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RH em foco Novembro/Dezembro 2010 14 Lei de Cotas De um lado, a dificuldade das empresas em contratar. Do outro, mais de 20 milhões de PNEs disponíveis para o mercado Segundo dados do IBGE - Censo 2000, 14,5% da população brasileira, ou seja, aproximadamente 27 milhões de pessoas são portadores de necessidades especiais (PNEs). Mas mesmo com esse número sig- nificavo, as empresas em geral ainda encontram dificuldades em cumprir com a Lei de Cotas. A lei mencionada é a nº 8.213 e foi aprovada em 1991. Ela diz que empresas com cem ou mais em- pregados são obrigadas a preencherem parte de seus cargos com PNEs. Ao longo dos anos, o Minis- tério do Trabalho foi adaptando a legislação e ampli- ando a fiscalização, a fim de fazer valer a lei. Mas para a advogada trabalhista Aparecida Hashi- moto essa práca não é justa: “Embora a empresa comprove que não conseguiu angir a cota por cir- cunstâncias alheias à sua vontade (falta de qualifica- ção, baixa escolaridade ou insuficiência de deficientes no mercado de trabalho) não devesse ser punida, isso não acontece. As empresas estão sendo au- tuadas pelos auditores-fiscais do trabalho com imposição de multa administrava, o que tem levado as empresas ao Judiciário para obter a anulação dessas autuações”. Para cumprirem a lei e também para evitar as multas administravas, as or- ganizações têm optado por capacitar os PNEs disponíveis. Cada vez mais surgem associações e empresas especializadas em encontrar e treinar esses profissionais. Es- tas são responsáveis, em alguns casos, até mesmo pelo processo de recrutamento e seleção. Uma dessas organizações é o Ins- tuto Muito Especial, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OS- CIP), que trabalha para contribuir com a completa inclusão social e profissional das pessoas com deficiência e a preparar as organizações a lidarem com a diversidade. A visão dos PNEs De acordo com a coordenadora de pro- jeto do Instuto, Diva Sobral, o maior obs- táculo no mercado de trabalho para PNEs ainda é o preconceito: “O desconhecido leva ao preconceito que por sua vez cria

Lei de cotas

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Segundo dados do IBGE - Censo 2000, 14,5% da população brasileira, ou seja, aproximadamente 27 milhões de pessoas são portadores de necessidades especiais (PNEs). Mas mesmo com esse número significativo, as empresas em geral ainda encontram dificuldades em cumprir com a Lei de Cotas.

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RH em foco

Novembro/Dezembro 2010 14

Lei de CotasDe um lado, a dificuldade das empresas em contratar. Do outro, mais de 20 milhões de PNEs disponíveis para o mercado

Segundo dados do IBGE - Censo 2000, 14,5% da população brasileira, ou seja, aproximadamente 27 milhões de pessoas são portadores de necessidades especiais (PNEs). Mas mesmo com esse número sig-nificativo, as empresas em geral ainda encontram dificuldades em cumprir com a Lei de Cotas.

A lei mencionada é a nº 8.213 e foi aprovada em 1991. Ela diz que empresas com cem ou mais em-pregados são obrigadas a preencherem parte de

seus cargos com PNEs. Ao longo dos anos, o Minis-tério do Trabalho foi adaptando a legislação e ampli-ando a fiscalização, a fim de fazer valer a lei.

Mas para a advogada trabalhista Aparecida Hashi-moto essa prática não é justa: “Embora a empresa comprove que não conseguiu atingir a cota por cir-cunstâncias alheias à sua vontade (falta de qualifica-ção, baixa escolaridade ou insuficiência de deficientes no mercado de trabalho) não devesse ser punida, isso

não acontece. As empresas estão sendo au-tuadas pelos auditores-fiscais do trabalho com imposição de multa administrativa, o que tem levado as empresas ao Judiciário para obter a anulação dessas autuações”.

Para cumprirem a lei e também para evitar as multas administrativas, as or-ganizações têm optado por capacitar os PNEs disponíveis. Cada vez mais surgem associações e empresas especializadas em encontrar e treinar esses profissionais. Es-tas são responsáveis, em alguns casos, até mesmo pelo processo de recrutamento e seleção. Uma dessas organizações é o Insti-tuto Muito Especial, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OS-CIP), que trabalha para contribuir com a completa inclusão social e profissional das pessoas com deficiência e a preparar as organizações a lidarem com a diversidade.

A visão dos PNEsDe acordo com a coordenadora de pro-

jeto do Instituto, Diva Sobral, o maior obs-táculo no mercado de trabalho para PNEs ainda é o preconceito: “O desconhecido leva ao preconceito que por sua vez cria

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de trabalho flexível e reduzido, com proporcionalidade de salário”.

Mas, como cumprir a lei?“A pessoa portadora de deficiência possui limitações

em determinadas áreas, mas não para todas as ativi-dades”, lembra Aparecida. Por isso, os recrutadores não devem se ater há algum perfil específico. É preciso es-tar aberto a possibilidades, inclusive a de desmembrar as funções de forma a atender as limitações do possível empregado.

“Também é importante ressaltar que a exclusão do portador de deficiência do quadro de funcionários só deve ser excepcionalmente admitida nos casos em que a deficiência impede o exercício da função”, lembra a advogada. Portanto é essencial que toda atividade de admissão e emprego do PNE seja parte de um processo maior, com estrutura para orientar e apoiar não só o portador de necessidades, como também o restante da empresa.

Mosaico 15

E você, o que achou do tema apresentado? Se tiver sugestões de temas que gostaria de ver nessa coluna ou se sua empresa possui um case de sucesso, entre em contato com a redação da Mosaico, através do email [email protected].

barreiras, aparentemente intransponíveis”. A coordenadora revela que, mesmo após a contrata-

ção, a taxa de demissão precoce é alta. Isso porque não há um trabalho prévio de desmistificação do portador de necessidades especiais. “Antes de contratar pes-soas com deficiência, as empresas deveriam esclarecer alguns mitos e realidades sobre pessoas com deficiên-cia. Só isso pode garantir um convívio melhor e mais próximo, vencendo a terrível barreira dos preconceitos”, afirma Diva.

Além disso, há ainda a adaptação física das empresas contratantes. Aparecida Hashimoto lembra que oferecer condições a esses trabalhadores também está previsto em lei: “Além de todo tipo de equipamento, facilidades de acesso e locomoção, há ainda o direito a um horário

O Instituto Muito Especial promove workshops de em-pregabilidade para os profissionais de recursos huma-nos que desejam

contratar pessoas com deficiência. Nos encontros, con-sultores e especialistas em empregabilidade apresentam casos de sucesso e orientam as empresas a promover programas de contratações para este público especifico. Saiba mais em www.muitoespecial.com.br

Fotos: Shutter

Veja a entrevista completa sobre a Lei de Cotas com a advogada trabalhista Apare-cida Hashimoto no RH Mais da LG (lg.com.br/rhmais).