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" VARO SIZA· Pavilhão de Portugal EDUARDO 'SOUTO DE MOURA

Alvaro siza e eduardo souto de moura

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ALVARO SIZA· Pavilhão de Portugal

EDUARDO 'SOUTO DE MOURA

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Edição realizada com o patrocínio da

~ FUNDAÇÃO ,

BAi\CO CmlERCIAL PORTUGUES

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o nascer de um monumento S'MONETTA Luz AFONSO

Em 1994 recebo um telefonema do António Mega Ferreira e um desafio: quer pensar os contéudos do Pavilhão de Portugal na

Expo '98? Tema: os Oceanos e a celebração da viagem de Vasco da Gama! Tratava-se de um daqueles desafios a que não se con-

segue resistir. Havia dois caminllOs. O fácil seria pegar em património do tempo dos Descobrimentos e fazer mais uma

exposição. O mais difícil seria pegar no tema de uma forma abrangente e universalista, aproveitar a ocasião para deixar alguma

coisa que perdurasse além da efemeridade obrigatória do evento, descobrir fontes iconográficas menos divulgadas e dá-las a co-

nhecer ao grande público, usar as novas tecnologias e trazer à luz da ribalta peças novas do tempo dos Descobrimentos. A

primeira ideia que me surgiu foi uma daquelas que acalentava há anos e ficara "guardada" à espera de melhores dias! Partir da

riquíssima iconografia dos Biombos Namban, de que alguns dos melhores exemplares se guardam em museus portugueses,

dando vida às personagens que povoam aquele testemunho único e fidelíssimo da chegada dos portugueses ao J apão. Projecto de

dimensão lúdica - a animação, a construção de um mundo onde se misturavam elementos reais e virtuais - tinha também uma

indesmentível carga didáctica, pela possibilidade de restituição dos ambientes de época (o vestuário, a construção naval, a arqui-

tectura nipónica, os costumes) e de evocação da emoção espantada do homem oriental que pela primeira vez via aqueles seres de

compridos narizes, cOln as suas armas de fogo, os óculos e os trajes, acompanhados por uma fauna exótica e desconhecida naque-

las paragens.

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A ideia seguinte afigurava-se igualmente difícil, mas não menos aliciante: promover uma escavação de uma nau da Carreira da

Índia e, através dos objectos recuperados, dar força à ideia base do pavilhão, funcionando ao mesmo tempo como símbolo dos

momentos mais brilhantes das navegações portuguesas. A vantagem deste projecto residia ainda na possibilidade de se recons­

truir tanto a memória dos grandes navegadores como a da anónima "gente do mar", através dos objectos mais diversos do seu

quotidiano perdido; a sua dificuldade radicava no esforço de revolver arquivos em busca de informações sobre naufrágios, iden­

tificar locais prováveis da desgraça e pôr em marcha as equipas de arqueólogos subaquáticos, o que foi possível por ter tido a sorte

de trabalhar com o grupo mais experiente em Portugal.

Enfim, um desejo que acompanhou sempre a concepção do Pavilhão de Portugal, de dificuldade extrema, foi o de não apresen-

tal' uma versão passadista da História, saudosa de glórias antigas, mas - pelo contrário - dar ao público a ideia de um país com

um passado que sabe preparar o futuro. Este foi, na verdade, o tema mais difícil de materializar, para o qual os condicionantes

tempos de visita, número de visitantes e disponibilização de informação em tempo real constituiram os maiores obstáculos.

O projecto continuou depois com a formação de uma equipa. Discutiram-se conceitos e formas de os concretizar, aproximan­

do-nos da ideia de exposição-espectáculo. Sabia já, nessa altura, que o arquitecto do edifício era o Álvaro Siza, com quem nunca

tinha trabalhado e cuja obra muito admirava.

E assim, trabalhando em paralelo, um no Porto e outro em Lisboa, cá nos encontrámos em Julho de 1995. À vista dos primeiros

desenhos e da exposição clara do projecto fiquei logo rendida ao edifício e às possibilidades que ele permite, à sua flexibilidade

e localização simbólica, à luz! Mas a luz, criava, em simultâneo, um outro problema, pois precisava em absoluto de ser contro­

lada, por não caber na nossa aposta e""positiva. Confesso que não foi sem uma ponta de receio que lhe expliquei que, de forma

a evocar um percurso através do imaginário, do mundo dos sonhos e das fantasias próprias das grandes narrativas míticas ligadas

ao mar, a exposição não poderia ter luz natural. Acrescentei, ainda, que queria que o visitante, depois de ter visto o pavilhão por

fora, entrasse na exposição, esquecesse que estava num edifício e viajasse connosco! São as imagens que materializam as ideias e

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que o vão conduzir, lTIas é UlTI percurso de sonho até às realizações do passado e aos desafios do presente. Prometi-lhe que

teríalTIos talTIbém uma sala dele, muito dele, rigorosalTIente contemporânea e despojada, cuja silTIples visão desse a ideia do pre­

sente-futuro.

Apesar de já ter ilTIaginado um interior clássico para o espaço lTIuseológico, foi lTIuitíssilTIO receptivo, se bem que algo desconfiado

relativamente a tudo o que lhe contara sobre o conceito de eX'P0sição-espec táculo, COlTI lTIáquinas, projectores, efeitos especiais e

outras fatalidades que haverialTI de invadir a sua obra.

