294
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DOUTORADO EM ENFERMAGEM A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS GLAUCIA VALENTE VALADARES RIO DE JANEIRO JULHO/ 2006

livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

  • Upload
    vukien

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

DOUTORADO EM ENFERMAGEM

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO

NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS

GLAUCIA VALENTE VALADARES

RIO DE JANEIRO

JULHO/ 2006

Page 2: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

DOUTORADO EM ENFERMAGEM

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO

NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS

GLAUCIA VALENTE VALADARES

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Enfermagem, Escola de

Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do Título de Doutor.

Orientadora: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana

RIO DE JANEIRO

JULHO/ 2006

Page 4: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

VALADARES, Glaucia Valente. A formação profissional e o enfrentamento do conhecimento novo: a experiência do enfermeiro em setores especializados/ Glaucia Valente Valadares. Rio de Janeiro: UFRJ/ EEAN, 2006. xx, 290f.

Orientadora: Ligia de Oliveira Viana. Tese (Doutorado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery – EEAN/ Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem, 2006. Referências Bibliográficas: f.

1. Educação em Enfermagem. 2. Educação Continuada em Enfermagem. 3.

Pesquisa em Educação de Enfermagem. I. Viana, Ligia de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. III. Título.

CDD610.73

Page 5: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

iii

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E O ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO

NOVO: A EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO EM SETORES ESPECIALIZADOS

GLAUCIA VALENTE VALADARES

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem, da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor

em Enfermagem.

APROVADO POR:

____________________________________________________

Presidente: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana – Orientadora.

____________________________________________________

1ª . Examinadora: Profa. Dra. Vivina Lanzarine de Carvalho.

____________________________________________________

2ª . Examinadora: Profa. Dra. Nalva Pereira Caldas.

____________________________________________________

3ª . Examinadora: Profa. Dra. Neiva Maria Picinini Santos.

____________________________________________________

4ª . Examinadora: Profa. Dra. Joséte Luiza Leite.

____________________________________________________

1ª . Suplente: Profa. Dra. Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas.

____________________________________________________

2ª . Suplente: Profa. Dra. Eliane Brandão Salles.

RIO DE JANEIRO

JULHO/ 2006

Page 6: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

iv

DEDICATÓRIA

A Deus, que acredito e amo sobre todas as coisas.

Page 7: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

v

Tu és Fiel Senhor, Meu Pai Celeste pleno poder.

Aos Teus filhos Darás. Nunca Mudaste, Tu nunca Faltaste tal como Eras, Tu sempre Serás.

Tu és fiel Senhor, Tu és fiel Senhor

dia após dia com bênçãos sem fim. Tua mercê me sustenta e me guarda.

Tu és Fiel Senhor, Fiel a mim.

Flores e frutos, montanhas e mares,

sol, lua, estrela no céu a brilhar. Tudo Criaste na terra e no ares. Todo o universo vem Te louvar.

Tu és fiel Senhor, Tu és fiel Senhor,

dia após dia, com bênçãos sem fim. Tua mercê me sustenta e me guarda. Tu és Fiel Senhor,

Fiel a mim.

Pleno perdão, Tu dás. Paz, segurança...

Cada momento me guias, Senhor. E no porvir?

Oh! Que doce esperança Desfrutarei do Teu rico favor!

William Marion Runyan

Page 8: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

vi

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Ao meu pai, Sérgio

“Pai, eu cresci e não houve outro jeito, quero só recostar no teu peito, Para pedir pra você ir lá em casa e brincar de vovô com meu filho,

No tapete da sala de estar Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais, muito mais que um amigo.

Nem você, nem ninguém está sozinho, Você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz”.

(FÁBIO JR.)

A minha mãe Maria Creuza

“Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer Como é grande o meu amor por você.

E não há nada pra comparar, para poder lhe explicar Como é grande o meu amor por você...”

(ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS)

Ao meu grande amor Valadares

“Existirmos: a que será que se destina? Pois quando tu me deste a rosa pequenina,

Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina Do menino infeliz não se nos ilumina,

Tampouco turva-se a lágrima nordestina. Apenas a matéria vida era tão fina,

E éramos olharmo-nos intacta retina A cajuína cristalina em Teresina”.

(CAETANO VELOSO)

A minha filhinha Jade

“Os sonhos mais lindos sonhei. De quimeras mil um castelo ergui.

E no teu olhar, tonto de emoção Com sofreguidão, mil venturas previ.

O teu corpo é luz, sedução, Poema divino cheio de esplendor.

Teu sorriso prende, inebria, entontece. És fascinação, amor “.

(ARMANDO LOUZADA)

Page 9: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

vii

A minha orientadora, Professora Doutora Ligia de Oliveira Viana

Quero aprender sua lição que faz tão bem para mim. Agradecer de coração por você ser assim.

Legal ter você aqui, um amigo em que eu posso acreditar.

Queria tanto te abraçar...

Para mostrar que eu não esqueço mais essa lição. Amigo, eu ofereço essa canção.

Ao mestre com carinho. (BIAFRA/COSTA NETTO)

Page 10: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

viii

AGRADECIMENTOS

A minha querida avó Laura Félix Ribeiro, que respeito e amo muito.

Aos meus avós paternos, que foram exemplos de vida e de dignidade.

A todos os meus familiares: tias, tios, primas e primos, por participarem de toda a

minha vida.

Aos familiares de meu marido, que não deixaram de torcer, apesar da distância.

Aos Professores da Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery, por todas

as trocas durante as aulas.

À Professora Doutora Margareth Angelo, Titular da Escola de Enfermagem da

Universidade de São Paulo, que oportunizou a minha participação como aluna

especial na disciplina: Seminário de Teoria Fundamentada nos Dados.

Aos Professores que participaram das bancas de defesa de projeto, qualificação e

defesa final, por todo carinho demonstrado na condução do trabalho avaliativo.

A todos os membros do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício

Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), pelo incentivo no sentido da realização

do estudo.

A Turma de Doutorado e Mestrado ano de entrada 2003.2, pela amizade e

contribuições produtivas no decorrer da pesquisa.

Ao Departamento Fundamental de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

Nery, por prestar-me apoio na reta final de elaboração da Tese.

Aos Enfermeiros e Auxiliares de enfermagem da Nefrologia do Hospital Universitário

Pedro Ernesto, que participaram de uma fase tão importante em minha vida e,

certamente, nunca serão esquecidos.

Page 11: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

ix

Aos muitos amigos do Hospital Municipal Souza Aguiar, que abriram as portas

quando do meu retorno e sentiram quando da minha partida.

Aos amigos do Estado do Piauí, que estão sempre muito presentes.

As minhas amigas Coordenadoras do Curso de Enfermagem, da Universidade

Estácio de Sá, por terem dividido comigo momentos tão especiais.

Aos inesquecíveis amigos do Campus Barra da Universidade Estácio de Sá, pela

vivência feliz no ambiente de trabalho.

As amigas Miriam Garcia Leoni, Luciana Guimarães Assad, Lúcia de Fátima

Andrade, Mara Amantea e Marta Enokibara, pela escuta ativa as minhas

inquietações pessoais.

A minha amiga Andréa Rabello Netto, por ter oportunizado a continuidade de um

trabalho, que realizava com muito carinho.

A minha amiga Cristiane da Silva Couto, por ter continuadamente ouvido meus

muitos desabafos.

A minha nova amiga Adriana, Professora Substituta da Escola de Enfermagem Anna

Nery, muito querida e fiel.

Aos estudantes do Curso de Enfermagem, da Universidade Estácio de Sá, por terem

sido amigos e compreensivos durante todo o processo referente ao Doutorado.

Aos estudantes de enfermagem do Curso de Graduação da Escola de Enfermagem

Anna Nery, pelo sincero incentivo.

As minhas amigas Joana Angélica e Lúcia Palmeira, pela leitura cuidadosa do texto.

Aos muitos amigos que fiz nessa vida e, que ora sinceramente agradeço.

Page 12: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

x

"É essa a imagem que se forma ao redor

de minha paixão pela educação: estou semeando as sementes da minha mais alta esperança. Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes. Os saberes estão soltos por aí, para quem quiser. Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças, e quando os sonhos assumem forma concreta, surge a beleza e minha paixão pela educação” (ALVES, 2001, p. 11).

Page 13: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xi

RESUMO

VALADARES, G.V. A formação profissional e o enfrentamento do conhecimento novo: a experiência do enfermeiro em setores especializados. Rio de Janeiro, 2006. Tese de Doutorado – Escola de Enfermagem Anna Nery, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. Orientadora: Profa. Dra. Ligia de Oliveira Viana.

A presente Tese de Doutorado encontra-se inserida no Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício Profissional da Enfermagem, tendo como objeto: o significado da formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo no contexto de setores especializados. Tem por objetivos: descrever expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro em setores especializados; identificar os elementos significativos apreendidos na experiência do enfermeiro, no enfrentamento do conhecimento novo; discutir, a partir do mundo experiencial, como interage o enfermeiro e o conhecimento novo, em setores especializados; e propor uma teoria explicativa substantiva, relacionando a formação profissional do enfermeiro com o enfrentamento do conhecimento novo em setores especializados. Como referencial teórico, optou-se pelo interacionismo simbólico. A abordagem metodológica escolhida foi à pesquisa qualitativa sob orientação dos conceitos da Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). O cenário do estudo foi um Hospital Universitário do Rio de Janeiro. Os participantes da pesquisa foram enfermeiros que atuam em especialidades. Foram utilizados múltiplos instrumentos de coleta de dados: observação participante assistemática e entrevista semi-estruturada em profundidade. As informações foram analisadas, considerando os procedimentos pertinentes a TFD: codificação aberta, codificação axial, codificação seletiva e elaboração da categoria central. Assim, foi proposta a Tese: o enfermeiro apreende conhecimento novo em uma dada especialidade, em um movimento rumo ao infinito, vivendo o processo de formação, a partir da experiência do enfrentamento na própria realidade vivenciada.

Palavras-Chave: Educação em Enfermagem. Educação Continuada em Enfermagem. Pesquisa em Educação de Enfermagem.

Page 14: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xii

ABSTRACT

VALADARES, G.V. The professional formation and the confrontation of the new knowledge: the experience of the nurse in specialized sectors. Rio de Janeiro, 2006. Doctoral Thesis - School of Nursing Anna Nery, Center of Sciences of the Health, Federal University of Rio de Janeiro, 2006. Person who orientates: Teacher Ligia de Oliveira Viana. The present Doctoral Thesis meets inserted in the Nucleus of Research in Education, Management and Professional Exercise of the Nursing, having as object: the meaning of the professional formation of the nurse in the confrontation of the new knowledge in the context of specialized sectors. It has for objectives: to describe expressions, attitudes, behaviors, manifestations and feelings that they are in the experience of the nurse in specialized sectors; to identify the apprehended significant elements in the experience of the nurse, the confrontation of the new knowledge; to argue, from the of the experience, as it interacts the nurse and the new knowledge, in specialized sectors; e to consider a substantive theory, relating the professional formation of the nurse with the confrontation of the new knowledge in specialized sectors. The theoretical base, it was opted to the symbolic interactionism. The chosen methodology was the qualitative research under orientation of the concepts of the Theory Based on Dados (TFD). The scene of the study was a University Hospital of Rio De Janeiro. The participants of the research had been nurses who act in specialties. Multiple instruments of collection of data had been used: assistemática participant comment and interview half-structuralized in depth. The information had been analyzed considering the pertinent procedures the TFD: opened codification, axial codification, selective codification e, elaboration of the central category. Thus, the Thesis was proposal: the nurse apprehends new knowledge in one given specialty, in a movement route to the infinite, living the formation process, from the experience of the confrontation in the proper lived deeply reality. Words Keys: Education in Nursing. Education Continued in Nursing. Research in Education of Nursing.

Page 15: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xiii

RESUMÉ

VALADARES, G.V. La formation professionnelle et la confrontation des nouvelles connaissances: l'expérience de l'infirmière dans les secteurs spécialisés. Rio de Janeiro, 2006. Thèse doctorale - école des soins Anna Nery, centre des sciences de la santé, université fédérale de Rio de Janeiro, 2006. Personne qui oriente: Docteur Ligia de Oliveira Viana.

Les rassemblements doctoraux actuels de thèse insérés au noyau de la recherche dans l'exercice d'éducation, de gestion et de professionnel des soins, ayant comme objet: la signification de la formation professionnelle de l'infirmière dans la confrontation des nouvelles connaissances dans le contexte des secteurs spécialisés. Il a pour des objectifs: pour décrire des expressions, des attitudes, des comportements, des manifestations et des sentiments qu'ils sont dans l'expérience de l'infirmière dans les secteurs spécialisés; pour identifier les éléments significatifs appréhendés dans l'expérience de l'infirmière, la confrontation des nouvelles connaissances; pour discuter, du de l'expérience, comme elle agit l'un sur l'autre l'infirmière et les nouvelles connaissances, des secteurs spécialisés; e pour considérer une théorie substantive, reliant la formation professionnelle de l'infirmière avec la confrontation des nouvelles connaissances dans les secteurs spécialisés. La base théorique, elles ont été choisies à l'interactionism symbolique. La méthodologie choisie était la recherche qualitative sous l'orientation des concepts de la théorie basée sur Dados (TFD). La scène de l'étude était un hôpital d'université de Rio de Janeiro. Les participantes de la recherche avaient été des infirmières qui agissent dans les spécialités. Des instruments multiples de la collecte des données avaient été utilisés: commentaire de participant d'assistemática et moitié-structuralized d'entrevue détaillée. L'information avait été analysée considérant les procédures convenables le TFD: codification ouverte, codification axiale, codification sélective e, élaboration de la catégorie centrale. Ainsi, la thèse était proposition : l'infirmière appréhende de nouvelles connaissances dans une donnée la spécialité, dans un itinéraire de mouvement à l'infini, vie le processus de formation, de l'expérience de la confrontation en profondément vécue réalité appropriée. Clefs de mots : Éducation dans les soins. L'éducation a continué dans les soins. Recherche dans l'éducation des soins.

Page 16: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xiv

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ......................................................................................................... iv

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS ............................................................................ vi

AGRADECIMENTOS ............................................................................................... viii

EPÍGRAFE ................................................................................................................. x

RESUMO.................................................................................................................... xi

ABSTRACT .............................................................................................................. xii

RESUMÉ .................................................................................................................. xiii

APRESENTAÇÃO

• REVELANDO A MINHA HISTÓRIA NA ENFERMAGEM ....................................... 1

CAPÍTULO I - CONSTRUINDO AS BASES DO ESTUDO ....................................... 5

• DELINEANDO O OBJETO DE ESTUDO ............................................................ 25 • APRESENTANDO AS QUESTÕES NORTEADORAS ......................................... 25

• DEFININDO OS OBJETIVOS DO ESTUDO ....................................................... 26

• JUSTIFICANDO O ESTUDO ............................................................................. 27

CAPÍTULO II – APRESENTANDO O ENFOQUE TEÓRICO

• O INTERACIONISMO SIMBÓLICO ................................................................... 35

CAPÍTULO III - TRILHANDO NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS

• A TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS ...................................................... 47

CAPÍTULO IV – REFLETINDO SOBRE O CONTEXTO

• O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO ........................................... 64

CAPÍTULO V – COLETANDO OS DADOS: OS ENFERMEIROS INFORMANTES, A

COLETA PROPRIAMENTE DITA E O PROCESSO DE ANÁLISE........................ 75

Page 17: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xv

CAPÍTULO VI– COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA DO

ENFERMEIRO A PARTIR DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO

EM SETORES ESPECIALIZADOS

• VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA

ESPECIALIDADE ......................................................................................................92

• EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER CONHECIDO .......................... 115

• SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE ........................... 129

• (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA

ESPECIALIDADE.....................................................................................................153

• CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE .................................. 169

CAPÍTULO VII– INTER-RELACIONANDO OS FENÔMENOS DESENVOLVIDOS E

APRESENTANDO O MODELO TEÓRICO REPRESENTATIVO DA EXPERIÊNCIA

DO ENFERMEIRO NO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO ..........185

CAPÍTULO VIII – DIALOGANDO COM AUTORES A PARTIR DO FENÔMENO

CENTRAL .............................................................................................................. 204

CAPÍTULO IX – VALIDANDO A TEORIA SUBSTANTIVA ................................... 216

CAPÌ TULO X – TECENDO ALGUMAS

CONSIDERAÇÕES................................................................................................. 224

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 237

APÊNDICES .......................................................................................................... 244

ANEXOS ................................................................................................................ 270

Page 18: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xvi

LISTA DE DIAGRAMAS

DIAGRAMA 1. FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A

INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 2. CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO

INICIAL

DIAGRAMA 3. CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO COM O

ACOLHIMENTO

DIAGRAMA 4. FENÕMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER

COMPREENDIDO

DIAGRAMA 5. CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E

MATERIAIS

DIAGRAMA 6. CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS

DIAGRAMA 7. FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DA EXPERIÊNCIA NA

ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 8. CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO NA

ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 9. CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE

DIAGRAMA 10. CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER

CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICOS

DIAGRAMA 11. FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

NA ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 12. CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA

ESPECIALIDADE.

DIAGRAMA 13. CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA

ESPECIALIDADE

95

113

114

118

127

128

132

150

151

152

155

166

167

Page 19: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xvii

DIAGRAMA 14. CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO

DIAGRAMA 15. FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA

ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 16. CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE

DIAGRAMA 17. CATEGORIA: NÃO SE ADAPTANDO A ESPECIALIDADE:

VIVENDO A CRISE INTERIOR

DIAGRAMA 18. ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO (CONDIÇÕES

CAUSAIS, CONTEXTO, CONDIÇÕES INTERVENIENTES, ESTRATÉGIAS E

CONSEQÜÊNCIAS) COM OS FENÔMENOS DO ESTUDO.

DIAGRAMA 19. ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO

COM OS SIGNIFICADOS DOS FENÔMENOS DO ESTUDO.

DIAGRAMA 20. MODELO TEÓRICO: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO

NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO.

168

173

182

183

187

188

202

Page 20: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xviii

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1.

CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL

QUADRO 2.

CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O

ACOLHIMENTO

QUADRO 3.

CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS

QUADRO 4.

CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS

QUADRO 5.

CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO

QUADRO 6.

CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE

QUADRO 7.

CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER CONHECIMENTOS

E HABILIDADES ESPECÍFICAS

QUADRO 8.

CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA REALIDADE

QUADRO 9

CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA ESPECIALIDADE

QUADRO 10.

CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO

QUADRO 11.

CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE

QUADRO 12.

CATEGORIA: NÃO SE ADAPTANDO À ESPECIALIDADE: VIVENDO A CRISE

INTERIOR

96

105

119

122

133

139

147

156

159

164

174

178

Page 21: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xix

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1.

APRESENTANDO A MINHA HISTÓRIA

FIGURA 2.

VIVENDO NOVOS DESAFIOS

FIGURA 3.

REVELANDO A INSTITUIÇÃO ESTUDADA

FIGURA 4.

REALIZANDO A PESQUISA

FIGURA 5.

VIVENDO A DESCOBERTA NA ANÁLISE

FIGURA 6.

DESCOBRINDO O FENÔMENO CENTRAL

FIGURA 7.

POSSIBILITANDO A DISCUSSÃO ACERCA DOS RESULTADOS

FIGURA 8.

PERCEBENDO QUE O FIM REPRESENTA UM NOVO COMEÇO

20

34

63

74

85

184

203

223

Page 22: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

xx

APRESENTANDO A MINHA HISTÓRIA

Page 23: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

1

REVELANDO A MINHA HISTÓRIA NA ENFERMAGEM

Ando devagar porque já tive pressa levo esse sorriso porque já

chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei, eu nada sei. Almir Sater

.

Trata este estudo de Tese de Doutorado, inserida no Núcleo de Pesquisa

em Educação, Gerência e Exercício Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), do

Departamento de Metodologia da Enfermagem, da Escola de Enfermagem Anna

Nery, com enfoque na formação do enfermeiro diante o enfrentamento do

conhecimento novo em setores especializados. A temática emergiu da minha

atuação profissional, a partir de reflexões durante a prática assistencial.

Para melhor compreensão das razões que me impulsionaram a realização

deste estudo, se faz necessário uma síntese das atividades que venho

desenvolvendo na enfermagem desde a colação de grau em fevereiro de 1997,

depois de ter concluído o Curso de Enfermagem e Obstetrícia da Escola de

Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Iniciei as minhas atividades profissionais em um Serviço de Hemoterapia

na Cidade do Rio de Janeiro, onde estive atuando por aproximadamente três anos.

Nesse contexto, algumas situações causaram me inquietações importantes, levando

a realização da minha dissertação de mestrado, apresentada e aprovada na Escola

de Enfermagem Anna Nery, em dezembro de 2001, intitulada: “O Trabalho da

Enfermeira em Hemoterapia: Uma Prática Especialista”.

A pesquisa realizada no Mestrado propôs uma discussão contextualizada

sobre a Enfermagem e a Hemoterapia, considerando o Trabalho da Enfermeira na

Triagem Clínica de Doadores, o Trabalho da Enfermeira na Coleta de Sangue de

Page 24: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

2

Doadores e o Trabalho da Enfermeira nas Transfusões de Sangue, Componentes e

Hemoderivados, me conduzindo para um olhar crítico acerca da prática especialista.

Ainda sobre a minha caminhada profissional, acrescento que desenvolvi

atividades como responsável pelo Setor de Educação Continuada de Enfermagem e

fui membro da equipe responsável pela Direção do Centro de Estudos de um

importante Hospital Municipal de Emergência, referência no atendimento ao cliente

crítico, que presta assistência a uma parcela significativa da população no Estado do

Rio de Janeiro, tendo sido uma experiência de extrema relevância na minha vida,

levando-me a pensar sobre a prática na área da saúde e, em especial, no que tange

à enfermagem.

Também desenvolvi atividades durante dois anos em outro Estado do

Brasil, no Piauí, em uma cidade chamada Parnaíba. Nesse local, fui responsável

pelo Centro de Hemoterapia – HEMOPI e Coordenadora do Curso de Enfermagem

da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Além disso, participei do Programa de

Saúde da Família, em uma unidade rural, atuando a partir de seus princípios e

diretrizes.

Nos três últimos anos, trabalhei no Setor de Nefrologia do Hospital

Universitário Pedro Ernesto e no Hospital Municipal Souza Aguiar, tendo reassumido

a Educação Continuada deste último, após um período considerável, em que fiquei

de licença. Também atuei na Universidade Estácio de Sá como Coordenadora e

Professora do Curso de Enfermagem.

Mais recentemente prestei concurso público para o cargo de professora

assistente da Escola de Enfermagem Anna Nery, Departamento Fundamental de

Enfermagem, obtendo aprovação e, hoje me encontro desenvolvendo atividades

neste tão sonhado cenário. Dessa maneira, mais uma vez, atualmente, vivo a

Page 25: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

3

experiência do novo, em um momento bastante especial, em que me proponho a

aprender dia após dia.

Senti a necessidade de revelar alguns aspectos de minha trajetória,

principalmente no que se refere às atividades em outro Estado, que não o Rio de

Janeiro, para que o leitor deste estudo pudesse refletir sobre minha própria natureza

de ser, considerando meu gosto por mudanças e propostas desafiadoras.

De tal modo, minha vivência e caminhada em busca do aprimoramento

profissional levaram-me ao Curso de Doutorado, no sentido de responder as

indagações emergentes da prática profissional, através da reflexão sobre a

formação, com ênfase ao enfrentamento de conhecimentos novos em setores

especializados, fazendo um contraponto com o conhecimento teórico e prático.

Por esta razão, vários aspectos relacionados à formação do enfermeiro

são apontados para o leitor, tendo sido elaborado em capítulos, incluindo: Capítulo I

- Construindo as bases do estudo; Capítulo II - Apresentando o enfoque teórico;

Capítulo III - Trilhando novos caminhos metodológicos; Capítulo IV - Refletindo sobre

o contexto; Capítulo V - Coletando os dados: os enfermeiros informantes, a coleta

propriamente dita e o processo de análise; Capítulo VI - Compreendendo o

significado da experiência do enfermeiro a partir do enfrentamento do conhecimento

novo em setores especializados; Capítulo VII – Inter-relacionando os fenômenos

desenvolvidos e apresentando o Modelo Teórico representativo da experiência do

enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo; Capítulo VIII – Dialogando com

autores a partir do fenômeno central; Capítulo IX – Validando a Teoria Substantiva; e

Capítulo X –Tecendo algumas considerações finais.

Saliento que considero o estudo oportuno, por se tratar de uma discussão

bastante atual e necessária sobre o enfrentamento do conhecimento novo em

Page 26: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

4

setores especializados. Dessa maneira, convido o leitor a refletir sobre esse saber,

incitando-o a partilhar da inquietação acerca dos desafios que nos são apresentados

no exercício do trabalho profissional de enfermagem, em especial do enfermeiro, no

que se refere à formação, que aqui é discutida, como um processo contínuo e, não

obstante a isso, como algo que não tem começo, meio e fim; à luz de um referencial

simbólico, norteada por uma instigante abordagem metodológica.

Page 27: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

5

CAPÍTULO I

CONSTRUINDO AS BASES DO ESTUDO

O próprio objeto, ao contrário, não pode ser nem verdadeiro

nem falso. De certo modo, ele está para além da verdade e da inverdade. (HESSEN, 2003, p. 23).

A dissertação de mestrado, que concluí em dezembro de 2001, com o

objetivo de discutir o trabalho do enfermeiro em hemoterapia, enquanto uma prática

especialista, apresentou resultados que me levaram a reflexões importantes acerca

do trabalho especializado na enfermagem, por ser uma área da saúde complexa,

constituída de conhecimentos teóricos e práticos específicos, que associada às

singularidades da clientela, revelou-se como bastante diferenciada.

Nesse sentido, houve a constatação, a partir dos dados coletados no

estudo, de que o trabalho em hemoterapia realizado pelos enfermeiros pode ser

considerado como uma prática especialista, já que os mesmos dedicam-se a um

campo específico de atuação, têm o domínio de múltiplas funções exigidas,

conhecem a teoria relacionada à atividade prática, flexibilizam todos os tipos de

conhecimentos frente à realidade vivenciada e às necessidades do cliente, operando

com o máximo de entendimento da situação e capacidade rápida de resolução de

problemas.

É importante pontuar que os resultados da dissertação de mestrado foram

interpretados, tendo como referencial as idéias de Patrícia Benner1, pesquisadora

norte-americana, docente da Escola de Enfermagem da Universidade da Califórnia,

considerando suas reflexões teóricas a respeito de estágios por que passam os

enfermeiros para adquirirem habilidades: de novato a especialista.

1Autora do livro: From novice to expert (1984).

Page 28: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

6

A dissertação de mestrado levou-me também, a posteriori, a inquietações

mais amadurecidas, voltadas para o outro lado da realidade, considerando que, se

por um lado a dissertação destacou o trabalho especializado, por outro lado,

despertou questões e situações ligadas ao enfermeiro novato, de fato,

especializando-se na prática.

Meus pensamentos, decorrentes desse estudo, foram então associados a

minha própria vivência profissional, principalmente, quando da minha inserção em

uma Instituição Hospitalar Universitária. Entre muitos outros aspectos, passei pela

experiência de ter que atuar em um setor específico, em uma área considerada

especializada, a nefrologia, na qual não havia tido nenhum contato em minha

trajetória, desenvolvendo atividades como: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o

acompanhamento ao cliente submetido ao transplante renal (doador cadáver e

doador vivo). Logo, apesar do conhecimento acumulado em hemoterapia, passei a

ter como desafio o novo, representado pela nefrologia.

Assumi a posição de enfermeira iniciante na área de nefrologia, após seis

anos de atividades assistenciais na enfermagem, acompanhada do desafio de atuar

frente a uma clientela bastante singular e diferenciada. Essa vivência possibilitou-me

muitas transformações no âmbito da minha atuação, constituindo um marco em

minha vida, não apenas no que tange à enfermagem, mas também no sentido

mesmo do ser humano que sou, pensando na construção e reconstrução a qual

estamos, constantemente, submetidos.

Percebi também que essa realidade não cabia apenas a este hospital e

me aproximei de uma outra discussão, a de que na Profissão de Enfermagem,

mesmo sendo o enfermeiro um especialista, não existe nenhuma segurança de que

o mesmo desenvolverá atividades na especialidade de escolha, considerando a sua

Page 29: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

7

experiência prévia ou cursos que tenha formalmente realizado, já que a maioria dos

concursos disponibilizam, de uma maneira geral, suas vagas sem divisão por

especialidades. O profissional, portanto, é levado a uma busca contínua de novos

conhecimentos, na tentativa de adequar-se à nova realidade, desejada ou não.

Esses pensamentos também foram somados e aguçados por outros focos

de reflexões, em que pese o fato de que venho desenvolvendo estudos sobre a

globalização e o impacto da mesma na organização do trabalho no mundo, na saúde

e na enfermagem. Por conseguinte, não poderia dissociar os acontecimentos da

saúde de tal fenômeno, levando em consideração os novos significados sociais que

emergem dia após dia com implicações para a vida de todas as pessoas.

Corroborando com o exposto, não poderia deixar de pontuar, que a

globalização é uma tendência impregnada de avanços tecnológicos, tendo como

marca a nunca antes vista velocidade das informações, além de situações que

desumanizam, coisificam o ser humano, conferindo um certo privilégio ao

individualismo, à descrença de valores e à competitividade.

Para Ianni (1997. p 7), a globalização marca uma nova forma de

expansão do capitalismo, um verdadeiro modo de civilização de alcance mundial. O

desenvolvimento de um modo de produção, que adquire força, considerando o

aumento e o avanço da tecnologia, acarretando mudanças significativas no processo

produtivo e, conseqüentemente, em termos de trabalho e qualificação profissional. A

implantação da microeletrônica suscitou a formação de um novo paradigma técnico-

econômico, cujas principais características se expressam pela produção flexível.

Na mesma escala que o mundo apresenta grandes transformações,

verificam-se também significativas mudanças no âmbito do trabalho, isto é, novas

formas e novos significados no seu próprio entendimento, tanto no que se refere à

Page 30: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

8

materialidade quanto na própria subjetividade, apontando para a exigência de um

trabalhador mais qualificado, multifuncional e polivalente; dotado de maior realização

no espaço do tempo e do trabalho. Um trabalhador com considerável e comprovada

competência teórica e prática.

Foi impressionante o avanço tecnológico, com ênfase na discussão da

crescente complexidade, da produtividade e da flexibilização das atividades.

Destaca-se a especialização dos profissionais, gerando questões acerca do

conhecimento, que envolve em essência o processo de formação.

O progresso e o uso intensivo de tecnologia trouxeram e acarretaram

alterações drásticas na produção e na organização do trabalho no mundo, nas

relações sociais e, especialmente, em termos de exigência na qualificação

profissional. Esses avanços rápidos e globais impulsionaram os profissionais a

atualizarem-se com todas as mudanças nos diferentes aspectos de sua prática,

incluindo os profissionais da saúde, que foram levados a priorizar a busca pelo

conhecimento adequando-se ao seu trabalho.

Nesse sentido, Valadares (2001, p.64) aponta que é exigido do

trabalhador um amplo conhecimento teórico e prático, com aprofundamento

específico no que tange a uma dada área de atuação e ao processo de trabalho,

sem a perda da totalidade. Além disso, um saber empírico proveniente da

experiência profissional, tratando-se de uma especialização dotada de polivalência.

De acordo com Silva (1987, p.410), a especialização pode ser

considerada como a divisão do trabalho ou de áreas territoriais de uma comunidade

ou sociedade, em determinado número de funções especializadas e, por

conseguinte, inter-relacionadas.

Page 31: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

9

O autor (op.cit) ainda destaca que a especialização aumenta a eficiência

do trabalhador e a quantidade-qualidade do trabalho realizado. Além disso, a

tendência à especialização, como uma forma de aumentar a eficiência, não se dá

apenas nas organizações de produção, mas trata-se de um traço atual e marcante

de nossa cultura. Entretanto, enfatiza o perigo da especialização no que se refere à

alienação do homem, considerando a fragmentação que a mesma pode supor.

Pires (1998, p.86) afirma que uma vez concentrando-se as atividades em

um mesmo espaço, trata-se a assistência à saúde como um processo coletivo.

Assim, as profissões nesta área também se especializam, a partir do entendimento

da especialidade como áreas de conhecimento. Contudo, a divisão do trabalho,

entre especialistas, não implica, necessariamente, em perda de controle do

processo.

Pensando que a realidade possui muitas possibilidades, Machado (1995,

p.5), refere que o trabalho especializado aumenta o domínio e a competência num

determinado campo de atuação, promovendo a qualidade nos serviços prestados;

entretanto, em uma outra ótica, preocupada com a totalidade do ser humano, o

processo também deflagrado de super-especialização pode levar cada vez mais à

fragmentação do conhecimento e do processo de trabalho.

Assim, o mercado altamente competitivo, a globalização e as estatísticas,

cada vez maiores e mais ameaçadoras de desemprego, levam as pessoas a

vivenciarem diferentes momentos de vida. Muitas vezes, este fato implica em um

grande desgaste psicológico e, dependendo da visão de mundo de cada um, esses

momentos podem culminar com satisfatório e rápido amadurecimento, ou em um

mecanismo totalmente antagônico, revelando o descontentamento e a frustração

profissional. Tudo isso dependerá de como ocorre o enfrentamento de tal realidade.

Page 32: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

10

Diante de toda essa realidade, penso que o enfermeiro quando inicia suas

atividades em um setor especializado, e uma vez ainda, não conhecedor das

especificidades relacionadas, ainda em uma condição de iniciante, tem por desafio

alcançar, em serviço, um rápido nível de entendimento teórico/ prático, compatível

com as necessidades da clientela, para que ocorra uma assistência de enfermagem

com qualidade, eficácia e livre de riscos.

Sublinho neste estudo a definição de Benner (1984, p.20), entendendo o

iniciante, ou ainda, novato, como sendo qualquer enfermeiro que entra em um

campo de atuação, no qual não tem experiência prévia com a clientela,

considerando a sua especificidade e todo conhecimento necessário para o

desenvolvimento do cuidado de enfermagem. Assim, os iniciantes ou novatos têm

um comportamento guiado por regras que é limitado e inflexível.

O ponto chave, em termos de dificuldade, reside no fato de que os

novatos não têm experiência e a eles são dados os passos para que os mesmos

sigam no desempenho de suas atividades, com a finalidade de servir como uma

espécie de guia e facilitar o desempenho. Porém, esses mesmos passos podem agir

contra o desempenho, já que regras não podem especificar quais são as tomadas

de decisão mais adequadas frente a uma situação real, na maioria das vezes não

previstas anteriormente.

Os estudantes de enfermagem entram no cenário profissional como

iniciantes ou novatos, tendo pouco ou nenhum conhecimento prático, tentando

alguma segurança a partir dos conhecimentos teóricos adquiridos durante a

graduação, esses ainda recentemente instruídos. Mas os estudantes não são os

únicos novatos, sabendo-se que, o enfermeiro que vivencia um campo de

atuação, no qual não tem experiência prévia com a clientela, sem o domínio

Page 33: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

11

das ferramentas necessárias para o cuidado, pode ser apontado também como

iniciante ou novato, mesmo que tenha experiência em outra área2.

Não poderia deixar de enfatizar aqui, após discorrer sobre as idéias de

Benner (1984), meu entendimento sobre a experiência, em concordância com Rudio

(1986, p. 9-10), quando diz que se trata do conhecimento que nos é transmitido

pelos sentidos e pela consciência. Fala-se, portanto, da experiência externa para

indicar aquilo que conhecemos por meio dos sentidos corpóreos, enquanto que a

experiência interna indica o conhecimento de estados e processos interiores que

obtemos através de nossa consciência.

Dessa forma, a minha preocupação e reflexões foram direcionadas para o

fenômeno relacionado ao enfrentamento do conhecimento novo, em que pese o

paralelo com as idéias de Benner (1984). De tal modo, mesmo o enfermeiro

especialista quando passa a desenvolver atividade em uma área diferente da sua

especialidade, pode se tornar um iniciante ou novato, como por exemplo: o

especialista em nefrologia, que é transferido para a unidade de terapia intensiva

infantil. Logo, este modelo de aquisição de habilidades leva em consideração a

situação do profissional, em lugar de uma característica ou modelo de talento.

Nesta acepção, também entendo que, na enfermagem, os concursos

públicos, mesmo que indiretamente, reafirmam a importância da busca pela

formação no próprio ambiente de trabalho, já que raros são aqueles planejados

respeitando-se as especializações em enfermagem. Portanto, entendo que os

profissionais são veladamente, ou ainda claramente, passíveis de atuar em qualquer

área e, com isso, de acordo com a necessidade do serviço, vivenciando um contínuo

de novas e desafiadoras experiências.

A este ponto, destaca-se a inquietação vivenciada por Viana (1995, p.4): 2 Grifo da autora.

Page 34: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

12

Como supervisora na unidade de internações clínicas, muitas vezes tive dificuldade para trabalhar no setor de Hemodiálise, pois não bastava aproximar-me do cliente para identificar suas necessidades, mas também era preciso ter habilidades e conhecimentos apropriados para manusear as ‘máquinas’, responsáveis pela filtração de sangue.

Esse trecho faz-me pensar sobre os meus momentos iniciais na

nefrologia, em que observava as máquinas de hemodiálise e apenas a presença

destas levavam-me a uma tempestade de idéias e de sentimentos, pois enquanto

por um lado eu não me projetava para um futuro promissor na manipulação e

contato com aquela tecnologia, por outro entendia que não poderia recuar e desistir

de um concurso público bastante concorrido. Dessa maneira, apesar de muitas

dificuldades de aceitação, teria que aprender e trabalhar dentro daquela realidade.

Assim, partindo de inquietações derivadas do cenário de nefrologia, com o

qual não havia tido nenhum contato em minha trajetória profissional, tendo que de

alguma forma enfrentar o conhecimento novo, reconheci que outros enfermeiros

poderiam estar vivenciando situações semelhantes em outros setores, chegando ao

seguinte problema:

Como se dá a formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do

conhecimento novo em setores especializados?3

Para o entendimento da problemática apresentada é interessante uma

contextualização prévia sobre a formação e um reconhecer do significado da própria

palavra, no sentido que este estudo propõe.

Início pelo significado de formação4, termo por vezes dotado de uma certa

ambigüidade e de discordâncias conceituais, considerando que no cotidiano da

enfermagem, inclusive entre os profissionais enfermeiros, tende a ser empregado de

3 Destaque da autora. 4 Destaque da autora.

Page 35: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

13

forma restrita à graduação, não sendo, portanto, enfatizada a idéia, que considero

imprescindível, de algo que é contínuo e permanente ao ser humano.

De acordo com Andrade (2002, p.5), na realização de seu estudo de

mestrado, a mesma encontrou dificuldades para conceituar a palavra formação, pois

o seu sentido, no meio cotidiano, é o de fôrma e molde, cujo entendimento

comumente encontra-se associado ao período de graduação.

Em consonância ainda com esta autora, penso que se trata de um ponto

que precisa ser discutido profundamente pela enfermagem e, assim, o seu

entendimento apresentado em uma perspectiva de melhor compreensão, podendo

significar a reconstrução da idéia tradicional de profissional pronto. Desse modo, o

conceito de formação que é adotado neste estudo baseia-se na abordagem em que

o homem está livre de uma materialização moldada, que desconsidera

singularidades e subjetividades.

Reforço essa proposta apoiando-me em Assad (2003, p.8), que diz tratar-

se a formação de um processo de desenvolvimento integral do indivíduo, ao longo

de toda a sua vida, com a finalidade de alcançar o seu amadurecimento profissional

e emocional. Por sua própria natureza e devido a essas características, é um

processo inacabado que de forma alguma se limita à formalidade dos estudos e

demais atividades realizadas no âmbito das instituições escolares. A formação

expande-se para além da visão de escola, uma vez que o ser humano, também em

sua dimensão profissional, está em permanente processo educativo.

É pertinente lembrar, de acordo com a mesma autora (op cit, p.45), que

não há um único modelo de educação, tampouco a escola é o único e restrito lugar

onde ocorre o processo educativo. A educação escolar não esgota as

possibilidades das práticas educacionais, nem o professor constitui o único

Page 36: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

14

profissional-educador. A educação extrapola os bancos escolares, não sendo,

portanto, finita, pois abarca toda a vida das pessoas.

Sobre a idéia de processo, para Demo (1997, p.28), a formação geral é

sempre mais importante que o treinamento, estágio ou exercício. Por isso, a

formação deve ser compreendida como a capacidade de saber pensar e de

aprender a aprender, isto é, o modo humano de internalizar o conhecimento,

construindo-o de forma contínua.

O mesmo autor refere (2000, p. 147):

Esse pano de fundo da incerteza e da fragilidade das coisas é o ambiente natural do conhecimento e da aprendizagem. Somos facilmente tentados pela arrogância, quando buscamos a tudo questionar e devassar, a armar a consciência completa de tudo, a produzir provas definitivas. Entretanto, quanto mais o conhecimento avança, em vez de localizar um ponto de chegada, cada vez mais próximo, divisa horizontes mais abertos, que convida a não desistir de aprender permanentemente.

É interessante resgatar também, o que diz Arroyo (1995, p.77), no que se

refere à diferença entre educação vista como instrução e como formação. A partir

das idéias desse autor, que é um estudioso da área, a educação como instrução se

limita a treinar o homem para o trabalho e funciona como instrumento de repressão

do regime capitalista, sendo esse o movimento educativo ainda dominante na nossa

sociedade. Enquanto isso, no segundo modelo, a educação, como formação, busca

formar o homem, no sentido de estimulá-lo a agir em conjunto com o pensar,

condição essa indispensável para a formação de sujeitos autônomos, eficientes e

criativos. Logo, reconhece-se a formação5 como processo.

É importante enfocar que a filosofia da instituição influencia na formação

de seus funcionários, na medida em que valoriza a educação como processo,

entendendo a sua natureza contínua e, portanto, preocupando-se em oferecer

5 Grifo da autora.

Page 37: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

15

condições de trabalho adequadas; gerenciar considerando o perfil de funcionários e

definir o modelo assistencial que pretende desenvolver.

No que se refere à questão da especialização, trata-se de um fenômeno

bastante importante na enfermagem. Estudos científicos já vinham sendo feitos,

propondo o melhor entendimento e um aprofundamento sobre a questão das

especializações e das especialidades. Tem-se como exemplo disso, a Tese de

Doutorado de Viana (1995). Além disso, Resoluções foram definidas pelo Conselho

Federal de Enfermagem (COFEN) no sentido de melhorar o acompanhamento desse

processo, como a Resolução COFEN-1006, e mais adiante, a Resolução COFEN -

1737.

Mais recentemente, a Resolução no. COFEN - nº 2908 foi deliberada com

objetivo de fixar as especialidades na enfermagem: Assistência ao Adolescente;

Aeroespacial; Atendimento Pré-Hospitalar; Banco de Leite Humano; Cardiovascular;

Central de Material e Esterilização; Centro Cirúrgico; Clínica Cirúrgica; Clínica

Médica; Dermatologia; Diagnóstico por Imagem; Doenças Infecciosas; Educação em

Enfermagem; Emergência; Endocrinologia; Endoscopia; Estomaterapia; Ética e

Bioética; Gerenciamento de Serviços de Saúde; Gerontologia e Geriatria;

Ginecologia; Hemodinâmica; Homecare; Infecção Hospitalar; Informática; Nefrologia;

Neonatologia; Nutrição Parenteral; Obstetrícia; Oftalmologia; Oncologia;

Otorrinolaringologia; Pediatria; Perícia e Auditoria; Psiquiatria e Saúde Mental;

Saúde Coletiva; Saúde da Família; Sexologia Humana; Trabalho; Traumato-

Ortopedia; Terapia Intensiva; Terapias Naturais/Tradicionais e Complementares/Não

Convencionais. Um total de quarenta e duas especializações.

6 Revogada em 22 de abril de 1988. 7 Revogada em 21 de junho de 1994. 8 Revogada em 24 de março de 2004.

Page 38: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

16

Nesse caminho, dia após dia, a área da saúde passa por um importante

progresso que necessita de acompanhamento e estudo pormenorizado por todos os

profissionais. O mercado demanda naturalmente alguns aspectos como:

ponderação, seriedade, competência, habilidade, profissionalismo, interesse e, no

mínimo, um olhar especializado para algum campo peculiar. Penso que seja preciso

compreender o todo, porém, também, dominar a parte, em uma espécie de

flexibilização do conhecimento, isto é, um movimento reflexivo do todo para a parte e

da parte para o todo, com vistas à adequação da realidade.

Partindo da compreensão desses delineamentos, acredito na enfermagem

como uma das profissões que apresenta consideráveis perspectivas de crescimento

e valorização no mercado de trabalho, apesar da grande crise de desemprego que

assola o país e o mundo na atualidade. Do mesmo modo, os enfermeiros vêm

apropriando-se de espaços distintos e se firmando nas diversas áreas de atuação,

sobretudo naquelas onde permanece o investimento em sua capacitação

profissional, aumentando seus conhecimentos e buscando a especialização para

aproveitar as chances de empregos que surgem no mercado de trabalho.

Agora, cabe enfocar, que de acordo com as Diretrizes Curriculares

Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem9, do Conselho Nacional de

Educação, a proposta é de uma formação generalista, crítica e reflexiva na qual o

profissional seja capaz de conhecer e intervir sobre os problemas e situações de

saúde-doença mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na

sua região de atuação, identificando as dimensões bio-psico-sociais dos seus

determinantes. Este bacharel deve possuir competências técnico-científicas, éticas,

políticas e sócio-educativas.

9 Resolução CNE / CES No. 3, de 7 de novembro de 2001.

Page 39: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

17

Sobre esse aspecto, enfatizo que a graduação não poderia ser diferente,

em virtude da proposta de uma formação holística pautada no olhar o mais

abrangente possível, em que seja despertado o real interesse em aprender. Por

conseguinte, as possibilidades para a titulação de especialista em enfermagem são:

a partir da Pós-Graduação, Lato Sensu e Stricto Sensu, considerando um processo

formal de apreensão de conhecimentos; ou ainda, das provas realizadas pelas

Sociedades de Especialistas em Enfermagem, que tomam como base a prática

especialista, a partir do desenvolvimento de atividades específicas durante um

determinado tempo.

Nessa perspectiva de discussão, também considero essencial aprofundar

as reflexões sobre o próprio conhecimento10, considerando a associação que se

pretende entre o enfrentamento do novo e o conhecimento. Logo, sublinho Hessen

(2003, p.97), quando refere que “conhecer significa apreender espiritualmente um

objeto. Essa apreensão, via de regra, não é um ato simples, mas consiste numa

multiplicidade de atos”.

Para o autor (op. cit.), no conhecimento encontram-se, frente a frente à

consciência e o objeto, o sujeito e o objeto. O conhecimento apresenta-se como uma

relação entre estes dois elementos, que nela permeiam eternamente separados um

do outro. A relação entre os dois elementos é, ao mesmo tempo, uma correlação. O

sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos só são o que

são para o outro. Mas esta correlação não é reversível. Ser sujeito é algo

completamente distinto de ser objeto. A função do sujeito consiste em apreender o

objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito.

Segundo Garcia (2002), conhecer significa, portanto, nascer com. No

conhecimento o sujeito e o objeto nascem um para o outro, um pelo outro. Ocorre 10 Grifo da autora.

Page 40: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

18

que para essa relação aparentemente simples, mas extremamente complexa, há

todo um trabalho de elaboração mental que constrói e reconstrói o conhecimento

que, quando revelado, pode ser facilmente repetido e manipulado, embora quem o

repita e o manipule, não alcance a mesma maturidade daquele que o elaborou.

A autora (op. cit.) relata que uma máquina processadora pode,

atualmente, dar conta do uso e da manipulação dos dados de um determinado

problema, que a ela apresentamos, obedecendo com maior precisão a toda uma

pura cadeia de raciocínio, disposto em etapas. O conhecimento, como elaboração,

só tem sentido no momento mesmo do ato criador que o produz. Depois, pode ser

processado autônoma e automaticamente, dispensando, até mesmo, a capacidade

humana.

No entanto, ainda em consonância com a autora (op. cit), pensando na

criação do conhecimento, é preciso observar que este nascimento não é

espontâneo. O conhecimento como construção precisa ser entendido como um

processo. Não podemos confundir a apreensão e o seu uso com a construção e

elaboração. Todo conhecimento é construído, inventado, dentro das possibilidades

de seu determinante, em um espaço histórico-sócio-cultural.

Também enfoca que o trabalho do técnico é uma atuação de uso do

conhecimento. A técnica é importante tendo em vista que pode facilitar a atuação e a

ação-interação do homem com a realidade. A questão que marca o nosso tempo, é

que chegamos a um determinado estado, em que o técnico domina nossa vida. A

complexidade do estudo e do trabalho técnico chega a um ponto tal que a técnica

não mais é o alívio tendo em vista a ocupação do aspecto humano, mas passa a ser

uma necessidade. Logo, o profissional técnico necessita hoje de uma preparação

aprofundada e precisa, não podendo ficar todo o tempo preocupado com o

Page 41: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

19

conhecimento de uso, impossibilitando, por vezes, o desenvolvimento do que é

especificamente humano, nesse sentido, do aspecto reflexivo.

Percebendo a dualidade do conhecimento expresso em Hessen (2003),

apoio-me também em Polanyi (1958), para referir que o conhecimento não é

somente público, mas também pessoal, já que é construído pelos indivíduos,

englobando as suas emoções e paixões.

Ao sustentar que o conhecimento não é privado, mas sim, social, o autor

(op. cit.) pretende enfatizar que este é socialmente construído e se funda sobre a

experiência pessoal da realidade. Em outras palavras, só é possível adquirir

conhecimento quando o indivíduo se encontra em contato direto com situações que

propiciam novas experiências, que são sempre assimiladas a partir dos conceitos de

que o indivíduo já dispõe.

A experiência individual permite adaptar esses conceitos e reinterpretar a

linguagem utilizada. Quando novas palavras ou conceitos são inseridos num sistema

de linguagem previamente existente, eles se influenciam mutuamente, na medida

em que o próprio sistema enriquece os novos conceitos introduzidos.

Para Polanyi (1958), o conhecimento comporta dimensões distintas, tais

como: a técnica, que inclui as competências pessoais e se relaciona com um tipo de

conhecimento profundamente enraizado na ação, bem como, no empenho de um

indivíduo para com um contexto específico, uma arte ou profissão, uma determinada

tecnologia ou um determinado mercado, ou mesmo as atividades de um grupo ou

equipe de trabalho; e a cognitiva que inclui elementos como as intuições, emoções,

esquemas, valores, crenças, atitudes e competências.

Estes elementos, que podemos designar por estruturas cognitivas,

encontram-se incorporados nos indivíduos que os encaram como dados adquiridos,

Page 42: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

20

definindo a forma como agem e se comportam, constituindo o filtro através do qual

percebemos a realidade. Difícil de articular por palavras, a dimensão cognitiva molda

a forma como percebemos o mundo.

Assim, o filósofo Polanyi (1958), explicitou dois conhecimentos: o saber

que (know that) e o saber como (know how), sendo proposta a imagem do

conhecimento como um iceberg. Segundo ele, existem dois aspectos a serem

considerados: o tácito e o explícito. A parte tácita do conhecimento é a de maior

volume, correspondendo à parte submersa do iceberg. A parte explícita,

conseqüentemente, corresponde à parte exposta, cujo volume é muito menor.

O primeiro também pode ser reconhecido como sendo o conhecimento

teórico e, geralmente, está associado com a mente. Em contrapartida, o segundo

está vinculado, comumente, ao corpo e se reconhece como conhecimento prático.

Dentro desta cultura dualista, considerou-se, por muito tempo, que o “saber que” é a

forma mais importante do conhecimento. Uma rápida análise nos currículos

escolares tradicionais mostra como a teoria foi e, em alguns momentos ainda é,

considerada como o conhecimento primordial na humanidade.

Entretanto, ainda que diferentes, nenhuma forma de conhecimento é

menos importante do que a outra, já que ambas são de natureza intelectual. Isso

leva à reflexão de que existem diferentes maneiras de chegar ao conhecimento.

Nesse caminho, o saber, de uma maneira geral, pode ser entendido como aquisição

pessoal de significado, pertinente a um segmento da realidade. Simplificando,

conhecer seria estar alerta e consciente de algo ou de alguma coisa. Sendo assim,

os seres humanos chegam ao conhecimento no transcurso, como conseqüência de

vivenciar qualitativamente a experiência.

