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Revista bimestral do Lectorium Rosicrucianum A BUSCA DA PERFEIÇÃO O NOVO PENSAR ABARCA O UNIVERSO POR QUE DEUS DEIXA ISSO ACONTECER? O CENTRO ÚNICO DO MICROCOSMO E DO MACROCOSMO QUEM DEU FORMA AO VAZIO? O QUE É O PECADO? A ALQUIMIA DOS MISTÉRIOS DO OCIDENTE DE ONDE VEM O CONCEITO «ALQUIMIA»? A ESTRELA DE BELÉM PentagramA 2002 número 6

PentagramA · A busca da perfeição e acordo com antigas histórias, o homem original vivia de impulsos di-vinos que ele devia realizar. O homem de hoje segue um caminho inverso

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Revista bimestral do

Lectorium Rosicrucianum

A BUSCA DA PERFEIÇÃO

O NOVO PENSAR ABARCA O UNIVERSO

POR QUE DEUS DEIXA ISSO ACONTECER?

O CENTRO ÚNICO DO MICROCOSMO E DO MACROCOSMO

QUEM DEU FORMA AO VAZIO?

O QUE É O PECADO?

A ALQUIMIA DOS MISTÉRIOS DO OCIDENTE

DE ONDE VEM O CONCEITO «ALQUIMIA»?

A ESTRELA DE BELÉM

PentagramA2002 número 6

ÍNDICE

2 A BUSCA DA PERFEIÇÃO

8 O NOVO PENSAR ABARCA

O UNIVERSO

13 POR QUE DEUS DEIXA

ISSO ACONTECER?

17 O CENTRO ÚNICO DO

MICROCOSMO E DO

MACROCOSMO

23 QUEM DEU FORMA

AO VAZIO?

26 O QUE É O PECADO?

29 A ALQUIMIA DOS

MISTÉRIOS DO

OCIDENTE

36 DE ONDE VEM O

CONCEITO

«ALQUIMIA»?

41 A ESTRELA DE BELÉM

ANO 24NÚMERO 6

PENTAGRAMA

Quem deu forma ao vazio?

«A essência é imaterial.

A essência é sem forma.

O cérebro físico pensante

não pode definir o sem forma.»

(Lao Tsé)

A busca da perfeição

e acordo com antigas histórias, ohomem original vivia de impulsos di-vinos que ele devia realizar. O homemde hoje segue um caminho inverso.Primeiro ele cria um ideal e depois seesforça para realizá-lo.

Os ideais pessoais são reforçados secompartilhados por um grupo de pes-soas. Assim nascem concentraçõesmentais que são convertidas em ideaisreligiosos, científicos ou sociais. Inse-ridos em um contexto natural, são ge-ralmente considerados como degrausno caminho da perfeição. Os homensbuscam, infinitamente, o equilíbrioentre a realidade imperfeita e o idealao qual aspiram.

É um caminho demarcado por ex-periências. Quem o percorre e com-preende o significado desta aprendiza-gem progredirá e se transformará. Setudo correr bem, esta pessoa ajustaráseu ideal a cada passo e acabará che-gando a um limite. Ela não poderá irmais longe, ou então... deverá tomaruma outra direção. E, em um dadomomento, ela deverá se voltar para arealidade divina, já que a perfeiçãosomente existe no mundo divino.

A criação do homem ideal

Em todos os tempos, sempre houvetentativas de representar o homemcompleto:• artistas buscaram a forma perfeita e

incomparável,

• teólogos conceberam uma éticasuperior,

• cientistas deram forma à imagemdo homem onisciente e onipotente.

Homens com físico e caráter no-bres, de comportamento irrepreensí-vel e com vasto saber, dão uma idéiada perfeição humana tal como pode-mos imaginá-la. Alguns os escolhemcomo modelos, na esperança de setornar como eles, de atingir aquiloque eles atingiram. Mas este tipo deidealização também pode despertarinveja.

Um equilíbrio precário

Aprendemos, por experiência pró-pria, que a perfeição é irrealizável aqui

D

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«O orgulho da taça é a bebida, sua humildade é servir.

Qual é a importância de suas imperfeições?» Dag Hammarskjöld

Homem de estado sueco, Dag H.A.C.Hammarskjöld (1905-1961) foi secretário geral daONU de 1953 a 1961. Ele morreu em um acidente deavião em uma missão no Congo.Em 1961, recebeu postumamente oPrêmio Nobel da Paz. Em seu diário, ele conta como um homem, arrogante no início e profundamente solitário, encontrou o caminho da rendiçãodo eu e do amor incondicional.

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embaixo, embora algo nos impulsionea buscar. E, apesar de todas as decep-ções, continuamos tentando, indivi-dual e coletivamente, construir ummundo melhor. A cada tentativa averi-guamos que esse «mundo melhor» éefêmero, e o equilíbrio atingido, pre-cário. Afinal, as forças e poderes seopõem uns aos outros, em um perpé-tuo movimento, provocando desliza-mentos e rupturas de equilíbrio. A ci-ência e a técnica visam manter umacerta estabilidade, mas pouco importa

o que façamos, o objetivo afasta-se ca-da vez mais, até um limite instranspo-nível. Quando chegam a este limite, ospioneiros são como que jogados paratrás, e logo começa o declínio. Os ide-ais se tornam cada vez mais superfi-ciais como na moda, na publicidade,no cinema e na televisão, onde só oque conta é uma bela aparência. Estanão é uma visão pessimista, mas umacorrente que sulca o caminho seguidopela humanidade. Civilizações nas-cem, crescem, atingem píncaros cada

A única imagem ideal do homem aindanão desapareceuou então o«totalmenteoutro» é novamente edificado.IlustraçãoPentagrama

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A espada alada da cidadeportuária deMedina, Malta.Foto Pentagrama

vez mais elevados e depois são invadi-das por outros gigantes, ou então sãominadas por pequenos grupos queatacam seus pontos fracos.

O inferior retoma seus direitos

As pessoas com tendência religio-sa visam uma ética perfeita. Mas adistância entre a imperfeição doponto de partida e o ideal elevado asobriga a sufocar certos problemas.As tensões, assim acumuladas, ex-plodem • em conflitos com seus semelhan-tes, igualmente imperfeitos. Estastensões podem até mesmo levá-las • a uma divisão de personalidade,entre um aspecto elevado e um as-pecto sintonizado com a vida infe-rior, animal. O que foi reprimido re-

toma seus direitos e, no lugar de per-feição, manifesta-se todo tipo decomportamentos lastimáveis.

A aptidão de memorizar os conhe-cimentos diminui com a idade. Pareceque o acesso ao saber está tão injusta-mente distribuído quanto o dinheiro.Durante nossa curta vida, somente te-mos acesso a uma mínima parte detodo o conhecimento disponível, semfalarmos dos limites de nossas capaci-dades de registrar e assimilar. Quemquisesse saber tudo teria de viver eter-namente, sem dúvida. Ao fazer isto,ele teria logo esquecido o que apren-deu, por não ter podido manter todoesse conhecimento.

A onda de conhecimentos que inun-da a humanidade – com a internet –obriga à especialização. Poucos indiví-duos têm uma visão de conjunto. Ora,a especialização torna as experiênciascada vez mais individualizadas, o queprejudica, no final das contas, a com-preensão entre as pessoas. Comoaconteceu durante a construção daTorre de Babel, a aspiração à perfeiçãoe ao conhecimento suscita problemasde comunicação. Esta caça ao idealsempre leva a um terrível caos. Só oexterior conta – a beleza; e, no interior,há somente vazio. A imagem ultrapas-sa a realidade. Mas, algumas vezes,pintores como Picasso ou Zadkine,entre outros, souberam traduzir o des-pedaçamento criado por esse vazio.

Para quem somente olha para oexterior das coisas é fácil optar peloideal da beleza aparente, mesmo quesaiba que a promessa que aí se escon-de é irrealizável. A ilusão dessa pro-messa é gravada nele a ferro e fogo e oimpulsiona a seguir seu ideal, até olimite das forças que a natureza lheoutorga.

A perfeição é uma ilusão?

Não seria a perfeição uma quimera,uma alucinação do homem insatisfeito

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e torturado? Um sonho alimentado defantasmas? A aspiração pela perfeiçãocomporta não só uma consciência daimperfeição, mas também uma pro-funda inclinação para uma vida supe-rior, para uma existência salutar. Ohomem, aprisionado neste campo detensão, sofre altos e baixos. E ele olhaseu próximo com incredulidade,quando nele suspeita o menor sinal deperfeição.

O mínimo traço de perfeição pare-ce exercer uma atração incrível. Bastaum «quase nada» numa outra pessoapara tirar-nos de nosso corre-corre di-ário. Mas quando percebemos o vaziopor detrás da brilhante aparência, eisso geralmente acontece com os jo-vens, deixamos que o ídolo caia, sempiedade. Quem não se sentiria ao mes-mo tempo aliviado e desiludido aodescobrir que não é o único que co-mete erros? Um ser perfeito é real-mente insuportável!

No entanto, a maioria das pessoasaspira à perfeição. Todos os dias, atodo instante, elas se agarram à me-nor suspeita de perfeição para, logoem seguida, perceber que tudo nãopassava de bolhas de sabão. Afinal,ninguém usa a mesma medida paramedir o grau de perfeição. Assim, nomomento em que alguém ultrapassaesse nível, percebe o quanto o seuideal era imperfeito. Eis como passa-mos o nosso tempo: colocando e ti-rando máscaras.

«Quem está sob a luz dos refletoresvê crescer à sua volta uma lenda, comoacontece com aquele que já faleceu.Ele se apaixona pela imagem que aopinião pública forjou dele durante alua de mel» (Dag Hammarskjöld,Balizas).

Dag Hammarskjöld descreve, aqui,uma situação muito comum. Estaspessoas passam pela experiência daadmiração que os outros sentem porelas e ficam apaixonadas pela imagemque lhe devolvem. De fato, a imagembem lustrada não seria mais bonita doque a realidade cotidiana? Quem não

gostaria de ser admirado, respeitado eadulado? Sim, até os ataques de nossosinimigos são importantes para nósporque sentimos que estamos mil lé-guas acima deles. E somos o objeto desua atenção...

Mas esta imagem está longe da rea-lidade. E seria preciso que, de tempos

Citações extraídas de Balizas

1950 – «A pulsação do sangue com a seiva das árvores e a corrente dos rios, com os movimentos docorpo e o ritmo da terra. No lugar disso: uma almaprivada do oxigênio dos sentidos desabrochados, desgastada por projetos e revoluções – entre quatroparedes. Animal domesticado no qual as geraçõesgastam suas forças – inutilmente.»

1952 – «A corrente de vida durante milhões de anos, vidas humanas aos milhares, pecado, morte emiséria, sacrifício e amor. Qual é o significado do“eu” a partir desta perspectiva? Não me impeleminha razão a buscar o que é meu, meu prazer, meupoder, meu respeito pelos outros? E, no entanto, eu“sei” – sei sem sabê-lo – que a partir desta perspecti-va é justamente o que tem menos importância: uma idéia na qual se encontra Deus.»

6.7.1961 – «Exausto e só. Exausto, o coração se extenua. O degelo transpira ao longo dos rochedos.Os dedos entorpecidos, os joelhos trêmulos.Agora é a hora em que não deves abandonar.

Outros fazem pausas no caminho e se encontram ao sol. Mas teu caminho está aí e agora, agora, nãodeves fracassar.

Chora se quiseres. Chora mas não lamentes. O caminho te escolheu e deves estar pronto.»

24.8.1961 – «Será um novo país em uma outra realidade diferente da deste dia? Ou será que eu jávivi aí antes?»

em tempos, estas pessoas fossem con-frontadas com a dura realidade. Des-cobrir o abismo que existe entre a ilu-são e a realidade é uma experiênciadesconcertante. Quantas pessoas jánão fugiram dessa experiência?

Apesar de laboriosos esforços, adistância entre a ilusão e a perfeiçãoapenas diminui. As tentativas conti-nuam, em novas direções: escolhemoscomo ideal, por exemplo, a perfeiçãodo corpo e da alma, ou a convivênciacom pessoas nobres, ou ainda cercar-nos de coisas belas. O homem quertornar perfeita a realidade despedaça-da, mas logo percebe que há rupturas.

Jesus disse a seus discípulos: Sedeperfeitos como vosso Pai que está noscéus é perfeito. Seria a perfeição na vi-da terrena, a perfeição das coisas e dosvalores terrenos? Onde fica o limiteentre a nossa idéia de perfeição e aperfeição divina? Como podemos noslibertar das ilusões que nos impedemde atingir esta perfeição?

Os mistérios do homem terreno

Enquanto o homem se consagrar àbusca da perfeição, fracassará; por-que, assim fazendo, ele perturba a frá-gil ligação com a fonte da perfeiçãodivina que se encontra em seu inte-rior. O campo da natureza dialética étão vasto e são tão numerosas asregiões em que o homem pode se per-der! O livro Os mistérios gnósticos daPistis Sophia explica que a vida sedesenvolve no interior dos doze sig-nos do zodíaco e que cada signo temum pólo positivo e um pólo negativo– o que totaliza doze vezes dois, ouseja, vinte e quatro campos de vida. Ohomem pode, se quiser, explorar essescampos e estudar seus múltiplosaspectos. Ele também pode chegar àconclusão de que esta é uma pesquisaestéril, pois estas regiões se encon-tram apartadas do mundo divino per-

feito. Esta tomada de consciência oconduz a um limite onde ele terá dedeixar para trás de si sua consciênciabiológica, no umbral do primeiro ver-dadeiro mistério: o incognoscível, oinacessível.

A perfeição divina existe no incog-noscível. O homem terrestre não podefazer a mínima idéia disso. Para ele,Deus é inimaginável. Geralmente eledá testemunho de um respeito silen-cioso diante deste mistério inconcebí-vel e incompreensível e mergulha emseu próprio mistério. Ele se limita aos24 campos de vida e a eles se dedicacomo se fossem seus ídolos. Comosair desta situação e se aproximar daperfeição divina?