Pormenorizar um edifício desta dimensão, entregar o projecto a tempo para lançar a obra iria, certalTIente, ocupar lllUitO do seu

telTIpo, pelo que achei excelente que tivesse delegado a responsabilidade do trabalho de arquitectura da exposição no Eduardo

Souto de Moura. Foi a melhor escolha! Já o conhecia do projecto do Museu Grão-Vasco, elTI Viseu, e revelou-se depois nas

lTIúltiplas horas de trabalho que realizámos juntos COlTI a Anabela Carvalho, a Raffaella d'Intino, o Miguel Soromenho, o Rui

Afonso e o Johann Schelfout. Nenhum de nós se sentia "dono" da verdade absoluta e foi nascendo, entre todos, UlTIa soli-

dariedade pouco vulgar. Esta busca incessante de opiniões diferentes e de outros pontos de vista que enriquecesselTI os nossos,

procurálTIo-la COlTI hUlTIildade elTI todos aqueles que podialTI ter contributos válidos a dar ao Pavilhão de Portugal: foi sobretu­

do a diversidade de olhares que procurámos no António Manuel Hespanha, no JoaquilTI ROlTIero de Magalhães, no Mário Ruivo,

no Fernando Lopes, no Henrique Cayatte, na Patrícia Reis e no Francisco Andrade. E conseguimo-lo com êxito.

As vezes que se implantou o projecto ex 'Positivo no espaço disponível não têm conta' O fluxo de visitantes tinha de ser constante,

a visita não podia delTIoral' mais de 25 lTIinutos, e, para cOlTIplicar tudo, alterou-se o nÚlTIero, já grande, de II mil visitantes diários

para 20 mil! Não podia, de lTIodo algulTI, haver barreiras arquitectónicas, nem escadas, nem elevadores, nelTI ralTIpas! O que

ganharíalTIos elTI espaço perderíamos em fluidez! O que então adlTIirei no Eduardo Souto de Moura foi sobretudo a capacidade

de ouvir e de realizar. Entretanto, Álvaro Siza ia passeando pela exposição, desconhado a princípio, curioso depois e rendido

por hm.

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A solução arquitectónica a que chegámos para a implantação dos conteúdos foi aquela que nos permitia um edifício que ia ter

uma função transitória Ce depois dehnitiva, quando se concluísse sobre a sua utilização futura), articulando as exigências de segu­

rança, insonorização, instalação de equipamento de projecção e fluidez de circulação com um mínimo de custos e de alterações

na segunda fase. Optou-se, assim, por trabalhar no projecto expositivo com as paredes em tosco e com um piso único, per­

mitindo os pilares existentes na última sala ancorar no futuro o piso intermédio.

Entretanto, a construção do edifício ia progredindo e o Álvaro Siza ia hcando mais livre de espírito e menos angustiado com os pra­

zos. Pudemos aqui começar a sonhar com os interiores da ala protocolar, dos restaurantes e da livraria. Como mobilá-los? Indo bus­

car peças e objectos aos museus? Nunca! Indo comprar móveis às lojas de decoração, maioritariamente estrangeiros? Também não!

Sobretudo tendo o design português a qualidade que tem! Aqui entrou de novo a generosidade do arquitecto Siza. Lancei-lhe o desaho

de desenhar os móveis para o pavilhão, criando uma linha de mobiliário, arranjando um fabricante e um produtor e fazendo-os

entrar no mercado I A linha foi baptizada de MARE, o produtor encontrou-se, dois jovens do Porto e a empresa D&D, o fabricante

também, o Sr.Sünões, velho conhecido do arquitecto Siza e grande entusiasta do projecto .. , E a promoção internacional está a

arrancar.

Mas ainda nos faltava a loiça! E de novo peço a Álvaro Siza para a desenhar. Como ahnal uma sorte nunca vem só - ao contrário

do ditado fatalista - encontro na Helena Bernarda, da SPAL, uma interlocutora que em tempo record nos produziu um serviço

para 800 pessoas! Enhm, o problema dos talheres. Para eles não havia já tempo para serem desenhados, mas o Siza escolheu, e

bem, um faqueiro de recente criação da Cutipol. Pensado para se chamar "Michigan", foi por nós rebaptizado de "Atlântico",

uma derradeira homenagem ao lnar, nestes telnpos de Expo.

O hm do processo não é propriamente o último acto. Volta-se agora a um outro prólogo, o da história de um monumento que

acabou de nascer, e assinala-se o das equipas que nele trabalharam em dias e noites sem fim, preparando com certeza outros

encontros futuros.

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No princípio o futuro era um esquema

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"Um arquitecto, normalmente, trabaU,a com um programa e uma série de condicionantes. Uma das condicionantes é o sítio. O

facto de ser uma paisagem natural ou o interior de uma cidade tem as suas implicações, mas é também aqui que se procura o estí­

mulo pal'a iniciar o trabalho. A primeira ideia com possibilidades de seI' desenvolvida, tendo em vista determinados objectivos e

limitada por certas condicionantes, é muitas vezes impossível de se materializar. Outras vezes não. No caso da ExpO'98, os arqui­

tectos começaram a trabaU,ar ao mesmo tempo nos diversos pavilhões sem saber exactalnente que construções é que iam ter por

vizinhos. Sabia-se que ia haver um futuro, mas o futuro ainda era um escluema. Faltavam informações sobl'e os elementos exteriores:

o sítio, as grandes construções vizinhas, a utilização futura, os contéudos. Com estas dificuldades especiais - não é a situação nor­

mal - el'a fundamental estabelecer uma estratégia de funcionamento e deixar ao edifício várias possibilidades de aproveitamento.