Page 43: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

21

Corroborando com o autor (op. cit.), o “saber que” também é conhecido

como explícito, objetivo, teórico e impessoal. Enfatiza a capacidade de estruturar a

experiência por meio de conceitos, causas, efeitos, razões e, finalmente, em

conseqüência, leis científicas universais. Uma de suas características principais é a

objetividade. Este tipo não requer validação por meio da experiência pessoal.

Enquanto isso, o “saber como” pode ser reconhecido sob diferentes

denominações. Pode ser entendido como tácito, subjetivo, prático ou pessoal. É

associado à performance em termos de competência. É reconhecer-se como

possuidor da habilidade de executar uma ação, isto é, é um conhecimento que os

indivíduos não podem explicitar por meio de descrições verbais. Assim, o

conhecimento tácito é conhecimento vivido, em que os indivíduos têm acesso

qualitativo daquilo que estão realizando.

Para o filósofo (op. cit.), a experiência é um processo ativo e, também,

contínuo, que pressupõe um sujeito que experimenta e, por conseguinte, um objeto

experimentado. Sob esta concepção a experiência é em si o ato de conhecer, não é

a interação de entidades separadas, senão uma transação em que ambos aspectos

se constituem em uma nova totalidade. O conhecer, então, é um processo ativo e

consciente, através do qual se busca uma nova unidade de significado. Assim, o

conhecimento é apenas uma possibilidade que surge em um tempo e espaço

específico, sendo histórico e perspectivo. Deve-se enfatizar uma característica a

mais, o conhecimento é falível, não sendo absoluto ou final.

O conhecimento tácito é complexo, desenvolvido e interiorizado durante

longos períodos de tempo, sendo quase impossível de ser reproduzido em um

documento ou em uma base de dados. É precisamente este tipo de conhecimento

que medeia o dia-a-dia dos indivíduos, contendo uma aprendizagem tão pessoal que

Page 44: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

22

as suas regras podem ser dificilmente separáveis da forma como cada indivíduo

age. Por esta razão, sendo experiencial, pessoal, específico e ligado a um dado

contexto, o conhecimento tácito é, pois, mais difícil de formalizar, comunicar e

partilhar com os outros.

Assim, deve-se entender que o pensamento humano acontece dentro da

existência. Para abarcar o significado temos que interiorizar as coisas externas, ou

entrarmos nelas. O significado surge reunindo indícios em nosso próprio corpo ou

fora dele. Não podemos aprender a subir em uma bicicleta memorizando as leis da

física que governam seu equilíbrio.

As leis têm que ser feitas significativamente, tomando-se a bicicleta e

tentando-se as diferentes ações que a mantêm na vertical e que a encaminham para

a direção que queremos. A linguagem da física é menos necessária para a bicicleta

andar do que uma compreensão do equilíbrio, a qual é aprendida fisicamente e

socialmente ao mesmo tempo.

Polanyi (1958) ilustra a necessidade e a insuficiência da linguagem para o

significado com um exemplo sobre como aprendemos a descobrir uma doença

pulmonar através de radiografias. À medida que o estudante presta atenção durante

algumas semanas, examinando casos diferentes, um rico panorama de detalhes

significantes de variações fisiológicas, mudanças patológicas de cicatrizes e sinais

de doença aguda serão gradualmente reveladas. As radiografias começam a fazer

sentido.

No mesmo momento em que ele aprendeu a linguagem da radiologia

pulmonar, também terá aprendido a ver, significativamente, as radiografias. A

Page 45: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

23

experiência imediata do significado da radiografia é coincidente, mas não idêntica à

sua consciência focal que está presente em pensamento. Conhecimento é

consciência focal, aquilo de que estamos conscientes e de que podemos falar. A

compreensão é a integração tácita do conhecimento. Passamos do conhecimento à

compreensão, sem esforço.

Para o autor (op. cit), não podemos formular leis rígidas derivando leis

gerais de experiências individuais, porque cada instância de uma lei diferirá, em

cada particular, de cada outra instância sua. Para formar conceitos de classe

essenciais ao significado, temos que presumir aquele processo indeterminado e

global de compreensão tácita.

Ainda comenta (op. cit.) que, a compreensão tácita não pode ser reduzida

à sua articulação explícita, porque ela pode ser articulada por um número

indeterminado de sistemas de linguagem. Quando o estudante olha uma radiografia,

pode focá-la com a visão de um artista e vê-la em formas de luz e sombras, ou como

um psicólogo, ele pode transformá-la em um borrão. Suas experiências médicas são

parte da compreensão subsidiária que informará o seu foco sobre ela como sendo

uma radiografia.

Cabe apontar as dimensões do conhecimento, em que a epistemologia se

refere à natureza própria do conhecimento. Por exemplo, a diferença explicitada por

Polanyi (1958) entre conhecimento prático e conhecimento teórico. Sendo o

conhecimento prático pessoal, ligado a um contexto particular e, portanto, difícil de

formalizar e comunicar, ao contrário, o conhecimento teórico pode ser formalizado,

sistematizado na linguagem.

Page 46: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

24

Enquanto isso, na dimensão ontológica tem-se que as pessoas são

essenciais para o conhecimento. As organizações não podem conhecer senão pelos

indivíduos. Podem até criar, possibilitar e aumentar as condições necessárias para

que as pessoas criem e inovem conhecimentos que ajudem nos processos, produtos

ou serviços de uma maneira geral.

Como discutido, as sociedades orientadas sob a ótica dualista têm

relacionado o pensar, apenas considerando o conhecimento explícito. Termos tais

como as capacidades intelectuais, as habilidades cognitivas, o processo intelectual,

são alguns exemplos do critério restrito e mentalista aplicado à inteligência. A

verbalização da percepção do mundo constitui, aparentemente, a manifestação

pragmática da inteligência.

O pensamento se reduz e se limita à mente. O intelecto forma idéias e a

capacidade de transmiti-las é reconhecida como a medida da existência positiva de

uma inteligência genuína. Muitas pessoas são capazes de descrever a patinação no

gelo, sem ter executado, em algum momento, a ação de patinar.

Da mesma maneira, muitos indivíduos entendem os princípios que

sustentam uma correta execução do golfe, por exemplo, porém desconhecem como

realizar a tarefa de jogar. Tem-se que, o pensamento é altamente valorizado quando

permite ao indivíduo uma mera descrição de uma ação, e não o fato deste indivíduo

realmente tê-la realizado. Então, lamentavelmente, é o conhecimento explícito e não

o tácito que se favorece em grande parte das situações.

Corroborando com a discussão, é importante enfocar que o homem dispõe

dos sentidos externos, dos sentidos internos e da inteligência. Todas estas

faculdades são qualidades que aperfeiçoam a substância humana; são poderes de

Page 47: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

25

agir, potências ativas, que no início da nossa existência são, na ordem do

conhecimento, puras potências.

Esta abordagem leva a compreender que, mais do que apenas dominar

conteúdos, é preciso aprender a se relacionar com o conhecimento de forma ativa,

construtiva e criadora. Trata-se, portanto, de discutir a relação entre conteúdo e

método, a partir das novas formas de relação entre homem, conhecimento e

trabalho.

Desta forma, associando as reflexões apresentadas ao enfrentamento do

conhecimento novo, o estudo foi desenvolvido a partir da questão norteadora,

ampliada e reformulada, em face de contínuos avanços em termos de dados

coletados e realidades observadas:

Como o enfermeiro, a partir do mundo experiencial, interage com o

conhecimento novo, no contexto de setores especializados?

Em vista a este questionamento, o objeto da presente investigação foi:

O significado da formação profissional do enfermeiro no enfrentamento do

conhecimento novo no contexto de setores especializados.

Com tantas inquietações que surgiram a partir das reflexões traçadas, foi

necessário estabelecer e esclarecer o que realmente considero importante

pesquisar, enquanto pessoa comprometida com a formação em enfermagem. Logo,

procurei definir os objetivos do estudo:

Page 48: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

26

• Descrever expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e

sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro, em setores

especializados.

• Identificar os elementos significativos apreendidos na experiência do

enfermeiro, no enfrentamento do conhecimento novo.

• Discutir, a partir do mundo experiencial, como interage o enfermeiro e o

conhecimento novo, em setores especializados.

• Propor uma teoria explicativa substantiva, relacionando a formação

profissional do enfermeiro com o enfrentamento do conhecimento

novo, em setores especializados.

É importante pontuar, que fui percebendo algumas facetas do estudo, que

precisavam estar elucidadas, como:

- Mesmo sabendo que os aspectos relacionados à experiência do

enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo poderiam estar presentes no

cuidar em enfermagem em qualquer situação, tendo em vista o processo saúde-

doença, restringi os objetivos aos setores especializados, porque esse contexto

propicia um aprofundamento da questão, considerando o conhecimento dotado de

especificidade;

- Ao focalizar o estudo, foi preciso pensar sobre o que acredito e

corroboro, em termos do entendimento sobre a formação e o conhecimento, haja

vista a multiplicidade de explicações e definições a estas palavras associadas, pois,

Page 49: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

27

saliento que a pesquisa como uma atividade social carreia valores, compreensões,

preferências e visões de mundo, que orientam o pesquisador, sendo, portanto,

inocente pensar em total neutralidade científica;

- Também percebi a singular importância da compreensão sobre o

significado da Teoria, principalmente, pensando no último objetivo apresentado para

o estudo, para que o fenômeno, mais abstrato do que tangível, pudesse ser

explicado, de uma forma sistemática, a partir da realidade. Entendendo a realidade

como tudo que existe, em oposição ao que é mera possibilidade. Assim, ficou claro

que as informações oferecidas pelos participantes seria o ponto inicial, a partir do

qual emergiria conceitos, buscando a explicação do fenômeno, à medida que

ocorresse, não como uma forma e uma situação pré-concebida.

Neste ponto, enfatizo que o desejo, a motivação e o anseio que justificam

este estudo tiveram origem em questões que emergiram da minha prática

profissional. Tal situação, em consonância com estudos desenvolvidos na área,

motivou o despertar para o interesse de melhor compreender a relação do

conhecimento com a formação e, ainda, em um contexto que envolve a formação

especializada.

A pesquisa também subsidia um incremento na discussão sobre a

temática formação, possibilitando a ampliação do conhecimento na área de

Educação em Enfermagem11, considerando o número bastante reduzido de estudos

no Brasil. Isso pode ser constatado, a partir de uma pesquisa bibliográfica, realizada

em 2004, apresentada no Congresso Brasileiro de Enfermagem, em Gramado, no

Estado do Rio Grande do Sul.

Do ponto de vista metodológico, privilegiou-se, naquele momento, a

pesquisa quantitativa. De tal modo que, para a coleta de dados foram utilizadas 11 Grifo da Autora.

Page 50: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

28

informações fornecidas pelos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem à

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. As fontes

primárias foram resumos de dissertações e teses, defendidas de 1993 a 2003 e,

ainda, as contidas no Catálogo “Informações sobre Pesquisa e Pesquisadores na

Enfermagem”, da Associação Brasileira de Enfermagem - ABEn/CEPEn, neste

mesmo recorte temporal, a partir dos descritores: educação, educação na

enfermagem, formação e formação na enfermagem.

O universo do estudo constou de 216 resumos, sendo a amostra

populacional constituída de 27 resumos. Os procedimentos adotados incluíram a

leitura analítica dos mesmos e construção de gráficos, a partir de variáveis pré-

definidas.

Os dados dessa pesquisa bibliográfica sugeriram que o assunto vem

sendo estudado na enfermagem, ainda de forma discreta, já que em 216 estudos,

apenas 27 realmente referiam-se, de fato, à formação em enfermagem, definindo um

percentual de 11%. Os demais estudos, um percentual de 89%, apesar de estarem

ligados aos mesmos descritores, não abordavam a temática.

Posteriormente ao estudo exploratório mencionado, devido a uma

solicitação da disciplina “Seminário de Teoria Fundamentada nos Dados”, realizada

como aluna especial do Doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), foram

levantados os dados acerca de estudos publicados nos Estados Unidos. Estes

tiveram como objeto: os estudos com enfoque na formação na enfermagem. Foi

também necessário situá-los de 1993 a 2003.

Privilegiou-se também a pesquisa quantitativa. Para a coleta de dados

foram utilizadas as informações fornecidas pela Biblioteca Virtual em Saúde

Page 51: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

29

(BIREME, OPAS e OMS) sobre resumos de teses e dissertações, respeitando o

recorte temporal mencionado.

As informações obtidas foram analisadas e os resultados apresentados

sugerem que a temática formação vem sendo pouco estudada também nos Estados

Unidos, considerando que foram analisados 108 resumos e, apenas 17 destes

relacionavam-se, de fato, com a discussão, considerando o assunto proposto. Ainda,

dos 17 estudos encontrados, 12 referiam-se ao enfermeiro recém-formado.

Cabe ainda destacar que os estudos que discutiam a formação como um

processo mais totalizante, no que se refere às habilidades e competências do

enfermeiro, utilizaram como referencial teórico às idéias propostas pela autora norte-

americana Patricia Benner, que desenvolve proposições teóricas relacionadas com

aquisição de habilidades desde 1984, discorrendo sobre os enfermeiros novatos,

novatos avançados, competentes, proficientes e especialistas, ainda assim,

pensando a questão com ênfase em seu modelo e na realidade do seu país.

Por conseguinte, o estudo proposto para o Doutoramento mostra-se

dotado de significativa originalidade, já que enfermeiros, ainda que não apenas

recém-formados, podem experienciar o conhecimento novo em uma condição de

iniciante ou novato.

A este ponto, não poderia deixar de mencionar, segundo Delors (1999, p.

89-90), a necessidade de uma aprendizagem ao longo de toda a vida, fundamentada

em quatro pilares, que são, concomitantemente, do conhecimento e da formação

contínua. Assim, o objeto da Tese também se preocupa com o processo de

desenvolvimento das aprendizagens fundamentais que, são de algum modo para

cada indivíduo, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer, isto é adquirir os

instrumentos da compreensão; aprender a fazer, no sentido de agir sobre o meio

Page 52: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

30

envolvente; aprender a viver juntos e aprender a viver com os outros, a fim de

manter uma participação e um desenvolvimento coletivo; aprender a ser, que integra

os três precedentes. Esses relatados a seguir:

Aprender a conhecer, Delors (op. cit, p. 90-92), revela a aprendizagem que

visa não somente um conjunto de saberes codificados, mas por assim dizer, o

domínio dos próprios instrumentos do conhecimento, que pode ser compreendido

como um meio e como uma finalidade da vida humana. Nessa perspectiva, meio por

que se deseja que cada um aprenda a compreender o mundo que o cerca, pelo

menos à medida que isso seja necessário para a vivência digna, para desenvolver

as suas capacidades profissionais e para estabelecer a comunicação. Enquanto

que, também é finalidade, pois o seu fundamento é o prazer de compreender, de

conhecer e de descobrir.

Desse modo, o aumento dos saberes que propicia a compreensão do

ambiente, sob seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade

intelectual, estimula o senso crítico e permite compreender o real, tendo em vista a

aquisição de autonomia para poder discernir.

Aprender a fazer, Delors (op.cit, p. 93-96), aprender a conhecer e

aprender a fazer são, em larga medida, inseparáveis. No entanto, a segunda

aprendizagem está mais associada à questão da formação profissional. Aprender a

fazer não pode continuar a ter o significado singelo de preparar alguma pessoa para

a realização de uma tarefa material bem determinada.

De tal modo, as aprendizagens devem evoluir e, não podem mais ser

consideradas como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras,

Page 53: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

31

apesar destas conterem um valor formativo que não se pode desprezar. Nesse

contexto, qualidades como a capacidade de comunicar, de trabalhar com os outros,

de gerir e resolver conflitos são cada vez mais importantes.

Aprender a viver juntos, Delors (op.cit, p. 96-98) representa atualmente um

dos mais significativos desafios da educação, já que o mundo atual é,

repetidamente, um mundo de violência que faz oposição à esperança cultivada por

alguns na humanidade. Parece que a educação deve utilizar duas vias

complementares: a descoberta progressiva do outro e a participação em projetos

comuns.

Portanto, tendo como missão desenvolver conhecimentos sobre a

diversidade da espécie humana, levar as pessoas a tomar consciência das

semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta. De

fato, passando à descoberta do outro, necessariamente, pela descoberta de si

mesmo. Aliás, uma nova forma de identificação nasce dessa visão de mundo, no

sentido de ultrapassar as rotinas individuais em prol da valorização daquilo que é

comum e, não as diferenças.

Aprender a ser, Delors (op.cit, 99-100), exprime o temor acerca de um

mundo desumano relacionado à evolução técnica. Portanto, essa aprendizagem

preocupa-se com a realização completa do homem, no que concerne a sua riqueza

e a complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo,

cidadão, membro de uma família e de uma coletividade, dentre muitos aspectos.

Este desenvolvimento do ser humano, que acontece desde o nascimento

até à morte, é um processo dialético que se inicia através do conhecimento de si

Page 54: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

32

mesmo para se abrir, em um segundo momento, à relação com o outro. Não

obstante a isso, a educação é uma busca interior, que corresponde ao

amadurecimento contínuo da personalidade.

De tal modo, de acordo com Delors (op. cit, p. 92):

O processo de aprendizagem do conhecimento nunca está acabado, e pode enriquecer-se com qualquer experiência. Neste sentido, liga-se cada vez mais à experiência do trabalho, à medida que este se torna menos rotineiro. A educação primária pode ser considerada bem-sucedida se conseguir transmitir às pessoas o impulso e as bases que façam com que continuem a aprender ao longo de toda a vida, mas também fora dele.

De fato, pilares que não podem dissociar-se, constituindo-se em uma

complexa interação, com a finalidade de uma formação holística do indivíduo. Com

base nessa visão, é possível prever grandes conseqüências no processo da

formação, que por muito tempo esteve voltada apenas para a absorção formal de

conhecimento. Nesse sentido, caberá um entendimento mais abrangente, dando

lugar a ensinar a pensar, a ter boa comunicação, a desenvolver a pesquisa, a ter

raciocínio lógico, a fazer sínteses, a desenvolver elaborações teóricas, enfim a ser

socialmente competente.

Meu intuito, portanto, é que o resultado da Tese de Doutorado seja uma

proposta teórica pertinente à formação do enfermeiro em setores especializados,

baseada na experiência singular e real desses profissionais. Além disso,

conhecendo os significados dos enfermeiros, é possível definir uma linha de

pensamento, à luz das interpretações, para a construção de uma teoria que possa

contribuir, para o rol de conhecimento na enfermagem, em que se pense

cuidadosamente no conceito de formação.

Page 55: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

33

Também almejo, ao término deste estudo, contribuir para o fortalecimento

do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício profissional em

Enfermagem (NUPEGEPEn) e para o fortalecimento da Linha de Pesquisa

Educação em Enfermagem, a partir da apresentação da Tese e dos constructos que

possam desta emergir.

Pensando sobre isso, Trentini (1987, p. 136) refere:

... conceitos que não podem ser claramente observados direta nem indiretamente, mas podem ser inferidos a partir de conceitos observáveis, como por exemplo, sentimento, são classificados dentro do mais alto nível de abstração e são chamados de constructos.

A explicitação deste tipo de formação poderá levar a descobertas

importantes tanto para o cenário em estudo, quanto para outras instituições, no

sentido de uma apreciação sobre a interação dos enfermeiros com o conhecimento

novo em setores especializados. O entendimento sobre formação destaca a

capacidade de saber pensar e de aprender a aprender. Trata-se da formação como

um processo de desenvolvimento integral do indivíduo, ao longo de toda a sua vida.

Em consonância com os delineamentos acima, o estudo propõe uma

aproximação com o mundo experiencial dos enfermeiros, no seu próprio cotidiano,

compreendendo as suas expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e

sentimentos, tendo a possibilidade de avançar em termos de pesquisa, extrapolando

o que até então, foi exteriorizado.

Page 56: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

34

VIVENDO NOVOS DESAFIOS

Page 57: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

35

CAPÍTULO II

APRESENTANDO O ENFOQUE TEÓRICO

O saber teórico é o saber puro, desinteressado, sem a preocupação de uma aplicação prática ou imediata (JAPIASSÚ & MARCONDES, 1996, p.260).

Neste capítulo apresento de forma geral os principais conceitos da

perspectiva teórica interacionista simbólica. A escolha dessa abordagem se deu

devido a minha busca pelo entendimento do significado do fenômeno,12 a partir da

compreensão do aspecto intersubjetivo da experiência dos enfermeiros iniciantes,

inseridos em um mundo social.

De acordo com Coulon (1995, p.19), o Interacionismo Simbólico teve uma

profunda influência na Sociologia de Chicago. As suas raízes filosóficas encontram-

se no pragmatismo de John Dewey, iniciado por Charles Peirce e William James,

mas foi desenvolvido principalmente por George Mead. Como refere o nome, o

interacionismo simbólico sublinhou a natureza simbólica da vida social.

Para o mesmo autor (op. cit, p. 20), George Mead é considerado como o

inspirador do interacionismo simbólico, apesar da expressão só ter sido usada pela

primeira vez em 1937, por Herbert Blumer. Dessa forma, desejando realizar a

síntese entre a abordagem individual e a macrossociológica, acreditou que a noção

de ‘si’ podia cumprir esse papel, contanto que o ‘si’ fosse entendido como a

interiorização do processo social pelo qual os grupos de indivíduos interagem com

outros.

Ainda menciona (op. cit, p.20) que o agente aprende a construir o seu ‘si’ e

o dos demais, graças à interação. Pode a ação individual ser considerada como a

12 Destaque da autora.

Page 58: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

36

criação mútua de vários ‘si’ em interação. Dessa forma, os ‘si’ adquirem um

significado social, tornam-se fenômenos sociológicos, constituindo a vida social. O

estudo sociológico deste mundo social deve analisar os processos pelos quais os

agentes determinam suas condutas, com base nas interpretações do mundo que os

rodeia.

Cabe salientar, tendo em vista Bazili et al (1998, p.48), que Mead

escreveu, no período de 1894 a 1931, aproximadamente sessenta artigos, em

muitas áreas, como: física, psicologia, sociologia, filosofia e outras. Já seus livros

somente foram publicados após a sua morte, fruto das anotações de seus ex-alunos,

particularmente, Charles Morris, editando e prefaciando: Mind, Self and Society,

considerada a sua principal obra. É nela que podem ser encontrados os

fundamentos das idéias propostas por Mead.

De acordo com Blumer (1969, p. 2), em última análise, o interacionismo

simbólico possui três premissas básicas: a primeira premissa é que o ser humano

age com relação às coisas a partir do sentido que essas mesmas coisas têm para

ele e, incluem: seres humanos, objetos, instituições e outras situações encontradas

na vida cotidiana; a segunda premissa é que o significado de cada coisa é derivado,

ou surge, da interação social que alguém estabelece com os seus companheiros; a

terceira premissa é que esses significados são manipulados e modificados tendo em

vista um processo interpretativo usado pela pessoa ao tratar das coisas com que ela

se depara.

O autor (op. cit, p. 3) ainda comenta que ao contrário do encontrado em

outras abordagens, o interacionismo simbólico dá uma importância fundamental ao

sentido que as coisas têm para o comportamento humano. Além disso, também se

Page 59: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

37

diferencia por entender o sentido como emergindo do processo de interação entre as

pessoas.

É importante ter em mente que o interacionismo simbólico dá lugar teórico

ao agente social, colocando-o como intérprete do mundo que o rodeia e, por

conseguinte, pondo em prática métodos de pesquisa, priorizando os pontos de vista

dos agentes. O objetivo do emprego desse referencial é levantar as significações

que os agentes definem na prática para a construção de seu mundo social.

Compreendo dessa forma, que esses conceitos levam ao entendimento do

que seja interação social, isto é, as pessoas são vistas como agentes sociais que se

relacionam e se interpretam um ao outro. A interação social é marcada pela ação

social. As pessoas agem de acordo com a forma de sua interpretação da situação. A

interação simbólica envolve a interpretação e a comunicação, ocorrendo entre as

pessoas envolvidas.

Nessa discussão, pensando agora em alguns aspectos importantes para a

compreensão do interacionismo simbólico, de acordo com Blumer (1969, p.6), a

sociedade humana é representada por pessoas que interagem. Assim, os grupos

humanos existem em ação e, por conseguinte, devem ser vistos em termos de ação.

A vida do grupo implica em interação entre os membros do grupo, isto é, a

sociedade consiste em indivíduos interagindo uns com os outros.

Para Mead (1962, p.230), o organismo social se fundamenta na atividade

cooperativa. Ocorre a associação humana quando cada ator individual percebe a

intenção das atitudes dos outros e, então constrói a sua própria resposta, tendo em

vista a intenção percebida. Para ocorrer cooperação entre os seres humanos, é

necessário que alguns mecanismos estejam de fato presentes, de forma que cada

Page 60: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

38

agente social possa compreender as ações dos outros; e assim, direcionar o seu

próprio comportamento a partir dessas linhas de ações.

Considerando Bazilli et al (1998, p. 33-34), a sociedade pode ser

compreendida como um tecido de comunicação. Na perspectiva da interação

simbólica não é possível entender o homem sem a sociedade e vice-versa. Os dois

nascem da unidade simbólica da interação. Isso significa a impossibilidade de

explicar um sem a existência do outro. Ao mesmo tempo, marca a necessidade da

busca pelo entendimento de ambos, mediante a interação e as resultantes

simbólicas.

Em consonância, Blumer (1969, p.82) refere que a sociedade humana é

composta de indivíduos que têm selfs (eles fazem indicações para si mesmos). A

ação individual é construída. A ação grupal ou coletiva consiste no alinhamento de

ações individuais, a partir das interpretações que os indivíduos fazem com relação

às ações dos outros. A sociedade deve ser compreendida como versando de

pessoas em ação, por conseguinte, a vida da sociedade como sendo caracterizada

por suas ações. As unidades atuantes podem ser indivíduos separados, ou ainda, a

coletividade, tendo em vista a ação conjunta de seus membros.

O autor (op. cit, p. 85) também aponta que a ação comum ocorre de

acordo com o lugar e com a situação. Toda unidade de ação: indivíduo, família,

instituição, entre outros, é realizada tendo em vista uma situação específica. A ação

é construída através da interpretação da situação, consistindo na vida grupal de

unidades de ação, haja vista o desenvolvimento de ações para enfrentar a realidade

a qual estão inseridas.

Sobre a concepção do homem, Bazilli et al (1998, p. 34-35) afirmam que,

no interacionismo simbólico, permanece uma concepção otimista de homem ativo e,

Page 61: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

39

também, mentalizado. Um homem cognoscente, pensante, que mantém uma

conversa interna e externa, por meio de símbolos. Em geral, a idéia de homem

estaria pautada nas seguintes características: possui uma mente que pode escolher

o curso de ação na tentativa de resolução dos problemas; o conteúdo das escolhas

pauta-se na experiência subjetiva da pessoa; o comportamento do homem mantém

um grau de indeterminação, não sendo possível definir e predizer totalmente como

ocorrerá no decorrer da interação; o homem constrói a interação social no próprio

processo da interação; a experiência subjetiva integra o comportamento.

No que se refere à mente, Mead (1962, p. 47-48) afirma que se trata de

um processo o qual se manifesta quando o indivíduo interage consigo mesmo,

usando símbolos significantes. O autor considera fundamental a questão fisiológica

do organismo, para o desenvolvimento da mente. É através dela que a gênese da

mente torna-se possível, tendo em vista os processos sociais de experiência e

comportamentos, a partir de interações e relações sociais.

Ainda para o autor (op. cit, p. 49-50), a significância ou sentido tem origem

social. A mente é social tanto em sua origem como em sua função, pois surge do

processo de comunicação. Assim, o organismo humano seleciona os estímulos que

são relevantes para as suas necessidades e para os seus desejos, rejeitando outros

que ele considera irrelevantes. Todo comportamento associa-se em uma percepção

seletiva de situações. Sendo assim, a percepção não pode ser concebida como uma

mera impressão de alguma coisa exterior ao indivíduo.

No que se refere à interação social, para Bazilli et al (1998, p. 35):

A interação é o espaço, a unidade que possibilita o self e a sociedade, por meio da interação e da simbolização, se gerem ambos, se mantenham ou mudem permanentemente. A interação social é, pois, o que possibilita uma ‘realidade negociada’, um dos postulados básicos do interacionismo simbólico.

Page 62: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

40

A respeito do processo de socialização, os autores (op. cit, p. 36) dizem

que, quando fazemos parte de um grupo novo, de alguma forma de organização de

caráter social, de novos padrões de interação, bem como quando é desejada

alguma forma de transformação ou mudança social, inicia-se um processo de

socialização para criar e delimitar os símbolos dessa interação. Assim, uma pessoa

é considerada socializada, em parte, pelo fato de responder às expectativas das

outras pessoas e na experimentação de papéis no processo geral da interação,

portanto, tratando-se de um processo de socialização. Esta socialização é um

processo contínuo que ocorre ao longo de toda a vida.

No que se refere ao conceito de significado, esses mesmos autores (op.

cit, p. 37-38) enfocam que é, de fato, um entendimento fundamental na conceituação

do interacionismo simbólico. Logo, para o interacionismo, o significado é produto da

interação social, sendo direcionado e modelado por ela. Ao mesmo tempo, também

é entendido como sendo uma entidade independente, modelando o curso da

interação. Quer dizer, o significado está diretamente associado ao ato, que se dá na

interação.

Continuando a discussão, concordo com os autores (op. cit, p. 38) quando

dizem que é preciso refletir sobre os símbolos e os significantes, já que estes

permeiam o processo de interação, podendo ser compreendidos como produto da

forma como as pessoas reagem aos símbolos considerando os seus significados,

que elas entendem como possibilidades para o seu próprio comportamento, e

também, para o comportamento dos outros.

Sobre o self, é importante apresentar que, de acordo com Mead (1962,

p.194-196), ele representa um processo social no interior do indivíduo envolvendo

Page 63: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

41

duas fases: o eu e o mim13. Dessa maneira, o mim é representado pelo outro

presente no indivíduo, compreendendo o conjunto organizado de atitudes comuns

ao grupo. O mim, portanto, sendo entendido como o outro generalizado. Enquanto

que, o eu é a tendência espontânea e desorganizada da experiência.

Em consonância, Blumer (1969, p.12) discorre que, para ser capaz de

interagir, o ser humano conta com o self. Não responde apenas aos outros, mas a si

mesmo, ou seja, o ser humano como objeto de suas próprias ações. Com o intuito

de tornar-se um objeto, a pessoa deve ver-se a si mesmo de fora, colocando-se no

papel dos outros.

Bazilli et al (op. cit, p. 40-41) refere o self como sendo uma entidade

social, gerada e mantida, considerando o processo interativo; auto-reflexiva,

associada ao pensamento, voltada para a resolução de problemas; a partir de uma

realidade fenomênica, sem localização física ou biológica; como opções múltiplas de

aparecer na interação social; e ainda, composta de duas fases que são o eu e o

mim.

Haguette apud Mead (1999, p. 29), refere que:

Ao afirmar que o ser humano possui um self, Mead quer, enfatizar que, da mesma forma que o individuo age socialmente com relação a outras pessoas, ele interage socialmente consigo mesmo. Ele pode tornar-se o objeto de suas próprias ações. O self, assim como outros objetos, é formado através das ‘definições’ feitas por outros que servirão de referencial para que ele possa ver-se a si mesmo.

Retomando as reflexões de Bazilli et al (1998, p.60), a comunicação

proporciona a expressão de parte do self. A comunicação permite a representação

do pensamento e do sentimento, porém não em sua totalidade. Algumas vezes, a

atenção volta-se para essa totalidade, num tipo de conversa interna, que é então,

13 Grifos da autora.

Page 64: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

42

traduzida em uma conversa externa, quando se elucida o que, de fato, se deseja e

se quer.

Para esclarecer a diferença entre self e os objetos do meio e do próprio

corpo, os autores (op. cit, p.60-61) com base em Mead (1972), acrescentam que a

consciência pode ser dividida em consciência da experiência imediata e consciência

da experiência reflexiva, associada à forma com que o indivíduo organiza a sua

própria experiência.

Ainda para os autores (op. cit, p. 61-62), a maior parte das reações

habituais do organismo está baseada na experiência imediata, isto é, essas

experiências relacionam-se às atividades que não exigem o pensamento complexo,

como, por exemplo, tomar banho e trocar de roupa. Já o processo envolvido na

consciência reflexiva, pode ser compreendido como um movimento do particular

organizado e reorganizado, a partir do coletivo. Da mesma forma que o indivíduo é

transformado, também tem o potencial de transformar o outro e a sociedade como

um todo. Está então associada à natureza social do self, bem como a noção de

subjetividade.

Para Charon (1989), quando o indivíduo volta-se para a compreensão da

razão para a ação dos outros e alinha a sua razão àquela identificada, reitera o fluxo

da ação humana, porque um ato desencadeia outro, tendo como baliza as decisões

tomadas. Esse fluxo permite interpretar o que o ser humano é, pelo que faz, já que a

definição da situação encaminha o curso da ação. A tomada de consciência tendo

em vista as interações é uma qualidade interdependente da capacidade de assumir

o papel do outro. Atividade esta muito importante para a mente, no sentido de viver a

sua própria perspectiva e assumir a perspectiva do outro.

Page 65: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

43

Ainda para esse mesmo autor (op. cit.), os conceitos para o interacionismo

simbólico surgem da interação, são parte dela e permitem o entendimento de sua

natureza, isto é, quando interagimos somos objetos sociais uns para os outros.

Usamos símbolos, direcionamos o self, tomamos decisões, visualizamos

possibilidades e perspectivas, definimos realidades e assumimos o papel do outro.

À luz do mesmo autor (op. cit.), quatro aspectos decorrentes dessa

abordagem precisam ser enfatizados: o interacionismo simbólico possibilita uma

imagem mais ativa do ser humano e não sublinha a imagem deste como um ser de

passividade; os indivíduos interagem e a sociedade se destaca, exatamente por ser

definida no bojo dessa interação; o ser humano é compreendido como ser que se

manifesta no presente, não somente baseado em experiências passadas, mas

também considerando o que está acontecendo no agora. A interação acontece

nesse momento.

A interação não é apenas o que acontece entre as pessoas, haja vista que

também é representada por aquilo que acontece dentro das pessoas. Embora as

situações possam ser definidas e influenciadas por aqueles com quem interagimos,

ela é também resultado de nossa própria interação, isto é, considerando uma

consciência auto-reflexiva, pois, para o interacionismo, o ser humano é livre naquilo

que faz e em suas escolhas, bem como, pode participar da definição do mundo

social, envolvendo: o escolher consciente, a direção tomada frente às situações

vividas, a identificação de ações e o redirecionamento destas.

Corroborando com o apresentado, a partir das idéias expressas por

Haguette (1999, p.57-58), destaco do interacionismo simbólico que:

- A sociedade é entendida como uma entidade composta de indivíduos,

tendo como fundamento o compartilhar de sentidos, a partir de expectativas e

Page 66: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

44

compreensões comuns; o processo de interação é dinâmico, variando tendo em

vista as diferentes realidades enfrentadas pelos indivíduos; a sociedade é, portanto,

constituída de pessoas em ação; é através do processo interativo que se estabelece

à vida em grupo, em que pese à criação de regras, que podem ser mantidas ou

modificadas.

- A ação grupal ou coletiva compreende unidades de ação, no que se

refere ao enfrentamento de situações na qual estão inseridas. Estas, percebidas de

forma seletiva, a partir dos sentidos que as coisas fazem para aquela unidade de

ação, e que são conseqüência da interação. A vida em grupo representa um

processo de formação, sustentação e transformação dos objetos, os quais se

modificam através da interação, interferindo no mundo das pessoas.

- O ser humano age com relação às coisas tendo como base os sentidos

que elas têm para o mesmo. Os sentidos são manipulados tendo em vista a

interpretação, onde existe a interação dos indivíduos consigo próprios usando os

símbolos significantes. Para compreender o sentido das ações das pessoas, é

importante que exista interação entre as partes. Da mesma forma, os indivíduos se

percebem a partir da forma como os outros o vêem, elaborando as suas próprias

definições da situação, que vão permear e influenciar a forma como conduz a sua

vida.

- A realidade existe apenas na experiência humana, isto é, são os

aspectos objetivos e subjetivos observáveis que compõem a realidade concreta. Ela

aparece a partir da forma como os seres humanos vêem o mundo.

Page 67: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

45

Portanto, na perspectiva interacionista14, foi possível refletir sobre a

situação estudada, associando o referencial teórico ao objeto proposto na tese, em

que se destaque:

O enfermeiro iniciante ou novato age, em relação ao enfrentamento do

conhecimento novo, em setores especializados, baseado-se no significado do que o

novo, nessa situação, tem para ele;

O significado dado ao conhecimento novo pelo enfermeiro, é

conseqüência da interação com os elementos significativos da experiência

fenomênica na situação vivenciada;

O significado atribuído ao conhecimento novo também sofre a influência

da consciência reflexiva, na qual o enfermeiro utiliza um processo interno de auto-

reflexão para interpretar as suas ações e as ações das outras pessoas,

relacionando-as nas interações que vão sendo estabelecidas;

O enfermeiro carrega consigo expressões, valores, crenças e

sentimentos, que influenciam na trajetória dos significados das interações para todos

os envolvidos, tendo em vista a situação do enfrentamento do conhecimento novo;

Os atributos relacionados ao enfrentamento do conhecimento novo são

simbólicos, interferindo na forma de posicionamento frente à realidade.

14 Grifo da autora, para enfatizar que as reflexões estão ancoradas nas proposições interacionistas. A manutenção do destaque da autora nos itens relacionados faz referência direta às expressões marcantes do interacionismo simbólico.

Page 68: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

46

O interacionismo é, por conseguinte ao delineado, uma ferramenta teórica

que permite o entendimento do fenômeno de uma forma mais abrangente, revelando

o significado que os enfermeiros atribuem para o enfrentamento do conhecimento

novo.

Assim, em busca de fornecer apoio teórico para a Teoria Fundamentada

nos Dados15, o Interacionismo Simbólico, a partir de suas idéias, vem ajudando na

compreensão da simbologia expressa pelos agentes sociais, no que tange à

proposição da Teoria ao final do estudo.

15 Será com detalhes abordada no capítulo que segue.

Page 69: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

47

CAPÍTULO III

TRILHANDO NOVOS CAMINHOS METODOLÓGICOS

Ao introduzir a questão do método, costumamos lembrar que a

palavra deriva do latim methodus, significando caminho através do qual se procura chegar a algo ou um modo de fazer algo (TURATO, 2003, p. 149).

A escolha por um referencial metodológico foi um dos mais importantes

desafios deste estudo, haja vista a busca por uma proposta inovadora que

valorizasse, ao máximo, a experiência do enfermeiro, no enfrentamento do

conhecimento novo. Assim sendo, optei pela abordagem qualitativa, tendo como

método à “Grounded Theory”, em português, traduzida como Teoria Fundamentada

nos Dados (TFD).

Além disso, após refletir sobre muitos métodos de pesquisa e, portanto,

diferentes possibilidades metodológicas, pensei que a abordagem da TFD poderia

ser bastante apropriada para este estudo, porque busca entender com profundidade,

através de uma análise sistemática, os processos nos quais estão acontecendo os

fenômenos.

Segundo Strauss e Corbin (1990, p.24), a TFD é uma pesquisa qualitativa

que utiliza um método sistemático, com a finalidade de construir uma Teoria, com

base nos dados investigados, para elucidar um determinado fenômeno presente na

realidade. Foi desenvolvida por dois sociólogos, Barney G. Glaser e Anselm L.

Strauss.

De acordo com os autores (op.cit, p.24-25), Anselm Strauss tem a sua

origem na Escola de Chicago, marcada por uma importante tradição em pesquisa

qualitativa e, não obstante isso, também tendo sido fortemente influenciado pelo

Page 70: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

48

Interacionismo Simbólico16. Strauss foi inspirado por estudiosos como: Robert E.

Park, W. I. Thomas, John Dewey, G. H. Mead, Everett Hughes, e Herbert Blumer.

Enquanto que Glaser tem a sua origem na Universidade de Columbia, tendo sido

influenciado por Paul Lazarsfeld, estudioso de métodos quantitativos. Ambas

Chicago e Columbia trabalhavam para o desenvolvimento de pesquisas qualitativas

voltadas para o desenvolvimento de teorias, por essa razão, muito dos escritos da

TFD emergiram da colaboração entre Glaser e Strauss, incluindo a monografia

original.

Corroborando com o exposto, Polit, Beck e Hungler (2004, p.208-209),

referem que a TFD foi desenvolvida por volta de 1960, com raízes teóricas no

Interacionismo Simbólico, que se preocupa com o estudo dos processos e estruturas

sociais, bem como a maneira pela qual as pessoas dão sentido às interações sociais

e às interpretações que atribuem aos símbolos sociais. O enfoque é a evolução da

experiência social. A finalidade essencial é gerar explicações abrangentes dos

fenômenos fundamentadas na realidade.

De acordo com Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.76), a TFD poderia ser

compreendida como uma variante dentro do interacionismo simbólico que também

poderia incluir a etnografia. Dessa maneira, ficam elucidadas, as suas raízes,

voltadas, segundo a perspectiva do interacionismo simbólico, em face da

importância dada ao conhecimento acerca da percepção ou do significado que estão

determinados na situação estudada.

Ainda sobre as origens da TFD, Santos e Nóbrega (2002, p. 576)

afirmam que:

...Strauss foi influenciado pelo interacionismo simbólico e pelos trabalhos de W. I. Thomas, G. H. Mead e Herbert Blumer. Glaser, a partir de uma perspectiva mais teórico-quantitativa,

16 Apresentado no capítulo anterior.

Page 71: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

49

desenvolveu uma apreciação para o pensamento reflexivo, métodos sistemáticos de categorização e generalizações teóricas. Nesse aspecto, recebeu a influência do interacionismo simbólico na compreensão da realidade social.

Sobre a questão da construção de uma teoria, Cassiani, Caliri e Pelá

(1996, p.78), descrevem que conhecida como uma abordagem, ou ainda, como um

método, trata a TFD de um modo característico e peculiar de construir uma teoria a

partir dos dados. Isso através da análise qualitativa podendo trazer conhecimentos

novos para a área do fenômeno.

Assim, a TFD é uma metodologia qualitativa eminentemente de campo,

que tem como finalidade gerar constructos teóricos que explicam uma dada ação

contextualizada socialmente. O investigador procura processos que estão

acontecendo na cena social, considerando a importância dos agentes sociais,

partindo de uma gama de possibilidades em termos de hipóteses que, unidas e

articuladas, podem explicar o fenômeno.

Penso que seja interessante acrescentar, ainda à luz dos pensamentos de

Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.79) que a TFD está assentada nos dados, conforme

referido anteriormente, não em um corpo dado de teoria, embora possa abarcar

outras teorias, não se propondo a questionar, mas sim acrescentar novas

possibilidades teóricas, que possam ajudar na compreensão da realidade estudada.

Reafirmo o exposto, em consonância com Santos e Nóbrega (2002, p.

576), que referem:

O propósito da grounded theory é a construção de uma teoria com base nos dados investigados em um determinado objeto da realidade que são obtidos de maneira indutiva e dedutiva. Em seguida, esses dados são firmados em categorias conceituais que, ao serem estabelecidas, podem explicar o fenômeno. Os comportamentos são estudados ao nível simbólico e interacional e devem ser observados no ambiente, tendo em vista que os significados são derivados da interação social.

Page 72: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

50

Bettinelli (2002, p. 34) acrescenta que as teorias geradas podem ser

consideradas formais ou substantivas, sendo que estas são desenvolvidas em áreas

de pesquisa empírica. As formais existem no nível conceitual de interrogação,

explicando um dado processo que transcende e deriva de várias teorias

substantivas.

Ainda para melhor entendimento do que seja Teoria, Trentini (987, p.135-

136), diz:

Em situações diárias, o termo teoria é, geralmente, usado para designar uma crença ou uma idéia. Teoria é também um termo popularmente usado para denominar o oposto à prática. (...) O termo teoria tem também uma outra conotação a qual designa a teoria como sendo um componente do conhecimento científico. Dentro desta concepção, teoria é caracterizada pela sua construção, a qual requer o uso de um método próprio.

A mesma autora (op. cit, p. 138) discorre sobre os níveis de teoria,

destacando que existem diferenças entre elas. O primeiro nível de teoria seria a

meta-teoria, que trata de assuntos filosóficos e metodológicos. Na enfermagem,

consistiriam em teorias em torno da enfermagem enquanto ciência e da necessidade

e estratégias de desenvolvimento de teorias de enfermagem. O segundo nível de

teoria seria aquela considerada de grande porte. Esta apresenta maneiras globais de

entender um fenômeno e oferece perspectivas para a prática de um modo

abrangente. O terceiro nível seria a teoria de médio porte, que é mais limitada

considerando a sua abrangência do que as teorias de grande porte. O quarto nível

consiste na teoria de pequeno porte, menos ainda abrangente.

Trentini (op. cit.) também suscita que:

Uma teoria de grande porte como, por exemplo, a teoria de enfermagem de Roy, descreve e explica o fenômeno de enfermagem, e como o conceito de enfermagem é amplo, esta teoria pode ser aplicada a qualquer sub-área da enfermagem e para qualquer assistência de enfermagem. Uma teoria de médio porte, como, por exemplo, à teoria do stress de Selye, é menos abrangente do que a teoria da enfermagem de Roy, isto porque só é aplicada à situação de stress.

Page 73: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

51

Além disso, sobre os mecanismos de indução e de dedução, de acordo

com Rudio (1986, p.12-13): a indução consiste em uma operação mental em que a

partir de fatos observados na realidade empírica, chega-se a uma proposição geral,

que é uma condensação de conhecimento, determinando como os fatos acontecem

e são regidos. Enquanto que a dedução é uma forma de raciocínio em que se parte

dos princípios para conseqüências lógicas, ou seja, do geral para o menos geral ou

particular.

Para Santos e Nóbrega (2002, p. 576) a Grounded Theory fornece

explicações de como os eventos ocorrem e, dessa maneira, ajudam os enfermeiros

a explorarem os dados com maior riqueza e em contextos relativamente

desconhecidos, permitindo o entendimento interpretativo do que estão fazendo.

No que tange à epistemologia do saber da enfermagem, cabe enfocar

considerando as autoras (op. cit.), que o saber requer o entendimento da prática, já

que a enfermagem baseia-se nela, de tal forma, que o conhecimento deve alcançar

desde a vivência do enfermeiro até uma construção sistemática do conhecimento.

Desse modo, surge assim a reflexão, de que a Grounded Theory estaria voltada

para o conhecimento da percepção ou do significado que um objeto tem para o

outro, portanto, trata-se de um modo de pesquisa interpretativa.

A teoria, tendo em vista os lineamentos de Reiners (1998, p. 371), é

construída “a partir de conceitos indicados pelos dados (categorias) e através de

relações hipotéticas feitas entre eles”. Sendo assim, as categorias são reveladas a

partir da visão real dos sujeitos envolvidos no estudo, não sendo baseadas em

questões preestabelecidas e fechadas.

Para tanto, na TFD é necessário que o pesquisador esteja sensível aos

dados, evitando o que é considerado óbvio, aberto a novas possibilidades,

Page 74: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

52

considerando a compreensão da realidade, dando margem a movimentos de

perspicácia, imaginação e criatividade, não perdendo o cuidado com a manutenção

do rigor metodológico, a despeito disso, a cientificidade, que é então exigida.

Strauss e Corbin (1990, p. 41-42) referem que a TFD exige sensibilidade

teórica, ou seja, uma qualidade pessoal do pesquisador, que pode ser desenvolvida

durante o próprio processo de pesquisa. Pode ser entendida como uma capacidade

do pesquisador em ter idéias, que os mesmos chamam de “insight”, dando

significado aos dados. Além disso, destaque para a capacidade de entendimento,

separando o que é pertinente, daquilo que não é. O pesquisador consegue, portanto,

a partir de uma profunda análise dos dados, compreender aquilo que existe na

realidade, com base na experiência dos pesquisados.

Para os mesmos autores (op. cit, p. 42-43), a sensibilidade teórica é

desenvolvida considerando alguns aspectos, como: o conhecimento de literaturas,

que inclui teorias, pesquisas e diversos outros tipos de documentos, propiciando

uma visão mais abrangente das coisas, o que chamam de ”backgrounded”; a

experiência profissional, em que pese o conhecimento adquirido e apreendido

relacionado a esta; e ainda, a experiência pessoal, como sendo também uma

importante fonte de sensibilidade.

Quanto à amostragem teórica, de acordo com Glaser e Strauss (1967,

p.35), é o tipo de coleta de dados utilizada na TFD. Nela o investigador coleta,

codifica e analisa os dados, decidindo quais deverão coletar a seguir, assim como,

onde encontrá-los. A intenção desse tipo de amostragem é selecionar incidentes

que possam ajudar no desenvolvimento das categorias, haja vista a manifestação

através dos dados. Os autores explicam que, o procedimento de amostragem

Page 75: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

53

teórica deve ter um caráter contínuo, até que os dados comecem a se repetir, ao

que denominam de saturação teórica.

No que se refere à coleta de dados empíricos17 na TFD, optei como

instrumentos para apreensão dos fenômenos: a observação, que considero ser vital,

corroborando com as premissas levantadas pelo interacionismo simbólico; e a

entrevista semi-estruturada, a partir de uma proposta de interação em profundidade.

De acordo com Lacerda (2000, p.38), na TFD, os dados:

Podem ser coletados segundo técnicas de entrevistas e métodos observacionais. Dados adicionais podem advir de documentos e publicações e são examinados e analisados conforme um sistema de constante e exaustiva comparação.

A respeito da observação, optei pela participante assistemática, já que

possibilita, consideravelmente, a compreensão da realidade através do contato

pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, bem como, a

exaustiva busca de informações, o que representa uma série de vantagens para a

pesquisa, até mesmo quando da necessidade de compreensão de informações

resultantes das entrevistas.

De acordo com Mazzotti & Gewandsznajder (2002, p.166-167), uma das

formas de excelência utilizada na pesquisa qualitativa é a observação participante.

Nela o pesquisador se torna uma parte da situação observada, interagindo com os

agentes sociais, por um longo tempo, com a finalidade de partilhar o seu cotidiano,

para sentir o que significa estar naquela realidade. Existe, portanto, uma valorização

do instrumental humano e, por isso, é comum a afirmação, de que o pesquisador

deve buscar na sua própria pessoa, o instrumento mais confiável, em termos da:

observação, seleção e, como não poderia ser, a interpretação da realidade.

Para as mesmas autoras (op.cit, p.164):

17 A coleta em si será apresentada no Capítulo: Realizando a Pesquisa.

Page 76: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

54

As seguintes vantagens costumam ser atribuídas à

observação: a) independe do nível de conhecimento ou da capacidade verbal dos sujeitos; b)permite, ‘checar’ na prática, a sinceridade de certas respostas que, às vezes, são dadas só para ‘causar boa impressão’; c) permite identificar comportamentos não-intencionais ou inconscientes e explorar tópicos que os informantes não se sentem à vontade para discutir; e d) permite o registro do comportamento sem seu contexto temporal-espacial.

Entendo que a razão da utilização da observação na perspectiva

interacionistas, diz respeito, que toda organização da sociedade está assentada nos

sentidos, nas definições e nas ações que os indivíduos elaboram durante a interação

simbólica. Existe uma busca pela aproximação, não apenas considerando o que é

externalizado, mas percebendo os processos subjetivos.

É preciso destacar que foi utilizado como instrumento básico da

observação participante, o diário de campo, subsidiando as anotações de campo.

Logo, todas as vezes que realizo a observação participante assistemática, no

mesmo dia descrevo os achados, com a finalidade de contemplar a realidade de

forma mais abrangente possível.

No que tange às anotações de campo, segundo Polit; Beck; Hungler

(2004, p.268):

As anotações de campo podem ser categorizadas de acordo com sua finalidade. As anotações são descrições objetivas de eventos e conversas; as informações como o tempo, o lugar, a atividade e o diálogo são registrados de maneira tão completa quanto possível.

Essas definições revelam que as anotações de campo consistem,

fundamentalmente, na descrição, por escrito, de todas as manifestações (verbais,

corporais, ações, atitudes, entre outras) que o pesquisador observa. Além de

descrever, também, as circunstâncias físicas que se considerem necessárias e que

rodeiam os agentes sociais.