Em primeiro lugar, é preciso ter umdesejo profundamente alicerçado dese tornar um verdadeiro ser humano.Neste desejo há algo da vida perfeita,algo que nos faz ver nosso estado cadavez mais claramente. Quanto maiseste desejo se manifestar em nós,melhor compreenderemos que jamaispoderemos elevar nossa personalidadeterrena a um estado de perfeição. Se,observando o mundo ao nosso redor enos examinando honestamente, acei-tarmos esta compreensão e tudo o queela implica, vivenciaremos uma liber-tação interior.

Uma alegria nos perpassa e dize-mos: Sim, Senhor, deixa-me diminuirsegundo a natureza. Mostra-me o ca-minho pelo qual meu ser verdadeiropossa crescer e minha alma se revestirde uma nova veste, tecida com subs-tância imperecível!

O significado de «ser verdadeira-mente perfeito» penetra pouco a pou-co na consciência. Algo começa a luzirnaquele que busca Deus; no entanto,seu ser terreno continua imperfeito.Ele percebe isto cada vez mais. Ele vêo Outro crescer nele, mas ele mesmonão é o Outro. Ao mesmo tempo queo Outro cresce, sua alegria interior seintensifica. Ele reconhece no Outroseu Mestre verdadeiro, sua forma ori-ginal. Na força deste novo nascimen-

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to, ele aprende a se entregar ao Outronele, a deixar para trás tudo o que édeste mundo.

Paulo escreve, na Epístola aos Fili-penses (3: 12-16):

Não que já tenha alcançado, ou queseja perfeito; mas prossigo para alcan-çar aquilo para o que fui tambémalcançado por Cristo Jesus. Irmãos,quanto a mim, não julgo que o hajaalcançado; mas uma coisa faço e é que,esquecendo-me das coisas que atrásficam, e avançando para as que estãodiante de mim, prossigo para o alvo,pelo prêmio da soberana vocação deDeus em Cristo Jesus.

Pelo que todos quanto já somos per-feitos sintamos isto mesmo; e se sentisalguma coisa de outra maneira, tam-bém Deus vo-lo revelará.

Mas, naquilo a que já chegamos, an-demos segundo a mesma regra, e sinta-mos o mesmo.

A arca de luz vai ao encontrodo sol nascenteatravés do mar vermelho das paixões do sangue.IlustraçãoPentagrama

«O coração do universo bate emvosso peito: eu sou Aquele. Elegoverna os mundos a partir docentro absoluto. Ele é Brahma,Atman, o guia oculto, o Imortal.Aquele que contempla a verda-deira essência de Brahma, na luzde sua alma, o reconhece. Ele é aeternidade. Este homem se liber-ta, então, de todas as cadeias.»(Upanishad)

humanidade já não é conscientedo centro eterno do universo. Por is-so, toda curva ascendente, após ter al-cançado um apogeu, inicia uma desci-da. As civilizações se sucedem. Mas a-quele que volta a ser consciente docentro espiritual em seu coração e lhe

consagra sua vida encontra-se no eter-no presente e já não é submetido aoconstrangimento do «subir, brilhar,descer». Seu pensamento está focadono Sol espiritual micro-macrocósmi-co. Sua consciência renovada abarca otodo. Uma espiral de energia liga ocentro microcósmico ao centro ma-crocósmico. É uma tríplice correntede luz, de amor e de vida formada pelaluz da consciência, do desejo de uni-dade e da força de ação.

No centro do macrocosmo, o Solespiritual irradia em todo o universo.No centro do microcosmo, a cente-lha do espírito irradia no sistema es-férico de energia sutil do homem. Es-se princípio espiritual correspondeao coração. Desde sempre, as escolasgnósticas ensinaram que as inumerá-veis centelhas do espírito são môna-das provenientes do Sol espiritual.Os microcosmos divinos caíram nouniverso material para adquirir expe-riências e participar de ondas de vidamenos evoluídas. No decorrer desseêxodo, alguns perderam a lembrançade sua origem espiritual e mergulha-ram no sono do esquecimento. Ou-tros, cuja mônada já está desperta,têm por encargo salvá-los. A mitolo-gia e a arte gregas evocaram a sendado despertar de diversas maneiras.Nos mistérios de Elêusis, deusas ofe-recem aos homens uma espiga de tri-go, símbolo do caminho da iniciação.O grão de trigo representa a almaque, abandonada na escuridão daterra, aí germina e cresce até a matu-ridade. A semente brota, abre passa-gem no solo e aponta sua haste para aluz. Outros deuses são representadospor uma pomba, símbolo do vôo daalma.

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Caniços entrelaçados nojardim de SelmaLagerlöfs emMarbaka, Suécia.Foto Pentagrama

O novo pensar abarca o universo

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A queda dos ídolos

A humanidade está exposta a novasradiações que a obrigam novamente aquestionar suas imagens mentais habi-tuais. A visão cristalizada do mundode cada povo está abalada, o que pro-voca muita ansiedade, incerteza e vio-lência. Os esquemas comportamentaistão arraigados vêm à tona. As autori-dades são contestadas e os ídolos ca-em. Em todos os domínios, religioso,

científico, político, artístico, ético,etc., as estruturas esclerosadas, a ce-gueira, a exploração, a escravidão dasconsciências, a loucura do poder, sãodesmascaradas: um desnudamentonada bonito de se ver. Todos os esfor-ços são feitos para «livrar a cara» eesconder a miséria que se revela. Con-seguimos manter as coisas durante umcerto tempo, mas os andaimes acabamcaindo.

O germe do novo pensar rompeatravés do caos. Muitos homens,

O Empíreo.Na forma de

uma rosa branca

me apareceu a

falange de santos

que o Cristo

desposou em seu

sangue.

A Divina Comédia,

O Paraíso,

XXXI, 1-3,Dante.

mundo afora, já se preparam para asexigências das novas radiações, reso-lutamente voltados para o Sol espiri-tual central, graças ao seu discerni-mento e ao puro desejo oriundo dogerme divino em seus corações. Asnovas radiações vertem éteres querompem suas barreiras mentais e psí-quicas a partir do interior. Se partici-pam do processo em total entrega,tornam-se conscientes da condiçãomiserável da alma acorrentada a umapersonalidade terrena e, alcançandouma consciência mais elevada, colabo-ram com o plano da Criação.

O arrogante faetonte perdeu ocontrole do carro celeste

Em contrapartida, a decadência es-preita muitas pessoas que não estão su-ficientemente conscientes, que são malorientadas e não estão ainda em condi-ção de submeter sua vontade à vonta-de divina da Gnosis. Seu egocentrismoe sua vontade autoritária são a causa deaberrações psíquicas, de comporta-mentos errôneos, de loucura, de enve-nenamento do sangue, de doenças e decaos. É uma tragédia mundial que tocaem primeiro lugar as jovens gerações;elas querem romper as ligações com oque é antigo, mas não sabem como

fazê-lo. Muitas vezes esses jovens quetêm sede de coisas novas acabamobumbrados e explorados.

Há, portanto, por um lado, umareação de despertar da centelha espiri-tual e, por outro lado, uma incompre-ensão do que isso representa, incom-preensão essa que faz perder o contro-le do carro solar. Este acontecimentotrágico é evocado no mito grego deFaetonte, filho do deus solar Hélio.Faetonte quis conduzir sozinho o car-ro solar. Mas não sabendo como fazê-lo, foi incapaz de dominar os quatrocorcéis alados – os poderes do pensar,do sentir, do querer e do agir – porquenão soube confiar as rédeas a seu pró-prio centro espiritual. O carro solardisparou, Faetonte foi queimado eprecipitado no vazio. Cada período detransição é acompanhado de uma cri-se. Uma grande parte da humanidadenão está pronta para compreendernem para aceitar as novas orientações.Muitos seres nada conhecem do cami-nho que se abre diante deles e por issose enganam facilmente.

O filho do rei traz de volta a pérola

As próximas gerações aproveitarãoas lições de suas amargas experiências.

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Corpo Físico Corpo Vital Corpo de Desejo Faculdade do PensamentoHomem Homem Homem Homem

PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO

primário secundário secundário primário primário secundário secundário primário

secundário primário primário secundário secundário primário primário secundário PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO PÓLO POSITIVO - PÓLO NEGATIVO

Mulher Mulher Mulher MulherCorpo Físico Corpo Vital Corpo de Desejo Faculdade do Pensamento

ESQUEMA DA DUPLA UNIDADE CÓSMICA HOMEM-MULHER

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Nas próximas décadas e séculos, no-vos homens, homens renovados se-gundo sua alma imortal, guiarão a hu-manidade. Inflamados e guiados pelocoração irradiante do Sol macrocós-mico, eles receberão a sabedoria ne-cessária para recolocar a humanidadeno bom caminho.

Esses homens, à escuta da Gnosismanifestada em seus corações, agirãosegundo suas diretrizes. A realizaçãode sua própria renovação interior osautorizará a subscrever as palavras deCristo: O Pai e eu somos um e Euestou no Pai, e Ele está em mim.

O verbo vivente emanado do reinodo Espírito é uma realidade absoluta.O Logos, a razão onipresente, se reve-la ao buscador da verdade. Ele nãoprecisa mais pesquisar nos livros oureceber os dogmas dos outros: a ver-dade flameja no centro de seu micro-cosmo. Ele tem nas mãos a pérola pre-ciosa, assim como o filho do rei nomito maniqueu que arranca a péroladas garras do dragão e a traz de voltaao reino de seus pais. Na linguagem daGnosis moderna, é a rosa do coraçãodesabrochada que o peregrino traz devolta com ele.

O mistério da Rosa

A Rosa é o símbolo do Sol espiri-tual, no macrocosmo e no microcos-mo. No desenlace da Divina Comé-dia, Dante descreve a rosa de luz cós-mica. Aquele que, em total entrega deseu eu, toma consciência das ligaçõesque existem entre seu ser mais profun-do e o núcleo da Criação, e que age se-gundo esta consciência, conhece a li-berdade, a paz e a alegria. Este estadode alma já não tem nada a ver com osvalores presos a essas palavras. Eleultrapassa toda a compreensão huma-na. Eis o milagre da consciência uni-versal, o milagre da Rosa.

Manas, o homem verdadeiro, pensa,sente e age segundo a consciência uni-

versal. Ele se parece com uma rosairradiante, cujas pétalas desabrochamem espiral ao redor do cálice. Nessesistema solar diminuto, os sete chacrasorientados para o Espírito e as dozenovas propriedades podem cumprirsua tarefa. O centro do cálice simboli-za o coração solar do macrocosmo, o

Nü Wa, criadorda raça humanae Fu Xi,fundador da civilização.Cultural RelicsPublishingHouse, Pequim.

Pai, que quer se revelar em todos osmicrocosmos, seus filhos.

Aquele que recebe o Verbo, o Lo-gos, do coração solar de luz pura, e airradia, come o pão da Vida e bebe ovinho do Espírito. Ele disso participa.O centro do microcosmo é uno com ocoração solar e pode dizer: Eu sou opão da vida, eu sou a cepa, sem mimnada podeis. Quem se volta para seucoração e entrega seu eu, consciente-mente, aproxima-se da finalidade dacriação. A faculdade do pensar, imper-feita e transitória, dissolve-se, substi-tuída pelo pensamento universal. Oantigo é consumido no eterno novoque está no centro.

A nova era exige sacrifícios

O ser que se esforça por liberar emsi o princípio espiritual, que trabalhapara a restauração de seu microcosmo,deve possuir o conhecimento apro-priado para essa realização. Quantaspessoas não esperam, conscientementeou não, que o princípio divino se in-flame neles! A finalidade de toda ver-dadeira religião é alimentar esse dese-jo com uma sabedoria pura, hauridade um ensinamento que a torne com-preensível e aceitável. Através dos sé-culos a sabedoria vivente foi freqüen-temente deformada até se tornar umconjunto de dogmas cristalizados e in-digestos. É por esse motivo que o bus-cador da única verdade dá as costas àsreligiões dogmáticas.

Muitos seres tornaram-se aptos adescobrir a verdade em si mesmos.Eles tocam o mistério do verdadeirovir-a-ser humano e essa experiência éparte integrante de sua vida cotidiana.O processo de libertação interior fezsurgir neles novos poderes, permitin-do-lhes auxiliar os outros.

As escolas dos mistérios sempre au-xiliaram a humanidade. As fraternida-des gnósticas têm por única meta per-

mitir que a humanidade alcance umnível de consciência mais elevado. Acabeça e o coração que se oferecem àLuz formam um cálice límpido comocristal: o Graal. Essa taça recebe a puraenergia oriunda do coração solar e suaradiação é um auxílio para todos osque buscam. Aquele que faz renascerem si mesmo Manas, o pensador puro,só sente gratidão e alegria. Ele sabeque o centro de seu microcosmo tor-nou-se uno com o centro do macro-cosmo.

Vede, todo o antigo desapareceu,tudo se tornou novo!, exclama Paulo, opioneiro.

Eis o chamado da Gnosis para a no-va era, o tempo da renovação do mun-do e da humanidade.

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Por que Deus deixa isso acontecer?

Toda vez que acontece uma catás-trofe, ouvimos a mesma pergunta:Por que Deus deixa isso acontecer?E os ateus, sarcásticos, dizem: Co-mo vocês aceitam um Deus quetolera essas coisas? E os fanáticosclamam: É a vontade de Deus!

ssas observações ecoam no mundotodo, na tonalidade própria de cadacultura. Em muitos países entra-se naigreja andando de costas. Na Holanda,por exemplo, os edifícios religiosossão transformados em prédios e emcentros comerciais porque os fiéis nãoasseguram mais a sua manutenção... aigreja, para eles, já não significa grandecoisa. Outros se voltam para as crençasde seus ancestrais tentando restauraros valores e preceitos esquecidos.Assim gira a roda, acionada por umlado pelo comportamento individua-lista e isolacionista e, por outro, impe-lida por um fundamentalismo queanuncia o declínio de uma sociedade.

