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#07 AGOSTO/SETEMBRO 2013 CONCEITUAL re-pensar >

CONCEITUALabd.org.br/novo/f01/img/revista/2014/07/abd-7.pdf · A cozinha, avisou Andrea Bisker, do WGSN, no Conad, é hoje a “protagonista da casa”, e a sala de jantar deve desaparecer

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#07AGO

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013 CONCEITUAL

re-p

ensa

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A estampa.

www.ded.com.br ddshopping dedshopping Av. das Nações Unidas, 12.555. De segunda a sexta das 10 às 22h. Sábado das 10 às 20h. Domingo e feriados das 14 às 19h.

D&D. Referência em design e decoração.

Lilian Pacce. Referência em estilo.

Sim, moda e decoração sempre conversaram.

Afinal, as tendências de cores e estampas podem ser aplicadas

nas duas. Por exemplo, uma camisa tão estruturada que inspira

o desenho de uma cadeira. Estilos e tendências podem decorar

tanto seu guarda-roupa como sua sala.

Eu adoro quando a moda troca ideias com o ambiente.

Assim, minha casa fica sempre bem-vestida.

D&D. O maior e mais completo

shopping de decoração

e design da América Latina.

por Lilian Pacce.Consultora de moda e estilo.

DD2825_AF_AN_LILIAN_42x28.indd 1 02/07/13 11:09

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D&D. Referência em design e decoração.

Lilian Pacce. Referência em estilo.

Sim, moda e decoração sempre conversaram.

Afinal, as tendências de cores e estampas podem ser aplicadas

nas duas. Por exemplo, uma camisa tão estruturada que inspira

o desenho de uma cadeira. Estilos e tendências podem decorar

tanto seu guarda-roupa como sua sala.

Eu adoro quando a moda troca ideias com o ambiente.

Assim, minha casa fica sempre bem-vestida.

D&D. O maior e mais completo

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e design da América Latina.

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CAPA Pensando Fora da Caixa, tema do Conad 2013, inspira esta sétima edição da ABD Conceitual. Arte da capa: André Poli

*

Publishers André Poli e Roberta Queiroz

Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza

Conselho Editorial Renata Amaral, Carolina Szabó, Jéthero Cardoso,

Roberto Negrete e Alex Lipszyc

Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia

Redação e Reportagem Marcella Aquila

Colaboradores Edson D’Aguano, Jéthero Cardoso, Mônica Barbosa, Ronald Kapaz

Diretor de Arte Marcos Guinoza

Editor de Fotografia Renato Elkis

Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683

Revisão Luciana Sanches

Publicidade

Diretor Comercial Marcelo Damado

[email protected]

VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275

www.velveteditora.com.br

ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores

www.abd.org.br

TRIÊNIO 2013/2015

Presidência: Renata Duarte Amaral

Vice-presidência: Marcia Regina de Souza Kalil, Ricardo Caminada,

Bianka Mugnatto, Jéthero Cardoso Miranda e Renata Duarte

Conselho Deliberativo - Membros Efetivos: Carolina Szabó (SP), Carlos Alexandre

Dumont (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Francesca Alzati (SP),

Silvana Carminati (SP), Mauricio Peres Queiroz dos Santos (SP), Luiz Saldanha

Marinho Filho (RJ), Alexander Jonathan Lipszyc (SP), Renata Maria Florenzano (SP),

Jaqueline Miranda Frauches (MG), Rosangela Larcipretti (SP), Jocelen Aparecida

Bergamo (SP), Flavia Nogueira da Gama Chueire (RJ), Lucy Amicón (SP) e

Elisa Gontijo (SP). Conselho Deliberativo - Suplentes: Nicolau da Silva

Nasser (SP) e Paula Almeida (SP). Conselho Fiscal - Membros Efetivos:

Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria Bacellar (BA), Maria Fernanda Pitti (SP),

Delma Morais Macedo (BA) e Maria Luiza Junqueira da Cunha (SP).

Conselho Fiscal - Suplente: Daniela Marim (SP). Consultor: William Bennett

AGOSTO/SETEMBRO 2013

CONCEITUAL#07

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade

dos autores e não refletem a opinião da revista.Selo

6 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

foto

Do

UG

LAS

GAR

CIA

TransgredirAmigos,A oitava edição do Conad (Congresso Nacional de

Design de Interiores) foi um tremendo sucesso! O evento aconteceu entre os dias 3 e 5 de julho, e o tema escolhido para nortear palestras e debates foi uma expressão que, nos últimos anos, tornou-se bastante comum – principal-mente no mundo dos negócios: Pensando Fora da Caixa.

Falam que essa expressão surgiu nos Estados Uni-dos – think outside the box – lá na década de 1970. Mas ninguém sabe ao certo quem a criou. O que importa, no entanto, é seu significado.

“Pensar fora da caixa” é incitar o pensamento cria-tivo, fugir do óbvio e da mesmice, ir além dos padrões es-tabelecidos. Em uma palavra: transgredir.

A tal “caixa”, nesse sentido, simboliza a rigidez, a restrição, o pensamento “quadrado” e sem imaginação que não combinam em nada com profissionais que tra-balham com a criatividade – como, por exemplo, nós, os designers de interiores.

E foi baseado no tema do Conad que pensamos

Obra da série Matuto ao Cubo, de Rodrigo Bueno

* EDITORIAL

esta ABD Conceitual. Nesta sétima edição, falamos sobre

a simbologia das cores e os tons que colorem o Brasil e o

mundo em 2013. Entrevistamos o designer e arquiteto ita-

liano Simone Micheli e o consultor americano Ken Nisch

– ambos palestrantes no congresso.

A cozinha, avisou Andrea Bisker, do WGSN, no

Conad, é hoje a “protagonista da casa”, e a sala de jantar

deve desaparecer. A importância da cozinha na convivência

entre as pessoas está na matéria que fala sobre esse

ambiente que retoma seu espaço de rainha do lar.

Em outra reportagem, conversamos com José Ro-

berto Muratori sobre automação residencial e a casa do

futuro. E, para finalizar, explicamos por que os ambientes

de trabalho se transformam cada vez mais em espaços

abertos e fluidos, sem estações individuais.

Para ler, é só abrir a “caixa” e virar a página.

Renata Amaral, presidente da ABDfoto

Do

UG

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8 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

* SUMÁRIO

10 A CASA. O ACASOA morada molda o comportamento? A morada muda o ocasional? Traduz o pensamento?

16COR-RESPONDÊNCIAA sua cor preferida e os tons que colorem o mundo: verde-esmeralda e verde-limão

40 TUDO JUNTO & MISTURADOA transformação dos ambientes de trabalho em espaços de estímulo e convivência coletiva

22 MÚLTIPLOEm entrevista, o designer e arquiteto italiano Simone Micheli fala sobre vida, arte e obra

26 HOTSPOTComer, prazer, viver: a cozinha retoma seu espaço de rainha do lar

48 DESENHANDO ESTRATÉGIASO consultor americano Ken Nisch explica a relação do design com o varejo

[+]

14 E AÍ, BELEZA?O que é legítimo é o que representa essencialmente o belo

20 MUDAR É POSSÍVELO timing da mesmice já era. Chegou a vez da mudança. Por Edson D’Aguano

32 DO ARQUITETO AO CONSTRUTOR DE IMAGENSA personalidade da marca e sua expressão pelo desenho do espaço. Por Ronald Kapaz

34 CASA ONLINEJosé Roberto Muratori fala sobre automação residencial e a casa do futuro

38 SER FEIO ESTÁ POR FORAConsiderações sobre o novo conceito de beleza. Por Mônica Barbosa

46 O EFÊMERO E O ETERNOAs diferenças entre design de interiores e arquitetura. Por Jéthero Cardoso

54 CADEIRA VIVAPeças de mobiliário se transformam em vasos na arte engajada de Rodrigo Bueno

SHOW

ROOM: 5

5 11 30

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CONFIANÇA

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RÓXIMA

ACESSOS AOS SIGNIFICADOS DO MORAR

A CASA | O ACASOPoR EDUARDO LOGULLOACESSOS AOS

SIGNIFICADOS DO MORAR

A MORADA MOLDA O COMPORTAMENTO?

A MORADA MUDA O OCASIONAL?

A CASA TRADUz O PENSAMENTO?

A CASA UNE O ACASO E A NECESSIDADE?

A TOCA DIz DO ENTOCADO?

COMO SE TOCAR DE QUE SE PRECISA PENSAR FORA DA TOCA, FORA

DA TOChA, FORA DA PORTA?

ABRA A PORTA E A JANELA. E VEM VER O SOL NASCER.

* INSIDE

ARtE ANDRÉ POLI

O quarto é o início da expansão da ideia de se guardar.

Foi: o abrigo deu start ao interior.

Será: do interior veio o externo.

Sim. Sim. Sim. Cada vez mais se torna claro que a mo-

rada participa papéis cruciais para expressar/moldar uma socie-

dade, de modo global ou local. Sim. Sim. Sim.

O comportamento humano em relação ao espaço in-

terior será sempre o principal ponto de partida para qualquer

conceito de ambientes internos, conforto, sonho, proteção,

abrigo, inovação.

O termo “inovação”, por exemplo, em alguns momentos

pode ser uma palavra vazia. Mas sabemos que ela estala/resvala

na noção de originalidade, visão, desejo e conquista – as épocas

costumam trazer suas inovações (ou suas destruições traves-

tidas de inovação, como acontece nos países em que sistema

financeiro e mercado regem os fluxos sociais. Precisamos dar

nomes aos bois? No. No. No.).

Imagem e espaço. Uma construção terá sempre essa

dualidade. Imagem e espaço. E para ter sentido, a imagem tem

que ser gerada por meio do uso do espaço, através daquilo que

nós, um bando de corpos pensantes, nos movemos por dentro,

através, em volta e por dentro.

Dentro do dentro é que o discurso pessoal/impessoal

se revela – ou se torna – definitivo, brilhante, dissonante, bobo,

ralo, grandioso, marcante, cristalino, límpido, pesado, errôneo,

simplista, exagerado, equivocado, abandonado, tosco, torto,

troncho, descampado, destampado, camp.

A barafunda dessa barra pode ser funda. Como o local

que habitamos afeta o nosso comportamento? O afeto se en-

cerra no acaso da casa?