No futuro, este edifício podia ser um museu, mas também podia ser um escritório". ÁLvARO SIZA

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"Se a opção for utilizar este espaço para escritórios - ao contrário do que sucede num museu - é preciso partir o pavilhão em

divisões pequenas. Esta possibilidade provocou, por exemplo, o aparecimento de pátios . . . A profundidade grande necessária

para o fim imediato - a Expo'g8 - no futuro podia limitar a entrada de luz no edifício, daí a construção de dois pátios e uma

implantação de janelas muito regular". ÁLVARO SIZA

Pensar como uma dona de c

"Um arquitecto quando trabalha tem de se imaginar dentro do projecto como se fosse uma casa. O arquitecto deverá desdo-

brar-se em dona ela casa, porteiro, criança, mulher solteira, cozinheiro, rei . . . testando mentalmente como é que a construção

serve as pessoas". ÁLVARO SIZA

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"No plano inicial deveria fazer um edifício no eixo da doca. Esta posição de eixo faz lembrar o Terreiro do Paço com o Arco

de Triunfo da Rua Augusta como elemento dominador e dois b"aços laterais relacionados com a quadrícula da Baixa. Um

grande espaço sobre o rio. Neste caso nilo se previam esses braços. Assim, sem saber como pegar nisto, pensei em mover o edifí-

cio, retirá-lo do eixo da doca e colocá-lo numa posição de assimetria, ancorá-lo a um lado da doca. Como se fosse um barco.

A partir daí estabeleceu-se uma relação que já nào é de simetria, mas de tensão com o que sabia já existir na doca: o Oceanário.

A.l'ranjámos uma maior liberdade de actuação para os arquitectos, criando uma situação de tensão, mas também de dinamis-

mo, aberta à utilização futura do edifício. Este foi o aspecto fundamental do trabalho inicial". ÁLVARO SIZA

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Atracar o edifício como um barco

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À procura da fórmula mais que perfeita

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"Há uma parte do trabalho em que o desenvolvimento e arrumação do programa passa a ser cOlno organ izar o espaço interno

num outro edifício. Já se pode trabalhar de uma forma quase isolada na divisão dos espaços interiores destinados mais tarde

não se sabe a quê. Logo, numa primeira fase, houve ensaios, algumas hipóteses. A pala esteve em vários lados e é o resultado

de uma série de conversas sobre outros aspectos do funcionamento do recinto da Expo'g8 e das sugestões que me foram feitas

pelos engenheiros, os homens das estruturas. São eles que dizem que se pode fazer uma determinada coisa. Alertam para

dificuldades, explicam se é caro ou barato. Foi com eles que fiz várias experiências até se encontrar a fórmula ideal, aquela que

dá uma imagem apropriada às funções do edifício (pavilhão do país anfitrião) e, ao mesmo tempo, não constrangedora em

relação a um sector da cidade em funcionamento normal". ÁLVARO SIZA

"Este não é um projecto que se pense em casa, enquanto se está sentado a olhar para a janela. O objectivo final tinha uma

data marcada. Os condicionamentos avolumavam-se e, muitas vezes, eram contraditórios. A concepção foi difícil. Era pre­Ideias que conduzem e são conduzidas

ciso respondeI' a interesses diferentes de vários sectores: engenheiros, agentes do protocolo, direcção da área expositiva, os

agentes dos restaurantes . . , Tratou-se, portanto, de um projecto com uma fOl'lna que simultaneamente conduz e é con-

duzida". ÁLVARO SIZA

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"O aumento da complexidade do projecto começa quando chegamos ao detalhe. Por exemplo, decidir quantos centímetros é

que um rodapé vai ter ... Geralmente, as pessoas nào se apercebem, quando entram num edifício, que há muitas razões para o A importância dos detalhes e rodapés

"odapé ter.r centímetros. Nào é um mero capricho, embora possam existir caprichos na arquitectura". ÁlVARO SrZA

"Um capricho não é uma coisa alheia a um processo de reflexão e consenso. O capricho é o compromisso. Não pode haver

racionalidade sem capricho. No meu entender são complementares. Cada vez mais, na arquitectura, é difícil fazer passar capri-

chos. Numa situação destas é ainda mais difícil. No Pavilhão de Portugal c]uase que não há caprichos". ÁLVARO SrZA

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"A pala é de betão e tem 20 centímetros. Sólida. A forma física da pala obedece ao cálculo do cair natural de uma tela. Se a

curva não fosse calculada devidamente haveria uma pressão e partia - disso tratam os engenheiros. Tenho a ideia da pala e per­A ideia da pala

gunto aos engenheiros se é um disparate. Os engenheiros - e neste projecto há bons engenheiros - disseram que se podia fazer.

