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A Broca-do-Abacate (Stenoma catenifer) aspectos biológicos, comportamento, danos e manejo SS -0100-9508 I N I AR/ NF E DA PES U SA Nº 14 O/06 AP I ORM Q I 7 - MAI

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A Broca-do-Abacate(Stenoma catenifer)

aspectos biológicos, comportamento, danos e manejo

SS -0100-9508 I NI

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º 14

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Informe da Pesquisa N≥ 147 ISSN 0100-9508 novembro/05

A BROCA-DO-ABACATE(Stenoma catenifer )

aspectos biológicos,

comportamento, danos e manejo

Celso Luiz Hohmann & Ana Maria Meneguim

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - LONDRINA-PR

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sumárioAPRESENTAÇøO .................................................................................... 5

INTRODUÇøO ........................................................................................ 7

DESCRIÇøO ........................................................................................... 8

ASPECTOS BIOL‡GICOS E COMPORTAMENTO................................ 9

DANOS .................................................................................................. 10

MANEJO DA BROCA .......................................................................... 12

CONTROLE CULTURAL ........................................................................ 13

RESISTÿNCIA VARIETAL ........................................................................ 14

CONTROLE BIOL‡GICO ..................................................................... 15

CONTROLE FITOSSANITŸRIO .............................................................. 18

AGRADECIMENTOS ............................................................................. 20

LITERATURA CONSULTADA ................................................................. 20

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apresentaçãoA cultura do abacateiro é uma atividade agrícola com grande potencial

para o Paraná, tendo adquirido relativa importância econômica particularmente

na região norte do Estado.

Entretanto, nas duas últimas décadas, a broca do fruto, Stenoma

catenifer, se tornou um fator restritivo à exploração do abacateiro no Paraná.

Isso se deve à severidade com que a praga ocorre nos pomares paranaenses

e às dificuldades encontradas em seu controle.

Com base em estudos desenvolvidos por pesquisadores do Instituto

Agronômico do Paraná – IAPAR, a presente publicação traz informações sobre

o manejo adequado da broca do fruto, procurando integrar medidas culturais

e biológicas com o objetivo básico de minimizar os prejuízos causados pela

praga. Desta forma, espera-se que o manejo integrado da broca do fruto

possibilite tornar novamente a cultura do abacateiro uma atividade agrícola

economicamente viável para o agricultor paranaense.

Rui Pereira Leite Jr.

Líder do Programa Fruticultura/IAPAR

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introduçãoDentre as frutíferas cultivadas, o abacate é uma das mais versáteis,

tanto por seu valor culinário quanto pela sua utilização na indústria farmacêutica

e de cosméticos.

O Paraná é o terceiro maior produtor nacional de abacate, com área ao

redor de 1.600 ha onde foram produzidas cerca de 26 mil toneladas, resultando

no valor bruto de aproximadamente R$ 8.5 milhões na safra de 2003.

O cultivo do abacateiro era uma das atividades agrícolas com maior

potencial de retorno econômico até que a broca do fruto, Stenoma catenifer

Wals. (Lepidoptera: Elachistidae) adquiriu o status de praga, no final da década

de 80. O inseto também tem sido registrado em outros países da América

Latina como Venezuela, México e Peru. O fato de os danos serem diretos no

fruto aumenta a sua importância e a demanda por estratégias de controle

eficientes durante curto espaço de tempo, ou seja, da eclosão da lagarta até a

sua penetração no fruto. Outro aspecto a ser considerado é a indisponibilidade

de inseticidas registrados para o controle da praga no Paraná. Esses fatores

têm ocasionalmente levado agricultores a encerrar a atividade. Com vistas a

minimizar os problemas, a Área de Proteção de Plantas do Instituto Agronômico

do Paraná - IAPAR vem desenvolvendo estudos sobre a bioecologia e os fatores

que afetam as populações desta lepidobroca para definir métodos adequados

de manejo da praga. O presente Informe disponibiliza as informações obtidas

ao longo dos anos a extensionistas e produtores para que, conhecendo melhor

a biologia, ecologia e comportamento do inseto, e adotando práticas de manejo

integrado aqui apresentadas, possam minimizar os sérios prejuízos causados

pela broca-do-abacate.