A morada, o abrigo, o epicentro de seu/meu mundo

deve levar a novas plataformas de pensar, para descobrir aspec-

tos novos de nós próprios. O próprio, no sentido de revelação

pessoal, traz a propriedade. E o que faz as pessoas escolherem

novas plataformas de vida, de morada, de habitação?

Seres humanos se comunicam o tempo todo com tudo

aquilo que está próximo de tudo e de todos que buscam tudo

aquilo o tempo todo. Constantemente deciframos, avaliamos

e fazemos escolhas baseadas na comunicação e no feedback

advindo de pessoas e acontecimentos e saberes e lugares e

olhares e gostares e falares e citares e andares e passares.

Escolher processos de vida pela vida afora são como as

decisões que fazemos na internet: interferir, aceitar, envolver-se,

rejeitar, salvar, disponibilizar, surpreender-se, atirar longe, evitar,

bloquear, imaginar, alegrar-se, desligar-se.

Cada morada/casa/toca fala/toca/ouve de modo

simultâneo. Talvez por isso os projetos comecem em

situações concretas: ali desponta algo. O que virá

depois cabe a nós moldar. Ou, como dizia

Lygia Clark, “somos o molde; a você cabe

o sopro”.

Cabe a cada um varrer o

inútil, varrer o melancólico, var-

rer o supérfluo, varrer o fake, varrer

o passadismo, varrer as referências do

erro. Re-mover. Sim. Sim. Caber onde que-

remos caber. Caber onde desejamos caber. In-

ventar cabimentos. Sair. Pular fora. Mirar onde poucos

miram. Mirar na miragem.

O tom de morar. O bem-bom de morar. O zoom

de morar. O morar ali, morar aqui, morar lá. Morar: sinalizar

conhecimentos. Morar: (re)produzir conhecimentos. Morar:

(re)processar-se. Morar: não se processar demais. Morar:

transparecer. Morar: quase para desaparecer. Morar: receber-

se. Morar: distribuir divisões. Morar: descobrir ideais de estética.

Morar: introduzir estéticas inesperadas. Morar: assimilar

contribuições. Morar: associar conhecimentos. Morar: (des)

concentrar ideias. Morar: lembrar que uma boa ideia nem

sempre leva a outra boa ideia. Mora na filosofia: pra que rimar

amor e dor? Morar é rimar gostar com estar. Morar. Sair. Morar.

Sair. Morar. Sair. Depois ficar. Bem.

habitar. Viver. Morar. Entrar. Desentranhar. habitar por-

que se vive e porque não se quer morrer. habitar porque se

sabe que um dia se morre e porque o abrigo nos protege da

morte. O hábito habita o abrigo. O abrigo mora no hábito. habi-

to, logo vivo. Penso, logo habito. Vivo, logo me abrigo.

habite-se. habite-me. Sem habituar-se. Sem maus

hábitos. Com bons jogos da fantasia. Com olhos de outsider.

Sem os dramas modernos da alienação, mas com os insights

sobre a natureza da liberdade. Liberdade que seja a intensi-

dade de querer e que surge em qualquer circunstância que

tentem nos limitar e nos estimular a querer (viver) mais. O ca-

racol sabe a concha que tem. A concha leva o caracol aonde

o caracol quer chegar.

DURANTE OS TRêS DIAS do Conad 2013, mais de 700 profissionais do design de interiores se deixaram contaminar pela atmosfera efervescente de ideias e discussões em torno do tema Pensando Fora da Caixa. Acredito que a palavra que melhor sintetiza esse tema é legitimidade. Afinal, “sair da caixa” não é brincadeira. É preciso, antes de tudo, muita coragem, e, depois, uma boa dose de embasamento e bagagem repertorial para se aventurar na abertura de novos horizontes. Certamente, a meta da ABD, ao trazer para o debate um tema tão ousado, não seria “brincar de ser diferente”.

A escolha teve como guia a busca por uma nova ma-neira de pensar o design de interiores. Em tempos de mudan-ças permanentes, os ambientes devem acompanhar com a mesma rapidez as transformações no modo de vida, sem que, em nome da estética, percam-se a funcionalidade e o conforto. Ao mesmo tempo, uma nova estética – do conforto e da fun-cionalidade – pode e deve ser criada. E foram exatamente essas questões que vi sendo geradas e debatidas durante o con-gresso: medidas do viver + menores e novos m² + espaços do desconhecido + o método criativo de Simone Micheli + revolu-ções no design de interiores corporativo com Ken Nisch + brain

branding de Edson D’Aguano + pesquisas de cores da Suvinil + etc........................................................... + uma grande preocupação com a beleza: o grande objetivo do desejo contemporâneo.

Na medida em que o design se alastra – tendo como meta conquistar as ruas, empresas e marcas – estabelece pa-râmetros para que se possa desejar sempre o mais belo. Em um tempo de mais independência e maiores individualidades, quando as expressões interiores passam a ser mais respeitadas e valorizadas e o termo “customizado” passa a ser quase obriga-tório, seria possível fixar um consenso para a beleza? Essa foi a pergunta que mais ecoou na minha mente durante o Conad. E as respostas que ouvi de pessoas experientes no assunto, apesar de coerentes, pareceram-me ainda como uma ressonância vinda de dentro da caixa: “A beleza está nos olhos de quem vê”. Será?

Para apreender a beleza é preciso ter repertório. Acre-dito que o conhecimento pode contribuir para um refinamen-to no olhar. Não se trata de diploma, necessariamente, mas de curiosidade, de vontade de conhecer. Penso que, nessa direção, o próprio Conad foi o maior exemplo de busca pela beleza. E aproveito o mote, levantado e investigado durante o evento, para chamar a atenção para a questão da legitimidade da be-

E AÍ, BELEZA?

14 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

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SICo jApo

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RneLIU

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PoR ANDRÉ POLI

E AÍ, BELEZA? Aquilo que é verdadeiro, íntegro e,

portanto, legítimo, é o que representa essencialmente o belo

leza. Sob o meu ponto de vista, aquilo que é verdadeiro, íntegro e, portanto, legítimo, é o que representa essencialmente o belo. A mulher elegante, cuidadosa nas suas escolhas, que cultiva a sua existência interior tanto quanto a exterior, é bela ou se torna bela. Aquelas entretidas apenas com as formas aparentes e que desconsideram o cultivo de sua essência são fakes e vazias.

Por mais estranhamento que cause a cultura do funk e da laje, é possível enxergar beleza quando o modo de vestir, dançar, falar compõe um todo, um modo de ser, legítimo, de uma parcela da sociedade que transparece, em seus atos, sua experiência de vida, a herança da sua educação, de suas des-graças e glórias. Essas experiências lapidam sua existência. Mas, quando isso vem embrulhado para presente com modismos vazios, perde-se o brilho e a legitimidade se esvai. Quando digo “modismo”, quero dizer “copismo” e todos os “ismos”, ou mesmo as ataduras de “bom gosto”.

A beleza está na legitimidade de cada um – e assumir essa máxima foi a grande contribuição trazida pelo Conad. Quando as disputas se acirram e as batalhas são travadas por uma maior coerência na política, nunca uma palavra teve tanta força, em todos os campos, quanto legitimidade.

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SICo jApo

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A sua cor preferida e os tons que colorem o mundo PoR MARCOS GUINOZA

COR-RES-PONDÊNCIA

Tempotest Floral, 100% acrílico, na Donatelli Tecidos. Ao lado, cabide de parede

Arrow e regador Alessi Diva, na Benedixt

A sua cor preferida e os tons que colorem o mundo

COR-RES-PONDÊNCIA

COR É LUz. Ou comprimentos de onda que o olho humano as-simila e o cérebro interpreta e transforma em cor et cetera e tal. Mas cor não é apenas luz. Cor também é informação, código, lin-guagem, meio de expressar uma ideia.

Quer um exemplo? Vamos lá:Para representar o passado, geralmente, usamos tons

pastel amarelados e sujos, como palha, ocre e sépia, remetendo ao papel ou tecido envelhecido. Já o futuro surge em cores limpas e frias: branco (em razão da luz intensa), prata (dos objetos tecno-lógicos), verde (da informática) e azul (do infinito).

Basta observar por aí: o passado é pesado como pirâmi-de; o futuro, leve como fibra de carbono.

É preciso também se ligar no aspecto cultural das cores. No Ocidente, de modo geral, a cor rosa simboliza o feminino; na Coreia, significa confiança; na África do Sul, está relacionada com a pobreza. E se, para os alemães, amarelo é inveja, para egípcios e etíopes, amarelo é luto.

Ainda tem a questão biofísica das cores, de como so-mos afetados inconscientemente por elas. Dizem – e a ciência comprova – que cada cor provoca uma sensação diferente nas pessoas. Vermelho estimula, verde relaxa, azul acolhe e assim por diante. Até a cor preferida de cada um muda com o passar dos anos, podendo representar o que mais existe na pessoa ou o que mais lhe falta.

Cor, como se vê, é bem mais do que simples questão de gosto. Por trás de uma escolha, há razões – conscientes ou não.

MUNDO-ALDEIA

hoje, no entanto, ninguém precisa escolher cor nenhu-ma. Pode, se assim desejar, apenas seguir as tendências aponta-das pelo mercado para ficar atualizado. No mundo-aldeia, tudo influencia tudo e, de repente, tudo vira quase uma coisa só.

Em relação à cor, a Pantone elegeu o verde-esmeralda, código 17-5641, como a cor de 2013, e é só fazer uma rápida pesquisa no Google para comprovar que o verde-esmeralda, de fato, coloriu o planeta. A questão é: foi a Pantone que influenciou as decisões do mercado por essa cor ou o mundo já se “esverde-ava” e a empresa apenas captou essa tendência?

As duas coisas.Para chegar à definição da Cor do Ano, a Pantone

explica que “varre o mundo à procura de influências”. Esse trabalho inclui pesquisas em diferentes áreas: indústria do entretenimento, filmes que ainda estão em produção, coleções de arte que estão viajando o planeta, obras de novos artistas influentes, melhores destinos de viagens, novas texturas e efeitos que terão impacto sobre a cor, tecnologias e até grandes eventos esportivos.

Finalizada essa “varredura”, a Pantone desvenda e anuncia a Cor do Ano e, ao divulgá-la para o mundo, acaba po-tencializando seu uso.