Estudaram inúmeras hipóteses, fOl'am falando comigo para, em conjunto, estudarmos as possibilidades. Não é a pala que vai

diferenciar o Pavilhão de Portugal dos outros, é antes o contraste enlre a pala - que é pouco usual - associada a um edifício

com janelas iguais. É isso que lhe dá carácter". ÁLVARO S'ZA

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"Não sei se a pala surgiu como analogia dos toldos da praia, considerando a proximidade da água. Não sei. Quando estamos

na fase nebulosa de pré-criação vamos experimentando, procuramos ideias, formas, aparecem muitas referências sem tel'lTIOS O papel único da memória

consciência do porquê de determinada ideia. Na tentativa de encontrar um caminho não dizemos: vamos experimentar A ou

B. É um processo mais instantâneo e, pOl'lanto, passa por um certo inconsciente. Um dos aspectos importantes na formação

de um arquitecto é desenvolver essa capacidade de registar experiências e de recorrer a elas naturalmente. Na minha opinião,

o arquitecto não pode saber a fundo de nada. O arquitecto é especialista em não ser especialista de coisa nenhuma. Não é pos-

sível criar uma plasticidade em que vão entrando todos os aspectos técnicos e outros se se for um especialista. Não sei dizer qual

é o significado da pala, terá muitos, não sinto necessidade de justificar a sua existência. A arquitectuI'a não é como um texto

p,'agmático ou explicativo". ÁLVARO SrZA

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"Quando fui ver a pala pela priIneira vez não Ine acbnirei grandemente. Os esquiços, os desenhos rigorosos, as maquetes ...

Nada nos dá garantias sobre o que vai dar uma ideia depois de construída. Usamos muitos instrumentos, muitas técnicas de

apuramento de uma ideia, uma quantidade de instrumentos de trabalho que nunca nos dão por inteiro a tranquilidade de

saber logo o que nos espera. Pensei sempre que a pala deveria produzir um impacto muito grande. Será que esta impressão não

é demasiada? Quando cheguei ao recinto e vi finalmente a pala, achei naturalíssimo. Não me impressionou nada, não tive von­A intranquilidade de uma ideia

tade de dizer: olha a pala. Nada. Achei natural. Era o que pretendia, mas não estava seguro de o ter conseguido. Há uma

margem de receio, de dúvida muito grande numa construção destas dimensões". ÁLVARO SIZA

"O que me faz impressão na pala é o facto de um objecto que deveria ser feito com materiais leves ser feito de betão e ter um A pala vista por Souto de Moura

ar perene. O facto de ser em betão (contra-natura) é o que produz a surpresa". EDUARDO SOUTO DE MOURA

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"O engenheiro estava aborrecido porque gostava que a pala tivesse uma espessura menor. Dizia ele: isto ainda está muito espes­Um engenheiro il15atisfeita

soo Eu já estava satisfeito com os 20 centímetros". ÁLVARO SIZA

"Há coisas que se aprendem com a experiência. Pensar, ver, comparar. Não existelTI lTIuitas oportunidades de fazer um edifí­Trabalhar com um jogo de medidas

cio com estas dimensões e com estas características, mas em qualquer projecto há dúvidas sobre a escala e as proporções, por

mais experiência que se tenha. Trabalhar com o grande - a construção - e o pequeno - as maquetes, por exelTIplo - é um jogo

de medidas. A experiência não chega". ÁLVARO SIZA

"O Souto de Moura desenvolveu uma ideia autónoma para a parte expositiva. Acho que houve no trabalho dele a preocupação de Escolher um arquitecto para a exposição

avançar C01TI algo que nào fosse contra a arquitectura do autor. Perguntou-1TIe várias vezes a minha opiniào, mas eu estava numa

posição de extrema confiança. Ao fim de uns anos, descobri que é impossível este arquitecto fazer uma coisa de que eu não goste.

Por outro lado, fui ganhando connança na capacidade do espaço de receber várias intervenções. Quando escolhi este arquitecto n-

-lo exactamente por não fazer C01TIO eu, ou seja, escolhi-o pela diferença. Não sendo eu a fazer os interiores, não queria U1TI sub-

eu. Queria alguém que assumisse todas as contradições e com capacidade para isso. O Souto de Moura teve UlTIa grande dinculdade

em acompanhar o ritmo da evolução dos núcleos expositivos do pavilhão, ao mesmo tempo que foi confrontado com proble-

mas inerentes à exposição e ao facto de existir uma grande máquina a trabalhar com um objectivo a prazo. Trata-se de um evento

que implicou um investimento financeiro muito grande e que tem uma faceta pública bastante visível. Tive a percepção imediata

disso e pressenti que seria importante descentralizar. Ter outro arquitecto a olhar pelos interiores e}cpositivos era uma opção.

Disseram-me para escolher. Eu escolhi. Restava saber se ele aceitaria". ÁLVARO SlZA

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"Aceitei ser o arquitecto das exposições porque nào era a primeira vez clue trabalhava com o Siza e sei que a relaçào pessoal é Procurar um discurso não perturbador

boa. Não há complexos, o que é fundamental nestas situações. Pensei também que seria bom trabalhar na Expo'g8. Não é todos

os dias que aparece a oportunidade de trabalhar num edifício com esta escala. No capítulo das dificuldades, a maior foi a tran-

quilidade por parte do Siza. É muito responsabilizante o facto de ele se mostrar tranquilo em relação ao meu trabalho. A prova

de amizade e de confiança profissional aumenta as preocupações e a responsabilidade. A dificuldade reside no facto de eu não

ser ele e ter de procurar um compromisso, em vez de me remeteI' para uma linguagem que é só minha. Uma das condições que

o Siza colocou desde o início era que deveriamos entender este edifício como um espaço que - de passagem - serve para a

