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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Mestrado em Comunicação nas Organizações
Ética e Responsabilidade Social
The business of water
Magda Pimentel – 21000561
Ano Lectivo – 2010-2011
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Índice
Resumo…………………………………………………………………………………..2
Privatização da água – a água como um negócio……….……………………………….2
Críticas à privatização da água……..……………..…….……………………………….3
A privatização da água no mundo……………………….………………………………4
Bibliografia………………………………………………………………………………6
Resumo
A água, bem escasso e vital para a sobrevivência humana, tornou-se num problema a
nível mundial, envolvida numa série de polémicas e contestações políticas, éticas e
sociais. Nos últimos anos assistiu-se, sobretudo nos países em desenvolvimento, ao
aumento dos serviços de privatização da água. Apoiado por uns, criticado por outros, o
negócio da privatização da água gera confrontos quer por parte de empresas
fornecedoras, quer por parte de utilizadores e comunidades locais.
Privatização da água – a água como um negócio
A água como um recurso cada vez mais escasso tornou-se um problema a nível
mundial. Quer do lado da oferta, com fornecedores de água potável e saneamento, quer
do lado da procura, com consumidores ou comerciantes.
Nos últimos anos, assistiu-se progressivamente, ao aumento dos serviços de
privatização de água, sobretudo em países em desenvolvimento (IMAGEM 1). O
Banco Mundial e o FMI começaram a incentivar a privatização da água nos países mais
carenciados em troca de empréstimos. Privatizar os serviços públicos de água significa
“passar para as mãos” de uma empresa ou de uma multinacional o controle da produção,
do abastecimento e dos lucros. No entanto, a privatização da água não é sinónimo de
melhoria da sua qualidade ou da redução dos custos mensais. Muitos activistas em todo
o mundo criticam este novo modelo de negócio, alegando que não melhora a vida das
populações, apenas os lucros das empresas investidoras.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2006, cerca
de 1,1 bilião de pessoas em países em desenvolvimento têm um acesso inadequado a
água e 2,6 biliões de pessoas carece de saneamento básico. De acordo com estes dados,
18 por cento da população do mundo não têm acesso a água potável para consumo e 40
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por cento não têm acesso a saneamento básico. Uma pessoa que vive na África,
Subsaariana, por exemplo, tem somente acesso a 10-20 litros de água por dia, enquanto
no Canadá, a maioria da população têm acesso a mais de 300 litros de água por dia.
O mercado internacional de privatização da água é dominado sobretudo pelas
multinacionais francesas, Suez e a Vivendi (Veolia Environnement), para além de outras
empresas que se têm envolvido cada vez mais no negócio da água nos países em
desenvolvimento. De acordo com a Masons Water Yearbook, em 2004, 9 por cento da
população mundial era abastecida por empresas privadas.
IMAGEM 1 – Evolução da Privatização da água
Críticas à privatização da água
Muitos dos activistas que se opõe à privatização de água argumentam que a
transferência do controle e da decisão para uma empresa privada alterará a qualidade da
água, os serviços de abastecimento, e que serão apenas uma fonte de lucro para as
entidades investidoras. Em todo o mundo tem vindo a aparecer associações e
movimentos que lutam pela preservação da água como um direito humano fundamental,
básico e vital, acessível a todos em qualquer parte do mundo. Organizações
internacionais como o Council of Canadians, o Blue Planet Project, o Food & Water
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Wach ou eventos como o World Water Fórum, o World Social Fórum e o The People’s
Water Fórum contestam o negócio da privatização da água e a obtenção de lucro.
No livro Water Wars, Vandana Shiva enumera nove princípios que sustentam a
democracia da água, entre eles, a água é um bem comum, um dom de natureza,
essencial para a vida, insubstituível, conservada, com recursos limitados e que deve ser
livre para o sustento de necessidades. Shiva argumenta ainda que as lutas pela
privatização da água são umas das principais culpadas pela devastação ecológica da
Terra e que são uma “espécie” de terrorismo ecológico.
Em 2009 o Food & Water Watch, no relatório Money Down the Drian: How Private
Control of Water Wastes Public Resources, concluiu que a privatização da água não é a
melhor forma de abastecimento de água para as populações.
A privatização da água no mundo
As empresas privadas violam muitas vezes as normas de funcionamento que lhes são
impostas, como por exemplo aumentar os custos de abastecimento, o que
consequentemente origina revoltas das populações locais.
Nos países em desenvolvimento as multinacionais de privatização de água acabam
por ser encaradas como concorrentes das empresas locais, sobretudo para as indústrias
que utilizam a água na produção dos seus produtos. Um dos casos mais emblemáticos
ocorreu em Kerala, no sul da Índia, com o engarrafamento de embalagens de Coca-
Cola. Entre 1993 e 2004 a empresa de refrigerantes investiu no país asiático mais de 1
bilião, o que se traduziu em cerca de um quinto do investimento estrangeiro da empresa.
Em 2004 um tribunal na província de Kerala ordenou o encerramento de uma das
fábricas de engarrafamento de Coca-Cola, após várias manifestações locais devido à
escassez de água na região. A empresa de refrigerante norte-americana utilizava cerca
de 510.000 litros de água por dia, o que impossibilitava o seu consumo por parte da
população local. De acordo com estimativas do governo indiano, quase 30 por cento da
população da Índia rural não tem acesso à água potável.
No ano de 2000, no município sul-africano Ngwelezane, no estado de Kwazulu Natal,
quando o governo decidiu cobrar os custos da privatização do abastecimento de água, a
população como não tinha condições financeiras para fazê-lo, recorreu a um lago nas
proximidades, cuja água contaminada vitimou 300 pessoas.
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Outro dos acontecimentos mais conhecidos no conflito global da privatização da água
é o caso de Cochabamba, terceira maior cidade da Bolívia. Em 1999 o Banco Mundial
deu ao país um empréstimo para melhorar o seu sistema de água e a sua privatização,
que seria feita através de uma concessão a uma das filiais da multinacional norte-
americana Bechtel. A população do município não gostou do sucedido e, entre Janeiro e
Abril de 2000, fizeram uma série de manifestações contra a privatização municipal do
abastecimento de água.
Mas os problemas com o abastecimento de água em empresas privatizadas não são
exclusivos dos países em desenvolvimento. Em 2006, a Thames Water, a empresa
privada que “fornece” Londres e o sudeste da Inglaterra, foi multada por não atingir a
meta do governo para reduzir os vazamentos na sua rede de abastecimento de água
potável, cerca de 894m litros por dia. Em França, por exemplo, existem casos de
companhias de privatização de água que enfrentaram nos últimos anos várias acusações
e condenações por corrupção. Nesse país, após a privatização da água, as taxas do
cliente aumentaram 150 por cento, enquanto a qualidade da água diminuiu.
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Bibliografia
Referências Bibliográficas
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SHIVA, Vandana, Water Wars: privatization, pollution and profit, Pluto Press, 2002
Referências Electrónicas
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