Podemos, assim, nos perguntar: porque Deus deixa que proliferem asarmas nucleares e biológicas, capazesde erradicar toda a vida sobre a face daterra? Por que Ele deixa o homemdestruir seus semelhantes com umainconcebível crueldade mental e físi-ca? Quem é esse homem que se per-mite fazer coisas como essas? Quem éesse Deus que lhe dá carta branca? OCriador poderia pelo menos ter postoem funcionamento outras leis, instau-rado limites tornando impossível, porexemplo, a fabricação de armas atômi-cas, os testes nucleares e os desastresprovocados pelos reatores nucleares.

Todas essas perguntas pressupõema existência de um Todo Poderosodivino, de um Deus que domina todasas coisas. Mas por que esse Deus teriacriado um mundo tão imperfeito?Essa pergunta é da mais alta impor-tância. Ela mostra que aquele que a fazrecusa o curso dos acontecimentos,que ele já não quer aceitar que algo lheseja imposto de cima, que se revolta

Os livros de história quase que só testemunham da cobiça e avidezassassina do homem. Os rastros de sangue vermelho escuro provam que o desenvolvimento dahumanidade ocorre em altos e bai-xos e jamais ultrapassa um certonível. E, contudo... encontramos, àsvezes, vestígios de civilizações ondenão prevaleceram a glória, nem opoder, nem a sede de posse, mas aamizade, a estima mútua, o amor e

uma unidade sem constrangimento.Descobertas como essas nos surpreendem. Países de lendas, sem dúvida, que são o assunto derelatos palpitantes. Sim, reagimosdesse modo porque a consciência de hoje não pode corresponder anormas verdadeiramente mais elevadas. Todos os valores, estabe-lecidos a partir da consciência biológica, são exercidos sempre emdetrimento dos valores de outrem.

E

contra as potências superiores, quequer encontrar seu próprio caminho edesprender-se do mundo e de seudomínio.

Todas essas perguntas – até as dosateus! – provêm da idéia de que algo,ou alguém, criou o mundo. É o mun-do a obra de um Deus todo poderoso?Ou então o princípio do bem e do malé uma criação do cérebro humano?Podemos dizer que é Deus que forçaos homens a desenvolver as armas nu-cleares, a se matar mutuamente nasmais atrozes guerras, a macular seupróprio ninho? Talvez seja preciso nosaprofundarmos um pouco mais noassunto e nos perguntarmos quem éDeus. É ele um deus pessoal ou um

deus coletivo, zelando pelos interessesindividuais ou coletivos? Um deus na-cional ou um deus racial? Não seriaele um ser criado pelos próprios ho-mens, como um ideal a ser alcançado?Um deus que abençoa as armas dosdois campos... como na SegundaGuerra Mundial?

O Todo Poderoso, isto é, o podersuperior a todo outro poder, a todaoutra força, dá às criaturas a liberdadede explorar seu caminho na Criação, aliberdade de ter experiências, de que-rer o bem e de também cometer erros,de se servir da Criação dentro de umcerto limite. As religiões mundiaisapareceram em reação a utilizações er-rôneas e descrevem com palavras in-flamadas como despencamos diretono inferno. Cristãos, budistas, hindu-ístas, muçulmanos – só para citar al-guns – têm, sobre isso, cada um, a suateoria, apropriada às circunstânciasnacionais e locais.

Teria Deus criado algo com umaimperfeição qualquer? Por que as pes-soas se apóiam nessa idéia? Porquesua própria imperfeição os impede demedir a amplitude da Criação divina.O cosmo, do qual faz parte o planetaTerra, é uma perfeita escola para a hu-manidade. No interior dele, o homemcriou seu próprio mundo. O que ve-mos não é o mundo criado por Deus,mas um mundo que procede do extra-vio do homem que esqueceu Deus.Também não podemos considerar ohomem em sua infinita diversidade,como Manas, o homem original pen-sante, almejado por Deus, mas comouma forma animal na qual se manifes-ta – no melhor dos casos – um princí-pio nobre originário do reino dos

Os neurologistas americanosAndrew Newberg e Eugened’Aquili constataram, em monges consagrados à meditação e à oração, que certas partes de seu cérebro se enfraqueciam,especialmente aquela que permitea localização espacial.

céus. O homem moderno é o ocupan-te de um microcosmo danificado emaculado.

Do homem original só restou umasemente divina, tão encapsulada namatéria que sua reintegração, de for-ma autônoma, é impossível. É por issoque a Fonte divina emite uma radiaçãoque chama para a redenção e mostra ocaminho de retorno para ela. A finali-dade de sua odisséia está gravada naimagem da humanidade atual.

Pouco tempo após o mergulho namatéria, o homem ainda dispunha deuma parte de seus poderes divinos.Graças a eles, edificou o mundo noqual devia viver. Mas, à medida que seafastava mais, ele perdeu seus poderes.Em seu lugar, ele dispunha de poderestotalmente harmonizados com osquatro elementos da natureza, com oauxílio dos quais construiu o mundocomo ele é hoje. Portanto, não foiDeus que formou este mundo. Pelocontrário: o Criador determinou os

princípios de funcionamento da esco-la da humanidade, mas foi a própriahumanidade, com seus dirigentes, queformou o mundo atual. É por isso queos gnósticos falam de duas ordens denatureza: a natureza original e a natu-reza espaço-temporal.

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O professor A. H. de Hartog, brilhante teólogo holandês (1869-1938), por ocasião de cuja morte osjornais deram como manchete «um grande holandêsse foi», escrevia em 1931 n’O sentido da vida:Aqueles que se queixam, que acusam Deus e oshomens pela destruição mundial que começou nestesúltimos anos, a esses compete, em primeiríssimolugar, analisar a si mesmos e se perguntar se manifestaram ou irradiaram, em especial ao seuredor, o que era necessário. Infelizmente, nós nosconsideramos reformadores e nosso próprio mundofornece a prova de que ele ainda é uma ilusão! Escutar a queixa do mundo é mais fácil e menosdesagradável do que trazer um copo d’água paraaquele que tem sede. Quando éramos meninos, aexperiência nos ensinou que nossos enternecimentosnos propiciavam alegria ou tristeza, ao ouvir mugiruma vaca nos campos, miar um gato preso, gritaruma criança na rua. O universo não era senão umespetáculo, até que distinguíssemos aqueles que gritavam: nossa avó pede ajuda, é preciso mudar acama de um doente, ou então é preciso silenciar esse surto de mau humor. Ocorre o mesmo quandonos queixamos da guerra: acusamos os povos, os dirigentes, os homens de negócios e os políticos, masentregues ao nosso ressentimento, não vemos a guerra que prolifera, que se propaga como um câncer,até que cante o galo de nossos soberanos interesses no círculo restrito de nosso prédio, castelo, lugar detrabalho, escritório, sala de aula, hospital, etc...

Como essas palavras são atuais!

O que ocorre no exterior é umreflexo do interior

A verdadeira pergunta que devería-mos fazer antes de tudo é: Por que ohomem afastou-se tanto de sua ori-gem? Inúmeras organizações humani-tárias e religiosas tentam amenizar osefeitos desse extravio. Mas parece queisso não funciona. Cada uma dessasmedidas de ajuda é acompanhada deobservações como: Isso é a conseqüên-cia daquilo... Devemos atacar o malpela raiz. Mas, onde se encontra araiz? Não começou tudo por termosesquecido Deus? Pela tomada depoder do eu? É claro que sim! E estaraiz está escondida também no cora-ção do homem. O que ocorre no exte-rior é um reflexo do interior. E, a cadabatida do coração, o germe divinochama: «Eu sou o caminho, a verdadee a vida». Para muitos, o clamor dos

acontecimentos mundiais encobre ochamado que vem de seu coração.Outros reagem com violência, se afas-tam de seu criador e o acusam. Quan-do o que está em jogo atualmente é tãoimportante! Não há mais tempo de sefazer perguntas e de se lamentar. Épreciso levar ajuda aonde for possível.Assim, a porta do coração que ouveressoar o chamado da Vida divina seabre. Em verdade, a cada batimento!

É a atitude que faz pender a balan-ça: ouvir e reagir ao chamado divinovindo do interior. Refletir filosofica-mente sobre a queda devida ao pecadoe suas conseqüências não fará o ho-mem avançar um passo sequer. Ele seemaranha cada vez mais na imperfei-ção do mundo. Gautama, o Buda,comparava «o homem envenenadopela toxicidade do pecado a um ho-mem atravessado por uma flecha. Fe-bril, ele se faz perguntas: De ondeprovém a flecha? De que veneno elaestá impregnada? Absorto em seuspensamentos, ele falece. Se tivesse ti-rado a flecha de seu corpo imediata-mente, poderia ter sobrevivido».

Bênção das

armas,

Caricatura deAlbert Hahn(1877-1918).

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O centro único do microcosmo e do macrocosmo«Nesse dia, sabereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós» (João, 14:20).

Cada vez mais pessoas percebemque suas vidas não estão alicerça-das em um princípio fundamental.Elas se sentem presas a critérios rí-gidos, religiosos e filosóficos, assimcomo a uma certa ordem mundial,que determinam seus pensamentos,sentimentos e ações. A falta de bri-lho do mundo das aparências emque se passa sua vida cotidiana éinsuportável. Afinal, o que é essen-cial e qual é o fundamento de suasexistências?

las acabam se perguntando qual se-ria realmente o lugar delas neste palcoterreno em que continuamente sur-gem atores com comportamentosmultimilenares. Elas vêem que fazmuito tempo que cada um representaum papel e que todos contribuem paraa tragédia mundial que se desenha ca-da vez mais nitidamente. Muitos ficamdesesperados e se refugiam em novasilusões como a droga, a utopia, o vir-tual, o esoterismo, ou até mesmo emum cinismo decadente. Mas ninguémpode escapar das leis do cosmo, e me-nos ainda evitar o confronto com aforça inquietante e desconhecida quetoca e agita o ser por inteiro, essa For-ça pura e inviolável que provém daFonte primordial da vida e que desejase manifestar nos seres humanos. Maseles fogem dela! No entanto, a lei es-piritual do Cristo cósmico flameja pa-ra esclarecer-lhes que: Eu e o Pai so-mos Um.

Com ironia e sarcasmo, o intelectose entrincheira num mundo de pensa-mento materialista. Mas o coraçãoaprisionado fica com medo e se torna

cada vez mais nervoso quando descon-fia que a Força original grita «Pare!» atodos os que, na terra, possuem umdesejo desvairado por experimentação.

Entre as pessoas que vivem esse con-flito interior, um número cada vezmaior tem a capacidade de dar umaolhada nos bastidores. Assim, elasobservam e vivenciam que a vida coti-diana não passa de aparência e que cer-tos fenômenos mantêm sistematica-mente a ilusão deste mundo. É poressas razões que elas tentam romper avelha carapaça que as aprisiona, nãosomente com sua inteligência, mas tam-bém com os poderes de que dispõem.

Assim como os pintainhos rompema casca do ovo, elas querem romper aimagem rígida que geralmente se temdo ego. Se este fenômeno acontecesseem grande escala, a humanidade pode-ria fazer nascer uma nova consciência– nova porque mais profunda. Os fru-tos de inúmeras experiências enrique-cedoras amadurecem o homem. Du-rante muito tempo a coerção dos sis-temas baseados no exterior das coisaspreservou o princípio espiritual cen-tral, porém isolou-o da realidade queagora se manifesta com força. O ver-dadeiro fundamento da vida, a Forçaque liga o centro do macrocosmo aocentro do microcosmo, deve ser libe-rada. A alma divina deve despertar pa-ra nos fazer empreender um processode purificação e renovação, para nosincitar a nos tornarmos homens novose para nos impulsionar para o nasci-mento do verdadeiro homem espiri-tual. A lei espiritual superior: O Pai eeu somos Um revela-se e coloca suasexigências para a humanidade extra-viada.

E

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Desejo de restabelecer o verdadeiro fundamento da vida

O drama da humanidade não temsolução. Mas, quando o desejo de en-contrar o verdadeiro fundamento davida provocar golpes de aríete queracham a parede da prisão, a angústiacomeçará a desaparecer. Quando nostornamos conscientes de nossas fra-quezas, de nossas ações erradas e denossas próprias mistificações, estamosarrancando velhas máscaras. Apesardisso, as paredes de nossa prisão sãomais sólidas do que pensamos. Quemconstruiu e reforçou estas paredes foio próprio «anjo decaído», o microcos-mo apartado do Pai! No entanto, secompreendermos que é preciso ani-quilar o «eu sou» para poder libertar aalma original, virá uma Força dinâmi-ca para sustentar o trabalho do livre-construtor. Tornar-se consciente é de-molir o que é velho quando ele já nãotem nenhuma serventia para o homemrenovado. No entanto, o entulho e osescombros da demolição obstruempor muito tempo ainda a visão dobuscador. Ele ainda espera algumacoisa que venha de fora, por mais queo objeto de seu desejo somente possase revelar interiormente. O novo pe-queno lampejo que penetra em algu-mas circunstâncias favoráveis é rapi-damente desviado pelo intelecto emseu próprio proveito, ou falsamenteinterpretado pelo coração, ou seja, demodo místico.

O desejo deve inflamar-se a partirdo núcleo espiritual do microcosmo.Esta fome não pode ser saciada com«pedras» do mundo do ego, mas so-mente pelo pão da Verdade, a Forçacrística que emana do silêncio. À me-dida que o buscador se torna cons-ciente das ilusões de sua mentalidade ede sua emotividade, as paredes de suaprisão começam a ceder. Elas vão fi-cando transparentes até formarem co-mo que uma urna de vidro onde a no-va alma, desperta, abre os olhos.