Sobre a entrevista, corroborando com Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p.79):

Page 77: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

55

Na entrevista não estruturada, não padronizada ou não estandardizada o entrevistador nem sempre tenta obter o mesmo tipo de resposta usando o mesmo tipo de pergunta. Tem sido referida como entrevista em profundidade, intensiva ou então denominada entrevista qualitativa. O propósito é obter as informações com as próprias palavras dos respondentes, obter descrição das situações e elucidar os detalhes.

Dessa forma, de acordo com Lüdke & André (1986, p.33), a entrevista

representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados. Ainda destacam

que, mais do que outros instrumentos de pesquisa, que em geral estabelecem uma

relação hierárquica entre o pesquisador e o pesquisado, como na aplicação de

questionários ou de técnicas projetivas, na entrevista a relação que se firma é de

interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre o pesquisador e o

informante.

Triviños (1981, p.146) refere que:

...é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa e que em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.

Tem-se, portanto, um instrumento de coleta com grande margem de

flexibilidade, no que diz respeito aos dados a recolher, pelo que são basicamente

qualitativos. Os entrevistados são assim encorajados a expressar as suas opiniões e

sentimentos, sobre o assunto em investigação. A entrevista em profundidade

também pode ser definida como uma entrevista pessoal, no qual se investiga, de

uma forma exaustiva, numa única pessoa, sentimentos ou opiniões detalhadas sobre

um determinado assunto, permitindo também avaliar os comportamentos e/ou as

reações pessoais do inquirido.

Quanto aos procedimentos de codificação, Strauss e Corbin (1990, p.62)

dizem tratar-se do procedimento através do qual os dados são divididos,

examinados e comparados tendo em vista similaridades e diferenças, a partir das

Page 78: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

56

questões de pesquisa acerca do fenômeno. Dois processos de análise são básicos

para a codificação na TFD: o primeiro associado às comparações constantes,

“making of comparisons”; e o outro relacionado ao processo de perguntas aos

achados, “asking of questions”. De fato, a TFD, freqüentemente, tem sido referida na

literatura, como sendo um método de análise que envolve a comparação constante

dos dados, “the constant comparative method of analysis”.

Corroborando com o apresentado, Santos e Nóbrega (2002, p.576)

referem que na TFD a coleta e análise dos dados são realizadas simultaneamente. A

pesquisa possui uma dinâmica, na qual durante o estudo existe uma preocupação

com a revisão dos questionamentos e com a busca de situações que estão

ocorrendo no cenário social. É importante suscitar que a comparação é contínua até

a saturação, ou seja, quando a coleta de dados já não tem como resultado novas

informações.

Durante a coleta de dados, é iniciado o processo de codificação. De

acordo com Strauss e Corbin (1990, p. 63), inicia-se então a codificação aberta, que

consiste em comparações constantes, haja vista incidentes com incidentes. Ocorre a

codificação de cada dado ou evento, com uma busca de diferenças e similaridades,

que possam ser representativos do fenômeno. Nesta fase, são codificados muitos

dados, que recebem especificações considerando os seus significados. Algumas

perguntas são então realizadas: O que é isso? O que representa?

Para os autores (op. cit, p. 77), devem ser realizadas perguntas pelo

pesquisador para melhor compreensão dos dados. Certas questões gerais podem

ser então bem empregadas, estimulando uma série de outras questões mais

específicas, as quais conduzem ao desenvolvimento de categorias, propriedades e,

por conseguinte, a melhor apreensão de suas dimensões. Logo, as questões

Page 79: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

57

básicas são: O quê? Quando? Quem? Onde? Como? De que forma? Quanto?

Dentre outras possibilidades.

São apontados pelos autores (op.cit, p.76-77) alguns cuidados para a

garantia na confiabilidade dos dados, como: estimular processos dedutivos e

indutivos; permitir o esclarecimento dos significados a partir das pessoas que geram

e aparecem nos dados; ingadar os dados, percebendo as respostas provisórias,

assim, permitindo compreensões frutíferas, ainda que, sejam posteriormente

substituídas; permitir a elucidação de possíveis conceitos a partir das experiências

dos pesquisados; dentre outros aspectos.

O rigor e a criatividade são fatores singulares para esta teoria, já que os

procedimentos analíticos foram criados para garantir o primeiro, e a criatividade é

imprescindível para fazer emergir novas possibilidades teóricas, a partir de dados

empíricos, desde que o pesquisador tenha sensibilidade para realizar perguntas

pertinentes aos dados e extrair novos insigths do fenômeno e novas formulações

teóricas.

É necessário manter um equilíbrio entre estes dois elementos, o que

requer: questionar continuamente os dados empíricos para certificar-se que são

informações adequadas para pensar o fenômeno e não percepções particulares,

preconcebidas; manter uma atitude cética, garantindo o caráter provisório das

análises e conclusões, não aceitando os dados como um fato; alternar

constantemente coleta de dados com análise, o que possibilita a verificação

freqüente das hipóteses de trabalho, na medida em que vão se desenvolvendo.

Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 80) afirmam:

O investigador codifica os incidentes em tantas categorias quanto possível. Todos os dados são passíveis, neste momento, de uma codificação. A codificação é o processo em que os dados são codificados, comparados com outros dados e designados em categorias.

Page 80: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

58

Segundo Strauss e Corbin (1990, p.67-68), um nome abstrato é escolhido

para representar os agrupamentos de dados, que tenham alguma semelhança. À

medida que são interpretados, os dados podem ser entendidos como categorias.

Ocorre, portanto uma redução significativa do número de unidades de análise. As

categorias podem sofrer alteração em seus nomes, a partir das observações e das

entrevistas que são realizadas, considerando as comparações contínuas. Sendo

assim, quando é percebido um nome mais adequado e representativo da

experiência, pode ocorrer à alteração.

Strauss e Corbin (1990, p. 198) referem que podem ser gerados alguns

memorandos (ou memos), uma forma especializada de registro, que contém os

produtos da análise contínua do pesquisador. São entendidos como o registro das

abstrações com relação aos achados nos dados, permitindo maior reflexão sobre o

fenômeno e favorecendo a compreensão aprofundada do estudo. Além disso, os

autores comentam que existem vários tipos de memorandos.

Em consonância, Santos e Nóbrega discorrem (2002, p. 577):

Assim, as informações devem ser registradas em pequenas anotações ou memorandos, frases, palavras, gestos. Isso ocorre até mesmo com a impressão demonstrada pelo entrevistado no momento em que acontece a entrevista. Todos os registros são organizados obedecendo às recomendações metodológicas propostas por Schatzman e Strauss (1973), constituindo de notas de observação (NO), notas metodológicas (NM) e notas teóricas (NT).

Entendendo os memorandos, Polit, Beck e Hungler (2003, p. 367) afirmam

que, ao longo da codificação e do processo analítico, os investigadores buscam a

documentação de suas idéias sobre os dados e as possíveis articulações. Os

memorandos fazem a manutenção de idéias, que inicialmente poderiam parecer não

produtivas e descoladas do estudo, mas que com o desenvolvimento da pesquisa,

Page 81: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

59

tornam-se valiosas. De fato, encorajam o pesquisador a refletir sobre os dados,

pensando a relação entre eles.

De acordo com Strauss e Corbin (1990, p. 97), segue então a codificação

axial, em que são estabelecidas as conexões entre categorias e subcategorias,

tendo em vista os dados coletados, considerando o chamado modelo paradigma,

com o intuito de aprofundar a emergente teoria. Tal paradigma estabelece uma

relação entre as categorias, envolvendo, respectivamente: causa, fenômeno,

contexto, condições intervenientes, estratégias de ação-interação e conseqüências.

Essas são denominadas de conexões teóricas.

Trezza (2002, p.28) refere, que a codificação axial é realizada através dos

seguintes procedimentos: redução, momento em que são comparadas as várias

categorias, com a finalidade de identificar correlações e os elos entre elas,

tomando-se como base os novos dados que estão chegando; busca-se, então,

descobrir aquelas categorias que, de fato, são mais significativas, resultando na

redução do número de categorias; segue-se, à amostragem seletiva de dados, a

procura de dados complementares, coletados intencionalmente, com o intuito de

tornar densa a teoria, expandindo, dimensionando e limitando as propriedades das

principais categorias; e, finalmente, a amostragem seletiva da literatura, marcado

pelo processo de revisar a literatura haja vista os conceitos derivados da

categorização.

Assim, à luz de Strauss e Corbin (1990, p. 99-107), na TFD os

procedimentos de coleta e análise dos dados são desenvolvidos considerando “o

modelo paradigma”. Segue a sua estrutura: condições causais, termo que se refere

aos eventos ou incidentes que levam à ocorrência ou desenvolvimento de um dado

fenômeno; fenômeno ou idéia central, para os quais as interações são dirigidas;

Page 82: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

60

contexto, que apresenta as especificidades pertencentes ao fenômeno, que

identificam a sua dimensão; condições intervenientes, as quais influenciam a ação-

interação e que pertencem ao fenômeno; estratégias de ação-interação, indicação

de como as pessoas reagem às condições causais, em um determinado contexto;

conseqüências, identificadas como resultados da ação-interação tendo em vista um

determinado fenômeno.

Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 81) enfocam,

Nesse estágio um referencial conceitual tentativo é gerado usando os dados como referência. O investigador tenta descobrir o principal problema na cena social, do ponto de vista dos atores e participantes do estudo e como eles lidam com o problema. (...) A redução, procedimento realizado a seguir, é o processo indutivo de agrupamento dos códigos em categorias. Nele, as categorias já formadas são analisadas comparativamente, à luz dos novos dados que estão chegando, com o intuito de tentar identificar naquelas referentes as mais significativas. Esse processo reduz o número de categorias, pois estas se tornam mais organizadas.

Segue a próxima fase da TFD, em que as categorias são ainda mais

refinadas, sendo chamadas, por Strauss e Corbin (1990, p.116-119), de codificação

seletiva, isto é, a integração entre as categorias e as subcategorias, até a definição

da categoria central, que deve estar presente na maioria dos relatos. A categoria

central mantém coesa a Teoria. Nesse momento, um referencial conceitual será

proposto utilizando os achados.

Santos e Nóbrega (2002, p.578) suscitam que, quando essa etapa é então

atingida, busca-se inter-relacionar os fenômenos com as categorias representativas

e, a partir disso, desenvolver um modelo teórico representativo dessa experiência.

Trata-se de uma atividade de pura reflexão, em que pese à importância da

subjetividade do pesquisador, que precisa ir além dos dados, para descobrir os

pontos de ligação entre os diversos achados, possibilitando dessa maneira, uma

integração.

Page 83: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

61

Sobre isso, Cassiani, Caliri e Pelá (1996, p. 83) complementam:

As colocações apresentadas evidenciam que a teoria fundamentada nos dados é um método de pesquisa qualitativa que utiliza alguns procedimentos para desenvolver indutivamente uma teoria derivada dos dados. Não pode ser considerado um processo simples para aqueles que iniciam seu estudo, entretanto é um referencial metodológico que fornece aos investigadores procedimentos para analisar os dados e o desenvolvimento de teorias ou referências teóricas úteis em várias disciplinas.

Nesse momento, cabe ainda destacar que, para melhor compreensão dos

dados, foram elaborados diagramas que, de acordo com Santos e Nóbrega (2002,

p.577), são representações gráficas utilizadas na TFD com intuito de visualizar as

relações entre os conceitos, que foram estabelecidos até esse momento. São, de

fato, mensagens visuais que pretendem facilitar o entendimento da realidade

investigada.

As precauções foram sendo tomadas para assegurar credibilidade ao

estudo, sendo isso muito enfatizado, no processo de orientação, em que pese à

importância de analisar os dados rigorosamente a partir das concepções da TFD,

tornando-os mais densos e integrados. Dessa forma, tenho efetivamente me

empenhado em manter a veracidade e validade dos dados, sendo essa uma grande

preocupação no desenvolvimento do estudo.

Foram respeitados os preceitos das Diretrizes e Normas

Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, do Conselho

Nacional de Saúde, tendo em vista a Resolução n° 196/96. Esta incorpora, sob a

ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais básicos da bioética:

autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar

os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da

pesquisa e ao Estado. Ênfase no Consentimento livre e esclarecido, isto é, anuência

do sujeito da pesquisa, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência,

Page 84: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

62

subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a

natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais

riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de

consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa.

Considerando todos os aspectos apresentados, com base nos

pressupostos do interacionismo simbólico, compreendi que por meio da pesquisa

qualitativa, em uma abordagem peculiarmente interpretativa, especialmente marcada

pelo processo que envolve e direciona a TFD, seria possível alcançar os meus

objetivos. Isso, também, por ser o meu objeto de estudo bastante dinâmico, não

podendo ser investigado em uma condição estática e de isolamento do mundo

social. Além disso, preocupei-me no momento de minha escolha metodológica, em

optar por um caminho que propiciasse uma construção pautada na real experiência

do enfermeiro, no processo diário do desenvolvimento do seu trabalho, para que

pudesse entender o fenômeno proposto.

Page 85: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

63

REVELANDO A INSTITUIÇÃO ESTUDADA

Page 86: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

64

CAPÍTULO IV

REFLETINDO SOBRE O CONTEXTO:

O HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO E AS SUAS

ESPECIALIDADES

O contexto apresenta as especificidades das condições causais e do fenômeno (STRAUSS E CORBIN, 1990, p.101).

Neste capítulo, delinearei os aspectos expressivos do Hospital

Universitário Pedro Ernesto – HUPE, com destaque para as especialidades, por

conseguinte, levando à reflexão sobre os setores especializados, a partir dos dados

disponibilizados no Manual do Servidor de Enfermagem e no Site da Instituição18.

A escolha está pautada tendo em vista tratar-se de uma Instituição

pertencente à Universidade Estadual do Rio de Janeiro, referência em todo o

Estado, no que tange à formação na área de saúde e, que tem como missão: prestar

assistência integrada, humanizada e de excelência à saúde, sendo agente

transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e extensão.

O Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) está localizado na

Cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro da Vila Isabel, tendo sido

construído nos anos 30, século passado. A iniciativa foi do Médico Pedro Ernesto

Rego Batista, justificando o nome da instituição, que era interventor da antiga capital

da República (1931-1936), nomeado pelo então Presidente Getúlio Vargas. A

inauguração ocorreu somente vinte anos após a Secretaria de Saúde do Distrito

Federal, na gestão do Presidente da República o General Eurico Gaspar Dutra.

18 http://www.hupe.uerj.br

Page 87: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

65

Onze anos após a sua inauguração passou a ser o Hospital Escola da

Faculdade de Ciências Médicas, através da Lei de No. 93, incorporado à

Universidade do Estado da Guanabara, atualmente, Universidade do Estado do Rio

de Janeiro - UERJ, tendo o nome de Hospital das Clínicas da Faculdade de Ciências

Médicas, integrando o Centro Biomédico da Universidade do Estado da Guanabara.

Destaca-se como marco da Instituição o ano de 1974, quando fixou

convênio com a Previdência Social. Essa iniciativa foi pioneira, em que a parceria

com o Ministério da Educação e Previdência Social (MEC-MPAS) trouxe grandes

mudanças de orientação docente-assistencial.

Esse convênio apresentava, entre outros aspectos, o objetivo de

ultrapassar as dificuldades financeiras do hospital, além de fomentar o ritmo de suas

atividades, visando atingir a realidade sanitária da população. Cabe salientar que,

antes desse convênio, o hospital funcionava em condições insuficientes, com poucos

leitos e limitadas possibilidades de consultas ambulatoriais. O tempo de internação

do cliente era amplo, até mesmo para atender a interesses acadêmicos.

Nesse momento, há um significativo incremento de atividades, com um

crescimento de duzentos e cinqüenta leitos de internação e cinco mil consultas

ambulatoriais por mês para setecentos leitos de internação e mil consultas

ambulatoriais por dia, aproximadamente. De cerca de oitocentos servidores, passou

a um quadro de três mil e setecentas profissionais, entre professores e funcionários.

Verificou-se a hipertrofia de alguns setores, em detrimento de outros,

sem que se contemplasse adequação necessária em termos da infra-estrutura de

apoio e uma perspectiva de continuidade sustentada em bases sólidas. Instalou-se a

divisão em segmentos, o corporativismo e a divisão entre os grupos.

Page 88: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

66

Tornou-se o Hospital-Escola da Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade do Estado do Rio

de Janeiro (UERJ). Foi incorporado à UEG como Hospital das Clínicas, já que suas

atividades privilegiavam as questões acadêmicas de ensino e pesquisa, com o

acompanhamento e estudo de raridades clínicas e doenças em estágio final de

evolução.

Com 44000m2 de área, funcionam aproximadamente 600 leitos e 16 salas

cirúrgicas, com mais de 60 especialidades e sub-especialidades. Incluindo assim,

procedimentos e tecnologias sofisticadas, como: a Cirurgia Cardíaca, o Transplante

Renal e o Transplante de Coração.

Cabe ainda suscitar que, no seu prédio de ambulatórios, com 3000m2 de

área, estão localizados 150 consultórios que concentram o atendimento ambulatorial

de todas as especialidades. O HUPE é um hospital de grande porte, com cobertura

assistencial estimada de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, considerado Centro

de Excelência e Referência para o Estado do Rio de Janeiro na área de Ensino e

Saúde.

O Hospital Universitário tem o ensino e a pesquisa inseridos na sua rotina,

favorecendo a funcionar como um pólo de descobertas e inovações, que contribuem

para a melhoria da qualidade do atendimento oferecido pelas instituições de saúde.

O HUPE inaugurou em 29 de janeiro de 1975, a Enfermaria de

Adolescentes Prof. Aloysio Amâncio, primeira do gênero no Brasil a oferecer

atendimento especializado ao adolescente. O objetivo é oferecer um atendimento

integral que acompanhe o adolescente nas mudanças de natureza física e

emocional.

Page 89: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

67

Também seguindo uma filosofia de inovação, o HUPE criou o Núcleo de

Atenção ao Idoso (NAI) no ano de 1991, para atendimento integral ao idoso,

englobando aspectos físicos, sociais, psicológicos, fisioterápicos e educacionais. O

HUPE inaugurou no Estado do Rio de Janeiro, a primeira Clínica da Dor, em 1980,

local em que os profissionais de diversas áreas de conhecimento desenvolvem e

aplicam técnicas de combate e eliminação de dores crônicas, das mais diversas

origens.

Ainda tiveram início em 1980, as atividades da Clínica de Hipertensão do

Laboratório de Fisiopatologia Clínica e Experimental (CLINEX) que atende

hipertensos, obesos, diabéticos e dislipidêmicos, com enfoque interdisciplinar. A

CLINEX visa o diagnóstico precoce dessas doenças e suas conseqüências

cardiovasculares.

Desde o ano de 1983, O Serviço de Cardiologia do HUPE desenvolve o

projeto "Família de Bom Coração", vencedor de vários prêmios científicos nacionais

e internacionais. Considerando a avaliação da pressão arterial (PA) de crianças e de

adolescentes, foram constituídas curvas de normalidade de PA e identificados

indivíduos com maior chance de desenvolverem doenças cardiovasculares.

Já o Hospital-dia Ricardo Montalban, que foi implantado pelo Serviço de

Psiquiatria em 1993, baseado em uma nova concepção de tratamento, em que pese

à expressão artística, corporal e da participação ativa da família, visa integrar o

paciente psiquiátrico na sociedade.

O HUPE é o maior hospital público em funcionamento no Estado do Rio de

Janeiro, além de ser referência em inúmeras especialidades médicas. O Núcleo de

Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) é centro de referência nacional para o

atendimento ao adolescente e, em especial, cardiopatas e nefropatas crônicos, já

Page 90: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

68

que o HUPE dispõe dos serviços de Cirurgia Cardíaca e Transplante Renal. Além

disso, é centro coordenador sub-regional de uma rede de informações sobre

adolescência, coordenada pela Bireme/OPAS/OMS e é centro cooperante do Projeto

Mundial sobre Residência, sob coordenação da Civitan/OPAS/OMS.

A este ponto, destaco que o Serviço de Nefrologia é referência na área no

Estado do Rio de Janeiro, bem como, o Serviço de Cardiologia, que também é

responsável por uma grande parte das cirurgias e a sua equipe tem reconhecimento

científico internacional.

O Serviço de Obstetrícia do hospital é especializado no atendimento de

gestantes de alto risco. Em total sintonia com o Ministério da Saúde, 61% dos partos

realizados pelo Serviço são sem intervenção cirúrgica. Chega a atender

mensalmente cerca de 150 pacientes na emergência, realizando na média mensal

70 partos. 650 consultas são feitas, por mês, nos ambulatórios de pré e pós-natal e

Medicina Fetal e, em 1998, o HUPE recebeu o título "Hospital Amigo da Criança".

Além disso, cabe relatar que está para ser inaugurado no hospital o Pólo de

Atendimento Integral à Mulher e à Criança.

O Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ inaugurou, no dia

22 de setembro de 2004, a Unidade de Transplante de Medula Óssea Pró-Vita,

inicialmente pronta para realizar transplantes autólogos, em que o doador da medula

é o próprio paciente. O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento

proposto para algumas doenças malignas que afetam as células do sangue. A

Unidade foi equipada com a ajuda da Associação Pró-Vita, que é uma instituição

voltada a apoiar unidades de saúde que realizem ou tenham possibilidade de

realizar transplantes de medula óssea no Rio de Janeiro. O Centro de Transplantes

Page 91: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

69

de Medula Óssea (CEMO) do INCA, o HEMORIO e o Hospital do Fundão já são

beneficiados pelo Pró-Vita.

O HUPE possui muitas especialidades, como: Angiologia, Cardiologia,

Clínica de Hipertensão (CLINEX), Clínica Médica, Cirurgia Geral, Cirurgia Torácica,

Cirurgia Vascular, Dermatologia, Diabetes e Metabologia, Doenças Infecto

Parasitárias, Endocrinologia, Fisiatria, Gastroenterologia, Ginecologia, Hematologia,

Laboratório de Cirurgia Experimental (LCE), Medicina de Adolescente (NESA),

Medicina Integral l, Nefrologia, Neurocirurgia, Neurologia, Obstetrícia, Oftalmologia,

Ortopedia e Traumatologia, Otorrinolaringologia, Pediatria e Puericultura,

Propedêutica Médica, Proctologia, Psicologia Médica, Psiquiatria, Reumatologia,

Tisiologia e Pneumologia e Urologia.

Enquanto Hospital Universitário, o HUPE serve como campo de

aprendizado para o ensino de graduação na área de saúde e de aperfeiçoamento

dos conhecimentos para graduados. Anualmente passam pelo HUPE 1500 alunos

de graduação e de pós-graduação e cerca de 350 docentes exercem suas atividades

nas diversas unidades de ensino da UERJ.

À Coordenadoria de Desenvolvimento Acadêmico (CDA) compete orientar

e implementar as atividades educacionais do hospital, harmonizando-as com as

ações assistenciais. Cabe a CDA o gerenciamento de diversos programas.

A Residência em áreas de saúde é oferecida a graduado que receberá

treinamento em serviço, sob a orientação de profissionais de elevada qualificação

ética e profissional e formação humanizada. Áreas oferecidas para Residência:

enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia médica,

psicologia e serviço social.

Page 92: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

70

O Estágio é oferecido unicamente a estudantes, quando integrante ou

necessário para a complementação do respectivo currículo de graduação, sendo

concedido preferencialmente a alunos matriculados nos cursos ministrados pela

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com área de atuação no hospital.

O Treinamento Profissional (TP) é concedido a graduado que

acompanhará as atividades desempenhadas por integrantes do corpo clínico do

HUPE ou outro profissional de nível superior, com vistas ao aprimoramento técnico

na competência específica. O Treinamento Profissional em serviços clínicos,

cirúrgicos ou auxiliares que ofereçam Residência Médica só é permitido a

profissional com tempo de formado superior a dois anos.

No que se refere à parte administrativa do HUPE, a instituição conta com

profissionais compromissados, distribuídos em diferentes cargos: Diretoria Geral do

HUPE, Coordenação de Assistência Médica, Coordenadoria de Comunicação Social,

Coordenadoria de Controle de Infecção Hospitalar, Coordenadoria de

Desenvolvimento Acadêmico, Coordenação de Enfermagem, Coordenadoria de

Sistemas de Informações, Coordenação de Serviços Técnicos, Departamento de

Administração, Divisão de Controle e Apoio Técnico, Seção de Preparo de Licitação,

Comissão Permanente de Licitação, Divisão de Nutrição e Comissão Científica do

Pedro Ernesto.

O organograma da enfermagem tem uma estrutura vertical, sendo a

Coordenação o órgão mais importante da profissão, sob o ponto de vista da política

institucional. A estrutura organizacional da enfermagem conta com o apoio de:

Serviço de Enfermagem Clínica; Serviço de Enfermagem Médica e de Pacientes

Externos; Serviço de Enfermagem Cirúrgica; Serviço de Enfermagem da Mulher e da

Page 93: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

71

Criança e Serviço de Treinamento e Avaliação de Enfermagem. É importante

enfocar que, desde 1991, o acesso aos cargos da coordenadoria e chefia dos

demais Serviços é promovido através de processo eleitoral.

Essa estrutura organizacional busca uma gerência descentralizada,

possibilitando maior autonomia para a enfermagem. O Regimento Interno da

Coordenadoria de Enfermagem, aprovado no Ato Executivo 026/ 96, atribui as

seguintes competências a essa instância: planejar, organizar, coordenar,

supervisionar e avaliar as atividades desenvolvidas pelos Serviços que a integram,

no sentido de assegurar elevado padrão técnico e rigor profissional; colaborar

continuamente na integração ensino-assistência de enfermagem; elaborar,

implementar, coordenar e avaliar programas de orientação e capacitação de pessoal

em enfermagem; planejar e desenvolver pesquisas de interesse para a instituição;

apoiar as demais Coordenadorias nos exames clínicos, tratamentos e execuções de

prescrições terapêuticas; promover medidas ao atendimento de enfermagem com

qualidade, dentre outros aspectos.

A este ponto, não poderia deixar de enfocar o Serviço de Treinamento do

HUPE. Este tem como missão: “Desenvolver ensino e pesquisa para uma

assistência de qualidade com saber, humanização e ética, através da integração e

participação dos membros da equipe de enfermagem, buscando educação

permanente”. Além disso, apresenta como visão: “Servir de Referência de

Qualidade para Treinamento e Aperfeiçoamento na Área de Enfermagem”.

Atualmente o Serviço de Treinamento conta em seu quadro permanente

com três enfermeiras, uma secretária e uma funcionária readaptada. Esta última, em

período de experiência. Todos trabalhando em conjunto em prol do desenvolvimento

Page 94: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

72

de quatro grandes programas: residência em enfermagem, treinamento profissional,

educação permanente e qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Sobre o Programa de Residência em Enfermagem, o Serviço de

Treinamento tem como meta a ser alcançada a inserção do Projeto Pedagógico da

Residência enquanto um Curso de Pós-Graduação “lato sensu”. Entendendo a

residência como uma modalidade de especialização, que se caracteriza por

treinamento em serviço. Isso vem sendo construído, a partir de um grupo de trabalho

colaborativo constituído por diferentes representantes da enfermagem: Chefes de

Departamentos e Direção da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual

do Rio de Janeiro - UERJ; Chefes de Serviço e Coordenadoria do HUPE; e Direção

do Centro Biomédico.

Já o Programa de Treinamento Profissional visa oportunizar o

aprimoramento prático de pessoas que buscam o HUPE como referência para a

aprendizagem. Tem como critério básico: a participação de profissionais

regularmente registrados no Conselho Federal de Enfermagem. Sejam esses:

enfermeiros, técnicos ou auxiliares de enfermagem. Devido à demanda, bastante

significativa e, que tem aumentado continuamente, o Serviço de Treinamento tem

realizado seleção para definição dos seus participantes. Além da elaboração de um

cronograma especificando as datas de inserção, de permanência e de término da

atividade.

Quanto ao Programa de Educação Permanente, o Serviço de Treinamento

mostra-se interessado em desenvolver projetos futuros voltados para a atualização

continuada em enfermagem. Nessa acepção, tem-se como meta trabalhar temas

gerais, que possam contemplar as diferentes áreas de atuação do hospital, bem

como, as diferentes categorias funcionais. Do mesmo modo, esse programa também

Page 95: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

73

pretende desenvolver cursos de capacitação e qualificação profissional em prol da

melhoria na qualidade da assistência nas diversas unidades do HUPE. Cabe

pontuar, que existe uma preocupação real em dar mais dinamismo a educação

permanente, atualmente, comprometida, considerando o momento por que passa a

instituição.

Outro programa que vem sendo planejado, ainda com algumas limitações,

relaciona-se com a Qualidade de Vida no Ambiente do Trabalho, já que quanto mais

saudáveis estiverem sendo estabelecidas as relações, mais viável o cuidado

humanizado. Partindo da premissa, que antes de cuidar do outro, é preciso cuidar de

si mesmo. Para tal, o Serviço vem fazendo parcerias com vários departamentos da

UERJ, com vistas à implementação de um Projeto denominado de Arte Terapia, para

que possa estar contemplando as necessidades e os desejos dos funcionários.

Com base no exposto, a fim de elucidar em síntese o contexto, de acordo

com o Ato Executivo Nº 26 de 1995, o HUPE tem por finalidade: servir ao

aperfeiçoamento dos profissionais de saúde dos programas de residência e de

cursos de pós-graduação – “lato sensu” e “stricto sensu”; prestar assistência à

população, por meio de aplicação de medidas de proteção e recuperação da saúde;

servir de campo de aprendizado para o ensino de graduação dos profissionais da

área de saúde e nas demais áreas no que couber; desenvolver atividades de

investigação científica e tecnológica no campo das ciências da saúde e contribuir

para a realização de estudos e pesquisas sobre os principais problemas de saúde da

população; desenvolver atividades de extensão articulando nos diversos meios de

atenção à saúde.

Page 96: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

74

REALIZANDO A PESQUISA

Page 97: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

75

CAPÍTULO V

COLETANDO OS DADOS: OS ENFERMEIROS INFORMANTES, A COLETA DE

DADOS PROPRIAMENTE DITA E O PROCESSO DE

ANÁLISE DE DADOS

Para obter até mesmo uma solução parcial, o cientista deve coletar os fatos não ordenados disponíveis e fazê-los coerentes e compreensíveis por pensamentos criativos (EISNTEIN & INFELD, 1966).

Os dados da pesquisa foram coletados nas Unidades de Internação do

Hospital Universitário Pedro Ernesto19, em setores considerados pela Instituição

como especializados, no período de novembro de 2004 até abril de 2006, sendo

realizada validação de março a junho de 2006.

Buscando a definição da amostra teórica e pensando no fenômeno

estudado, trabalhei no primeiro momento com os enfermeiros que foram lotados sem

experiência prévia em setores, entendidos no próprio hospital como especializados.

Todos do último concurso, realizado pelo hospital.

Esta idéia e, por conseguinte, a tomada de decisão, foi baseada no fato

de que uma vez tentando compreender o enfrentamento do novo, os enfermeiros

tendo vivenciado recentemente, ou ainda, vivenciando a situação no setor

especializado poderiam propiciar uma rápida aproximação com o fenômeno. Dessa

maneira, procurei em primeira instância privilegiar os agentes sociais que detinham

possibilidades que pretendia conhecer.

O primeiro grupo amostral foi composto por doze enfermeiros

considerados iniciantes ou novatos nos setores especializados, que receberam os

19 Detalhado no capítulo sobre o cenário.

Page 98: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

76

pseudônimos relacionados à natureza: Mar, Céu, Vento, Montanha, Folha, Sol, Raio,

Tempestade, Nuvem, Trovão, Arco-íris e Flor.

A definição desses enfermeiros se deu com a ajuda de funcionários da

Coordenação de Enfermagem, que fizeram um levantamento, providenciando uma

lista com um total de trinta e dois enfermeiros. Desses, foi relatado que,

aproximadamente, dezesseis não tinham experiência no setor de lotação. Isso vem

sendo confirmado durante as entrevistas, a partir dos dados referentes à própria

trajetória profissional dos mesmos.

As entrevistas ocorreram no ambiente de atividade dos enfermeiros, onde

pude elaborar meus primeiros memorandos a respeito do fenômeno. Além disso, foi

a partir das primeiras entrevistas que iniciei minhas codificações, que foram então,

estendidas e associadas, considerando os dados obtidos dos demais participantes.

À medida que foram sendo formadas as categorias e, bem como,

ampliando as discussões sobre a coleta de dados, propiciados a partir do Seminário

sobre a Teoria Fundamentada nos Dados20, fui refletindo sobre pontos obscuros que

poderiam estar acontecendo, já que os enfermeiros entrevistados poderiam estar

ainda muito abalados emocionalmente.

Entretanto, desde o início das discussões para a fase de coleta, intuía que

seriam necessários outros grupos amostrais, para a melhor compreensão dos

dados, tendo em vista que apesar de não estarem vivenciando a experiência do

enfrentamento do novo, também passaram por isso em um outro momento. Esse

pensamento esteve ainda associado ao fato, de que o amadurecimento desses

profissionais poderia dar um tom diferente à análise de dados, pois esses não

estariam tão envolvidos na questão.

20 Destaque da autora.

Page 99: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

77

Assim, começou a ser um pensamento mais consistente a idéia de

entrevistar outros enfermeiros, ainda do mesmo concurso, que não estivessem a

rigor passando pela experiência de iniciantes ou novatos, embora em algum

momento na profissão de enfermagem tivessem vivenciado tal situação, justificando

a idéia do segundo grupo amostral, representado nesta fase por três entrevistados:

Terra, Fogo e Lua.

Nesse momento, sofri um súbito medo, quando de fato percebi a

grandiosidade da pesquisa e, como não poderia deixar de ser, a quantidade de

dados que a mesma iria gerar. Isso porque, para cada entrevista eram gerados

inúmeros códigos, aproximadamente duzentos e cinqüenta códigos, portanto, tive a

exata noção de quanto trabalho eu teria até o término do estudo. Foi então, que as

conversas com a professora orientadora na EEAN e a professora da disciplina da

USP fez-me pensar que precisaria estar muito sensível aos dados para compreendê-

los.

No que se refere à coleta em si, considerando o Interacionismo Simbólico

e a perspectiva da Teoria Fundamentada nos Dados e, ainda, preocupando-me com

o enquadramento do estudo, optei, como mencionado, pela observação participante

assistemática e pela entrevista semi-estruturada, buscando profundidade. Esclareço,

que não foi estabelecida ordem para a utilização dos métodos citados, porém, na

maioria dos casos, a observação foi anterior à entrevista.

As anotações de campo foram realizadas utilizando a reflexão. Isto é,

cada fato, cada comportamento, cada atitude, cada diálogo, que observei

relacionado aos atores sociais, pode sugerir uma idéia e até mesmo a necessidade

de fazer algumas reformulações.

Page 100: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

78

A observação foi utilizada, principalmente, com as enfermeiras do primeiro

grupo amostral, num total doze horas. Esta técnica possibilitou ter uma visão geral

do contexto das enfermeiras, tendo como premissa básica o olhar sobre as

especialidades e, por conseguinte, as peculiaridades relacionadas.

No que tange às entrevistas, foram realizadas buscando compreender a

experiência dos entrevistados sob a perspectiva da realidade vivida. As entrevistas

foram iniciadas com questões tidas como geradoras, tendo o máximo cuidado para

que realmente ocorresse uma interação, objetivando que os enfermeiros pudessem

expor as suas experiências relacionadas ao enfrentamento do novo, a partir do seu

próprio caminhar na enfermagem.

É importante destacar que o Seminário, que realizei em São Paulo, foi

especialmente marcante nesse momento, pois pude formular as questões da

entrevista, apoiada por uma ampla discussão em grupo, considerando a

necessidade de dar uma amplitude, no sentido de liberdade dos entrevistados. Para

explorar cada uma das experiências, evitando perguntas muito diretivas e, com isso,

tive a possibilidade de apreensão dos fenômenos relacionados, já que a abordagem

na TFD pressupõe que não estão determinadas as variáveis do estudo e os

questionamentos devem ser orientados para a ação e para a idéia de processo.

De fato, não poderia deixar de relatar que foi um exercício contínuo fazer

a análise de cada entrevista. Isto significou uma aprendizagem muito expressiva e

bastante reveladora em termos de pesquisa científica, principalmente, considerando

o respeito para que os dados não sejam de modo algum alterados, comprometendo

a validade do estudo.

As entrevistas foram agendadas e realizadas no local de trabalho,

buscando-se um clima de diálogo, com duração média de uma hora e meia.

Page 101: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

79

Também atentei, durante a coleta de dados, para sinais não-verbais e todas as falas

foram gravadas em fitas magnéticas, com a permissão, após leitura e assinatura do

consentimento livre e esclarecido, como previsto pela Resolução 196/96 sobre

Pesquisa Envolvendo Seres Humanos.

Foram observados os princípios éticos na pesquisa, de acordo com o

descrito em Gauthier (1998, p.281), retomando a importância do consentimento livre

e esclarecido21 dos indivíduos-informantes. Além disso, com o intuito de manter a

privacidade das pessoas envolvidas, não utilizei informações que pudessem

provocar prejuízos a qualquer pessoa ou a instituição e, também, respeitei o sigilo

dos depoentes.

A despeito disso, informo que não foi apresentada uma relação dos

pseudônimos dos enfermeiros, com os setores especializados, onde os mesmos

atuam, para que efetivamente fosse mantido o anonimato, caso contrário qualquer

pessoa que conhecesse a realidade do hospital, utilizando a lógica, poderia

identificar os participantes.

Um outro ponto relevante, com a finalidade de elucidar a situação dos

enfermeiros entrevistados, refere-se ao fato de que todos possuem, minimamente,

mais de cinco anos de atuação profissional na enfermagem. Não foram

entrevistados recém-formados.

Tendo como base à análise comparativa dos dados e, considerando o

caminhar natural da própria TFD, as entrevistas puderam ser submetidas a análises

cada vez mais profundas, derivando novas reflexões, que foram então novamente

investigadas em prol da teoria em formação.

Sinto a necessidade de pontuar que a observação participante

assistemática foi registrada como nota de observação, tendo o cuidado com a 21 A disposição para consulta no Apêndice.

Page 102: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

80

apreensão dos dados tidos como importantes para o estudo, como o cenário e/ ou

evidência para a experiência registrada.

A respeito das notas teóricas, não posso deixar de expressar o

enriquecimento cognitivo para o próprio pesquisador, principalmente considerando a

maturidade desejada no sentido da busca pela sensibilidade teórica, que

continuamente se almejava atingir.

Quanto às notas metodológicas, principalmente nos primeiros momentos

e movimentos da coleta de dados, estiveram mais aguçadas nas minhas reflexões

sobre a pesquisa, em que se destaque instruções com a finalidade de pensar

estratégias e caminhos a fim de melhorar até mesmo a tomada de decisão, no

encaminhamento metodológico do estudo.

Sobre a análise, a mesma foi iniciada com uma codificação linha a linha,

utilizando a própria fala dos entrevistados, com uma preocupação constante em

respeitar e não perder dados que pudessem, através de seus detalhamentos,

explorar de fato a experiência dos participantes. Nesse processo existiu uma

preocupação constante em comparar incidente com incidente, tentando responder

questões que aparecem nas minhas reflexões, em busca de uma preliminar

organização conceitual.

O processo de análise inicial foi a codificação aberta, em que as falas

foram trabalhadas em detalhes. Com respeito ao conteúdo, após a digitação das

gravações e a organização na impressão, objetivei que a entrevista ficasse do lado

esquerdo e os códigos do lado direito. Destaco que, na codificação foram utilizados

verbos no gerúndio para manter a idéia de movimento e dinamicidade, próprios da

metodologia.

Page 103: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

81

Enfatizo que utilizei a organização denominada de Distribuição Vertical do

Discurso22. Em consonância com o exposto: Vargens (1997), Lacerda (2000),

Bettinelli (2002) e Strauss; Corbin (2002) referem, que cada frase ou parágrafo é

disposto imediatamente, após o anterior, permitindo a então análise linha a linha.

Também, numerei as partes da entrevista que possuíam sentido completo,

derivando um código, que entendi como unidade de análise. A numeração a partir de

então, funcionou como facilitador para levantamento de similaridades e diferenças

na mesma entrevista, ou ainda, comparando com outras entrevistas que, a cada

momento, eram realizadas.

Não utilizei software para análise. Além disso, não poderia deixar de

mencionar que as Teses de Trezza (2003) e de Matheus (2002) ajudaram-me

significativamente na direção e no entendimento do processo.

Conforme mencionado, a codificação é o processo central do

desenvolvimento da TFD. Ocorreu, assim o desmembramento dos dados,

comparação e categorização. A codificação aberta foi o primeiro passo no processo

de separação, exame e comparação dos achados, partindo de dados brutos para

dados codificados. Dessa maneira, os códigos representaram, de fato,

agrupamentos por similaridades, assim como, por diferenças.

A utilização da TFD foi bastante reveladora, já que redescobri a pesquisa

e as suas singularidades, com um especial respeito pelos dados, destacando a real

importância da pesquisa qualitativa e todos os princípios que a norteiam e, a qual se

propõe, discordando de toda e qualquer forma de banalização desse tipo de estudo.

22 O exemplo encontra-se no apêndice.

Page 104: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

82

Após esta fase bastante trabalhosa, iniciei a fase denominada axial, em

que foram agrupados os códigos, com a formação das categorias e subcategorias23.

A partir da compreensão e utilização conceitual do modelo paradigma, foram

possíveis as primeiras reflexões acerca da Teoria. As categorias receberam

denominações de cunho mais abstrato do que os códigos, anteriormente formados.

Essa etapa analítica promove a retomada dos dados, quando são

analisados de uma nova forma, realizando conexões entre uma categoria e suas

subcategorias. Este é o nível intermediário do sistema de procedimentos propostos,

ou seja, etapa em que as categorias ainda estão em desenvolvimento e o objetivo é

avançar para além das propriedades e dimensões, visando chegar a uma das muitas

categorias analíticas que possibilitarão, ao final do trabalho, uma formulação teórica

mais geral.

É importante retomar que criar categorias significa agrupar os conceitos

por semelhança, ou seja, classificá-los por representarem uma mesma classe de

fenômeno, possibilitando o trabalho analítico que demanda abstrações cada vez

maiores. As categorias têm um grande poder conceitual porque elas são capazes de

abrigar outros grupos de conceitos ou subcategorias.

Acrescento que as categorias sofreram modificações durante o processo

de coleta e análise, com base nos achados, no sentido de chegar ao mais adequado

para representar o significado do enfrentamento do conhecimento novo, a partir da

experiência das pessoas envolvidas no estudo.

Assim, passei para a articulação das duas etapas apresentadas, isto é, a

relação das subcategorias com as categorias, associando ao modelo paradigmático.

Este modelo possibilitou o pensar sistemático sobre os dados, bem como, relacioná-

los de maneira complexa, buscando densidade e precisão. 23 Podem ser verificados no Apêndice III, quadros relacionando os códigos as subcategorias.

Page 105: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

83

Primeiro, procurei estabelecer a relação hipotética das subcategorias com

a categoria por meio dos elementos que denotam a natureza do relacionamento

entre elas e o fenômeno (condição causal, contexto, condições intervenientes,

estratégias de ação/ interação e conseqüências).

Segundo, verifiquei aquelas hipóteses junto às situações concretas,

retornando continuamente aos dados empíricos e confrontando-os, em prol de

evidências, que as afirmassem, complementassem, ou ainda, refutassem.

Terceiro, continuei buscando as propriedades das categorias,

subcategorias e a localização dimensional dos dados que foram codificados, em

função compreender padrões e variações e, por último, a exploração inicial das

variações no fenômeno, pela comparação de cada categoria e suas subcategorias,

através dos diferentes padrões descobertos na localização dimensional dos dados.

É interessante enfocar que o objetivo da teoria fundamentada é integrar os

diversos níveis da análise dos dados empíricos, de maneira que, a cada nível, a

integração analítica se torne mais e mais abstrata, chegando ao nível da teoria, sua

principal finalidade. Nesse caminho, foi fundamental a retroalimentação constante

entre as análises e os dados empíricos no sentido de ir desenvolvendo

simultaneamente as categorias analíticas e as novas hipóteses de trabalho.

Conforme o processo de análise, caminhei para a codificação seletiva que

refinou e integrou todos os resultados, possibilitando a identificação da categoria

central. Cabe a ênfase, que a Grounded Theory se preocupa principalmente com a

explicação de como determinado grupo resolve problemas em situações específicas,

tal como pode ser constatado nos trabalhos publicados em Strauss e Corbin (1997).

Essa explicação é fornecida por meio de proposições sobre quando e como

determinadas ações são implementadas.

Page 106: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

84

Tais proposições são organizadas em torno de uma categoria central, que

representa um processo social relevante para os envolvidos. É por essa capacidade

de abstração e pela sistematização da variabilidade encontrada nos dados que uma

teoria substantiva adquire poder explicativo e não pelo número de casos

investigados, sejam eles indivíduos ou organizações (Strauss e Corbin, 1998).

Assim, o estudo chegou à Teoria Substantiva, que difere da Teoria Formal,

considerando que a última é mais geral e se aplica a espectro maior de problemas,

enquanto a primeira é específica para determinado grupo ou situação. (Glaser e

Strauss, 1967; Strauss e Corbin, 1998).

Page 107: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

85

VIVENDO A DESCOBERTA NA ANÁLISE DE DADOS

Page 108: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

86

CAPÍTULO VI

COMPREENDENDO O SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA DO ENFERMEIRO A

PARTIR DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO EM SETORES

ESPECIALIZADOS

Não é no objeto, mas no sujeito que algo foi alterado pela função cognoscitiva. Surge no sujeito uma figura, que contêm as determinações do objeto, uma imagem do objeto. (HESSEN, 2003, p.20)

O referencial teórico e a metodologia possibilitaram a compreensão da

experiência do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo em setores

especializados. A análise realizada possibilita o entendimento da trajetória do

enfermeiro, considerando a formação profissional, frente aos desafios da prática,

revelando os significados presentes nessa vivência, a despeito do que sentem,

como percebem, como definem, como agem, como reagem, como interpretam e

como atuam no dia-a-dia relacionado ao trabalho da enfermagem.

Cabe a reflexão que o símbolo é o aspecto central do interacionismo

simbólico, já que a partir dele os seres humanos interagem uns com os outros. Os

símbolos são objetos utilizados pelos atores sociais para representação e

comunicação. A representação simbólica é uma interpretação da realidade presente

em todo ser humano, que busca a apreensão do mundo que o circunda para nele

poder se relacionar.

O comportamento humano tem sua base naquilo que ele conhece da

realidade como sendo a interpretação atribuída à realidade. O imaginário é uma das

formas de interpretação simbólica do mundo, apesar de não ser a única, haja vista a

existência da representação cognitiva. O imaginário possibilita uma construção que

Page 109: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

87

pode não corresponder a todos os aspectos da realidade, embora tenha conexão

com ela.

Por ser uma representação simbólica, o imaginário trabalha com a

construção de símbolos, que é a atribuição de significados, a idéia representativa de

um dado da realidade. Os significantes de que são dotados os símbolos formam

uma rede que une as construções dos estereótipos e das identidades, conceitos

fundamentais para este trabalho.

Os símbolos evocam diferentes olhares e diferentes compreensões, pois

mobiliza a subjetividade das emoções. Os símbolos, portanto, podem ser

considerados polivalentes, aparando-se no referencial significante que lhes propicia

o sentido, os quais contêm significações afetivas e são mobilizadores de

comportamentos sociais.

Desse modo, apresento os fenômenos do estudo propiciando uma visão

ampliada das categorias, as conexões e as interpretações da realidade; que

enfatizo, foi o resultado de uma análise sistemática e contínua, marcado por um

trabalho intenso de leitura e releitura dos dados pertinente ao processo de

codificação da Teoria Fundamentada nos Dados.

O processo de utilização dessa abordagem metodológica, confesso, não

foi uma tarefa fácil, porém revelou-se prazeroso e motivador, já que os dados foram

fazendo um sentido: real, rico e estimulante; destacando as interações e relações

vividas pelos enfermeiros. Aliás, a abordagem da Teoria Fundamentada nos Dados

mostrou-se apropriada para este estudo, porque procurou investigar os processos

nos quais ocorriam os fenômenos, propiciando uma fundamentação detalhada para

a realização da análise, até que pudesse emergir a teoria, a partir da comparação

sistemática e constante dos dados.

Page 110: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

88

A partir das premissas do Interacionismo Simbólico foi possível perceber

que o significado de enfrentar o conhecimento novo é modificado pelo profissional a

partir de um processo interpretativo, ao lidar com as vivências do dia-a-dia. Esse

significado resultante da interação do enfermeiro com o seu meio social, pelo qual

estabelece as suas relações, portanto, revelando o resultado das suas experiências,

dos seus comportamentos e das suas relações que desenvolve com outros

indivíduos presentes nas situações do seu cotidiano.

De tal modo, a história que agora começa a ser contada corresponde ao

processo de revelar a experiência do enfermeiro, na perspectiva que o iniciante ou

novato age e reage aos enfrentamentos e aos desafios que estão relacionados e

permeiam o conhecimento novo na tentativa de adequar-se em um movimento de

retomada, de afirmação do domínio da situação e de ajuste a realidade.

Não poderia deixar de comentar sobre as diferentes visões de mundo

encontradas quando da abordagem durante a coleta de dados e análise dos

achados. A vivência de cada enfermeiro na situação estudada possibilitou a

construção de uma percepção comum, demonstrando que a experiência,

notoriamente, se constrói numa esfera singular, que pode ser representada por um

todo, tendo em vista a relação do enfermeiro consigo e com os outros.

Portanto, a compreensão da experiência do enfermeiro foi facilitada com a

aplicação do modelo de paradigma de Strauss e Corbin (1990, p.99), ou seja:

condições causais, contexto, condições intervenientes, estratégias e conseqüências;

e a interpretação à luz do Interacionismo Simbólico. Logo, sinto a necessidade de

ilustrar a esse ponto, uma síntese do referido modelo para a compreensão dos

movimentos e das reflexões realizadas na pesquisa.

Page 111: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

89

Condições causais

Estratégias ação-

interação

Levam à ocorrência ou

desenvolvimento de um fenômeno.

Idéia central para o qual as

estratégias de ação-interação são dirigidas.

Especificidades da condição

causal.

Apontam as condições

estruturais que se apóiam nas estratégias e que pertencem ao

fenômeno.

Apontam como as pessoas respondem às condições

causais.

Conseqüências

São identificadas como os

resultados ou expectativas da ação-interação em relação a um

determinado fenômeno.

Fenômeno

Contexto

Condições

intervenientes

Page 112: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

90

Dessa maneira, para a compreensão do significado do enfrentamento do

conhecimento novo em setores especializados, foi possível a apreensão de cinco

fenômenos, em consonância com as concepções teóricas do Interacionismo

Simbólico e a dinâmica da Teoria Fundamentada nos Dados, que assim foram

organizados e são apresentados:

• VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO

ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE

• EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER

COMPREENDIDO

• SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE

• (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA

ESPECIALIDADE

• CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE

Page 113: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

91

A história é marcada por um início, em que um enfermeiro está frente a

frente com o conhecimento novo pertinente a especialidade, com o novo papel,

caracterizando uma fase de inquietações, medos, inseguranças e, não obstante tudo

isso, partindo do princípio de que o cuidar do corpo humano exige um olhar para a

dimensão total do ser, inclusive de sua essência existencial, compreendida como

dimensão ontológica, daqueles que precisam de cuidados de enfermagem para se

sentirem mais confortados. Por conseguinte, torna-se um grande desafio cuidar no

espaço da especialidade, sendo o enfrentamento do novo uma fase de grandes

descobertas e de reveladoras experiências.

Se por um lado a vivência no conhecido reforça uma atuação

independente, a vivência no desconhecido apresenta um jogo de tensões e de

angústias, exigindo respostas em tempo hábil. Essa situação aponta para um

processo adaptativo marcado por fragilidades, posturas apreensivas, busca de

forças interiores e até mesmo, comportamentos surpreendentes, no enfrentamento

dos dilemas instituídos, porém compromissados com o valor essencial da profissão,

em que se destaque a realização do cuidado digno e de qualidade, em qualquer que

seja a circunstância.

Page 114: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

92

VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE:

A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE

Este fenômeno representa como o enfermeiro vivencia a realidade no

setor especializado, no que tange à experiência de deparar-se com muitas variáveis

que lhe são desconhecidas, estando em um momento que os seus próprios

sentimentos permeiam a interpretação da situação.