Claro, isso só acontece porque a Pantone não é uma marca qualquer, mas uma autoridade no assunto. Aliás, este ano a empresa comemora 50 anos de invenções cromáticas.

A história da Pantone teve início em 1962, quando Lawrence herbert assumiu o controle de uma pequena empresa em que trabalhava. Localizada na cidade de Manoochie, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, a companhia fabricava cartões de cores para a indústria de cosméticos.

A grande virada ocorreu um ano depois, em setembro de 1963, quando herbert desenvolveu o primeiro Pantone Ma-tching System – o hoje famoso Guia Pantone, um catálogo de cores que permite visualizar e reproduzir com exatidão as tona-lidades que serão aplicadas em produtos de vários segmentos: moda, design, arquitetura, design de interiores, embalagens.

Outra boa sacada de herbert foi utilizar um sistema numérico para identificar as cores Pantone, uniformizando seu uso. Afinal, números são números aqui, no Sri Lanka, em qual-quer lugar.

Referência mundial, as cores Pantone são citadas até na legislação de alguns países. O parlamento da Escócia, por exemplo, estabeleceu que sua bandeira deve ser confeccionada com Pantone 300. Canadá e Coreia do Sul também indicam as cores da empresa para uso em seus símbolos nacionais.

TENDÊNCIAS CROMÁTICAS

Desde 2000, o Pantone Color Institute elege a Cor do Ano. Na primeira edição, a tonalidade escolhida foi o Pantone 15-4020, intitulada cerúleo – ou, como ensina o Houaiss, “cor azul como o mar ou o céu em dias claros”. No ano passado, sob o código 17-1463, surgiu o tangerine tango: “Um laranja com muita profundidade”. E, em 2013, o verde-esmeralda.

Explica Leatrice Eiseman, diretora executiva do Pantone Color Institute: “O verde é a cor mais abundante na natureza. O olho humano vê mais verde do que qualquer outra cor no espectro. Simbolicamente, o verde-esmeralda traz em si uma sensação de renovação, clareza e rejuvenescimento, que é tão importante no mundo complexo de hoje”.

Outra empresa, a Suvinil, também realiza um estudo mundial de tendências cromáticas e adapta suas descobertas para a realidade brasileira, especificamente para as áreas de arquitetura e design de interiores. Para 2013, a empresa criou

uma paleta com 31 cores divididas em três temas: Óptico, Eté-reo, Biológico – tendo o verde-limão como cor central.

Verde-limão é cor camaleônica. Adquire tonalidades diferentes ao longo do dia em virtude das variações de ilumina-ção provocadas pela luz do sol. É a cor-síntese da proposta da Suvinil: refletir sobre a transitoriedade. Na vida, tudo é transitó-rio, inclusive a decoração da casa, que muda à medida que seus moradores mudam.

Segundo Ana Kreutzer, designer de cores da Suvinil, o verde-limão já coloriu as passarelas da moda, mas, no design de interiores, seu uso é inédito. É a reinvenção da cor, que, de tempos em tempos, ganha novos significados e aplicações.

POR QUE NÃO?

Aderir ou não à cor da moda é decisão de cada um. Ser livre é poder ser, vestir, comer, ir, pensar, viver do jeito que se quer. Mas, excetuando-se o lado perverso de provocar mais desejos do que as pessoas necessitam, essas indicações de ten-dências, do que é ou será moda, servem também para chaco-alhar certezas, desafiar gostos e hábitos estabelecidos, propor novas possibilidades de mundo.

Por que não? Por que não verde-esmeralda ou verde-li-mão? Por que não pensar fora da caixa, em que nos sentimos seguros e confortáveis, e transgredir, experimentando novos sabores, texturas, caminhos, indagações, cores?

“Viver no escuro”, dentro da sua cor de costume, é moleza. Complicado é ir contra as próprias convicções e se reinventar. “No escuro, todas as cores concordam”, escreveu o filósofo e ensaísta inglês Francis Bacon.

# pantonebr.com.br / suvinil.com.br

18 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

foto

S DIvU

LGAç

ão

Por que não pensar fora da caixa, em que nos sentimos

seguros e confortáveis, e transgredir, experimentando novos

sabores, texturas, caminhos, indagações, cores ?

Papel de parede com elementos naturais, lavável, da coleção Silence, na Wallcovering. Ao lado, cubo de apoio lateral com acabamento em Laca Brilho, na Estar Móveis

foto

S DIvU

LGAç

ão

REzA A LENDA que o futuro irá atropelar, sem remorsos, as em-presas e os profissionais que resistirem em viver e atuar com base na mesmice do passado – ainda que, teimosa e erronea-mente, acobertados pelo presente traiçoeiro que é “até o talo”.

Paradoxalmente, num mundo cada vez mais não linear, apenas as ideias não lineares serão capazes de criar resultados de valor para esses profissionais (arquitetos, designers e decora-dores), desde que naveguem estrategicamente pensando “fora da caixa”, em novos mares ou no “oceano azul”. O livro Blue Oce-an sinaliza cases fantásticos dentro do contexto pró-mudanças. O Cirque du Soleil que o diga. “Pró-change” total.

Para prosperar, portanto, na “Era da Mudança”, já canta-da em prosa e verso também como a “Era do Design Criativo”, será necessário adotar uma agenda inédita de ações radicais, estratégicas e diferenciadas, recheadas de audácia e inovação, revolucionárias emocionalmente como tal, para atender os an-seios do consumidor cada vez mais exigente, carente e especu-lativo. Mais que um desafio fundamental com que hoje se depa-ram as empresas e os profissionais, penso que é, e será, uma sina (ad eternum) reinventar a si próprio e suas marcas (produtos e

insights), não apenas em tempos de turbulências (como as quais estamos vivendo internacionalmente), mas contínua e sistemati-camente, sabe-se lá até quando, em nosso país.

Imagino que, a rigor, e sob a ótica do mercado mundial no segmento da decoração de interiores, durante muitas déca-das não houve progresso na gestão do design criativo e menos ainda no lifestyle das pessoas, apenas ciclos comportamentais. Os anos se sucediam, o mix de produtos chegava e partia. O mercado pró-consumo estético e decorativo não melhorava, repetia-se sucessivamente num padrão rotineiro frustrante e infindável. Não havia uma previsibilidade de futuro, pois o futuro não se distinguia do passado, gerando um caos psicológico na gestão corporativa das empresas e/ou das marcas e produtos do nosso “mundinho home decor”. A vedete, claro, era o produ-to, o produto, o produto e o produto. Tudo sempre igual. Todos fazendo, fabricando e “decorando” tudo igual. Mesmice total e absoluta. “Porre à parte”, alguma coisa precisava acontecer para quebrar a gestalt do status quo, que já exibia um ar sepulcral de “sinal dos tempos”.

Fato é que, hoje, felizmente, a “Era da Mesmice” acabou.

muDAR É POSSÍvEL O timing da mesmice já era. Entram em campo a hora e a vez da mudança

PoR EDSON D’AGUANO

Edson D’Aguano é diretor-presidente da Consultive Branding, professor e consultor em Gestão de Marcas do Luxo. Apresentou a palestra Design, Criatividade e o Novo Luxo, no Conad

Sob a ótica do mercado mundial no segmento da decoração de interiores,

durante muitas décadas não houve progresso na gestão do design criativo e

menos ainda no lifestyle das pessoas“

há quem diga que ela nasceu nos anos 1970, chegou à exu-berante adolescência durante os 1980, alcançou a maturida-de nos 1990 e morreu de velhice precoce na alvorada do ano 2000. Ulalá!

Então, eis que emergiu nos anos 2000, especialmente no Brasil, uma fé inabalável, em que o design (inimigo mortal do óbvio) não só seria possível como também inevitável. A ex-pectativa e a crença na duração dos resultados positivos de valor aumentariam numa melhoria contínua de desempenho por meio do crescimento sustentado dos indicadores de alta performance. Os índices de propensão de ganho e consumo da população aumentariam. As classes B e C ganhariam des-taque social.

O lifestyle dessas pessoas ganharia uma nova dimen-são pró-qualidade de vida sob a ótica do conforto material e da estética visual. Nasce assim um novo nicho de mercado. Entra em campo o novo luxo, ou o luxo aspiracional, também conhecido mundialmente como um novo segmento de mer-cado, batizado de “masstígio” (produtos e serviços de prestígio

massificáveis para classe média/média alta, a preços altos, mas não proibitivos).

Mudar é possível. Mais do que isso. Na “Era Pós-Mesmice”, com direito a mudanças revolucionárias (by audácia e inovação), a informação custaria zero. O conhecimento se tornaria muito maior, e a sabedoria, maior ainda. Nada haveria que não pudesse ser melhorado, inovado, alterado, renovado e reinventado (a criatividade agradece), em especial no mercado homewear. O produto de hegemonia partidária e individualizada deixaria de reinar sozinho ditando regras e conceitos utilitários. Uma mudança mórbida aparece como por encanto. Entra em campo a fusão do lifestyle com o fashionstyle. Corpo e casa passam a ser almas gêmeas univitelinas. Beleza de um, estética do outro.

simone micheli

Arquiteto, designer de interiores, mobiliário, paisagista, designer gráfico, artista multimídia, imaginador de cidades. Quando o assunto é espaço, ele não se prende a rótulos nem se limita a campos específicos de atuação – arrisca sonhar e realizar os riscos que coloca no papel. Autor de trabalhos que, em alguns casos, podem parecer mais

instalações – como o Atomic Spa ou o restaurante Mi-Sha – e de outros que se encaixam mais no que se espera de um trabalho de “arquitetura”

– a sua própria casa, na Toscana, por exemplo – Micheli jamais abre mão de um dado incomum, que foge às expectativas e surpreende. Autointitulado “herói da arquitetura”, ele esteve em São Paulo para participar do último Conad e conversou com a ABD Conceitual sobre vida, arte, obra e perspectivas para o futuro, no presente.

múLTIPLO

22 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

PoR MARCELLA AQUILA

>>> pensando fora da caixa O meu trabalho se pauta pela criação de histórias e, nessa direção, pensar fora da caixa é, para mim, tentar realizar uma obra de arte – e é o que tento fazer toda vez que realizo um trabalho, seja de design, interior ou gráfico. Pensar fora da caixa para mim é criar uma nova história para o nosso tempo. Uma história que olhe para o passado e que, ao mesmo tempo, seja mais sustentável, mais ecocompetitiva, mais diferente não apenas no papel, mas também para o contexto em que se estabelece. hoje o projeto deve ser mais ético – menos e não mais – e, assim, acredito que pensar fora da caixa significa fazer uma revolução sobre o modo de se perceber e sentir o espaço. Significa retirar elementos, estabelecer novos, pensar a disposição desses elementos no espaço, mas não apenas em termos de múltiplas linguagens. Quer dizer, cada arquiteto tem a sua linguagem particular, algo a mais, algo a menos, mas a questão não é essa. Pensar fora da caixa significa criar uma nova história para um novo futuro.

simone micheli

B4 Hotel, em Milão

>>> motivações Mudar o presente. Realizar um espaço para pessoas, para uma nova vida para as pessoas. Você desenha, você trabalha, mas penso que na vida é importante transformar a situação que nos rodeia. Eu gosto muito de compor o espaço usando a luz. Minha arquite-tura é como escultura. Sou mais escultor e menos arquiteto. Essa foi a razão pela qual comecei a estudar arquitetura, pois, na minha opinião, o arquiteto é um artista. Para mim a arquitetura estabelece um link com o mundo da escultura e do design de luz.