Expo'g8, ou seja , tem uma ocupação temporária , mas é essencial que tenha uma carga cultural em relação à geografia e à cidade

no futuro. Hoje estamos mais esclarecidos c[uanto às funções definitivas". EDUARDO SOUTO DE MOURA

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"Os contéudos são de grande qualidade e implicam uma série de novas tecnologias e, por isso, quanto melhores são, mais difí­Como 05 malabaristas no circo

cil é a passagem para a materialização. Com um bom edifício e um bom guião expositivo maior é a dificuldade. O facto de não

existir uma fórmula rígida veio acrescentar dificuldades óbvias para se chegar a uma forma definitiva. Como todos os espaços

expositivos têm um determinado significado e pretende-se que tenham um efeito concreto , as soluções tinham de ser eficazes.

Era importante que o espaço expositivo não fosse um objecto estranho dentro do edifício. Isso era uma missão quase impos-

sível. O edifício vive de janelas e não era possível ter excesso de luz nas três salas dos núcleos expositivos por causa da projecção

dos filmes. Assim, fui obrigado a fechar todas as janelas. Não queria que a exposição fosse contra natura em relação ao edifí-

cio. Isto fez com que trabalhasse quase no fio da navalha e acabei por fazer um segundo edifício encostado ao edifício princi-

pai, embora os visitantes não tenham essa percepção nem à entrada, nem à saída. As pessoas não se apercebem que aquelas pare-

des não correspondem às do edifício principal, têm apenas 70 centímetros. Penso que há um prolongamento da escala e da

forma. O que me deu mais gozo foi poder trabalhar por sobreposições. Como aqueles senhores no circo que põem uma série

de pratos no ar e andam a correr de um.a lado para o outro". EDUARDO SOUTO DE MOURA

"Um arquitecto faz objectos cuja escala é variável. Há hoje uma tendência em todos os campos para a especialização. A tendên­A arquitectura não é estanque

cia para a especialização numa profissão onde o que interessa são as relações, as coisas em si, é contra natura. Um arquitecto

de interiores, que é COlno nos referünos ao Souto de Moura neste caso, não faz sentido, porque a relação com o espaço está na

rua, na praça, na praia, depois no átrio, nas salas, etc. Não há zonas estanques. Não é possível tratar o interior de uma casa

sem se considerar o exterior. No caso do Pavilhão de Portugal , o Souto de Moura teve de trabalhar o interior. É uma condi-

cionante muito especial. Teve de trabalhar só o interior, mas - porque é Ulll arquitecto - não perdendo a relação COlll o resto".

ÁLVARO SIZA

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A apologia do trabalho invisível

" AB contradições e o conjunto de informações complexas não podem ser visíveis. Nào podem massaCI'ar as pessoas. Se o públi-

co têm a mínima percepção do esforço, o meu trabalho nào está bem feito. Falhou. É como num livro, quando o leitor percebe

exactamente que livros é que o autol' leu. O leitor fica desiludido. Aqui o grande esforço foi exactamente esconder o esforço".

EDUARDO SOUTO DE J\1.0URA

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"Pareceu-me que a minha intervenção deveria ser inteligente e a inteligência neste caso seria não ter grande protagonismo.

Era preciso encontrar os meios necessários para reforçar a obra e os contéudos. É como um texto: são tão importantes as

palavras e a sintaxe como os espaços deixados entre elas para facilitar a leitura. Achei que deveria entender a minha tarefa como

uma exposição que fazia a ligação entre o hau do Siza e a saída. Trabalhei muito no hal!, alterei as proporções, desenhei por-

tas, tirei pilares, fechei uma parte extel'ior do edifício, escondi janelas para criar uma nova sala. Os contéudos expositivos pas­

sam essencialmente por imagens e, tendo isso em conta, era preciso desenhar quase pela negativa, ou seja, não criar mais ele­

mentos, mas sim eliminá-los. Era uma questão de bom senso. Se ficar bem e resultar, é o maior elogio. Com um ecrà de 15

metros e um filme altamente sofisticado, todos os pormenores ficam diluídos. Fiquei com a responsabilidade das proporções

e das ligações técnicas. Parece uma coisa simples e, na verdade, é muito complicado. Pode não ser visível, mas existe a memória

e há um conjunto de códigos que nào têm de ser narrativos, mas que o visitante do pavilhão "sente". Isso é o mais importante.

Quando a exposição aposta no virtual não tem de haver uma leitura de arquitectura interior, caso contrário estariamos a criar

ruído que iria dificultar a compreensão dos visitantes". EDUARDO SOUTO DE MOURA

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Fugir ao protagonismo

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"Sabia que era necessário ter um atmosfera autónoma na exposição. As pessoas têlTI de para,', concentrar-se e perceber que

aquilo é uma coisa diferente. Há uma transição do edifício para a parte expositiva e o visitante pode esquecer-se do resto".