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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descriçãoO adulto é uma mariposa de coloração amarelo-palha com pontuações

escuras sobre as asas, e aproximadamente 15 mm de comprimento (Fig. 1A).

Existe dimorfismo sexual, mais facilmente detectado nos adultos, sendo que

os machos apresentam maior pilosidade na região ventral das antenas.

Os ovos são minúsculos, medem cerca de 0,5 mm de comprimento,

têm forma ligeiramente oblonga e apresentam estrias longitudinais (Fig. 1B).

São branco-esverdeados a princípio tornando-se branco-leitosos com manchas

irregulares de coloração marrom-clara à medida que o embrião vai se

desenvolvendo em seu interior.

As lagartas são inicialmente branco-acinzentadas, têm a cabeça escura,

tornando-se posteriormente roxas; atingem em seu desenvolvimento máximo

cerca de 20 mm de comprimento (Fig. 1C). A fase larval tem cinco ínstares.

As pupas são marrons e medem aproximadamente 10 mm de

comprimento (Fig. 1D).

Figura 1. Ciclo biológico da broca-do-abacate.

Hohmann & Meneguim

B

C

D Mariposa – 15 mm

Ovo – 0,5 mm

Lagarta – 15 mm

Pupa – 10 mm

A

3 dias

6 dias15 dias

10 dias

25 1 C – 60 10% UR

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aspectos biológicos ecomportamento

Stenoma catenifer possui hábito noturno e prefere colocar os ovos em

frutos da parte superior do abacateiro. As posturas são geralmente isoladas, e

depositadas principalmente em pequenas depressões na base do pedúnculo,

e na epiderme do fruto. Em avaliações realizadas em frutos provenientes de

pomar comercial de Arapongas e Cambé, PR, no período de out/01 a mar/03,

mais de 50% das posturas concentravam-se no pedúnculo (Figs. 2A e 2B).

Ovos de S. catenifer têm sido encontrados durante todo o período de

desenvolvimento e maturação dos frutos, o que denota a existência de gerações

múltiplas da praga ao longo do ano.

Em laboratório (25 ± 1°C; 60 ± 10% UR) a proporção de machos e fêmeas

foi de 1:1, a longevidade destes de cerca de cinco dias e o número médio de

ovos por fêmea de 164.

B

Inferior

Superior

Pedúnculo

16%

34%

50%

24%

12%

Inferior

Superior

Pedúnculo 64%

A

Figura 2. Distribuição de ovos da broca-do-abacate em diferentes partes do fruto. Arapongas (A)

(out/01 a mar/03) e Cambé (B), PR (out/01 a set/02)

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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danosApós a eclosão, a lagarta de primeiro ínstar move-se ao longo do fruto

até encontrar o local adequado para iniciar o ataque. Apesar de as fêmeas

preferirem colocar os ovos no pedúnculo, a maioria dos orifícios de penetração

concentra-se na parte inferior do abacate (Figs. 3A e B). À medida que as

lagartas vão se desenvolvendo, alimentam-se da polpa do abacate movendo-

se em direção ao caroço, onde o inseto se aloja e completa a fase larval,

construindo galerias no seu interior. A lagarta abandona o fruto e transforma-

se em pupa no solo, sob detritos de folhas, à profundidade de 0,5 a 1,5 cm, ou

no interior de frutos caídos.

O início de ataque caracteriza-se pela presença de um pequeno

orifício de penetração que se expande com a evolução do dano. Nesse

local aparece uma exsudação esbranquiçada e as fezes se acumulam (Fig.

4). A evolução do ataque de S. catenifer em pomar comercial de abacate

em Arapongas, durante o período de out/01 a mar/03, pode ser

acompanhada na Fig. 5. Na ausência de controle, os danos foram superiores

a 50% em jun/02 e a mais de 80% dos frutos em fev/03. Quando o ataque

é intenso podem ser observados mais de 20 orifícios por fruto. Além dos

prejuízos na estética, a broca também provoca a queda prematura de frutos.

O orifício de penetração pode favorecer a entrada de microorganismos que

aceleram o processo de deterioração do fruto (Fig. 6).