>>> materiais O material de que mais gosto é o espelho, porque reflete tudo. O espelho reflete todas as cores. O espelho, para mim, é fantástico, e penso sempre nesse elemento quando quero criar uma emoção diferente para o espaço. Também gosto muito da forma curva, da forma contínua e das cores vibrantes e branca. Não sei por quê. Acho que nos nossos dias contemporâneos tão atribulados precisamos sorrir para criar novas histórias para um futuro novo. Prefiro os materiais naturais, mas para as formas curvas uso um pouco de material sintético.

24 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

Atomic Spa Suisse, centro de bem-estar no hotel Exedra Milano

>>> passado - presente Meus projetos estabelecem esse link do passado com o presente, mas esse link é evidenciado sempre pelo contraste. Nunca penso “no passado” quando trabalho com o passado. Quando trabalho com o ancestral, coloco no projeto elementos que nascem na minha cabeça, e esses elementos são frutos do nosso tempo. Nunca uso elementos que se parecem com o antigo. Para mim é importante o passado em relação com o superpresente. Por exemplo, em Lucca, na Toscana, tem um muro de proteção que cerca toda a cidade an-tiga. O muro é construído com tijolos vermelhos, e muitos dos habitantes que se estabeleceram em frente ao muro criaram um tipo de arquitetura com tijolos vermelhos. Acho que esse não é o melhor caminho. Eles construíram com o mesmo material, com a mesma cor, quando deveriam ter feito algo diferente e não similar para tentar se parecer com o antigo. há um arquiteto que construiu um edifício em Viena, na frente da catedral da cidade, com espelhos, e a catedral é refletida nesse novo edifício. Essa sim é a maneira mais

interessante de se construir um mix entre o passado e o presente. Os novos materiais, os materiais tecnológicos, têm essa capacidade de, por contraste,

conectar com o passado – a sensação do novo e a sensação do antigo por contraste. Quando penso sobre a cidade, eu a considero como um pedaço de papel em que podemos desenhar a cada dia uma cena e depois outra e compor com o espectador, passo a passo, uma porção de novas histórias – diferentes histórias e não histórias iguais. Projetei há dois anos um restaurante, o Mi-Sha, em um espaço secular e que tinha como proposta a convivência entre duas culturas – a chinesa e a italiana. Mas não fundi as duas. Organizei o espaço de uma maneira que se possa perceber tanto uma quanto a outra de modos distintos. Usei, por exemplo, projeções nas pare-des em que aparecem imagens de situações urbanas chinesas e, três minutos depois, italianas.

Você pode comer tanto um rolinho primavera quanto um prato típico italiano; tomar uma xícara de chá ou tomar uma taça de Brunello di Montalcino. Não misturados, fundidos, mas separados.

Você experimenta histórias diferentes em um mesmo espaço, percebe que duas experiências podem ser simultâneas sem que seja necessário serem fundidas. Penso que é fundamental colocar as diferenças rela-cionadas, mas não apagá-las, fundindo-as.

>>> conadPara mim foi uma ótima experiência, interes-sante porque são muitas pessoas refletindo sobre o presente e o futuro do design de interiores. E existe uma ampla rede para se discutir as possibilidades para o futuro. Na nossa época o importante é a rede, e o Co-nad é uma grande rede.

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S DIvU

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ão

Quando um arquiteto tenta realizar uma obra, muitas vezes os administradores impõem

barreiras difíceis de ultrapassar e o arquiteto ou designer precisa lutar pelo seu projeto“

>>> inspirações Para mim inspiração não é olhar as formas das obras-primas de arquitetos ou designers. É olhar para a história do passado, por exemplo. Gosto muito dos artistas do período de 1400, como Masaccio e Brunelleschi. É evidente que conheço o trabalho de meus colegas, conheço os trabalhos históricos de arquitetos e designers do mundo todo e acho que na minha arte há um pedacinho de cada um, mas não pretendo que o meu trabalho seja similar a essa ou aquela obra ou período. Gosto muito dos anos 1960 também. Você pode ver que nos meus trabalhos há uma relação com esse período, mas com diferenças, porque, quando crio um espaço, tento me livrar do estilo para criar uma história nova. A inspiração nasce quando olho para o céu, o mar, as nuvens ou quando falo com meus filhos, com minha mulher ou quando faço amor com minha mulher. São muitas situações diferentes e não algo que está ligado à moda do momento.

>>> futuro A tecnologia transforma a vida a cada dia. Penso que o futuro do design será o não design. Por exemplo, hoje nos preocupamos em desenhar diferentes formas para o telefone, os vidros, as cadeiras. No futuro viveremos em bolhas de tela, quer dizer, na minha imaginação, em vez de você pegar um telefone para falar com alguém, bastará estender a mão e levá-la aos ouvidos. Acho que no futuro não sentaremos em cadeiras, será outra história, porque penso que o importante não será o mundo material, mas o próprio aspecto corporal das pessoas que contará.

>>> herói da arquiteturaherói da arquitetura porque sou um gladiador. Quando falo com o prefeito da cidade, um político, o representante de uma comunidade, tenho que ser um gladiador porque preci-so defender os meus sonhos, quero lutar pelos meus sonhos. Quando um arquiteto tenta realizar uma obra, muitas vezes os administradores impõem barreiras difíceis de ultrapassar e o arquiteto ou designer precisa lutar pelo seu projeto. Quero realizar meus sonhos e, por isso, brigo por eles.

>>> quem gostaria de encontrarEscolheria Deus para uma xícara de café. Sou um grande fiel e, por esse motivo, escolheria Deus. Às vezes você pensa: “Por que essa terra? Por que estou aqui?”. Talvez um café com Deus pudesse responder.

# simonemicheli.com

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S DIvU

LGAç

ão

26 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

HOT

SPOTComer, prazer, viver: a cozinha retoma seu espaço de rainha do lar

PoR EDUARDO LOGULLOFotoS AMÉLIE LOMBARD

28 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

DESDE QUE RABELAIS publicou, em 1546, aquele que é consi-derado seu escrito mais importante, O Terceiro Livro dos Fatos e Ditos Heróicos do Bom Pantagruel, comer e prazer se asso-ciaram de modo definitivo. Nesse trabalho de gênio, a sátira do autor francês escandalizou os conservadores da época renas-centista. Os padres queriam até levá-lo aos tribunais da Inquisi-ção, só porque Rabelais inventara o imenso Pantagruel – herói que simbolizava o espírito livre, “o viver, o comer, o beber”, em relatos que unem humanismos, fatos curiosos, comilanças e nenhum preconceito.

Os tempos pantagruélicos ficaram distantes. Comilanças e orgias gastronômicas saíram de vez das práticas sociais, para

ceder lugar a outros excessos: fast-food, mastigação ansiosa, ali-mentos industrializados e refeições aceleradas, quase dementes. Comer “bem” virou quase luxo, culto, ostentação, veneração.

Para pessoas ligadas em tendências e que conside-ram chefs de cozinha como sacerdotes do paladar (as mes-mas que se alimentam mal no dia a dia), o setor imobiliário lançou imóveis com um “espaço gourmet”. Ai, ai. Ali, brincam de se lambuzar com patês e a cheirar rolhas de vinhos (por se acharem connaisseurs). “Espaços gourmet” são (e serão) terri-tórios vazios, desprovidos de verdade, revestidos por modis-mos. Quase a parábola da busca do estilo perdido que jamais será encontrado.

COZINHA SACIEDADE ANôNIMA

Vamos falar de cozinhas, o tema da matéria. Cozi-nhas reais, cozinhas que são o epicentro da casa, cozinhas pensadas para reunir amigos e fugir da atmosfera living room. Cozinhas para se manter muitos pés na cozinha, para quem gosta de panelas, de clima de boteco doméstico, de pileques bem-vindos. Cozinhas para incentivar risadas, histórias quen-tes, túneis do tempo, para discutir projetos que mudarão o mundo, promover encontros, ouvir música, debater cheiros. Tudo isso mais barulhos de talheres, aromas, cores, “bateção” de louça, “abrição” de geladeira, fila de celulares recarregan-

do, luz inteligente e até a tela de um monitor. Triste é a casa em que a cozinha vive em ponto

morto. Triste é a casa em que a cozinha existe apenas para abrigar um micro-ondas, um fogão tampado e uma gela-deira desanimada.

Feliz é a casa em que a cozinha é o hotspot. Feliz é a casa em que a cozinha fala sozinha, atraindo quem chega de modo hipnótico. “Ah, vou ficar aqui mesmo”. “Ah, sempre acho a cozinha o melhor lugar da casa para se ficar”. Ao ou-vir frases assim, sabe-se que brotou o feitiço daquela área de onde emana fogo, água, gelo, comida, bebida. A cozinha forma uma espécie de saciedade anônima. Cozinha S.A.

30 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

MANUAL DE USO

E cuidado: uma inocente reunião na cozinha pode va-rar a noite sem que ninguém perceba. E acabar em carnaval. Por manter os convivas aproximados e grupos misturados, por isolar formalidades e provocar intimidades, aquele que consul-tar o relógio será olhado de modo feio.

O.K., transforme o jantar em almoço. Mas quem garante que os convidados vão sair em pouco tempo? Entrou na cozi-nha? Adeus, insensato mundo.