Tal momento representa um período inicial de transição de um mundo

social conhecido para aquele que precisará ser desvendado. Caracteriza-se por uma

fase de inquietação, de mudança brusca, com repercussões generalizadas. Nessa

fase, o enfermeiro sente o peso de estar despreparado para uma atuação mais

específica, sentindo a discrepância entre o que sabe e faz, para o que deverá saber

e fazer.

Existe, portanto, uma preocupação em termos do conhecimento

reconhecido com o exigido em dada realidade. Essa desarmonia inicial não significa

uma desvalorização do profissional, mas uma situação circunstancial que deixa o

enfermeiro em choque, uma vez diante ao novo, fazendo-o pensar e pensar,

tentando encontrar algumas saídas para um encorajamento, ou ainda, para uma

precoce e imediata desistência.

O enfermeiro reconhece nessa fase inicial, apesar da pouca familiaridade

e da distância com os esquemas operacionais específicos da área, aspectos

positivos relacionados ao novo e também emerge a representação de que tal

vivência poderá ser interessante para a sua carreira na enfermagem, acrescentando

novas possibilidades ao seu conhecimento, construído ao longo da sua trajetória

profissional.

Page 115: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

93

Tem-se uma espécie de embate, já que à primeira vista as novas e

específicas exigências não são coincidentes com as experiências anteriores, que lhe

garantem uma bagagem, tanto em termos de conhecimento teórico quanto

considerando o conhecimento prático. Logo, o novo é percebido como um desafio.

Essa fase requer do enfermeiro maturidade para uma busca na compreensão dos

seus próprios sentimentos, angústias e dúvidas, que emergem quando da

aproximação com a especialidade.

Tudo passa a ser vivido de uma maneira intensa e singular, com extremos

de sentimentos e valores, atitudes e comportamentos, pensamentos e práticas, que

podem variar, desde os mais felizes e tranqüilizadores até àqueles marcados pela

raiva e a revolta. A eclosão de variados sentimentos pode ser compreendida, já que

o enfrentamento do novo irremediavelmente produz angústia de não saber,

ansiedade, desamparo e desassossego. Isso porque, simbolicamente há todo um

tecido social, onde a cada agente corresponde um lugar e, a cada lugar, um agente.

Por conta disso, o diferente fica fora de determinados espaços, fica excluído deles e,

portanto, em uma situação compatível com o estado de estranhamento.

Percebe-se assim, uma inicial resistência à mudança que pode provocar

verdadeiros suicídios diários no processo de aprendizagem e de apreensão do

conhecimento. Obviamente, que viver em uma zona de conforto, sem riscos, sem

ameaças, é por demais cômodo, mas pode limitar para somente aquilo que já se

sabe e já se conhece. Através da mudança é que se propicia o desafio e, neste

sentido, a exposição às oportunidades, levando a diferentes possibilidades em um

novo cenário.

O enfermeiro, mesmo sem experiência na especialidade, precisa assumir

papéis, desempenhar funções, adotar atitudes e práticas, constituindo no momento

Page 116: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

94

inicial um peso, que eu diria, em uma leitura pautada na abstração, o peso da

realidade. Esse peso impregnado de expectativas, tanto do profissional que espera

o progresso e o contentamento, quanto do setor especializado, que precisa do

trabalhador atuante e disposto a desenvolver ações, que efetivamente representem

resultados.

Nessa fase, bem representada pelo fenômeno e por suas categorias, tem-

se o choque, a caracterização da própria perplexidade em que se encontra o

enfermeiro que na situação do novo, não consegue vislumbrar claramente o melhor

caminho a seguir, a melhor escolha a ser feita. Fica então o profissional em um

estado de paralisação, aguardando e observando os acontecimentos, tímido à

própria realidade, ao mesmo tempo em que sente um turbilhão de sentimentos, que

ora nem consegue ser detalhadamente explicado.

O fenômeno VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO

ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE pode então tomar a configuração e começar a

ser compreendido, a partir da experiência do enfermeiro no enfrentamento do novo,

considerando o aprofundamento relacionado às categorias que o compõem:

DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL e RELACIONANDO O

ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O ACOLHIMENTO.

Page 117: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

95

DIAGRAMA 1 – FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A

INSERÇÃO DO ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE.

Relacionando o enfrentamento com o acolhimento

Aproximando-se do

trabalho na especialidade

Vivendo o choque da realidade: a inserção do enfermeiro na especialidade

Encorajando-se

Ficando desmotivado

para o enfrentamento da

realidade

Relacionando o enfrentamento

do novo com o acolhimento

Sendo bem recebido

Passando por capacitação específica

Descobrindo a especialidade:

o contato inicial

Vivendo um momento

de conflito

Percebendo sentimentos

Sendo o

acolhimento favorável

Sendo o Acolhimento desfavorável

muitos

Page 118: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

96

A categoria DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL

se expressa a partir da associação das subcategorias: APROXIMANDO-SE DO

TRABALHO NA ESPECIALIDADE, PERCEBENDO SENTIMENTOS E VIVENDO

UM MOMENTO DE CONFLITO.

QUADRO 1. DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO INICIAL.

Categoria Subcategorias

Descobrindo a especialidade: o contato inicial

1.1 Aproximando-se do trabalho na especialidade

1.2. Percebendo sentimentos

1.3. Vivendo um momento de conflito

Em APROXIMANDO-SE DO TRABALHO NA ESPECIALIDADE, o

enfermeiro vive o encontro com o novo, podendo ter diferentes reações. Destaque-

se o fato, de que os dois lados não são conhecidos: sendo o enfermeiro um estranho

para o novo, bem como o novo um estranho para o enfermeiro. Entendendo-se por

novo, considerando a experiência dos enfermeiros, mudança, movimento, sair da

rotina, sair do lugar e transformar.

Page 119: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

97

“O novo? Eu sou viciada. Eu tenho esse problema, muito pelo

contrário, é o vício pessoal, é uma personalidade”. Raio

“Então, o enfrentamento do novo, é um enfrentamento pessoal

frente a uma situação, em que todo dia você tem o trabalho de pensar, com

você mesmo, se vale à pena...” Tempestade.

O enfermeiro tem a sua frente um desafio de cunho pessoal, que exige um

período de adaptação, já que o cuidado de enfermagem, na especialidade, encontra-

se mergulhado em peculiaridades e singularidades. Também vive um momento forte

de apreensão de conhecimentos, em que o enfermeiro parte realmente para o

desconhecido, tendo que retomar a situação de aprendiz.

“Quando você tem noção já é difícil entrar em um lugar e se

adaptar, quando você não tem tudo é muito mais difícil”. Fogo

“O iniciante não tem noção do que se passa dentro de uma

determinada especialidade”. Fogo

“Não precisa ser recém formado, porque eu não sou recém

formada e estou caindo numa clínica específica e, me dão um exame, que

eu digo: Minha gente o que é isso?”. Raio

O capítulo que se institui na vida do enfermeiro é o vamos aprender,

deixando no aguarde, nesse primeiro momento, o capítulo vamos ensinar. Ao

assumir esse papel, existe uma inversão e transformação na natureza das

interações, em se tratando do caráter simbólico em que o enfermeiro sai de uma

situação de domínio, indo para uma outra, onde precisará ser amparado, tanto em

Page 120: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

98

termos de recursos teóricos e técnicos, quanto inclusive considerando as questões

emocionais. Isto não é um movimento fácil, porque fica claro uma condição de

despreparo, e em consonância com essa idéia, o enfermeiro sente a falta de

proteção, que legitimamente é obtida quando se conhece o que se faz.

“Cansei de chorar porque às vezes acontecia alguma coisa, e não

sabia resolver”. Flor

“Não conhecer é terrível... Sensação de incompetência”. Raio

Muitos são os pensamentos do enfermeiro que faz um resgate de sua

vida, de fato, PERCEBENDO SENTIMENTOS, que se misturam e se confundem,

podendo sair da mais absoluta felicidade até a obstinada negação. A negação

constitui uma situação importante, podendo interferir tanto, a ponto do enfermeiro

não desejar nenhum tipo de aprendizado. Sendo um processo de atordoamento,

entorpecimento e descrença, no qual não se quer participar de nenhuma realidade

inovadora.

“A minha vontade era apenas saber o básico, para não fazer

errado. Eu acho que eu mesmo me limitei. Eu não consegui me projetar. Eu

pensava, quero o básico. Agora, para trabalhar o dia a dia eu tinha que

aprender o básico”. Céu

“Eu pegava os livros e acontecia o que acontecia na faculdade.

Você começa a dormir, você começa a estudar e dá sono, dá vontade de ir

ao banheiro, dá vontade de beber água, tudo para despistar a sua atenção.

Porque realmente você não quer aquilo dali”. Flor

Page 121: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

99

“Eu tenho que aprender uma coisa que eu não quero. Eu

preciso aprender uma coisa que eu não sei fazer, mas eu também não

quero aprender”. Flor

A experiência do enfermeiro frente ao novo revela que o desapontamento e

a frustração que acompanham essa atitude podem gerar impulsos de agressividade e

raiva, que são voltados para tentativas de sair da especialidade antes mesmo de

começar. Além disso, uma outra forma de expressar a raiva são os sentimentos de

autopiedade, quando o enfermeiro se sente à vítima da instituição, que o inseriu em

tal situação.

“Outra coisa que me revolta, é como um hospital com tantos

mestres e doutores em gerência pode lançar mão da linha tapar buraco,

inserindo pessoas sem nenhuma proximidade, não considerando as suas

experiências anteriores, tendo profissionais com perfil delineado, com

experiência trazida de outro lugar”. Céu

“Me senti impotente a minha própria realidade. Passei no

concurso, e sendo nova na Instituição, não cabia ficar insistentemente,

reclamando. Apesar disso, tentei algumas vezes falar com a Chefia sobre o

assunto”. Tempestade

Destaque para uma emoção natural associada ao contato próximo do

enfermeiro com o conhecimento novo, que agora fará parte do seu dia-a-dia. Assim,

ele percebe diferentes e conflitantes sentimentos, como: a alegria, a tristeza, o

aborrecimento, dentre muitos outros.

Page 122: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

100

Em consonância com o exposto, os dados também apontam que

dependendo do sentimento, este servirá como uma mola propulsora para a

motivação, impulsionando satisfatoriamente o enfermeiro, que pode ser até

exagerado, levando ao estado de euforia. Em contrapartida, quando o sentimento é

pessimista, pode gerar dificuldades no controle das emoções, se convertendo num

estado de revolta, podendo chegar a um quadro de depressão.

“Tanto chocolate que eu comi, para melhorar o meu nível de

serotonina, porque era muita tristeza que eu sentia”. Mar

“O novo aparece como algo desafiador, inquiridor, algo

instigante, com um certo fascínio. Não vejo como ameaçador. Ao contrário de

mim, eu vejo as pessoas com muita cautela diante ao novo. Eu sou louco por

coisas novas. Isso faz parte de mim ”. Nuvem

“Eu enfrentei, enfrentando. Assim mesmo, encarando. É novo,

mas aquele novo é o que eu quero naquele momento, então o que posso

fazer para naquele momento o novo se transformar numa coisa mais

conhecida para mim?” Sol

Diante do conhecimento novo, a partir da vivência do enfermeiro, o medo

é inevitável, podendo levar à paralisação, diante do futuro. Entretanto o medo,

quando bem administrado, pode até ser um componente importante, já que mantém

o enfermeiro alerta, com relação ao desconhecido. Agora, também pode significar

um estado dominado pela ansiedade, com desenvolvimento de ameaças que podem

existir ou não, alterando o conteúdo do pensamento, interferindo em todos os

processos interativos.

Page 123: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

101

“O que fazer agora... Pensei comigo... Não sei... Fiquei sem

saber o que fazer...”. Flor

“Eu tive problema dermatológico por ansiedade. Me sentia

durante um tempo muito infeliz. Não conseguia me adaptar”. Céu

Para o enfermeiro a ansiedade aparece muito forte e marcante, como um

estado de ameaça, gerando mais insegurança quanto à capacidade de lidar com o

desconhecido. No entanto, os dados revelam que também é este sentimento que

impulsiona o enfermeiro a agir sobre o mundo social, que não lhe é familiar, e que,

portanto, não é tão evidente e claro. Um mundo que não está sob o seu domínio,

mas que precisa ser seguido, sem saber ao certo o que o espera e aonde vai

chegar. É, sob essa ótica, a ansiedade pode ser saudável e natural, pois, por

excelência, o ser humano é ansioso.

O enfermeiro se engana quando tenta disfarçar a sua ansiedade, gerando

comportamentos que não são peculiares para o momento de enfrentamento de uma

nova realidade, demonstrando atitudes como o excesso de praticidade e

objetividade, buscando se livrar daquela agonia e da sensação de desconforto que a

ansiedade gera, até mesmo com a finalidade de defender-se.

A ansiedade faz o enfermeiro sentir a expressão e o impacto da realidade,

não podendo ser negada ou temida. Sentir nesse caso, apesar de relacionado com o

conhecimento novo, não significa uma fragilidade pessoal, e sim, numa situação de

conhecer, reconhecer sensações, lidar com o emocional, sem se enganar. O sentir

como um movimento que aguça a possibilidade do pensar, por conseguinte,

podendo levar a um agir reflexivo.

Page 124: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

102

Cabe ainda relatar que no dia-a-dia na especialidade, o enfermeiro

procura guardar a sua ansiedade tentando minimizá-la. Às vezes, recorre a

psicoterapias e medicamentos, quando a ansiedade se apresenta incontrolável e

altamente prejudicial. Porém, de uma forma geral, é capaz de enfrentá-la, utilizando

como impulso ou como freio, para o enfrentamento do próprio cotidiano.

“O novo é complicado. Em qualquer situação o novo é

complicado. (...) Tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma

ansiedade. Então eu vim para cá achando que eu poderia trabalhar em

uma coisa que eu gostasse. E aí desde a faculdade eu nunca gostei dessa

especialidade”. Flor

“Nossa mãe, coisa assim, eu era muito bicuda. Eu vivia

bicuda, bicuda o tempo todo. (...) Coisa assim absurda. Procurei florais

também, não sei se você conhece o trabalho com florais... É um tipo de

abordagem que trabalha com as emoções e os sentimentos. Então

comecei a usar florais e fui bem”. Mar

A experiência do enfermeiro revela que a expressiva mudança exige do

mesmo uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. A grande

exigência imposta implica em um estado de conflito, ansiedade, angústia e

desestabilização emocional. O estresse surge como uma conseqüência direta dos

persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial, que tem seu

momento de impacto, VIVENDO UM MOMENTO DE CONFLITO.

Surge o questionamento, colocando em cheque, até que ponto esse novo

será bom. Não somente pensando sob a perspectiva da manutenção do trabalho e

do conhecimento, mas sob a ótica do momento de vida de cada pessoa e a

disposição para mudar e enfrentar o desafio, e tudo que possa estar relacionado.

Page 125: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

103

Cabe pontuar também que se trata de um conflito intransferível, que tem relação

com as características pessoais de cada indivíduo, e nesse contexto, apenas o

enfermeiro é capaz de responder, pensar e mobilizar-se para uma estratégia em

busca de uma adaptação, ou não.

“Às vezes as mudanças são para melhor, e às vezes não... É

preciso ter a oportunidade de discutir isso. O novo pode ser ou não o

melhor. É preciso ir devagar nesse novo”. Terra

“Não gosto do setor. Mas preciso do emprego. Não querem me

tirar. Tenho que ficar... Vou tentar resolver isso amanhã”. Montanha

“No início foi muito complicado. Ficava confusa aqui. Não sabia

o que realmente queria da minha vida. Sabia que aprender coisas novas

era bom, mas não tinha certeza de nada. Uma hora queria ficar, na outra

queria sumir...” Trovão

É importante salientar que existe uma relação entre a receptividade do

enfermeiro no momento de inserção e lotação no setor especializado com o

enfrentamento do conhecimento novo. Quanto mais próximo do seu desejo pessoal,

quanto mais condizente com um acordo, mas existe a possibilidade de aceitação e,

por conseguinte, diluição das questões conflitantes. Ao passo que, quanto mais

forçada tenha sido a situação de inserção, sem respeito às preferências individuais,

sem escuta ativa aos problemas pessoais, mais existirá a repulsa, culminando com

os significativos conflitos interiores.

Page 126: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

104

“Vim para o setor que desejava. Estou aprendendo muito”. Sol

“Inicialmente iam me colocar lá por que eu reclamei... Logo

depois, minutos depois, eu vi que não... Não estavam vendo a minha vida,

estavam vendo a vida do setor. A enfermeira me disse: não tem jeito, a

prioridade é para os antigos. Não falei mais”. Céu

“Ninguém me deu chance de dizer não quero trabalhar nesse

setor. Não gosto disso. Eu tive que literalmente engolir. Isso foi revoltante”.

Montanha

“Eu queria vir para esse novo. Então, tive que agüentar as

situações difíceis do dia-a-dia. Foi minha escolha, por isso acho que ficou

mais fácil enfrentar o novo”. Arco-íris

O enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo percebe o quanto é

fundamental perseverar para que a fase inicial passe, em que pese à aproximação

com a especialidade, à percepção de sentimentos e os conflitos interiores.

Entretanto, é importante refletir também, partindo da experiência estudada, que à

medida que a pessoa não tem confiança em suas capacitações, inerente a situação

de vivenciar o desconhecido, ela pode apresentar dificuldade em apostar naquilo

que lhe é novo.

Pensando sob a perspectiva da fase de choque, com ênfase também para

a questão emocional, o enfermeiro desperta para como de fato foi recebido na

unidade, RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O

ACOLHIMENTO, sendo essa categoria, bem representada a partir das

Page 127: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

105

subcategorias: SENDO O ACOLHIMENTO FAVORÁVEL; SENDO BEM

RECEBIDO; PASSANDO POR CAPACITAÇÃO ESPECÍFICA; ENCORAJANDO-

SE; SENDO O ACOLHIMENTO DESFAVORÁVEL e FICANDO DESMOTIVADO

PARA O ENFRENTAMENTO DA REALIDADE.

QUADRO 2. RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO COM O

ACOLHIMENTO.

Categoria Subcategorias

Relacionando o enfrentamento do novo

com o acolhimento

2.1 Sendo o acolhimento favorável

2.2 Sendo bem recebido

2.3 Passando por capacitação específica

2.4 Encorajando-se

3.5 Sendo o acolhimento desfavorável

3.6 Ficando desmotivado para o enfrentamento da

realidade

O enfermeiro, mediante a situação de enfrentamento do conhecimento

novo, valoriza como se dá o ambiente da sua inserção no setor especializado e

associa isso à própria possibilidade de adaptação. Portanto, SENDO O

ACOLHIMENTO FAVORÁVEL, demonstra a influência do contexto para o

Page 128: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

106

entendimento do fenômeno, considerando a preocupação do profissional com um

local de trabalho que permita o seu crescimento.

Dependendo da forma como a especialidade está estruturada e

organizada internamente, os profissionais terão melhores ou piores percepções do

trabalho, possibilitando ou não o desempenho intelectual e manual; acesso a

recursos e hierarquias institucionais; relacionamento e intercâmbio interpessoal;

percepção sobre si e sobre os outros, influência e importância do mesmo para a

comunidade interna e externa; níveis de satisfação e desgaste, entre outros.

Além disso, a busca por uma unidade agradável tanto no que se refere à

estrutura quanto à funcionalidade, no sentido de um processo de trabalho prazeroso,

eficaz e de qualidade, como também tendo como base o respeito às diferenças.

Desse modo, o acolhimento positivo imprime uma expressão otimista para o

enfermeiro, ajudando no processo de enfrentamento da situação nova.

“Achando que o enfrentamento do novo tem relação com a

recepção no setor, quanto melhor, mais fácil”. Vento

“Percebi logo que a coisa era confusa. Não sei se foi o jeito

como fui recebida... Ou se realmente tinha relação com minha total

indisposição de ficar ali”. Montanha

É importante pensar também que o trabalho faz parte da vida das

pessoas, sendo um meio para o progresso e participação através de uma construção

em prol do bem social. O ambiente de trabalho precisa ser estimulante, descontraído

e alegre, onde as pessoas possam desenvolver atividades de interesse geral,

Page 129: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

107

benéficas para outros indivíduos, não somente na perspectiva da clientela, mas

também, considerando os trabalhadores envolvidos.

A valorização do enfermeiro por um ambiente de trabalho saudável, onde

não seja cultivado o medo, e sim, seja caracterizado por um clima de verdade e de

abertura. Além disso, um ambiente de trabalho sadio proporciona saúde às pessoas,

em contrapartida, a um ambiente de trabalho agressivo, que pode levar ao

surgimento de doenças profissionais e, conseqüente, à perda ou desistência da

capacidade laborativa, o que é péssimo para alguém que está iniciando, acentuando

o momento de crise.

Nessa premissa, o enfermeiro SENDO BEM RECEBIDO no setor

especializado, pode ser positivamente sensibilizado. A relação do setor

especializado com este profissional é de extrema significância em todo o processo

de aproximação com o conhecimento novo, considerando que quanto mais

agradável for o ambiente melhor o enfermeiro se sentirá acolhido. Nesse caso, o

sucesso do acolhimento está associado à empatia, significando menos quantidade

ou qualidade de informação e mais harmonia interativa. A empatia, como uma

ferramenta de quilate, apoiando o iniciante no enfrentamento do desafio. Dessa

maneira, tê-la ou não vai fazer, para todo o processo, muita diferença.

Ser sensível àquela pessoa que está abalada, estendendo a mão e

oferecendo-lhe ajuda, pode funcionar como uma espécie de porto seguro. Alegrar

um ambiente, motivar quem está ao seu redor, trazer humor e carinho aos outros

são provas de empatia. Compartilhar conhecimento e sabedoria é um gesto de

preocupação com o processo no qual vive o enfermeiro.

Page 130: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

108

Quanto mais bem recebido e ouvido, com respeito as suas demandas

profissionais e pessoais, mais fácil poderá ser a sua aproximação com a

especialidade, considerando a sua posição de iniciante e a importância dada ao seu

momento, que sem dúvida é especial, podendo até mesmo ser compreendido como

um movimento de solidariedade da equipe que o recebe.

Entretanto, e não obstante, o enfermeiro vai ENCORAJANDO-SE, bem

como, ganhando forças para continuar tentando manter-se na especialidade. Desse

jeito, com maior ímpeto para decidir sobre si mesmo, tendo coragem para dizer sim

e até para dizer não. Além disso, tendo coragem para confessar que não sabe

alguma coisa e que pode precisar da ajuda de pessoas mais experientes. Assim,

cabe a reflexão, que o acolhimento satisfatório funciona como uma ferramenta de

apoio ao enfrentamento da nova realidade. Ousaria, corroborando com o exposto,

em chamá-lo de acolhimento empático.

“Foi muito bom termos sido recebido com uma reunião de

apresentação. Pudemos conhecer as pessoas logo. Isso foi bom para eu

sentir que não estava tão sozinho”. Lua

“Graças a Deus, eu fiquei em uma equipe que eu acho fez

parceria comigo. Eu passei por outros plantões, mas o que fico ouvindo

dizerem, é que fiquei com as meninas mais flexíveis. Acho que elas até

sabem o quanto eu não gosto disso aqui, e, tentam amenizar o meu

sofrimento”. Flor

“Era tudo tão organizado. Fui logo recebendo as rotinas.

Confesso que me animei. Fiquei imaginando eu dominando a situação.

Passou até pela minha cabeça ser uma especialista na área”. Sol

Page 131: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

109

Nesse caminho, os dados apontam que são observações favoráveis com

relação ao acolhimento do enfermeiro na especialidade: a escuta ampliada às suas

dúvidas e inquietações pessoais; a preocupação com as suas necessidades a partir

da situação circunstancial; o encaminhamento de seus problemas quer sejam eles

objetivos ou subjetivos; a preocupação com a capacitação profissional. Esta última

representada na subcategoria, PASSANDO POR CAPACITAÇÃO ESPECÍFICA,

em função da busca pela qualificação e apreensão do conhecimento específico,

dentre outros aspectos.

Entendendo capacitação específica como um processo de qualificação,

aperfeiçoamento e aprimoramento profissional. Não somente voltada para o

exercício de determinadas ações, mas também, com o objetivo de permitir uma

compreensão global da especialidade, uma vez que a pessoa precisa estar

preparada, com atitudes e práticas condizentes às exigências desse campo de

atuação.

O processo de capacitação possibilita que se trabalhem as habilidades

específicas da especialidade, ou seja, o enfermeiro recebe estímulo para exercitar

suas competências básicas, com ênfase na valorização: da auto-estima, da

comunicação, dos relacionamentos interpessoais; além da capacidade de se

autogerir, tomar decisões, participar de trabalho em equipe, bem como o

amadurecimento do seu processo de desenvolvimento no trabalho.

“Acho até que eles tiveram boa intenção para nos receber.

Preparando uma carga horária teórica. Uma tentativa de nos acalmar,

dando bom ânimo”. Céu

Page 132: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

110

“Treinamento para mim, é ter um profissional ao meu lado,

ajudando a resolver minhas dúvidas. Essa coisa, só de teoria é bastante

complicado. Ainda mais, sendo muito corrido”. Fogo

Antagonicamente ao apresentado, quando o contexto demonstra ser

pouco ou nada acolhedor, por conseguinte, SENDO O ACOLHIMENTO

DESFAVORÁVEL, de fato, com relações complicadas, desrespeitosas e não

profissionais, o afastamento do enfermeiro também é bastante favorecido.

Seguem alguns problemas que causam o desânimo do enfermeiro novato:

ambiente físico impróprio para os procedimentos realizados; falta de autonomia do

enfermeiro; falta de curiosidade para implantação de melhorias por parte dos

gestores; falta de informação; falta de perspectiva de desenvolvimento e de

crescimento; falta de tempo e ambientes apropriados para a reflexão coletiva; falta

de visão compartilhada; hierarquias rígidas; imposição de modelos padrão

desatualizados; ausência dos planejamentos participativos de atividades;

burocracias excessivas; controles excessivos, que exigem um trabalho

desnecessário do enfermeiro; estímulo a julgamentos prematuros; mesmice e

repetição; pessoas sem visão (que matam suas próprias idéias e/ou as dos outros);

pressões; restrição de escolhas ou opções; rigidez de horários e compromissos;

rotina massacrante; forte vigilância das pessoas; falta de reconhecimento do

trabalho realizado pelo enfermeiro, entre outros aspectos.

A desorganização do setor especializado aparece como um fator que pode

não contribuir no processo de adaptação do enfermeiro, estimulando para a não

participação, FICANDO DESMOTIVADO PARA O ENFRENTAMENTO DA

Page 133: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

111

REALIDADE. Desse modo, muito mais por suas conseqüências, a falta de

motivação, de entusiasmo e de estímulos são fortes inimigos do conhecimento novo,

já que sem esses é bastante complicado desenvolver um movimento em prol do

aprendizado. Quando predominam fatores que desmotivam e desestimulam, a

possibilidade é desastrosa para o conhecimento.

É importante pensar que o grande responsável pelo fracasso ou sucesso

da motivação são as pessoas. Com isso, a principal ação contra a desmotivação é a

pessoa sensível, de altíssima qualidade, devidamente orientada e qualificada para

agir em benefício da motivação, acolhendo de uma maneira empática o enfermeiro

recém chegado à especialidade, contribuindo para o processo de adaptação.

“O pior é vir para cá, sabendo os problemas de falta de

material. Sabendo que vou ter que correr a toda hora o hospital para ver

onde tem as coisas. Isso desestimula qualquer cidadão”. Montanha

“Todo mundo sabe como está a saúde, falta tudo, pessoas

trabalhando insatisfeitas... Essa realidade é muito ruim para quem quer

começar alguma coisa. Não favorece em nada uma adaptação”. Nuvem

“Se fosse um local agradável de se trabalhar, a gente passa

por crises, problemas por falta desde falta de seringa, falta de agulha, isso

parece até que aquece o problema que já existe comigo, de não gostar

disso aqui, faltava isso, faltava aquilo...” Flor

“As coisas aqui eram confusas. E isso dificultava a

aproximação com a especialidade. Não que a culpa estivesse totalmente

na unidade, mas a falta de um planejamento para receber os enfermeiros

Page 134: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

112

sem experiência, gerava um estado de maior agonia... Poderia ser bem

diferente”. Trovão

Pude perceber durante a entrevista, que várias coisas faltam

no setor e que o enfermeiro tem um papel intenso, desempenhando muitas

funções e sendo responsável por muitas coisas. Fomos interrompidos

diversas vezes, por situações variadas, que necessariamente não exigiam

a figura do enfermeiro. Pude perceber também, por parte do profissional

enfermeiro, uma expressão facial de total descontentamento, a cada vez

que alguém solicitava algo, que poderia ser resolvido, caso existisse uma

maior definição de papéis na especialidade. (Anotações de Campo).

Afinal, um acolhimento respeitoso e flexível às diferenças, preocupado

com o estabelecimento de uma relação empática que seja compatível com as

necessidades do enfermeiro iniciante, com base no planejamento prévio que reúna

esforços de toda coletividade, expresso por atitudes dos já envolvidos na

especialidade, pode funcionar como estímulo motivacional para o agir do enfermeiro

mediante a nova realidade, influenciando diretamente no enfrentamento do

conhecimento novo.

Page 135: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

113

DIAGRAMA 2 – CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO

INICIAL24.

24 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice IV.

Descobrindo a especialidade: o contato inicial

Aproximando-se do trabalho na especialidade

-Não tendo oportunidade anterior de trabalhar nessa área -Tendo a oportunidade de conhecer algo novo

-Não estando ali para atrapalhar -Achando que as coisas acontecem no seu tempo -Sendo o novo o que eu quero naquele momento

-Sendo inserida sem experiência prévia -Entrando devido à necessidade do serviço

-Querendo viver o novo

Vivendo um momento de conflito

-Tendo que aprender uma coisa que eu

não desejava; -Não sabendo o que fazer;

-Indo para o trabalho pensando o que fazer;

-Dizendo a todos o seu problema; -Pensando que o sofrimento é válido

para aprender coisas novas; -Pensando que o novo pode ser ou não

o melhor; -Podendo ser o novo melhor ou não; -Sendo as mudanças para melhor ou

não; -Vivendo situações completamente

diferentes; -Precisando aprender o que não sabe,

sem querer; -Sabendo que precisa atender as

expectativas, mas não conseguindo dar o ponta pé inicial.

Percebendo sentimentos

-Não tendo medo ou pavor; -Não tendo temor para prosseguir; -Não deixando o medo obstruir o

caminho; -Sendo no primeiro momento terrível e

frustrante; -Tendo sido marcada pelo sentimento de

impotência; -Achando que tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma certa ansiedade;

-Estando aberta aos desafios; -Sendo bastante tolerante;

-Entrando com a cara e com a coragem;-Não estando preparado para aquilo; -Sentindo-se agredida por fazer aquilo

que não quer; -Não gostando da especialidade, mas

amando a enfermagem; -Sendo corajosa diante ao novo.

Page 136: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

114

DIAGRAMA 3 – CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO COM O

ACOLHIMENTO25.

EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO

EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO

25Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice V.

Encorajando-se

-Ganhando forças para trabalhar com a ajuda da equipe

-Sendo incentivado a ficar na especialidade

-Dando bom ânimo -Pensando que vai conseguir enfrentar o

novo -Sendo ajudado por todos os envolvidos na

especialidade -Começando a querer ficar

Ficando desmotivado para o enfrentamento da realidade

-Pensando em sair, devidos aos muitos

problemas do setor; - Piorando por não ter sido recebido; - Achando que a falta de treinamento

complicou muito a situação; -Não tendo grandes motivações; -Não conseguindo dar tudo de si;

-Se limitando; -Não querendo aprender nada em um lugar

tão complicado.

Relacionando o enfrentamento com o acolhimento

Passando por capacitação específica -Recebendo

treinamento teórico -Sendo acompanhado

na prática -Ficando um mês em

treinamento -Sendo acompanhado

por enfermeiro especialista

Sendo bem recebido

-Percebendo que todos aguardavam a

chegada dos enfermeiros

-Sendo bem tratado pelos auxiliares -Gostando do

ambiente de trabalho -Percebendo alegria

no rosto das pessoas

Sendo o acolhimento desfavorável

-Percebendo dificuldade na comunicação das pessoas

-Não recebendo uma rotina organizada -Reconhecendo coisas que precisam de

mudanças imediatas -Percebendo que na estrutura existem

problemas para o reconhecimento do papel do enfermeiro

-Percebendo dificuldade na interação do grupo de trabalho

Sendo o acolhimento Favorável

-Tendo uma boa relação com a equipe -Participando de dinâmica com a Chefia

quando da apresentação do grupo -Tendo espaço para conversar com a equipe-Tendo ajuda no começo até dos auxiliares

de enfermagem -Recebendo suporte da equipe para trabalhar

-Percebendo uma equipe entrosada

Page 137: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

115

Esse fenômeno se caracteriza por uma singular complexidade, possuindo

muitos desdobramentos, que para adequada compreensão precisa ser estudado

considerando muitos aspectos e diferentes facetas. Assim, o ambiente de trabalho

aparece no estudo como uma composição não só caracterizada pela infra-estrutura

física e técnica, mas também, sobretudo, pelas pessoas que o utilizam. São as

pessoas que fazem a diferença, que contribuem ou não para um ambiente saudável

e desejado. As suas atitudes são vitais para a mudança de um ambiente

organizacional.

A partir dos dados, pode-se compreender como ambiente aquilo que está

ao redor e que permeia a especialidade, também fazendo parte os agentes sociais,

com suas diferentes crenças, culturas, valores, entre outros aspectos. No ambiente o

enfermeiro desenvolve as suas atividades, interage, relaciona-se, aprende,

desempenhando nele o seu papel social.

Por outro lado, não poderia deixar de mencionar que o trabalho em saúde

é marcado pela coletividade e, assim como o ambiente, também apresenta

diferentes faces, nuances, possibilidades, formas de ser percebido e compreendido

enquanto espaço de atuação dos profissionais da saúde. Desse modo, à luz dos

dados, o enfermeiro percebe o trabalho como um espaço de interação, de

relacionamento e comunicação entre pessoas, em prol de um bem comum, que

dignifique o saber/ fazer em enfermagem.

Partindo dessas acepções, o ambiente apresenta-se como espaço vivo de

interação, um tecido macrossocial, que envolve aspectos físicos, psicológicos,

culturais, éticos, sociais e relacionais, entre os profissionais de saúde e os clientes,

considerando que cada trabalhador possui um papel específico e precisa interagir

Page 138: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

116

continuamente com outros seres humanos, sejam esses também trabalhadores da

saúde, ou ainda, usuários. Explicita-se pelo compartilhar de objetivos comuns, em

busca da restauração, da recuperação, do tratamento e da reabilitação de pessoas,

com base no direito à saúde, na atenção digna e humana.

Ainda em consonância com os dados, o enfermeiro reconhece, que a

organização do trabalho, e isto inclui a situação da vivência na especialidade, é

marcada pela divisão técnica e social. Existe em todo o processo a hierarquização

institucional, a distribuição de atividades entre os trabalhadores de acordo com a

qualificação profissional, diferenciando os níveis de sociabilidade e de comunicação

estabelecidas na organização, bem como a natureza das interações sociais entre as

pessoas.

Cabe também pontuar, que a clientela atendida na especialidade também

possui singularidades inerentes ao conhecimento específico, constituindo um grande

desafio para o enfermeiro iniciante ou novato, já que o mesmo precisa flexibilizar

diferentes tipos de conhecimentos e até àqueles relacionados às experiências

anteriores para desenvolver o cuidar na especialidade. Isso sem perder de vista a

complexidade do ser humano, considerando as diferentes possibilidades e esferas

possíveis e necessárias a sua compreensão, em destaque: a física, a psicológica, a

social, a cultural, a espiritual, a ética e a estética.

É importante enfocar também, que além das diferentes pessoas

envolvidas no espaço macrossocial da especialidade, existem muitas peculiaridades

associadas a crescente tecnologia em saúde, no que se refere à presença de

materiais e de equipamentos de cunho específico e especializado, bem como

manuais e rotinas de utilização dos mesmos, que do mesmo modo representam uma

Page 139: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

117

grande e significativa novidade para o enfermeiro no enfrentamento do

conhecimento novo.

Dessa maneira, o fenômeno, EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA

SER COMPREENDIDO toma a configuração para ser compreendido, a partir das

conexões entre as categorias: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E

MATERIAIS e CONHECENDO AS PESSOAS.

Page 140: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

118

DIAGRAMA 4 – FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER

COMPREENDIDO

Existindo um contexto que precisa ser compreendido

Conhecendo as pessoas

Conhecendo os recursos físicos e materiais

Conhecendo o Espaço Físico

Conhecendo os Equipamentos

Conhecendo a Equipe Multiprofissional

Conhecendo a Clientela

Page 141: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

119

Nem todas as características, considerando qualidades e defeitos, estão

mutuamente apresentadas. Existe um processo de desconhecimento do contexto em

si e, por conseguinte, um movimento na tentativa de conhecer as facetas

relacionadas ao ambiente, com destaque: CONHECENDO OS RECURSOS

FÍSICOS E MATERIAIS, que se expressa pelas subcategorias: CONHECENDO O

ESPAÇO FÍSICO E CONHECENDO OS EQUIPAMENTOS.

QUADRO 3. CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS

Categoria Subcategorias

Conhecendo os recursos físicos e materiais

3.1 Conhecendo o espaço físico

3.2. Conhecendo os equipamentos

Surge uma grande e significativa curiosidade pela dimensão física, a

natureza dos equipamentos utilizados, as rotinas planejadas e executadas; enfim

uma ânsia por uma caracterização detalhada da unidade especializada, com a

finalidade de tornar o conhecimento novo o mais familiar possível, o mais próximo da

compreensão.

“Pegando os manuais para ler e estudar em casa. Tendo essa

preocupação. Tenho que saber manipular o maquinário”. Montanha

Page 142: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

120

“O que mais fiquei preocupada foi com os manuais das

máquinas, me deu até pânico, em pensar que algo poderia acontecer, sem

que eu soubesse resolver... Sabe como é tecnologia...” Flor

CONHECENDO O ESPAÇO FÍSICO, o enfermeiro procura compreender a

especialidade com ênfase naqueles locais pertinentes as ações da enfermagem, já

que lhe interessa nesse primeiro momento entender a atuação profissional que lhe

cabe e, que conseqüentemente, será por natureza própria, a expectativa de todos os

envolvidos na cena social.

“Me interessei de cara pelos locais em que efetivamente eu iria

trabalhar. Pois diante ao tamanho do espaço físico reservado para a

especialidade, tinha que usar de objetividade”. Mar

Muitos equipamentos causam um estranhamento por parte do enfermeiro,

que dentro do seu mundo experiencial precisa incorporar novos significados. Essa

apreensão ocorre ao longo da realização do trabalho, por conseguinte, do próprio

enfrentamento do conhecimento novo, em que o enfermeiro vai se apropriando do

saber/ fazer em se tratando da utilização do arsenal tecnológico presente na

especialidade, CONHECENDO OS EQUIPAMENTOS.

“Fiquei perplexa quando vi aquela máquina. Não sabia nada

sobre ela. Apenas, que teria de manipulá-la durante o trabalho. Uma

sensação de desamparo”. Vento

Em consonância com a busca pelo conhecimento e modo de utilização

dos equipamentos, da mesma forma o enfermeiro demonstra ânsia pela apreensão e

efetiva memorização das rotinas específicas no contexto da especialidade. O

Page 143: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

121

enfermeiro através de uma procura direcionada tenta recuperar o domínio da nova

situação.

“Levei as rotinas par casa e passei a ler sempre que podia. Os

manuais, eu fiz questão de guardar a localização dos mesmos nos

armários, pois se precisasse teria que achá-los com facilidade”. Montanha

É importante enfatizar que o enfermeiro depara-se com um trabalho que o

leva a uma conduta especializada segundo rotinas pré-estabelecidas dotadas de

especificidades; sendo esperado que o mesmo cumpra normas e regulamentos

instituídos, sem perder de vista a hierarquia de autoridade existente.

“Precisei conhecer a Chefia e entender toda uma situação

política do setor. Isso me ajudava quando do trabalho na especialidade. No

fazer do dia-a-dia, precisava definir pessoas para contar nas horas de

maior dificuldade, assim como, a convivência cotidiana me mostrava

àquelas que não poderia contar, de jeito algum. Isso foi norteando a minha

prática e conduzindo minhas atitudes e ações”. Mar

Agora, cabe salientar, a partir da análise dos dados, que o ambiente é

composto, não só da sua infra-estrutura física e técnica, mas por pessoas que o

utilizam. Desse modo, emerge como demanda importante para apreensão do

enfermeiro na especialidade não somente conhecer o espaço físico e conhecer os

equipamentos, mas, sobretudo, conhecer a equipe multiprofissional e conhecer a

clientela. Logo, a organização do trabalho precisa ser entendida, antes de qualquer

coisa, como uma relação socialmente construída e, não apenas, na sua dimensão

estritamente tecnológica ou física.

Page 144: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

122

Refletindo que as pessoas fazem substancial diferença quando da análise

do ambiente, emerge a categoria: CONHECENDO AS PESSOAS, que se expressa

pelas subcategorias: CONHECENDO OS CLIENTES E CONHECENDO A EQUIPE

MULTIPROFISSIONAL.

QUADRO 4. CONHECENDO AS PESSOAS

Categoria Subcategorias

Conhecendo as pessoas

4.1 Conhecendo os clientes

4.2. Conhecendo a equipe multiprofissional

O enfermeiro sente a necessidade de conhecer o contexto da

especialidade, com ênfase nas diferentes pessoas que trabalham e são cuidadas no

setor, com destaque: os relacionamentos, as posturas e as interações; sejam

profissionais, sociais e/ ou políticas.

“Procurando conhecer toda a unidade. Olhando mesmo.

Observando tudo. Acho ser importante conhecer a rotina, o local, a

integração entre as pessoas e o relacionamento interpessoal”. Vento

CONHECENDO OS CLIENTES revela a preocupação do enfermeiro com

o cuidado de enfermagem ao ser humano considerando a atuação profissional no

Page 145: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

123

contexto do setor especializado. Essa prática orientada pela compreensão do

processo saúde-doença vivido pelo cliente, que inclui as necessidades específicas

pertinentes à especialidade.

“A clientela era muito diferente daquela que eu estava

acostumada. Era bastante difícil prestar o cuidado sem ter o domínio do

conhecimento tido como específico para área. Tinha que fazer uma força

muito grande para não passar isso para o cliente. Afinal! Ele não tinha

culpa...” Flor

Em consonância com o exposto, estão implícitas algumas atitudes por

parte do enfermeiro no sentido de não ser simplesmente um mero executor de

tarefas direcionadas por outrem, ou ainda, um reprodutor de ações sem o exercício

da reflexão. Assim, no enfrentamento do conhecimento novo na especialidade, o

enfermeiro assume uma postura crítica considerando as suas funções e o seu papel

social, ajustando princípios e medidas adotadas na especialidade à solução de

problemas específicos.

“Apesar de não estar bem adaptada à realidade, eu sabia que

precisava prestar um cuidado livre de riscos para o cliente. Eu não era o

melhor da especialidade. Mas fazia o meu melhor”. Montanha

Para tanto, ele precisa de muita criatividade para o planejamento de ações

de enfermagem, na tomada de decisões, adequando os recursos humanos e

materiais à implementação do cuidado planejado e desejado, já que por não dominar

o conhecimento pertinente às temáticas da especialidade, precisa lidar com a

inexperiência sem comprometer a qualidade da assistência prestada.

Page 146: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

124

“Eu aproveitava o diálogo com os pacientes para me aproximar

ainda mais da especialidade. Por serem crônicos, eles viviam há muito

tempo à patologia, por conseguinte, os tratamentos associados. Assim,

para planejar as ações eu pensava: naquilo que tinha lido, nas trocas com

a equipe de enfermagem e nas falas dos pacientes”. Mar

Os dados apontam para uma prática do enfermeiro criadora, já que apesar

das dificuldades relacionadas à inexperiência, o mesmo procura enfrentar as novas

necessidades e as situações presentes na especialidade, com base nos valores da

profissão, buscando a apreensão de conhecimentos e, preocupando-se com o fazer

competente, em prol de uma assistência qualificada ao ser humano, considerando

os aspectos filosóficos e práticos da enfermagem. Nesse contexto, por meio da ação

crítica e reflexiva, integra questões éticas no seu agir.

“Eu vivia me cobrando. Apesar de ser nova aqui, preciso

conhecer a clientela e ajudar no que puder. Somar realmente, buscando o

melhor para o paciente. Até porque, o paciente tem o direito de receber

uma assistência digna”. Vento

No ambiente da especialidade, mesmo com o enfrentamento do novo, a

experiência revela que o enfermeiro preocupa-se com a manutenção da

credibilidade e garantia aos direitos dos clientes, assumindo quando necessário a

sua condição de iniciante e de aprendiz, consciente do seu papel e de seus limites,

além de suas responsabilidades frente ao bem-estar do cliente.

“Não escondia dos clientes minha condição de aprendendo as

coisas do trabalho. Isso porque eu demorava mais do que os colegas

experientes. Dessa maneira, pensava que era um direito deles saber o

porquê da demora”. Montanha

Page 147: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

125

Independente de viver o novo, é o enfermeiro o responsável pela

implementação do cuidado de enfermagem a cada cliente, de maneira singular, em

caráter individual. Portanto, o enfermeiro precisa ampliar e aprimorar a sua

capacidade de interação, já que a equipe multidisciplinar representa o contexto

macrossocial na qual o mesmo encontra-se inserido, assim: CONHECENDO A

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL.

Do mesmo modo, os dados revelam que o enfermeiro busca uma

aproximação satisfatória, no sentido do estabelecimento de interações positivas com

a equipe multiprofissional, dando importância a cada participante no rol de

conhecimentos da especialidade, valorizando possíveis trocas futuras.

“Fui buscando conhecer os membros da equipe multidisciplinar

para uma boa relação, valorizando a todos. Precisava contar com o apoio

deles. Precisava aprender rápido, e para tal, a equipe poderia me ajudar”.

Fogo

“Fui logo tentando compreender como se comportava a equipe

de trabalho. Equipe de enfermagem e equipe médica. Fui tentando interagir

de uma forma agradável. Acho que foi um pouco mais fácil para mim, em

virtude de ser uma pessoa extrovertida”. Arco-íris

Assim, o trabalho em equipe para o enfermeiro no enfrentamento do novo

não foge a realidade vivida no âmbito da saúde, levando-se em consideração que a

troca de informações e opiniões entre seus diferentes componentes torna o cuidado

muito mais eficaz. Embora, em alguns casos, a ação terapêutica possa se efetivar

através de um único tipo de intervenção, via de regra o atendimento múltiplo,

realizado por uma equipe contribui para a consolidação do tratamento como um

todo.

Page 148: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

126

Os dados apontam também, que quando as atitudes das pessoas

somam-se aos esforços efetivos das suas Instituições, o melhor ambiente de

trabalho pode ser formado, possibilitando parcerias de sucesso, favorecendo a

adaptação.

Desse modo, o ambiente possui uma parcela significativa no sucesso das

pessoas no enfrentamento do conhecimento novo, em se tratando dos recursos

materiais, da definição das políticas de recursos humanos, daquilo que pode ou

não ser realizado, da promoção de condições físicas satisfatórias e, não obstante

a tudo isso, pelo estímulo freqüente à integração dos diferentes agentes sociais,

profissionais e clientes. Além disso, enfatiza a importância na clareza de metas e

objetivos, na transparência incondicional no que se refere às comunicações e nas

tomadas de decisões na especialidade.

Da mesma forma, um contexto propício para o bem-estar acaba por

incentivar ainda mais o surgimento de regras de convivência que nada mais são

do que a concordância em prol de um local agradável, motivando as pessoas

envolvidas no trabalho. Por outro lado, um contexto gerador de tensão e stress

pode influenciar negativamente no enfrentamento do conhecimento novo, com

manifestações emocionais compatíveis a um estado de desarmonia, no que se

refere às interações com os socialmente próximos.

Page 149: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

127

DIAGRAMA 5 – CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E MATERIAIS26.

SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE

26 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VII.

Conhecendo os recursos físicos e materiais

Conhecendo o espaço físico

-Indo de lá para cá para conhecer tudo -Pedindo para conhecer os locais da

especialidade -Abrindo as portas do setor

-Olhando tudo mesmo -Querendo saber os locais de trabalho da

enfermagem -Acompanhando a apresentação do

espaço físico do setor -Perguntando sobre a utilização das salas

do setor -Abrindo os armários do setor

-Querendo conhecer o contexto da especialidade

-Tendo que conhecer o local de trabalho

Conhecendo os equipamentos

-Pedindo manuais das máquinas para ler

-Pegando nos equipamento - Pedindo para montar e desmontar

-Olhando para as máquinas com máximo detalhe

-Tocando nos equipamentos para perder o medo

-Achando manipular a máquina bastante difícil

-Pensando que seria muito complicado utilizar isso

-Sofrendo somente de olhar a máquina -Tendo medo de utilizar a máquina

-sabendo que precisaria manipular a máquina

Page 150: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

128

DIAGRAMA 6 – CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS27.

27 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VI.

Conhecendo as pessoas

Conhecendo a clientela

-Sabendo que essa clientela é diferente

daquela que estava acostumada -Pensando que teria que aprender muito

sobre os pacientes -Achando que esse tipo de paciente me

assusta -Pensando que na especialidade os menos

terríveis são os pacientes -Tendo dificuldade de interação com os

pacientes na especialidade -Não sabendo reconhecer aspectos

pertinentes a especialidade nos pacientes-Sabendo que precisaria cuidar dos

pacientes crônicos

-

Conhecendo a equipe

multiprofissional

-Procurando interagir com todos -Puxando conversa com a equipe de

enfermagem -Conversando sobre minhas dificuldades com

o médico de plantão -Reconhecendo a importância da equipe na

minha situação -Querendo conhecer os enfermeiros que

trabalham na especialidade -Pensando como seriam os médicos

-Aproximando-se dos técnicos e auxiliares de enfermagem devagar e sempre

-Tendo medo de ficar com uma equipe ruim e de difícil relacionamento

-

Page 151: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

129

SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE

A história do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo continua

a ser contada, no entanto agora, a expressão fenomênica recai sobre a questão da

experiência. De fato, nessa situação, o mesmo não a possui, já que vivencia pela

primeira vez a especialidade. Como toda experiência humana estrutura-se tendo por

referência as dimensões do espaço e do tempo, não poderia ser diferente com a

inexperiência, e é em torno dela, que as interações se desenvolvem constituindo os

núcleos simbólicos da situação estudada.

Compreender essa dimensão e torná-la significante, nos faz refletir sobre

os aspectos subjetivos, associados aos sentimentos, às idéias e aos projetos de vida

de cada pessoa, às subjetividades individuais; subjetividade aqui entendida, não em

termos psicológicos, mas na produção de formas específicas de sociabilidade, que

participam da construção presente e futura dos agentes sociais.

É na prática que o enfermeiro deixa a sua marca coletiva, dando forma e

sentido ao mundo real, uma vez que implica em relações entre pessoas, construindo

através de sua própria experiência, sua singularidade e identidade profissional. Esta

atividade não se faz de qualquer forma, mas obedece a uma seqüência, realiza-se

dentro de uma ordem, de uma duração, segue regras, desenvolve-se dentro de um

tempo determinado.

Assim como o tempo, a dinâmica do espaço se faz pelo movimento das

pessoas, por suas relações, interações e circulação. Através da experiência

concebida, como uma quase coreografia, pela qual os movimentos se efetuam no

Page 152: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

130

espaço produtivo, e neste, os agentes sociais marcam sua presença no mundo e em

suas relações com os outros.

Ao recuperar as significações que o enfermeiro atribui a sua experiência

no espaço produtivo, e que antagonicamente, também é atribuído à falta de

experiência, evidencia-se que age na representação da realidade, contribuindo,

intervindo e moldando-a materialmente.

Surge como marcante para o enfermeiro uma intensa preocupação com a

sua atividade laboral, a qual não tem o domínio necessário para uma atuação

profissional segura, já que ainda não se conhece totalmente, aquilo que deve ser

feito nas diferentes e desafiadoras situações da prática.

Existe, portanto, a influência direta de uma lógica, que insiste: se não sei,

não devo, não posso atuar. O enfermeiro que vive essas dificuldades percebe-se

embotado em si mesmo, com problemas de projeção, ou ainda, dentro de uma

perplexidade que o detém para atitudes mais empreendedoras.

