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Ano III. V.2 - 2013 / SEÇÃO III: DESIGN PROJETO CONCEITUAL DE UMA EMBALAGEM DE FRUTAS PARA FEIRANTES INFORMAIS Cézar Nascimento 1 Larissa Pimenta 2 José Wilker M. de Araújo 3 Marcelo Geraldo Teixeira 4 RESUMO O presente trabalho visa apresentar o processo de desenvolvimento de uma embalagem para frutas, direcionada para o mercado informal, atividade muito intensa no bairro do Comércio, na cidade de Salvador/BA. O projeto tem a finalidade de oferecer segurança e praticidade na comercialização, acondicionamento e transporte desse tipo de produto. Para a realização desses objetivos foram utilizadas ferramentas metodológicas pertinentes à área de design de produtos tais como: identificação do problema, análise de similares, observações e entrevistas. Palavras-chave: Embalagem, metodologia de design, frutas. ABSTRACT This present work seeks to present the process of development of a packing for fruits, addressed to the informal market, very intense activity in the neighborhood of the Trade, in city of Salvador/BA. The project has the purpose of offering safety and most pratical in the commercialization, packaging and transport of that product type. For the accomplishment of those objectives pertinent methodological tools were used to the area of design of such products as: identification of the problem, analysis of similar, observations and interviews. Key-words: Packing, design methodology, fruits. 1. Designer Faculdade da Cidade do Salvador 2. Designer Faculdade da Cidade do Salvador 3. Designer, Mestre em Artes Visuais. Professor de Design da Faculdade da Cidade do Salvador 4. Designer, Doutor em Engenharia. Industrial, Professor da Faculdade da Cidade do Salvador.

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Ano III. V.2 - 2013 / SEÇÃO III: DESIGN

PROJETO CONCEITUAL DE UMA EMBALAGEM DE FRUTAS PARA FEIRANTES

INFORMAIS

Cézar Nascimento 1 Larissa Pimenta 2

José Wilker M. de Araújo 3 Marcelo Geraldo Teixeira 4

RESUMO O presente trabalho visa apresentar o processo de desenvolvimento de uma embalagem para frutas, direcionada para o mercado informal, atividade muito intensa no bairro do Comércio, na cidade de Salvador/BA. O projeto tem a finalidade de oferecer segurança e praticidade na comercialização, acondicionamento e transporte desse tipo de produto. Para a realização desses objetivos foram utilizadas ferramentas metodológicas pertinentes à área de design de produtos tais como: identificação do problema, análise de similares, observações e entrevistas. Palavras-chave: Embalagem, metodologia de design, frutas. ABSTRACT This present work seeks to present the process of development of a packing for fruits, addressed to the informal market, very intense activity in the neighborhood of the Trade, in city of Salvador/BA. The project has the purpose of offering safety and most pratical in the commercialization, packaging and transport of that product type. For the accomplishment of those objectives pertinent methodological tools were used to the area of design of such products as: identification of the problem, analysis of similar, observations and interviews. Key-words: Packing, design methodology, fruits.

1. Designer Faculdade da Cidade do Salvador 2. Designer Faculdade da Cidade do Salvador 3. Designer, Mestre em Artes Visuais.

Professor de Design da Faculdade da Cidade do Salvador

4. Designer, Doutor em Engenharia.

Industrial, Professor da Faculdade da Cidade do Salvador.

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1. INTRODUÇÃO A atividade comercial informal é uma prática bastante comum na realidade

brasileira, mas apesar disso, é uma atividade ainda tratada como carente em diversos aspectos. O bairro do Comércio, na Cidade Baixa, é um centro de intensa e crescente atividade comercial informal, sendo o mercado de frutas bastante explorado nesse setor.

Essas frutas são comercializadas em caixotes ou bancas de madeira, muitas sem proteção contra fatores naturais, como a chuva além de estarem distantes dos padrões de higiene. Apesar de contarem com uma ampla variedade de produtos oferecidos, o transporte dessas frutas foi a principal queixa sinalizada, segundo pesquisa feita junto aos vendedores e consumidores que geralmente ao se deslocarem fazendo uso de transportes coletivos, ocasionam lesões nesse tipo de mercadoria pelo simples peso ou mesmo em decorrência do contato de uma fruta com a outra.