Olá, amigos do mundo. Uma cozinha-líder proporciona tons festivos, mais um jeito cozzy e convidativo (recuse-se a chamar a cozinha de “aconchegante”. Aliás, recuse-se a usar

esse termo em qualquer possibilidade). A cozinha pode ser clean, mas nada clean demais. Ou ficará parecendo cozinha de flat. Trate-a bem, permita que ela, a Santa Cozinha do Lar, receba em sua dimensão o que for de melhor para seu bolso e sua vida doméstica. Produza focos de luz indireta, convoque plantas, canteiros de temperos, livros, parangolés, detalhes tão pequenos de nós dois, pau, pedra, aço, madeira, fórmica, azulejo ou absurdos inesperados.

Cozinha, doce cozinha. Ela é a rainha do lar. O último a chegar lá é mulher do padre. Cozinha já! Coloque uma cozinha em sua vida. Cozinha: ame-a ou deixe-a. Cozinha: deixe-a se for capaz. Quem tem boca vai à cozinha. Quem tem coração também vai.

AMÉLIE LOMBARDFotógrafa especializada em gastronomia e compor-tamento, Amélie Lombard nasceu e mora em Paris, onde atua nas áreas de publicidade e jornalismo, além de produzir trabalhos autorais, como Pas-a-Pas, série de imagens que ilustram estas páginas.# amelielombard.com

Ronald Kapaz é arquiteto e designer, diretor de estratégia da Oz Design. Foi mediador da mesa Branding, Story Telling e Experiência, no Conad

32 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

ESTE TíTULO RESUME minha trajetória profissional e também um tema relevante que surgiu na mesa de debates que mediei, aceitando o convite dos organizadores do Conad.

Após ouvir os integrantes da mesa, cada um trazendo seu olhar e experiência para o debate, surgiu a pergunta, vinda da plateia, sobre se hoje uma marca de produtos de consumo que tem por desafio desenhar seu ambiente de varejo procura um arquiteto/designer de interiores ou um escritório de estra-tégia de marcas e design para responder a esse desafio.

O tema aponta para uma questão importante: como são formados arquitetos e designers de interiores nas escolas hoje? Será que existe no currículo disciplinas que abordam a questão da identidade, não a do autor, mas a do cliente, como um tema a ser praticado e enfrentado em sua complexidade?

Tenho a sensação de que ainda hoje, como quando estudei, o foco das escolas está concentrado no desenvolvi-mento técnico e na instrumentação do futuro profissional, que não é pouca coisa, mas sinto que seria fundamental que fosse introduzido nas salas de aula o tema da personalidade da mar-ca e sua expressão pelo desenho de seu espaço. Mais do que ensinar a desenhar bons espaços, desafiar o aluno a exercitar a capacidade de introjetar diferentes personalidades e saber como traduzir este “outro” em forma, em arquitetura.

Vale lembrar que existem pelo menos dois caminhos claramente definidos para quem trabalha como designer de interiores: criar uma marca forte, uma personalidade pessoal e um estilo próprio, que será oferecido e procurado, pela sua identidade, quando ela atender aos desejos e personalidade de uma determinada marca (a grande maioria?); ou desenvolver a

“Eu não sou uma coisa, um sujeito. Eu pareço ser

um verbo, um processo evolucionário.”

R. Buckminster Fuller, arquiteto (mas não só…)

capacidade de não ser um “eu” determinado e poder ser diversos “outros”, enfrentando o desafio de encontrar a melhor solução para cada problema e para cada marca.

É assim que trabalha a maioria das consultorias de cons-trução de marcas e design e, talvez, a crescente procura por essas empresas para atender às necessidades de expressão de valores de marca e identidade pelos espaços seja um indicador a ser levado em conta por profissionais do setor e pelas escolas.

Assim como um ator que, ao estudar um novo persona-gem, tem o desafio de estabelecer uma empatia e uma espécie de transferência para o universo desse “outro” que lhe permitirá saber como falar, agir, sentar, vestir-se e atuar, um designer de interiores deve ser esse ator que tem a sensibilidade e o voca-bulário estético e arquitetônico para ser um “outro” e desenhar o espaço dessa outra perspectiva, singular e diferente da sua, e atendendo à qualidade técnica e simbólica que deve ter todo bom espaço desenhado pelo homem para o homem.

Concluo lembrando que tudo o que construímos, para nós e para o outro, é carregado de sentidos e significados que de-vemos entender para atender, porque somos seres simbólicos e nosso espaço é a expressão de valores profundos e antigos, a ma-terialização sempre sutil, mas presente de uma vontade de harmo-nia do homem com o meio. A realização de uma ideia de paraíso.

DO ARQUITETO AO CONSTRUTOR DE IMAGENSA personalidade da marca e sua expressão pelo desenho de seu espaço

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34 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

PoR MARCOS GUINOZA

Totalmente conectada, a casa do futuro será sensível aos hábitos do dono e poderá até monitorar a sua saúde. É isso o que afirma, na entrevista a seguir, José Roberto Muratori, diretor executivo da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside)

ON -LINE

CASA

ABD Conceitual – O que é automação residencial?José Roberto Muratori – Caracteriza-se pela integração de diferentes sistemas da casa, de modo a oferecer ao usuário mais facilidade e comodidade para controlar essas funcionali-dades, seja do interior da casa ou, literalmente, a partir de qual-quer localização no mundo, pela internet. É importante ressal-tar que não existe um padrão único de sistema de automação, pois cada usuário e cada família tem expectativas diferentes e também utiliza sua casa de forma muito particular. ABD Conceitual – Em que estágio está a automação residen-cial no Brasil? JRM – Em termos de número de projetos, temos crescido anualmente pelo menos 30% nos últimos três anos, e a expec-tativa é manter esse crescimento por mais alguns anos, pois o mercado ainda é muito pouco desenvolvido e tem grande potencial de evolução. Em relação às tecnologias, estamos in-seridos globalmente e nada deixamos a desejar em variedade de produtos e soluções. ABD Conceitual – Quais países estão mais avançados na área de automação residencial? JRM – A automação residencial ainda é um mercado em de-senvolvimento na maioria dos países, mas realmente é mais difundido em regiões como os Estados Unidos e a Europa Oci-dental, com diferentes ênfases. Enquanto nos Estados Unidos a visão é mais dirigida ao conforto e ao entretenimento, na Eu-ropa a preocupação maior é com a segurança e a eficiência. ABD Conceitual – Qual o perfil das pessoas que investem na automação da casa? JRM – Normalmente são pessoas mais jovens, que têm mais afinidade com a tecnologia e utilizam esses recursos no dia a dia, que é muito agitado (trabalho, viagens, cuidados com a casa, a família etc.). Assim, a tecnologia já participa de forma natural de sua vida, com os smartphones, tablets etc., e acres-centar as facilidades da automação residencial a esses equipa-mentos já disponíveis passa a ser mais simples e desejável. ABD Conceitual – Cite três tecnologias incríveis que uma pessoa já pode ter em casa hoje.JRM – 1) A garantia de mobilidade, liberdade e, ao mesmo tempo, controle é uma experiência nova e com evidente apelo para todos, garantindo a cada um poder atender suas neces-sidades específicas, sejam elas ligadas à segurança da casa, ao conforto e à proteção dos residentes (que podem ser pessoas idosas, doentes ou deficientes) ou ainda ter na casa um am-biente de trabalho mais produtivo e conectado. Assim, eu cita-ria o monitoramento a distância e a interatividade com a casa como a experiência mais recente e ainda a ser explorada em diversos formatos.2) Trabalhar, estudar e se divertir em casa, sem sair do mesmo

Não existe um padrão único de sistema de

automação, pois cada usuário e cada família

tem expectativas diferentes e também

utiliza sua casa de forma

muito particular

ambiente, apenas se conectando a diferentes redes ou apa-relhos, baixando conteúdos dos mais diversos, seja uma aula de pós-graduação em harvard, um programa de TV ou uma playlist de músicas, armazenados em algum servidor na nuvem, além de incontáveis outras facilidades já disponíveis, como re-des sociais, aplicativos de imagens, filmes e games.3) Comandos de voz e gestos para acionar seus equipamentos, sejam eles quais forem. ABD Conceitual – Cite três tecnologias incríveis que, com certeza, teremos no futuro.JRM – 1) health care, ou monitoramento e cuidados com a saúde por meio de cuidadores virtuais, similares aos atuais “centros de monitoramento”, só que, em vez de se dedicar ape-nas à segurança da edificação, serão utilizados para monitorar a saúde de seus ocupantes em tempo real.2) Internet das coisas: qualquer equipamento será plugável a uma rede e, assim, poderá ser controlado e utilizado quando necessário, pois também terá uma capacidade de processa-mento (inteligência) e de se comunicar com outros equipa-mentos também conectados.3) Automação na nuvem: crescente substituição dos hardwa-res que temos em casa pelo tratamento da informação execu-tado numa nuvem computacional, muito longe de nossa casa, eliminando a maioria dos problemas físicos de manutenção e tornando possível reconfigurar ou corrigir o sistema com apli-cativos e softwares.

ABD Conceitual – O senhor já disse que a casa do futuro será sensível aos hábitos do dono. Como será isso?JRM – Um sistema de automação pode ser programado para “aprender” a rotina de uma casa e deixar várias situações do dia a dia acontecerem de forma automática. Isso pode acon-tecer com relação a algumas utilidades, como aquecimento de água, climatização, irrigação e até outros sistemas de uso mais diversificado, como iluminação, movimentação de corti-nas e som ambiente, por exemplo. A entrada de um usuário em determinado ambiente e a certa hora do dia pode ser in-dicador para o início de uma atividade que será automatica-mente desencadeada pelo sistema, que pode, por exemplo, “aprender” a rotina diária de luzes acesas e apagadas e, no caso de uma viagem prolongada, simular essa rotina mesmo na ausência dos seus ocupantes. ABD Conceitual – De que maneira uma casa é automatiza-da? Com uso de botões e controles ou por sensores?JRM – Tanto comandos operados pelo usuário, botões e telas de toque, como sensores são utilizados. Isso depende do tipo de atuação desejada. Você pode, por exemplo, deixar sempre atuante um sensor de luminosidade externa e, se a iluminação natural for suficiente, mesmo que o usuário aperte um botão para acender as luzes de um ambiente, o sistema não permite,

Um sistema de automação pode ser

programado para “aprender” a rotina de

uma casa e deixar várias situações do dia a

dia acontecerem de forma automática

36 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

pois entende que não é necessário. No entanto, esse mesmo botão, se apertado à noite ou em um momento de escuridão, vai executar a função e acender as luzes do ambiente.

