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bbmmm HISTÓRIA DA ARTE AVALIAÇÃO FINAL DA DISCIPLINA JUNTO AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE Texto retratando vida e obra de um dos maiores pintores primitivistas do Brasil: Chico da Silva. 200 8 Henrique Gomes de Lima 28/05/2008

Seminários história da arte nota 10,0

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Texto retratando vida e obra de um dos maiores pintores primitivistas do Brasil: Chico da Silva.

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HISTÓRIA DA ARTEAVALIAÇÃO FINAL DA DISCIPLINA JUNTO AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE

Texto retratando vida e obra de um dos maiores pintores primitivistas do Brasil: Chico da Silva.

2008

Henrique Gomes de Lima

28/05/2008

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HENRIQUE GOMES DE LIMA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁCENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTEDISCIPLINA: HISTÓRIA DO ENSINO DE ARTE

PROFESSOR: Dr. JOSÉ ALBIO MOREIRA DE SALESALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA

01. JUSTIFICATIVA

“A história da arte se baseia em noções de estilo próprio e talento individual. De uma perspectiva comercial, uma obra da ‘escola de Rembrandt’

não poderia nunca atingir os preços estratosféricos de uma obra autêntica do próprio mestre, independente do quão artisticamente satisfatória ela seja em todos os outros níveis.”

(Eleanor Heartney, jornalista e comentadora de arte contemporânea)

Valorizar a história de vida dos indivíduos é um dos primeiros passos para

ressignificar conceitos, derrubar preconceitos, contar o que não foi contado,

produzir conhecimentos, e o que é mais importante, valorizar a subjetividade e as

emoções humanas.

Um trabalho que se propõe a discutir História da Arte deve buscar tal

intento. O presente texto então, vem mostrar e contextualizar a vida e a obra de um

dos maiores pintores primitivistas do Brasil e do mundo, Chico da Silva. Sabe-se

que as manifestações artísticas são endêmicas em toda e qualquer sociedade e

que na maioria das vezes sua importância e seu valor são proporcionais ao poder

político e econômico dessa sociedade. Nesse contexto, o que se torna mais

conhecido, mais importante é apenas uma consequencia da força geopolítica.

Meio mundo é influenciado pela cultura grego-romana. As idéias e

concepções ainda hoje são refletidas em várias de nossos construções sociais.

Não queremos aqui desvalorizar a grande produção artística da Europa, até

mesmo porque ela é legítima e de qualidade. No entanto, ela não existe sozinha.

Várias outras culturas e sociedades possuem manifestações com valor estético e

histórico de igualdade magnitude. Portanto, as manifestações da Arte incorporam

em sí um significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro

em outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter

de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se que

sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas e tão

profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva existe no

plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda um modelo

específico de pensar o mundo e com este relacionar-se.

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Estudar Chico da Silva, portanto, vêm ao encontro desse objetivo. Mostrar

como um homem simples, pobre, analfabeto pode construir um legado artístico

único e original. O poder criativo dos indivíduos, conforme já afirmamos, é nato,

mas também pode ser influenciado pelo meio, (...) Assim como a cultura nos

modelou como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim

também ela nos modela como indíviduos separados. É isso o que temos realmente

em comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento

cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64)

A Arte é a expressão do belo. Esta definição, comum até há algumas

décadas, conduz a outra questão: O que é belo? Aí, a resposta se torna bem mais

complicada. O que é motivo de escárnio para uns, transforma-se em emoção para

outros. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo em que vive e não pode

estar alheio às mudanças da própria sociedade. Caminha com elas e até adiante

delas, provocando escândalo e  reações iradas dos mais conservadores. O artista

não busca a unanimidade; não é um copista, é um desbravador: busca o diferente

onde todo mundo só vê o igual.

