria empresa, somente em 2008 a companhia retirou 30 toneladas de material nos postos de coleta instalados nas 120 lojas do SAM – Serviço Autorizado Motorola de todo o país, incluindo baterias de celulares e rádios, além de aparelhos e acessórios fora de uso.

Ceolato explica que as baterias coletadas são embaladas uma a uma, para evitar danos nos contatos, e armazenadas na fábrica, conforme orientações da ABNT – Associação

É necessário integrar a gestão dos Reee’s a uma Política de Resíduos Sólidos com a especificidade e relevância que esse tipo de resíduo requer,

tanto pelo grau de risco, quanto pelo volume

reciclagem, as fases de mineração e refino primário dos metais contidos nas baterias recarregáveis são eliminadas”, explica Rodrigues.

Destinação correta, segundo a Umicore:

Para dar uma destinação ambientalmente correta •para o seu celular e/ou bateria recarregável inativos, o consumidor deve entrar em contato com a sua operadora ou fabricante de celular e verificar onde depositar os itens. Outras informações podem ser obtidas pelos e-mails [email protected] e [email protected].

Brasileira de Normas Técnicas. “Depois de submetida ao processo de reciclagem, a bateria é destruída e apenas os metais são recuperados. Desde que foi lançado, o programa já recolheu um volume superior a 20 contêineres marítimos de baterias”, lembra Ceolato.

O supervisor da Motorola comenta que o sucesso do programa de reciclagem de baterias levou a empresa a expandir suas atividades na área e implementar o Ecomoto, uma ação ambiental adotada mundialmente pela empresa, reafirmando o seu compromisso com a segurança da população e com a proteção do meio ambiente. “Implementado no Brasil em agosto de 2007, o Ecomoto expande as atividades da Motorola na área ambiental. Por meio dele, a empresa recupera e recicla, além de baterias, aparelhos celulares,

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rádios bidirecionais e acessórios, como carregadores, fios e fones de ouvido, entre outros, cuja vida útil tenha terminado. Após a coleta, os compenentes são analisados e classificados para o processo de reciclagem e algumas substâncias, como cobre, ouro, bronze e ferro, são recuperadas”, ressalta Ceolato.

Ele enfatiza que a Motorola tem o compromisso de desenvolver aparelhos e equipamentos ambientalmente corretos, que preservam a biodiversidade e os ecossistemas naturais e suprimem as necessidades da geração presente, sem afetar as habilidades das gerações futuras. “Seguindo essa estratégia, a empresa desenvolve produtos isentos de materiais tóxicos e que sejam recicláveis, e agora estamos lançando um abrangente programa de coleta e destino ambientalmente correto para nossos produtos”, completa Ceolato.

Destinação correta, segundo a Motorola:

Todos os produtos a serem reciclados podem ser •depositados nas urnas localizadas nos Serviços Autorizados Motorola em todo o país.

Itautec – A Itautec tem em sua fábrica, em Jundiaí, SP, uma área de 715 m² destinada à reciclagem de equipamentos ao final de vida útil. João Carlos Redondo, gerente de sustentabilidade da Itautec, explica que nesse espaço, os equipamentos são recebidos, desmontados e encaminhados a recicladores homologados e específicos para o processamento e destinação final. “Ao reciclar, essas matérias-primas são reinseridas na cadeia para a produção de novos produtos. Além de computadores, a Itautec desmonta e encaminha para a reciclagem as partes de caixas eletrônicos e qualquer outro equipamento que produz”, ressalta.

De acordo com dados da empresa, no ano de 2008 a Itautec destinou para reciclagem 469,97 toneladas de materiais oriundos do processamento de equipamentos eletroeletrônicos. Esse total é composto por 22,76 toneladas de placas, 180,54 toneladas de metal, 148,10 toneladas de plástico e 141,33 toneladas de e-waste, que inclui cabos, borra de solda, etc. Para garantir que todos os componentes sejam reciclados, Redondo explica que a Itautec exporta as placas de computadores

para parceiros em Cingapura e na Bélgica, pois ainda não existe no Brasil nenhuma empresa especializada na recuperação de placas. Por isso, esse é o único material que a Itautec exporta, em parceria com companhias especializadas em reciclagem de equipamentos eletrônicos nesses países. “Investir em sustentabilidade é uma iniciativa não apenas responsável, mas visionária do ponto de vista de negócios. Hoje, já lidamos com exigências de clientes que colocam em seus contratos de fornecimento de equipamentos cláusulas específicas para a destinação