ABD Conceitual – Numa casa automatizada, com um único comando é possível gerenciar diversos equipamentos. E se der uma pane? O que acontece?JRM – Os projetos de automação sempre mantêm certa redun-dância. Entendemos que alguns usuários da residência podem ser hóspedes ou prestadores de serviços temporários e preci-sam também fazer funcionar a casa, mesmo que o proprietário tenha todo o controle em um smartphone, por exemplo. Além disso, algumas funções ou equipamentos críticos podem tam-bém ser redundantes para evitar falhas muito abrangentes. ABD Conceitual – Automatizar uma casa acaba interferindo na decoração?JRM – Não deveria! Nossa sugestão é que sempre exista a compatibilização prévia dos projetos de interiores, layout, ges-so e iluminação com o projeto de automação. Assim, eventu-ais interferências são previstas ainda no projeto e podem nor-malmente ser bem resolvidas na obra, antes de se tornar um problema estético ou funcional. Muitos produtos de automa-ção já passaram pela necessária estilização para se tornar um elemento integrado na decoração, muitos deles inclusive são compatíveis com linhas mais comuns de acabamentos. ABD Conceitual – O senhor acredita que, um dia, viveremos numa casa como a do desenho animado Os Jetsons?JRM – Algumas características serão até parecidas, mas tere-mos algumas diferenças notáveis, no meu modo de pensar. Como já disse, muito da parte mecânica e física (robôs, por exemplo) será substituído por softwares e pelas funcionalida-des que existirão na “nuvem”.

# aureside.org.br

Muitos produtos de automação já passaram

pela necessária estilização para se

tornar um elemento integrado

na decoração

“COMPUTAÇÃO EM NUVEMÉ um modelo de acesso remoto a dados e informações em que nada mais precisa ser instalado no computador. Tudo fica disponível na internet – programas, arquivos (documentos, mú-sicas, jogos, fotos, vídeos) e serviços – e pode ser acessado a qualquer momento e de qualquer lugar do mundo, indepen-dentemente da plataforma. O conceito básico da computação em nuvem é ter um ambiente com grande capacidade de ar-mazenamento, processamento e compartilhamento no qual o próprio cliente estabelece sua necessidade de uso.

Mônica Barbosa é apresentadora e diretora do programa Living Design, uma rede de comunicação em arquitetura e design. Foi mediadora da mesa Beleza: A Palavra do Futuro, no Conad

38 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

FIz PARTE DA COMISSãO que definiu o conteúdo das palestras da última edição do Conad, e a presidente da ABD, a designer de interiores Renata Amaral, queria que o último dia do evento extrapolasse o tema de 2013, Pensando Fora da Caixa, trazen-do propostas criativas, inspiradoras e inovadoras.

Como iria mediar a mesa, senti a responsabilidade que tinha nas mãos de fechar o dia de forma triunfante. Era necessário trazer um tema atual, que estivesse na pauta de dis-cussões de filósofos, acadêmicos e caçadores de tendências, e foi por isso que propus a discussão da beleza no século 21.

Antes a beleza estava ligada a parâmetros clássicos como harmonia e simetria, e era coisa de mulheres, dos mais sensíveis, dos poetas, dos profanos e até dos pervertidos. Para os pensadores da nossa época, a beleza se propõe ser a palavra do milênio. O diretor do curso de beleza da Faap, o professor Silvio Passarelli, em sua apresentação no evento, falou que “as pessoas, recuperadas as perspectivas individuais, tenderão a assumir estilos de vida marcados pela busca de experiências e de prazer”. Nessa trajetória, disse Passarelli, “o fenômeno estéti-co ganhará importância crescente”.

Sempre acreditei que a beleza produzia uma vanta-gem competitiva em diversos níveis, seja nos negócios, nas relações pessoais e profissionais, nas cidades, para uma mar-ca, um país, em nossa casa e na nossa vida. O.k., sou do signo de Libra, com Vênus me dominando, e a beleza, claro, é fonte de minha existência. Mas hoje afirmo que essa característica pessoal é um ponto forte e vantajoso na hora de administrar meus negócios e entender de que maneira a beleza das artes, da arquitetura, da decoração e do design influenciam a quali-

A beleza contemporânea é bem mais sensorial.

Ela vem da experiência e do prazer que objetos,

ambientes e pessoas nos proporcionam

dade de vida das pessoas, traz desenvolvimento para as cidades e aumenta as divisas de um país.

Dostoiévski (1821-1881), o escritor russo, fala, de manei-ra resumida, “que só a beleza pode salvar o mundo”. Tenho feito essa pergunta a diversas personalidades que entrevisto. Dome-nico De Masi, Gaetano Pesce, Pierre Cardin, entre outros, foram alguns a quem já indaguei sobre isso e, de maneira bem parcial, as respostas têm sido: “Sim, a beleza pode salvar o mundo” ou “salvar não, mas com certeza vai influenciar”.

Mas o que é belo hoje? A beleza contemporânea é bem mais sensorial. Ela vem

da experiência e do prazer que objetos, ambientes e pessoas nos proporcionam. O que é realmente belo, atualmente, tem doses elevadas de elegância, sensibilidade, verdade e felicidade. E como bem colocou o professor Passarelli, “a antítese da beleza, visto ser esta subjetiva, não é a feiura e, sim, o desleixo”.

Ser feio é coisa do passado!

SER FEIO ESTÁ POR FORAConsiderações sobre o novo conceito de beleza

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PoR MARCELLA AQUILA

PENSE EM UM ESPAçO DE TRABALhO. Talvez a primeira ima-gem que venha a sua cabeça seja aquela de um pavimento em um edifício comercial, repleto de estações individuais, algumas salas isoladas por divisórias e uma ou duas salas de reunião. Uma copa talvez? E, provavelmente, cada função no seu devido lugar – bem separadas. Eis a imagem clássica de um ambiente de trabalho do século 20. Mas, embora essa forma de organiza-ção espacial ainda seja a mais conhecida e, talvez, a mais pra-ticada, seu império parece estar com os dias contados. Assim como o Dilbert e o Wally, os famosos “cubículos” certamente ficarão para a história como crônicas de um tempo passado.

Na medida em que avançamos no século 21 e que novos dispositivos e tecnologias surgem, dinamizando e am-pliando as possibilidades no campo das relações humanas, um impacto estrutural também se faz sentir sobre as relações de trabalho. Não apenas na rapidez com que se pode trocar infor-

mações, fazer conferências e, até mesmo, operar e coordenar ações remotamente, mas, começa a se verificar mudanças sig-nificativas no modo como se dá a convivência entre as pesso-as no ambiente profissional. Valores até então aparentemente imutáveis, como hierarquia, começam a ceder espaço à cola-boração e a uma maior horizontalidade e, em lugar da antiga fragmentação em setores que operavam isoladamente, passa a se buscar cada vez mais a interdisciplinaridade, ou seja, a troca de ideias e experiências.

Segundo Jeremy Myerson, diretor do Centro helen hamlyn, da Royal College of Art, de Londres, “em vez de indi-víduos sentados, enfileirados e prontos a seguir instruções ex-plícitas de supervisores em uma hierarquia, novas práticas de trabalho estão emergindo baseadas na colaboração, iniciativa e exploração de novas possibilidades”. Muito mais do que execu-tar tarefas, o que se espera hoje é a capacidade de se processar

TuDO

juNTO& mISTuRADO

A transformação dos ambientes de trabalho em espaços de estímulo e convivência coletiva

40 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

Em vez de indivíduos sentados, enfileirados e prontos a seguir instruções explícitas de

supervisores em uma hierarquia, novas práticas de trabalho estão emergindo baseadas na colaboração,

iniciativa e exploração de novas possibilidadesJeremy Myerson

informações e responder, com base no arcabouço de conheci-mentos adquiridos, com criatividade às demandas e aos desa-fios que surgem.

Se as relações no trabalho mudam e as exigências sobre seus produtos passam a ser mais sofisticadas, mudam também as exigências sobre os espaços em que se dão essas relações e produção. À quantidade sucede a qualidade, pois, se antes a pressão era o método dominante na busca por resultados, no caso da expectativa por respostas criativas e inteligentes, o es-tímulo e o cuidado com o bem-estar passam a ser essenciais na direção de um aumento da produtividade. Para a senhora Choe, chefe administrativa da Fundação Bill & Melinda Gates, que recentemente se mudou para um novo escritório, dese-nhado pela americana NBBJ, “existe um reconhecimento de que se trabalha de modos diferentes, então nós desenhamos espaços que acomodassem esses diversos modos (...) acho que uma das lições é compreender o seu negócio e entender do que as pessoas precisam para realizar o melhor em seu traba-lho”. Na nova sede da Fundação Gates, que fica em Seattle, no noroeste dos Estados Unidos, foram priorizados aspectos como transparência e iluminação natural, as chances de encontros e a mobilidade, resultando em espaços amplos e compartilhados e com vistas para o exterior.

Não à toa, à medida que os espaços abertos e de uso compartilhado ganham cada vez mais relevância, termos como “hub”, “interação” e “plataforma”, bastante comuns na arquite-tura da informação, passam a ser relacionados também como características desejáveis aos espaços físicos. A relação entre a tecnologia e a arquitetura já não se dá de uma maneira super-

ficial, ou seja, já não se trata de agregar aparatos e recursos aos espaços simplesmente, mas perceber que existe a demanda de que os próprios espaços físicos passem a operar sob a mesma lógica em que opera a esfera virtual: a simultaneidade.

Segundo uma pesquisa realizada pela NBBJ Arquitetura, cerca de dois terços dos ambientes de escritórios americanos es-tão hoje configurados de um modo mais “aberto”. Essa tendên-cia de redesenho tem a ver também com o fato de que espaços abertos e compartilhados permitem uma redução em áreas to-tais e, portanto, economias significativas para as empresas.