Inferior

Superior

A

78%

22%

Inferior

Superior

B

80%

20%

Figura 3. Distribuição de danos da broca-do-abacate nas metades superior e inferior do fruto.

Arapongas (A) (out/01 a mar/03) e Cambé (B), PR (out/01 a set/02)

Hohmann & Meneguim

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Figura 4. Exsudação branca e fezes no local

de penetração da broca.

Figura 5. Número cumulativo de ovos da broca-do-abacate e porcentagem de frutos danificados.

Arapongas, PR (out/01 a mar/03)

Figura 6. Podridão na região de ataque da

broca.

OutNovDezJan FevMarAbrMaiJun Jul Ago Set OutNovDezJan FevMar0

20

40

60

80

100

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Colheita

% de danosN de ovoso

Nde

ovoso

%de

frut

osda

nifi

cado

s

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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Estudos para determinar preferência para oviposição pela broca

demonstraram que a mariposa prefere colocar os ovos na parte superior do

abacateiro e em plantas localizadas em locais de maior elevação dentro da

propriedade. A maior porcentagem de frutos danificados, conseqüentemente,

encontra-se na metade superior do abacateiro (Fig. 7).

manejo da brocaO controle da broca-do-abacate é dificultado pelo seu hábito de ovipositar

sobre o fruto, pela falta de técnicas eficientes e exeqüíveis de monitoramento

e pela inexistência de inseticidas registrados para combater a praga. Entretanto,

muitos avanços foram conseguidos nos últimos anos. Há hoje uma série de

informações sobre a biologia e comportamento do inseto, sobre a ação da

fauna benéfica, além de práticas que podem auxiliar na redução das infestações

e, conseqüentemente, nos prejuízos causados pela praga. A seguir são

apresentados e discutidos resultados dos trabalhos que vêm sendo conduzidos

ao longo dos últimos anos, e medidas alternativas de controle que podem

auxiliar no manejo da broca-do-abacate.

InferiorInferior

Superior

A

40%

60% Superior

B

28%

72%

Figura 7. Distribuição de danos da broca-do-abacate no estrato superior e inferior do abacateiro.

Arapongas (A) (out/01 a mar/03) e Cambé (B), PR (out/01 a set/02)

Hohmann & Meneguim

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controle cultural

A preferência dos produtores pela cultivar Margarida é notória no Paraná.

A grande vantagem da sua utilização é a oferta do produto na entressafra o

que permite maior retorno financeiro. No entanto, deve-se considerar que

quanto maior o espaço de tempo em que os frutos permanecem na planta

maior a probabilidade de aumentarem os prejuízos. Além disso, colheitas muito

tardias favorecem a perpetuação da praga no pomar, aumentando as chances

de maiores infestações na safra seguinte. Portanto, no planejamento da colheita

deve-se levar em consideração a relação risco/benefício. Essa relação é melhor

em pomares orgânicos já que os frutos, por serem colhidos mais cedo, alcançam

melhores preços no mercado, compensando possíveis perdas com os

aumentos no valor do produto nos meses subseqüentes.

Uma medida preventiva para reduzir o ataque da broca-do-abacate, mais

apropriada para pomares pequenos e/ou orgânicos, é a catação e destruição

dos frutos caídos. Isso impede que a praga complete o ciclo no solo reduzindo

as populações das gerações seguintes. Outra opção seria a deposição dos

frutos atacados caídos em gaiolas, dentro do próprio pomar, que além de evitar

as reinfestações da praga permitiria a multiplicação de parasitóides de lagartas.

As gaiolas podem ser confeccionadas com armação de madeira, ou outro

material disponível na propriedade, tendo na parte inferior uma tela para permitir

a passagem da água da chuva. A gaiola deve ser coberta por tecido voil que

permita o escape dos inimigos naturais, mas impeça a saída das mariposas.

Sobre o fundo da gaiola deve-se colocar uma camada de solo, folhas e outros

resíduos em decomposição de aproximadamente 5 cm para criar um ambiente

propício para o desenvolvimento da pupa. Além de proporcionar a redução da

infestação da broca, a adoção da prática permite o acompanhamento do período

de emergência das mariposas. Essa informação é importante para detectar o

início das posturas e evolução das infestações, e conseqüentemente a

aplicação de medidas de controle.