Mas esse estado ainda não foialcançado. O livre-construtor de quefalamos descobre, para seu grandeespanto, que ele somente adorava ído-los: seu status social, seus dogmas,suas idéias e preconceitos duros comoferro. Ora, estas ilusões se opõem di-retamente ao Espírito central que cria,organiza e retifica tudo! O Espírito domacrocosmo se reflete em todos osmicrocosmos. Estes pertencem a ele,respiram e vivem no mesmo ambienteespiritual, ambiente cujo desejo vivifi-ca os microcosmos e os leva a restabe-lecer sua ligação com o Espírito, seeles dele se desviaram.

O buscador se torna conscientede seu centro espiritual

A consciência do núcleo espiritualde nosso ser constitui a base sobre aqual podemos alicerçar nossa vida.Portanto, é este centro que deve serdespertado, pois somente ele podeestimular a vida pura e verdadeira. OReino de Deus está dentro de vós!Como pudemos nos esquecer disso?

Quem não tem consciência da pre-sença desta centelha espiritual, destarosa do coração, como a chama aRosacruz Áurea, bate inutilmente con-tra as paredes da prisão. Ou então, flu-tua como um astronauta, girando emcírculos, à deriva, e, persuadido de quejá chegou, empreende uma viagem queo afasta do ponto onde brilhava para eleo único lampejo de esperança! Entãoele se perde no labirinto do universoque ele mesmo criou para si. É por essarazão que a fé que vem do Pai, a espe-rança que vem do Filho e o amor quevem do Espírito vivificante devemguiá-lo em seu caminho interior. Semestas três forças, ele não poderá dar nemsequer um passo, mesmo que pareça teratingido alturas incomensuráveis. Estasforças no labirinto aural mostram asenda que faz chegar ao coração doTodo. Eu sou o caminho, a verdade e a

O irrompimento do sol áureo.IlustraçãoPentagrama

Os aspectos opostos doespaço e dotempo são evidentes.Theworks of JacobBoehme, the teutonic philoso-pher,WilliamLaw, 1764.

2Decorações,Extraídas de Thedecorative

Ilustrations of

books de WalterCrane, 1896.

vida (João, 14:6), diz Cristo, o media-dor universal entre o coração domacrocosmo e o coração do microcos-mo. Mani diz: Todos os santificadosrepousam, concêntricos no Uno. Nomomento em que alguém percebe seucentro espiritual básico e o vivenciainteriormente, liga-se novamente atodas as outras centelhas espirituais.Estes centros formam uma unidade esomente o «eu» se afasta e não participadela. O Filho e o Pai, o microcosmo e omacrocosmo divinos, são unos segundoseu núcleo espiritual. Da mesma forma,o núcleo espiritual daquele que se liber-ta das prisões que ele mesmo forjou, emprincípio, se torna novamente uno como seu núcleo espiritual.

Pioneiros tornam a humanidadeconsciente do núcleo espiritualcentral

O desejo de libertação interior e osatos que daí decorrem vivificam poucoa pouco o núcleo espiritual do ser.Assim, logo parece que a «terra» emque esta semente fundamental se en-contra é capaz de satisfazer as condi-ções exigidas. O alento da Gnosis, aágua viva da substância primordial e a

luz do sol espiritual que penetram nes-sa semente, alimentam-na e irradiamsobre ela, fazem-na germinar: assimfloresce uma rosa de sete pétalas.

O candidato que está na senda dalibertação interior vive todas as fasesdeste maravilhoso processo alquímicoe colabora com ele cada vez mais cons-cientemente. Muitas vezes ele cairá,mas também a cada vez se levantará! Aperseverança exige coragem e com-preensão, pois não se trata de um pro-cesso que se desenvolve durante umpequeno momento de liberdade: ele élongo e às vezes penoso, se bem quealgum tempo pode passar antes quesurja qualquer resultado. Mas o pio-neiro que está a caminho não se deixaabater e continua voltado para a Forçacrística que o libertará. Quando mui-tos seguem este processo e se reúnem,então constituem um grupo de pionei-ros capazes de auxiliar a humanidade.Eles constroem juntos a ponte que levaà formação da nova consciência: aponte que permite que inúmeros bus-cadores atinjam a meta. Eles interpe-lam seus semelhantes, dizendo: Acor-dem e vivenciem isto vocês mesmos! Omacrocosmo e seu microcosmo têm omesmo centro! A luz não está fora, massim dentro de vocês. O núcleo espiri-tual de seus corações está tentando seligar à fonte de onde ele provém.

Assim, o grupo de pioneiros contri-bui para abrir o caminho para a Fra-ternidade Universal que prepara a hu-manidade para entrar na nova era. Acrescente intensidade das radiações daatmosfera estimula a compreensão in-terior. A lei espiritual que diz: Eu e oPai somos Um, deverá ser reconhecidapelo coração. E a força do sol espiri-tual dinamiza o coração e a cabeça pre-parando-os para a nova consciência.

O perigo da estagnação

A experiência demonstra que mui-tas vezes não falta compreensão, mas

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que esta compreensão não é seguidada realização do que foi reconhecido,nem da aceitação de suas conseqüên-cias. Como este processo sutil podeestagnar facilmente! Como o busca-dor cai novamente, com facilidade, emantigos mecanismos! A cabeça foge dasabedoria do coração e forja para sinovas representações mentais. Assim,a inteligência pode conceber que seupróprio sistema cósmico esteja basea-do na unidade do macrocosmo e domicrocosmo. É possível estudar deforma unicamente intelectual a idéiada transfiguração que é ilustrada pelametamorfose da lagarta e da borbole-ta, sem realmente vivenciá-la. Dessemodo, podemos estagnar na sendasem utilizar as imensas possibilidadesconcretas desta lei cósmica.

Durante dois mil anos, o mistérioteológico do Cristo foi abordado demaneira dogmática e projetado para oexterior do ser humano: assim, nãopermitiu que ele abrisse as fontes espi-rituais de seu próprio coração.

Três auxílios criam novas possibilidades

Voltemos ao ponto de partida. Aprisão do ego reveste o homem comtrevas e matéria grosseira. Esta «cara-paça», que os maniqueus chamavamde «hilo», o mergulha na escuridão ena matéria densa. Agora, se o egoaprender a se ofertar ao núcleo espiri-tual de seu coração, e harmonizar comele seus pensamentos, seus sentimen-tos e suas ações, esta carapaça se tor-nará cada vez mais transparente, e airradiação deste foco espiritual abriráum caminho para organizar progressi-vamente o microcosmo inteiro.

O homem biológico pode colaborarcom este processo evitando interferircom o ego, e submetendo ao princípioque floresce seu coração, sua cabeça esuas mãos.

Também podemos chamar estes três

núcleos de amor, luz e vida. Com rela-ção aos três «novos» planetas dos mis-térios, Urano, Netuno e Plutão, quefazem sentir sua influência para ajudara humanidade a atravessar o umbral danova era, trata-se de energias que per-tencem a uma espiral superior. Uranodemole o amor ilusório e leva ao amorpuro e onipresente do sol espiritual.Netuno desagrega as estruturas e osmodelos cristalizados das idéias edesenvolve pensamentos universaisnutridos pelo Sol espiritual. E Plutãodemole tudo o que o ego extraviadoconstruiu como imagens ilusórias, enos coloca diante da edificação de umnovo templo interior.

Estes três processos de decomposi-ção e de dissolução fazem morrer avelha consciência – e, do fogo destadesintegração interior, ressuscita, co-mo uma fênix, a nova consciência.

Branca de Neve, a princesa dos con-tos de fadas, jaz como morta em seucaixão de vidro, e, no momento emque regurgita a maçã envenenada,retorna à vida. Então ela vê o filho dorei. A Alma encontra o Espírito.

A construção do novo templo so-mente é possível quando deixamospara trás, no túmulo, a antiga consci-ência. O Amor, a Luz e a Vida, ou seja,o coração, a cabeça e as mãos que setornaram puros, colocam os alicercesdo novo templo de cristal de dozeportas, cada uma delas constituída pordoze pedras preciosas que simbolizamas aberturas pelas quais entra a irradia-ção do Sol Espiritual. Logo que istoseja alcançado, o sol e a lua terrestresjá não são necessários. A ligação entreo coração do macrocosmo e o domicrocosmo é restabelecida. O micro-cosmo, assim revivificado, pode entãoser comparado a «uma rosa de luz naárvore microcósmica».

Meus irmãos, eu recebi novamente aveste de luz e a coroa de luz nestemundo, mas não deste mundo, teste-munha o maniqueu, rejubilando.

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Quem deu forma ao vazio?

udo o que é visível é alimentado, in-fluenciado e dirigido pelas forças invi-síveis dos planos etéricos. Estas forças– irradiações – preenchem todo o es-paço. Nada pode nascer nem existirfora de sua atividade. A personalidadedepende também de forças que agemno espaço que a cerca. Este espaçocorresponde ao campo de respiração,que também é circundado pelo campoaural do microcosmo. Nele, atuamdoze forças eletromagnéticas prove-nientes do cosmo através do zodíaco.Na fronteira entre o campo aural e ocampo de respiração são estocados osresultados das encarnações anteriores.Sob a forma de pontos de energia, es-tes resultados constituirão a próximapersonalidade, com suas qualidades edefeitos.

A partir deste registro do carma in-dividual, o ser aural atrai as forças dasquais ele tem necessidade e rejeita asoutras. Estas forças que provêm docosmo entram pela pineal e são trans-mitidas aos doze pares de nervos cra-nianos. Desse modo, a personalidade éligada com o carma do microcosmo –mas não somente com ele.

As irradiações provenientes dosdoze signos do zodíaco também sãotingidas com o carma da humanida-de. Todos os sentimentos, pensamen-tos e ações dos seres humanos aí

Lao Tsé diz: «Não toqueis no vaso que estácheio». Vós o sabeis: esta é a chave. O filho deDeus possui uma taça transbordante, que é arosa de sete pétalas, o cálice em forma de lírio desete pétalas, a taça do Graal no coração. Ele éum filho de Deus porque possui este vaso sagra-do que representa o reino de Deus em nós: oátomo original encerra um universo; ele encerrao universo inteiro.

(J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri, DeChinese Gnosis, Haarlem, Rozekruis Pers, 1987)

«A essência é imaterial.

A essência é sem forma.

O cérebro físico pensante não pode

definir o que não tem forma.»

(Lao Tsé)

T

estão inscritos e influenciam a natu-reza das energias cósmicas iniciais.Assim se formaram poderosas con-centrações de energia que, por suavez, exercem sua influência sobre ahumanidade e modificam seu domí-nio natural.

As forças do zodíaco macrocósmi-co e microcósmico se derramam na pi-neal; o raio de ação do ser original ficalimitado, encapsulado, e finalmente éreduzido a um único átomo divino:nós o chamamos de último vestígio davida original divina. Ele constitui ocentro do microcosmo, como o eixo éo centro em torno do qual a roda gira.Este núcleo está adormecido, assimcomo a Branca de Neve e a Bela Ador-mecida são princípios adormecidos.

Trata-se de um princípio que dormeaté que o microcosmo tenha atraves-sado tantas encarnações e acumuladotantas experiências, na maioria mal su-cedidas, que a personalidade começa ase indagar para que serve a vida. Ouentão, como disse um dos persona-gens do autor americano Isaac Bashe-vics Singer: Quem inventou minhavida?

Quando este grito de desespero res-soa é porque o ínfimo átomo do cora-ção está dizendo algo. Ele emite umimpulso que a personalidade pertur-bada vivencia como algo provenientede uma outra realidade. Nesse instan-te decisivo produz-se uma abertura: éa possibilidade de experimentar essaoutra vida, não terrena, de perceber ao

A alma gêmea.Joseph Bofill

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menos um frágil lampejo dela. Istopode ser suficiente para exaltar a eter-na busca pela verdadeira Vida. Abriu-se uma brecha na carapaça que encap-sula o átomo, a centelha do coração, eo ser fica, com isso, completamentetranstornado. É uma grande comoção!A pessoa sente muito bem a pressãoque é exercida do interior, mas aindanão sabe que se trata do chamado daeternidade. Essa perturbação impul-siona o homem a buscar. Ele aspira àelevação, abre sua consciência, partepara a descoberta e fica muito felizquando descobre vestígios de sua bus-ca nas antigas civilizações. Ele viven-ciará isto muitas e muitas vezes, masserá como areia correndo entre seusdedos. Ele busca e luta até esgotar to-das as suas força e sua vida. Uma novachance lhe é oferecida e, vagindo noberço, ele vai recomeçar tudo. Destavez, ele está melhor armado, melhorpreparado, mais consciente e parte no-vamente para a aventura neste vastomundo, com a esperança de ser arreba-tado no mais profundo de seu ser. Eleruma para a direção certa porque com-preendeu que o vaso que procura, ovaso sobre o qual fala Lao Tsé, é elemesmo! Um vaso que somente temutilidade quando estiver vazio de tudoo que está acumulado e preenchido daforça eterna que o faz ressoar no tomcerto.

A necessidade da matéria

«Trinta raios convergem para o centro da roda.Eles convergem para a causa.Em resposta, o centro irradia. É assim que acontece com a alma humana.O centro das emoções a partir do qual nascem as ações.

O espaço entre os raios é a essência da roda.A manifestação da forma esconde a essência.A forma, como uma muralha, cria o espaço ao redor do vazio, como a canção toma forma quando a cantamos.

O vaso é feito de argila.Quem deu forma ao vazio?Quem extraiu um vaso da vacuidade?Como a tempestade nasce de um céu sereno?

Como preencher o vazio, criar a partir do vazio?Quem descobre este segredo desperta de seu sono.

Paredes, portas, janelas: eis a casa construída.Mas entre portas e janelas habita a essência.Tronco, cabeça, braços e pernas formam o corpo,mas qual é a força que os reúne?

A matéria diz ser uma necessidade,como o pensamento que, querendo explicar a si mesmo, expressa-se oralmente ou por escrito.

Assim, o caniço nos ensina a nos curvar.

A essência é imaterial.A essência é sem forma.O cérebro físico pensante não pode definir o que não tem forma.»

Tao, Consciência universal, paráfrase de C. van Dijk, capítulo 11.