Observando esse mercado informal de frutas, foram notadas diversas oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos visando melhorar o serviço do vendedor informal, desde seu manuseio, comercialização, à venda propriamente dita e o transporte desse tipo de mercadoria.

Portanto o objetivo deste projeto é desenvolver uma embalagem que atenda a essas necessidades, oferecendo segurança, praticidade na comercialização, acondicionamento e transporte dessa mercadoria, minimizando os prováveis prejuízos.

Como pré-requisito do projeto foi definido que seriam usados materiais que atendessem as exigências do eco-design em todo ciclo de vida do produto, desde sua fabricação ao descarte, atentando para os aspectos ambientais segundo TEIXEIRA E CÉSAR (2005), tais como recuperação energética e biodegradação. Todas essas propostas foram amplamente atendidas no desenvolvimento da embalagem demonstrada ao longo desse projeto.

O projeto se justifica pela necessidade de o design apresentar soluções socialmente e ambientalmente corretas tanto para os vendedores que trabalham na informalidade quanto para seus clientes. Acredita-se que, com o aumento da qualidade deste serviço, através de uma melhor embalagem, haja um reforço na receptividade dos seus produtos na sua clientela. Por outro lado a preocupação com o meio ambiente necessita alcançar a notoriedade de maneira mais abrangente, o que faz deste projeto uma oportunidade interessante de oferecer um produto mais ambientalmente amigável.

2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Economia informal

A economia informal, também conhecida como economia subterrânea, irregular ou paralela, é um fato reconhecido em todos os países, muito embora seja muito mais visível nos países pobres ou em desenvolvimento, devido às notórias circunstâncias, muito “embora não exista nenhuma descrição ou definição universalmente aceita ou considerada como exata da economia informal”, (OIT, 2005; RIBEIRO, 2000). Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2005), este tipo de economia é complexo, pois abrange várias circunstâncias, fatores em diversos contextos e, portanto apresenta vários problemas, exigindo a busca por várias soluções; abrangendo uma diversidade considerável de trabalhadores, empresas e empresários, vários tipos e setores de atividades

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econômicas, tanto em zonas rurais e, principalmente, as zonas urbanas. (KREIN e PRONI, 2010).

Mas talvez a característica mais importante e que identifica tal economia seja a existência de empresas e seus trabalhadores, ou simplesmente trabalhadores sem empresas, que vivem por conta própria, distante das legislações ou simplesmente das preocupações das políticas públicas. Mesmo quando há alguma forma de contato com a formalidade, esta cobra muito desse setor, sendo feita, por vezes, de maneira inadequada, impondo muitos encargos e outras dificuldades, fazendo com que as pessoas nessas condições nunca alcancem um patamar financeiro ou social seguro o bastante para que saiam da informalidade (KREIN e PRONI, 2010).

No Brasil a economia informal indica estar em plena expansão como pode ser visto na pesquisa do IBGE realizada em 2003 (IBGE, 2005). Segundo Ribeiro (2000) vários fatores podem ser atribuídos a esse fato tais como o desemprego ou o declínio das condições financeiras, tanto pessoal quanto familiar. Neste contexto encontram-se os vendedores ambulantes encontrados em diversos pontos da cidade do Salvador. Ocupam várias partes de bairros, principalmente os finais de linha dos ônibus. Em outros casos, ocupam ruas ou vielas como vistas no Centro da Cidade, nas imediações da Estação da Lapa ou nas do bairro do Comércio.

2.2. Embalagens para feirantes informais

Segundo Negrão e Camargo (2008), o surgimento da embalagem se confunde com a história remota do ser humano, quando este buscou formas de “guardar e conservar alimentos por mais tempo”, e para isso usavam-se materiais disponíveis na natureza, tais como o couro ou fibras vegetais. Atualmente as funções de uma embalagem vão além do acondicionamento e proteção, abrangendo, além disso, funcionalidade de manuseio, transporte e distribuição dos produtos acondicionados, identificação, informação, promoção, dentre outros.