Contudo, se a meta é construir ambientes que sejam inspiradores e funcionem como “incubadoras de ideias”, não só ambientes de uso coletivo são importantes como também seu contraponto é fundamental – espaços de retiro, com maior quietude e propícios para a reflexão. Conferências e reuniões também não saíram da pauta e mantêm seus espaços reser-vados. Ainda no caso da Fundação Gates, o modelo de uso do espaço adotado foi de 60% coletivo e 40% de ambientes fe-chados. Mesmo porque não se trata da substituição absoluta de um modelo por outro, mas exatamente de saber tirar partido do melhor que cada um deles tem a oferecer.

Fato é que, se antes a organização espacial atuava muito mais como veículo de um programa preestabelecido, ou, ainda, apenas como uma operação de contingência espacial (como caber mais em menos espaço), hoje a lógica foi inver-tida. O desenho é chamado a exercer o seu potencial máximo, enquanto linguagem, que é o de estímulo aos cinco sentidos e também a novas formas de relação entre seus usuários – o desenho ou, o projeto, passa a ser protagonista nesse processo.

Se oS “CUbíCULoS” marcaram época no século 20, um tipo de espaço que começa a despontar e que talvez venha a ser emblemático do século 21 seja aquele à la campus universitário. o espaço desenha-do pelo escritório de arquitetura blitz para a empresa one Workplace vai nessa direção. ocupando um ter-reno de aproximadamente 23.225 m², em Santa Cla-ra, Califórnia, o espaço da empresa de mobiliário e so-luções corporativas é um mix de showroom, fábrica, escritório e depósito. Afinada com as tendências da época e já que a one Workplace trabalha exatamente na elaboração de ambientes corporativos, a parceria com a blitz foi uma oportunidade de explorar e de-monstrar o máximo das possibilidades de configura-ções de espaços de trabalho.

Inspirados pela diversidade de meios de transporte adjacentes ao terreno onde o prédio está implantado – o aeroporto de San josé, rodovias arte-riais e uma antiga estação de trem – bem como por se tratar de uma área industrial, os aspectos fabris dos edifícios ali existentes foram aproveitados, como o caráter da mobilidade levou a uma maior fluidez espacial, configurando um ambiente próprio de labo-ratório de design (design lab). Como resultado, surgi-ram ambientes multifuncionais, em várias camadas (layers) e que convivem, ao mesmo tempo, com ou-tros mais reservados e destinados à concentração. A sala de reuniões elevada, por exemplo, consiste tam-bém em um observatório onde os clientes podem ter uma visão total das várias formas de organização possíveis ali presentes.

Dois outros fatores foram, ainda, fundamen-tais na definição dos programas. A empresa familiar, já na terceira geração à frente de sua gestão, tem origem italiana. Sendo um traço cultural marcante a relação da família italiana com a cozinha – basica-mente o ambiente da casa onde as conversas e deci-sões mais importantes são tomadas – foi concebida uma grande cozinha como espaço de descontração e reuniões informais. também a relação com a natu-reza do entorno foi um aspecto que procurou se ex-plorar com aberturas e grandes áreas envidraçadas.

o one Workplace é ainda citado como exem-plo de eficiência espacial pelos arquitetos da Blitz, já que migrou de um espaço ocupado de 4.200 m² com 101 funcionários, para um espaço ocupado de 3.250 m² com um time de 165 funcionários. em tem-pos de informação, acasos e combinações, espaços cada vez mais abertos e totalizantes voltam a roubar a cena. e em meio a tudo junto e misturado, o com-positor avisa: “Salve-se quem souber”.

44 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

As imagens que ilustram estas páginas são da empresa

One Workplace, com projeto arquitetônico e de interiores do

escritório de design Blitz

fluidez espacial

# oneworkplace.com | designblitzsf.com

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Ideo Bava, professor do curso de decoração da Faap e primeiro presidente da ABD, costumava dizer que “a decoração era a primeira de todas as artes”. Antes de o homem saber es-crever, construir sua morada, ele se decorava e, quando o fazia, impregnava-se de novos significados. Em seu próprio corpo e depois em seus objetos, transformando-se em algo além do que era para atingir seus sonhos e suas pretensões existenciais.

O design de interiores é isso: sensibilidade e humanismo, arte e técnica, sonhos e significados, bem-estar e tecnologia, saú-de e felicidade.

Somos uma categoria profissional, temos um processo de formação profissional em nível técnico, tecnológico e no ba-charelado, com mais de 60 anos de atividades, formando profis-sionais pelo Brasil. Participamos de mostras e eventos há mais de 30 anos. Simplesmente existimos agora e sempre, não podemos ser extintos por uma resolução desprovida de bom senso, que fere a Constituição Brasileira, no inciso XVIII do artigo 5º.

Temos direito ao nosso trabalho, estudamos, realizamos congressos, trabalhamos e construímos nosso mercado com dignidade. Somos responsáveis por nossas atividades, não quere-mos ter atribuições específicas da engenharia ou da arquitetura, porque nos entendemos no mercado de forma distinta. Somos designers de interiores, produzimos nos espaços ocos das edi-ficações os interiores adequados à vida e ao trabalho humano.

Jéthero Cardoso é vice-presidente da ABD e coordenador do curso de design de interiores da Belas Artes

46 ABD CONCEITUAL AGO/SET 2013

ESTÁ EM CurSO uma grande discussão sobre a polêmica reso-lução 51 do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), que definiu algumas atribuições que são privativas da arquitetura e não podem ser realizadas por outros profissionais, e sobre o Projeto de Lei 4296/2012, que regulamenta a profissão de de-signer de interiores, em tramitação na Câmara dos Deputados.

Design de interiores e arquitetura são duas atividades distintas. Quando um arquiteto projeta um edifício, não pode prever como será a tipologia da ocupação dos seus espaços interiores, imediata ou ao longo do tempo. Esse tipo de ocu-pação depende da cultura, da geografia, do contexto urbano, do número de pessoas da família, da maneira como preferem e usam os espaços, de sua idade. Se forem jovens, terão um tipo de necessidade; se forem idosos, outras. Soma-se a esses fatores o permanente e interminável avanço tecnológico que vai colocando à disposição das pessoas uma série de equipa-mentos que modificam a maneira como acontece a ocupação e o uso dos interiores.

A arquitetura permanece por muitos anos, tem a pre-tensão de eternidade, já os interiores são mutantes, efêmeros, acompanham os distintos períodos da vida, por isso esta profis-são traz uma ampla dose de humanismo e detalhamento em seus projetos, atendendo as pessoas de qualquer idade, em qualquer condição física, no desempenho de todas as suas ati-vidades: no banho, em um restaurante indiano, em uma sala de cirurgia ou no interior de um automóvel.

Da primeira hora de vida até sua despedida, o ser hu-mano precisa utilizar espaços específicos, sonhados, desenha-dos e projetados para satisfazer suas necessidades e rituais.

Quem atende a esse tipo de produção do espaço é o designer de interiores, não só no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo, em todas as eras. Com seus estilos e significados, o designer de interiores pontua a história e o comportamento da humanidade com o resultado do seu trabalho.

ARTIGO

JÉTHERO CARDOSO

O EFÊMERO E O ETERNODiferenças entre design de interiores e arquitetura

Antes de o homem saber escrever, construir sua

morada, ele se decorava e, quando o fazia,

impregnava-se de novos significados

6-10 Setembro de 2013Paris Nord Villepinte, hall 7www.maison-objet-projets.com O salão das soluções para arquitetura de interioresSalão reservado aos profissionaisVisitantes: UBIFRANCE Mi ssion Économique de São PauloAmbassade de France au BrésilTel. +55 (11) 30 87 31 19. [email protected]

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Espaços para sublimar

KenNisch

KenNisch

DESENHANDO ESTRATÉgIAS

JÁ PENSOu NO DESiGN COMO “DESENhO DE VArEJO”? EM iNGLêS O TErMO é rETAiL DESiGN, O quE SiGNi-

FICA – ENTRE MúLTIPLOS DESDOBRAMENTOS POSSíVEIS – O DESIGN COMO ELEMENTO ESTRATÉGICO DE

VENDAS. TRATA-SE DA CRIAçãO DE AMBIENTES QUE DEMONSTREM AO PúBLICO, DA MANEIRA MAIS ESTIMU-

LANTE POSSíVEL, TODO O POTENCIAL DE UM PRODUTO. E, NESSA DIREçãO, NãO SÓ PODEM JOGAR TODOS OS

CAMPOS DO DESENhO QUE SE DESEJAR COMO TAMBÉM MOBILIzAR TODOS OS DISPOSITIVOS QUE A CRIATIVI-

DADE DEMANDAR. NA MEDIDA EM QUE AS VENDAS AVANçAM NA ESFERA VIRTUAL, OS ESPAçOS FíSICOS, EM

VEz DE DIMINUIR DE IMPORTâNCIA, ASSUMEM UM NOVO SIGNIFICADO PARA AS VENDAS. SOBRE A RELAçãO

DO DESIGN COM O VAREJO, OS PANORAMAS MUNDIAL E BRASILEIRO, CONVERSAMOS COM KEN NISCh, QUE

ESTEVE EM TERRAS TROPICAIS PARA PARTICIPAR DO CONAD 2013.

PoR MARCELLA AQUILA

[ global x local ] O design se tornou uma linguagem global. E isso

é positivo e negativo. O lado negativo é que grande par-te do design hoje se tornou derivativo, ou seja, eu posso ir a Dubai ou Mumbai ou São Paulo ou Nova York e perco a noção de onde estou. O design, assim, é o mesmo em qualquer lugar. Muito por conta de que tudo o que diz respeito ao design ser tão acessível. Você vai à internet, ao Google e, se é um arquiteto e trabalha no Brasil, e an-tes tinha visibilidade apenas no país, agora ganhou visibi-lidade em todas as partes do mundo, e vice-versa. O que acontece é que o design como linguagem está ficando grande e pequeno por conta das influências. Estabele-cendo um paralelo com o cinema, que pode estar se tornando mais inovador e, ao mesmo tempo, mais pre-visível por conta de tendências globais. Com o design é mais ou menos a mesma coisa. Se olhar para certos ele-mentos do design, é indiferente o lugar onde você está, e isso não é tão bom. Por outro lado, por conta da co-municação, algumas vezes um designer pequeno, mas muito inovador e interessante, pode emergir por meio da mídia digital e, em alguns casos, tornar-se um herói; quer dizer, um designer brasileiro pode ser um herói em Dubai e não ser nada popular no Brasil. Pense na música, no cinema, nos chefs que, por ter desenvolvido uma lin-guagem bastante peculiar e interessante, podem emer-gir. Então, penso que a inovação vem da possibilidade de visibilidade e acesso ao mercado. Ao mesmo tempo, os mercados têm se tornado muito internacionais. É como a minha presença aqui no Brasil – há dez anos isso não seria possível. As companhias de varejo brasileiras que

atuam no Brasil, por exemplo, estão pensando em si mesmas de uma maneira mais internacional, a partir

de padrões e ideias internacionais. Estão buscan-do cada vez mais no mercado exterior novas

maneiras de pensar.