A presença de outras culturas nas proximidades do pomar de abacate,

de cultivo intercalar ou mesmo de ervas daninhas entre as linhas aumenta a

diversidade de plantas e insetos hospedeiros, e permite o estabelecimento de

vários grupos de inimigos naturais que podem contribuir na redução das

populações da broca.

Essa condição foi documentada em um pomar de Arapongas onde

espécies de tricogramatídeos foram coletadas em ovos da broca-do-abacate,

da lagarta das folhas e frutos do caqui, Hypocala andremona, do mandarová

da mandioca, Eryniis ello, da lagarta da espiga do milho, Helicoverpa zea, em

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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plantio intercalar, e de ovos de mariposas da família Pieridae em ervas

daninhas. A manutenção de faixas de ervas daninhas ou o plantio de faixas

com espécies de flores perenes nos pomares também têm sido utilizados para

aumentar a ocorrência e a diversidade de insetos benéficos com resultados

satisfatórios na redução de populações de pragas.

resistência varietal

Um método ideal para prevenir danos por insetos às plantas é o cultivo

de variedades com alto grau de resistência ou imunidade ao ataque das pragas.

Ao contrário das culturas de ciclo curto, programas de melhoramento visando

resistência ou tolerância a insetos fitófagos em plantas perenes não são

comuns. Isso se deve, principalmente, ao longo ciclo dessas plantas comparado

com o de culturas anuais. Comparações entre cultivares de abacateiro

pertencentes à coleção do IAPAR têm revelado diferenças marcantes no

prejuízo causado aos frutos (Tabela 1). Embora algumas cultivares tenham

mostrado menor porcentagem de dano, entre elas a Margarida, a maioria não

tem aceitação comercial ou sofre danos severos em condições de altas

infestações. Estudos comparando os danos causados pela broca-do-abacate

às cultivares Margarida e Beatriz indicaram que no início da infestação os

danos foram maiores a cv. Beatriz (72,1%) do que a Margarida (28,4%), mas

a suscetibilidade entre ambas diminuiu com o transcorrer da safra. Apesar dos

resultados, estudos buscando selecionar cultivares precoces e tolerantes ao

ataque da broca e com aceitação comercial merecem consideração.

Cultivar % Cultivar %

Booth 4 Fuerte 23

Wagner 5 Ouro Verde 2 23

Geada 8 Prince 24

Quintal 8 Collinson 29

Collinson BG 9 Ouro Verde 1 30

Dourado 12 Fortuna 32

Margarida 12 Solano 32

Colombo 15 Coringa 33

Leich 18 Vitória 44

Linda 20 Rincon 54

Tabela 1. Porcentagem média de frutos danificados por S. catenifer

em cultivares de abacateiro. Londrina, PR, 1989/91.

Hohmann & Meneguim

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controle biológico

Vários grupos de inimigos naturais de S. catenifer foram detectados em

diferentes pomares do Norte do Paraná, principalmente nos municípios de

Arapongas e Cambé onde tem se concentrado a maioria dos trabalhos do

IAPAR. Entre os inimigos naturais, estão parasitóides de lagartas pertencentes

às famílias Ichneumonidae (Eudeldeboea costanetoi) e Braconidae (Apanteles

desantisi), com níveis de parasitismo próximo a 10% e presença de nematóides

entomopatogênicos em cerca de 18% dos espécimes coletados. Contudo, os

inimigos naturais mais freqüentes pertencem à família Trichogrammatidae:

Trichogramma pretiosum Riley, Trichogramma bruni Nagaraja e

Trichogrammatoidea annulata De Santis, sendo esta última espécie a mais

comum. Espécies de Trichogramma têm sido o grupo de inimigos naturais

mais estudado e extensivamente utilizado em programas de controle biológico

do mundo para controle de uma infinidade de pragas agrícolas e florestais.