Os primeiros registros de embalagens de papel foram encontrados na civilização do Egito Antigo, nas quais foram usadas folhas de papiro, enquanto aos chineses é atribuído o início da fabricação industrial do papel (JORGE, 2013). Para serem usados em contatos com alimentos, os papeis para embalagens devem ter propriedades específicas, não permitindo, por exemplo, a passagem ou absorção de substâncias tanto de fora para dentro e vice-versa, ou o rasgamento quando a embalagem estiver carregada. O papel tipo Kraft é um tipo com qualidade destacada para fins de embalagem, (JORGE, 2013).

No mercado informal, uma embalagem de qualidade nem sempre é algo possível, principalmente por agregar custos de aquisição, os quais geralmente são repassados à freguesia. Também a falta de informação sobre os conceitos básicos de embalagem pode ser considerada como uma possível causa destes problemas. Na pesquisa realizada por Lopes, Rodrigues e Silva (2011), esse fato fica bem evidenciado quando é relatado como são as condições de higiene no Mercado Central da cidade de Abaetetuba, no estado do Pará. Pode-se citar como exemplo a comercialização de peixe, que não usa embalagens apropriadas ou específicas, ficando o pescado exposto a insetos e poluição; ou o exemplo da comercialização de carne, em que esta é embala em uma sacola de plástico comum na hora da venda. O caso de Abaetetuba pode ser considerado como um exemplo similar aos que ocorrem na região metropolitana de Salvador, com destaque a Feira de São Joaquim ou mesmo as feiras livres informais, tal como as que existem no bairro do Comércio.

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2.3. Trabalhos correlatos O projeto de embalagens para o mercado informal de produtos agrícolas, como

frutas e verduras, ainda não é bem explorado no meio acadêmico. A pesquisa nas bases de dados revelou que muitos projetos de embalagem são voltados para a logística entre a produção e os mercados formais, tais como embalagens de grande porte, feitas de papelão ou plástico, mas exemplos de projetos para o uso do consumidor final, que compra e leva para sua casa uma pequena quantidade de produtos, são praticamente inexistentes.

No caso de embalagens para os feirantes formais podem-se destacar os projetos de Campos Filho (2010), que projetou uma embalagem de transporte de hortifrutigranjeiros para as feiras livres de Blumenau/SC, e de Garone e Pinheiro (2007) que projetaram embalagens multifuncionais para mangas da classe Haden para as feiras formais de São Paulo. Outro exemplo é o das embalagens retornáveis para frutas e verduras desenvolvidas pelo INT (Instituto Nacional de Tecnologia), que busca proteger melhor os produtos vegetais, mas oferecendo vantagens como à multi-configuração funcional para embalar vários tipos de produtos simultaneamente através de uma base articulável e retornável ou o uso de materiais recicláveis. Segundo seus idealizadores essa embalagem busca a minimização do impacto nas frutas e a redução do desperdício ao longo da cadeia de venda e distribuição (QUARTIM, 2013). Mas mesmo assim, esses projetos foram voltados para o condicionamento e armazenagem de frutas em feiras formais, se afastando, portanto do contexto do projeto aqui em desenvolvimento.

3. ETAPA INFORMACIONAL 3.1. Descrição do contexto e briefing

No contexto da economia informal na cidade de Salvador encontram-se os vendedores de frutas e verduras no bairro do Comércio. Estes se instalam principalmente nas ruas transversais e nas vielas do bairro, ocupando pontos de venda fixos (a maioria) se organizando como micro-feiras, e também como ambulantes, perambulando enquanto oferecem seus produtos.

As bancas de venda de frutas, legumes e similares aqui serão tratadas como o objeto da pesquisa. Estas são organizadas como “mesas” feitas de tábuas de madeira compensada em cima de caixotes de madeira ou sobre engradados. As frutas e legumes ficam em cima deste aparato, protegidos por baixo por toalhas de papel, plástico ou em tampas de caixas de papelão (Figura 1), mas ficando expostas ao tempo e a toda sorte de contaminação. Na hora da venda, os produtos são acondicionados em sacos de papel ou plástico ou ainda em embalagens plásticas tipo rede ou malha (Figura 2).