Entretanto, ao mesmo tempo em que a inexperiência pode provocar o

medo da exposição, pode ocorrer uma inversão dessa situação e utilização a favor

do processo. È interessante salientar a esse respeito que, isso dependerá da

percepção do enfermeiro sobre as possibilidades de aprendizagem que se abrem,

ainda assim, para tal é preciso se expor, de alguma maneira.

Pelas questões apresentadas, essa fase diz respeito a uma condição da

falta de domínio real da situação, SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER

CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICOS, com destaque para uma

acentuada fragilidade pessoal e profissional, considerando a ausência de referências

Page 153: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

131

anteriores e a necessidade veemente de ajuda, corroborando com o

comportamento, HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.

Além disso, ocorre uma percepção pessimista do seu próprio eu, a ponto

de ocorrer questionamentos interiores, no que se refere a sua competência técnica

para lidar com o conhecimento novo, SENTINDO O PESO DA

RESPONSABILIDADE, com um absoluto receio de exposições e danos, que

possam advir do enfrentamento.

Page 154: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

132

DIAGRAMA 7 – FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA

ESPECIALIDADE.

VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO NA ESPECIALIDADE.

Sentindo a falta

de experiência na especialidade

Hesitando em desenvolver o

trabalho

Sentindo o peso da responsabilidade

Precisando dizer:

não sei

Sentindo-se

constrangido por não ter conhecimentos e

habilidades específicos

Tendo

insegurança

Sentindo

Taquicardia

Fazendo guiado

Tendo dificuldade

para dominar a situação

Sabendo que precisa fazer

Tendo que

tomar decisões

Tendo o

medo do erro

Precisando ser o líder da equipe

Page 155: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

133

Diante a categoria, HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO,

emerge as subcategorias: TENDO INSEGURANÇA, SENTINDO TAQUICARDIA,

FAZENDO GUIADO POR REGRAS, TENDO DIFICULDADE DE DOMINAR A

SITUAÇÃO.

QUADRO 5. HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.

Categoria Subcategorias

Hesitando em desenvolver o trabalho

5.1 Tendo insegurança

5.2. Sentindo taquicardia

5.3. Fazendo guiado

5.4 Tendo dificuldade de dominar a situação

É natural surgir hesitação e insegurança por parte do enfermeiro quando

do enfrentamento da experiência do novo. E justamente nesse momento, TENDO

INSEGURANÇA, é que se torna fundamental abrir-se de maneira receptiva para a

conquista de novos conhecimentos, com o intuito de incrementar valores a bagagem

pessoal e profissional. Além disso, a insegurança é fundamental para que o

enfermeiro tome decisões cuidadosas e seguras, pois o obriga a pensar

intensamente nos prós, contras e conseqüências de suas escolhas.

Page 156: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

134

“No início instalar os doentes na máquina é bastante

complicado, mas depois vai melhorando. Eu tinha um grande cuidado para

puncionar os doentes. Mas depois fui melhorando”. Vento

“Primeira sensação que bate na gente é otimismo. Segunda

motivação. (...) Não sou pessimista. É claro que bate uma insegurança sim.

Tem horas que você para e pensa se vai valer a pena. Será que eu vou

dominar?”. Nuvem

“Então eu fiquei muito insegura. Eu tinha muito medo de

enfrentar. Porque aqui tem tudo. Isso aqui é uma enfermaria, uma

emergência, um pronto-socorro, um CTI... É tudo ao mesmo tempo e

atualizado. Eu tinha muita insegurança”. Flor

“À distância entre um novato e um especialista é muito grande.

O novato não tem noção do que se passa dentro de uma determinada

especialidade. (...) A gente é muito preparado para fazer tudo, para

conhecer tudo, mas a realidade não é essa, (...) Quando você chega em

uma especialidade, você encontra dificuldade, ainda mais quando, essa

especialidade não é aquela que você conviveu no tempo de graduação. (...)

Você sai de uma coisa geral para uma coisa muito específica. (...) Você

encontra inúmeras dificuldades. Não está preparado para aquilo”. Fogo

A insegurança ocorre por inúmeras causas e os seus sintomas dependem

das características de cada pessoa. De tal modo, na situação do novo vivenciada

pelo enfermeiro, a insegurança encontra-se diretamente relacionada a uma condição

de pressão psicológica, de ter que fazer algo que ainda não se sabe, ou ainda, não

se conhece o bastante. Manifesta-se quando o enfermeiro é apresentado a um fato

novo, em que é literalmente exigido o enfrentamento, tendo que encarar uma

situação forte, de desafio pessoal, haja vista metas e objetivos que precisam ser

Page 157: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

135

atingidos, ou ainda, tendo o desafio de mostrar todo o seu potencial, com

possibilidades de juízos outros, voltados para o seu desenvolvimento profissional.

“Porque eu não conhecia. Conhecia uma parte, mas não

conhecia a outra. Disse: Muito prazer! Eu sou Fogo. Eu não tinha nenhuma

noção disso. (...) Foi uma experiência nova e foi difícil, por que eu não

queria”. Fogo

“Eu já estava enfrentando várias coisas novas. Novo hospital,

novo pessoal, nova vida... E ainda ter que enfrentar uma nova

especialidade... E me sair bem...”. Montanha

Pensando sobre isso, o corpo não mente, e por assim dizer, demonstra o

que as palavras, às vezes, não conseguem expressar. Em algumas pessoas pode

existir manifestação intensa e em outras de forma menos agressiva. Dessa maneira,

alguns sinais, sintomas, atitudes e comportamentos expressam o quão difícil está

sendo viver o enfrentamento do conhecimento novo, como por exemplo: as mãos

trêmulas, as pernas irrequietas, a voz embargada, a voz exaltada, o frio na

espinha28, de fato: SENTINDO TAQUICARDIA.

No início da entrevista, já percebi que a enfermeira mostrava-

se bastante sensível. Fui desenvolvendo a interação, e no momento que

perguntei sobre a sua vivência no setor especializado, foi o bastante. Pediu

desculpas, e começou a chorar. Chorou bastante. Até recomeçar a

entrevista, foi preciso que a mesma fosse a banheiro e também bebesse

água. (Anotações de Campo)

“Nos dias de folga, eu ficava pensando no próximo dia de

trabalhar... Sentia até taquicardia”. Céu

28 Grifo para diferenciar uso de termo popular.

Page 158: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

136

“Quando fiquei sabendo do meu primeiro plantão, somente

pensei em sair correndo. Senti meu coração na boca. Foi uma coisa. Mas,

tive que vencer o medo...”. Montanha

“A primeira vez que fui para o plantão parecia que meu coração

ia explodir... Fiquei super tensa, já que tudo era novo, e eu não tinha o

domínio necessário”. Trovão

“Claro, dá medo. Você tem taquicardia, assim na hora, mas

você respira fundo...”. Mar

Tudo isso está relacionado à contradição entre o que o enfermeiro sabe

fazer e o que esperam que ele faça, com exigências para além de suas

possibilidades, em uma prática dotada de conhecimentos diferenciados e

específicos, que exigem conhecimento teórico e prático aprofundados.

Conseqüentemente, ocorre um grande dispêndio de energia, tendo em vista

esforços contínuos para uma rápida apreensão desses referidos conhecimentos.

“Eu tinha uma culpa muito grande por não resolver os

problemas do mundo e do hospital, hoje em dia eu já sou mais calma. (...)

Eu descobri que essa ansiedade, não ajuda só piora. Só deixa todo mundo

nervoso, só deixa todo mundo insatisfeito”. Raio

A discrepância quando supervalorizada dificulta qualquer forma de busca

por harmonia, pois impede que o enfermeiro vislumbre suas possibilidades de

conhecimento na especialidade, tornando o desconhecimento, em uma situação de

franco desespero. Contrariamente a isso, quando entendida como uma condição

momentânea, o enfermeiro acaba aprendendo a conviver com este sentimento, e

sobrevivendo, apesar das diferentes situações da prática, mesmo TENDO

DIFICULDADE DE DOMINAR A SITUAÇÃO.

Page 159: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

137

“O sentimento que mais me marcou naquela época foi de

impotência, de não dominar ainda a situação, e por conseqüência, ainda

não conseguir dar tudo de si”. Vento

“O cara fica perdido, não sabe o que vai fazer, não sabe

resolver a situação, e aí acabam acontecendo coisas, que é sopa no mel

para quem já é cascudo. É um grande desgaste para o enfermeiro. Isso

porque você é colocado sem estar preparado”. Fogo

Um recurso utilizado para minimizar o efeito da insegurança na vida desse

profissional, que passa pela condição de iniciante, é a busca por um amparo de

caráter técnico, FAZENDO GUIADO, seja baseado em rotinas relacionadas aos

procedimentos, ou ainda, acompanhado de perto por um enfermeiro experiente.

Como não poderia ser diferente, o amparo técnico funciona também como amparo

emocional, oportunizando ao profissional aprender de uma forma mais agradável, eu

ousaria dizer, menos traumática.

“Além disso, o enfermeiro (...) foi passando o conhecimento

teórico, e após, o conhecimento prático. Um certo fazer com

supervisão”.Vento

“A gente tinha o acompanhamento de outros enfermeiros que

já tinham aquela prática, que nos treinavam, que nos passavam as

informações, e nos auxiliavam para a assistência naquele primeiro

momento. Depois, seguia caminhando sozinho”. Sol

“Seguia passo a passo à rotina para então desenvolver aquele

procedimento. Isso também porque era algo totalmente novo, cheio de

Page 160: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

138

detalhes, e que confesso, também na era algo de minha máxima

preferência. Eu tinha que fazer, e isso era o fato”. Montanha

“Para fazer as coisas aqui no começo e recorria muito aos

protocolos de assistência. Acho que para quem não conhece um dado tipo

de trabalho, essa pode ser uma boa estratégia...” Arco-íris

Alguns comportamentos demonstram essa disposição para aprender, a

partir de uma tentativa de fazer o melhor com aquilo que possui. Entretanto, persiste

o estado de dúvida, sobre o que realmente o enfermeiro deseja e, para a elucidação

disso, apenas as variadas circunstâncias do dia-a-dia podem contribuir. Do mesmo

modo, como não poderia deixar de ser relatado, é preciso que o enfermeiro esteja

consciente de sua condição de aprendiz, pois uma vez orientado quanto a isso, seu

entendimento será mais satisfatório e elucidativo, quando da situação de

constatação da inexperiência.

Page 161: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

139

Continuando a análise do fenômeno, SENTINDO A FALTA DE

EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE, emerge como categoria a ser destacada,

SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE, que tem conexão com as

subcategorias: TENDO MEDO DO ERRO, PRECISANDO SER O LÍDER,

SABENDO QUE PRECISA FAZER E TENDO QUE TOMAR DECISÃO.

QUADRO 6. SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE.

Categoria Subcategorias

Sentindo o peso da responsabilidade

6.1 Sabendo que precisa fazer

6.2 Tendo que tomar decisão

6.3 Precisando ser o líder

6.4 Tendo medo do erro

O trabalho pode ser compreendido como fundamental na construção do

próprio agente social, apresentando-se em uma situação de mediação o campo

social e a consciência reflexiva, o coletivo e o particular, incrementado por

investimentos subjetivos, que implicam na própria construção da história e

identidade do mesmo. Logo, a atuação do enfermeiro tem uma representação que

permite uma apreensão concreta do trabalho, sendo indesejado o trabalho

improdutivo e desqualificado, ao mesmo tempo que, desejado o trabalho eficiente.

Page 162: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

140

Sem deter o domínio do processo e da organização do trabalho, portanto,

SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE, tanto em termos teóricos quanto

práticos, no que concerne à especificidade do setor especializado, o enfermeiro

reconhece a sua condição de não perito, com máxima preocupação em não causar

qualquer problema como resultado de sua inexperiência.

Também se submete a uma restrição em termos de autonomia

profissional, tendo problemas para dar significado, no que se refere às atividades

realizadas, que não entende como dotadas de perícia. Por conseguinte, também,

sentindo-se menos qualificado, com comprometimentos para a sua própria

identidade profissional, principalmente, no reconhecimento frente à equipe de

enfermagem.

“Eu aprendi montando, olhando, estudando e fazendo junto.

Não era irresponsável. Se eu suspeitasse que poderia trazer malefício, eu

não fazia”. Nuvem

Por assim dizer, a atividade de trabalho do enfermeiro iniciante pressupõe

uma carga de investimento físico, cognitivo e psíquico acentuado que SABENDO

QUE PRECISA FAZER entende a importância do seu empenho para garantir um

cuidado livre de riscos.

“Tentei fazer o melhor enquanto profissional, pois o paciente

não tem nada com isso. Eu sei que tinha que dar de mim para aquelas

pessoas que precisavam tanto”. Céu

“Eu tinha que dar conta. Precisava fazer a coisa de uma forma

correta. Me empenhava muito para isso. Hoje eu vejo o desgaste em todos

os sentidos que eu tive. Principalmente, nos primeiros momentos de

enfrentamento das situações novas”. Trovão

Page 163: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

141

No que se refere à carga cognitiva, o enfermeiro percebe um aumento de

exigência, na perspectiva das funções perceptivas e mentais, direcionadas para uso

da memória, dos mecanismos de atenção, do desenvolvimento do raciocínio,

especialmente associadas à execução das atividades especializadas. Inclui-se a

essa demanda, a importância do processo decisório, em que cada enfermeiro

iniciante se encontra pelo exercício profissional da enfermagem envolvido, e nesse

momento, como não poderia ser diferente, TENDO QUE TOMAR DECISÃO.

“Me sentia totalmente exaurido. Além de ter que aprender

coisas novas. Em meio a tudo. Tinha que ser o enfermeiro do plantão. Eu

pedia forças para agüentar. Para não falhar. Tinha muito cuidado com as

coisas que decidia. Quando tinha dúvida, procurava ajuda. Foi difícil”.

Montanha

“Como decidir sem saber? É muito complicado, né? Não sei

como eu consegui isso... Mas se estou aqui é porque consegui”. Folha

“Foi um dos meus primeiros plantões, eu não tinha nem

intimidade com ninguém, nem com os auxiliares, para falar: fulano pega

isso. Eu nem sabia onde estavam as coisas. Tinha coisas para lavar, que

eu precisava utilizar”. Flor

Cabe pontuar que, a tomada de decisão entendida como um processo que

envolve tanto fenômenos individuais quanto de caráter coletivo, que se fundamenta

em fatos e valores, conhecimento teórico, prático e conhecimento tácito; que envolve

a seleção de comportamento, considerando uma ou mais possibilidades, com o

intuito de alcançar uma finalidade. Aliás, sendo representado por uma série de

processos associados, destacando-se o uso da lógica e de fatores concernentes à

inteligência emocional.

Page 164: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

142

A despeito da complexidade das decisões, é importante pensar que

decisões mais simples ocorrem quase que em um processo de condicionamento, a

partir da experiência do cotidiano. Enquanto isso, aquelas de maior complexidade,

compatíveis com as decisões exigidas ao enfermeiro iniciante diante a uma situação

da prática específica, precisam ser cuidadosamente pensadas em função de

resultados esperados.

Sob a ótica da carga psíquica, por conseguinte, o significado atribuído pelo

enfermeiro ao conhecimento novo, à especialidade em si e ao setor especializado,

esta tem uma importância ímpar no enfrentamento da realidade, definindo o grau de

realização no trabalho ou até mesmo de sofrimento psíquico.

Neste sentido, enfrentar o novo é um significativo investimento, que pode

levar ou não o enfermeiro a uma sobrecarga, dependendo de muitos fatores, como a

sua história de vida, a relação com a sua profissão, a bagagem de experiências

anteriores, a empatia e a afinidade com o trabalho, entre outros aspectos.

“Busquei força em minha própria história de vida. Quando tinha

vontade de desistir, olhava para meu passado, e pensava, quantos

problemas tive que vencer para chegar até ali... Algo me impulsionava a

continuar tentando me adaptar”. Montanha

“Acho que só o tempo. Só o dia-a-dia. Foi muito sofrimento. Às

vezes no começo, eu falava: Para que eu fui escolher vir para cá? Eu tive a

oportunidade de escolher outros setores. Eu sofria com aquilo. Mas, depois

eu descobri que gostava e que era aquilo que eu queria fazer”. Lua

Diante dessas considerações, muitas são as preocupações do profissional

que, ainda PRECISANDO SER O LÍDER, encontra-se em uma situação na qual é

Page 165: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

143

necessária a manutenção do processo de influência grupal, em paralelo com a visão

direcionada para os seus objetivos de aprendizagem.

“Você está perdida na especialidade. Mas, você é um

profissional. Para os residentes é uma situação mais cômoda. De certa

forma, o responsável é o enfermeiro do setor. O residente está aqui para

aprender, e eu estou aqui para responder... É diferente”. Fogo

“Eu estava no plantão. Não tinha jeito, tinha que liderar o grupo

de auxiliares. Busquei forças, me agarrei aos conhecimentos que possua

até ali, e fui adiante. A cada plantão pedindo... Para dar tudo certo”. Folha

Cabe destacar que em se tratando de um corpo de trabalhadores também

desconhecido para o enfermeiro, o mesmo precisa utilizar a comunicação como uma

ferramenta básica. Assim, procurando manter uma aproximação tendo em vista os

envolvidos na especialidade, com ênfase aos enfermeiros experientes, técnicos e

auxiliares de enfermagem, em prol da formação de alianças, parcerias e interações

que possam dar conta desse momento.

“Acho que você tem que compartilhar com a sua equipe. Você

tem muito para dar a sua equipe, mas eles também têm muito para dar

para você. (...) Lembro que não tinha tanta habilidade técnica, mas tinha

teoria para oferecer. Então eu acho que quando descobri isso foi uma troca

mútua. É o que sempre falo, tudo tem que ser uma troca”. Lua

É importante também pontuar que liderar tem uma conotação que implica

inclusive em ter capacidade diante os problemas do grupo liderado, que precisa

Page 166: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

144

sentir segurança no líder. Esse líder, por sua vez, deve ser firme, decidido e capaz

de transmitir confiança aos seus subordinados.

A experiência revela ser isso um exercício bastante difícil, não obstante,

até conflituoso, marcado pela fragilidade do não saber sobre a especialidade, ou

seja, o desconhecimento de saberes e práticas dotadas de especificidades, em

contrapartida a uma necessidade exigida pelo próprio papel do enfermeiro, que não

pode, de jeito algum, ser desconsiderado.

O enfermeiro líder, mais do que nunca, quando na condição de iniciante,

precisa encaminhar a liderança para um processo responsável de ampla

participação, sem perder a lógica do seu papel social. Dessa forma, possibilitando

que todos os envolvidos sintam-se prestigiados e comprometidos com o bem

comum. Isso minimiza os problemas relacionados com a falta do conhecimento

específico, já que ocorre naturalmente uma maior compreensão da equipe de

enfermagem, por conseguinte, cobranças menos ameaçadoras.

“Recordo que não sabia os detalhes do setor... A auxiliar é que

na hora, começou apontar como era a rotina. Fomos fazendo juntas.

Depois fui ler e pensar sobre as coisas”. Fogo

O enfermeiro iniciante, por assim dizer, ao exercer a atividade de liderança

na especialidade, mediante a experiência do conhecimento novo, enfrenta desafios

diferentes diariamente, vivendo uma luta constante voltada para a manutenção de

uma prática de qualidade, a partir da superação das suas próprias dificuldades, na

busca pela manutenção de um estado de tolerância e bom ânimo.

Page 167: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

145

Pude notar, durante a entrevista de Céu, que existia um

distanciamento entre a equipe médica e os profissionais de enfermagem.

Isso quando da escolha do próprio lugar para a realização da entrevista.

Percebi também na cena social, que a enfermeira não se sentia satisfeita

com tal situação, quando do seu comentário com relação ao

relacionamento no setor. Mas do mesmo modo que comentou, como em

um mecanismo de auto-convencimento, ela também explicou a situação,

dando um tom diferente, e por assim dizer, circunstancialmente mais

satisfatório. (Anotações de Campo)

Retomando a idéia de ameaça, o enfermeiro vive um momento de auto-

supervisão, no que se refere às implicações para o seu futuro profissional na

especialidade, como também na instituição, mediante ao que uma atitude ou um ato

mal concebido podem ocasionar, por conseguinte, TENDO MEDO DO ERRO e,

portanto, trabalhando com máxima atenção às atividades realizadas na

especialidade, em um movimento de conferir repetidamente os procedimentos

desenvolvidos.

“Tecnicamente, eu procurava atuar sempre dentro daquilo que

eu considerava correto, que eu sabia ser correto pelas teorias. Eu buscava

fazer as coisas perfeitas, certas. Busca acertar. Procurando o melhor

caminho, o caminho, mais correto, para as coisas”. Tempestade

“Eu tinha um grande cuidado para fazer as coisas na

especialidade. Não tinha segurança, por isso redobrava a minha atenção”.

Folha

Um pouco antes da entrevista de Montanha, pude acompanhar

um procedimento sendo realizado por ela. Percebi que a mesma o

Page 168: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

146

preparava cuidadosamente e que sua atenção voltava-se para o

procedimento. Percebi, também, que ela conferia com um papel que estava

logo a sua frente. Como se estivesse checando tudo que fazia. A cada

ação uma conferência. O procedimento ia acontecendo passo a passo.

Tratava-se de um procedimento especializado, que apesar de sua

desenvoltura, percebi também que não se tratava de uma prática já tão

conhecida. (Anotações de Campo).

Todo esse movimento de tentar fazer com qualidade e eficácia algo que

não se tem conhecimento, ou ainda, que se encontra em um estágio de

aproximação e aprendizagem, não é nada fácil. Existe uma exposição natural

inerente à condição de iniciante na especialidade, já que todos os envolvidos no

trabalho sabem disso e, simbolicamente, isso impregna as interações no agir das

pessoas e no reagir do próprio enfermeiro.

É importante salientar que existe uma bagagem de conhecimentos

acumulados pelo enfermeiro, ao longo de sua trajetória, que o ajuda e o norteia em

outras experiências. Assim, não se trata de um ponto de partida nulo, onde não

exista nenhuma experiência que possibilite referências.

Page 169: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

147

Apesar disso, o enfermeiro tem a sua frente um grande desafio, com

inúmeras situações de aprendizado, tendo que lidar com o real, até mesmo,

SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER CONHECIMENTOS E

HABILIDADES. Essa categoria demonstra no seu cerne de análise, que o

enfermeiro sente todo esse processo, com destaque para um significativo desgaste

emocional e uma importante sobrecarga psíquica.

QUADRO 7. SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER

HABILIDADES E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Categoria Subcategorias

Sentindo-se constrangido por não ter habilidades e

conhecimentos específicos

7.1 Precisando dizer não sei

Em meio às angústias vividas, ele tem que ser o profissional enfermeiro do

setor e combinar isso com sua posição de aprendiz, que não consegue ser

mascarada. Dessa maneira, em muitas situações, até mesmo PRECISANDO

DIZER: NÃO SEI, seja para um membro da equipe de enfermagem, para um

trabalhador da equipe de saúde, ou ainda, para o cliente.

Page 170: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

148

“Isso eu aprendi com o auxiliar. (...) O colocar a mão e fazer

foram eles. Não teve enfermeiro comigo neste momento. Foi um auxiliar de

enfermagem. Eu precisei dizer não sei nada, não sei a prática...” Céu

“Precisei aprender ali... Na frente de todo mundo do setor. E

detalhe... Um pouco com cada um... Meio complicado não acha? Porque

depois era eu a liderar o grupo, tendo aprendido com eles”. Céu

“O auxiliar disse para mim: Não é assim... Pegue de outra

forma, que dá mais certo. Não estou dizendo que o enfermeiro não possa

aprender com o auxiliar, mas é uma situação difícil. Não é?” Folha

“Se eu não sei, eu não sei. Se eu tenho oportunidade de

buscar na mesma hora, eu busco. Se eu não tenho, eu busco em casa e

trago depois. Eu sempre tentei fazer assim. Se foi correto, eu não sei”.

Tempestade

Portanto, o enfermeiro tem que aprender e desempenhar ao mesmo

tempo o seu cabível e intransferível papel de líder. Um exercício, eu diria, de “jogo

de cintura”, para que a sua imagem não seja deturpada e seu espaço profissional

mantenha-se respeitado por todos os membros da equipe, no também “jogo de

poder” implícito nas relações sociais, com ênfase àquele ligado ao domínio do

conhecimento.

Nessa premissa, o papel do enfermeiro requer a confiança dos liderados,

técnicos e auxiliares de enfermagem, que vêem no líder uma referência, observada

na prática diária na especialidade. Entretanto, cabe a reflexão, de que líder não é

infalível, principalmente quando na condição de iniciante.

Page 171: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

149

É importante salientar que o sistema rotula o enfermeiro quando na

condição de iniciante na especialidade, podendo menosprezar a sua existência e,

por vezes, demonstrando um comportamento em que fica nítida a distinção entre o

enfermeiro experiente e aquele na situação de aprendiz. Existe uma velada

desconfiança da competência mesma do enfermeiro iniciante.

Por mais que o enfermeiro não queira confirmar e fuja à realidade, ele não

tem experiência no assunto e, é apenas no desenvolvimento das atividades

cotidianas, com o passar do tempo, que as oportunidades de aprendizagem vão

possibilitar a aquisição de habilidades concernentes à prática específica, tornando-o

mais amadurecido e seguro quanto a sua atuação profissional.

Outro ponto de destaque emerge da constatação de que nem todos os

enfermeiros conseguem efetivamente dizer não sei. Isso depende de características

pessoais, pois quanto mais orgulhoso mais difícil é expressar o desconhecimento

acerca de alguma coisa. Do mesmo modo, a dificuldade é bastante acentuada para

profissionais arrogantes. Assim, o exercício da humildade é consideravelmente

importante nesse contexto, facilitando a interação e permitindo a exteriorização de

limitações pertinentes a experiência do novo.

Page 172: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

150

DIAGRAMA 8 – CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO29.

29 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice VIII.

Hesitando em desenvolver o trabalho na especialidade

Fazendo guiado

-Utilizando os manuais para guiar a ação

-Decorando os passos para lidar com a máquina

-Anotando tudo que vê e que escuta para seguir na hora de algum aperto -Tirando cópia de “Check List” para

não esquecer nada importante -Seguindo o preconizado durante o

treinamento -Não fazendo grandes inovações

-Tendo o cuidado para não dar um passo fora do definido pelo setor

-Gostando de passo a passo para ajudar na realização de procedimentos

específicos

Sentindo Taquicardia

-Sentindo-se trêmula

-Tendo taquicardia na hora -Passando mal ao ir para o trabalho

-Perdendo a cor, quando precisa fazer algo muito específico que não

se sente preparado -Ficando nitidamente alterado

-Gerando uma questão psicossomática

-Tendo que recorrer aos florais -Perdendo a calma e o controle -Sentindo-se como um recém-

formado

Tendo insegurança

-Pensando muito antes de fazer qualquer coisa

-Checando antes de fazer algo na rotina do serviço

-Tendo que conferir com outros enfermeiros alguns itens das

atividades realizadas -Fazendo com medo

-Sentindo-se totalmente insegura com a situação instalada

-Evitando alguns procedimentos -Não fazendo procedimentos

específicos que exigem destreza manual

Tendo dificuldade para dominar a situação

-Não tendo enfermeiro para manusear

junto ao equipamento -Não tendo o domínio da técnica

-Não tendo o preparo mínimo para dominar a situação

-Ficando parado -Vendo os iniciantes aflitos,

angustiados e desestimulados, por não dominarem, e não ter ninguém

para apoiá-los -Não sabendo nem por onde começar

-Vendo o iniciante com vontade de largar tudo, quando começam as

cobranças, sem respostas -Sendo jogado na especialidade

-Não existindo um real prepara para dominar as situações mais complexas

na especialidade

Page 173: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

151

DIAGRAMA 9 – CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE NA

ATUAÇÃO NA ESPECIALIDADE30.

30 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice IX.

Sentindo o peso da responsabilidade

Sabendo que precisa fazer

-Tendo uma visão imediata do que precisa ser feito

-Tentando fazer o melhor enquanto profissional para preservar o cliente

-Sabendo que não poderia ficar alienada-Sendo uma estratégia manter um bom

relacionamento -Investindo na equipe para ajudar na

adaptação -Dando para a equipe o suporte teórico

que eles não tinham -Tendo a oportunidade de buscar

-Tendo vontade de aprender

Tendo o medo do erro

-Procurando acertar mesmo tendo consciência de algumas dificuldades

-Sabendo do seu papel enquanto enfermeiro

-Não desejando que erros aconteçam -Não fazendo procedimentos na dúvida

para não cair em erros -Tendo medo de surpresas ligadas ao conhecimento específico que implique

em erro -Pedindo ajuda para não cometer erros -Tendo noção de que não pode cometer

nenhuma coisa que possa ser considerado erro

Tendo que tomar decisões

- Acontecendo alguma coisa, não podendo ter dúvida de como agir

-Tendo que decidir sozinho -Sendo o profissional enfermeiro de

plantão -Tendo que pensar atividades para a

equipe de enfermagem sem compreender as especificidades do setor

-Precisando encaminhar alguns procedimentos e algumas escolhas -Sendo necessário decidir o cuidado

baseando-se em experiências anteriores-Precisando assumir o papel do enfermeiro tendo muitas dúvidas

Precisando ser o líder da equipe

-Sendo um grande aprendizado como

líder -Tendo que dar conta da liderança

-Não sabendo como um líder não sabe algo

-Sofrendo por ser um líder que desconhece muitas coisas específicas

do setor -Pensando na fase de treinamento,

quando for o líder -Tendo que liderar uma situação tão

diferenciada sem experiência -Não sabendo o que fazer e a quem

recorrer

Page 174: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

152

DIAGRAMA 10 – CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER

CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICAS31.

31 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e a sua subcategoria, poderão ser observados no Apêndice X.

Sentindo-se constrangido por não ter conhecimentos e habilidades específicos

Precisando dizer não sei

-Não ficando sozinho na prática específica da especialidade-Tendo que falar que não se sabe a prática disso

-Tendo que esclarecer que não sabe como fazer diante de toda a equipe

-Precisando ser claro sobre a inexperiência -Tendo que verbalizar o desconhecimento do assunto, na

frente das pessoas lideradas -Tendo os auxiliares a prática que eu não tinha

-Achando-se totalmente perdido -Não tendo noção do trabalho com este tipo de especialidade-Achando que o iniciante não tem noção do que se passa

dentro da especialidade

Page 175: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

153

(RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE

A enfermagem vem sendo considerada uma ciência e uma arte que tem

as bases em um corpo de conhecimentos e práticas, abrangendo desde o estado de

saúde ao estado de doença, considerando atitudes pessoais, profissionais,

científicas, éticas e políticas do cuidar de seres humanos. Entendendo cuidar como

uma atitude humana que se caracteriza por uma forma especial de ser e de

compreender o mundo, que envolve a solidariedade, as emoções, a sensibilidade, o

conhecimento, entre muitos outros aspectos.

Desse modo, pensando a partir da atuação do profissional enfermeiro, no

exercício de sua profissão, este possui a capacidade de conhecer e intervir sobre os

problemas e situações no que se refere ao processo saúde-doença, identificando as

multidimensões dos seus determinantes. A respeito disso, é importante pontuar que

o cuidado de enfermagem, enquanto uma ciência humana, precisa abarcar

comportamentos, atitudes e práticas que expressem a preocupação com o caráter

holístico e complexo do ser humano.

O enfermeiro precisa mostrar-se capacitado para atuar com senso de

responsabilidade social e compromisso com a cidadania, baseado na Lei do

Exercício Profissional32, como promotor da saúde integral do ser humano, a partir do

entendimento da saúde como um direito, um despertar das pessoas para uma certa

compreensão de dignidade, com isso o despertar de uma consciência ingênua para

uma consciência crítica, incluindo a luta por melhores condições de vida.

É de conhecimento público, através dessa mesma lei, que o enfermeiro

exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe privativamente, dentre

muitas outras atribuições: organizar e dirigir os serviços de enfermagem e suas 32 Lei nº 7.498, de 25/06/86, regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 08/06/87.

Page 176: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

154

atividades técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços; planejar,

organizar, coordenar, executar e avaliar os serviços de assistência de enfermagem;

realizar consulta de enfermagem e a prescrição da assistência de enfermagem;

prestar cuidados diretos de enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

prestar cuidados de enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam

conhecimentos de base científica.

Além disso, também realiza prevenção e controle sistemático de danos

que possam ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem e realiza

a educação para a saúde, visando a melhoria de saúde da população. Assim, em

meio a tudo isso, trata-se de uma atuação que precisa dar conta de subjetividades e

de singularidades individuais, baseada em uma relação respeitosa, que permita até

mesmo o encontro de subjetividades, ou ainda, um entendimento do cuidado de

enfermagem como a própria expressão da ética, materializada e objetivada para e

com o outro.

Considerando essas prerrogativas, o enfermeiro precisa reunir toda a sua

força para compreender o mundo social que se abre a sua frente, que apesar de

diferente de uma atuação anterior, é possível ser apreendido e ser desenvolvido,

enquanto um cuidado digno, por conseguinte, (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO

PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE.

Por assim dizer um movimento, COMEÇANDO, ATUANDO E

APRENDENDO NA ESPECIALIDADE, que envolve muitas estratégias de

enfrentamento do conhecimento novo na especialidade, além de atitudes e

comportamentos, BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE, ainda

que, CORRENDO CONTRA O TEMPO, com o objetivo de alcançar, rapidamente,

uma posição mais confortável, representada pelo domínio da situação.

Page 177: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

155

DIAGRAMA 11 – FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO

PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE.

Retomando a história que vem sendo contada a partir da experiência do

enfermeiro que vive a condição de iniciante na especialidade, em que pese à análise

Perguntando a quem sabe

Colando de quem sabe

Segurando na

teoria

Mobilizando recursos teóricos e práticos de vivências

Buscando leituras para

situação específica

Recebendo manuais do

hospital, para ler e se

apropriar

Observando as rotinas do

serviço

Começando,

atuando e aprendendo na especialidade

Buscando a

compreensão da especialidade

Aprendendo a

destreza técnica no trabalho

Correndo contra o tempo

(Re) conhecendo a atuação profissional na especialidade

Fazendo, ao mesmo

tempo, que tem que se tornar apto

Tendo que aprender

Page 178: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

156

da categoria, BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE, cabem

algumas reflexões acerca do mundo macrossocial com o qual o enfermeiro se

depara.

QUADRO 8. BUSCANDO A COMPREENSÃO DA ESPECIALIDADE.

Categoria Subcategorias

Buscando a compreensão da especialidade

8.1 Observando as rotinas do serviço

8.2 Recebendo manuais do hospital para ler e se apropriar

A especialidade representa uma área na Instituição onde é desenvolvido

um trabalho dotado de grande especificidade, com muitos equipamentos especiais,

sofisticados e de alta tecnologia. Nesse caminho, aponta para a necessidade de um

profissional capacitado, em função da garantia de um atendimento de qualidade.

É exatamente nesse cenário, que o enfermeiro na condição de iniciante é

desafiado. Dotado de ações limitadas, ele precisa desenvolver estratégias de

enfrentamento. Logo, seguir guias de ação aparece como uma das estratégias, já

que o enfermeiro OBSERVANDO AS ROTINAS DO SERVIÇO encontra uma forma

para desenvolver o seu trabalho. Essas rotinas ajudam e facilitam a atuação do

enfermeiro, embora possam também constituir risco, uma vez que sem elas, o

comportamento do profissional iniciante pode ficar confuso e desgovernado.

Page 179: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

157

“Fiquei ligada nas rotinas, pensando que poderia desenvolver o

trabalho, atenta a elas. Realmente ajudou muito. Mas não responde tudo.

Além do mais, para a técnica, não resolve”. Folha

“Ficamos um tempo em treinamento até pegar as rotinas”.

Vento

“Peguei as rotinas para ler. Levei para casa e tudo. Fiquei

mesmo tentando fixar passo a passo o que era feito”. Mar

O enfermeiro aceita nesse momento as rotinas como as mesmas são para

ele apresentadas. Já que não se sente ainda apto o bastante para contestação e

proposição de uma nova ordem no contexto da unidade. Aliás, romper com a rotina

traria repercussões para o desenvolvimento das atividades de todos os envolvidos

na especialidade, o que naturalmente implicaria em um desgaste ainda maior do que

o já vivenciado.

Em destaque nesse âmbito de discussão o apoio dado pelos Chefes de

Unidades, no que concerne ao repasse do material para o enfermeiro: RECEBENDO

MANUAIS DO HOSPITAL, PARA LER E SE APROPRIAR. Esses manuais vão

sendo criteriosamente copiados e levados para casa, local em que são

exaustivamente lidos em uma tentativa desesperada de memorização.

“Fui lendo tudo que me davam. Queria saber como fazer.

Queria um ponto de apoio qualquer. Precisava de fontes. Muitas fontes.

Sempre gostei muito de ler e isso me ajudou bastante. Não era um

problema chegar em casa e ficar estudando”. Tempestade

Page 180: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

158

“Eu recebi uma quantidade importante de coisas para ler e me

apropriar. Quanto mais recebia mais queria. Também andei comprando

materiais acerca de temáticas voltadas para a especialidade. Agora, apesar

de tudo isso... Confesso, que não aproveitei tanto quanto deveria. Mas, a

equipe que me recebeu preocupou-se muito com temáticas específicas da

especialidade. Não posso negar que os enfermeiros não mediram esforços

em ceder material para leitura. Manuais de tudo que era coisa do setor.

Muita coisa mesmo!”. Montanha

O saber específico que se revela no setor especializado é complexo, exige

rigor técnico-científico de todos os profissionais envolvidos, em face de uma

satisfatória associação da teoria com a prática, com o domínio de múltiplas funções,

operando com agilidade e destreza, mediante as várias situações da realidade.

Além disso, a especialidade exige um profissional que tenha um nível de

julgamento clínico bastante apurado, capaz de preencher as competências

nucleares determinadas pelo serviço, mesmo na ausência de linhas de orientação,

mantendo a credibilidade do serviço oferecido à clientela.

Portanto, o desafio é bastante significativo, levando o enfermeiro a

desenvolver muitas estratégias voltadas para a apreensão do conhecimento novo. É

preciso apreender conhecimento específico. Urge a necessidade de um saber/ fazer

específico. De tal modo, a busca pelo conhecimento pretende alcançar uma melhor

compreensão da especialidade, que permita uma atuação profissional satisfatória

adequada às necessidades e exigências do cliente.

Continuando a reflexão tendo como premissa os movimentos em busca da

aprendizagem, emerge a categoria COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO

NA ESPECIALIDADE, com desdobramentos, em termos de aprofundamento, nas

Page 181: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

159

subcategorias em conexão: APRENDENDO A DESTREZA TÉCNICA NO

TRABALHO, PERGUNTANDO A QUEM SABE, COLANDO DE QUEM SABE,

SEGURANDO NA TEORIA, MOBILIZANDO RECURSOS TEÓRICOS E PRÁTICOS

DE VIVÊNCIAS ANTERIORES E BUSCANDO LEITURAS.

QUADRO 9. COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA

ESPECIALIDADE.

Categoria Subcategorias

Começando, atuando e aprendendo na especialidade

9.1 Aprendendo a destreza técnica no trabalho

9.2 Perguntando a quem sabe

9.3 Colando de quem sabe

9.4 Segurando na teoria

9.5 Mobilizando recursos teóricos e práticos de

vivências anteriores

9.6 Buscando leituras para situação específica

Muitos são os fatores iniciais que permeiam a experiência do enfermeiro

no enfrentamento do conhecimento novo e no desenvolvimento da capacidade de

aprender. Um bastante significativo é à vontade de querer aprender. Tal

comportamento exige uma série de atitudes como interesse, motivação, atenção,

compreensão, participação e expectativa de aprender a conhecer, a fazer, a conviver

e a ser na especialidade. Outro fator tem relação com competências e habilidades,

Page 182: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

160

podendo ser compreendida como a capacidade para o desenvolvimento de aptidões

cognitivas e procedimentais.

Para atuar com presteza, o enfermeiro se vê, APRENDENDO A

DESTREZA TÉCNICA NO TRABALHO. Para tal, desenvolve estratégias de ação

que facilitem este processo, a partir disso percebe que precisa reunir e utilizar meios

que o coloque frente a frente com o conhecimento novo, privilegiando momentos de

aprendizagem, sem que isso possa significar riscos ou danos para quem quer que

seja.

“Fundamentalmente, o novo nunca me aterrorizou. Essa

confiança, ou excesso de confiança, sempre dissipou esse medo. E me

ajudou nos enfrentamentos. Mesmo na vida pessoal. Primeiro eu ia

olhando, depois eu ia perguntando, e depois eu ia estudando, e depois eu

ia me aproximando, quando dava por mim, eu estava fazendo. Não tive

dificuldade”. Nuvem

“Todo dia você acaba aprendendo. Mesmo que não leia, não

pegue no livro. Devido às experiências do dia a dia, você acaba

aprendendo”. Flor

“Olha... Eu aprendi na carga teórica, e outras pela própria

vivência. Experiências que eu ia vendo, que iam acontecendo, que eu não

conhecia, não sabia...”. Céu

A experiência aponta, que durante a realização de procedimentos

específicos é quase certa a presença curiosa do enfermeiro iniciante. Curiosidade

que às vezes mostra-se bastante clara, em contrapartida a situações em que se

apresenta disfarçada, para evitar ao máximo uma exposição que possa revelar a

falta de conhecimento sobre um dado cuidado.

Page 183: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

161

Quando a relação é respeitosa e empática, com o entendimento da

equipe, já que a aprendizagem do enfermeiro iniciante é de natureza processual, o

mesmo sente-se mais tranqüilo, literalmente, PERGUNTANDO A QUEM SABE, sem

medo ou receio de retalhação. De tal modo, quanto mais proximidade existir entre a

equipe, mais perguntas são realizadas, podendo até mesmo, não estarem

associadas a um procedimento tão complexo. Ao passo que, quando a interação é

dominada pelas discordâncias e afirmação do poder, as perguntas vão ficando, cada

vez mais, uma estratégia distante.

“Eu ficava perguntando o tempo todo. Eu fui muito chata.

Ficava perguntando o tempo todo. Eu achei que fui até chata demais.

Como é que faz isso? Isso aqui por quê? O que é comum em uma higiene,

em uma sonda,... Eu não precisava. Agora quando chegava a parte da

rotina, eu tinha que ficar perguntando o tempo todo”. Flor

“Colava de quem sabia. Os médicos sempre foram muitos

abertos no setor”. Céu

“A equipe era difícil de trabalhar. Não me sentia à vontade para

perguntar nada. Ficava totalmente isolada nas minhas dúvidas”. Fogo

Outra estratégia é a observação constante dos trabalhos desenvolvidos na

especialidade, COLANDO DE QUEM SABE. De fato, no primeiro momento

copiando passo a passo às ações que não lhe são familiares e repetindo do mesmo

jeito, em situações posteriores. Já no segundo momento, podendo ocorrer um

movimento de reflexão acerca do procedimento observado, com variadas

indagações do que efetivamente é correto, buscando um aprofundamento que

permita uma atuação mais eficaz.

Page 184: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

162

“Eu sempre fui uma pessoa de colar muito nas outras, eu

tentava sugar tudo o que a outra sabia mais, e que podia me dar. Se

tivesse errado, depois eu ia ver, ia aprender, ia ler e tal... Depois corrigir.

Mas eu sugava e sugo ainda. Com isso eu vou deslanchado (...) Sempre

usei essa tática, colei sempre na pessoa que sabia aquilo”. Fogo

“Fui perguntando até aos próprios auxiliares de enfermagem,

que algumas vezes esclareciam... As medicações, algumas, eu perguntei

aos enfermeiros que já sabiam...” Céu

Esse aprofundamento, como não poderia deixar de ser, baseia-se na

busca pela teorização sobre o assunto. Logo, SEGURANDO NA TEORIA o

enfermeiro procura se apropriar de literaturas, BUSCANDO LEITURAS PARA

SITUAÇÕES ESPECÍFICAS, que possam norteá-lo e direcioná-lo, quando vivendo o

momento do desconhecido. Destaque para o estado de inquietude, onde tudo

parece pouco para responder as suas inquietações, recorrendo a um grande número

de materiais, sem que ocorra a leitura de todos.

Por outro lado, quando o enfermeiro não está interessado em aprender a

especialidade, com a mesma intensidade da busca ocorre a repulsa e, mesmo que

exista o material teórico disponível a sua consulta, não existe o investimento pessoal

necessário. Dessa maneira, o enfermeiro reproduz o que assiste na prática, sem

contrabalançar com o conhecimento teórico existente. Apenas faz.

“Para aprender eu vou muito sozinha. Eu gosto muito de ler.

Ler o que eu quero. Agora, não me manda ler um negócio.... Eu sou quem

busco. (...) Buscando pela curiosidade. (...) Era aprender, aprender e

aprender. Como um guloso que come, come e come”. Terra

“Eu pedi indicação de leitura para estudar sobre a

especialidade. Comprei livros e comecei a ler. Uma loucura. Lia com

Page 185: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

163

máxima atenção. Era como se eu desejasse que todo conhecimento

possível entrasse na minha cabeça”. Montanha

“... Outras fui lendo. Mesmo não gostando, eu fui procurando

estudar, eu sabia que não poderia ficar alienada”. Céu

É claro, que existe um conhecimento acumulado, portanto, uma bagagem

adquirida ao longo da vida. Assim, o enfermeiro é iniciante ali, na especialidade.

Não, em tudo. Por conseguinte, sua aprendizagem também parte dos seus próprios

conhecimentos, MOBILIZANDO RECURSOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DE

VIVÊNCIAS ANTERIORES.

“Para desenvolver algumas práticas, o jeito foi eu lembrar de

coisas que eu já havia vivenciado, e que tinha alguma correlação, mesmo

que pequena. Penso que para um recém formado seja bem pior, pensando

sobre a prática”. Folha

“Você se reporta à graduação. Você tenta transportar o que já

vivenciou para aquela situação nova. E procura realizar”. Mar

O movimento de apreensão do conhecimento não parte, por assim dizer,

de um ponto nulo. Ele leva em consideração toda possibilidade de conhecimento

anterior e, é a partir desse, que avança, cria e recria novas formas de interpretação

da realidade.

O tempo não poderia deixar de ser mencionado e, deste modo, emerge

como uma importante categoria relacionada com o reconhecer da atuação na

especialidade, CORRENDO CONTRA O TEMPO que encontra explicação nas

Page 186: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

164

subcategorias: FAZENDO, AO MESMO TEMPO, QUE TEM QUE SE TORNAR

APTO E TENDO QUE APRENDER.

QUADRO 10. CORRENDO CONTRA O TEMPO.

Categoria Subcategorias

Correndo contra o tempo

10.1 Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que se

tornar apto

10.2 Tendo que aprender

A combinação do tempo, com a repetição e a reflexão das atividades

práticas produzem no enfermeiro um amadurecimento no que se refere ao

desenvolvimento de ações relacionadas ao conhecimento dotado de especificidade,

FAZENDO, AO MESMO TEMPO, QUE TEM QUE SE TORNAR APTO.

“Como tinha uma necessidade de ocupar plantão, eu tinha

muita pressa em aprender. Corria contra o tempo, por que não queria ser

colocada na prática sozinha, sem ter passado por algumas experiências”.

Montanha

“Aprender rápido. Olhar e fazer. Depois ler. O tempo corria.

Tinha que ser safo”. Sol

Outro ponto de relevância a ser considerado, é que existe uma

necessidade de serviço e, foi exatamente para suprir tal necessidade, que o

Page 187: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

165

enfermeiro mesmo sem experiência foi lotado na especialidade. Isso tem

implicações práticas, pois tão logo possa, ele deve assumir o papel para o qual foi

encaminhado, tendo que desempenhar as suas funções seja no serviço de rotina, ou

ainda, no plantão. Não obstante a tudo isso, TENDO QUE APRENDER.

“Você precisa trabalhar. Então gostando ou não. Tem que

aprender. E quanto mais rápido melhor. A demora pode causar ainda mais

ansiedade”. Nuvem

“... Eu precisava aprender. Se você não faz, se você não

aprende aquilo, você não pode liderar eles. Então eu tinha que aprender,

pelo menos o básico”. Flor

“A coisa que eu mais me falava: tenho que aprender isso...

Sentia que precisava me empenhar em prol do meu aprendizado. Eu tinha

essa consciência ”. Raio

Assim, o passar do tempo é primordial para o desenvolvimento da

maturidade e o crescimento profissional. Entretanto, esse mesmo tempo, que ajuda

e anuncia um futuro menos ameaçador e mais conhecido, é objetivado como motivo

de angústia e aflição, já que nem todos os indivíduos aprendem no mesmo tempo e

uma demora pode dar margem a sentimentos de incapacidade, dificultando o

enfrentamento da realidade.

Page 188: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

166

DIAGRAMA 12 – CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA

ESPECIALIDADE33.

33 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XI.

Observando as rotinas do serviço

-Atuando tendo em vista as rotinas do serviço

-Tendo atenção a rotina instituída -Tendo as rotinas como guia para desenvolver algumas atividades

-Precisando seguir as rotinas da unidade -Achando bom o setor ter bem definido as rotinas de atuação frente a essa clientela -Tendo muitas dúvidas quanto a rotina do

serviço -Precisando receber as rotinas para utilizar

durante a prática diária -Entendendo ser de suma importância o

conhecimento das rotinas

Recebendo manuais do hospital, para ler e se

apropriar

-Precisando ler os manuais referentes às máquinas utilizadas no setor

-Levando os manuais para casa -Tirando até cópia dos manuais

-Sentindo-se mais segura de posse dos manuais dos equipamentos específicos do

setor -Querendo saber onde estão os manuais -Percebendo que o setor não tem todos os

manuais -Buscando alguma segurança com a leitura

dos manuais -Querendo compreender o funcionamento

das coisas através dos manuais

Buscando a compreensão da especialidade

Page 189: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

167

DIAGRAMA 13 – CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA

ESPECIALIDADE34.

0

34 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XII.

Começando, atuando e aprendendo na especialidade

Buscando leituras para situações

imediatas

-Precisando ler sobre as medicações típicas da

especialidade -Tentando ler todos os dias

sobre alguma coisa da especialidade

-Comprando livros relacionados à especialidade para se apropriar de alguma

coisa -Procurando coisas para ler

acerca da especialidade

Mobilizando recursos teóricos e

práticos de vivências anteriores

-Reportando a assuntos da

graduação -Pensando em vivências

anteriores -Achando importante

aproveitar a experiência trazida como bagagem

-Recorrendo às experiências vividas em outros locais de

trabalho -Tendo que pensar sobre as

experiências anteriores

Segurando na teoria

-Ajudando, para dar o “ponta pé” inicial

-Precisando estudar mesmo não gostando

-Comprando livros na área para estudar sobre o assunto

-Querendo estudar a área para melhorar a assistência

-Utilizando a teoria como porto seguro

-Procurando saber teoricamente as coisas

-Percebendo a importância da teoria no contexto da

prática

Colando de quem sabe

-Aprendendo olhando de

quem sabe -Vendo os procedimentos e comparando com a teoria

-Observando o fazer de quem domina

-Olhando para Auxiliares de Enfermagem que fazem

muito bem o procedimento -Lembrando de como o

enfermeiro especialista do setor faz

-Vendo coisas que iam acontecendo

-Colando, literalmente, de quem sabia fazer as coisas.

Perguntando a quem sabe

-Tendo sempre curiosidade; -Querendo sempre aprender; -Procurando e perguntando;

-Não tendo vergonha de perguntar;

-Perguntando pela curiosidade e pela necessidade;

-Perguntando sem vergonha; -Perguntando aos próprios

auxiliares; -Perguntando sobre algumas

medicações para os enfermeiros;

-Tentando sugar tudo que o outro sabia

Aprendendo a destreza técnica no

trabalho

-Aprendendo no trabalho no finalzinho

-Sendo o aprendizado um desafio

-Sendo muito gratificante aprender no trabalho

-Trabalhando junto com a equipe

-Tendo sempre que aprender -Aprendendo com o tempo a

destreza para o trabalho -Precisando ir devagar nesse

novo para aprender -Pegando prática

-Aprendendo a fazer coisas que duvidava

Page 190: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

168

DIAGRAMA 14 – CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO35.

35 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XIII.

Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que se tornar apto

-Já está sendo aguardada devido à necessidade do serviço

-Tendo que assumir plantão logo -Achando que o bom era se adaptar

rápido -Aprendendo com a prática na

especialidade -Pegando para fazer o trabalho na

especialidade -Tempo que aprender rápido para dar conta de todo o serviço do enfermeiro

-Sabendo que precisa aprender no menor tempo possível

Achando difícil ter que aprender e ser o responsável pela atuação na

especialidade

Tendo que aprender

-Convivendo contra o tempo para aprender

-Aprendendo tudo correndo -Sendo inserido, desenvolvendo

habilidades técnicas, sem tempo para aprender o que é necessário

desenvolver -Precisando aprender para uma prática

com segurança -Buscando a aprendizagem no contexto

da especialidade -Querendo aprender para fazer tudo

direitinho -Percebendo a importância da

aprendizagem de coisas específicas a especialidade

Correndo contra o tempo

Page 191: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

169

CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE

Este fenômeno apresenta a relação do enfermeiro com o espaço de

convivência, pensando na especialidade e todo o contexto que a rodeia. A

adaptação aparece como sendo um estado de harmonia no espaço de

convivência, de satisfação e bem-estar com aquilo que se faz, relacionando o ser

que conhece com o conhecimento novo que se permite ser conhecido,

dependente da consciência sobre a natureza real das coisas e os universos

significativos que possam estar associados.

A adaptação ao trabalho desenvolvido na especialidade, no que tange ao

enfrentamento do novo, envolve a relação do enfermeiro com o conhecimento

teórico e prático especializado, bem como a interação com os socialmente

próximos, trabalhadores e clientes. O enfermeiro adota novas formas de

trabalhar, utilizando os conhecimentos apreendidos de forma flexível para criar e

recriar o processo de trabalho na especialidade, mostrando disponibilidade para

melhorar os níveis de desempenho.

Ainda pensando a adaptação, os dados revelam uma capacidade de

manter as atividades laborais em um estado de harmonia, situação em que o

enfermeiro melhora o seu posicionamento enquanto sujeito da ação, procurando por

meios próprios desenvolver o seu papel social em cumprimento às suas

responsabilidades, na busca pelo domínio da especialidade, mesmo considerando

dificuldades associadas às várias percepções decorrentes da interpretação dos

agentes sociais.

Page 192: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

170

Também, desenvolve a habilidade de agir sobre determinada situação

com base em informações obtidas através do processo de aprendizagem, ao mesmo

tempo, em que se torna apto para decidir sobre o que fazer com essas informações.

Aliás, passa a ter a capacidade de selecionar de um repertório de informações

disponíveis aquela que é relevante para uma determinada tomada de decisão.

Corroborando com o exposto, o enfermeiro compartilha informações,

participando em função do estabelecimento de uma atmosfera de receptividade ao

conhecimento novo, preocupando-se com o aperfeiçoamento profissional, investindo

na sua própria formação e, continuamente, mantendo-se preocupado com a

atualização de conhecimentos para a melhoria do seu desempenho.

É importante salientar que o enfermeiro adaptado inicia um processo de

saber como gerir e articular as diferentes variáveis de mudança relacionadas ao

conhecimento novo, implementando ações especificas e, até mesmo, levando

soluções para os problemas enfrentados no dia-a-dia. Além disso, também melhora

a sua capacidade para lidar com situações de conflito, incluindo os seus próprios

conflitos interiores, adotando uma atitude mais dialogante, com superação de

diferenças e dificuldades individuais em função da valorização do coletivo na

especialidade.

De tal modo, o enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo pode

deparar-se com uma situação compatível com suas necessidades e desejos, já

que poderá desenvolver o gosto pela atividade no espaço de convivência da

especialidade, percebendo afinidades pelo novo trabalho, o que funcionará como

mola propulsora para o seu crescimento profissional.

Uma vez tendo uma experiência considerada positiva, não somente

devido às possibilidades de conhecimentos novos adquiridos que permeiam a

Page 193: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

171

especialidade, mas a partir de uma proposta de crescimento profissional

inovadora, quando comparada àquelas relacionadas às experiências anteriores.

Tem-se, por conseguinte, a disposição para aceitar a mudança, desenvolvendo

um processo otimista de enfrentamento da realidade, analisando e antecipando

situações, assumindo a iniciativa de agir perante as possibilidades que emergem

da prática.

Logo, o enfermeiro assume a responsabilidade pelas suas ações e

decisões, contribuindo efetivamente para o trabalho, muito mais participativo do que

reativo ao contexto, sendo o sujeito da aprendizagem, colaborando ativamente com

o grupo onde está integrado, permanente ou temporariamente, mantendo uma

atitude cooperativa, de partilha e de abertura à crítica. Inclui, a propósito, a

capacidade de acrescentar valor ao trabalho comum, assim como aderir às decisões

da equipe.

Agora, é importante compreender a diferença entre o conformismo e

adaptação para a leitura da realidade proposta pelo enfermeiro. Aceitar com

marasmo a situação presente, não estando satisfeito com a especialidade, sem

energia para procurar mudanças é, como não poderia deixar de ser mencionado,

estar conformado. Aliás, deprimir-se e adoecer devido às circunstâncias

relacionadas a esse trabalho é, não apenas estar inconformado, mas, do mesmo

modo, estar totalmente desadaptado.

Portanto, essas situações acima contextualizadas, emergentes dos dados,

podem ser representadas a partir do fenômeno CONVIVENDO COM A REALIDADE

NA ESPECIALIDADE, representado no diagrama que se segue, que toma a sua

configuração e pode ser compreendido considerando os significados das categorias

Page 194: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

172

que o compõe: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE e VIVENDO A CRISE

INTERIOR.

A primeira categoria relaciona-se as subcategorias: PROJETANDO-SE

PARA UM FUTURO NA ESPECIALIDADE, PODENDO SER FELIZ NO

TRABALHO, PREOCUPANDO-SE COM A EDUCAÇÃO CONTINUADA,

BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO e ALMEJANDO CRESCER NA

ESPECIALIDADE. Enquanto que, a segunda faz associações com as subcategorias:

NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA ESPECIALIDADE, SENTINDO-SE

INSATISFEITO POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA, FICANDO DEPRIMIDO;

SAINDO DA ESPECIALIDADE E SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.

Page 195: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

173

DIAGRAMA 15 – FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA

ESPECIALIDADE.

Sentindo-se bem na especialidade

Chorando antes, durante e depois

do trabalho

Projetando-se para

um futuro na especialidade

Ficando deprimido

Convivendo com a realidade na especialidade em busca da adaptação

Vivendo a crise interior

Saindo da

especialidade

Sofrendo na

especialidade

Almejando crescer na

especialidade

Buscando a

especialização formal

Preocupando-se com a Educação

Continuada

Podendo ser feliz

no trabalho

Não conseguindo se

projetar na especialidade

Sentido-se insatisfeita por

não estar em sua área

Page 196: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

174

Acolher a especialidade como uma atividade profissional possível para si

aparece como principal significado do enfermeiro, no que se refere à categoria

SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE. De fato, à medida que o tempo vai

passando e, com isso, as experiências vão se repetindo no cotidiano do trabalho na

especialidade, o novo passa a ser menos ameaçador e permite agora uma real

aproximação do enfermeiro, PROJETANDO-SE PARA UM FUTURO NA

ESPECIALIDADE, PODENDO SER FELIZ NO TRABALHO, PREOCUPANDO-SE

COM A EDUCAÇÃO CONTINUADA, BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO FORMAL

e ALMEJANDO CRESCER NA ESPECIALIDADE.

QUADRO 11. SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE

Categoria

Subcategorias

Sentindo-se bem na

especialidade

11.1 Projetando-se para um futuro na

especialidade

11.2 Podendo ser feliz no trabalho

11.3 Preocupando-se com a educação continuada

11.4 Buscando a especialização formal

11.5 Almejando crescer na especialidade

Livre de tantos medos o enfermeiro tem a oportunidade de sentir-se mais

tranqüilo em termos de expectativas e perspectivas, PROJETANDO-SE PARA UM

FUTURO NA ESPECIALIDADE. Agora ele consegue elaborar mentalmente projetos

Page 197: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

175

relacionados a sua permanência e crescimento no âmbito da especialidade. Esses

funcionam como motivação contínua no sentido da vivência satisfatória do processo

de aprendizagem.

“Passei a não me sentir tão perdida. Gradativamente fui

ganhando autoconfiança e isso foi me ajudando com a especialidade. As

experiências foram acontecendo e fui abandonando meus medos”. Raio

“À medida que ia aprendendo eu ia também querendo fazer

mais coisas. Conhecer mais. Como se me sentisse impulsionada a ir à

frente. Quanto mais aprendia, mais queria aprender. Isso foi me

empurrando para frente”. Fogo

Pude perceber durante o processo de entrevista em

profundidade que o enfermeiro apesar de ser novato mostrava-se, bastante

ambientado e participativo ao setor especializado. Inclusive, pude também

perceber, que no seu linguajar já apareciam expressões características da

especialidade. (Anotações de Campo)

O maior controle da emoção propicia uma apreciação mais cuidadosa e

menos preconceituosa da realidade, não mais impregnada de tantos sentimentos

conflitantes e, conseqüentemente, variadas distorções de interpretação baseadas na

rejeição.

“Fazer aquele procedimento no início era tudo de péssimo.

Demorava horas e sentia muito medo de errar e causar um problema para

o cliente. Mas, fui fazendo e me tornando mais apto para o procedimento.

Em um segundo momento, já não me assustava tanto...” Vento

Page 198: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

176

O conhecer começa a fazer parte da atividade profissional do enfermeiro,

que aos poucos também vai abandonando a sensação de apenas desconhecer a

especialidade. No bojo desse movimento de apreensão do conhecimento, o

enfermeiro é então capaz de perceber-se mais seguro, tendo uma resposta

comportamental mais agradável mediante ao enfrentamento das situações,

PODENDO SER FELIZ NO TRABALHO.

“Faço o que tenho que fazer e tento que seja da melhor

maneira. Não penso naquilo que sou incapaz, e sim, penso no que sou

capaz de fazer. E assim, tenho trabalhado de bem comigo mesmo”. Nuvem

Corroborando com esse estado de sentir as coisas, uma vez

compreendendo a importância do seu papel social nesse novo contexto, o

enfermeiro sente a necessidade de qualificar-se, PREOCUPANDO-SE COM A

EDUCAÇÃO CONTINUADA, considerando o conhecimento teórico marcado pela

singularidade e especificidade de um trabalho especializado, quanto em termos do

conhecimento prático, destacando-se o desenvolvimento de destreza e de

habilidade para um futuro fazer perito na especialidade.

“Uma vez desejando ficar, minha preocupação passou a ser

aprender mais. Tudo o quanto era curso, eu ia fazendo para me aprimorar.

Tenho essa característica. Vou a luta para aprender. Temos que estar

buscando sempre o conhecimento”. Tempestade

O conhecer apenas a partir do fazer na prática passa a ser uma

preocupação do enfermeiro, que deseja um olhar mais aprofundado acerca das

coisas na especialidade, por assim dizer, BUSCANDO A ESPECIALIZAÇÃO

Page 199: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

177

FORMAL. Começa a existir o interesse pela realização de cursos formais ligados à

área da especialidade, destaque para àqueles referentes à pós-graduação “lato

sensu”.

“Gostei tanto que penso em me especializar. Não parar

somente na prática. Buscar teoria... Sabe né?” Nuvem

O que era naturalmente complicado parece tomar a conformação de algo

tangível e muitas possibilidades se abrem para o futuro, já que estando o enfermeiro

adaptado à especialidade, ou ainda em vias de uma adaptação, ocorre uma relação

mais harmoniosa e satisfatória com o contexto, surgindo inclusive interesse por

melhores posições no espaço do trabalho especializado, ALMEJANDO CRESCER

NA ESPECIALIDADE, com o despertar para uma certa ambição positiva,

considerando até mesmo a ocupação de cargos na área.

Page 200: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

178

Enquanto isso, em um movimento antagônico, reafirmando que na

vivência do fenômeno é possível diferentes olhares sobre a mesma realidade, tem-

se a categoria VIVENDO A CRISE INTERIOR representada pelas subcategorias:

NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA ESPECIALIDADE, SENTINDO-SE

INSATISFEITA POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA; CHORANDO ANTES,

DURANTE E DEPOIS DO TRABALHO; FICANDO DEPRIMIDO; SAINDO DA

ESPECIALIDADE; e SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.

QUADRO 12. VIVENDO A CRISE INTERIOR

Categorias Subcategorias

VIVENDO A CRISE INTERIOR

11.1 Não conseguindo se projetar na

especialidade

11.2 Sentindo-se insatisfeito por não estar em

sua área

11.3 Chorando antes, durante e depois do

trabalho

11.4 Ficando deprimido

11.5 Saindo da especialidade

11.6 Sofrendo na especialidade

A rejeição é a tônica principal representativa da categoria VIVENDO A

CRISE INTERIOR, em que o enfermeiro não aceita a especialidade como sendo a

Page 201: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

179

sua nova realidade. Seus pensamentos, majoritariamente negativos, não vislumbram

possibilidades e perspectivas futuras de crescimento profissional considerando o

trabalho especializado, logo: NÃO CONSEGUINDO SE PROJETAR NA

ESPECIALIDADE.

“... mas dizer que quero ficar aqui, não. Me incomoda toda

essa dor. Não quero ficar, não é o tipo de trabalho que me gratifica. Acho

que depois de um certo tempo você consegue identificar em que você

trabalha bem, produz melhor. Acho importante que as gerências, que as

novas gerências tenham essa visão”. Mar

O enfermeiro lamenta continuamente, SENTINDO-SE INSATISFEITO

POR NÃO ESTAR EM SUA ÁREA, em uma absoluta e triste nostalgia resultante do

afastamento do seu desejado espaço de trabalho, o qual refere como prazeroso e

agradável, compatível com o seu conhecimento e afinidade.

“Na minha área me sentiria muito mais alegre. Lá os momentos

alegres eram muito maiores que os momentos tristes. Aqui não existe essa

balança. Os momentos ruins são bem maiores”. Céu

A tristeza aparece como resposta emocional proporcional aos eventos

frustrantes da relação não afetuosa com a especialidade, ou ainda, associada à

perda de algo que considerava importante. Nessa situação, um dos agravantes é a

limitação que o meio social submete as pessoas tendo em vista às manifestações de

suas angústias, frustrações e emoções. O enfermeiro sente-se prisioneiro em si

mesmo, CHORANDO ANTES, DURANTE E DEPOIS DO TRABALHO; muitas

vezes aparentando um comportamento emocional incongruente com seus reais

sentimentos de insatisfação.

Page 202: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

180

“Eu chorava para ir para o trabalho. Ficava pensando: amanhã

tem plantão... Era uma coisa muito sofrida. Nem eu entendia porque sofria

tanto. No trabalho qualquer coisa me tirava do sério e, lá ia eu chorar...”

Céu

Em um estágio mais avançado de descontentamento com a especialidade,

o enfermeiro desenvolve sentimentos de apatia, indiferença, desesperança, falta de

perspectivas ou prazer pelo trabalho, FICANDO DEPRIMIDO. Além disso, a

depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer

atividade, prejudicando ainda mais o funcionamento psicológico e social.

“Me sinto insatisfeita aqui. Venho aqui fazer o meu papel e

pronto. Mas não estou feliz. Já pedi para sair, porém não é tão fácil. Tenho

que aguardar uma oportunidade interessante para o serviço. Me sinto

cansada de tudo isso”. Montanha

A experiência revela que a chance do enfermeiro em mudar a sua

condição pauta-se na expressão clara de sua insatisfação, solicitando ajuda,

pedindo nova chance de inserção, SAINDO DA ESPECIALIDADE. Isso, a rigor, está

diretamente ligado à situação gerencial da especialidade, totalmente dependente da

permissão da Chefia, não sendo facilmente concedido, considerando a conjuntural

escassez de recursos humanos comum nos espaços de trabalho em saúde.

“Pedi para sair em várias vezes. Com a Chefia imediata. Fui

até o Coordenador geral. Não me senti bem e não queria ficar. Fui

insistindo, até que finalmente eu consegui. Me deram uma oportunidade.

Hoje estou bem melhor aqui. Gostando do que estou fazendo”. Vento

Page 203: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

181

A realidade fenomênica associada à contínua dificuldade de adaptação do

enfermeiro a nova especialidade revela um importante ponto de reflexão no que

tange ao trabalho em enfermagem, considerando que não saindo da especialidade e

ficando deprimido com o trabalho especializado, tem-se uma marcante implicação,

em destaque: SOFRENDO NA ESPECIALIDADE.

Durante uma entrevista referente ao primeiro grupo amostral,

ao perguntar como a pessoa sentia-se na especialidade, a enfermeira fez

um silêncio importante... E ao contar a sua experiência, começou a chorar

copiosamente. Tive que parar a entrevista e oferecer-lhe um copo de água.

Mas minha impressão foi de significativo sofrimento.

Essa subcategoria encontrada vai totalmente de encontro a qualquer

proposta sustentada por valores que preservem a dignidade humana. De tal modo,

cabe a reflexão, que à vontade de apreender conhecimento específico é condição

básica para o crescimento profissional do enfermeiro na especialidade, não sendo

justificável a insistência de alguém em um contexto, o qual não deseja e não quer.

Além disso, o trabalhar em estado de sofrimento não tem repercussões

apenas para aquele que sofre, mas também compromete o desenvolvimento do

trabalho coletivo, considerando as ações e as reações do enfermeiro e dos demais

agentes sociais. Aliás, é completamente contraditório pensar, que o profissional

sofrendo poderá realizar o cuidado de enfermagem, pois para cuidar do outro é

essencial o cuidar do próprio eu.

Page 204: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

182

DIAGRAMA 16 – CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE36.

36 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XIV.

Sentindo-se bem na especialidade

Projetando-se para um futuro na especialidade

-Resolvendo ficar e mudar

-Descobrindo que o novo pode agradar -Adaptando-se e pensando o que vai fazer na especialidade

-Amando o que aprendeu na especialidade -Querendo crescer no contexto da especialidade

-Reconhecendo-se na especialidade e pensando em melhorar a atuação profissional

-Querendo fazer alguma coisa na especialidade para desenvolver mais habilidades

-Pensando em um futuro nessa área -Achando que continuar na especialidade é uma boa possibilidade futura

Buscando a Especialização

-Fazendo o curso de especialização

-Fazendo outro curso de especialização para ajudar mais a clientela

-Querendo fazer especialização -Estando agora

preocupada em fazer o curso de

especialização nessa área

Almejando crescer na

especialidade

-Crescendo profissionalmente

apesar do enfrentamento do

conhecimento novo -Achando que foi

importante estar aqui para crescer enquanto

profissional -Não querendo mais sair da especialidade

Preocupando-se com a

Educação Continuada

-Fazendo cursos de

aprimoramento e atualização na área -Começando a ir a

Congressos e eventos da área

-Querendo que o hospital faça curso

disso -Elaborando projetos

voltados para a educação continuada

Podendo ser feliz no trabalho

-Trabalhando

minimizando a dor do outro

-Sendo agora mais feliz

-Reconhecendo que foi bom

-Tendo um encantamento pela

área -Sentindo-se bem e

tranqüila com a minha opção

Page 205: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

183

DIAGRAMA 17 – CATEGORIA: VIVENDO A CRISE INTERIOR37.

37 Mais códigos, pertinentes a essa categoria e as suas subcategorias, poderão ser observados no Apêndice XV .

Saindo da especialidade

-Querendo sair o mais rápido possível daqui-Pedindo a Chefia para ir para outro local -Desejando trabalhar em outro local mais

próximo da experiência anterior -Percebendo que precisava de uma

oportunidade em outro local

Sofrendo na especialidade

-Sendo os momentos ruins muito maiores que qualquer outra coisa

-Indo para lá sofrida -Saindo de lá sofrida

-Ficando no dia de folga pensando no próximo dia de trabalhar

Sentido-se insatisfeita por não estar em sua área

-Não tendo a menor vontade de se especializar -Não querendo ficar nessa área

-Lembrando de como era feliz com o que fazia -Não se adaptando até com essa clientela -Achando tudo difícil e por demais complexo

Não conseguindo se projetar na especialidade -Identificando que não produz bem com a clientela específica

relacionada à especialidade -Não se identificando

-Vendo a situação de uma forma muito preocupante -Não procurando nada

Chorando antes, durante e depois do trabalho

-Ficando com depressão por não conseguir fazer -Chorando em casa desesperadamente

-Chorando todos os dias -Chorando na noite anterior a vir para o plantão

Não se adaptando a especialidade: vivendo a

crise interior

Ficando deprimido -Vivendo bicuda na especialidade

-Trabalhando mal humorado -Perdendo até a vontade de falar sobre isso

-Não querendo aprender nada de novo

Page 206: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

184

Descobrindo o

Fenômeno Central

Page 207: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

185

CAPÍTULO VII

INTER-RELACIONANDO OS FENÔMENOS DESENVOLVIDOS E

APRESENTANDO O MODELO TEÓRICO REPRESENTATIVO DA EXPERIÊNCIA

DOS ENFERMEIROS NO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO

A Teoria Fundamentada nos Dados permite a geração de teorias a partir dos dados obtidos, analisados e comparados, de maneira sistemática e concomitante. (...) É um processo de análise e interpretação de dados bastante complexo, que requer envolvimento constante e consome tempo e energia do investigador (BETTINELLI, 2002, p.34).

Ao desenvolver o Modelo Teórico representativo da experiência dos

enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo, através dos códigos,

categorias e subcategorias, as reflexões realizadas em busca do cimento condutor,

basearam-se no modelo paradigma, em destaque: as condições causais, fenômeno

central, as condições intervenientes, o contexto, as estratégias ação /interação e a

conseqüência.

Nesse momento da pesquisa ocorreram muitos questionamentos que

foram à base de reflexão para a descoberta do fenômeno central, por conseguinte, a

construção do Modelo Teórico, em destaque: Qual ou quais situações aparecem

como causa para que ocorra o enfrentamento do conhecimento novo na

especialidade? Onde acontece esse enfrentamento? Existem situações

facilitadoras, ou ainda, àquelas que dificultam o enfrentamento do conhecimento

novo na especialidade? Que estratégias são utilizadas pelo enfermeiro nessa

situação? Qual o resultado de viver essa experiência?

Assim, o Modelo Teórico construído propõe a conexão e interconexão

entre os fenômenos anteriormente apresentados: VIVENDO O CHOQUE DA

Page 208: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

186

REALIDADE: A INSERÇÃO DO ENFERMEIRO SEM EXPERIÊNCIA PRÉVIA NA

ESPECIALIDADE – Condições Causais; EXISTINDO UM ENTORNO QUE

PRECISA SER CONHECIDO – Contexto; SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA

NA ESPECIALIDADE – Condições Intervenientes; (RE) CONHECENDO A

ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE – Estratégias de Ação/

Interação; CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE –

Conseqüências.

O próprio objeto de estudo da Tese também constitui um fenômeno, para

os quais todos os fenômenos desenvolvidos na análise dirigem-se e estão

diretamente relacionados. Dessa maneira, VIVENDO O PROCESSO DE

FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO

ENFRENTAMENTO DO NOVO é o fenômeno central identificado no estudo38.

38 Grifo da autora.

Page 209: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

187

DIAGRAMAS 18 - ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO (CONDIÇÕES

CAUSAIS, CONTEXTO, CONDIÇÕES INTERVENIENTES, ESTRATÉGIAS E

CONSEQÜÊNCIAS) COM OS FENÔMENOS DO ESTUDO.

O significado da formação profissional do enfermeiro no

enfrentamento do conhecimento novo no

contexto de setores especializados.

Existindo um entorno que precisa ser compreendido

Sentindo a falta da

experiência na especialidade

(Re) Conhecendo a atuação profissional na especialidade

Convivendo com a realidade

na especialidade

Condições Causais

Condições

intervenientes

Vivendo o choque da

realidade: a inserção do enfermeiro na especialidade

Fenômeno

Contexto

Estratégias ação-

interação

Conseqüências

Page 210: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

188

DIAGRAMAS 19 - ARTICULAÇÃO DO MODELO PARADIGMÁTICO

COM OS SIGNIFICADOS DOS FENÔMENOS DO ESTUDO.

O objeto de estudo

O contexto interno e externo no qual o enfermeiro desenvolve as

suas atividades, interage, relaciona-se, aprende,

desempenhando nele o seu papel social.

A inexperiência marca as interações que se desenvolvem

constituindo os núcleos simbólicos da situação estudada.

Compreensão e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento do novo, considerando o mundo social

que se abre a sua frente, que apesar de diferente de uma

atuação anterior, é possível de ser apreendido.

A relação do enfermeiro com o espaço de convivência na

especialidade, tendo em vista o vigente e as perspectivas futuras.

Condições Causais

Condições

intervenientes

Momento de aproximação com a

realidade em que o enfermeiro vive a iniciação na especialidade.

Fenômeno

Contexto

Estratégias ação-

interação

Conseqüências

Page 211: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

189

MODELO TEÓRICO

VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA

EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO

Visto a partir do objeto, o conhecimento aparece como um alastramento, no sujeito, das determinações do objeto. Há uma transcendência do objeto na esfera do sujeito correspondendo à transcendência do sujeito na esfera do objeto. Ambos são apenas aspectos diferentes do mesmo ato (HESSEN, 2003, p.20-21).

O fenômeno VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO

ENFERMEIRO NA ESPECIALIDADE representa a condição causal39 do evento que

leva a ocorrência do enfrentamento do conhecimento novo, tendo como ponto de

partida a situação de caos e de conflito interior, em que o enfermeiro vive a

mudança, a inquietação, a incerteza e o medo. Percebe-se despreparado para uma

atuação específica na especialidade, estando em um verdadeiro choque, em estado

de paralisação. Muitas dúvidas o acompanham, tendo ainda o peso da pressão

social, que espera, o mais rápido possível, a sua adaptação.

O choque tem relação com a inevitável vivência da mudança. Uma

excursão rumo ao desconhecido em que os acontecimentos futuros são dotados de

imprevisibilidade, provocando muitas inquietações. Trata-se de um momento

marcado pela dúvida quanto à possibilidade de uma adaptação e uma inserção

simbolicamente e socialmente satisfatória. Um processo de repensar o caminho que

então deverá ser percorrido a partir da interpretação não só objetiva, mas também,

subjetiva da realidade.

Por assim dizer, existe um descompasso entre a realidade do que é

conhecido em contrapartida àquilo que é novidade e, como não poderia ser 39 Grifo da autora.

Page 212: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

190

diferente, carregado de incertezas. Uma relação marcada por um duelo entre o

conhecido e o desconhecido, ou ainda, entre a experiência e a inexperiência, que

envolve um saber/ fazer em enfermagem complexo, que não se dá em matéria morta

e, sim, junto ao ser humano.

O enfermeiro vivendo o enfrentamento do novo se desvela e mostra a sua

personalidade, o seu “eu” interior, que interage com os outros, permitindo o

afloramento de muitos sentimentos, sendo o grande desafio: aceitar o conhecimento

novo, aceitar a si mesmo no bojo dessa situação e também aceitar ao outro, com

suas divergências ou contradições, já que cada ser é único e esta individualidade é

o que preserva a autonomia e a transcendência. Cabe enfocar, a compreensão do

ser humano como uma corrente de relações, que interage em um determinado

espaço físico e em um universo de inúmeras possibilidades.

São muitos os extremos de sentimentos vividos mediante o enfrentamento

do novo, tratando se de um desafio pessoal, que ainda assim, mesmo em face às

dificuldades, existe a necessidade do enfermeiro em assumir o seu papel social. Isso

no que se refere à adoção de atitudes e condutas que sejam compatíveis com o

esperado no ambiente da especialidade. Essas experiências funcionam como mola

propulsora para o processo de formação na prática, já que vivendo a dificuldade o

enfermeiro é impelido, cabendo a reação a todos esses acontecimentos.

O seu acolhimento é vital em termos de percepção inicial da

especialidade, quando bem recebido na especialidade, ou seja, quando o enfermeiro

percebe que a sua chegada traz uma conotação positiva, sente-se mais amparado

para enfrentar as dificuldades representadas pelo desconhecido. Ao passo que, a

percepção imediata de dificuldades presentes no ambiente da especialidade podem

funcionar negativamente, desencorajando o enfermeiro para a vivência da nova

Page 213: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

191

situação. Esse desencorajamento inicial poderá então ser a primeira grande barreira

e fator limitante para o avanço do profissional no processo de formação.

Em EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO,

emerge a importância do contexto40, um dos elementos do modelo, no qual as

estratégias de ação e interação são tomadas. Nesse fenômeno o enfermeiro revela o

quanto de ansiedade existe associado ao que está ao seu redor e permeando toda a

especialidade. O enfermeiro precisa dar conta de conhecer o espaço físico, os

recursos materiais e tecnológicos, a equipe multiprofisional e, especialmente

intrigante, a clientela a qual prestará os cuidados de enfermagem.

A troca de experiências e o compartilhar de saberes no enfrentamento do

conhecimento novo, firmam espaços de formação mútua, nos quais cada enfermeiro

é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando.

Nessa acepção, o trabalho em equipe na especialidade se revela fundamental para

o aprendizado do enfermeiro, já que as tomadas de decisões quando definidas em

conjunto, tendem a desfavorecer a resistência às mudanças e todos passam a ser

os responsáveis pelo sucesso da coletividade.

Aliás, o trabalho em equipe evita que o enfermeiro inexperiente conduza

as suas atividades de maneira isolada, corroborando com a premissa, que a

produção de práticas educativas eficazes emergem de uma reflexão da experiência

partilhada. Portanto, o processo de formação do enfermeiro está diretamente

associado ao seu próprio local de trabalho, considerando o seu espaço de atuação

profissional e, isso, inclui o enfermeiro frente ao desconhecido na especialidade.

Nessa linha de raciocínio, é importante entender a equipe de trabalho

como uma forma especial de organização, que visa, principalmente, a ajuda mútua

entre profissionais inseridos em um mesmo contexto, podendo ser compreendido 40 Grifo da autora.

Page 214: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

192

como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa ou um

determinado trabalho.

De tal modo, cabe a valorização de cada indivíduo, permitindo que todos

façam parte de uma mesma ação. Logo, o trabalho em equipe possibilita dar e

receber, por parte de cada um de seus membros, afeição, aceitação e sentimento de

importância, isto permite que o indivíduo amadureça, tornando o trabalho

determinante, pois o objetivo a ser alcançado depende, exclusivamente, da

satisfação psicológica do indivíduo, como também, das relações humanas.

O compartilhar de experiências permite o estabelecimento do diálogo

produtivo, em que aprender no trabalho significa viver positivamente o contato com o

conhecimento novo, no qual são enfrentadas as dificuldades, as situações de

conflito, possibilitando a proposta de ouvir e ser ouvido, de se colocar na posição do

outro, de se permitir o desconhecimento sobre algo ou alguma coisa, de respeitar os

diversos tipos de contribuições, tendo uma atitude solidária e postura compatível

com o espírito aberto.

É no estabelecimento das relações, no que tange o exercício real da ação

solidária, que o enfermeiro enfrentando, e não obstante, vivendo o desafio do

conhecimento novo, tem deflagrado o processo de compreensão das regras

representativas do tecido social, as leis que regem uma sucessão de fatos e

ocorrências, e ainda, os símbolos e os significados das coisas presentes na

especialidade.

Do mesmo modo o respeito à prática interativa permite a cada um dos

participantes interagir livremente com todos os outros e vice-versa, sem necessária

hierarquização, levando-se em conta que cada participação, além de trazer para o

Page 215: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

193

ambiente contribuições, estimula continuamente a apreensão de conhecimentos

novos e o desenvolvimento profissional.

A valorização de capacidades cognitivas individuais, valores pessoais e

habilidades que favoreçam o trabalho em grupo assumem fundamental importância,

na formação de enfermeiros atuantes em seu entorno social, mesmo quando na

condição de inexperientes. Para tanto, é preciso trabalhar o conhecimento como um

todo, em um processo baseado nas interações do sujeito com outros sujeitos e com

o meio, em respeito às singularidades de cada um.

Nesse caminho, no fenômeno SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA

NA ESPECIALIDADE aparecem as condições intervenientes41, considerando que

podem as mesmas facilitar, dificultar ou restringir as estratégias de ação/ interação

no contexto da especialidade. Portanto, existe a constatação da ausência de

conhecimento sobre a área especializada, já que o enfermeiro vivencia pela primeira

vez a especialidade. De fato, aparece como propulsora do fenômeno a inexperiência

e, é em torno dela, que ocorrem todas às interações.

Entretanto, nem sempre o enfermeiro está disposto a contatar a novidade.

Isso depende de fronteiras que determinaram e, que sinalizam, até onde o

enfermeiro quer e pode avançar. Estas fronteiras resultam de suas experiências

anteriores de vida, bem como, de suas capacidades internas para a assimilação da

experiência nova, incluindo uma certa disponibilidade para correr riscos.

A falta de previsibilidade dos resultados é fator de dificuldade para que

muitos enfermeiros busquem, ou ainda, se permitam à proximidade com o novo e,

por conseguinte, também pode funcionar como impeditivo para a ampliação de 41 Grifo da autora.

Page 216: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

194

fronteiras pessoais. Assim, o enfermeiro quando norteado por fronteiras bastante

rígidas mostra-se em um estado marcado pelo intenso medo de expansão, sentindo-

se ansioso e ameaçado sempre que se aproxima do novo. Por assim dizer, para que

ocorra o movimento de apreensão da novidade é necessário que o enfermeiro

administre o seu medo, que passa então a funcionar como um componente

importante na manutenção do estado de alerta com relação ao desconhecido.

Não poderia deixar de mencionar, os significativos momentos de

constrangimento, em que o enfermeiro tendo que ser o líder da equipe, precisa dizer

que não sabe algo ou alguma coisa. Obviamente, variando segundo as

características pessoais de cada profissional, pois ainda sim, existe a possibilidade

do enfermeiro mesmo sem saber, não conseguir expressar, vivendo solitariamente a

inexperiência.

Partindo da idéia que muitos aspectos permeiam a experiência do

enfrentamento do novo, o desejável é que se possa criar uma atmosfera de

interesse no que se refere ao contato com o conhecimento novo, de forma criativa e

saudável, ampliando a gama de experiências, de recursos internos e enriquecendo o

repertório de respostas pessoais.

É interessante enfocar a importância do pensamento crítico, da autocrítica

e do controle emocional para o processo de formação no enfrentamento do

conhecimento novo, já que o enfermeiro pode melhorar cada vez mais a sua

atuação profissional vencendo as suas dificuldades interiores e ampliando as suas

fronteiras pessoais, buscando o equilíbrio emocional, tão necessário em qualquer

situação de mudança.

Esses aspectos relacionam-se diretamente com o desenvolvimento da

maturidade profissional, já que o enfermeiro precisa gerenciar imparcialmente o seu

Page 217: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

195

próprio percurso profissional, refletindo sobre a sua trajetória e experiências, as

quais possam estar relacionadas, avaliando continuamente até que ponto vem

ocorrendo uma aprendizagem satisfatória e, em uma análise mais aprofundada, até

que ponto vem se permitindo aprender no espaço de atuação da especialidade.

No que se refere ao controle emocional, este se associa a muitas

habilidades tidas como especiais e que permeiam o cotidiano da atividade

profissional, em destaque: motivar a si mesmo continuamente, persistir mediante

frustrações vividas, controlar impulsos e atitudes precipitadas, canalizar emoções

para situações apropriadas em função da aprendizagem, motivar pessoas parceiras,

motivar àquelas que apresentam comportamento refratário à interação, ajudar as

pessoas a liberarem seus melhores talentos e conseguir seu engajamento a

objetivos de interesses comuns.

Um princípio básico para o desenvolvimento do controle emocional no

contexto da especialidade é o respeito mútuo pelos sentimentos dos outros e, para

tanto, é necessário que o enfermeiro saiba como se sente. Aliás, ele precisa

desenvolver a capacidade de comunicação, no sentido de expressar abertamente

suas sensações e seus sentimentos. O enfermeiro não deveria negar suas emoções

negativas e, sim, ser capaz de expressá-las de modo saudável, dividindo as

dificuldades. Agora, isso não significa ter uma atitude de supervalorização das

dificuldades, o que poderia funcionar como obstáculo para o enfrentamento da

situação nova.

A experiência estudada também aponta, para a importância do processo

de análise crítica do enfermeiro para com os seus próprios atos, principalmente,

considerando os erros que eventualmente possa ter cometido e suas perspectivas

de aprimoramento. Indubitavelmente, o exercício contínuo da autocrítica contribui

Page 218: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

196

fortemente para o processo de formação do enfermeiro no enfrentamento do

conhecimento novo, em que o mesmo pode redirecionar as suas ações na tentativa

de obter melhores resultados.

Cabe ainda destacar, que a mudança é um processo natural da vida,

embora possa associar-se a sofrimentos ou grandes dores. Negá-la pode ser uma

forma de sabotagem pessoal e de resistência à evolução. A resistência à mudança

pode provocar uma recusa contínua quando do processo de formação, pois viver em

uma situação totalmente conhecida e dominada é por demais cômodo e agradável,

porém pode funcionar como um confinamento, limitando ao que já se sabe. Por meio

da mudança é que se propicia o desafio, permitindo através da exposição,

inovadoras possibilidades em um novo cenário.

Assim, o enfermeiro busca estratégias de ação/ interação42 na tentativa de

sair do quadro de perplexidade em busca de um certo dinamismo, (RE)

CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE, em função

da compreensão do mundo social presente na especialidade, considerando

dificuldades e possibilidades. Essas estratégias são planejadas e implementadas

com o intuito de ajudar o enfermeiro na condução do saber/ fazer na especialidade,

a partir de um conjunto de situações percebidas. De fato, pensando no Modelo

Teórico, trata-se de ações baseadas na reflexão estratégica e tática voltadas para o

enfrentamento do conhecimento novo.

Muitos são os fatores que influenciam no processo de formação do

enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo, com destaque: a definição de

prioridades, o ajuste de metas e objetivos, o comportamento otimista, o exercício da

criatividade, a participação contínua, a perseverança mediante ao desafio, a visão

de futuro, o senso crítico e o estar aberto a mudanças. Todas essas acepções 42 Grifo da autora.

Page 219: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

197

podem fazer grande diferença quando da vivência do conhecimento novo,

permitindo ações baseadas na reflexão.

O enfermeiro precisa ser capaz de refletir continuamente sobre a sua

prática na especialidade, ainda que na situação de aprendiz, estando disposto a dar

e receber, direcionando sua busca para estratégias de enfrentamento, em

consonância com a realidade em que atua, priorizando os interesses e os objetivos

do bem comum, estando atento às oportunidades que se fazem presentes.

No movimento de sobrevivência, inerente ao enfrentamento do

conhecimento novo, o enfermeiro precisa atuar e cumprir o seu papel social,

buscando atender as necessidades reais da especialidade, tendo ainda o desafio

paralelo de atingir o reconhecimento profissional nesse novo contexto. Desta

maneira, o enfermeiro sobrevive ao conhecimento novo à medida que realmente se

permite assimilar as situações tidas como novas, inclusive admitindo para si e para

os outros membros da equipe o não saber sobre algo ou sobre alguma coisa, o que

implica em um saber lidar com a situação, que apesar de bastante desconfortável,

acaba sendo inevitável.

Além disso, é importante a reflexão que no enfrentamento do

conhecimento novo existe uma tendência em repetir posturas ou estratégias que já

foram utilizadas na solução de dificuldades anteriores. Embora, isso precise ser

cuidadosamente estudado, pois cada situação possui a sua singularidade e o olhar

padronizado poderá implicar em problemas de interpretação, comprometendo as

ações e os resultados. Logo, é necessário no processo de formação mais do que a

mera repetição, mas uma atitude flexível, em que o conhecimento acumulado

funcione muito mais como apoio do que como guia.

Page 220: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

198

De fato, esse fenômeno é marcado pelo atuar mesmo, na expressão

paradoxal que nesse momento a palavra atuação possa significar, já que o

enfermeiro precisa fazer aquilo que ainda precisa aprender e, ainda sim, o mais

rápido possível. Portanto, o enfermeiro se lança ao desconhecido, mesmo que não

perceba isso, à medida que pergunta para quem acredita conhecer a especialidade,

lê temáticas da especialidade para resolução de problemas específicos, observa

pessoas mais experientes e com conhecimento acumulado na área, mobiliza

conhecimentos de experiências anteriores, recorre a manuais da especialidade,

procura conhecer as rotinas, dentre outras situações estratégicas.

Não poderia deixar de mencionar o tempo, como um fator marcante nesse

fenômeno, já que o enfermeiro precisa apreender conhecimento o quanto antes, já

que precisa atuar e assumir o seu papel social e, não obstante a tudo isso, precisa

dominar a situação para um cuidar mais seguro, ainda que esteja vivendo muitas e

significativas dificuldades. Contudo, o tempo que apressa a aprendizagem e causa

temor, também funciona como um acalento, a partir consciência que a tão desejada

maturidade somente chega para o enfermeiro com esse mesmo tempo.

CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE elucida as

conseqüências43 e resultados atuais ou potenciais das estratégias de ação/

interação utilizadas pelo enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo. A este

ponto, cada enfermeiro irá reagir segundo a construção que tenha realizado e, isso

dependerá de símbolos e significados atribuídos ao enfrentamento do novo,

podendo ter como resultado o processo satisfatório de adaptação à especialidade,

com uma contínua busca pela apreensão de conhecimentos novos, ou ainda, a

rejeição parcial ou total da especialidade, sendo o enfermeiro bem mais reativo a

apreensão desses mesmos conhecimentos. 43 Grifo da autora.

Page 221: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

199

Muitas são as possibilidades no curso do enfrentamento do conhecimento

novo, podendo ser representada por uma convivência feliz e proveitosa para o

crescimento profissional, com destaque a sensação de sentir-se feliz naquilo que se

faz, conseqüentemente, sendo um grande e importante diferencial para uma

vivência agradável e criativa do processo de formação na especialidade.

Contudo, o inverso também se mostrou possível, considerando que a

convivência na especialidade poderá ser extremamente difícil, comprometendo o

processo de formação, podendo até estar associado à tristeza e ao sofrimento. Isso

levanta a reflexão, de que é necessário que o enfermeiro realmente queira viver e

conhecer o novo na especialidade, pois o processo de formação vivido

forçadamente é inoportuno, já que tem como base a insistência de algo que não se

deseja.

Em virtude do exposto, a partir do Modelo Teórico construído nesse

estudo, VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A

PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO,

apresento a formação do enfermeiro na especialidade como um movimento ao

infinito, que tem como ponto de partida o choque da inserção do enfermeiro na

especialidade.

Esse é marcado pela desordenada e imediata representação do todo

desconhecido, e como ponto de chegada, às abstratas conceituações desenvolvidas

a partir de símbolos e significados associados à experiência do enfrentamento do

conhecimento novo, no contexto do setor especializado, que retornam

continuamente e realimentam o ponto de partida, como prenúncio de novas

realidades, levando a novas buscas e formulações, que articule o já conhecido ao

presente e anuncie o futuro.

Page 222: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

200

Não poderia deixar de enfocar que o movimento tem relação com o

processo de desenvolvimento do conhecimento, como idealização de um projeto de

crescer profissionalmente a partir da experiência do conhecimento novo. Assim,

destacam-se: a busca das informações, as definições de situações inquietantes da

prática na especialidade, a execução das atividades, a depuração do vivido e, a

avaliação do que foi construído, em comparação ao momento de aproximação à

especialidade, tido como inicial e propulsor do fenômeno, retroagindo continuamente

sobre os aspectos significativos da realidade.

De acordo com as possibilidades diagramáticas possíveis a partir da

abordagem metodológica escolhida para o estudo, como forma de elucidação gráfica

do Modelo Teórico, tem-se como resultado de: VIVENDO O PROCESSO DE

FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO

ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO, a representação esquemática

resultante do movimento envolvendo todos os fenômenos e a categoria central: uma

helicoidal aberta, rumo ao infinito.

A escolha44 diagramática da helicoidal aberta rumo ao infinito pretende,

portanto, afirmar que o processo de formação se dá através de movimento, em que

não se pode conhecer tudo. A visão de algo ou de alguma coisa dependerá do

conhecimento apreendido a respeito e, mesmo assim, será apenas uma

possibilidade de explicação sobre a realidade, que jamais terá um caráter absoluto e

definitivo.

De fato, estar com o espírito aberto ao processo de formação poderá

permitir o movimento de subida da helicoidal, possibilitando a vivência em termos de

amadurecimento pessoal e profissional, no que se refere à abrangência de como as

44 Grifo da autora.

Page 223: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

201

coisas são interpretadas e percebidas. Do mesmo modo, manter-se continuamente

em estado de perplexidade, reativo a apreensão de conhecimento, com valorização

de limitações, pode significar uma paralisação, quando da reflexão a partir do

movimento representado pela helicoidal.

Assim, em consonância com o Modelo Teórico proposto apresento a

Tese de Doutorado: O ENFERMEIRO APREENDE CONHECIMENTO NOVO EM

UMA DADA ESPECIALIDADE, EM UM MOVIMENTO RUMO AO INFINITO,

VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO, A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO

ENFRENTAMENTO NA PRÓPRIA REALIDADE VIVENCIADA.

Page 224: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

202

DIAGRAMA 20 – MODELO TEÓRICO: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO

NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO.

Sentindo a falta de experiência na especialidade

(Condições Intervenientes)

Vivendo o choque da realidade: a inserção do enfermeiro na

especialidade (Condição Causal)

(Re) conhecendo a atuação profissional na especialidade (Estratégias de Ação / Interação)

Existindo um contexto que precisa ser compreendido

(O Contexto)

Convivendo com a realidade na especialidade em busca da

adaptação (Conseqüências)

Vivendo o processo de formação na especialidade a partir da experiência

do enfrentamento do novo.

Page 225: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

203

Possibilitando a discussão

acerca dos resultados

Page 226: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

204

CAPÍTULO VIII

DIALOGANDO COM AUTORES A PARTIR DO FENÔMENO CENTRAL

“O rigor metodológico foi uma meta perseguida com muita tenacidade, e o considero um ponto significativo de todo o trabalho científico... (BETTINELLI, 2002, p.48).

Esse capítulo propõe um diálogo a partir da descoberta do fenômeno

central: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A

PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO CONHECIMENTO NOVO,

confrontando as idéias apresentadas, as considerações teóricas de autores

estudiosos do Interacionismo Simbólico, assim como, àqueles envolvidos com

pesquisas sobre Formação.

Contextualizar o processo de desenvolvimento profissional do enfermeiro

no enfrentamento do conhecimento novo decorre do entendimento de que a

formação se processa como algo dinâmico e progressivo, como um movimento,

dotado de complexidade, que vai além dos componentes teóricos, técnicos e

operativos, partindo da compreensão de que apenas esses não abarcam toda a

dimensão coletiva do trabalho de enfermagem e as situações reais enfrentadas na

prática cotidiana.

Segundo Perrenoud (2001, p.30), falar de complexidade significa falar de

si mesmo e dos outros mediante a realidade. Abarca as inquietações acerca de

nossa representação e nosso controle do mundo, principalmente no que se refere ao

mundo social. Significa verificar quais são as nossas ferramentas de compreensão,

de antecipação e de ação.

Ainda sobre isso, Andrade (2002, p.13) afirma que:

Page 227: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

205

O ser humano é complexo e sua existência e de não acomodação, isto é, embora um dia pareça ser igual ao outro, estamos sempre em movimento, e nosso corpo e mente em constante mudança. No entanto, nossa existência é de natureza não acomodativa: ordem-desordem-organização é um fato do nosso dia-a-dia, e isto acontece tanto com o cliente como com os membros da equipe de saúde, o que torna o cuidado de enfermagem uma ação de alta complexidade e o nosso compromisso com o cliente e sua família uma grande responsabilidade. A enfermeira precisa desenvolver a inteligência para lidar com situações complexas e imprevisíveis.

A autora (op. cit, p.41) também comenta, que o conhecimento está

espontaneamente unido à vida, fazendo parte da existência humana. A ação de

conhecer está presente, simultaneamente, nas ações biológicas, cerebrais,

espirituais, culturais, lingüísticas, sociais, políticas, históricas e, por isto, o ser

condiciona o conhecer, que ao mesmo tempo condiciona o ser.

No processo de formação e apreensão do conhecimento, as informações

devem ser consideradas nas muitas modalidades em que possam ser

desenvolvidas, uma vez que existem diferenças de decodificação de uma para outra

modalidade. A decodificação de informações tem como premissa às referências

construídas ao longo do tempo, sendo condição fundamental para que se consiga

resolver problemas da prática.

Essa decodificação estará relacionada à visão de mundo do enfermeiro,

passando também pelas suas características pessoais, que ainda sim, podem fazer

grande diferença na compreensão da realidade vivenciada. Portanto, possuindo

maior quantidade de símbolos, mais conceitos podem explicar as coisas, sendo

melhor a relação com as diferentes circunstâncias que se apresentam no cotidiano.

Nesse sentido, Bazilli et al (1998, p. 38) referem que:

No interacionismo simbólico, os símbolos significantes são produto da forma como as pessoas reagem aos símbolos, em termos de significados que elas levam como preditores do seu próprio comportamento e o comportamento de outros. Nesse sentido, o papel dos símbolos

Page 228: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

206

significantes é ajudar a organizar o comportamento e permitir que atos se completem no curso da interação, num contexto social específico.

Essa acepção abre a ponderação, que ter acesso às informações

referentes à especialidade não é o bastante. É necessário compreendê-las,

aprofundá-las, decodificá-las, utilizando a inteligência, para então desenvolver a

síntese do que realmente interessa em termos de utilidade, em face da vivência

problematizadora do novo, com ênfase as relações que podem ser estabelecidas

visando à aprendizagem. Logo, não adianta ter um acúmulo desnecessário de

materiais e recursos, sem saber o que fazer com eles, em face das diferentes

situações cotidianas.

Os mesmos autores (op. cit, p.39) acrescentam que:

O conceito de situação é proposto pelo interacionismo simbólico para referir-se aos produtos do processo de simbolização, na medida em que toda situação de interação social deve ser simbolizada, antes de gerar cursos de ação, comportamentos decisões, etc.

No que se refere à inteligência, Demo (2002, p.44) relaciona a capacidade

de resolução de situações complexas. De tal modo, envolve o saber andar por linhas

tortas, sem ter necessariamente que acertar as linhas. Assim, o saber pensar não é

apenas ver a lógica das coisas, mas superá-la. Isso através do pensar flexível, com

o intuito de decifrar o que é ambíguo e contraditório, além de encontrar similaridades

e diferenças, formulando perspectivas inovadoras.

Por conseguinte, é dando significado a seleção e a síntese desse mundo

novo de informações que o enfermeiro permite o avançar no processo de construção

e reconstrução do conhecimento. A busca do enfermeiro pela significação e

ressignificação na especialidade estabelece uma relação de troca permanente de

informações.

Page 229: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

207

É interessante salientar, que o enfermeiro no processo de formação na

especialidade precisa deixar a resignação e adequar-se ao movimento de apreensão

do conhecimento novo, no sentido de assumir uma postura de construção positiva,

indo ao encontro de novas percepções, ampliando a sua capacidade de

decodificação. O mundo-objeto da especialidade é, portanto, agente dessa nova e

intensa subjetividade.

A respeito disso, Bettinelli (2002, p.30) discorre que:

No processo interpretativo da interação social, primeiramente há um momento em que a pessoa interage consigo mesma, indicando para si as coisas significativas. No processo formativo, a pessoa seleciona, suspende, reagrupa e transforma esses significados utilizados como guias de ação, à luz da situação que está colocada.

Nessa acepção, o enfrentamento do novo exige que o enfermeiro também

possua significativa capacidade de comunicação, fundamentalmente, uma

importante capacidade interativa. Sem abertura para a interação o enfermeiro torna-

se cada vez mais propenso ao entendimento apenas dos seus próprios valores,

limitando o seu crescimento profissional na especialidade, tendo uma atitude

fechada, com dificuldades de ser flexível nas situações diversas do cotidiano,

comprometendo o processo de formação.

Para o mesmo autor (op. cit, p. 164), os valores guiam a ação e o modo de

ser das pessoas no convívio social e na auto-realização. O valor encontra-se na

interconexão da objetividade das coisas com a subjetividade humana. Trata-se esse

do ponto de encontro determinante do valor, relacionado com o pensamento, o

comportamento e as atitudes de cada um, no espaço de convivência. Portanto, os

valores humanos têm uma importante identificação pessoal, contudo, também, na

convivência social.