Acretidamos que é dentro desse raciocínio que estudar o pintor cearense

Chico da Silva se justifica. Possuidor de um estilo ímpar o artísta retratou suas

vivências suas raízes com traços e cores carregados de simbolismo,de cultura.

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02. BIOGRAFIA

(Alto Tejo, AC, 1910 ou1922,Fortaleza, CE, 1985)

Francisco Domingos da Silva nasceu no Acre, e aos 10 anos veio para

Pirambu, bairro pobre de Fortaleza. Perdeu o pai logo depois passando a fazer

todos os tipos de serviços - consertando sapato, fogão, cobrindo guarda chuva, etc.

Em suas muitas andanças pela cidade, Chico às vezes parava em frente a um

muro branco e fazia desenhos com carvão ou tijolo, colorindo-os com folhas. Foram

estes desenhos, na Praia Formosa, que chamaram a atenção do crítico de arte e

pintor Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo e foi seu primeiro incentivador.

Chabloz ensinou Chico da Silva a pintar com guache e passou a dar o material

para que ele pintasse, além de comprar todas as suas telas - comprou mais de 40.

Foi por intermédio dele que Chico da Silva expôs, pela primeira vez, no III Salão

Cearense de pintura e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 45, junto com

outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50,

suas obras vão ser vistas em várias galerias da Europa, conseqüência de um artigo

a seu respeito no Cahiers d’Art, conceituada publicação francesa, que o considerou

um pintor genuinamente primitivo.

Deslumbrado com o dinheiro e a fama, Chico da Silva passa a gastar com

álcool e mulheres; atento à supervalorização dos seus quadros, quer produzir cada

vez mais, e passa a recorrer a ajudantes, na verdade meninos e meninas que

pintavam os quadros que ele só assinava - cerca de 90% dos quadros com data

posterior a 72 eram falsos. A esta altura o artista estava cercado de aproveitadores

que o exploravam, exigindo cada vez uma produção maior, vendendo quadros de

Chico em mercados, feiras e até na porta de hotéis, por valores ínfimos.

Em meio a denúncias de falsificação, Chico da Silva é indicado para expor

na XXXIII Bienal de Veneza, em 66, onde recebe Menção Honrosa. Chabloz,

decepcionado com os rumos que artista e obra tomaram, rompe com ele em 69,

Marcadas pelo talento, o acaso e a decadência, a

vida e a obra de Chico da Silva são das mais intrigantes da

História da Arte brasileira e também um retrato da falta de

suporte por parte do governo e dos próprios artistas em

oferecer a oportunidade de um grande artista, ainda que

simples, como Chico da Silva - analfabeto toda a vida - de

se profissionalizar.

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afirmando em um artigo do Jornal do Brasil, intitulado Chico da Silva ou a

ingenuidade perdida, que sua arte estava morta.

A processo de decadência do artista se agrava com a morte da mulher,

Dalva, em 75, e tem seu ápice em 1976, quando foi internado com cirrose hepática

e tuberculose crônica, permanecendo um ano no hospital. Mesmo se recuperando

fisicamente, Chico continuou bebendo e jamais conseguiu recuperar sua arte. O

maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da

região amazônica realizava através de uma expressão quase surrealista, e que

está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da

Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos

isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do

qual, sem orientação, acabou por perder-se.

03. A DESCOBERTA, O ENCONTRO, OS DEPOIMENTOS, AS

INTERPRETAÇÕES

Jean-Pierre Chabloz, nascido em 1910 em Lausanne, Suíça, e falecido em

1984 em Fortaleza, recordou:

“... eu passeava ao longo da praia Formosa quando, de repente, minha atenção foi

atraída por estranhos desenhos que enfeitavam algumas casinhas de pescadores.

Intrigado, aproximei-me para ver aquilo mais de perto.” Era o ano de 1943 e

Chabloz e Chico da Silva tinham, ambos, 33 anos.