ÁLVARO S'ZA

Os núcleos expositivos

"A primeira sala tem imagens enormes. Trata-se da projecção de um filme muito forte. A segunda sala foi dividida em duas:

por um lado, há a sensação de mergulho no mar e, por outro, há a possibilidade de ver de perto objectos relacionados com O

mar e com a navegação, resultado da escavação subaquática na barra do Tejo. Há uma separação física, mas não há portas. É

sempre o mesmo espaço. A cor joga um papel importante, há variações que ajudam a entender as diferenças entre os espaços

expositivos. A passagem para o futuro não é uma ruptura, é gradual. O terceiro núcleo p"essupõe um hiato em relação ao

segundo, contudo não há uma limitação física, trata-se de um p"ocesso contínuo. Houve uma preocupação de relacionamen-

to das peças e dos filmes com o som. Havia um problema de alternância se não queriamos que o espaço expositivo funcionasse

como um funil, onde as pessoas são bombardeadas com informação. O visitante vai perceber que há claramente três núcleos,

construídos de forma distinta e com mensagens diversificadas". EDUARDO SOUTO DE MOURA

"Os interiores do edifício são dois: o expositivo e o de representação, onde há uma área de restaurante e a recepção aos chama­O interior do edifício

dos vips, os serviços de apoio, as cozinhas, um bar e a livraria. Para conceber estes espaços fiz um esforço para me ver na pele

de um cozinheiro, de um rei, enl comprador de catálogo . . . " ÁLVARO SIZA

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'uto de Moura

"J ulgo que o arquitecto Souto de Moura preferia não ter pilares no interior. Acontece que os pilares moldam O edifício e isso

é intencional. O trabalho do Souto de M oura foi o de arranjar soluções que fizessem do espaço um espaço melhor também

por causa dos pilares. Este é o trabalho do arquitecto. Dizia Bernini que a grande função do arquitecto é transformar em belos

os espaços feios. Perante uma coisa aborrecida, o arquitecto tem por função procurar a beleza .. . Quer dizer, não estou

arrependido de ter lá posto os três pilares". ÁLVARO SIZA

"Pois . . . " EDUARDO SOUTO DE MOURA

"O espaço exterior da Praça Cerimonial estava para ser branco, lnas em conjunto concluímos sobre a ilnportância de ter ali A Praça Cerimonial e a palavra Portugal

um sinal . Assim surgiu uma caravela e a palavra Portugal escrita da forma quinhentista e da forma contemporânea. Havia a ten-

taçào de põr mais coisas, mas acontece que a circunstância da exposição obriga a certas limitações". ÁLVARO SrZA

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Pensar os elementos exteriores

"A Praça Cerimonial é um elemento que fica. Não é um espaço fechado, está subordinado à pala. À partida havia uma exigên-

cia para se fazer urna praça de recepção de grupos, e esse espaço deveria estar disponível noutros momentos. Não convinha ([ue

houvesse pilares o u apoios a servil' de obstáculos. Não há muitas maneiras de cobrir um espaço desta dimensão. A primeira

ideia foi a de fazer um negativo do que lá está, uma cúpula. Pensei numa curva ao contrário, mas isso era um bocado desabri-

gado e a altura seria exagerada. Um elemento importante na Praça Cerimonial é a força nos pórticos de entrada, tinham de ser

peças potentes de fOl'lua a suportar a tensão que a pala provoca". ÁLVARO SIZA

"Num acontecimento de grandes dimensões como uma exposição desta natureza, que vai deixar um património significativo A exposição cama obra por acabar

na cidade, é preciso que o projecto nào seja estanque e que não se faça tudo de imediato. Um dos grandes problemas com que

nós, arquitectos, nos debatemos hoje é a ideia de ([ue, como há cOluputadores, técnicas e outros recursos - ferramentas muito

mais rápidas - tudo pode ser acelerado. Não pode. Há uma ferramenta que tem de funcionar que é a cabeça. O amadureci-

mento de um projecto é importante, mas depois a continuação é um percurso que nào pára e é igualmente precioso. Mais do

que o habitual há um certo inacabado no recinto de uma exposição. Isto não se prende COIU atrasos, antes sim com necessi-

dades, as formas de viver com e no edifício". ÁLVARO SIZA

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"A relação com o exterior não é uma coisa menor, é indissociável do projecto. Por exemplo, à saída existem uns jardins mura­A saída do edifício

dos que fazem o prolongamento do edifício por um lado, mas que são, por outro, uma forma mais natural de cada um dos

visitantes se diluir no recinto nas diversas direcções possíveis" . .ÁLvARO SIZA

"A maioria das crianças quando forem grandes querem ser bombeiros, aviadores, palhaços. Eu queria ser uma quantidade de Quando era pequeno ...

coisas, mas lembro-me que, com 1 2 anos, queria ser escultor e quase que fui ... Não sou, mas hei-de ser . . . Se calhar, se fosse

escultor queria ser arquitecto" . .ÁLVARO SIZA

"Se bem me lembro queria ser engenheiro de máquinas. Tinha o fascínio pelas máquinas. E agora quero ser fotógrafo. É uma .. . queria ser ...

actividade que depende muito do próprio, onde os alibis de outros são pouco convincentes". EDUARDO SOUTO DE MOURA