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Figura 1

Frutas comercializadas em caixotes. Fonte: foto dos Autores

Figura 2 Comercialização de frutas em sacos

plásticos Fonte: foto dos Autores

Foram feitas entrevistas não estruturadas com dois vendedores e cinco clientes. Essas entrevistas serviram como parte do briefing, no qual houve o contado com os personagens do problema na busca do entendimento dos problemas, necessidades e desejos de ambos os lados, tanto do lado quem vende como quem compra. As entrevistas foram feitas como uma conversa informal, sem roteiro, mas breve e objetiva, conforme explicado por Teixeira (2012, p. 88). O assunto principal foi a forma em que se embalavam os produtos.

Segundo os vendedores esses tipos das embalagens usadas são escolhidos por serem baratas e de fácil aquisição, mesmo sabendo que muitas não são de boa qualidade, podendo rasgar no uso pelo cliente. Por outro lado, os clientes reclamam que esta falta de qualidade é um problema que muitas vezes os afastam de uma compra. Em se tratando dos sacos plásticos o problema se expressa na pouca resistência das matérias, pois rasgam precocemente. Quando se trata de embalagens de papel, a água ou o suco que escorre das frutas molham e rasgam a embalagem. Quanto às embalagens tipo malha estas também rasgam, além de estarem em desuso.

Outro problema relatado pelos clientes é que as frutas maiores e mais pesadas esmagam as mais frágeis. Além disso, muitos clientes levam essas embalagens em ônibus, fato que amplifica o problema de embalagens rasgadas e frutas esmagadas.

Em síntese, as atuais soluções para embalagens de frutas e verduras usadas pelos vendedores informais não atendem às necessidades dos clientes. Notou-se, portanto que o desejo de todos aponta para um conceito de embalagem que seja resistente no transporte e que proteja melhor seu conteúdo, inclusive durante o transporte em ônibus.

3.2. Análise de Similares

Pesquisaram-se, usando as ferramentas de imagens do Google, algumas embalagens similares que satisfazem as funções de acondicionamento e transporte manual de pequenos volumes de alimentos. Estas são descritas e analisadas na Tabela 1, usando a ferramenta PNI, para se extrair destas idéias que possam influenciar e inspirar a geração do conceito de solução da proposta desta pesquisa.

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Tabela 1 Análise de Similares PNI

SIMILAR 1 SIMILAR 2 SIMILAR 3

SACOLA DE PAPEL KRAFT

Embalagem comum, dobrável, feito de papel

resistente ao rasgamento. Possui alças cordão plástico fixadas próximo às bordas.

SACOLA DE AMARRAR Embalagem de tecido ou

plástico, amarrada e fechada no topo por cordão ou fita.

SACOLA PACOTE Embalagem de papel,

dobrável, com sistema de tampa e pega integrado à

estrutura.

POSITIVO • Volume diferenciado para

cada tipo de produto embalado

• Baixo custo • Boa resistência NEGATIVO • Alças podem rasgar a

borda se o peso carregado exceder a capacidade da embalagem

INTERESSANTE • Não há

POSITIVO • Volume variável pelo

fechamento • Praticidade • Custo baixo NEGATIVO • Não tem alças nem algum

tipo de pega INTERESSANTE • Pode ser usado outras

vezes inclusive para outras funções

POSITIVO • Projeto simples com

funções integradas • Completa, com tampa e

pegas • Bom custo/benefício NEGATIVO • Perda de capacidade de

armazenamento próximo à borda da tampa

• Sistema de fechamento frágil podendo abrir durante o uso

INTERESSANTE • Pode ter outros usos após

o uso primário.

A Tabela PNI permitiu o entendimento de que os similares atendem bem quanto ao volume solicitado pelo produto embalado, muito embora no similar 3 há a perda de parte dessa capacidade, devido a diminuição do volume na parte de cima, perto da tampa. Os similares 1 e 2 apresentam boas soluções de pega quanto as dimensões e formato, mas estas possuem pontos fracos na forma de possíveis rasgamentos nas alças e/ou no sistema de fechamento, respectivamente. Por outro lado, o similar 3 não possui qualquer tipo de pega, sendo essa função satisfeita usando a parte de cima da embalagem após o laço, se constituindo, assim, como uma desvantagem perante as outras.