O que é o pecado?

«Na pessoa de Jesus Cristo se mani-festa a realização total do princípiocrístico. Este princípio se opõe ao pe-cado. O pecado começa por apartaro homem de Deus, depois, de seupróximo, e termina por brunir as ar-mas de guerra dos povos. Ele consti-tui um processo de decomposição.Em contrapartida, o princípio crísti-co é aquele que dá vida ao espírito».

Prof. A.H.de Hartog (1869-1938)

homem original abandonou omundo da unidade e da harmonia eentrou no mundo da multiplicidadedos opostos. Ele abandonou o Paraísoe se rebaixou na matéria. Nos mitos,este acontecimento é denominado aqueda. O conceito de «pecado» signi-fica a separação da unidade original. Ohomem se torna pecador assim quecomeça a desenvolver o seu eu e, dessemodo, começa a se apartar da unidadeà qual ele pertencia até esse momento.Em decorrência disto, ele coloca seuspensamentos, seus sentimentos e suasações sob as leis da dualidade. Nestaregião do espaço e do tempo, tudo ésistematicamente demolido para pre-servá-lo de um maior endurecimento ecristalização. Ao desenvolver seu pró-prio egocentrismo, ele se torna umbuscador incansável.

Nos textos hebraicos, «pecar» tam-bém significa «carecer, não estar mais

disponível». Em certos textos gregos,fala-se de «errar o alvo, não atingir oponto». Esta falha ou defeito é o resul-tado do fato de estar voltado para o eu,que está na origem da vida humana nomundo dos opostos. O homem sempretem de escolher entre esses opostos. Ecada decisão tomada nesse estado de«apartado» somente pode ser imperfei-ta, dividida, exclusiva e, conseqüente-mente, pecadora do ponto de vista daeternidade. Não se pode reprovar o serhumano pois ele não pode agir de outramaneira: é a sua natureza. Quando elepensa em fazer o bem, chama justa-mente as forças opostas que ele tantoqueria evitar. As manifestações e ações

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O

Enciclopédia Britânica:Tanto para os cristãos como paraos judeus, o pecado é a oposiçãointencional à vontade de Deus.

Enciclopédia Brockhaus:Pecado é uma perturbação darelação entre Deus e o homem.

A definição humana do pecado,aqui representada em vários quadros, depende também da imagem cultural à qual ela é aplicada. Em sentido universal, opecado não está ligado a nenhumanorma relacionada a moralidade oumoral. Geralmente as pessoas asso-ciam o conceito de pecado à defini-ção de mal em vigor. Como o que ébom para uns é mau para outros, odesequilíbrio sempre fica maior eassim cresce a distância entre o serhumano e a Unidade original douniverso. O místico árabe Gunaidescrevia no século XIV: «Eu me per-guntava: onde está o meu pecado?E logo uma voz me respondeu: opecado é o que tu és e não há nadaque seja mais grave do que isto».

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«contra» um determinado mal geral-mente provocam o resultado oposto, enovas «falhas» acontecem. Assim, acada passo o homem peca e se distanciasempre mais da ordem divina. Mas co-mo sempre deseja encontrar soluçõespara os problemas, ele se torna cadavez mais sujeito a todos os tipos demisérias provocadas por ele mesmo, atal ponto que, finalmente, acaba pen-sando que precisa procurar a verdadei-ra porta de saída.

Assim, a vida no mundo dos opos-tos nunca pode ser vivida sem culpa,faltas e pecados. A desarmonia que avida cotidiana imprime na consciênciapode, por exemplo, se manifestar pormeio de doenças. Afinal, tudo o que oser humano empreender baseado emseu eu fará com que ele fique ligado àslimitações que a polaridade deste

mundo impõe. Da mesma forma, nãoquerer fazer algo, ou negligenciá-lo, éum comportamento que tem suasconseqüências. Este caminho é inevi-tável. Sob o ponto de vista da eterni-dade, o fato de pecar não é algumacoisa em relação à qual possamos cul-par outra pessoa. No entanto, o ho-mem-eu tem necessidade de se opor aseu próximo, de julgá-lo e até mesmode condená-lo. E é assim que, a partirda perspectiva humana, os conceitosde pecado, erro ou culpa estão ligadosà moral em vigor e à ética de umadeterminada cultura. O que é erro emum país pode ser um mérito em umoutro. Entretanto, os seres humanossão conduzidos por um plano supe-rior e eventualmente são corrigidospela lei imutável de causa e efeito.

O equilíbrio rompido poruma única gotad’água.Foto Pentagrama

Budismo:Os homens não são culpados, massim cegos e ignorantes. Eles pro-duzem sua própria infelicidade,com suas próprias ações.

Sabedoria universal:«A consciência do pecado consiste no fato de o homemespiritual verdadeiro tornar-se consciente de seu aprisionamento, tornar-se consciente de seu estadoatual». (Rijckenborgh, J. v, a Arquignosis egípcia, t.1,São Paulo, Lectorium Rosicrucianum, 1984).

Onde está a saída? Quem buscaverdadeiramente a saída, não comoum passatempo, ou porque poderiaser prazeroso e interessante, mas simpor pura necessidade interior, nadapode fazer a não ser mudar, passo apasso, sua maneira de ver. Ele reco-nhece que não tem nenhum sentidofugir jogando a culpa e a responsabili-dade em outra pessoa, nem no estadosocial, econômico ou político. Afinal,somente ele é responsável por tudo oque se passa dentro de seu microcos-mo! Finalmente, conseguirá ver queseu isolamento é o preço de uma exis-

tência egocêntrica que seu microcos-mo escolheu livremente.

A partir de todas estas considera-ções, concluímos que a vitória sobre opecado deve ser uma vitória sobre asforças opostas. O primeiro passo parasair das forças opostas aniquila tudo oque faz com que o homem seja umpecador. Uma religião que quer curaro homem do pecado deve não somen-te mostrar-lhe o caminho, mas tam-bém ir à sua frente no caminho que oconduzirá para onde já não existe maisseparação entre o homem e o divino.Vencer o pecado é vencer o egocen-trismo, que é a causa da separação, dadoença e da morte.

Os oito imortaisdo taoísmogozando da vidaeterna do paraíso de ouroverde.Gravura sobremadeira

O místico e poeta AngelusSilesius (1624-1677):«O homem pecador nada vê; quanto mais trabalha e corre, impulsionado por sua própria vontade, mais se entrega ao pecado».

Ensinamento crístico:Pecado é o estado daquele cuja comunhão com Deus foirompida. (Primeira EnciclopédiaSistemática Holandesa, ENSIE,1952).

Hinduísmo:Pecado é a transgressão intencio-nal da lei divina. O que o homemchama de pecado é a ignorância.

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A alquimia dos mistérios do Ocidente

Existem mistérios ocidentais? Acultura ocidental tem a reputaçãode ser desmistificante, de olhar comdistanciamento tudo que diz res-peito aos mistérios. O ocidental éum ser racional. Ele tenta, com suarazão, levantar o véu de tudo quetem um perfume de mistério, redu-zindo-o a uma fria exposição defatos comprováveis.

s gregos tinham os mistérios deElêusis e os mistérios órficos. Pitá-goras tinha sua escola de mistérios.Esses mistérios falam ainda a nossaimaginação porque se apóiam em ele-mentos mitológicos. Eles constituema base do pensamento ocidental quan-to à aplicação das idéias. O mito dacaverna de Platão, por exemplo, ésempre útil para descrever a situaçãodo homem. Ele ajuda a compreenderque o mundo que percebemos é ilusó-rio. O pensamento grego, todo im-pregnado desse conceito, nos mostra,ainda hoje, o que temos de realizarneste mundo. No passado remoto, ospensamentos indiano e egípcio já da-vam uma importância primordial aosconceitos de oposição e de ilusão.Desperto e atento, o ocidental, comseu senso prático, quer viver na reali-dade. Ele não deixa nada escapar. Apartir de Sócrates, e sobretudo desdeAristóteles, o homem escolheu pormestre a natureza, e seu espírito inde-pendente tomou amplitude na vida emsociedade. Os mistérios do Ocidentese relacionam com as forças gêmeasque fazem mover o mundo sensível,forças opostas umas às outras, positi-vas e negativas, dando impulso e rece-

bendo-o. Aquele que pode elevar-se,em sentido espiritual, acima destaoposição, se encontra no limiar dosmistérios ocidentais.

Um processo dinâmico de mudança interior

No século XVII, os antigos mis-térios tornaram-se novamente atuais,sendo novamente fundidos e adapta-dos ao europeu em mutação. Eles sãoconhecidos através d’As núpcias alquí-micas de Christian Rosenkreuz, umaobra de Johann Valentin Andreæ, es-crita em alemão e publicada em Kasselem 1616. Esses mistérios, contados emestilo floreado e feérico, provocaramuma enxurrada de publicações e dereações de oposição a seu caráter in-sondável. Esse «conto» pode ser con-siderado como a base dos mistériosocidentais dos tempos modernos.

As núpcias alquímicas de ChristianRosenkreuz não é exatamente umconto; é a descrição de um processodinâmico de mudança interior. O ca-ráter ocidental da obra é para que oprocesso seja tornado público, poisantes, jamais os mistérios foram dadossob forma escrita. A Bíblia, ela mes-ma, foi traduzida em linguagem popu-lar por Lutero. Antes disso, seu con-teúdo era privilégio daqueles que sa-biam o latim. O gênio ocidental é tam-bém assinalado pelo fato de que Asnúpcias alquímicas de Christian Ro-senkreuz são cristocêntricas; seu fun-damento é uma doutrina de salvaçãoabsolutamente crística que se exprimeno próprio nome do candidato às

O

núpcias alquímicas: Cristão Rosacruz.Enfim, a abordagem matemática e nu-mérica do processo de transmutação étambém, nessa época, tipicamente oci-dental.

O que é a alquimia dos mistérioscristãos ocidentais? De onde provéma misteriosa dinâmica das núpcias al-químicas? Antes de nos debruçarmossobre a questão, importa deixar de la-do o romanesco; por exemplo, não to-mar ao pé da letra a fabricação do ou-ro. Embora haja também notas con-cernentes à fabricação do ouro mate-rial, os rosacruzes do século XVII de-ram a compreender, sem rodeios, quesó há uma alquimia e que esta alqui-mia é o processo de fabricação do ou-ro espiritual, no qual a vida inferior,biológica, é transmutada numa vidaespiritual mais elevada.

Nem o bem nem o mal o corrompem

O ouro é o símbolo daquilo queexiste de mais puro e mais nobre sobrea terra. Sua estrutura é tal que, mesmocom a espessura de um décimo milési-mo de milímetro, ele não se rasga nemse rompe. Uma bolinha de um gramapode ser esticada até trinta e cincoquilômetros de comprimento. Dizemque o ouro é um metal nobre porqueele não se liga a outros metais e nãocede nenhuma de suas propriedades.Na natureza é muito raro encontrá-lomisturado.

Da mesma forma, o bem espiritualmais elevado é livre de toda impurezaterrestre. Nem o bem nem o mal hu-manos o corrompem. É o bem absolu-to. É o ouro espiritual. Só pode serfabricado depois que o bem e o malforam neutralizados. Nesse equilíbrioperfeito, o homem liberta-se dasamarras tecidas pela oposição do bem

e do mal. A fabricação do ouro, se-gundo os rosacruzes do século XVII,era um processo tirado da prática davida verdadeira, um processo detransmutação – uma alquimia – doinferior ao superior, do mais baixo aomais elevado.

A concepção moral do bem e domal não constitui uma base a partir daqual possamos dissolver sua oposição.É preciso, para isso, uma virtude, umaprática de vida, sem relação com a no-ção moral de «bem». Em nossa época,é somente nos mistérios ocidentaisque a cabeça e o coração podemaprender como satisfazer, juntos, essaexigência básica. O coração sozinhonão basta, e a cabeça sozinha, tambémnão. Para a humanidade que entrou nanova era, o desvendamento deste mis-tério pede o engajamento do inteiroser; portanto não unicamente pensa-mentos e sentimentos, mas tambématos que resultam do equilíbrio dosdois. Quando empreendemos esteprocesso em boas condições e com osmeios requeridos, começa a fabricaçãodo ouro espiritual. A cabeça, o pensa-mento, serve para compreender o queo novo desenvolvimento impõe; o co-ração é a porta pela qual passa o pro-cesso de renovação; o comportamentoque decorre disso é o próprio proces-so alquímico. Esta transformação étambém chamada transmutação, pri-meira condição da transfiguração. Fa-zemos, às vezes, a relação com os me-tais porque eles têm propriedades quecorrespondem às diferentes fases des-te processo.

Possuir a misteriosa virtude e praticá-la

O alvo da química espiritual, comoela é descrita na obra do século XVIIAs núpcias alquímicas de Christian

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Rosenkreuz, é o expulsar completodaquilo que é inútil e a fusão do que éútil de modo que a essência divinapossa se manifestar na «veste áurea denúpcias», também chamada a «túnicainconsútil»: é o veículo da alma renas-cida, constituído de energia não terre-na e que representa a base do desen-volvimento almejado por Deus.

Deste modo, o homem possui amisteriosa virtude e pode praticá-la,

todavia com a condição de que onúcleo da alma imperecível esteja pre-sente nele, pois é do núcleo que ele re-cebe a força, a Gnosis, que torna pos-sível o processo de renovação, queprepara a alma para a ligação com oBem mais elevado, para suas núpciascom o Espírito. A alma poderá, então,transmitir a força recebida para seussemelhantes e incluí-los no processode renovação que finalmente abarcará

O erudito

Gerard Dou,ca.1630, museuHermitage, SãoPetersburgo

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toda a criação, a qual não é estática,mas se renova a cada segundo, quer ohomem queira ou não seguir nestesentido, quer ele participe disso cons-cientemente ou não.