Os adultos dos tricogramatídeos são pequenas

vespas que medem menos de 1 mm de comprimento

e colocam seus ovos no interior do ovo da mariposa

da broca-do-abacate (Fig. 8). A larva da vespinha

alimenta-se do conteúdo do ovo da praga, impedindo

a eclosão da lagarta e evitando qualquer dano ao

fruto. O número de ovos que uma fêmea pode

parasitar no campo é variável, dependendo de uma

série de fatores bióticos (relacionados ao inseto) e

abióticos (relacionados ao meio ambiente). Estudos

de laboratório mostraram que fêmeas de certas

espécies têm potencial para parasitar mais de 100

ovos de hospedeiros pequenos (com capacidade

para desenvolvimento de somente uma larva do

parasitóide por ovo).

Uma característica importante para detectar a presença de ovos

parasitados no campo é a mudança de coloração do córion (proteção externa

do ovo). Cerca de três dias após o parasitismo os ovos tornam-se negros (Fig.

9).

O ciclo de vida da vespinha (ovo - adulto) (Fig. 10) dura aproximadamente

dez dias a 25ºC. Podem ocorrer inúmeras gerações anuais no campo desde

que existam hospedeiros alternativos e fontes de alimento. Um bom suprimento

Figura 8. Fêmea de

Trichogramma parasitando

ovo da broca.

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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de pólen e néctar é essencial para a sobrevivência

dos microhimenópteros. Esse fato evidencia a

importância da existência de outras espécies

vegetais, inclusive plantas invasoras, para prover

os requisitos indispensáveis para a sobrevivência

dos inimigos naturais.

Levantamentos sobre a ocorrência de

parasitóides de ovos da broca-do-abacate no

Paraná vêm sendo realizados há mais de uma

década. Estudos mais recentes, a partir de 2001,

em pomares nos municípios de Arapongas,

Cambé e Londrina têm permitido quantificar a ocorrência de parasitismo natural

de ovos da broca-do-abacate.

Figura 10. Ciclo biológico deTrichogramma.

Figura 9. Ovo da broca

parasitado por Trichogramma.

Os níveis de parasitismo têm atingido índices elevados durante

determinados períodos da safra (Figs. 11 e 12 ), porém não têm sido suficientes

para manter as populações da praga abaixo de níveis que não comprometam

a qualidade dos frutos. Entretanto, o fato de os tricogramatídeos terem sido

freqüentes e abundantes ao longo dos anos é um forte indicativo do potencial

de seu uso no controle da broca. Em razão disso, estudos básicos e aplicados

visando sua utilização num futuro próximo têm sido enfatizados.

Hohmann & Meneguim

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Jan Fev MarAbr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar0

10

20

30

40

50

60

70

80%

deov

ospa

rasi

tado

sColheita

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out0

10

20

30

40

50

60

70

%de

ovos

para

sita

dos

Figura 11. Parasitismo médio de ovos da broca-do-abacate por tricogramatídeos em Arapongas,

PR (jan/01 a mar/03)

Figura 12. Parasitismo médio de ovos da broca-do-abacate por tricogramatídeos em Cambé, PR

(jan - out/02)

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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Essas vespinhas podem também constituir importante componente no

controle da broca em cultivo de abacate orgânico. A maior biodiversidade do

agroecossistema onde o cultivo se insere, somada às práticas de manejo na

propriedade, poderão fazer que se mude a estratégia de liberação dos

parasitóides. Ao invés de liberações inundativas (periódicas), como é feito em

cultivos convencionais, pode-se optar por liberações inoculativas (liberações

com menor número de parasitóides e menos freqüentes), com o objetivo de

se promover o estabelececimento das populações dos parasitóides na área.

Acompanhamentos freqüentes dos níveis de infestação e parasitismo indicarão

a necessidade ou não de se realizarem liberações complementares.

Dentre os predadores da broca destacam-se as formigas e aranhas e/

ou animais domésticos, que exercem controle natural sobre os estágios de

pré-pupa e pupa no solo.

controle fitossanitário

Como a mariposa prefere a região do pedúnculo para colocar seus ovos

e a larva prefere a parte inferior do fruto para o ataque, existe um intervalo de

tempo, embora pequeno, entre a eclosão da larva e sua penetração no fruto.

O monitoramento e as ações de controle devem se concentrar nesse período,

e especialmente na parte superior do abacateiro, onde as mariposas da broca-

do-abacate preferem ovipositar.