Finalmente as embalagens não parecem ser resistentes o suficiente para esforços prolongados e cargas pouco acima da capacidade. Essas limitações podem fazê-las pouco adequadas nas circunstâncias esclarecidas na descrição do contexto e briefing (item 3.1). No entanto todas possuem boas características para serem usadas novamente, no caso de um reuso. As idéias PNI contidas nesses similares foram usadas como inspiração no desenvolvimento do conceito de solução deste projeto.

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3.3. Análise da tarefa

Nessa etapa, foi analisada a tarefa de uso de dois dos tipos mais comuns de embalagens vistos no estudo de caso. O caso mais comum é o uso de sacolas confeccionadas em plástico de frágil resistência, na cor branca (figura 3), que comumente se partem com o peso das frutas. Esse peso também torna a alça plástica mais fina, tornando sua pega desconfortável. O segundo tipo mais usado são as redes (malhas) plásticas (figura 4), que simplesmente envolvem o produto. Estas acondicionam bem frutas mais resistentes, como maçãs e tangerinas, mas não podem ser utilizadas para embalar as espécies de mais frágeis, como caqui e ameixa. Essas redes são simplesmente amarradas com nós em suas pontas, que além de exigirem destreza maior das mãos nas ações de embalar as frutas, não permitem um bom manuseio no transporte da embalagem.

Figura 3

Rasgamento nas embalagens plásticas durante o transporte

Fonte: foto dos Autores

Figura 4 Problemas de manuseio e

acondicionamento de frutas embaladas em redes plásticas. Fonte: foto dos Autores

O manuseio das embalagens nestes casos exemplifica a extensão do problema. Ficou evidenciado que os problemas mais graves são a fragilidade estrutural e tendência ao rasgamento das embalagens, muitas vezes com carga abaixo da sua capacidade. Também ficou evidente o problema observado nas pegas, que se mostraram ineficientes, incômodas, pouco resistentes e, em alguns casos, inexistentes.

3.4. Pré-requisito e requisitos

Após as etapas de revisão de literatura e de pesquisa informacional, ficou evidenciado que as atuais embalagens de frutas para vendedores informais são soluções de baixa eficiência ainda que sejam economicamente acessíveis. As reclamações dos clientes são do conhecimento dos vendedores, mas estes não possuem alternativas que minimizem este fato. Os principais problemas são o rasgamento, as pegas e o esmagamento. Embalagens similares possuem pontos fracos que não solucionam o problema. Por outro lado, pesquisas feitas voltadas para feirantes não alcançam o contexto da economia informal, não sendo, portanto, solução para este problema.

Para completar o conjunto de variáveis do projeto, foi estabelecido como pré-requisito, o uso restrito à matéria prima à base de papel, papelão ou materiais similares feitos de celulose além de colas a base de PVA. Está vetado, portanto, o

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uso de metais, plásticos e borrachas de qualquer tipo. Este pré-requisito visa atender os requisitos ecológicos para escolha de materiais discutidos por Teixeira e César (2005). Desta forma, buscou-se a possibilidade tanto do uso de material certificado ambientalmente quanto a possibilidade da reciclabilidade da embalagem, e assim a diminuição da geração de resíduos sólidos. A tabela 2 mostrou os requisitos do projeto.