O autor também complementa (op. cit) que:

Os valores são objetivos, pois cada ser humano tem alguma coisa que lhe é inerente, e exprimem uma realidade concreta que vale por

Page 230: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

208

si mesma, independente de qualquer avaliação da pessoa (valor ontológico). Relativamente ao aspecto subjetivo, o valor consiste na avaliação que cada pessoa faz da coisa em si e da visão da realidade individual e social, de fatores histórico-culturais.

É essencial que o enfermeiro perceba que uma mesma coisa pode ser

vista de diferentes perspectivas, sem perder as suas características. O novo

aparentemente tão desconhecido pode tomar a conformação de algo mais familiar, à

medida que o enfermeiro vai dando significado, ou ainda ressignificando, o seu

saber/ fazer na especialidade, permitindo-se avançar e desafiar o desconhecido.

Ainda no processo de formação e no desenvolvimento da aprendizagem, a

auto-estima tem singular influência no sentido da opinião e do sentimento que cada

um tem por si mesmo. É importante a consciência do enfermeiro acerca de seu real

valor pessoal, acreditando, respeitando e confiando em si. Quando a auto-estima

está baixa o enfermeiro sente-se inseguro, com dúvidas sobre sua atuação,

experimentando até mesmo o sentimento de não ser capaz, desistindo antes mesmo

de começar.

Tem-se que, a habilidade de se localizar espacialmente no contexto da

especialidade tem grande importância para a representação mental das pessoas. O

enfermeiro que não consegue representar mentalmente o papel que vai executar,

dificilmente o fará dentro da qualidade necessária. Além disso, a dificuldade de

representação poderá comprometer o processo de socialização.

Sobre isso, Bazilli et al (1998, p.36) afirmam que:

Sob este enfoque, a pessoa é socializada, em parte, pelo fato de responder às expectativas dos outros e na experimentação de papéis no processo geral de interação, que é em si mesmo uma experiência de socialização.

Page 231: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

209

Não poderia deixar de relatar, que o processo de formação envolve

aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, sociais, culturais e éticos, sendo

resultante do desenvolvimento de aptidões e da abertura ao conhecimento,

diretamente influenciado pela motivação.

A vivência do novo e a superação de obstáculos são estímulos à atividade

cognitiva, em que o desafio cognitivo faz o enfermeiro mobilizar-se. À luz de uma

aprendizagem significativa, uma das premissas é a de favorecer continuamente a

confrontação entre os significados pessoais do enfermeiro com àqueles dos agentes

sociais envolvidos no contexto da especialidade, em uma ambiente de formação,

estruturado para dinamizar as diferentes possibilidades de interações, com respeito

às subjetividades e a produção intelectual.

A este ponto cabe reforçar, que a aprendizagem também é processual e

ocorre no interior do sujeito, estando relacionada às possibilidades de troca, que

esse mesmo sujeito, estabelece com o seu meio. Não obstante, na situação do

enfrentamento do novo, é essencial que o enfermeiro tenha motivos para apropriar-

se do conhecimento na especialidade. Portanto, tem-se como condição ímpar, que o

enfermeiro almeje efetivamente aprender.

Além disso, é importante no processo de formação que o enfermeiro

perceba a sua autonomia, no sentido de assumir a responsabilidade por sua própria

aprendizagem, desenvolvendo habilidades para formular perguntas, que promovam

uma contínua busca, possibilitando o trânsito entre a teoria formal codificada e a

prática em si, refletindo com profundidade acerca dos conhecimentos que embasam

seu atual modo de agir.

A esse respeito, Santo (2003, p.224-225) discorre que existe por parte do

enfermeiro o desejo de construir uma identidade profissional identificando e

Page 232: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

210

demarcando um saber específico, no sentido de contribuir para o estabelecimento

de uma maior autonomia e garantia de decisões frente ao grupo. Ainda refere, que

na prática cotidiana o profissional precisa articular o conhecimento teórico com o

conhecimento prático para conquistar e manter liderança.

Cabe a ênfase ao entendimento de aprender como uma totalidade,

envolvendo o corpo e a mente, canalizando as emoções e os sentimentos vividos a

partir do enfrentamento do novo em prol do processo de aprendizagem. A esse

respeito, é preciso que o enfermeiro seja capaz de lidar com os problemas dos quais

ainda não tem total domínio, incluindo o inesperado e a incerteza. Além disso, é

preciso a compreensão no sentido da importância tanto do conhecimento teórico

quanto do conhecimento prático para o enfrentamento das situações cotidianas.

A propósito, considerando a mesma autora (2003, p. 231):

Atualmente, o conhecimento precisa ser compreendido numa perspectiva de integralidade e dinamicidade, pois seu desenvolvimento possui uma estreita relação com a evolução humana na sociedade a qual envolve ainda, a motivação, o prazer e o empenho das pessoas em querer saber mais, em questionar e refletir sobre o que fazem e como desenvolvem suas ações no dia-a-dia.

Neste contexto, salientam-se muitas competências importantes para a

sobrevivência em um novo tempo, dentre elas: a habilidade para planejar, trabalhar

e decidir em grupo; a habilidade para acionar e utilizar informações acumuladas; a

habilidade para manter-se ininterruptamente em busca de novas experiências

significativas para a construção do conhecimento.

Em consonância com o exposto, Perrenoud (2001, p.1) diz que a

competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para

solucionar com adequação e eficácia uma série de situações. Prende-se a fatores

culturais, sociais, políticos, dentre outros aspectos. Os seres humanos são

singulares, imersos em um contexto que lhe é próprio, portanto desenvolve

Page 233: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

211

competência segundo o seu mundo. Além disso, para descrever uma competência é

preciso a evocação de três elementos complementares: os tipos de situações; os

recursos que são mobilizados; e natureza dos esquemas de pensamento, que

permitem a solicitação dos recursos em situação complexa e em tempo real.

Do mesmo modo, considerando Assad (2003, p.14):

Para que o conhecimento gere competências, é necessário que os saberes dos profissionais sejam mobilizados através de seus esquemas de ações, decorrentes de esquemas de percepções, avaliação de decisão, desenvolvidos na prática.

Sobre isso, é importante atentar que as pessoas recebem, processam e

apresentam as informações de maneiras diferentes, de acordo com seus estilos

próprios de aprendizagem, seus símbolos e seus significados. O enfermeiro

enquanto sujeito da aprendizagem precisa organizar espaços voltados para

apreensão de conhecimentos que levem em conta o seu próprio estilo, participando

e tomando para si a responsabilidade pelo êxito nesse processo. A concepção de

enfermeiro aprendiz deverá contemplar as qualidades relativas a alguém que deseja

e quer, de fato, aprender.

É preciso interagir para a resolução de problemas em prol de uma

atmosfera que reúna pessoas dispostas em trocar conhecimentos, em função de

objetivos comuns. A valorização individual permite a articulação dos potenciais de

cada pessoa com vistas ao crescimento profissional da equipe e, nesse caminho,

cria-se um espaço harmonioso para o processo de aprendizagem, com destaque a

busca do desenvolvimento da inteligência de forma coletiva, a partir das vivências do

grupo, a qual o enfermeiro inexperiente está inserido.

É pertinente assinalar à luz de Bettinelli (2002, p. 87):

O trabalho em equipe multiprofissional não é somente mais um implemento nas ações do cuidado. Ele é importante, por complementar o atendimento às pessoas, uma vez que vários profissionais, cada um no seu espaço, nem sempre bem definido, atuam com sua parcela de contribuição.

Page 234: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

212

Além disso, no trabalho multiprofissional, as reuniões funcionam até como terapia de ajuda mútua e de espaços para o exercício da solidariedade entre os próprios membros da equipe.

É importante também pontuar que a utilização de múltiplos recursos não

define a performance intelectual dos indivíduos, já que os processos de natureza

cognitiva são construídos de forma gradativa, no decorrer de toda uma trajetória.

Assim, tem-se que a experiência do novo propicia a apreensão de conhecimentos,

considerando a quantidade significativa de estímulos que chega para o enfermeiro

aprendiz. Assim, o profissional vivendo o processo de formação precisa movimentar

e transformar esses estímulos, em percepções criativas, compreendendo novos

conceitos, refletindo acerca deles e, por conseguinte, dando as situações, novos

significados.

O autor (op. cit, p.143) ainda comenta que:

A vida do enfermeiro é um constante tornar-se, pois a sua identidade vai-se construindo diariamente, pela bagagem de conhecimentos que adquire a cada experiência vivida. Além disso, está sempre em busca do aperfeiçoamento como profissional, para proporcionar um cuidado de qualidade e efetivar a sua autonomia e valorização.

Agora, é importante pontuar, que o enfermeiro mesmo na condição de

inexperiente precisa assumir o papel de responsável pela construção do seu

conhecimento, desfavorecendo a crença que o conhecimento é transmitido de uma

pessoa para outra, e sim, reafirmando a idéia do conhecimento construído mediante

a atuação do próprio indivíduo sobre o que deve ser conhecido.

Essa atuação baseada em atitudes, muito mais do que apenas em atos

isolados, com destaque as capacidades de: observar, explorar, identificar,

caracterizar, comparar, relacionar, discriminar, levantar hipóteses e questões,

analisar, discutir e posicionar-se, entre muitos outros aspectos. Partindo do

pressuposto que, o enfermeiro já vivenciou e já conhece algo sobre determinado

Page 235: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

213

conteúdo, estabelecendo metas que resultem em uma ampliação de seu

conhecimento inicial.

Ainda sublinhando as idéias propostas por Santo (2003, p. 232):

Portanto, o conhecimento está intimamente ligado às experiências, circunstâncias e pessoas com quem compartilhamos momentos, idéias, leituras e discussão das quais poderão emergir muitas questões ou elas podem ser retomadas à medida em que as (os) enfermeiras (os) envolvam-se cada vez mais, nas questões da profissão, aprofundando seus saberes, abrindo debates e não os fechando.

Desse modo, ao observar a realidade na especialidade, o enfermeiro

vivendo o processo de formação precisa detectar informações, estabelecendo

relações e possibilidades interpretativas, que dêem conta, preliminarmente, de

concepções básicas, porém com uma proposta de maior aprofundamento e

complexidade, para que possam desenvolver e crescer profissionalmente.

Não poderia deixar de ser mencionado, como um contraponto, no que se

refere ao enfrentamento do conhecimento novo, a ótica, por vezes vigente, que

dissocia o pensar do fazer, criando uma importante e significativa dicotomia, tendo

como resultado: profissionais eminentemente teóricos, ou ainda, profissionais

eminentemente práticos.

Isso considerando a ênfase aos mecanismos de aprendizagem apenas

baseados no mecanicismo, na fragmentação e na repetição, com uma separação

totalmente imprópria do conhecimento teórico e do conhecimento prático,

desestimulando o pensar reflexivo, com vistas à construção de um conhecimento

mais global, ou seja, representativo do todo.

Aliás, a valorização de ações mecanicistas, fragmentadoras e repetitivas

favorecem e produzem atitudes e posturas profissionais que dificultam a construção

do conhecimento, em que pese às dificuldades causadas pelo isolamento social e

pela agressiva competição, não sendo, portanto, cabível no processo de formação,

Page 236: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

214

já que as experiências são representativas de um todo dinâmico, demandando o

pensamento crítico pessoal e coletivo, de modo a produzir ações baseadas na

reflexão contínua, criando novas possibilidades de enfrentamento do então mundo

social desconhecido.

É pertinente salientar, o reconhecimento do trabalho como exercício de um

saber/ fazer significativo, pelo qual existe a possibilidade da atitude interativa, em

uma relação dinâmica com a realidade, contínua no que tange a reflexão e a ação,

em função da construção da nova experiência, que a partir da vivência em si

mesma, seja capaz de desenvolver conhecimentos que possibilitem a busca pela

correção de rumos, considerando a socialização da experiência e dos

conhecimentos apreendidos, em função da aplicação de idéias.

O processo de formação, em face da aprendizagem e da construção do

conhecimento, associa-se diretamente a experiência no trabalho, constituindo-se em

uma relação entre o enfermeiro e a realidade. Desse modo, o profissional vivendo o

processo de formação, considerando o Modelo Teórico e a Tese desse estudo,

desenvolve o conhecimento a partir do cotidiano, considerando a experiência do

enfrentamento do conhecimento novo.

O enfermeiro vivendo a situação do novo, busca a compreensão da

especialidade em contraponto o mundo de significados que cria, no sentido do

pensar acerca do que faz, bem como, dos resultados obtidos, incluindo a perspectiva

do si mesmo, que também compõem a realidade. O trabalho na especialidade é

socialmente construído a partir da ação dos diferentes agentes sociais sobre o

ambiente. O enfermeiro pelo trabalho e no trabalho contribui na construção da

Page 237: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

215

realidade, em consonância com as células sociais a qual participa e, tem papel

também no desvelar do conhecimento novo.

Page 238: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

216

CAPÍTULO IX

VALIDANDO A TEORIA SUBSTANTIVA

A validação é um critério imprescindível para consolidar a pesquisa e imprimir-lhe rigor científico (BETTINELLI, 2002, p. 46).

A partir da descoberta do fenômeno central, passou a ser uma importante

preocupação a validação da pesquisa. Desse modo, foi estabelecido um terceiro

grupo amostral para esse fim, constituído de enfermeiros sem experiência prévia,

que também foram lotados em setores especializados. Contudo, priorizei os

profissionais mais recém chegados ao hospital, quando comparados àqueles

presentes nos outros grupos amostrais. Não considerei os enfermeiros convocados

para atividades no Núcleo Perinatal, em virtude de ser uma unidade inaugurada em

dois de junho de 2006, não estando ainda em pleno funcionamento.

Para elucidar a questão, no que se refere à natureza desse terceiro grupo

amostral, cabe pontuar, que o último concurso realizado na instituição deixou um

banco de enfermeiros classificados. De tal modo, partindo da necessidade do

Serviço, à medida que recebe autorização de instâncias administrativas superiores,

o hospital pode chamar enfermeiros para iniciar atividades assistenciais. Isso,

esporadicamente, vem acontecendo.

Nesse sentido, a intenção de conferir validação ao estudo, partiu da

necessidade de aprimorar ainda mais o conhecimento estruturado, em face da

responsabilidade que o Modelo Teórico representa para o rol de noções e

conhecimentos na enfermagem. Então, após discussões valiosas com a orientadora,

definiu-se o retorno ao campo de pesquisa, considerando o cenário e os agentes

sociais, para o reconhecimento das percepções dos enfermeiros mediante a

apresentação dos fenômenos e resultados encontrados no estudo.

Page 239: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

217

Para tal, foi elaborado um instrumento semi-estruturado45, com perguntas

geradoras, visando a realização de entrevistas individuais que motivassem a

participação dos enfermeiros no sentido da confirmação, negação ou

complementação dos achados levantados na pesquisa.

Num primeiro momento, ocorreu uma explanação acerca do

desenvolvimento da pesquisa, desde a coleta, no tocante às categorias e as

subcategorias e, não obstante a tudo isso, a descoberta do fenômeno central. No

segundo momento, antes da realização das perguntas, os diagramas

representativos dos fenômenos foram apresentados, bem como os resultados do

estudo.

Do mesmo modo que para os demais grupos amostrais, as entrevistas

foram realizadas individualmente, gravadas, transcritas na íntegra, tendo duração

média de uma hora e trinta minutos. Durante o processo de coleta de dados foram

respeitadas as premissas acerca da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, com

garantia de sigilo e anonimato dos depoentes. Também, durante as entrevistas,

procurei manter-me em estado de cuidadosa observação, para captar sentimentos,

expressões, comportamentos e práticas que sinalizassem algo de importante.

Nesse caminho, foram entrevistados quatro enfermeiros, que para efeito

de dar continuidade aos pseudônimos empregados no estudo, considerando nomes

pertinentes à natureza, foram chamados de: brisa, lagoa, duna, e cachoeira. Nesse

contexto, não posso deixar de mencionar que a validação representou uma fase da

pesquisa bastante especial, pois propiciou discussões relevantes, no sentido da

troca de informações, para o aprimoramento dos fenômenos.

A riqueza das contribuições foi uma grata surpresa e, por assim dizer,

também a confirmação dos achados da pesquisa. Os enfermeiros relataram que os 45 Pode ser visualizado no Apêndice.

Page 240: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

218

fenômenos, VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: A INSERÇÃO DO

ENFERMEIRO SEM EXPERIÊNCIA PRÉVIA NA ESPECIALIDADE, EXISTINDO

UM ENTORNO QUE PRECISA SER CONHECIDO, SENTINDO A FALTA DE

EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE, (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO

PROFISSIONAL NA ESPECIALIDADE e CONVIVENDO COM A REALIDADE NA

ESPECIALIDADE apresentavam de forma clara e elucidativa as suas experiências,

indo ao encontro das suas percepções quanto à situação vivenciada na prática.

“É assim mesmo... Fui colocada na especialidade e tive que

enfrentar. Não adiantava reclamar. No início fiquei bastante chateada.

Queria ir para outro lugar. Sentia a falta de experiência e trabalhava com

muita insegurança. Medo mesmo de fazer algo errado. Mas, o tempo foi

passando e as coisas foram ficando bem mais acessíveis. Procurei me

defender como pude. E também precisei dar tudo de mim. Me esforçar

mesmo. Hoje, já não me sinto tão assustada. Se eu quero ficar aqui?

Confesso que não estou certa disso ainda. Mas, agora consigo me ver

nesse espaço. Consigo atuar e me sentir mais à vontade”. Lagoa

“Para receber o novo deveria ter uma organização prévia.

Concordo com a história do acolhimento. E isso aí... Quando você chega e

as coisas estão planejadas para apoiar você e, muito mais fácil. Ao passo,

que a confusão desanima e torna tudo muito mais difícil. Também acho que

o treinamento tem um importante papel no recebimento do novo. Não uma

coisa só para constar, mas algo que dê subsídios para a atuação do

profissional. Deveria ter um treinamento teórico e, depois um

acompanhamento na prática”. Duna

“Para recomeçar em uma área nova, eu utilizo a princípio a

observação. Preciso sentir o ambiente, a cultura organizacional, as

pessoas envolvidas... Sempre tentando estar participando. Dando o melhor

de mim, para me entrosar com a equipe. Falando sempre com todo mundo

e buscando ter humildade para aprender com as pessoas. Busco os

Page 241: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

219

protocolos, as rotinas, os manuais e a experiência mesma com os nossos

colegas”. Brisa

Também, pude perceber em expressões verbais e não verbais as reações

dos enfermeiros mediante aos resultados. Não poderia deixar de relatar, que os

diagramas utilizados para desenvolver a parte gráfica dos fenômenos, ajudaram

significativamente no momento da validação, pois, ao olhar os desenhos

representativos dos fenômenos, antes mesmo das explicações a respeito deles, os

enfermeiros mostravam compreensão. Posso até ousar a dizer, que pareciam que os

fenômenos falavam por si mesmos.

Durante a entrevista de cachoeira, a mesma mostrava-se

falante e bastante participativa, ainda na fase de apresentação dos

fenômenos. Contudo, quando apresentei o fenômeno: “convivendo com a

realidade na especialidade”, em particular, “a crise interior”, pude perceber

que seus olhos ficaram cheios de lágrimas, como se tivesse existido, um

imediato reconhecimento, quando comparado com a situação vivida na

especialidade. (Anotações de Campo)

“Como esses desenhos ficam interessantes? Eu olho e me

vem à realidade. Essa metodologia é muito legal, nê? Não conhecia. Você

tem apresentar isso aqui no hospital... Quero ver a reação das pessoas.

Quero ver...” Brisa

Contudo, os enfermeiros apresentaram sugestões sutis concernentes às

nomenclaturas empregadas para a representação das abstrações tendo em vista

principalmente os nomes dados as subcategorias. Dessa maneira, reconheceram

palavras que puderam dar um tom especial, ou seja, um rigor em termos de

refinamento a partir da experiência. Todas as sugestões foram cuidadosamente

Page 242: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

220

analisadas. Assim, após orientação, essas palavras puderam ser empregadas no

estudo.

“Posso dar uma sugestão. Penso que no fenômeno (Re)

Conhecendo a atuação profissional na especialidade, quando aparece

buscando leituras; ficaria mais claro, se você intitulasse: buscando leituras

para situação específica. Sabe porque? Como o tempo corre e precisamos

aprender o quanto antes, não dar para sair lendo tudo. Entendeu?”.

Cachoeira

“Penso que entorno é mais esclarecedor do que ambiente,

para nomear o segundo fenômeno. Ambiente pode remeter para uma

dimensão de espaço... Eu não entendo assim, mas um leitor desavisado

pode cometer essa restrição no pensamento. Já o entorno fica, meio que

subentendido, tudo ao redor, tudo que permeia, o que pode equivaler o

espaço, os equipamentos... Até as pessoas”. Duna

Sobre o Modelo Teórico, VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA

ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO, os enfermeiros mostraram singular interesse, relatando

concordar com a idéia defendida, mencionando que satisfaz as suas percepções

quanto ao vivido na especialidade. De fato, pude perceber durante a apresentação

do fenômeno, que o mesmo estimulou a fala dos entrevistados, já que começaram a

relatar variados exemplos de situações práticas reafirmando a concepção de

processo e movimento na apreensão de conhecimentos novos.

Quanto ao diagrama representativo do Modelo Teórico, o desenho

esquemático tendo como base uma helicoidal aberta foi compreendido

satisfatoriamente pelos enfermeiros. Além disso, dois enfermeiros relataram o quão

são pressionados pelo sistema e por eles mesmos no sentido de subir na helicoidal.

Logo, para minha absoluta surpresa, o modelo ora apresentado, já estava sendo

incorporado, quando da própria fala do enfermeiro.

Page 243: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

221

“É um movimento mesmo, nê? Estou sempre crescendo seja

com alegria ou através do sofrimento... Aqui, eu percebo que estou sempre

atuando, tentando trabalhar a minha visão do todo. Trabalhar com a

equipe. Faço junto com eles as coisas. Estou na busca pelo

aperfeiçoamento. Com o tempo, vou aprendendo mais sobre as coisas

daqui e vou dando conta do trabalho. Gosto de fazer os cuidados. E com

isso, vou aprendendo na prática coisas específicas a esse lugar” Brisa

“Esse desenho esquemático ficou muito claro, viu? Acho que

quando a gente chega e tem um desafio, o que acontece é uma tentativa

de subir rápido essa helicoidal... Aí vem a maturidade para perceber que

tudo demanda um tempo e, não é bem assim que as coisas acontecem,

apesar da pressão do meio e da nossa própria pressão”. Lagoa

Um outro ponto de destaque durante a validação, foi à ponderação por

parte dos entrevistados, que os fenômenos poderiam explicar outras realidades que

não apenas àquela da instituição, cenário do estudo. Assim, foi comentário de todos

os enfermeiros a contribuição do Modelo Teórico para o aprofundamento de

questões presentes na enfermagem.

“Esses fenômenos servem para explicar outras situações na

enfermagem, que não apenas no contexto do HUPE, nê? Estou aqui

imaginando, que na minha trajetória profissional, já me deparei com esses

fenômenos em outras ocasiões. Acho que enfrentar o conhecimento novo

causa esse fluxo mesmo de acontecimentos. Depois de defender a Tese,

você pode continuar nessa linha, nê?” Cachoeira

“Esse estudo vai ser muito útil aqui. Claro, dependendo da

disposição das pessoas, em ouvir os seus achados. Você pretende

apresentar no hospital? Quero estar presente... Mas, me parece que ele

cabe também para outras realidades... Você já pensou nisso? Essa Teoria

que você chegou ela gera muitas reflexões. Até me estimulou pensar mais

na possibilidade de buscar o Doutorado. Você sem querer meio que

quebrou um estigma que dificultava a minha busca... Porque eu gostaria de

realizar algo que pudesse ser efetivamente utilizado. Sei lá... Não queria

algo para ficar na gaveta”.Lagoa

Page 244: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

222

A validação possibilitou o encontro dos achados do estudo com a

experiência mesma dos enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo, tendo

sido uma excelente estratégia para o amadurecimento científico do pesquisador e

para a manutenção do rigor metodológico necessário quando da utilização da TFD.

Ficou, por assim dizer, o desejo de continuar em um outro momento, revelando e

refinando os fenômenos.

Continuar é a proposta, já que não pretendo dar um caráter definitivo aos

achados, entendo que futuras investigações poderão complementar e ampliar ainda

mais a percepção sobre as coisas. Desse modo, os conceitos suscitados pelo

estudo são passíveis de motivar o surgimento de outras inquietações levando os

enfermeiros a novas reflexões e a novas pesquisas, que partam do mesmo contexto,

ou ainda, considerando outras realidades.

Os enfermeiros mostraram-se bastante interessados pelo Modelo Teórico,

estimulando a minha reflexão sobre todas as fases da realização da pesquisa, desde

os dados brutos até o fenômeno central. Fiquei com a sensação tranqüilizadora que,

de fato, o modelo desenvolvido conseguiu explicitar o significado do enfrentamento

do conhecimento novo em setores especializados. Do mesmo modo, não poderia

deixar de relatar, que essa construção foi possível tendo em vista a utilização de

referencial teórico-metodológico harmônico à proposta do estudo.

Page 245: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

223

Percebendo que o fim

representa um novo começo

Page 246: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

224

CAPÍTULO X

TECENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Um conhecimento é verdadeiro na medida em que seu

conteúdo concorda com o objeto intencionado. Conseqüentemente, é um conceito relacional.(...) O próprio objeto, ao contrário, não pode ser nem verdadeiro nem falso. De certo modo, ele está para além da verdade e da inverdade (HESSEN, 2003, p.23).

O Modelo Teórico: VIVENDO O PROCESSO DE FORMAÇÃO NA

ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO ENFRENTAMENTO DO

NOVO representa a Teoria Substantiva que emergiu dos dados a partir da

experiência do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo no contexto da

especialidade.

Trata-se de uma organizada abstração fundamentada nos dados

composta de estruturas que descrevem, explicam e, pretendem predizer a realidade

estudada, a partir de conceitos específicos integrados dentro de uma configuração

relacionada a um todo, que projeta a visão do fenômeno de modo sistemático,

direcionado e estruturado.

O estudo alcançou os propósitos que deram razão à pesquisa,

considerando que pode através dos fenômenos apresentados, chegar ao alcance

dos objetivos traçados. Contudo, não tem intenção de se esgotar em si mesmo,

apenas tendo sentido apontar a Teoria, se a mesma puder ser utilizada em

pesquisas, possibilitando estudos variados, considerando a contribuição com o a

enfermagem.

A Teoria Fundamentada nos Dados e o Interacionismo Simbólico

mostraram-se adequados ao desenvolvimento do estudo, contribuindo para uma

nova forma de buscar a compreensão das coisas no mundo cotidiano, dando ênfase

Page 247: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

225

à experiência de cada pessoa, em respeito às particularidades e as singularidades

do ser humano. O enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo revela

significados que lhe são próprios. Esses significados são simbólicos, sendo a base

para o posicionamento frente situações cotidianas.

Junto aos dados emergiu um lado oculto que se revelou essencial e

interessante para o avanço de minhas percepções acerca do saber/ fazer em

enfermagem. De tal modo, pude constatar que o enfermeiro carrega consigo

expressões, atitudes, comportamentos, manifestações e sentimentos que permeiam

a sua experiência no enfrentamento do conhecimento novo, em setores

especializados.

Muitas foram os esforços pessoais para que a Abordagem Teórico-

Metodológica46 sublinhada no estudo fosse empregada com rigor científico

necessário na condução da pesquisa. Esses mesmos esforços me motivaram ainda

mais no aprofundamento dos dados, com respeito à experiência do enfermeiro. Pude

também refletir o quanto é importante à busca pelo amadurecimento científico, que

não pode ter uma expressão que denote a noção de terminalidade, sendo

necessário o exercício contínuo da humildade para que o espírito do pesquisador

esteja aberto e voltado efetivamente para aprender.

Percebo com os achados que a Tese pode ajudar na produção de

conhecimento do Núcleo de Pesquisa em Educação, Gerência e Exercício

Profissional da Enfermagem (NUPEGEPEn), e no fortalecimento da Linha de

Pesquisa Educação em Enfermagem, a partir da apresentação do Modelo Teórico e

Concepções Teóricas relacionadas. Isso, compatível com o desejo delineado

quando das possíveis contribuições da pesquisa.

46 Grifo da Autora.

Page 248: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

226

Assim, os dados apontaram para uma evidente importância no sentido de

uma filosofia de acolhimento que esteja atenta à inserção do enfermeiro sem

experiência na especialidade, oferecendo um sentido de orientação e apoio para o

desenvolvimento de sua prática, por conseguinte, encorajamento para o

enfrentamento de situações associadas aquilo que é novidade e precisa ser

apreendido.

Para tal, é imprescindível a valorização do enfermeiro que vive a

experiência do enfrentamento do conhecimento novo, no que se refere ao

planejamento em termos de contribuições e suportes necessários a prática na

especialidade. Esse precisa perceber quando de sua inserção uma atmosfera

adequada para o processo de apreensão de conhecimentos, sem que o peso da

inexperiência funcione como um fator limitante e intransponível.

Em outras palavras, o enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo

no contexto da especialidade precisa de acompanhamento de enfermeiros com

maior experiência para a implementação do processo assistencial, além de auxílio

para as situações em que se faz necessário à tomada de decisão.

Esse acompanhamento não pode ter um cunho coercitivo e fiscalizatório,

ou ainda, o impacto de relações marcadas pelo poder e pelo exercício da

autoridade, porém deve anunciar uma preocupação veemente de todos os

envolvidos na especialidade com a aprendizagem do enfermeiro iniciante. E isso,

precisa estar no âmbito das discussões gerenciais das instituições de saúde, quando

da inserção de enfermeiros em especialidades, com destaque a consciência da

problemática que envolve o fenômeno.

Não poderia deixar de mencionar, que é preciso respeitar as

individualidades do enfermeiro, considerando que a pessoa que deseja e quer

Page 249: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

227

produz mecanismos de enfrentamento que são motivadores para a superação das

dificuldades relacionadas ao novo, enquanto que a não observância do não querer

iniciar ou continuar na especialidade, poderá comprometer o desenvolvimento da

aprendizagem, além de gerar sentimentos incompatíveis com o processo de

formação.

É preciso compreender a necessidade da pessoa certa no lugar certo.

Para efeito de reafirmar a interpretação das coisas, a pessoa certa é aquela que

mostra interesse na apreensão de conhecimentos na especialidade, já que o

processo de formação na especialidade exige o comprometimento do enfermeiro

com a sua própria aprendizagem, estando o profissional frente ao desafio de

priorizar o seu crescimento profissional, podendo incluir o pessoal.

O alicerce a apreensão do conhecimento tem base na confiança mútua

que permeia a experiência de quem aprende e daquele que se propõe a ensinar.

Alguns aspectos aparecem como importantes, como a flexibilidade, a integração e a

convergência em termos de objetivos em prol de uma prática voltada para o bem

comum.

Desse modo, é fundamental o estabelecimento de parcerias, ampliando os

relacionamentos horizontais e não verticais, no sentido da interação, com definição

clara de papéis de cada profissional na especialidade, já que cada papel poderá

trazer uma contribuição diferente e significativa para a obtenção de resultados, em

que pese à apreensão do conhecimento, possibilitando uma interpretação mais

abrangente do mundo social no contexto da especialidade.

Não se pode esquecer que o enfrentamento do conhecimento novo gera

muitas inquietações, com ênfase para o afloramento de muitos sentimentos e, até

mesmo, a vivência de um momento de conflito. Essa situação pode ter um caráter

Page 250: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

228

construtivo, ou ainda, provocar paralisação, fechamento ou desenvolvimento de

muitas defesas aquilo considerado novo. Também, a aparente ausência de

ansiedade frente à situação nova pode estar revelando desinteresse ou mascarando

um enorme e incontrolável medo que ainda não encontrou forma de expressão.

Cabe resgatar que o ambiente de trabalho é composto não só da sua

infra-estrutura física e técnica, mas por pessoas que o utilizam. Emerge como

demanda importante para apreensão do enfermeiro na especialidade: conhecer o

espaço físico, conhecer os equipamentos, conhecer a equipe multiprofissional e

conhecer a clientela. A organização do trabalho precisa ser entendida, antes de

qualquer coisa, como uma relação socialmente construída e não somente em sua

dimensão estritamente tecnológica, cognitiva ou física.

O contexto possui uma parcela significativa no sucesso das pessoas, em

se tratando da definição das políticas de recursos humanos, daquilo que pode ou

não ser realizado, da promoção de condições físicas satisfatórias e, não obstante a

tudo isso, pelo estímulo freqüente à integração dos profissionais e equipes, pela

clareza nas metas e objetivos e pela transparência incondicional no que se refere às

comunicações e tomadas de decisões.

A aprendizagem na prática é dotada de peculiar complexidade,

abrangendo múltiplos aspectos da realidade, sendo necessário uma visão ampliada

sobre as coisas, em que pese à busca pelo equilíbrio emocional e a valorização da

convivência humana, partindo da premissa que o conhecimento é construído e

reconstruído coletivamente. As pessoas fazem grande diferença, considerando que

podem contribuir ou não para um ambiente saudável, já que as suas atitudes são

importantes e vitais no ambiente institucional.

Page 251: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

229

O enfermeiro iniciante precisa sentir-se valorizado e respeitado no

desenvolvimento de todos os processos associados à apreensão de conhecimentos

novos, inclusive, e não obstante, o processo de trabalho em si. É através da

interação que o enfermeiro participa do mundo social na especialidade. Nesse

sentido, os saberes são construídos a partir das experiências de vida de cada

pessoa, com ênfase a atuação em um contexto social, a partir dos desafios

apresentados no dia-a-dia.

Logo, o espaço de convivência na especialidade visando à apreensão de

conhecimentos novos precisa ser um ambiente voltado para o desenvolvimento do

trabalho digno, de qualidade, de ações e discursos compatíveis com a proposta da

profissão de enfermagem, com ênfase ao exercício profissional do enfermeiro,

atuando com arte, conciliando a dimensão teórica a dimensão prática, e

especialmente, como não poderia deixar de ser, a dimensão humana.

Os dados revelaram que à medida que o trabalho na especialidade vai

sendo desenvolvido, o enfermeiro tenta repensar os seus conceitos, as suas

atitudes, os seus comportamentos e as suas práticas, agora não mais como detentor

do conhecimento, mas em uma quase que forçada situação de aprendiz.

Passa a ter que viver uma situação de repetição do passado,

considerando o seu momento de vida enquanto recém-formado, o qual imaginava

não mais retornar, mesmo, que se percebendo diferente do recém-formado, ou seja,

com uma bagagem adquirida ao longo da sua trajetória profissional, portanto, mais

fortalecido do que quando naquela fase.

Emerge após o choque a possibilidade de adaptação, em uma construção

diária do conhecimento, na tentativa de projetar-se para a ampliação do saber/ fazer

Page 252: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

230

na especialidade, adequando-se a realidade sem perder a identidade profissional.

Contudo, é necessária a reflexão de que a prática assistencial apresenta situações

ricas para a aprendizagem que não podem ser compreendidas em sua totalidade, de

uma maneira absoluta.

Os enfermeiros no enfrentamento do conhecimento novo desenvolvem

estratégias de enfrentamento, que inclui: perguntar a quem sabe, colar de quem

sabe, buscar leituras, mobilizar recursos teóricos e práticos de vivências anteriores,

dentre muitos outros aspectos apontados pelo fenômeno. De fato, o enfermeiro

percebe a necessidade de sair do estado de perplexidade e passar a existir para

uma atuação sóbria na especialidade.

Com o passar do tempo e, a gradativa apreensão de conhecimentos, o

enfermeiro tende a sentir-se menos exposto, desenvolvendo de forma mais segura

as atividades propostas, a partir de uma prática cotidiana mais assimilável,

reconhecendo elementos específicos da especialidade.

Por conseguinte, tem-se que o enfermeiro pensa a sua relação com a

especialidade, produzindo variadas interpretações de sua condição de aprendiz,

socializando simbolicamente em atos intersubjetivos, reagindo e organizando-se

mentalmente, afetiva e fisicamente, em função de suas interpretações.

A experiência do enfermeiro revelou que a convivência na especialidade

pode ser totalmente infrutífera para o conhecimento, sendo marcada pela crise

interior, com a não projeção do enfermeiro na especialidade, a insatisfação no

trabalho, podendo até chegar a um estado de depressão. Dessa maneira, o

enfermeiro vive o desejo de sair da especialidade, na tentativa de desenvolver-se

melhor considerando outras oportunidades.

Page 253: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

231

Em contrapartida, a experiência do enfermeiro também elucidou que o

enfermeiro pode experimentar uma agradável sensação de bem-estar na

especialidade, vislumbrando projeção profissional na área, no sentido da

preocupação com as atividades de aprimoramento, em alguns casos até buscando a

especialização formal. Portanto, nesse contexto de enfrentamento o enfermeiro

percebe sentimentos compatíveis com o estado de felicidade no trabalho e,

conseqüentemente, almeja continuar e crescer na especialidade.

Em função dos achados da pesquisa, é importante enfocar, que a atuação

na especialidade exige conhecimento teórico e prático específico, que exige o

processo de formação a partir do enfrentamento do conhecimento novo. Então,

tendo como base à formação no espaço cotidiano da especialidade, o saber do

enfermeiro não pode ser considerado acabado e pronto. É um movimento diário de

apreensão, que amplia cada vez mais, a capacidade interpretativa das situações e,

realimenta o ponto de partida para novas inquietações.

O conhecer não tem caráter finito, é importante manter uma contínua

busca pelo amadurecimento profissional, através de uma postura compromissada

em fazer o melhor no espaço de atuação da especialidade, que amplio para o

compromisso com a própria profissão de enfermagem. Portanto, o enfermeiro

precisa empregar uma atitude de contínuo estudo, que inclui desde a leitura

aprofundada sobre as coisas e, com especial destaque, a troca de experiência

possível durante a prática profissional.

O tempo mostrou-se importante para o processo de formação, à medida

que funciona como mola propulsora, já que o enfermeiro na especialidade precisa

aprender o quanto antes para dar conta do seu próprio trabalho. Com o passar do

tempo, vai ocorrendo à apreensão de conhecimentos específicos, permitindo ao

Page 254: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

232

enfermeiro maior segurança para a realização do cuidado, com isso, o mesmo vai

gradativamente abandonando o medo e a ansiedade.

De tal modo, é vital na inserção do enfermeiro sem experiência na

especialidade um planejamento acerca do tempo necessário para uma vivência

menos conflituosa das situações relacionadas à prática assistencial. Não poderia

deixar de mencionar, a singular importância que a gestão tem acerca desse

planejamento, pois pode elaborar junto à equipe da especialidade um conjunto de

ações voltadas para o amparo e apoio do enfermeiro iniciante, abarcando inclusive a

questão do tempo. Esse planejamento constitui também estratégias de

enfrentamento, partindo de um esforço da coletividade.

Outro ponto que preciso retomar, em respeito aos dados levantados,

refere-se ao fato que não adianta insistir na manutenção de pessoas na

especialidade que não estejam abertas para o aprender nesse contexto, pois isso

traz repercussões negativas não somente para o enfermeiro quanto para toda a

equipe, considerando o sofrimento diário que é trabalhar naquilo que não se gosta,

ou ainda, não se tem afinidades necessárias a uma prática assistencial, que acima

de tudo, precisa estar carregada de motivação pessoal.

A especialidade exige o uso de diferentes aptidões, habilidades e talento.

A pessoa precisa se identificar com o trabalho. Quanto maior o significado da

atuação profissional, maior será a satisfação experimentada pelo indivíduo e,

conseqüentemente, maior a possibilidade de ampliação da interdependência. Muitos

são os requisitos necessários para a atuação na especialidade, envolvendo

aspectos, como: mentais, físicos, responsabilidades da função, condições de

trabalho, dentre outros aspectos.

Page 255: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

233

Desse modo, cabe a reflexão acerca do perfil profissional compatível com

o papel a ser desenvolvido na especialidade, no que tange as características

necessárias ao desempenho da função. Para tal, será necessário reconhecer

indicadores imprescindíveis ao saber/ fazer na especialidade.

Em continuidade, algumas características também foram suscitadas pelos

dados como importantes no enfrentamento do conhecimento novo, em destaque:

saber trabalhar em equipe, ter postura para liderança, resistir à frustração, ter

disposição para a comunicação, ter capacidade de contextualização e integração de

informações pertinentes, ser ético em suas atitudes, ser colaborativo, aceitar

desafios, ser criativo, buscar a automotivação, preocupar-se com o relacionamento

interpessoal, integrar conhecimento teórico e prático, ter pensamento crítico e

flexibilizar ações e conhecimentos mediante as situações da realidade, com objetivo

de prestar cuidado seguro.

De fato, o ser humano pode desenvolver-se, como salientado

graficamente através do Modelo Teórico, partindo da idéia expressa através da

helicoidal. O desenvolvimento sendo compreendido como capacidade de apreender

novas habilidades e novos conhecimentos, modificando comportamentos. Assim, o

incremento de ações no sentido de motivar o desenvolvimento traz benefícios para

toda a instituição.

Apesar do desenvolvimento estar diretamente ligado a pessoa e, na

organização que o mesmo se dá de forma mais abrangente. É preciso uma visão

focada no crescimento da pessoa na especialidade, fornecendo meios que

promovam o aprendizado. Com isso, a mudança de comportamento decorrente da

apreensão desses novos conhecimentos, em que pese conceitos e formas de

perceber a realidade.

Page 256: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

234

Transpondo essas idéias em termos de contribuições da Tese, é

interessante que o enfermeiro sem experiência prévia quando inserido em uma

especialidade seja cuidadosamente acompanhado, no que se refere a um conjunto

de atitudes em prol de uma vivência solidária ao enfrentamento do conhecimento

novo. Penso que, a gestão institucional tem responsabilidade direta pela elaboração

e execução desse acompanhamento, que precisa acontecer com respeito ao sujeito

que aprende, em consonância com as necessidades da própria especialidade.

Vários aspectos precisam compor as discussões iniciais para a inserção

do enfermeiro sem experiência na especialidade, salientando o fato do processo de

formação ocorrer para o sujeito da aprendizagem, não obstante a tudo isso, é

preciso afinar às escutas as inquietações do enfermeiro iniciante, tendo como

preocupação o planejamento de ações que sejam facilitadoras desse processo.

É conveniente retomar que, o planejamento deve abarcar as necessidades

psicológicas, teóricas e práticas do enfermeiro. Portanto, as estratégias voltadas

para a melhor vivência do processo de formação podem incluir: a preocupação com

o acolhimento empático, a realização de dinâmicas para interação com a equipe, a

promoção de discussões teóricas e de demonstrações práticas.

Não poderia deixar de pontuar que em face às ações do cotidiano, no

fazer na especialidade, é importante que o enfermeiro iniciante sinta abertura e

espaço para expressar as suas reais dificuldades. Aliás, no sentido de estabelecer

um sistema de apoio, no desenvolvimento das atividades diárias, o enfermeiro

iniciante precisa ter o acompanhamento de enfermeiros mais experientes, até que

atinja o amadurecimento profissional necessário para uma prática segura na

especialidade.

Page 257: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

235

Diante dessas reflexões, compreender o Modelo Teórico VIVENDO O

PROCESSO DE FORMAÇÃO NA ESPECIALIDADE A PARTIR DA EXPERIÊNCIA

DO ENFRENTAMENTO DO NOVO implica em aceitar o trabalho como um espaço

de formação profissional capaz de construir conhecimento, esquemas de

mobilização dos conhecimentos e mecanismos de ação, em face ao significado

individual e coletivo da atuação de enfermagem na especialidade.

O enfermeiro é a pessoa essencial ao processo, já que o seu

enfrentamento fará total diferença para a apreensão dos conhecimentos novos e o

curso do fenômeno na especialidade. Esse enfrentamento não pode ser comparado

ou analisado a partir de uma perspectiva reducionista. De fato, pressupõe uma

compreensão que respeite as suas individualidades, singularidades e complexidade.

Assim, o estudo enfatiza a compreensão de que o processo de formação é

muito mais amplo do que qualquer formalização da educação. Cabe agora pensar a

formação, a partir de todas as concepções apresentadas nesse estudo, como uma

eterna busca por conhecimentos, na tentativa de sobrevivência as diferentes

situações vividas no mundo e, não obstante a tudo isso, aquelas vividas entorno e

no âmago do próprio eu.

Assim, permito-me deixar no estudo, dentre muitos outros aspectos, a

seguinte reflexão47:

Segue a vida.

No fluxo dos acontecimentos.

Histórias se vão e outras se iniciam.

Algumas coisas aparentemente intangíveis mostram-se tão perto.

Outras, que até são familiares, causam grande estranhamento.

O eu desconhecido busca o seu próprio entendimento. 47 Trata-se de reflexão da própria autora do estudo.

Page 258: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

236

O mundo preocupado em tornar-se ainda mais poderoso explode em

individualidades vazias.

O tempo urge.

As coisas estão permeadas por um intensa e agressiva competição.

As pessoas possuem uma chance.

A chance de se sensibilizarem com o conhecimento.

Conhecimento que é infinito.

Assim, nada está terminado.

Tudo contínua em processo de formação.

Tudo está em movimento.

O enfermeiro, o leitor, a orientadora e eu...

Page 259: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

237

REFERÊNCIAS

ALCANTARA, Leila Milman. A enfermagem militar operativa gerenciando o cuidado em situações de guerra. 2005, 288f. Tese (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. ALMEIDA, M.C.P; ROCHA, J.S.Y. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez, 1989. 126p. ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. AMÂNCIO FILHO, Antenor (Org). Saúde, trabalho e formação profissional. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1997. 125 p. ANDRADE, Lúcia de Fátima Silva de. A complexidade do cuidado de enfermagem no CETIP/HSE e a necessidade da formação especializada das enfermeiras. 1999, 150f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. ______ . A marca da complexidade e da (im) previsibilidade no dia-a-dia das enfermeiras que atuam na terapia intensiva pediátrica: um ensaio sobre a sua formação. 2002, 123f. Tese (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 174p.

ANGELO, M. Vivendo uma prova de fogo: as experiências iniciais da aluna de enfermagem. 1989. 133f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1989. ANGELO, M. Com a família em tempos difíceis: uma perspectiva de enfermagem. 1997. Tese (Livre Docência) - Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

Page 260: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

238

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo. 2. ed., 2000. 258p.

ARROYO, Miguel. O direito do trabalhador à educação. In: GOMES, Carlos Minayo et al. Trabalho e conhecimento: dilemas na educação do trabalhador. São Paulo: Cortez, 1995.

ASSAD, Luciana Guimarães. O Hospital Universitário Pedro Ernesto: cenário de aprendizagem para o enfermeiro na prática assistencial. 2003, 163f. Tese (Doutorado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

BARRETO, José Anchieta Esmeraldo. A decisão de saturno: filosofia, teorias de enfermagem e cuidado humano. Fortaleza: Casa de José de Alencar: 2000. 240p.

______ . A outra margem: filosofia, teorias de enfermagem e cuidado humano. Fortaleza: Casa de José de Alencar: 2001. 240p.

BAUER, M. W. et al. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. 516 p.

BAZILLI, Chirley et al. Interacionismo simbólico e a teoria dos papéis: uma aproximação para a psicologia social. São Paulo: EDUC, 1998. 230p

BENNER, P. From novice to expert: excellent and power in clinical nursing practice. California: Addison Wesley, 1984. 307 p.

BETTINELLI, Luiz Antônio. A solidariedade no cuidado: dimensão e sentido da vida. Florianópolis: UFSC, 2002. 200p.

BLUMER, H. Symbolic interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs, NJ, Prentice-Hall, 1969, 208p. BORK, Anna Margherita Toldi. Enfermagem de excelência: da visão à ação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. 201p.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução No. 3, de 7 de novembro de 2001. Diretrizes curriculares do curso de graduação em enfermagem.

Page 261: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

239

CARVALHO, V. Sobre construtos epistemológicos nas ciências: uma contribuição para a enfermagem. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.11, n.4, p.420-8, jul./ago. 2003. CARVALHO, Vilma de. Questões epistemológicas da construção do conhecimento na enfermagem: do ensino à prática de cuidar. Revista da Escola de Enfermagem Anna Nery, v.7, n.2, p. 156-166, ago. 2003. CASSIANI, S. de B.; CALIRI, M. H. L.; PELÁ, N.T.R. A teoria fundamentada nos dados como abordagem da pesquisa interpretativa. Rev. Latino-am. Enfermagem, v.4, n.3, p.75-88, dezembro, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002. 440p.

CHARON, J. M. Symbolic Interactionism: an introduction, an interpretation, an integration. 3.ed. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1989. CHENITZ, W. C. From practice to grounded theory: qualitative research in nursing. California: 1986. 249p.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN Nº 290 de 24 março de 2004. Fixa as especialidades de enfermagem. Resoluções do Conselho Federal de Enfermagem.

COULON, Alain. A escola de Chicago. Campinas: Papirus, 1995. 133p.

DANTAS, Claudia de Carvalho. A enfermeira gerenciando o cuidado de cliente com HIV/ AIDS: o não dito pelo feito visando um cuidado igualitário independente da patologia. 2005, 253f. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. DELORS, Jacques et. Al. Educação um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez, Brasília: MEC, UNESCO, 1999. DELUIZ, Neize. Formação do trabalhador: produtividade & cidadania. Rio de Janeiro: Shape, 1995. 212p.

DEMO, Pedro. Conhecer & aprender: sabedoria dos limites e desafios. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 152 p. ______. Pesquisa e informação qualitativa. Campinas: Papirus, 2001.

Page 262: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

240

______. Complexidade e aprendizagem: a dinâmica não-linear do conhecimento. São Paulo: Atlas, 2002. EINSTEIN, A. & INFELD, L. The evolution of physics: from early concepts to relativity and quanta. New York, Simon & Shuster. GARCIA, A. M. A experiência do conhecimento. Disponível: www.sapereaudare.hpg.ig.com.br/ciencia/texto13.html. Acesso em: 22 jun. 2005. GAUTHIER, Jacques Henri Maurice.; CABRAL, Ivone Evangelista.; SANTOS, Iraci dos; TAVARES, Mara de Melo. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias aplicadas. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1998. 296 p.

GLASER, B. G.; STRAUSS, A. L. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. New York: Aldine Publishing, 1967.

HAGUETTE, Teresa Maria Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1999. HESSEN, Joannes. Teoria do conhecimento. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 177p. IANNI, Octávio. A era do globalismo. 3. ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. 303p. JAPIASSÚ, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. 7ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. 296p. KONDER, Leandro. O que é dialética. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. 87p.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. LACERDA, M. R. Tornando-se profissional no contexto domiciliar: vivência do cuidado da enfermeira. 2000. 222f. Tese de (Doutorado em Enfermagem) – Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2000. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1992. 214p.

Page 263: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

241

LIMA, Maria José de. O que é enfermagem. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 103p.

MACHADO, Maria Helena. Perfil dos médicos no Brasil: análise preliminar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1996. MATHEUS, M. C. C. A obstinação como mediadora entre a idealização e a concretude do cuidado instituído: a experiência da enfermeira recém-formada. São Paulo: 2002. Tese (Doutorado em enfermagem), Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. MAZZOTTI, A. J. A; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo : Pioneira, 1998.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 323p.

MEAD, G. H. Mind, self, and society. Chicago: University of Chicago Press, 1962. 401p. MELO, Cristina. Divisão social do trabalho e enfermagem. São Paulo: Cortez, 1989. 88p. MENGA, Lüdke; MARLI, E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. 99p. MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 2. ed. São Paulo - Rio de Janeiro: Hucitec - Abraseo, 1993.

______ . Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, Rio de Janeiro, Vozes, 1994. 80p.

NÓBREGA, Maria Miriam Lima da; SANTOS, Sérgio Ribeiro dos. A grounded theory como alternativa metodológica para a pesquisa na enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v.55, n.5, p.575-579, set. out, 2002.

PERRENOUD, P; et. al. Formando professores profissionais. Quais estratégias? Quais competências? 2.ed. Porto Alegre: Artmed editora, 2001. 224 p.

PIRES, Denise. Reestruturação produtiva e trabalho em saúde no Brasil. São Paulo: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CUT/Annablume, 1998.

Page 264: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

242

POLANYI, Michael. Personal knowledge. Towards a post-critical philosophy. N.Y: Harper Torch Books, 1958.