Não existe atualmente inseticida liberado para controle da broca na

cultura do abacateiro no Paraná. Estudos realizados no início da década de

1990 pelo IAPAR demonstraram a eficiência de inseticidas do grupo dos

piretróides, e indicaram intervalos de aplicação para controle da broca (Fig.

13). As vantagens de seu uso são a alta eficiência de controle de lepidópteros-

praga, maior poder residual e menor toxicidade quando comparados aos

princípios ativos paratiom metílico e fenitrotiom anteriormente registrados para

o controle do inseto. Os piretróides, contudo, se não utilizados com critério,

podem destruir a fauna benéfica e aumentar as populações de ácaros

acarretando prejuízos à cultura.

Deve-se ressaltar, no entanto, que o IAPAR não recomenda a utilização

desse grupo de inseticidas visto não haver registro para a praga no Paraná.

Uma dificuldade adicional na utilização de inseticidas para o controle da

broca é a altura e arquitetura do abacateiro e a falta de equipamentos

adequados e seguros para o aplicador.

Hohmann & Meneguim

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Com o crescente aumento no número de propriedades onde se pratica

a agricultura orgânica vários métodos alternativos de controle têm sido

preconizados e utilizados, como o uso de extratos de plantas e outros

compostos cujos componentes e manipulações variam com a região. Embora

haja relatos da eficiência de alguns desses compostos há necessidade de que

eles sejam testados cientificamente tanto em relação à sua eficiência contra a

praga quanto aos efeitos sobre os inimigos naturais. Em relação ao uso de

nim, estudos visando responder a esses questionamentos estão em andamento

no IAPAR, incluindo formulações comerciais (CE) e extrato aquoso de sementes

e de folhas. Resultados preliminares demonstraram que tanto o extrato aquoso

de semente quanto o óleo emulsionável de nim, aplicados antes de os ovos

serem parasitados, foram mais seletivos, e portanto menos prejudiciais, a

Trichogramma pretiosum e Trichogrammatoidea annulata que o inseticida

piretróide. O inseticida botânico também não afetou a emergência dos

parasitóides.

15 30 45 60 Sem controle

dias

0

20

40

60

80

100%

deda

no

A A

A

A

AB

Figura 13. Influência do intervalo de aplicação de inseticidas sobre os danos causados pela

broca. Arapongas, PR, 1992

A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)

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agradecimentosÀ Dra. Sueli S. Martinez pela revisão do manuscrito, Hugo Muramoto e Wagner

O. Santos pelas fotos, e Maria Giovana Y. Sonomura pelo desenho da figura 10.

À Adauto Crispim, Adauto Pedro Costa, Hugo Muramoto, Wagner O. Santos e

Walter Neves pela colaboração nos trabalhos de campo e laboratório, e aos Srs. Aderson

Tokushima e Massake Makyama por cederem as áreas para os estudos.

literatura consultadaCosta Lima, A.M. 1945. Insetos do Brasil, lepidópteros. Escola Nacional de Agronomia.

Série didática, 7, tomo 5, 379p.

Hohmann, C.L. & A.M. Meneguim.1993. Observações preliminares sobre a ocorrência da

broca-do-abacate, Stenoma catenifer Wals. no estado do Paraná. Anais da Sociedade

Entomológica do Brasil 22: 417-419.

Hohmann, C.L., A.M. Meneguim & A. Maceda. 2001. Parasitismo de Stenoma catenifer

(Lep.: Oecophoridae) por tricogramatídeos (HYM.: Trichogrammatidae) na região norte

do estado do Paraná, Brasil. In: Simpósio de Controle Biológico, 7, Poços de Caldas,

Resumos, p. 332.

Hohmann, C.L., A.M. Meneguim, E.A. Andrade,T.G. de Novaes & C. Zandoná. 2003. The

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Page 19: -01IN A Broca-do-Abacate - iapar.br · Isso se deve à severidade com que a praga ocorre nos pomares paranaenses e às dificuldades encontradas em seu controle. Com base em estudos

Compost e impr so na Área de Reproduções Gráficas do IAPARo esTiragem: 2.000 Exemplar es