Tabela 2 Lista de requisitos do projeto

PRÉ-REQUISITO • Uso apenas de papel e/ou papelão e colas a base de PVA

REQUISITOS

• Volume para conter frutas de tamanho médio, como bananas e mangas

• Prever reforço estrutural para suportar esforços de carregamento e transporte

• Prever pegas capazes de cumprir suas funções durante as solicitações de carga e transporte, com conforto durante o uso

• Facilitar a montagem e desmontagem, para a fabricação e a reciclagem

• Agregar valor de uso sem onerar demasiado o custo de aquisição

RESTRIÇÕES

• Uso restrito a frutas com casca seca, sem estarem previamente molhadas

• Não ser usado para conter líquidos e similares • Não ser usado para conter objetos perfuro-cortantes

3. ETAPA CONCEITUAL 3.1. Descrição do conceito

A etapa conceitual é considerada a etapa da criatividade, o momento onde se elaboram as idéias de solução do problema, idéias essas necessariamente baseadas nas análises realizadas na etapa informacional. Essa etapa usa a capacidade de criatividade do designer, que deve estar preparado para usar tanto um grande repertório e fontes de inspiração quanto os dados e a síntese da etapa informacional.

O conceito tem o propósito de produzir os princípios básicos da solução de acordo com as necessidades levantadas na problematização, mas deve ser limitado, entretanto, pelas restrições anotadas anteriormente (BAXTER, 1998) e, como a sua natureza está no plano das idéias, sua concretização deverá ser o produto. Portanto uma idéia ou conceito correto deverá produzir um produto correto.

Então, o conceito de solução deste projeto, baseado na Tabela 2, é o de uma embalagem com volume suficiente para conter e transportar várias e diferentes frutas. Deve ter um sistema simples de reforço estrutural que suporte os diferentes esforços. Deve conter sistema de separação que proteja as frutas mais frágeis das mais pesadas.

3.2. Desenho de alternativas

O conceito pode ser representado por várias alternativas bidimensionais ou tridimensionais, de acordo com as circunstâncias e da criatividade do designer. Aqui se deve elaborar o maior número de alternativas possíveis, usando a intuição, imaginação e raciocínio lógico, experiência e o repertório de outros conhecimentos e conteúdos acumulados pelo designer.

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O processo criativo usado para o desenvolvimento destas alternativas envolveu a mescla de duas técnicas: o brainstorming e o desenho de projetação.

• No brainstorming foram geradas as idéias a partir de exercícios individuais e em equipe, em um processo adaptado a partir da proposta de Baxter (1998, p. 66), o qual cada membro da equipe fazia sugestões sem restrições e críticas dos demais.

• O Desenho de projetação foi aplicado durante o brainstorming, possibilitando uma visualização gráfica das idéias ao mesmo tempo em que se buscava o desenvolvimento e aprimoramento de idéias múltiplas, gerados principalmente a partir de esboços a mão livre, seguindo o que foi explicado por Silva et al (2007).

Alguns dos desenhos das alternativas são mostrados e descritos na tabela 3. Essa etapa ainda é preliminar e propôs a possibilidade da alternativa escolhida ser alterada e melhorada posteriormente.

Tabela 3 Desenho e descrição das alternativas

Alternativa 1 Embalagem com placas para separação interna das frutas. Possui uma estrutura em forma de prisma retangular e um sistema de separação interna dos frutos através de placas que acondicionam individualmente cada fruto com segurança. Possui a limitação da falta de uma alça que permita uma pega mais confortável.

Alternativa 2 Embalagem com separações internas previamente fixadas. Esse modelo de formato clássico, com alças, propõe que as separações internas sejam previamente fixadas em sua estrutura, o que não permitiria um ajuste aos variados tamanhos de frutas.

Alternativa 3 Caixa com placas previamente fixadas e sem alça. Uma caixa retangular com separações internas também previamente fixadas, limitando seu uso a algumas espécies de frutas e sem um bom sistema de pega, dificultando seu transporte.

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3.3. Seleção da melhor alternativa As alternativas foram submetidas a uma seleção usando a ferramenta da Matriz de Decisão de Seleção de Alternativas (Tabela 4), uma variante da Matriz de Pugh (CUTOVOI e SALLES, 2013). Os critérios de seleção foram baseados na tabela de requisitos (Tabela 2) colocando assim as alternativas frente a frente com os principais problemas a serem solucionados. Outros critérios foram acrescidos tal como estocagem e facilidade de ser produzida industrialmente, aumentando, assim, o rigor da escolha. A seleção foi baseada apenas nos desenhos das alternativas e nas idéias a elas relacionadas. A alternativa escolhida foi a de número 1, a qual foi posteriormente melhorada na fase de prototipagem.