"Eu relaciono-me com os computadores tendo colaboradores que trabalham muito bem com computadores. Julgo que no meu Estar ligado ao tempo

atelier o uso dos computadores é elementar, permite uma economia de tempo fundamental. Tenho consciência de que deverá

haver possibilidades que eu não imagino. A criatividade pode ser potencializada com o computador e há muitas pessoas a tra-

balhar nesse campo, mas isso não substitui o desenho, o gesto. O computador tem uma rapidez muito grande. Quem tiver os

programas todos e se organizar tem uma capacidade de resposta muitíssimo maior. Está ligado ao tempo. O absurdo é pensar

que o computador, que é muito rápido, não obriga a pensaI'. E pensar demora tempo ... Em vez de ampliar as possibilidades a

informática pode limitar. É uma das perversões possíveis . . Se nós deixarmos" . ÁLVARO SIZA

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"Eu não sei nada . . . nem mesmo ligar o computador. É um grande auxílio, mas não há nada como o papel e o lápis. Claro que Não há como o papel e o lápis

aderimos aos computadores . . . Os meus colaboradores fazem maravilhas. Eu é que não. Concordo com o Siza. É preciso pen-

sal' nas coisas e os computadores nào fazem isso. Podeluos fazer um projecto em dois dias, luas estamos sujeitos ao que está pré-

fabricado no universo da informática, nào apelamos aos nossos sentidos, à memória . .. " EDUARDO SOUTO DE MOURA

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"Pensei no edifício para ser o Pavilhão de Portugal, nus não só, porque este edifício é para ficar depois do encerramento da

ExpO'98. Sendo o Pavilhão de Portugal teria de ter um destaque. Por razões de tipologia, todos os edifícios têm uma vocação

de forma, percorrem o seu destino. Neste caso não era uma via fácil, o destino era um futuro que não se conhecia. Há uma

encomenda de uma igreja, faz-se uma igreja que se perceba imediatamente que é uma igreja. Às vezes, a preocupação é tanta

(lue I'esulta num monstro. As fixações tipológicas podem significaI' algum conservadorismo e comodismo. A estratégia para

conceber este edifício foi, depois de tel' percebido que os outros edifícios no recinto tinham uma certa ambição em altura, a

de dar destaque pela horizontalidade, apostar no reflexo na água". ÁLVARO SIZA Ser o Pavilhão de Portugal

"Ao nível do estilo não lne preocupei com os elementos marcadamente portugueses. No Estado Novo, por exemplo, fez-se \.1m Fatalmente português

gl'ande esforço para reflectir uma identidade. Aqui há coisas portuguesas que surgem de uma forma não óbvia. Ser português

e desenhar um edifício em Portugal implica fatalmente alguma coisa de português. Há um discurso com O rio que não tem a

ver com O facto de se ser português, mas com a posição geográfica. Há marcas que nos ultrapassam, nào vale a pena fazer

esforços especiais para explicar". ÁLVARO SIZA

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"O trabalho do arquitecto nunca termina. Um edifício - mesmo que não mude de mãos - vai val'iando. Uma família compra As casas mudam . . .

uma casa e, nessa altura, tem quatro filhos pequenos. A casa vai sofrendo modificações porque o tempo passa, o s filhos crescem,

mudam de casa, têm filhos que ficam em casa dos avós ... " ÁLVARO SIZA

"Mais do que a antecipação de problemas, o arquitecto deve procul'ar a maleabilidade, ou seja, a capacidade de inverter per-

cursos. O exemplo clássico é o do convento que é projectado para uma comunidade com regras muito rígidas e depois pode O exemplo do convento .. .

servir para outras funções: hotel, universidade, museu, biblioteca .. . De certa maneira, qualquer projecto deve ter este pressu-

posto. O aprofundamento até ao detalhe não é só fazer uma lista sobre o edifício dizendo que este espaço pode fazer as vezes

de A B C oU D. Isso não chega, porque a realidade pode ultrapassar largamente o que se antecipa. Encarar atempadamente

determinados problemas leva a um distanciamento da função imediata, tornando o edifício mais abe1'lO, logo mais fácil de

entendeI' por qualquer utilizador". ÁLVARO SIZA

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"AJ; linhas simples do pavilhão podem pressupor alguma frieza. Já me aconteceu acabar um edifício e ser acusado disso. Ora , A suposta frieza do edifício

um edifício faz-se para ser habitado: pessoas, móveis , cortinas, tapetes. Tem de haver espaço de manobra para o utilizador

imprimir o seu cunho. O edifício tem de estar preparado para isso, para ser vivido. A apreciação de urna arcluitectura nua é

apenas académica, tem de haver lugar para outras coisas. Não acho o Pavilhão de Portugal um edifício frio. A luz, pela variação

que os espaços sofrem, dá - por si só -- vida ao edifício". ÁLVARO SIZA

"A escolha da cor e do material na parede interior da Praça Cerimonial não foi simples. Estou muito interessado no azule-

jo há uns tempos , prende-se COIU o ITleU interesse pelo desenho e , por isso, achei cjue neste caso era UITl ITlaterial a utilizar.