N’As núpcias alquímicas de Christi-an Rosenkreuz, o processo de renova-ção é descrito minuciosamente parapermitir, aos que querem, entrar e al-cançar o alvo: restabelecer a ligaçãocom o Espírito. É o mesmo caminhoque Hermes Trismegisto descreve nosmistérios egípcios a fim de preparar ahumanidade para sua nova evolução.Ele estabelece a seguinte condição pri-mordial: tudo receber, tudo dar, paratudo renovar.

O ouro material nos concerne atodos. O ouro espiritual também, nãopor causa de seu valor ou de seu bri-lho, mas por causa do amor divinoeterno, a Gnosis, que irradia deste ou-ro e faz nascer no coração do homemo desejo de um bem superior. É oAmor perfeito que está acima das nor-mas terrenas. O ouro, como o amor,testemunha da beleza. O Amor verda-deiro exprime e Beleza verdadeira epermite ao homem alcançar a vidasuperior.

O desejo de salvação é a base

Onde começa a fabricação doouro, segundo os mistérios do Oci-dente? O ponto de partida se encon-tra em um coração voltado para etotalmente harmonizado com a fontedo ouro espiritual. Na base existe odesejo de salvação, segundo a termi-nologia dos rosacruzes atuais, o dese-jo de cura. A transmutação dos me-tais só é possível a partir do momen-to em que este desejo entra em ativi-dade, a serviço da transformação daalma, para preparar o ser inteiro para

a transfiguração. E descobrimos aoficina da fabricação do ouro: é opróprio homem, em todos os aspec-tos, em seu sistema inteiro.

Basta desejar o ouro espiritual, oAmor divino, para percorrer esse ca-minho? Não, pois a alquimia dos mis-térios ocidentais necessita, além deuma base psicológica justa, uma sustentação fisiológica correta. É pre-ciso que o desejo de salvação sejaacompanhado de uma vontade incon-dicional para se submeter a esse pro-cesso revolucionário.

Neste processo, o sangue vai setransformar, assim como o fluido ner-voso, a consciência e as glândulas en-dócrinas, o que também determina oestado sangüíneo. O sangue, o fluidonervoso, a consciência e as glândulasendócrinas são fatores importantes natotalidade do processo. Aí começa apreparação para as núpcias alquímicas.

Sem mudança, sem renovação inte-rior, é impossível transformar o impu-ro – o chumbo, como o chamavam osalquimistas – em ouro. Eis o início daoferenda: renunciar ao que somos pa-ra dar lugar ao novo; sacrificar a eu-centralização em auto-rendição aoprocesso de renovação no qual o serterreno submergirá. Esta é a principalexigência.

E eis o problema do homem comtendência materialista: o que ele podee quer realmente abandonar? Ousarájogar-se nas profundezas, profunde-zas essas que não o atraem muito, por-que ele não tem nenhuma idéia do queo aguarda?

O filho de Deus de posse de um corpo com poder muito limitado

Até que ponto estamos dispostos aabandonar os antigos princípios? Isso

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depende muito da imagem que temosda liberdade. É preciso dar o salto: ohomem do século XXI deve escolher eaprender a sacrificar sua própria liber-dade tão valorizada em benefício da li-berdade de toda a humanidade.

O que fará o homem moderno, e emespecial o ocidental, acorrentado aomaterialismo? O que fará com a idéia

de que é um decaído filho de Deus deposse de um corpo com poder muitolimitado? No desmascaramento que oatual período traz, testemunhamos osucumbir de todas as imagens sacras e arejeição da imagem de Deus como pes-soa. O mais solene alicerce da obsoletacultura cristã deixa de existir. Isso não énovidade. Nos séculos passados, filó-

Assim como é em cima, assim éembaixo.Apolocom a sua lirasimboliza o equilíbrio perfeito dos elementos.MuseumHermeticum,Frankfurt, 1625.

sofos como Espinosa e Nietzsche jámostraram isso. Depois das atrocida-des da Segunda Guerra Mundial, nãoafirmaram Robinson, Primo Levi eDietrich Bonhoefer que Deus estavarealmente morto? Essas idéias e afirma-ções provocam grandes comoções.

O crente fiel tem dificuldade emadmitir um Deus universal que não

aceita de modo nenhum motivaçõespessoais, carreira, situação, fracassos,etc. Essa descoberta devolve a cada umsua própria responsabilidade pois ébem verdade que colhemos o que se-meamos! E se queremos nos compor-tar como animais, estamos livres. Mas,evidentemente, isso não é uma mani-festação do ouro do Espírito!

Então, nenhum deus dirige o uni-verso? Sim, é claro. É ele o deus doshindus ou o do islamismo? O dos ca-tólicos ou o dos protestantes? Ou en-tão o dos budistas, o dos xamãs... Se-gue uma lista infindável que preenche-ria páginas inteiras, pois cada um criaseu próprio deus – com ou sem a cola-boração dos que seguem a mesmameta. Mas qual é esse Deus, esse úni-co, esse Todo Poderoso que transcen-de tudo?

O ouro espiritual flui em torrentes

O buscador da verdade deve entrarem seu «aposento interior». Aexpressão vós sois deuses não diz res-peito à personalidade, mas ao núcleoáureo que se encontra no homem, onúcleo da vida superior. A veia áureadeve ser revelada a fim de liberar aForça, a Gnosis, que tece a vesteáurea das núpcias, para assegurar aherança do ouro espiritual e realizar agrande lei de Amor.

As novas condições atmosféricasde nossa época permitem ao busca-dor, mais que nunca, preparar, no seuinterior, o aposento para a festa dasnúpcias alquímicas de ChristianRosenkreuz. Os iconoclastas moder-nos desentocam tudo o que é tempo-ral, limitado e imperfeito. O perecívelé cada vez mais desmascarado, oimperecível se desvela. A pura ima-gem do homem original torna-se visí-

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O sangue doCristo alimenta a alma fechada no corpo e transforma as trevas em luz.Jacob Boehme,Theosophische

wercke,Amsterdam, 1682.

vel. Mas, também para aqueles quenovamente estão a caminho de reali-zá-la em seu ser, com toda humilda-de, modéstia, benevolência e serviça-bilidade, a humanidade consciente naalma e no espírito oferta a riquezainesgotável do processo dinâmico datransfiguração.

O novo homem não argumenta enão se deixa manipular. Ele vive darealidade superior insuflada nelepelo espírito de Deus. Ele testemu-nha d´Ele e aquele que o ouve sabeque se encontra diante de um CristãoRosacruz, de um ser que exploraconscientemente seu caminho espiri-tual. O Amor divino tocou-o nocoração e ele respondeu com um sin-cero «sim». Dessa forma, levando arosa a desabrochar no coração, elerecebe o conhecimento superiorindispensável ao processo de renova-ção interior.

Atar a rosa à cruz significa fixar nosangue a Gnosis, a força crística inte-riormente liberada. Eis como se reali-za o processo de transmutação que li-bera o ouro do Espírito e o tornaativo.

O processo termina com um coroa-mento. O candidato voltou a ser umsacerdote-rei, porém não de um reinoterrestre. Seu reino é o reino do Amore dos tesouros incomensuráveis dosquais fala Cristão Rosacruz. Sua ri-queza é oferecer esses tesouros gratui-tamente a todos os que buscam a ver-dade, que querem dar seu antigo eupara encontrar o novo Ser. Permane-cendo orientado sobre a fonte inesgo-tável da Gnosis, ele pára de pensar emsi mesmo, superando suas própriasnecessidades. Porque, se ele não fizes-se isso, a fonte eterna não poderiamais atingi-lo. «Quando, pelo vazio da matéria saciada, o desejo de Vida é preenchido,então, indulgente e sem piedade, não fazendo nada de coração pesado,

eu cruzo armas com as trevas do dia,confiante na Aurora reluzente.

O sol de uma manhã esplendorosailumina meu labor,que se torna uma festa.Assim toma forma,acima da poeira e das correntes,a linha de força do Espírito Áureo.»

BIBLIOGRAFIA

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Há um crescente interesse por te-mas como alquimia, mas tantasconcepções divergentes, que a re-dação da Pentagrama se propõe afazer um apanhado geral para oleitor. Consultamos publicações dosúltimos cinqüenta anos e todas re-velam que esta «ciência» misterio-sa tem profundas raízes na históriada humanidade.

egundo Mircea Eliade1, a alquimia éoriunda da metalurgia. Fundidores,ferreiros e alquimistas reclamavampara si uma ciência religiosa especial,guardada em segredo e somentetransmitida através de rituais iniciáti-cos. Estas três corporações trabalha-vam com a matéria, que era conside-rada viva e santa. Elas tinham comometa realizar uma transmutação. Oponto comum entre a metalurgia e aalquimia residia na interação do ho-mem com os ritmos da matéria queera trabalhada. A terra, como fontede vida, era considerada como santa,e cada mutilação devia ser reparadacom uma oferenda. Os mistérios e osrituais iniciáticos dos metalúrgicoschineses ocuparam certamente umlugar importante no taoísmo e na al-quimia chinesa.

Em seu livro A alquimia, um pro-cesso psicológico2 Marie Louise vonFranz explica que a matéria é divinaaos olhos dos africanos. Uma divin-dade intervém em cada transforma-ção. As pessoas recorrem às potesta-des divinas que exercem suas ações.Assim, o alquimista traz as modifica-ções do reino das potestades divinas.

Os egípcios herdaram dos babilô-

nios e dos sumérios o conhecimentoda fundição dos metais. A fundiçãodo estanho, do ferro e do bronze, en-tre outros, era para eles um assuntoreligioso. Da mesma forma, eles con-sideravam a mumificação como umprocesso alquímico. O corpo erasimbolicamente transmutado emOsíris, o princípio cósmico em cadaser humano. Mergulhado na matériaoriginal, a água original, Noun, o ho-mem se unia a Deus.

O autor suíço B.D.Haage3 faz refe-rência a um manual do século IIId.C., conhecido como o texto maisantigo deste tempo, intitulado Physi-ka kai Mystika, que descreve os pro-cessos de purificação e de iniciação.As repetidas metáforas sobre o sofri-mento, a morte e a ressurreição sãotiradas dos mitos e dos cultos dosmistérios. Segundo Haage, a cirurgiatem seu lugar na alquimia ocidentalque, por sua vez, vem da linhagem daalquimia árabe. Ele também mencio-na Paracelso e seus adeptos que, embusca da panacéia, utilizavam subs-tâncias vegetais e animais. A alquimiajá não se limitava ao reino vegetal.

O termo «alquimia» surgiu no sé-culo XII em traduções de textos ára-bes. É aí que encontramos a palavra«al-kimya», traduzida em latim porakimia, aquimia, alchimia ou alche-mia. Alberto, o Grande (1193-1280)falava da ars nova (nova arte) ou dealquimia. Haage indica a origem dapalavra chemia no livro de Enoque,segundo a descrição que Zósimo eoutros fazem dela. No reinado dosSassanidas (224-651 d.C.) foi fundadaa academia de Gondisjapur e algunsoutros centros científicos no Egito.

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De onde vem o conceito «alquimia»?

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Ali as pessoas trabalhavam com tex-tos traduzidos do grego e de outraslínguas, tratados de Matemática, Fí-sica, Astronomia, Geografia, Medici-na e também de Alquimia, algunsprovenientes, sem dúvida, da Pérsia eda Mesopotâmia; obras de Tales, Pi-tágoras, Empédocles, Demócrito, Só-crates, Platão, assim como textos her-méticos, como a «Tábua Esmeraldi-na». Passando pela península ibérica,os escritos árabes foram traduzidospara o latim antes de chegar aos al-quimistas ocidentais da Idade Média.

O escritor H.W.Schütt4 localiza aorigem da alquimia no Egito antigo.Segundo ele, o Serapéion (Templo do

Deus único) é a prova de que a reli-gião e a filosofia gregas de um lado, eas artes divinatórias egípcias de ou-tro, influenciaram-se mutuamente.Daí emergiu, mais tarde, a síntese dareligião, da Filosofia e da Medicinaque será determinante para o pensa-mento e o conhecimento dos primei-ros alquimistas. Estes práticos seocupavam principalmente de Farma-cologia. Os gregos haviam deposita-do grandes esperanças na Medicina,herdada dos egípcios, principalmentena Cirurgia e na Anatomia. Pode-sereconhecer ainda a influência gregaem alguns procedimentos alquími-cos. As mesmas matérias e os mesmos

O laboratório alquímico original na antiga parte dauniversidade de Cracóvia,Polônia.Foto Pentagrama

medicamentos são mencionados nosescritos alquímicos e nos textos mé-dicos gregos. Os alquimistas fizeramexperiências com metais para desco-brir novos tratamentos. Os processosde digestão, de fermentação e de dis-solução desempenham aí um papelimportante.

O autor ressalta o caso da Quí-mica. Segundo ele, os alquimistas fo-ram os precursores dos químicos. Elecita Roland Edighofer: O resultadoda difusão da literatura dos rosacru-zes fez que, no século XVII, muitosleitores retivessem da riqueza de suamensagem apenas o lado fantástico aoqual estava ligada a alquimia.

Que lugar ocupa o pensamento ro-sacruz do século XVII entre os anti-gos alquimistas e entre os alquimistasmodernos? A alquimia era uma ciên-cia secreta nas mãos de uma elite. Pe-lo menos é assim que a alquimia tra-dicional é apresentada. Mas esta ima-gem não convém ao cientista dos últi-mos séculos. Da mesma forma que aamplitude da Reforma geral – querompe com as tradições – não con-vém à imagem do adepto clássico. Al-guns textos rosacruzes falam da pris-ca sapientia (a sabedoria antiga, vene-rável) que remonta a Adão e aMoisés. Além disso, geralmente éestabelecida uma relação entre a Ro-sacruz e a Ordem dos Templários porcausa de seus símbolos em comum,como a rosa e a cruz.