Continuou Chabloz: “Amplamente esboçados a carvão ou giz, havia grandes

pássaros de linhas elegantes, peixes um tanto monstruosos, estranhas aparições

de navios-fantasmas. O que me chamou a atenção e me seduziu logo nesses

desenhos elementares foi sua originalidade, seu estilo nitidamente arcaico e seu

admirável poder de evocação poética. Entusiasmado, procurei saber quem era o

autor dessas composições murais. ‘É um cara meio louco’, responderam. É um

caboclo que veio não se sabe de onde, se diverte rabiscando os muros e

desaparece, sem deixar endereço’.“

Chabloz descobriu e projetou Chico da Silva no cenário artístico nacional e

internacional. Sob a orientação de Chabloz, Chico progrediu. “Permanecendo fiel a

seu universo interior e não alterando em nada sua preciosa visão de poeta,

Francisco corria de descoberta em descoberta e conquistava galhardamente um

real domínio artístico e técnico”, registrou Chabloz. Lucien Finkelstein, fundador e

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presidente do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (MIAN), comenta sobre a

projeção de Chico da Silva:

“Muitos ‘naifs’ brasileiros são reconhecidos no exterior, como Chico da Silva, que

ganhou o prêmio ‘Menção Honrosa’ de pintura, em 1966, na 33ª Bienal de Veneza,

a mais importante exposição mundial de arte contemporânea. O prêmio de Chico

da Silva é um feito único para a pintura brasileira de todos os tempos.”

Explica Lucien Finkelstein: “O adjetivo francês ‘naif’ vem do latim ‘nativus’,

que significa nascente, natural, espontâneo, primitivo. Assim, pode ser substituído

também por ingênuo e primitivo, mas as três palavras devem ser tomadas ao pé da

letra. Todas têm origem no Latim: ingênuo vem de ‘ingenuus’ (nascido livre) e

primitivo, de ‘primitivus’ (que pertence ao primeiro estado de uma coisa). Essas três

definições poderiam servir para caracterizar a pintura ‘naif’, que é natural, livre e

pura.” Chico da Silva enquadra-se no conceito de ‘naif’, na forma conceituada por

Lucien. Avaliou o próprio Chabloz: “Francisco Silva, primitivo em muitos aspectos

de sua natureza, era ainda muito criança. De sua ingenuidade atraente, e de sua

pequena astúcia também, me dava mostras engraçadas, às vezes.”

Chico pintava por sua habilidade e por sua aptidão, não por ciência ou

conhecimentos. Autoditata, ele pintava sem regras e sem constrangimentos. Era o

criador de suas obras e, como observou Chabloz, sua pintura tinha originalidade.

André Malraux, ministro da Cultura da França, disse sobre Chico: “um artista

primitivo entre os maiores do mundo”. Rubem Navarra, crítico de arte, comentou

em 1945: “Devo dizer que os guaches desse artista indígena são qualquer coisa de

muito sério. Na arte brasileira só Cícero Dias, há dez anos, me dera uma

impressão de ingenuidade lírica tão poderosa, aplicada à pintura.”

Antes de Chabloz, Chico ganhava a vida consertando guarda-chuvas e

fazendo fogareiro de lata para vender, lembra Ivan, um dos integrantes da Escola

do Pirambu. Chico não era ligado a nenhuma escola ou grupo. Ele, sim, criou uma

escola e criou um estilo. Ele criou uma escola localizada no bairro Pirambu, em

Fortaleza, formada por um grupo seguidor de seu estilo.

Na arte, segundo Luiz Fernando Marcondes, estilo é a “maneira de

expressão característica e diferenciadora de um artista ou de um grupo, em

qualquer arte”, enquanto escola é o termo empregado quando nos reportamos ao

critério geográfico, de acordo com a tendência atual. O estilo de Chico é original e

inconfundível: os pássaros, os peixes e os outros animais pintados tanto por Chico

como pelos seus seguidores constituem a simbologia da Escola do Pirambu.