das máquinas”, ressalta Redondo. O gerente da Itautec acrescenta que, hoje, a empresa

já produz boa parte de seus equipamentos sem a presença de chumbo e metais pesados e continua investindo no desenvolvimento de projetos que incorporem objetivos ambientais como premissa. Além disso, ele conta que, em 2008, a empresa atingiu o índice de 93% de produtos fabricados em linha com a diretriz européia RoHS – Restrição de Substâncias Nocivas, que assegura que essas máquinas não contenham metais pesados. Segundo ele, os 7% restantes são produtos cuja fabricação está sendo descontinuada, à medida que são substituídos por novos lançamentos. A previsão da empresa é que até o final de 2009 este índice seja de apenas 2% dos produtos fabricados.

Para Redondo, é bom frisar que um computador é 100% reciclável, e que a reciclagem já estava contemplada no Sistema de Gestão Ambiental adotado pela Itautec desde 2001. “A empresa iniciou com a coleta seletiva, que tinha como objetivo mudar a cultura dos colaboradores e fazer com que eles participassem, dentro de uma linha de conscientização ambiental, do melhor aproveitamento de materiais, evitando desperdícios. Isso levou aos trabalhos de pesquisa sobre como reciclar um computador, o que se mostrou um grande desafio técnico, já que não existiam empresas com o conhecimento técnico de como reaproveitar os materiais contidos nestes equipamentos”, lembra. Ele acrescenta que parte desta reciclagem foi verticalizada na empresa, como a desmontagem do computador. “O domínio deste processo, adquirido a partir

ResíduosVilhena, do Cempre: “A situação, hoje em dia, da reciclagem de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil é de iniciativas pró-ativas individuais do empresariado”

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de ensaios realizados em 2003, permitiu que os materiais que constituem um computador retornassem à cadeia produtiva, em vez de seguir para aterros sanitários ou para o mercado ilegal”, afirma.

Destinação correta, segundo a Itautec:

No caso de clientes corporativos da Itautec, a •destinação dos computadores ao final de sua vida útil é negociada junto ao contrato de renovação de parques instalados.Já em se tratando de usuários finais que desejem •ter seus computadores da marca Itautec reciclados pela empresa, devem entrar em contato pelo e-mail: [email protected]. Após o recebimento do e-mail, o usuário será informado sobre os procedimentos para encaminhamento do equipamento à reciclagem.

Lixo Digital – Simone conta que a Lixo Digital do Brasil coleta e separa materiais eletroeletrônicos e de informática e os devolve à cadeia produtiva, ou seja, o que antes era sucata volta a ser reutilizado como insumo. “Neste momento de conscientização ambiental, percebemos o aumento vertiginoso do volume de detritos tecnológicos descartados diariamente por empresas e consumidores, de modo geral, o que causa grande impacto na natureza. Todos podemos evitar o acúmulo desses resíduos, separando e dando um destino seguro ao nosso próprio lixo digital”, comenta.

A empresa realiza a desmontagem de aparelhos elétricos, eletrônicos e de informática, além de descaracterizar o produto obsoleto inteiro para posterior reaproveitamento da matéria-prima em uma nova etapa de produção, livre de

desperdícios e poluentes. “Essa é uma tendência de mercado empreendedora, e estamos nos especializando para sermos prestadores de serviços na logística reversa, assim definida no projeto lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. No nosso caso, somos a primeira empresa brasileira a fazer coleta residencial e atendemos quase 100% das chamadas no município de Itatiba, SP”, comenta.

Simone detalha que a Lixo Digital retira e recebe os seguintes Reee’s:

Placa-mãe•Placas leves •Placas pesadas •Placas de celulares •Placas de DVD •Processadores •HD´s •Fios •Cabos •Cobre •Conectores •Alumínio •Relês •Computadores •CPU´s•Celulares •Drives de alumínio •Ventoinhas, cooler•Transformadores •Monitores•Impressoras •CD’s driver’s, de ferro•Teclados •Hub’s •TV’s •Aparelhos eletrônicos •Aparelhos médicos •Aparelhos industriais •No-breaks•

Destinação correta, segundo a Lixo Digital:

A empresa trabalha com chamadas agendadas via •fone ou e-mail, tanto na cidade São Paulo, quanto na Região Metropolitana de Campinas. Mas, segundo Simone, dependendo da quantidade, ou seja, se a sucata for o suficiente para cobrir custos com logística, também atendem em outros estados.

No Brasil, todos os anos, mais de um milhão de computadores são descartados e dez milhões de máquinas novas chegam ao mercado para serem comercializadas

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