O azulejo é um material que está ligado à história da cidade de Lisboa, mas apresenta hoje dihculdades. No que diz respeito Os azulejos e a derrota da timidez

à cor, provavelmente so u um pouco sensível a críticas que oiço e que dizem que faço tudo branco. Talvez tenha decidido

que aqui apostaria na cor como reacçiio. Passeando no recinto da exposição descobri que há urna predominância grande do

branco e, talvez por contradição, optei pela cor na parede de suporte da pala. Esta estrutura não se compadece com um tom

creme ou branco, era melhor apostar noutra cor , forte, e ficou a cor de vinho. Para miIu, a cor tem sido basicamente a cor

dos materiais, mas neste caso nào podia ser tímido. No princípio nào estava cOIupletamente descansado, mas acho que

resultou". ÁLVARO SIZA

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"Um bom arquitecto, competente dentro do seu campo de responsabil idade, é aquele que dá uma resposta eficaz. Circunstâncias Um bom arquitecto?

várias, entre as quais o empenho, a convicção e a resistência podem facilitar um salto qualitativo, traduzindo-se num edifício

brilhante que se destaca ou que se torna invisível. É , muitas vezes, mais difícil de conceber um edifício que se apaga. Um bom

arquitecto não é apenas aquele que faz o edifício brilhante. O arquitecto tem de falar com pessoas, fazer de psicólogo, de

l'elações públicas, fazer cedências, cont.rapôr . . . Não é um ditador". ÁLVARO SIZA

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"A questão central é acreditar no trabalho do outro, sem cerimónia . . . O que faz um trabalho de equipa resultar é o facto de as O trabalho de equipa . . .

pessoas discordarem e conversarem abertamente, sem pedras nos sapatos. Nas visitas clandestinas que o Siza fazia ao pavilhão

ia-me dizendo algumas coisas: mas por dentro o pavilhão vai ser todo preto? Não se vai ver nem um bocadinho?" EDUARDO

SOUTO D E MOURA

"É difícil trabalhar com muitas condicionantes, mas é igualmente motivador. É como os pilares. Não podemos viver sem eles, Os pilares outra vez

mas a ideia era fazer com que os pilares ficassem belll, fossem quase imprescindíveis. No último núcleo expositivo optámos por

exibir um filme e, de repente, o único sítio onde se podia projectar o filme tinha na sua frente três pilares. Ora, se não os

podelllos vencer, juntemo-nos a eles . . . " EDUARDO SOUTO DE MOURA

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Retratos SIMONETTA Luz AFONSO

Nasceu em Lisboa, em 1946. É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Conservadora de

museu, iniciou a sua actividade profissional em 197� , no Palácio Nacional da Pena e transitou , em 1974 , para o Palácio Nacional de

Queluz, que dirigiu entre 1983 e 1991.

De 1980 a 1983, dirigiu o Instituto de Conservação e Restauro Dr. José de Figueiredo. É nomeada, em 1991 , directora geral do

Instituto Português de Museus, cargo que desempenhou atéJ unho de 1996, data em que assumiu as funções de Comissária da Secção

Portuguesa para a Expo '98.

Foi comissária das exposições do Festival EUl'opália Portugal/91 , realizado na Bélgica, e das exposições de Lisboa/94 Capital Europeia

da Cultura. Foi também comissária de inúmeras outras exposições de artes plásticas em Portugal e em diversas capitais europeias,

nos Estados Unidos, no Brasil e no Japão.

Leccionou no curso de Gestão das Artes do Instituto Nacional de Administração . Tem mantido actividade regular de conferencista

em seminários e colóquios de História da Arte, Conservação e Museologia ou de temas patrimoniais, bem como colaboração escri-

ta em publicações especializadas.

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ÁLVARO S'ZA

Nasceu em Matosinhos, em 1 9 3 3 . Estudou Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto entre 1 9 '1·9 e 1955. Foi

colaborador do Prof. Fernando Távora entre 1 955 e 195 8 . Foi Professor Visitante na Escola Politécnica de Lausanne, na

U niversidade de Pensilvânia, na Escola de Los Andes em Bogotá, na Graduate School of Design of Harvard University.

Conti nua a leccionar na Universidade do Porto.

É autor de inúmeros projectos, de onde se destacam o Plano ela Malagueira em Évora, a Faculdade de Arquitectura do Porto,

a reconstrução do Chiado, entre outras. As suas obras foram expostas em vários países e foi premiado diversas vezes a nível

nacional e internacional. Tem sido convidado a participar em várias conferências e seminários. É membro ela Arnerican

Academy of Arls and Science e "Honorary Fellow" do Royal Institute of Bristish Architects, do American Institute of

Architects, da Académie d'Architeclure de France e da European Academy of Sciences and Arts.

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EDUARDO SOUTO DE MOURA

Nasceu no Porto, em 1952. Começou por colaborar com o Arquitecto Siza Vieira. Licenciou-se em Arquitectura pela Escola

Superior de Belas Artes do Porto em 1980. Iniciou a sua actividade como profissional liberal em 1980. Leccionou em várias

escolas nacionais e estrangeiras. Das suas obras destacam-se a Casa das Artes, Centro Cultural da Secretaria de Estado da

Cultura, departamento de Geociências da Unive,·sidade de Aveiro. Ganhou diversos prémios, nacionais e estrangeiros.

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Desenhos

ÁLVARO SIZA

EDUARDO SOUTO DE MOURA

Recolha de textos

PATRÍCIA REIS

FRANCISCO GUEDES

HENRIQUE CAYATTE

Design

ATELIER HENRIQUE C AYATTE / 004 (LuÍsA BARRETO)

Pré-impressão, i1npressão e acabamento

CRITÉRIO - PRODUÇÃO GRÁFICA, LDA

Depósito Legal 1 2 6 427/9 8

ISB N 9 7 2 - 9 7 8 9 3 - 0 - 4

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)

PARQUE DAS NAÇÕES