Tabela 4 Matriz de decisão de seleção de alternativas

CRITÉRIO ALTERNATIVA 1 ALTERNATIVA 2 ALTERNATIVA 3 Volume e capacidade 5 4 3 Reforço estrutural 5 3 3 Pegas 4 4 1 Estocagem 4 3 3 Facilidade de produção 3 4 3 TOTAL 21 18 13 Notas: 1= péssimo / 2= ruim / 3= regular / 4= bom / 5= excelente

3.4. Modelo Final da Embalagem

Definida a alternativa 1 como solução, partiu-se para o desenho final e a prototipagem, usando cartonagem, dobragem e colagem de papel. Nesta fase, partindo dos desenhos de alternativas preliminares, muitas soluções foram criadas, desenvolvidas, definidas e testadas, como por exemplo, o sistema de alças estruturantes, explicado na figura 5. A solução para as alças foi a fixação destas ao corpo da embalagem, cruzando-as na parte inferior, tornando ainda mais seguro o transporte dessas frutas, mostrando assim ser uma solução de boa resistência.

Com formas convencionais, a embalagem projetada (figura 5 e 6) se destaca pelo seu sistema interno de separação através de placas ajustáveis ao tamanho e a quantidade de frutas (figuras 5 e 7), se adaptando á necessidade do consumidor. As placas internas podem ser montadas criando divisões (figuras 8 e 9) que permitem o acondicionamento das frutas com segurança, evitando o contato de uma com as outras e impedindo que se estraguem no transporte. É possível, inclusive, acondicionar uma maior quantidade de frutas, bastando para isso montar as placas umas sobre as outras, formando andares (figura 9).

O papel Kraft foi o material utilizado em toda estrutura confeccionada. A estrutura externa utiliza um papel de gramatura 60g e um sistema de colagem a base de cola branca PVA comum; suas alças são formadas de três camadas de gramatura 30, torcidas e trançadas de modo a torná-las mais resistentes e as placas de separação interna possuem gramatura 80g. A escolha desse material, além de ser uma opção economicamente viável para o mercado informal, atende aos critérios ecológicos de seleção de materiais sugeridos por Teixeira e César (2005).

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Figura 5

Desenho final da solução, mostrando as alças estruturantes e as placas separadoras Fonte: ilustração dos Autores

Figura 6

Vista geral da embalagem Figura 7

Vista superior interna da embalagem vazia, mostrando as alças estruturantes

Figura 8

Vista superior da embalagem com frutas acondicionadas. Foco nas placas

separando os diferentes tipos e tamanhos de frutas.

Figura 9 Vista do corte lateral, com as placas

formando andares para o acondicionamento de uma maior

quantidade de frutas. Fonte: foto dos Autores

Alças distribuídas ao longo da embalagem até o fundo

Alças cruzadas, passando por baixo para maior resistência às cargas

pesadas e ao transporte

Placas verticais e horizontais para separação interna das frutas

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto busca uma valorização do mercado informal de frutas, oferecendo ao consumidor produtos com mais qualidade e contribuindo para o processo de transformação e inclusão através de um design social e transformador.

A nova embalagem desenvolvida tem como diferencial o sistema interno de acondicionamento e separação das frutas, permitindo ao consumidor um transporte com segurança da variedade e quantidade do produto escolhido e também o sistema de alças estruturantes, que visa minimizar os problemas de rasgamento da estrutura durante a carregamento e transporte.

A utilização do papel Kraft em diversas gramaturas na confecção da embalagem atende ao conceito do eco-design, por se tratar de um material 100% reciclável, com total reaproveitamento da sua matéria-prima. O baixo custo do Kraft e sua boa resistência também foram fatores primordiais na sua escolha, visto que um dos principais atrativos do mercado informal é o baixo custo de suas mercadorias.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CÉZAR NASCIMENTO - [email protected] LARISSA PIMENTA - [email protected] MARCELO GERALDO TEIXEIRA - [email protected] JOSÉ WILKER M. DE ARAÚJO - [email protected]