POLANYI. M. The tacit dimension. Londres: Routledgs & Kegan Paul, 1966.

POLIT, D. F; BECK, C. T; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

RICHARDSON, Roberto Jarry et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. 334p.

REINERS, A. A. O. Grounded Theory: opção metodológica para a enfermagem. Rev. Enf. UERJ, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 370-376, dez., 1998.

RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa. Petrópolis: Vozes, 1986. 144p.

SANTO, Fátima Helena do Espírito. Saberes e fazeres de enfermeiras (os) novatas (os) e veteranas (os) sobre o cuidado de enfermagem no cenário hospitalar. 2003, 314f. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

SANTOS, S. dos; NÓBREGA, M.M.L. da. A grounded theory como alternativa metodológica para a pesquisa em enfermagem. Rev. Bras. Enferm. Brasília, v.55, n.5, p.575-579, set./out. 2002

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo: Cortez, 2002. 335p.

SILVA, B. Dicionário de ciências sociais. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1987.

SILVA, G. B. Enfermagem profissional: análise crítica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989. 136p. STRAUSS, Anselm. Basics of qualitative research: grounded theory produceres and techniques. United States of América, 1990. STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of qualitative research: grounded theory procedures and techniques. California: Sage Publications, 1991.

Page 265: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

243

TRENTINI, M. Relação entre teoria, pesquisa e prática. Revista Escola de Enfermagem da Universidade São Paulo, São Paulo, v.21, n.2, p.135-143, ago. 1987. TREZZA, Maria Cristina Soares Figueiredo. Construindo através do câncer as possibilidades de sua libertação para outra forma de viver: uma contribuição de enfermagem. Rio de Janeiro, 2002. Tese de (Doutorado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2002.

TRIVINÕS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. 174p.

TURATO, Egberto Ribeiro. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemiológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 685p.

VALADARES, Glaucia Valente. O trabalho da enfermeira em hemoterapia: uma prática especialista. Rio de Janeiro, 2001, 228. Dissertação de (Mestrado em Enfermagem), Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001. VARGENS, O. M. C. Tentando descobrir um modo de fazer enfermagem sem ser enfermeiro: os conflitos do estudante na construção da imagem da profissão. Rio de Janeiro: Ed. do Autor, 1997. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1997. 90p.

VIANA, Ligia de Oliveira. A formação do enfermeiro no Brasil e as especialidades: 1920-1970. Rio de Janeiro, 1995, 168p. Tese de (Doutorado apresentada a Escola de Enfermagem Anna Nery).

Page 266: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

244

APÊNDICE I

ROTEIRO DE ENTREVISTA48

1. Quem é você?

2. Gostaria de acrescentar alguma coisa em termos de experiência pessoal?

3. Fale-me sobre a sua história profissional.

4. Vamos conversar sobre você e as suas experiências? Conte-me como foi

começar a trabalhar neste setor. (Pergunta Geradora).

48 Na Grouded Theory as perguntas podem ser aprofundadas durante a entrevista, para a melhor coleta de dados possível (roteiro semi-estruturado). Além disso, esse roteiro foi elaborado, em busca de uma interação significativa, com máxima preocupação, em não deixar o participante em uma situação de pessoa argüida, sobre alguma coisa.

Page 267: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

245

APÊNDICE II

ROTEIRO DE VALIDAÇÃO49

1- Como percebe os fenômenos apresentados (pergunta geradora)?

2- Teria algo para afirmar, negar, ou ainda, complementar?

3- Na sua opinião, o estudo apresenta contribuições para aplicação na

realidade? Quais?

4- Gostaria de acrescentar algum comentário?

49 Durante esse processo os enfermeiros recebiam os diagramas dos fenômenos para acompanhar a explicação dos resultados.

Page 268: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

246

APÊNDICE III

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado Participante

Trata-se este de Tese de Doutorado para o Curso de Pós-Graduação da

Escola de Enfermagem Anna Nery. Tem como o objeto de investigação: A formação

profissional do enfermeiro no enfrentamento do conhecimento novo: a experiência

dos enfermeiros em setores especializados.

Procurei definir o objetivo geral do estudo: Compreender a partir do mundo

experiencial, como interage o enfermeiro e o conhecimento novo, em setores

especializados. Para alcançar este objetivo, foram estabelecidos os seguintes

objetivos específicos: Identificar expressões, atitudes, comportamentos,

manifestações e sentimentos que permeiam a experiência do enfermeiro nessa

situação; Conhecer os elementos significativos apreendidos na experiência do

enfrentamento do conhecimento novo; Propor uma teoria explicativa substantiva

relacionando a formação profissional do enfermeiro com o enfrentamento do

conhecimento novo em setores especializados.

Para viabilizar a pesquisa, foi escolhida como abordagem metodológica, a

teoria fundamentada em dados. Optou-se, como instrumento de coleta de dados, a

entrevista em profundidade. As informações obtidas serão gravadas e a seguir

transcritas na íntegra.

É importante que, ao participar, você saiba que nos comprometemos

atender a Resolução 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos no que se

refere:

Page 269: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

247

n Garantir sigilo que assegure a privacidade dos participantes quanto aos

dados confidenciais envolvidos na pesquisa.

n Zelar pela integridade e o bem-estar dos participantes da pesquisa.

n Respeitar os valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem

como os hábitos e costumes dos participantes.

n Assegurar ao participante da pesquisa os benefícios resultantes do

estudo, em termos de retorno social, ou ainda, acesso aos procedimentos,

condições de acompanhamento e produção de dados.

n Dar liberdade ao participante de se recusar a participar ou retirar seu

consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem

prejuízo. Além disso, é importante destacar que, esse consentimento autoriza, os

pesquisadores no que se refere à divulgação dos resultados parciais e/ou totais do

estudo em eventos científicos.

Atenciosamente,

________________________________________

Pesquisador

_________________________________________

Orientador

_________________________________________

Participante da Pesquisa

Rio de Janeiro, _______de ___________ de 200___.

Page 270: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

248

APÊNDICE IV

FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO.

QUADRO 13. CATEGORIA: DESCOBRINDO A ESPECIALIDADE: O CONTATO

INICIAL.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Não tendo oportunidade anterior de trabalhar nessa área; -Tendo a oportunidade de conhecer algo novo; -Não estando ali para atrapalhar; -Achando que as coisas acontecem no seu tempo; -Sendo o novo o que eu quero naquele momento; -Sendo inserida sem experiência prévia; -Entrando em uma circunstância nova; -Sendo o novo muito complicado; -Nunca tendo se interessado antes por esta área; -Tentando enfrentar os desafios; -Sendo muito difícil começar; -Não estando acostumado com a especialidade; -Tratando-se de um trabalho que exige muito; -Sendo uma experiência, no início, difícil; -Buscando outra área de conhecimento; -Percebendo que viverá uma nova situação na vida; -Sendo inserido, quando da chegada no hospital em uma área especializada; -Pensando que viver um momento novo, será interessante para esse momento; -Chegando na especialidade para trabalhar; -Aproximando-se de algo novo considerando minha trajetória profissional.

-Sendo uma experiência, no início, difícil; -Buscando outra área de conhecimento; -Começando algo novo devido à necessidade do hospital; -Existindo um período de adaptação; -Não tendo nenhuma identificação com a clientela; -Pensando que a vida é como um baú, que você vai colocando todas as vivências e experiências; -Sendo a assistência muito complexa; -Sendo um momento de grande dificuldade e aprendizado; -Esperando que venha a aceitação, apesar da inexperiência; -Vendo que é importante para o hospital pensar na inserção de enfermeiros no setor; -Enfrentando o desafio; -Caindo na especialidade e se encontrando em dificuldade; -Saindo de uma coisa muito geral para uma coisa muito específica; -Indo ao encontro de novas experiências a partir da inserção em um local totalmente desconhecido. -Começando na especialidade repleta de inquietações acerca do novo; -Indo para o trabalho na especialidade; -Querendo começar a trabalhar na especialidade.

Iniciando o trabalho na especialidade

Page 271: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

249

-Não tendo medo ou pavor; -Não tendo temor para prosseguir; -Não deixando o medo obstruir o caminho; -Sendo no primeiro momento terrível e frustrante; -Tendo sido marcada pelo sentimento de impotência; -Achando que tudo que é novo gera um certo nervosismo, uma certa ansiedade; -Agradando o novo naquele momento; -Estando aberta aos desafios; -Sendo bastante tolerante; -Achando que o enfrentamento do novo tem ligação com características pessoais; -Entrando com a cara e com a coragem; -Não estando preparado para aquilo; -Sentindo-se agredida por fazer aquilo que não quer; -Não gostando da especialidade, mas amando a enfermagem; -Sendo corajosa diante do novo; -Sendo sensível à situação; -Sentindo-se insegura; -Sentido primeiro otimismo, e depois, motivação; -Sentindo que vai se dar bem; -Percebendo uma série de inquietações relacionadas à nova experiência; -Tendo medo de sentir-se impotente quando da chegada a especialidade; -Conversando sobre sentimentos de impotência com meus amigos; -Tendo muitos sentimentos juntos; -Não conseguindo compreender direito as emoções; -Sendo muitas as emoções presentes na situação de vivenciar o novo; -Tendo medo de encarar a nova situação; -Sentindo uma grande ansiedade relacionada a querer conhecer a especialidade; -Percebendo que o novo exacerbou muitos sentimentos; -Sentindo-se muito contente por se colocada em lugar especializado; -Sentindo-se bastante feliz por estar nesse novo;

-Não sendo pessimista; -Sentindo o peso de ter que aprender alguma coisa que não quer; -Não tendo medo de fazer as coisas; -Pensando que vai ser legal; -Não se sentindo atemorizado com o novo; -Sentindo o novo como desafiador, inquiridor, como algo instigante, com um certo fascínio; -Chegando em casa chorando; -Não sentindo o novo como ameaçador; -Sendo horrível, horrível e horrível; -Ficando insegura e com muito medo de enfrentar; -Percebendo-se mal humorado; -Sentindo muita tristeza por não estar na área de escolha; -Tendo dificuldade de aceitação da situação instalada; -Sentindo-se incomodado; -Sentindo-se aberto para aprender coisas novas; -Dando medo a vivência aqui; -Indo com o sofrimento dos outros para casa. -Utilizando o medo para avançar e conhecer as coisas da especialidade; -Tendo que dominar a ansiedade para chegar e atuar na especialidade; - Percebendo a importância de todos para ultrapassar e vencer o medo relacionado ao novo; -Achando que o otimismo poderá ajudar na vivência do novo; -Tendo que ser corajosa para começar e atuar na especialidade, mesmo sem saber direito fazer as coisas; -Tendo uma percepção de que vai dar certo, a inserção no setor especializado; -Não agradando o novo; -Sentindo um medo danado; -Tendo medo de não se adaptar a situação nova; -Tendo medo de não corresponder às expectativas das pessoas;

Percebendo sentimentos

Page 272: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

250

-Tendo que aprender uma coisa que eu não desejava; -Ficando em um conflito infeliz; -Não sabendo o que fazer; -Indo para o trabalho pensando no que fazer; -Dizendo a todos o seu problema; -Pensando que o sofrimento é válido para aprender coisas novas; -Pensando que o novo pode ser ou não o melhor; -Podendo ser o novo melhor ou não; -Sendo as mudanças para melhor ou não; -Vivendo situações completamente diferentes; -Sendo o cuidado muito diferente; -Precisando aprender o que não sabe, sem querer; -Sabendo o quanto não gosto disso, e tentando amenizar o meu sofrimento; -Alugando os ouvidos dos amigos; -Comendo chocolate para melhorar meu nível de serotonina, porque estava muito triste; -Engordando cinco quilos de ansiedade; -Parando e pensando: o que está acontecendo? -Tendo que falar com os amigos sobre esse momento de dificuldade; -Pensando muito sobre as coisas nesse momento de chegada no hospital; -Sendo um momento bastante difícil e conflituoso: a entrada e início de atividades nesse hospital; -Tendo dúvidas se esse setor realmente será o melhor para mim aqui; -Pensando até que ponto é bom eu ir para lá; -Ficando na dúvida entre trabalhar naquilo que conhece e o novo; -Tendo aflições por não conhecer a especialidade a qual fui inserida; -Ficando em dúvida se deveria reclamar por não estar em minha área de atuação;

-Sabendo que precisa atender às expectativas, mas não conseguindo dar o ponta pé inicial; -Tentando estudar, mas não conseguindo; -Piorando a crise pessoal com a entrada na especialidade; -Indagando se é necessário passar por isso; -Pensando o que faria naquele setor; -Achando que não deveria ter saído do outro emprego, mesmo sendo este, nesta unidade, um emprego público com remuneração maior; -Achando que não vai agüentar a pressão de ter que aprender sem vontade nenhuma; -Vivendo um estado de aflição, entre o que queria, e onde foi inserida; -Tendo dúvida se consegue se adaptar; -Não sabendo se vai ou não à Chefia reclamar da situação; -Tendo dúvida se não é melhor ficar e tentar gostar; -Vindo e reforçando a crise pessoal; -Conversando, conversando e conversando; -Tendo dúvidas sobre até que ponto o novo trará benefícios para a carreira profissional; -Gerando um conflito interno cuidar desse tipo de clientela; -Achando difícil decidir se esse local vai ser bom para a minha vida profissional, além da minha vida pessoal; -Chegando em casa cansada de tanto pensar na situação no hospital; -Tendo dúvidas se o novo vai ser legal; -Sentindo muitas inquietações, considerando tantas novidades que será preciso aprender; -Vivendo um conflito relacionado a não saber se deveria ir para o lugar onde tinha experiência; -Tendo muitos conflitos relacionados à chegada do novo.

Vivendo um momento de

conflito

Page 273: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

251

APÊNDICE V

FENÔMENO: VIVENDO O CHOQUE DA REALIDADE: O ENFRENTAMENTO DO

CONHECIMENTO NOVO.

QUADRO 14. CATEGORIA: RELACIONANDO O ENFRENTAMENTO DO NOVO

COM ACOLHIMENTO.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Tendo sorte de cair em uma equipe esplêndida; -Trabalhando de forma unida; -Tendo uma boa relação com a equipe; -Participando de dinâmica com a Chefia quando da apresentação do grupo; -Tendo sorte de ter uma boa equipe; -Achando que o enfrentamento do novo tem relação com a recepção no setor; -Sendo a recepção melhor, mais fácil o enfrentamento; -Quando o ambiente ajuda, fica mais fácil; -Tendo sorte de ter uma boa equipe;

-Tendo espaço para conversar com a Chefia; -Recebendo ajuda da equipe de enfermagem; -Tendo ajuda até dos auxiliares; -Recebendo suporte da equipe. -Participando de dinâmica com a Chefia, quando da apresentação do grupo; -Tendo sorte de ter uma boa equipe; -Tendo uma equipe que me deu sorte; -Sendo a interação enfermagem e equipe médica favorável; -Participando de dinâmica com a Chefia quando da apresentação do grupo;

Sendo o acolhimento

favorável

-Ganhando forças com a ajuda da equipe; -Sendo incentivado a ficar; -Dando bom ânimo; -Pensando que vai conseguir enfrentar; -Sendo ajudado por todos; -Começando a querer ficar; -Decidindo-se dar uma oportunidade; -Querendo apostar; -Tentando um acalmar o outro; -Mobilizando coragem; -Sendo persistente; -Sendo perseverante;

-Tentando fazer as coisas; -Tentando ficar alegre no trabalho; -Ganhando forças para trabalhar; -Pensando que pode mudar, por isso empurrando-se para frente; -Pensando ser importante pensar positivo; -Saindo de casa e fazendo pensamento positivo que o plantão vai ser ótimo, que as coisas vão transcorrer bem, e que nada vai dar errado; -Tentando resistir e ir em frente; -Falando para si mesmo: vai conseguir; -Achando que ganhei força após conhecer as pessoas.

Encorajando-se

Page 274: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

252

-Ficando no turno desejado; -Tendo o trabalho realizado em uma equipe multiprofissional; -Caindo em uma equipe muito boa; -Não conseguindo ter rotinas bem efetuadas; -Não tendo manutenção de equipamentos; -Buscando um local onde o compromisso é geral; -Tendo uma boa interação com toda a equipe de enfermagem; -Sendo preparado para uma carga horária teórica; -Tendo a oportunidade de conhecer as pessoas do setor;

-Percebendo que a equipe preocupa-se em amenizar o sofrimento inicial; -Sendo importante a chegada para o setor; -Existindo ações de recepção da Chefia; -Conhecendo os enfermeiros envolvidos na especialidade; -Percebendo uma preocupação da equipe de enfermagem com a recepção inicial; -Tendo reuniões para explicar o setor; -Escolhendo, na medida do possível, o plantão de trabalho; -Sendo ajudada pela Enfermeira Chefe para uma boa adaptação.

Sendo bem recebido

-Percebendo a importância do treinamento para amenizar a ansiedade; -Indo rigorosamente todo dia para participar do treinamento promovido pelo setor; -Recebendo treinamento teórico; -Sendo acompanhado na prática; -Ficando um mês em treinamento; -Ficando dois meses em treinamento; -Precisando muito mais do que o dado no treinamento; -Sendo o treinamento o pontapé inicial; -Começando a estudar o assunto com o treinamento; -Aprendendo na carga teórica; -Procurando estudar mesmo não gostando; -Sentindo maior força com o treinamento; -Aprendendo no treinamento o básico para atuar na especialidade; -Sentindo mais segura quando a atividade foi ensinada por um enfermeiro; -Sendo um pouco mais dirigível; -Fazendo repetir a atividade muitas vezes para fixação; -Recebendo um treinamento de aproximadamente um mês;

-Achando ser essencial o apoio de uma pessoa, de um profissional, que acompanhe a pessoa; -Fazendo com supervisão; -Recebendo treinamento teórico dos enfermeiros; -Não tendo experiência e nem enfermeiro para treinar; -Recebendo suporte da equipe para realização da prática específica; -Recebendo suporte da equipe que entende que não tenho domínio; -Achando ser muito importante o treinamento inicial para o enfermeiro que não conhece os detalhes da especialidade; -Não tendo problemas para falar das suas inseguranças durante o processo de treinamento; -Achando que é preciso alguém do lado dizendo o que vai ser feito; -Tendo que ler alguma coisa para acompanhar o treinamento; -Ficando um tempo em treinamento até pegar as rotinas; -Tendo sido respeitado o tempo de treinamento; -Recebendo treinamento teórico, e depois, no local de trabalho; -Ficando dois meses com uma enfermeira à noite para treinar; -Passando um bom tempo realizando capacitação.

Passando por capacitação específica

Page 275: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

253

-Reconhecendo coisas que precisam ser mudadas; -Percebendo que na estrutura existem problemas para o reconhecimento do papel do enfermeiro; -Faltando muitos materiais para trabalhar, aumentando minhas angústias; -Tendo problemas sérios de relacionamento no setor; -Percebendo que o enfermeiro é bastante sobrecarregado de atividades, nem sempre compatíveis com o seu papel; -Tendo que procurar materiais no hospital inteiro para suprir as necessidades da unidade, dificultando a vontade de querer ficar; -Sendo a relação auxiliar enfermeira bastante difícil e conflituosa; -Tendo que passar por cima dos problemas do setor para tentar se adaptar;

-Não conseguindo trabalhar sem organização; -Sentindo-se saturado porque gostaria de um setor organizado; -Reforçando a crise pessoal; -Piorando muito com a falta de recursos humanos e recursos materiais; -Encarando vários aspectos negativos no setor; -Passando por problemas de toda ordem no setor; -Aquecendo o problema que já existe para enfrentar a realidade; -Querendo os recursos humanos bater boca comigo; -Não recebendo uma rotina organizada; -Não recebendo um acompanhamento favorável; -Ficando sozinha para montar coisas muito específicas; -Chegando num ponto que o setor apresenta problemas que você não suporta mais; -Fui chegando e sendo inserida, sem nenhum treinamento específico; -Sendo treinada por pouco tempo.

Sendo desfavorável o acolhimento

-Não conseguindo se acostumar e fazendo o que pode; -Pensando em sair, devidos aos muitos problemas; -Não tendo a menor pretensão de trabalhar nisso; -Não tendo grandes motivações; -Não conseguindo dar tudo de si; -Se limitando; -Querendo pular fora; -Não querendo aprender nada em um lugar tão complicado; -Saindo do trabalho soluçando de tanto chorar; -Não agüentando mais lidar com essa situação; -Pedindo ajuda aos amigos para tentar continuar; -Sentindo-se esgotado emocionalmente; -Não tendo a menor vontade de ir para o trabalho;

-Tendo aquecido a rejeição interior com a vivência de tantos problemas na unidade; -Não conseguindo se interessar; -Não sendo bom para trabalhar na unidade; -Não querendo nada além do básico; -Desejando sair para um outro setor do hospital; -Aguardando a entrada de enfermeiro para pedir a saída do setor; -Não se interessando saber sobre os exames específicos da unidade; -Não se interessando, por achar que não ficar aqui; -Não estando disposta em aprender; -Não tendo vontade de melhorar; -Não querendo ler absolutamente nada sobre a especialidade; -Não querendo continuar aqui; -Não desejando ficar nessa especialidade.

Ficando desmotivado para o

enfrentamento

Page 276: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

254

APÊNDICE VI

FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO.

QUADRO 15. CATEGORIA: CONHECENDO AS PESSOAS

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Sendo apresentado aos enfermeiros e auxiliares de enfermagem; -Percebendo a relação interpessoal da equipe multiprofissional; -Entendo o relacionamento médico enfermeiro na unidade; -Conhecendo a Chefia da Unidade; -Interagindo com residentes de enfermagem; -Tendo a preocupação de estabelecer vínculo com a equipe de enfermagem; -Percebendo as atitudes da Chefia imediata; -Tendo medo de não interagir bem com a equipe de enfermagem; -Querendo falar com os enfermeiros experientes; - Tendo receio de não fazer uma boa relação com a equipe multiprofissional; -Achando muito difícil o lidar com a equipe de enfermagem; -Tendo que conhecer pessoas;

-Tendo que conhecer pessoas novas na unidade; -Observando a interação entre os funcionários da unidade; -Buscando ter uma boa relação com a equipe; - Tentando uma aproximação com a equipe; -Procurando conhecer a equipe de trabalho na especialidade; -Buscando a compreensão do agir das pessoas da equipe; -Vendo as diferentes atitudes das pessoas nas ações cotidianas; -Tendo que saber lidas com as pessoas da especialidade; -Achando os auxiliares de enfermagem um pouco revoltados; -Preocupando-se com o trabalho junto ao residente de enfermagem; -Achando bom conhecer a equipe médica; -Achando que deveria conhecer as pessoas da unidade especializada; -Sentindo falta de conhecer as pessoas do Hospital.

Conhecendo a equipe

multiprofissional

-Percebendo uma clientela bastante diferenciada; -Não estando acostumada em lidar com essa clientela; -Achando ótimo o tipo de clientela presente na especialidade; -Tendo muita dificuldade de lidar com o paciente na especialidade; -Percebendo as necessidades dos clientes com o passar do tempo; -Entendendo o paciente com certa dificuldade; -Tendo que conhecer os problemas mais comuns ligados ao paciente;

-Buscando a compreensão da clientela e de seus problemas específicos a especialidade; -Tendo muitas dificuldades de lidar com esse tipo de paciente; -Conhecendo os pacientes a qual desenvolverei os cuidados; -Achando difícil trabalhar com o cliente crônico; -Ficando deprimido com esse tipo de paciente; -Sendo necessário conhecer os pacientes e as suas patologias; -Achando os clientes bastante especiais.

Conhecendo a clientela

Page 277: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

255

APÊNDICE VII

FENÔMENO: EXISTINDO UM ENTORNO QUE PRECISA SER COMPREENDIDO.

QUADRO 15. CATEGORIA: CONHECENDO OS RECURSOS FÍSICOS E

MATERIAIS

-Tendo uma questão do conhecimento da rotina; -Tendo uma questão do conhecimento local; -Visitando todos os espaços da unidade; -Percebendo dificuldades de material; -Tendo que conhecer máquinas utilizadas na unidade; -Pegando manuais para se inteirar; -Lendo as rotinas; -Perguntando sobre as rotinas; -Entrando nas salas para conhecer a unidade; -Achando o espaço interessante e organizado; -Percebendo que a unidade é bem cuidada pela Chefia; -Olhando todo o local; -Pensando que o espaço é bom para o trabalho;

-Recebendo muitas informações no momento inicial acerca das rotinas; -Achando a rotina pesada; -Percebendo que o enfermeiro desempenha muitos papéis na unidade através da rotina; -Consultando a rotina do procedimento; -Achando que é importante conhecer com detalhes o espaço físico da unidade; -Procurando saber onde estão as coisas na unidade, para não ficar perdido; -Tendo uma boa impressão do ambiente; -Sentindo que o espaço é organizado e planejado; -Achando o espaço físico confuso e desorganizado; -Achando àquelas salas estranhas para atuar.

Conhecendo o espaço físico

-Tendo que se apropriar dos equipamentos; -Percebendo a importância da tecnologia para a especialidade; -Tendo que aprender a manipular as máquinas; -Tendo que pegar para aprender a manipular os equipamentos; -Pegando o equipamento para tentar entender o seu funcionamento; -Tendo que me atualizar nos equipamentos da unidade;

-Achando os respiradores diferentes daqueles da minha prática anterior; -Comparando os equipamentos com os manuais para aprender; -Achando difícil trabalhar com esse equipamento; -percebendo que precisa de muito treinamento para atuar com segurança naquele equipamento; -Chegando perto da máquina para tentar aprender; -Achando muito complicado manipular a máquina desse setor.

Conhecendo os equipamentos

Page 278: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

256

APÊNDICE VIII

FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.

QUADRO 16. CATEGORIA: HESITANDO EM DESENVOLVER O TRABALHO.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Pensando muito antes de fazer qualquer coisa; -Checando antes de fazer algo na rotina do serviço; -Tendo que conferir com outros enfermeiros alguns itens das atividades realizadas; -Fazendo com medo; -Sentindo-se totalmente insegura com a situação instalada; -Evitando alguns procedimentos;

-Não fazendo procedimentos específicos que exigem destreza manual; -Repassando para outros, com maior experiência, alguns procedimentos específicos; -Tendo um grande receio de puncionar fístulas no início; -Ficando insegura e com muito receio de fazer as coisas na especialidade; -Tendo medo fazer aquilo que não sabe; -Ficando muito inseguro para aprender o novo.

Tendo insegurança

-Sentindo-se trêmula; -Tendo taquicardia na hora; -Passando mal para ir para o trabalho; -Perdendo a cor quando precisa fazer algo muito específico que não se sente preparado; -Ficando nitidamente alterado; -Gerando uma questão psicossomática mesmo; -Tendo que recorrer aos florais; -Ficando louca de fato; -Perdendo a calma e o controle;

-Sentindo-me como um recém-formado; -Precisando de ajuda para continuar o procedimento; -Tendo taquicardia, assim na hora, mas respirando; -Sentindo o coração na boca; -Tendo dor física; -Começando usar florais e indo bem; -Sentindo-se muito cansada e frágil; -Procurando florais; -Estando com os nervos à flor da pele; -Sentindo no corpo o impacto de enfrentar o novo.

Sentindo taquicardia

Page 279: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

257

-Utilizando os manuais para guiar a ação; -Decorando os passos para lidar com a máquina; -Anotando tudo que vê e que escuta para seguir na hora de algum aperto; -Tirando cópia de “Check List” para não esquecer nada importante; -Seguindo o preconizado durante o treinamento; -Não fazendo grandes inovações; -Pegando os manuais e as rotinas para realizar as atividades específicas na especialidade;

-Tendo o cuidado para não dar um passo fora do definido pelo setor; -Gostando de passo a passo para ajudar na realização de procedimentos específicos; -Estando atento aos enfermeiros experientes; -Reconhecendo que tem pouca experiência e que precisa ser guiada; -Não tendo guia o iniciante fica perdido; -Fazendo com ajuda dos enfermeiros experientes; -Sendo ajudado durante os procedimentos mais específicos por pessoas mais experientes; -Seguindo as rotinas.

Fazendo guiado

-Não existindo um real prepara para dominar as situações mais complexas na especialidade; -Achando que mesmo com uma noção é muito difícil dominar a situação; -Vendo pessoas que não saem e também que não se movimentam, ficam paralisadas; -Chorando quando acontece alguma coisa que não sabe como resolver; -Discutindo com a residente de enfermagem; -Tendo dificuldades de relacionamento com a equipe de enfermagem.

-Não tendo enfermeiro para manusear junto à máquina; -Não tendo o domínio da técnica; -Não tendo o preparo mínimo para dominar a situação; -Ficando parado; -Vendo os iniciantes aflitos, angustiados e desestimulados, por não dominarem, e não ter ninguém para apoiar; -Não sabendo nem por onde começar; -Vendo o iniciante com vontade de largar tudo, quando começam as cobranças, sem respostas; -Sendo jogado na especialidade; -Achando muito complicado atuar sem o domínio da situação; -Percebendo muitas dificuldades em segurar a situação.

Tendo dificuldade para dominar a

situação

Page 280: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

258

APÊNDICE IX

FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.

QUADRO 17. CATEGORIA: SENTINDO O PESO DA RESPONSABILIDADE.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Procurando acertar mesmo tendo consciência de algumas dificuldades; -Sabendo do seu papel enquanto enfermeiro; -Não desejando que erros aconteçam; -Não fazendo procedimentos na dúvida para não cair em erros; -Tendo medo se surpresas ligadas ao conhecimento específico que implique em erro; -Pedindo ajuda para não cometer erros; -Tendo noção que não pode cometer nenhuma coisa que possa ser considerado erro; -Tendo que estudar com medo de errar na prática diária; -Buscando acertar; -Procurando estudar para não errar; -Pensando que existem coisas muitos minuciosas que podem levar ao erro; -Pedindo ajuda para não cometer erros na prática.

-Buscando conhecimento para ter respaldo; -Não sendo suficiente apenas o conhecimento teórico para garantir uma assistência sem erro; -Achando que o medo está em não saber assistir na especialidade; -Tendo medo de errar; -Tendo medo de não ter apoio; -Quando estava errado, ia ler para corrigir; -Errando devido à inexperiência, não sendo grave, mas um erro de rotina; -Não fazendo quando suspeitava que poderia trazer malefício; -Buscando acertar; -Procurando o melhor caminho para fazer as coisas; -Repetindo as coisas bem devagar para na hora de fazer não errar; -Preocupando-se em não fazer com dúvida; -Estudando em casa para não errar na hora do plantão; -Tendo consciência de que não pode errar com o cliente.

Tendo o medo do erro

-Tendo uma boa relação para ser ajudada; -Sendo um grande aprendizado como líder; -Tendo que dar conta da liderança; -Não sabendo como um líder não sabe algo; -Sofrendo por ser um líder que desconhece muitas coisas específicas do setor; -Pensando na fase de treinamento, quando for o líder; -Tendo que liderar uma situação tão diferenciada sem experiência; -Tendo muitas dificuldades para liderar a equipe de auxiliares de enfermagem sem ter o conhecimento da prática;

-Não sabendo o que fazer e a quem recorrer; -Sendo à noite o enfermeiro um sozinho, exceto pela supervisão; -Sendo difícil viver um papel de líder sem experiência; -Não sendo uma pessoa de liderar sem saber fazer; -Não gostando de ser o líder sem saber os assuntos; -Tendo que dar conta de uma liderança, sem saber nada da prática específica; -Sabendo que mesmo sem segurança terá que ser o líder do plantão; -Fazendo de tudo para ser um bom líder;

Precisando ser o líder da equipe

Page 281: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

259

-Sabendo que não está sendo bom líder; -Achando de ser um absurdo já ter que ir para o plantão como líder; -Pensando muito positivamente para dar tudo certo no plantão; -Não sabendo como liderar nessa condição, mas liderando; -Buscando bom relacionamento com a equipe para conseguir liderar; -Pensando que tem que ser aceito como líder, mesmo sem saber ainda sobre as coisas da especialidade;

-Pegando junto com os auxiliares para facilitar na liderança; -Achando difícil ser líder sem saber das coisas específicas; -Precisando mandar sem conhecer as pessoas; -Tendo que ser líder do plantão sem se quer saber onde estão as coisas; -Precisando ter o domínio emocional para liderar sem conhecer totalmente a realidade; -Sendo humilde para conseguir liderar as pessoas na unidade; - Vivendo um momento de liderança difícil, de confusão mesmo.

-Tendo uma visão imediata do que precisa ser feito; -tendo que sentir-se segura por ser a enfermeira do plantão; -Tentando fazer o melhor enquanto profissional para preservar o cliente; -Sabendo que não poderia ficar alienada; -Sendo uma estratégia manter um bom relacionamento; -Investindo na equipe para ajudar na adaptação;

-Dando para a equipe o suporte teórico que eles não tinham; -Tendo a oportunidade de buscar; -Tendo vontade de aprender; -Gostando de fazer com os outros, o que deseja para si; -Querendo saber para fazer; -Querendo saber o que essa clientela necessita; -Tentando fazer o melhor mesmo sem ser expert; -Tendo que se sentir segura; -Tendo que atuar como enfermeiro e pronto;

Sabendo que precisa

fazer

-Sendo necessário decidir o cuidado baseando-se em experiências anteriores; -Precisando assumir o papel do enfermeiro tendo muitas dúvidas; -Tendo em dificuldade até para pedir as coisas nos primeiros plantões; -Precisando encaminhar alguns procedimentos e algumas escolhas;

-Acontecendo alguma coisa, não podendo ter dúvida de como agir; -Tendo que decidir sozinho; -Sendo o profissional enfermeiro de plantão; -Tendo que pensar atividades para a equipe de enfermagem sem compreender, de fato, as especificidades do setor.

Tendo que tomar decisões

Page 282: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

260

APÊNDICE X

FENÔMENO: SENTINDO A FALTA DE EXPERIÊNCIA NA ESPECIALIDADE.

QUADRO 18. CATEGORIA: SENTINDO-SE CONSTRANGIDO POR NÃO TER

CONHECIMENTOS E HABILIDADES ESPECÍFICAS.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Sabendo muito pouco para oferecer; -Tendo alguma teoria, mas não tendo a prática; -Pensando que situação mais estranha, ter que, dizer a toda hora, não sei, para os auxiliares de enfermagem; -Tendo que ser humilde para reconhecer que não sabe o assunto; -Precisando falar não sei e ser claro com a equipe sobre algum procedimento; -Correndo atrás da ajuda de enfermeiros experientes e dizendo não sei fazer determinado procedimento; -Precisando dizer não sei isso, pelo telefone, durante o plantão; -Encontrando muita dificuldade para dizer que não posso fazer algo, porque não sei; -Sendo objetiva, dizendo claramente, não sei fazer isso;

-Não ficando sozinho na prática específica da especialidade; -Tendo que falar que não se sabe a prática disso; -Tendo que esclarecer que não sabe como fazer diante de toda a equipe; -Precisando ser claro sobre a inexperiência; -Tendo que verbalizar o desconhecimento do assunto, na frente das pessoas lideradas; -Tendo os auxiliares a prática que eu não tinha; -Não sabendo se fez direito; -Não sabendo as coisas muito específicas da especialidade; -Achando-se totalmente perdida; -Não tendo noção do trabalho com este tipo de especialidade; -Achando que o iniciante não tem noção do que se passa dentro da especialidade; -Sendo uma coisa nova para mim; -Não sabendo se a pergunta for específica.

Precisando dizer não

sei

Page 283: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

261

APÊNDICE XI

FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA

ESPECIALIDADE.

QUADRO 19. CATEGORIA: BUSCANDO A COMPREENSÃO DA REALIDADE.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Precisando receber as rotinas para utilizar durante a prática diária; -Entendendo ser de suma importância o conhecimento das rotinas; -Tendo uma questão do conhecimento da rotina, do local, da integração e do relacionamento interpessoal; -Atuando de acordo com as rotinas;

-Atuando tendo em vista as rotinas do serviço; -Tendo atenção a rotina instituída; -Tendo as rotinas como guia para desenvolver algumas atividades; -Precisando seguir as rotinas da unidade; -Achando bom o setor ter bem definido as rotinas de atuação frente a essa clientela; -Tendo muitas dúvidas quanto à rotina do serviço.

Observando as rotinas

-Localizando de primeiro os manuais e deixando por perto; -Recorrendo ao manual da máquina no momento da crise; -Utilizando o manual para ligar e programar a máquina, apesar de sido dado o treinamento; -Recebendo manuais para ler e se inteirar; -Adequando-se aos padrões do hospital. -Querendo compreender o funcionamento das coisas através dos manuais;

-Precisando ler os manuais referentes às máquinas utilizadas no setor; -Levando os manuais para casa; -Tirando até cópia dos manuais; -Sentindo-se mais segura de posse dos manuais dos equipamentos específicos do setor; -Querendo saber onde estão os manuais; -Percebendo que o setor não tem todos os manuais; -Buscando alguma segurança com a leitura dos manuais.

Recebendo manuais do hospital para ler e

se inteirar

Page 284: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

262

APÊNDICE XII

FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA

ESPECIALIDADE.

QUADRO 20. CATEGORIA: COMEÇANDO, ATUANDO E APRENDENDO NA

ESPECIALIDADE.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Sendo inserido e tentando desenvolver atividades práticas; -Pedindo ajuda dos auxiliares em termos de informações, de funcionamento do local, da rotina, e até mesmo, cuidados específicos; -Aprendendo a fazer coisas que duvidava; -Pensando que poderia se adaptar; -Tentando permanecer na especialidade; -Aprendendo a partir da própria vivência; -Não tendo nenhuma prática sobre isso; -Pensando que a repetição de casos ajuda no aprendizado diário -Tendo conhecimento teórico, mas a aplicação na prática sendo muito diferente; -Sendo inserido e desenvolvendo habilidades técnicas específicas; -Aprendendo no local de trabalho; -Aprendendo com os auxiliares aqui;

-Ficando sozinha para fazer a prática específica -Aprendendo no trabalho no finalzinho; -Sendo o aprendizado um desafio; -Sendo muito gratificante aprender no trabalho; -Trabalhando junto com a equipe; -Tendo sempre que aprender; -Aprendendo com o tempo a destreza para o trabalho; -Precisando ir devagar nesse novo para aprender; -Pegando prática; -Fazendo e tornando-se mais apto; -Tendo o conhecimento teórico, mas destacando que a aplicação na prática é muito mais complicado; -Sendo o primeiro procedimento um marco; -Sendo ajudada na prática; -Não sendo fácil, em termos de habilidade, rapidez e precisão; -Ficando morta de exausta de tanto carregar essas coisas para lá e para cá; -Percebendo que, com o tempo, vai fazendo melhor.

Aprendendo a destreza técnica no

trabalho

Page 285: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

263

-Pegando livro emprestado para ler sobre os temas pertinentes ao local de trabalho; -Lendo mesmo sem querer; -Recorrendo a literaturas; -Segurando nas teorias iniciais; -Lendo bula de medicação específica; -Engolindo livros; -Lendo o que estou afim; -Lendo os artigos que ele me dá, sempre dá uma ajudada; -Ficando louca de tanto pensar que tem que ler; -Começando a querer ler, depois de um tempo de grande dificuldade; -Achando as literaturas a respeito muito médicas;

-Tendo que ler as rotinas do serviço especializado; -Precisando ler manuais das máquinas específicas do setor; -Precisando ler sobre as medicações típicas da especialidade; -Tentando ler todos os dias sobre alguma coisa da especialidade; -Comprando livros relacionados à especialidade para se apropriar de alguma coisa; -Sendo meio que obrigada a ler; -Lendo muito sobre os assuntos da especialidade; -Tentando engolir os livros da especialidade.

Buscando leituras

-Achando difícil perguntar, mas perguntando; -Perguntando o procedimento passo-a-passo; -Sendo chata de tanto perguntar. -Tendo discussões muito interessantes; -Perguntando o tempo todo; -Sendo chata de tanto perguntar; -Se apegando a alguém que pode ajudar; -Tendo que perguntar tudo sobre a rotina; -Perguntando sem medo de ser feliz;

-Tendo sempre curiosidade; -Querendo sempre aprender; -Procurando e perguntando; -Não tendo vergonha de perguntar; -Perguntando pela curiosidade e pela necessidade; -Perguntando sem vergonha; -Perguntando aos próprios auxiliares; -Perguntando sobre algumas medicações para os enfermeiros; -Tentando sugar tudo que o outro sabia mais e podia me dar.

Perguntando a quem sabe

-Colando sempre da pessoa que saca aquilo; -Colando muito dos outros; -Observando o que as pessoas fazem; -Olhando mesmo, sem ter vergonha; -Repetindo o que foi feito pelo enfermeiro experiente, igualzinho; -Colando, discretamente, dos auxiliares de enfermagem; -Permitindo que eu a acompanhasse para olhar.

-Aprendendo olhando de quem sabe; -Vendo os procedimentos e comparando com a teoria; -Observando o fazer de quem domina; -Olhando para Auxiliares de Enfermagem que fazem muito bem o procedimento; -Lembrando de como o enfermeiro especialista do setor faz; -Vendo coisas que iam acontecendo; -Colando, literalmente, de quem sabia fazer.

Colando de quem sabe

Page 286: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

264

-Ajudando, para dar o “pontapé” inicial; -Precisando estudar mesmo não gostando; -Comprando livros na área para estudar muito sobre o assunto; -Querendo estudar a área; -Tendo alguma teoria que os auxiliares não têm; -Buscando através do estudo do assunto;

-Tendo que ter teoria para justificar as práticas realizadas na unidade; -Tendo o livro em casa para tirar dúvidas; -Querendo comprar livros para estudar; -Tentando ler alguns artigos sobre a especialidade; -Tendo que ter teoria; -Dando o suporte teórico em contrapartida.

Segurando na teoria

-Lembrando como fazia isso lá na graduação; -Reportando-se a graduação; -Sabendo que não sou uma recém-formada; -Tendo que recorrer as minhas atuações anteriores para conseguir ter forças para fazer; -Tendo consciência de que minha experiência de vida ajuda nos momentos de aflição;

-Tentando transportar o que já vivenciou para aquela situação nova; -Achando importante aproveitar a experiência trazida como bagagem; -Pedindo ajuda para pensar como sair disso; -Sabendo que mesmo diferente, minha experiência lá ajuda em alguma coisa.

Mobilizando recursos

teóricos e práticos de vivências anteriores

Page 287: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

265

APÊNDICE XIII

FENÔMENO: (RE) CONHECENDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL NA

ESPECIALIDADE.

QUADRO 21. CATEGORIA: CORRENDO CONTRA O TEMPO.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Achando que o que qualifica é a dedicação a uma área; -Buscando conhecimentos; -Fazendo no tempo que precisava ser feito; -Enfrentando as situações problemas para aprender; -Olhando, perguntando, estudando, e depois, fazendo; -Dando por fim, fazendo; -Montando, olhando, estudando, e fazendo junto; -Fazendo para aprender; -Procurando fazer para que o novo se torne mais familiar; -Transformando o novo em algo mais familiar; -Repetindo, repetindo e repetindo a atividade; -Montando várias vezes a máquina para aprender; -Pegando para fazer e aprendendo; -Entendendo que tem que fazer para aprender o negócio;

-Convivendo contra o tempo para aprender; -Fazendo e tornando-se mais apto; -Aprendendo tudo correndo; -Sendo inserido, desenvolvendo habilidades técnicas, sem tempo para aprender o que é necessário desenvolver; -Já está sendo aguardada devido à necessidade do serviço; -Tendo que aprender; -Tendo que assumir plantão logo; -Achando que o bom era se adaptar rápido; -Aprendendo com o dia-a-dia, mesmo não pegando nos livros e nem lendo; -Puncionando, instalando e conseguindo; -Fazendo direito o básico; -Tendo que aprender o básico no dia-a-dia; -Percebendo a importância de realizar a tarefa e não somente mandar fazer.

Fazendo, ao mesmo tempo, que tem que

se tornar apto

-Não me colocando como sei tudo; -Aprendendo com os Auxiliares de Enfermagem; -Aprendendo com o conviver com a equipe; -Achando importante manter uma boa relação com a equipe para aprender; -Discutindo muitas coisas para prender; -Aprendendo a lidar melhor com a situação; -Não tendo tempo de aprender o que é necessário desenvolver;

-Transferindo a nossa formação técnica para a vida diária; -Sentindo que é necessário aprender; -Não sendo arrogante; -Descobrindo que é importante uma troca mútua; -Recebendo muitas informações da equipe de saúde; -Tendo que compartilhar com a equipe de enfermagem; -Sendo ajudado por Auxiliares no que pode.

Tendo que aprender

Page 288: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

266

APÊNDICE XIV

FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE EM

BUSCA DA ADAPTAÇÃO.

QUADRO 22. CATEGORIA: SENTINDO-SE BEM NA ESPECIALIDADE.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Resolvendo mudar; -Descobrindo que o novo pode agradar; -Sentindo-se bem na especialidade; -Mudando a visão da especialidade, a partir das vivências e do tempo; -Percebendo que amadureceu; -Adaptando-se e pensando o que vai fazer na especialidade; -Amando o que aprendeu na especialidade; -Não retrucando mais; -Aprendendo muito com toda essa experiência;

-Atuando na área e se interessando; -Mudando com o conhecimento; -Mudando a forma de olhar o mundo e a realidade; -Encarando o novo; -Mudando a forma de olhar as coisas; -Querendo permanecer no novo, é o que quero naquele momento; -Transformando o novo em algo mais conhecido; -Transformando o novo em familiar; -Superando através do conhecimento; -Tendo vontade de melhorar.

Projetando-se para um futuro na especialidade

-Conseguindo ter tranqüilidade; -Trabalhando minimizando a dor do outro; -Sendo agora mais feliz; -Reconhecendo que foi bom; -Tendo um encantamento pela área;

-Sentindo-se bem e tranqüila com a minha opção; -Achando interiormente que estava bem; -Ficando em uma área que me encanta;

Sendo feliz no trabalho

-Achando que para os novos enfermeiros é preciso outro tipo de treinamento;

-Fazendo cursos de aprimoramento e atualização na área; -Começando a ir a Congressos e eventos da área; -Querendo que o hospital faça curso de aprimoramento.

Preocupando-se com a Educação Contínua

-Querendo fazer especialização; -Lendo sobre a Sociedade de Especialista; -Pensando em fazer algo na área.

-Fazendo o curso de especialização; -Fazendo outro curso de especialização para ajudar mais a clientela;

Buscando a

especialização

-Indo a Congressos em São Paulo para estar por dentro; -Pensando que poderia ficar fazendo aquilo e me dar bem.

-Crescendo profissionalmente, apesar do conhecimento novo; -Achando que foi importante estar aqui para crescer enquanto profissional;

Almejando crescer na especialidade

Page 289: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

267

APÊNDICE XV

FENÔMENO: CONVIVENDO COM A REALIDADE NA ESPECIALIDADE EM

BUSCA DA ADAPTAÇÃO.

QUADRO 23. CATEGORIA: VIVENDO A CRISE INTERIOR.

CÓDIGOS

SUBCATEGORIAS

-Não gostando da especialidade, nem no tempo da faculdade; -Tentando estudar, dormindo, bebendo água, indo ao banheiro, tudo para perder a atenção; -Não gostando de estudar esse assunto; -Não querendo trabalhar com essa especialidade, de jeito algum; -Dormindo quando tenta estudar o assunto; -Repercutindo em minha vida pessoal a falta de perspectivas; -Querendo sair se puder; -Não sendo o tipo de trabalho que me gratifica; -Não querendo ficar aqui, não; -Não querendo permanecer na especialidade;

-Identificando que não produz bem com a clientela específica relacionada à especialidade; -Não se identificando; -Vendo a situação de uma forma muito preocupante; -Sendo colocada para substituir um enfermeiro que saiu do setor, mas não desejando ficar; -Não procurando nada; -Não sendo o que desejava; -Não tendo a menor pretensão de trabalhar nisso; -Achando que seria temporário; -Achando que em breve sairia dali; -Não se vendo fazendo parte desse contexto; -Achando que precisa trabalhar em algo que gosta;

Não conseguindo se projetar na

especialidade

-Não tendo vontade em outra área que não a sua; -Não conseguindo atuar na especialidade; -Sendo novo e difícil, por não desejar; -Não tendo perspectiva de continuar na área; -Vivendo bicuda, mas bicuda o tempo todo; -Sendo muito bicuda. -Não tendo vontade de ir a fundo; -Fazendo o básico, para não colocar ninguém em risco; -Não procurando mais do que aquilo;

-Não tendo a menor vontade de se especializar; -Não querendo ficar nessa área; -Lembrando de como era feliz com o que fazia; -Não se adaptando até a clientela; -Achando tudo difícil e por demais complexo; -Pensando como seria bom se estivesse em outro setor; -Indo conhecer o setor que

realmente gostaria de trabalhar para

ficar só com água na boca;

-Querendo voltar a trabalhar naquilo que de verdade gosto.

Sentindo-se insatisfeita por não estar em sua área

Page 290: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

268

-Chorando em casa desesperadamente; -Chorando todos os dias; -Chorando na noite anterior ao plantão; -Chorando quando chega em casa; -Sentindo-se insatisfeita em estar em uma área que não gosta; -Sentindo-se angustiada, por ter que continuar; -Gerando um desgaste muito grande, inclusive para as pessoas que estão à volta; -Sentindo-se desamparada, por não ter apoio da Chefia; Ficando com depressão por não conseguir fazer; -Saindo de lá também com sofrimento;

-Vendo o colega chorar e passar muito mal, porque está forçando uma barra na especialidade; -Chegando em casa chorando, após os plantões; Gerando uma crise comigo; -Não vendo interesse em nada; -Alugando os amigos para falar do trabalho negativamente; -Vivendo bicuda na especialidade; -Trabalhando mal humorado; -Sofrendo com tudo que ocorre na especialidade; -Não querendo aprender nada de novo; -Querendo apenas fazer o básico, e só; -Resistindo à mudança; -Sentindo-se muito triste por ter que continuar em local que não tenho afinidade.

Trabalhando deprimido

-Desejando trabalhar em outro local mais próximo da experiência anterior; -Querendo que os próximos enfermeiros, a serem chamados, o substitua, para sair fora da especialidade;

-Querendo sair o mais rápido possível; -Pedindo à Chefia para ir para outro local; -Pensando em ir falar com a Chefia sobre a saída do setor; -Lutando para sair; -Insistindo e saindo da especialidade.

Saindo da especialidade

-Vivendo reclamando das coisas; Vendo a vida de uma situação que não quer; -Sendo os momentos ruins muito maiores que qualquer outra coisa; -Indo para lá sofrida; -Saindo de lá sofrida; -Ficando no dia de folga pensando no próximo dia de trabalhar; -Pensando o tempo todo em sair; -Se limitando ao máximo.

-Tendo que se controlar para não chorar; -Não tendo estrutura para trabalhar com essa clientela; Querendo viver bem plenamente e não sofrendo; -Sendo a experiência na especialidade muito ruim; -Engordando de tanta ansiedade; -Sentindo-se frustrada; -Não adiantando dizer que não quer.

Sofrendo na especialidade

Page 291: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

269

APÊNDICE XVI

DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DO DISCURSO

TRECHO DE ENTREVISTA REALIZADA

Realizada: 01/05/05 Duração: 1h e 35 min

1- Quem é você?

Sou de uma família de mais cinco

pessoas.

Eu tenho uma característica que às

vezes pode ser como uma qualidade ou

como um defeito, eu sou muito

persistente.

Às vezes isso, se transforma em

teimosia, mas eu me considero bem

organizada.

Aprendi muito na minha própria

formação fazer um trabalho

sistematizado, e isso, até me ajudou

como pessoa mesmo.

A gente acaba transferindo a nossa

formação técnica para a nossa vida

pessoal.

Apesar de eu não ser tão organizada

como pessoa. Digo mesmo, em termos

de planejamento, organização.

Sendo de uma família de mais de cinco pessoas. Tendo uma característica que pode ser uma qualidade, ou ainda, um defeito. Transformando-se, às vezes, em teimosia. Sendo bem organizada. Aprendendo muito na própria formação a fazer um trabalho sistematizado. Ajudando, o trabalho sistematizado, enquanto pessoa mesmo. Transferindo a formação técnica para a nossa vida pessoal. Não sendo tão organizada como pessoa, em termos de planejamento.

Page 292: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

270

ANEXO I

Page 293: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 294: livros01.livrosgratis.com.brlivros01.livrosgratis.com.br/cp123066.pdf · 2016-01-25 · UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo