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Gonçalo Moreira nº14 12ºB 1 PSICOLOGIA – B ENSAIO – “CISNE NEGRO” O “Cisne Negro”, realizado por Darren Aronofsky, faz uma viagem emocionante e aterrorizante à psique de uma jovem obsessiva bailarina, Nina Sayers, interpretada por Natalie Portman (vencedora do Óscar para Melhor Actriz Principal). Faz também um convite à coragem de enfrentar os medos. Mais do que ballet, “Cisne Negro” é um filme sobre amargura, aflição, dor, entrega, superação, paixão e desafio, que transforma a vida de qualquer ser humano. É uma história sobre o quanto é difícil ser humano num mundo irracional e enlouquecedor. O filme começa com um sonho sombrio de Nina, onde ela interpreta o papel principal no ballet “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky. Nesse sonho aparece Rothbart, um mago que se apresenta como uma ave negra. Talvez um verdadeiro prenúncio psíquico do processo de transformação (individuação: processo de desenvolvimento psíquico, que diz respeito à integração do consciente com o inconsciente) que a bailarina irá viver. Quando a bailarina principal da companhia, Beth (Winona Ryder), se aposenta, o director artístico Thomas Leroy (Vincent Cassel) resolve inovar e colocar uma bailarina para interpretar tanto o cisne branco como o negro. Nina é talentosa mas tem pouca criatividade, sensualidade, e espontaneidade, e a sua vida emocional, afectiva e sexual é pobre e infantilizada. Nina decide tentar mas, cheia de técnica - razão, é privada de todo tipo de emoção, muito em parte por causa da presença opressora da mãe, Erica (Barbara Hershey), ex-bailarina frustrada por ter abandonado a carreira depois de engravidar. Na audição, Nina desempenha bem o papel da doce Odette, Cisne Branco, mas tem dificuldade em encontrar a sensualidade e a agressividade para interpretar Odile, o Cisne Negro. Apesar disso, Nina acaba por conseguir o papel de Rainha dos Cisnes.

Ensaio cisne

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Gonçalo Moreira nº14 12ºB

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PSICOLOGIA – B

ENSAIO – “CISNE NEGRO”

O “Cisne Negro”, realizado por Darren Aronofsky,

faz uma viagem emocionante e aterrorizante à psique de

uma jovem obsessiva bailarina, Nina Sayers, interpretada

por Natalie Portman (vencedora do Óscar para Melhor

Actriz Principal). Faz também um convite à coragem de

enfrentar os medos. Mais do que ballet, “Cisne Negro” é um

filme sobre amargura, aflição, dor, entrega, superação, paixão e desafio, que transforma a vida de

qualquer ser humano. É uma história sobre o quanto é difícil ser humano num mundo irracional e

enlouquecedor.

O filme começa com um sonho sombrio de Nina, onde ela interpreta o papel principal no

ballet “O Lago dos Cisnes”, de Tchaikovsky. Nesse sonho aparece Rothbart, um mago que se

apresenta como uma ave negra. Talvez um verdadeiro prenúncio psíquico do processo de

transformação (individuação: processo de desenvolvimento psíquico, que diz respeito à

integração do consciente com o inconsciente) que a bailarina irá viver. Quando a bailarina

principal da companhia, Beth (Winona Ryder), se aposenta, o director artístico Thomas Leroy

(Vincent Cassel) resolve inovar e colocar uma bailarina para interpretar tanto o cisne branco

como o negro.

Nina é talentosa mas tem pouca criatividade, sensualidade, e espontaneidade, e a sua vida

emocional, afectiva e sexual é pobre e infantilizada. Nina decide tentar mas, cheia de técnica -

razão, é privada de todo tipo de emoção, muito em parte por causa da presença opressora da mãe,

Erica (Barbara Hershey), ex-bailarina frustrada por ter abandonado a carreira depois de

engravidar. Na audição, Nina desempenha bem o papel da doce Odette, Cisne Branco, mas tem

dificuldade em encontrar a sensualidade e a agressividade para interpretar Odile, o Cisne Negro.

Apesar disso, Nina acaba por conseguir o papel de Rainha dos Cisnes.

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A questão é que ela tem tudo o que precisa para ser o Cisne Branco, mas vai ter de lutar

bastante para alcançar o Cisne Negro.

Entre o director de ballet passivo-agressivo-pseudo-sedutor, a mãe controladora e com

transtornos, as pressões físicas e psicológicas normais da dança, um elemento perturbador é

adicionado à lista: uma rival – Lily (Mila Kunis). Lily não é um primor na técnica, mas é um

vulcão de emoções (reacções complexas a estímulos externos e internos, que não são um

obstáculo ao funcionamento da razão: pelo contrário, estão envolvidas nos processos de decisão e

são determinantes para o bom funcionamento intelectual do individuo), tal como o Cisne Negro

exige. Com a chegada de Lily, Nina tem uma concorrente, e as duas iniciam uma amizade

conflituosa. Cada vez mais Lily representa as características do Cisne Negro, e é um contraponto

para Nina Sayers. Lily acaba por ajudar Nina na transição para o Cisne Negro, pois apresenta

experiências e sensações novas, que causam preocupação na super-protectora mãe de Nina.

Porém, graças a Lily, ela consegue encontrar em si o seu lado sombrio, tão necessário para se

libertar das suas repressões e interpretar com perfeição o papel do Cisne Negro.

A busca pela perfeição vai levá-la aos caminhos mais escuros da sua alma, o que faz com

que acabe literalmente por viver a peça “O Lago dos Cisnes” e se aprisione num mundo doente,

de sofrimento, onde sintomas psicóticos que envolvem indícios de transtorno alimentar,

autoflagelação, e alucinações a atormentam, desafiando os seus objectivos de se tornar a "Rainha

dos Cisnes". Para tentar conter esses conteúdos assustadores do seu inconsciente, Nina apresenta-

se como frígida, dura e incapaz de sentir. Mas isso pode ser um caminho sem volta, pois toda a

repressão é excluída e as emoções vêm como uma carga pesada que só pode ser libertada no

palco.

Perfeição é um dos temas centrais nos quais estão

mergulhados a complexa protagonista Nina, a mãe, o director

do espectáculo Thomas, a antagonista Lily e a amarga Beth.

Dois lados, duas facetas, luz e sombra, uma dualidade eterna representada no conto do

Cisne Negro e, agora, subvertido pelo estudioso Aronofsky, numa visita incómoda ao lado mais

escuro da consciência: aquele que não reconhece limites ou ameaças. E é na penumbra do palco,

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sempre solitário e opressivo, que o ballet soturno de Natalie Portman se inicia em Cisne Negro

dando origem a um ciclo intenso, mas possivelmente segmentado demais, de trevas.

O filme vai se desenvolvendo em torno da luta de Nina para superar a técnica e adquirir

emoção, tornar-se negra e chegar ao lado escuro de sua pessoa.

A fotografia sombria e densa, combinada com a direcção transforma “Cisne Negro” não

num simples filme de drama, mas sim num filme de terror. Muito do filme se baseia nos reflexos

e nos espelhos que estão por toda a parte e que reflectem o interior dos personagens e mistérios,

que ilustram perfeitamente a esquizofrenia de Nina. O espelho acaba por ser também a arma que

liberta a segunda Nina, feita de instintos e emoções de sua prisão mental imposta pela Nina

racional e perfeccionista. A fragmentação da personalidade de Nina também vai sendo bem

demonstrada numa série de jogos de espelhos e na caracterização de Lily como uma espécie de

Nina do lado negro. Nina no acto final crê que matou sua maior inimiga, e dança com todo

prazer, transcendendo a culpa, se sentindo livre do que mais a atormentava e quando sai do

delírio, percebe que ela não matou a Lily e sim, enfiou o vidro do espelho - aquele que reflecte,

que nos mostra quem somos e simboliza a coragem de assumir a sua sombra - nela mesmo. Daí, o

acto final, a loucura retorna ao seu lugar, ela dança com perfeição.

“Cisne Negro” levanta várias discussões e questiona uma sociedade de exageros –

mentais e físicos, mostra as reacções desconexas de uma mente decidida a criar sua própria

versão da realidade, libertando desejos reprimidos, sonhos selvagens e atitudes impensáveis. Nina

contribui com uma fragilidade ímpar e explosão arrebatadora de sensualidade, enquanto Lily não

foge muito das suas limitações. Nina optou pela busca da absoluta perfeição permitindo que a

ficção tomasse conta da sua vida. Seu desfecho é grandioso e apoteótico. Perfeito por suas

próprias palavras. E assim poderia ser Cisne Negro – perfeito –, mas a chave está na principal

fala de Cassel: “Perfeição técnica não supera necessidade da emoção”.

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Todos nós temos muito de Nina nas nossas vidas. Buscamos contacto com as pessoas

através da razão, ou seja, a perfeição. É mais difícil relacionarmo-nos por meio de verdades,

afectos e sentimentos. Debitamos nos outros, com frequência, as nossas limitações para

crescermos profissionalmente. É também a fábula dentro da fábula. “Cisne Negro” coloca-nos em

contacto com emoções e sensações diversas. Isso prolonga a experiência do filme. A meu ver,

essa relação continuada deve-se também à imersão na mente da bailarina (e os seus acessos

esquizofrénicos), ao seu universo de confusão e à percepção difusa dos factos. E é essa percepção

difusa somada ao figurativo do “Lago dos Cisnes” e às intensidades das emoções expostas que

transformam “Cisne Negro” na fábula (“Lago dos Cisnes”) dentro da fábula (a fabulação da

realidade por Nina).

Resumindo, entregaria a sua alma, pela realização de um gesto perfeito?

Sites consultados: http://apsicologiaresponde.blogspot.com/2011/02/analise-particular-sobre-o-filme-cisne.html

http://www.terapiaemdia.com.br/?p=965

http://www.uarevaa.com/2011/02/cisne-negro-de-darren-aronofsky.html

http://artistasdesantoamarodeipitanga.ning.com/profiles/blogs/analise-psicologica-do-filme-o

http://www.nerdeando.com.br/especial/analise-cisne-negro/

http://renatocinema.blogspot.com/2011/02/cisne-negro.html

http://www.edenpop.com/2011/01/critica-cisne-negro.html

http://www.soshollywood.com.br/um-sonho-despedacado/

http://www.psicobreve.com.br/?p=717

http://letraecena.wordpress.com/2011/02/17/cisne-negro-de-darren-aronofsky/

http://dnamocinha.com/cisne-negro/

http://www.aglomeradonews.com.br/2011/01/analise-cisne-negro.html

http://tiagovaz.com/2011/01/analise-cisne-negro/