Peter Marshall5 começa sua buscada pedra filosofal na China e segueuma pista que passa pela alquimia in-diana, egípcia, árabe, européia, até asluzes do hermetismo. Quando eleperguntou sobre a origem da alqui-mia chinesa para o professor ZaoKuang-Hua, este último respondeu:Ela remonta a pelo menos dois séculosantes de Cristo, mas nós não sabemosexatamente. A alquimia vem do tao-ísmo. Todo alquimista é um taoísta,mas nem todo taoísta é forçosamenteum alquimista. A alquimia é apenasum aspecto do taoísmo. A alquimia

taoísta se baseia em três princípioscósmicos: o conceito de chi, o princí-pio do yin e do yang e, em terceirolugar, a teoria dos cinco elementos.Chi é considerado como a energiaque circula através do corpo e de to-do o universo. Esta energia perpassatudo: ela é a força de vida. Ela é per-ceptível. Os objetos materiais sãoconstituídos de chi e é dessa forçaque tiram sua estrutura e suas pro-priedades.

Tao pode se dividir em dois princí-pios, Yin e Yang, duas forças opostase complementares que operam nouniverso de acordo com um duplomovimento: centrífugo e centrípeto –assim como a maré alta e a maré bai-xa. No Tao Te King é dito que os se-res vivos são envolvidos por yin eyang e que sua harmonia depende doequilíbrio entre os dois.

Os caracteres chineses que expres-sam Tao estão relacionados com tre-vas e luz. Yin é o aspecto sombrio, te-nebroso, o lado norte da colina; eyang é o lado sul, luminoso, ensolara-do. Na alquimia chinesa, yin é repre-sentado por um tigre, pela água, pelamulher, e yang é representado porum dragão, pelo fogo, por um ho-mem. O alquimista tenta impedir adivisão para retornar à unidade, aTao. Ele obtém o elixir áureo daimortalidade realizando a unidade emsi mesmo e em seu laboratório.

O terceiro princípio cósmico querque todos os processos e todas assubstâncias no universo sejam forma-dos por cinco elementos (wu hsing).A teoria dos cinco elementos remon-ta ao século X a.C. É importante nãoreduzir estes cinco elementos à maté-ria, como se faz no Ocidente com osquatro elementos (fogo, terra, água,ar). O pensamento chinês opera comprocessos e não com substâncias. Oselementos não são passivos. São cincograndes forças tomadas em um movi-mento cíclico contínuo. O homem éconstituído de cinco elementos: a es-sência, o entendimento, a vitalidade

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(ching), o espírito (she) e a energia(chi). Os dois primeiros constituem aconsciência; os três últimos sãoconhecidos como «os três tesouros».

Os cinco elementos correspondemaos cinco planetas visíveis a olho nu:Mercúrio-água, Marte-fogo, Júpiter-madeira, Vênus-metal, Saturno-terra.Cada planeta vibra em seu própriotom: assim foi possível se falar em«música das esferas».

Na base da alquimia chinesa há acrença na existência de uma redecomplexa e sutil de ligações entre asdiferentes partes do universo, cujoconjunto forma Tao. É uma estruturaorgânica. Tudo transmite energia pa-ra tudo. Todos os elementos traba-lham em conjunto e um não é maisimportante do que o outro.

O Tao dos céus trabalha em segre-do e de modo misterioso: ele não temforma fixa, nem segue regras estabe-lecidas; ele é tão grande que não sepode ver o fim; tão profundo, que nãose pode ver o fundo.

A característica específica da alqui-mia é combinar a Filosofia, a Reli-gião, a Psicologia, a Arte, a teoria, aprática, a intuição e a experimenta-ção. A alquimia é uma ciência holísti-ca que faz a ligação entre o intelecto,o corpo e o espírito. Os alquimistaschamam este grande trabalho deOpus Magnum, a Grande Obra, ouainda de A Obra. De um lado, exis-tem as experiências feitas em labora-tório e, de outro, o trabalho pessoalde aperfeiçoamento interior. O alqui-mista parte do seguinte princípio: Oque está embaixo é como o que estáem cima e o que está no exterior écomo o que está no interior. A trans-formação que se opera no plano ma-terial reflete o processo interior detransformação da alma.

A descoberta da pedra filosofal é,para o alquimista, o sinal exterior desua meta interior. Portanto, existemduas interpretações de «alquimia»:uma interpretação exotérica, ou exte-rior, e uma interpretação esotérica,

ou interior. A ciência exotérica con-siste na preparação da substância, apedra filosofal: é aí que o metal podeser transformado em ouro, com a fi-nalidade de prolongar a vida – sendoque este aspecto desempenha um pa-pel-chave na história e no desenvol-vimento desta ciência.

A tradição esotérica considera atransmutação do metal em ouro co-mo uma atividade simbólica, umatentativa de transformar o homemfeito de matéria grosseira em espíritosutil. E... obter nada menos do que oouro da iluminação espiritual. Desdeos tempos mais remotos, a tradiçãoesotérica transmitiu o conhecimentoda estrutura do mundo, do lugar des-tinado à humanidade no universo, danatureza do espírito e do objetivo davida. Houve célebres alquimistas co-mo Paracelso, o pai da Farmácia mo-derna; Jan Baptist van Helmont, queprovou a existência dos gases; JohannFriedrich Böttger, que descobriu afabricação da porcelana (na Europa) eRobert Boyle, que lançou as bases daquímica moderna. Podemos citar ain-da Isaac Newton, autor de textosalquímicos.

Este breve resumo também devemencionar Carl Gustav Jung6. Ele seinteressou de perto pela alquimia, àqual recorreu na Psicologia. Suasidéias foram inovadoras e ainda sãode grande importância, assim comosempre foram a Filosofia e a Psico-logia junguianas. Ele estudou a sepa-ração e a reunião dos opostos no âm-bito do inconsciente e da alma, deacordo com a simbologia da obraalquímica. Sua visão ampla lhe per-mitiu colocar em evidência algumascorrespondências entre a busca dapedra filosofal e a idéia crística.

No livro Confessio da Fraternida-de Rosacruz7, J. van Rijckenborgh ex-plica como a Escola da Rosacruz Áu-rea atual encara a alquimia e seus bas-tidores. Segundo ele, há duas defini-ções. A primeira vem da concepçãoliteral da transmutação dos metais, a

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arte de fazer ouro a partir de metaisvis. A segunda, diametralmente opos-ta, vê esta transmutação como umprocesso essencialmente espiritual: éo ouro do Espírito que, após rompi-das todas as ligações com os planosinferiores, se eleva a uma realidadesuperior.

A primeira concepção é um errototal; a segunda encerra, em relação àsua orientação, alguma verdade, masnão diz nada sobre a verdadeira Al-quimia dos rosacruzes.

O que é a Alquimia? Um examemais aprofundado retira o véu e nosfaz descobrir de que se trata. Vive-mos conscientemente, com nossosveículos materiais, na esfera químicado mundo físico, no nadir da mate-rialidade, num mundo constituído deum aglomerado de elementos, forças,minerais, metais. Este mundo cor-rompido, no qual nós vivemos, éatravessado por uma essência espiri-tual que é a força de Cristo. E estaessência espiritual tem como tarefaconstante restabelecer o mundo ma-terial em sua pureza original e impul-sionar a vida que aí se desenvolve aempreender o caminho traçado paraela. Para isso, Cristo, aquele que tudopreenche, dispõe do auxílio da Escolados mistérios ocidentais. Atrás de ca-da processo de demolição e de reno-vação, encontra-se a Ordem da Rosa-cruz, cujo inteiro aparato trabalhaativamente em todos os domínios, aserviço de Cristo. Esta é a Alquimiada Rosacruz.

1) Eliade, M., Schmiede und Alchemisten(Ferreiros e alquimistas), Stuttgart, 1960.2) Franz, M.L.v., Alchemie als ontwikke-lingsproces (A alquimia como processo dedesenvolvimento), Lemniscaat, 1979, 3.3) Haage, B. D., Alchimie im Mittelalter,Ideen und Bilder – von Zosimos bis Paracelse(A alquimia na Idade Média, idéias e imagens– de Zósimo a Paracelso), Zurique, Artemisund Winkler, 1996.4) Schütt, H-W., Auf der Suche nach derStein der Weisen; die Geschichte der Alchemie(Sobre a busca da Pedra dos Sábios; a históriada alquimia), Munique, Rasher, C.H.Berk,2000.5) Marshall P., The philosopher’s Stone (APedra do Filósofo), Macmillan, 2001.6) Jung, C. G., Psychlogie et Alchimie(Psicologia e Alquimia); e MysteriumConiunctionis, Zurique, 1956.7) Rijckenborgh, J. v., Confessio daFraternidade da Rosacruz, São Paulo,Lectorium Rosicrucianum, 1987.

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A Estrela de Belém

Hoje, dois povos estão se destruin-do em uma guerra fratricida e san-grenta, no mesmo local onde, se-gundo a lenda, Jesus nasceu, e ondeforam colocados os alicerces do cris-tianismo. Cada um deles reclamapara si as palavras históricas maisou menos hipotéticas dos profetas, eambos passam ao largo do signifi-cado espiritual da Estrela deBelém.

firmamento está repleto de sinaise símbolos. Eles sempre foram conhe-cidos. Os grandes mestres, como Her-mes Trismegisto e Pitágoras, já os en-sinavam aos seus discípulos. Assimcomo é em cima, assim é embaixo. Es-tes sinais e símbolos são antiqüíssimasjóias escondidas nos cofres da doutri-na universal. Eles representam omundo interior do universo visível,mas, sobretudo, o mundo interior dohomem. Podemos encontrar, entre amaior parte dos povos, a cruz sob asmais diversas formas, o hexágono, arosa e o pentagrama, ou pentáculo,para citar apenas alguns desses símbo-los. Estes sinais são dirigidos ao ho-mem interior; eles são suscetíveis deincitá-lo à reflexão ou de impulsioná-lo à ação.

Geralmente, o que está por detrásde um símbolo é assunto controverti-do entre os exegetas que, muitas ve-zes, transportam para eles suas idéias.Muitos são os símbolos preferidos porcírculos esotéricos ou filosóficos, porcorporações militares, ou ainda porsociedades comerciais. Bandeiras, bra-sões e logotipos se baseiam ampla-mente na simbologia.

Um símbolo como o pentagramasempre foi objeto de vivo interesse. Jáutilizado pelos egípcios, ele foi tam-bém altamente considerado pelosdruidas sob a forma de uma estrela re-gular de cinco pontas chamada de «pédos druidas». Para Pitágoras, o penta-grama era o símbolo do himeneu ce-leste: a fusão da alma com o Espírito.

Muitas vezes a Estrela de Belémfoi relacionada ao planeta Vênus.Quando a observamos com umtelescópio, em uma tarde de verãoou numa manhã de inverno,vemos um ponto luminoso de ondepartem cinco raios. Visto da Terra,o planeta Vênus parece descrever,em seu curso de quarenta anos etrês dias em torno do Sol, umafigura pentagonal (veja o desenho: Chr.Knight/R.Lomas,Uriel’s Auftrag, Scherz Verlag,Berne, 2001).

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Ele dava ao número cinco o nome de«número do homem no microcos-mo». Entre os primeiros cristãos, opentagrama representava Cristo, ou-tra designação do alfa e do ômega, docomeço e do fim. Os alquimistas me-dievais recorriam à estrela de cincopontas como sinal da «quinta essen-tia», o quinto elemento, o éter-fogo,ou ainda o Espírito Santo. GiordanoBruno considerava o número cincocomo o número da alma, por ser com-posto (como ele o é) de igual e desi-gual, de par e ímpar.

As linhas da estrela são cortadas segundo as relações donúmero áureo

Embora esféricas, as estrelas são re-presentadas, geralmente, com pontasou com um feixe de raios. O pentagra-ma comporta cinco pontas que, liga-das entre si, formam um pentágono,ao passo que, quando ligadas de duasem duas, representam uma estrela decinco pontas, ou um pentáculo. Aslinhas retas da estrela de cinco pontastêm isto de especial: elas se cortamsegundo as relações do número áureo– o segmento menor (p) está em rela-ção ao maior (q), como o maior estápara a linha reta inteira. Ou seja: p/q =q/p+q. Vamos imaginar um pentagra-ma cujo lado medisse milhares deanos-luz: a relação entre os diferenteselementos continuaria sendo invariá-vel.

Suponhamos, agora, que cada linhaseja uma linha de força, uma linha deluz: obtemos a imagem de um campode força fechado em forma de penta-grama, no qual as forças em expansãoretornam ao centro. Se acreditamos nadoutrina universal, sabemos que exis-tem diferentes universos compostosde inúmeros campos de força, cujas

relações mútuas estão submetidas à leidivina.

Goethe escreveu:«Assim como no ser infinito,a abobada de mil dobrasque, em ondas sempre renovadas,escorre eternamente,fechada sobre seu próprio poder,de todas as coisas emana a harmonia:da menor estrela até a maior delas.Este impulso e esta lutasão o eterno repouso na divindade.»

Goethe usa esta metáfora em Faus-to: no momento em que Mefistófelesquer se despedir de Fausto, ele nãoconsegue atravessar o umbral porqueum pentagrama aí está representado.

Mefistófeles diz:«Na verdade, eu bem que iria embora,mas existe um obstáculo à minha partida: lá, sobre o umbral, este pentá-culo...»Ao que Fausto replica:«Ah! É meu pentagrama que te causaaflição?Dize-me, filho do inferno, este obstácu-lo não estava aqui quando entraste?»

A estrela decinco pontasentre Ísis e ofaraó Horemheb.Túmulo deHoremheb,Valedos Reis, Egito.

Centros de força espiritual espalhados pelo mundo todo«O número cinco representa o pentagrama, a estrela de cinco pontas que brilha por detrás daRosacruz – símbolo da alma humana desenvolvida.É o símbolo do quinquagésimo dia, o Pentecostes,quando as chamas do Espírito Santo irradiaramsobre a cabeça dos discípulos. É o símbolo doEspírito Santo, do princípio eternamente criadorque alcançou a plenitude de seu crescimento [...].Seguindo a senda de Cristo e conformando-se àexigência do cristianismo gnóstico, o homem edificará a nova terra e realizará a nova comunidade.»