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Inexiste nada parecido na pintura mundial, por isso Chabloz apresentou Chico da

Silva como “o índio que reinventou a pintura.”

O grupo da Escola do Pirambu era formado por Babá, o primeiro discípulo

(Sebastião Lima da Silva), Claudionor (José Cláudio Nogueira), Francisca

(Francisca Silva), já falecida, Garcia (José Garcia de Santos Gomes) e Ivan (Ivan

José de Assis).

O autor vem incentivando o grupo a continuar a produção de obras no

estilo criado por Chico da Silva ou à luz da simbologia da Escola do Pirambu, uma

marca registrada do Ceará. O autor também vem estimulando Gerardo da Silva,

neto de Chico e filho de Francisca Silva. Escolas, fundadores de escolas e

seguidores ou discípulos fazem parte da história da arte. Não é demérito ter obra

de um seguidor ou discípulo. Sugeriu Chabloz: “Do ponto-de-vista prático, é certo

que, ao primeiro olhar lançado sobre os guaches de Francisco Silva, não se pode

deixar de pensar no aproveitamento que deles poderiam fazer as vulgarmente

chamadas ‘artes aplicadas’. A cerâmica, o tecido estampado, o papel-parede, o

bordado, a tapeçaria, encontrariam no Pintor da Praia um criador infinitamente

precioso.”

Chabloz, lembra Estrigas, “possuía, além do desenho, da pintura e da

música, conhecimentos de filosofia, envolvia-se com as ciências ocultas, era um

animador cultural e ótimo conversador, trazendo uma cultura européia e sendo

muito sensível ao que era nosso.” Disse Chabloz sobre o Ceará: “De todos os

Estados brasileiros, o Ceará é, muito provavelmente, o mais autóctone, o mais

autêntico, o mais original.”

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04. RESUMO DIDÁTICO

Chico da Silva (1910 - 1985)       

Nascimento: 1910 - Alto Tejo AC

Falecimento: 1985 - Fortaleza CE - 6 de dezembro

Cronologia

Pintor, desenhista, sapateiro, ajudante de marinheiro

1935 - Fortaleza CE - Muda-se com a família para o bairro de Pirambu

1937 - Fortaleza CE - Começa a desenhar a carvão e giz sobre muros e paredes de casebres de pescadores

1943/1945 - Fortaleza CE - Incentivado pelo crítico e pintor suíço Jean Pierre Chabloz, começa a pintar na técnica do guache

1961/1963 - Fortaleza CE - Através de Chabloz, trabalha no recém-criado Museu de Arte da UFCE

1971 - Fortaleza CE - Treze reproduções de seus trabalhos são publicadas no calendário do Banco do Nordeste

1952 e 1969 - Paris (França) - Jean Pierre Chabloz publica o artigo Um índio Brasileiro Reinventa a Pintura, sobre seu trabalho. Em 1969, porém, Chabloz publica um outro artigo no Jornal do Brasil: Chico da Silva ou a Ingenuidade Perdida, comentando o retrocesso que sua obra vinha sofrendo nos últimos anos

1975 - Pedro Jorge de Castro realiza um filme sobre sua vida e obra

1976 - A SBPC, em sua reunião anual, dedica uma mesa de debates ao artista

1976/1980 - Fortaleza CE - É internado devido ao agravamento de cirrose hepática e tuberculose, sendo, posteriormente, encaminhado a um hospital psiquiátrico, onde permanece por quatro anos

1978 - São Paulo SP - Agraciado com a Medalha Anchieta pela Câmara Municipal

1981 - Fortaleza CE - Retoma a pintura após afastamento por motivos de doença

1984 - Fortaleza CE - Agraciado com a Medalha da Abolição pelo governo do estado

1988 - Fortaleza CE - Estrigas publica um livro sobre o pintor

1989 - Fortaleza CE - É lançado o livro Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, com texto de Roberto Galvão

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05. ALGUMAS OBRAS