(O Chamado da Fraternidade da Rosacruz, J. van Rijckenborgh)

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Para o rosacruz atual, o pentagramaé o símbolo do novo homem, do ho-mem verdadeiro. A doutrina universalensina que existem duas almas no ho-mem: a alma natural, cujo desenvolvi-mento resulta em um ser que pretendeo domínio universal, e uma alma ori-ginal, latente, no centro do ser huma-no, que suspira por libertação. Cadauma delas possui seus ritmos e suaspróprias leis. Mas a nova alma somen-te pode nascer quando o eu, que searroga a supremacia, se retira parasegundo plano. É um longo processono decorrer do qual a alma naturalpassa por profundas mudanças. É «ocaminho que, através de espinhos,conduz às estrelas» (per aspera adastra).

Os santuários cátaros das grutas doAriège relembram este grandioso ca-minhar. Há setecentos anos, a frater-

nidade cátara era muito ativa no sul daFrança. Era preciso cerca de quatroanos para que o aspirante pudesse al-cançar a iniciação. Antes de se tornarum Perfeito e sair pelo mundo, ele de-via submeter-se a uma última prova nagruta de Belém. Na parede rochosa es-tava escavado um pentáculo que indi-cava o local que ele deveria ocupar du-rante o esplêndido ritual que o consa-grava à sua missão. Ele deveria man-ter-se ali, com as pernas afastadas, osbraços estendidos, a cabeça levantadaem direção ao cume. Seu novo estadode consciência o tornava, doravante,inatacável. «Ninguém no mundo seriacapaz de vencer a Força misteriosa queele representava», escreve AntoninGadal no livro O caminho do SantoGraal (1).

A Luz deve nascer na alma

Por que identificamos o pentagra-ma com a estrela de Belém? Porque onascimento da nova alma está relacio-nado com a festa do Natal. Suponha-mos que a história da noite de Natal,contada no Novo Testamento, sejatransposta para nossa época: os perso-nagens mencionados seriam símbolosdos diferentes aspectos da alma, daalma que aspira à Luz! A Luz desce nocoração humano para purificar e res-taurar o conjunto do sistema: o micro-cosmo e a personalidade que nele ha-bita. Enquanto nos entregarmos àsnossas inspirações pessoais (por maissérias e originais que elas sejam) o mi-lagre do renascimento da alma aindase fará esperar por muito tempo. Masquando olharmos para nós mesmos esentirmos a desolação e a exigüidadede nosso universo pessoal, crescerá emnós o desejo de libertação da alma.Assim, chega o momento em que ocoração, cansado de lutar, reconhece amão que lhe estende o Amor divino eousa segurá-la. Como é dito em diver-sos Evangelhos: chega até ele uma res-

Relação entre os humores do corpo e ozodíaco.Espanha, século II

posta, por meio do Espírito Santo. Emoutras palavras, ele experimenta otoque do campo de força purificador,renovador e curador. Não seria essauma interpretação mística? Não, poisesta ação do Espírito representa aomesmo tempo uma missão e uma gra-ça. A Luz sempre deve nascer na alma– em uma alma quíntupla, à imagemdo pentagrama.

Também se trata de cinco fluidosque estão operando no sangue, no sis-tema nervoso, na secreção interna, nofogo serpentino e na consciência. Onascimento da Luz nas trevas da almanão é possível a não ser que a Rosa, nocentro do microcosmo, se abra para aforça cósmica da Luz. E a personali-dade, em tudo isto? Transtornada poresse toque, ela se submete à irradiaçãoda Luz; ela abandona seus velhos há-bitos e deixa progredir em si uma ori-entação completamente diferente. Elaestá plena de gratidão porque, depoisde tempos indizivelmente longos, po-de se aproximar da Eternidade.

Uma nova força emerge do coração

Diversos processos de purificação ede restauração se desenvolvem nessemomento na personalidade quádru-pla, permitindo à verdadeira Almaressuscitar e crescer. Uma nova forçaemerge do coração. Os diversos cor-pos são preparados para sua tarefa eocorrem modificações das quais ohomem mal toma consciência. Depoisdesses acontecimentos tão promisso-res, chega a hora da fuga para o Egito.No início, a alma e a consciência aindaestão muito frágeis para receber cons-cientemente a Luz e retê-la. Estes pro-cessos também são realizados sem oseu conhecimento. Mas, à medida queo homem ousa se entregar à Almaliberta, esta última estende seu domí-nio sobre a personalidade, de tal for-ma que o trabalho se acelera. Logo

que o coração e o sistema circulatórioestejam purificados, o sangue se tornaapto para o renascimento da Alma. Odesejo do coração estimula o fluidonervoso, e um novo impulso é exerci-do sobre a secreção interna.

Aspirar pela Luz deixa de ser umasimples orientação e se torna uma ati-vidade consciente de sua finalidade.Para isto, são requeridas: inteligência,uma profunda calma interior e umafirme determinação. Assim se acendena Alma quíntupla a chama doEspírito.

Os astrônomos serviam-se das relações existentes entre as posiçõesdo Sol e da Terra, de um lado, e asposições de Vênus e das estrelas«fixas», de outro lado, para corrigir seu calendário. Hoje, estascorreções são efetuadas por umrelógio atômico. No teto dos templos da maçonaria inglesaencontra-se ainda uma estrela de cinco pontas que tem, no seucentro, um sol encimado pela letraG (God = Deus, o Altíssimo).Não é por acaso que a estrela decinco pontas simbolizava o conheci-mento, no antigo Egito. E aqueleque era instruído a respeito dosmovimentos das estrelas, principal-mente sobre Sirius, dispunha deamplas informações sobre as esta-ções do ano, os períodos de cheia dorio Nilo, as épocas propícias parasemeadura, plantio e colheita. Estesconhecimentos tradicionais eramatributo dos sacerdotes.Também foi estabelecida uma relação entre Vênus e a rosa decinco pétalas, que simboliza o nas-cimento virginal e a ressurreição. A imagem da rosa de cinco pétalas(rosa canina, uma espécie de rosasilvestre) serve para reproduzir ociclo Vênus-Terra. Os estames docentro da rosa representam, aomesmo tempo, o Sol e a trajetóriade Vênus.

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A Estrela da vitória

Quando a alma natural se encontravazia e desaparece, e a nova alma nas-ce, nela irradia a estrela de Belém: a es-trela de cinco pontas brilha a partir domicrocosmo através da personalidade.Ela está inscrita em um pentágono. Éuma linha de força etérica, totalmentenova, em relação à qual se conformatudo o que está presente no microcos-mo. Esta corrente de força parte dacabeça para o pé direito, e do pé direi-to para a mão esquerda, e da mão es-querda para a mão direita, e da mãodireita ao pé esquerdo, quando entãovolta a subir até a cabeça. «Assim étraçado o pentagrama mágico». «Arosa revela-se e seu perfume é exala-do» escreve J. van Rijckenborgh no

livro Os mistérios gnósticos da PistisSophia (2).

Um novo firmamento está forma-do: um sistema solar microcósmico.As luzes do antigo céu já se apagarame foram substituídas por novos pode-res que são:• a compreensão do plano que presi-

de à evolução do mundo e da huma-nidade;

• o desejo de libertar todas as almasda cilada da natureza;

• o apagar-se do eu, para que a novaalma possa viver;

• um novo comportamento favorávelà purificação e à restauração domicrocosmo;

• uma sabedoria verdadeira, que sem-pre será o alicerce do pensamento,do sentimento e da ação.Em torno do homem salvo brilha

uma nova veste de Luz que é a provada realidade na qual ele penetrou. Jánada se opõe à grande transformação,à transfiguração do inteiro ser, pormeio da união do Espírito, da Alma edo Corpo.

Assim, a Estrela de Belém irradianão mais como as estrelas que vemosluzir muito longe, acima de nós, massim como um foco de forças puras quepreenchem totalmente a nova alma e apreparam para sua união com oEspírito de Deus. Esta é a finalidadedo homem. É por esta razão que oscátaros desejavam uns aos outros «umbom fim» usando as seguintes pala-vras: «Que a profunda paz de Belémesteja convosco».

1) Gadal, A., No caminho do Santo Graal,São Paulo, Lectorium Rosicrucianum, 1980.2) Rijckenborgh, J. v., Os mistérios gnósticosda Pistis Sophia.

A gruta deBelém em Ussatles Bains, França.Foto Pentagrama

Ano 23 nº 1 – janeiro-fev. de 2001Índice2 A tempestade de fogo de Aquário6 Fica atento, meu amigo!7 O mundo dialético é bom

ou mau?11 Prece de um rosacruz13 A Rosacruz vivente em cinco

continentes.34 O que os rosacruzes entendem

por...36 As forças que dominam a

humanidade39 Sentado sobre o rochedo40 O candelabro do coração

Ano 23 nº 2 – março-abril de 2001Índice2 Em busca da imortalidade7 A realeza interior13 A história do publicano Zaqueu15 A Mônada e a Unidade20 «Transcende o tempo torna-te

eternidade»27 «A Europa está grávida e dará à luz

uma poderosa criança»32 Religião cristã ou religião de

Cristo?37 O Deus morto e o novo homem

Ano 23 nº 3 – maio-junho de 2001Índice2 É tarde demais para um

renascimento6 A encenação do novo homem12 Quatro séculos sonhando com o

humanismo16 O novo homem se aproxima19 O homem ainda tem valor e

dignidade?26 O ritmo dos acontecimentos

mundiais28 A onda29 O anseio por uma sociedade ideal34 O programa da Academia

Platônica de Florença38 A arte no período da Renascença

Ano 23 nº 4 – julho-agosto de 2001Índice2 O sétimo dia da criação6 A origem da alquimia ocidental14 José e Asenate, uma história de

amor do Egito24 Enquanto seus corações estão a mil

milhas de distância!29 O teatro contemporâneo e a

formação da consciência36 Lúcifer – a Estrela da Manhã41 O curso fatal do destino da

humanidade

Ano 23 n° 5 – setembro-out. de 2001Índice2 A Luz ilumina o Caminho6 A música e a emoção11 A eterna luta contra o medo16 Da ilusão à verdadeira vida19 As sensações e o sofrimento da

alma24 A nova consciência27 Mais de seis bilhões de mistérios

não elucidados31 A água da vida32 «Dois homens descansarão...»37 Esperança: a ponte entre a fé e o

amor40 «Tudo aqui me agrada, menos eu

mesmo»

Ano 23 nº 6 – novembro-dez. de 2001Índice2 Por que esta revista Pentagrama

sobre o Grupo de Jovens Alunos?3 Sede mestre de vossa vida!6 Libertação da antiga natureza14 Por que duas almas antagônicas

vivem em mim?22 Ainda vale a pena viver?28 Conferência de Renovação

Internacional dos Jovens Alunosem La Nuova Arca

31 O satélite do planeta original38 O novo impulso libertador43 Despertar de novos poderes

Índ

ice 2001 – 2002

Ano 24 nº 1 – janeiro-fev. de 2002Índice2 «Eles guardaram em suas mãos

a luz da criação e, de volta, ofereceram ao mundo a luz damorte.

7 Ritmo e equilíbrio10 As crianças dos novos tempos14 Um século de fundação30 É possível satisfazer o desejo de

amor?34 «Like a bridge over troubled water,

I will lay me down»37 Lá onde tempo e eternidade se

encontram40 A perpetuação da vida

Ano 24 nº 2 – março-abril de 2002Índice2 Violência ou não violência4 O país da Luz da paz eterna9 Os sinais secretos dos rosacruzes12 O declínio começa desde o

nascimento15 Impossível escapar disso20 Máscaras do mental26 Guerra e paz no espaço e tempo32 Verdade, liberdade, espada 36 A luta, divertimento ou escola da

vida?

Ano 24 nº 3 – maio-junho de 2002Índice2 Em busca do Santo Graal3 Inúmeros são os que procuram o

Graal no mundo6 O Graal céltico e a saga de

Artur11 Presença do Graal em cada um12 Parsifal – o caminho do

pesquisador18 Os cátaros no caminho do Santo

Graal24 Origem e significado das lendas do

Graal29 A viagem do Oriente ao Ocidente32 O Livro dos Reis da Pérsia antiga39 Kitesj, símbolo de um cosmo

inviolado

Ano 24 nº 4 – julho-agosto de 2002Índice2 Criticar, julgar ou condenar5 Qual é o segredo do universo?8 O conflito dos desejos13 Homem conhece-te a ti mesmo!16 Não pode ser o que não pode ser!21 Diálogo universal entre Hermes e

Asclépio22 Perdido no labirinto do tempo29 «Porque onde estiverem dois ou

três em Meu nome, ali estou nomeio deles»

32 O ser de Deus é como um círculo38 Sombras mantêm o homem

aprisionado

Ano 24 nº 5 – setembro-out. de 2002Índice2 Saber... ou verdadeira sabedoria?6 Os poderes do velho homem e do

novo homem17 Libertar-se do medo19 «Cabe a cada um decidir o que fazer

com o tempo que lhe é concedido...»24 Rastros na areia27 Apresentações com playback, a

grande imitação30 No campo da hesitação34 «O que embeleza o deserto, diz o

Pequeno Príncipe, é que eleesconde um poço em algum lugar.»

36 O segredo do verdadeiro jardim davida

Ano 24 nº 6 – novembro-dez. de 2002Índice2 A busca da perfeição8 O novo pensar abarca o universo13 Por que Deus deixa isso acontecer?17 O centro único do microcosmo e

do macrocosmo23 Quem deu forma ao vazio?26 O que é o pecado?29 A alquimia dos mistérios do

Ocidente36 De onde vem o conceito «alquimia»?41 A Estrela de Belém

O pecado começa por apartar o homem de Deus,

depois, de seu próximo e termina por brunir as

armas de guerra dos povos. Ele constitui um

processo de decomposição. Em contrapartida,

o princípio crístico é aquele que dá vida

ao Espírito.

(O que é o pecado, pág. 26)