PENSE NO DESIgN mAIS COmO PROPAgANDA DO NEgóCIO DO quE COmO umNEgóCIO DE ARquITETuRA,

E CERTAmENTESE ABRIRá um CAmPO NOvO PARA O DESIgN NO BRASIL# retaildesigninstitute.org

[ ambientes físicos & ambientes virtuais ]Quando se fala em inovação é importante notar o

quanto a tecnologia transforma também os ambientes. A maio-ria das pessoas inicia sua jornada com um dispositivo. Pode ser um tablet, um computador ou um telefone. Elas dizem: “Vamos sair pra jantar fora hoje à noite”, e procuram o restaurante na internet, leem o que as pessoas estão falando sobre aquele res-taurante nas mídias sociais, veem fotos e, antes de ir de fato, já têm uma ideia bastante clara de como será essa experiência. As pessoas não vão mais aos lugares e se deixam surpreender. Então, a integração entre os ambientes físicos e essa visibilidade na rede está se tornando cada vez mais importante.

[ design no Brasil ]Partindo da ideia de que existem coisas que são esté-

ticas e outras que são intrigantes, penso que a cena de design brasileira é mais forte no caso das coisas estéticas, porque são muitos os lugares maravilhosos, as matérias-primas belíssimas, uma incrível atenção ao detalhe. Se você vai a um shopping center ou a uma rua comercial ou a um hotel, é sempre um es-tímulo visual. O país oferece recursos incríveis para se produzir belos produtos e ambientes, seja em termos de madeiras, pe-dras e artesanatos que em outras partes do mundo são difíceis de encontrar. Nos Estados Unidos, por exemplo, é complicado encontrar tudo isso de uma só vez. Penso que, no Brasil, onde se deve trabalhar mais é no campo do varejo, das vendas, e o desafio não é em termos da beleza dos lugares, mas, talvez, o fato desses lugares serem muito similares. Encarar uma loja como uma propaganda mais do que como arquitetura aumen-ta a disposição de desenhar algo que não seja propriamente belo, mas estratégico, e seria uma oportunidade para os de-signers brasileiros. Penso que, em relação à beleza, existe uma série de lugares bonitos no mundo, mas, em relação à estraté-gia, o desafio está exatamente em pensar para além da beleza, pensar em algo que seja estrategicamente correto, mas não esteticamente perfeito. Pense no design mais como uma pro-paganda do negócio do que como um negócio de arquitetura, e certamente se abrirá um campo novo para o design no Brasil.

[ Brasil x Estados Unidos ]A comunidade do design no Brasil tende a ser bas-

tante conectada, bem diferente do que acontece nos Estados Unidos, onde fornecedores e pessoas que produzem design não têm contato. Lá, não é um negócio muito pessoal. Minha sensação é que, no Brasil, as pessoas são profissionais, mas também amigas, e o lado positivo é que isso constrói uma in-dústria melhor. Nos Estados Unidos, é tudo tão competitivo

que as pessoas ergueram paredes em torno dos profissio-nais. No Brasil, sinto que o foco é muito mais em moldar

essa indústria e a consciência das pessoas sobre o design do que conformar o negócio estrita-

mente segundo os interesses individuais ou a concorrência. Você vê muito mais camaradagem entre as pessoas, elas se animam com design e desenvolvem conversas sérias sobre o tema. Nos Estados Unidos, na medida em que o design se torna cada vez mais um negócio, talvez muito da emoção te-nha se perdido. Aqui, o design também é um negócio, mas as pessoas ainda estão bastante focadas na ideia de manter conversas precisas sobre o assunto. Acho que é por isso que as conferências no Brasil são mais interessantes do que as dos Estados Unidos. Lá, há muito poucas conferências, e elas são mais discursivas, de como fazer um negócio, do que uma troca de experiências, para estabelecer contatos. São aborda-gens muito diferentes de mercado.

[ o negócio do design ]Não penso nos Estados Unidos como propriamente

líderes quando se trata de design, porque os objetos de design americanos são muito seguros. Os Estados Unidos são líderes em varejo, em vendas, porque lá se pensa muito o processo, a estratégia. O foco é no retorno do investimento, e quase nada é construído sem uma racionalidade de negócio por trás. Pen-so que isso, do ponto de vista do design, resulta em menos criatividade. Vejo no Brasil lojas, shopping centers e restauran-tes que são desenhados puramente pela beleza e o negócio está em segundo plano. Nos Estados Unidos, o negócio está sempre em primeiro lugar.

[ Apple – design como estratégia ]O slogan da Apple é “pense diferente”. há 20 ou 15

anos, a empresa quase acabou. Os produtos eram vendidos em lojas de terceiros e em espaços bem pequenos. Apenas os designers gostavam dos produtos, e o público achava a Apple elitizada ou desconectada dele. Foi aí que a empresa fez uma escolha de negócio. Decidiu ser “diferente”. Mas essa decisão não foi tomada com base na beleza ou na estética, apenas na diferenciação. A única maneira de ser bem-sucedida era cons-truir seu próprio ambiente para vender seus produtos, porque as pessoas precisavam ver que o processo de vendas, a política de preços, os produtos e a tecnologia da Apple eram diferentes. Assim, poderiam escolher entre comprar o que todo mundo vende e comprar o que a Apple vende. Mas é tudo baseado em uma estratégia de negócio, e foi a única maneira que a empresa encontrou para sobreviver: abrindo um novo caminho. Nunca, porém, pautada pela beleza – a beleza era apenas parte da es-tratégia. A Apple precisava parecer diferente para que as pesso-as acreditassem nisso. Assim, mudou a concepção das pessoas, estabelecendo que a Apple não seria reconhecida como mains-tream, mas como única, uma marca na qual todos se inspira-riam. É muito diferente, por exemplo, da Dell. Talvez a Samsung seja uma companhia que também vai por esse caminho. É a ideia da estética como diferenciação, como estratégia.

A excelência e a tradição dos papéis de parede da marca inglesa SANDERSON

PuBLIW a l l p a p e r

ERA umA vEZ NA

INgLATERRA

QUANDO FALAMOS em papel de parede é quase inevitável não pensarmos na Inglaterra. Assim como o chá, o papel de parede é um daqueles elementos que se tornaram mundialmente re-conhecidos como patrimônio cultural inglês.

Desde a instalação da primeira fábrica inglesa de papéis de parede, em 1634, muitos investiram na produção desse arti-go expressivo do décor inglês. A mais antiga e que permanece ainda ativa é a Sanderson. Com 153 anos de existência, a traje-tória da marca se funde com a história da arte e com as trans-formações que ocorreram no mundo empresarial.

Fundada em 1860 por Arthur Sanderson, a empresa começou importando papéis de parede de luxo da França. Seu showroom na rua Bernes, aberto em 1865, permaneceu no mesmo endereço até 1992, sendo ampliado e reformulado em diversas ocasiões até virar referência no setor.

Foi em 1879 que a Sanderson montou a sua primeira fábrica de papéis de parede na Inglaterra. Ao longo do tempo, as inúmeras parcerias estabelecidas pela marca colaboraram para que a Sanderson produzisse padrões que, a cada época, sintetizavam as principais tendências. Desde o período Vitoria-no, passando pelo movimento Arts & Crafts, o impressionismo e o simbolismo no século 19, até as primeiras manifestações de ruptura da arte no começo do século 20, os papéis de parede da marca ajudam a contar a história da relação entre o design de interiores e os movimentos artísticos.

Pioneira sob vários aspectos, a Sanderson introduziu as primeiras estampas pós-impressionistas no mercado no início do século 20. É uma empresa premiada com o Royal Warrant, selo conferido pela Rainha da Inglaterra às empresas que forne-cem bens e serviços à família Real Britânica. A marca também foi a primeira na área da decoração a fechar parceria com a Walt Disney, na década de 1930, para fabricar revestimentos de pa-rede com motivos do estúdio.

Ainda no começo do século 20, a Sanderson se asso-ciou à Wall Paper Manufactures Ltda., com o intuito de expandir seu domínio sobre a produção de papéis de parede. A empresa também adquiriu inúmeras marcas concorrentes, como a Morris & Co. e a Charles Knowles, além de fábricas de estamparia, como a Messrs Casson, e de produção de tecidos, como a Turnbull & Stockdale. Outras aquisições se seguiram, mas a Sanderson sempre manteve sua excelência, e ampliou sua atuação para

outros segmentos de mercado. Em 2010, os 150 anos da marca foram come-

morados com uma exposição de três meses no Fashion & Textile Museum, em Londres, e com lançamento de um livro, publicado pela Thames & hudson, que conta a his-tória da marca, reunindo exemplos dos padrões desen-volvidos pela empresa ao longo das décadas.

Atualmente, a marca lança coleções que coorde-nam papéis de parede e tecidos baseados em seu exten-so arquivo de estampas. Além das coleções, a Sanderson tem linhas complementares de produtos para cama, mesa e banho, fragrâncias para casa, itens de papelaria, almofadas, carpetes, entre outros.

A Sanderson opera em mais de 50 países.No Brasil, a marca é representada exclusivamente pela Wall-paper que, além do showroom na Alameda Gabriel Mon-teiro da Silva, 1282, em São Paulo, tem pontos de reven-da em todo o território nacional, atendendo arquitetos, decoradores e clientes finais.

Na Wallpaper é possível encontrar não apenas um pedacinho da Inglaterra e da história do design de interiores com os produtos da Sanderson, mas também uma ampla gama de desenhos e texturas em revesti-mentos de parede produzidos com a mais alta tecnolo-gia e tradição.

Vale a pena conhecer.

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É na rua, em esquinas e caçambas, que o artista plástico Rodrigo Bueno encontra a matéria-prima que serve de suporte para muitas de suas criações. Na arte ecologicamente engajada de Bueno, uma cadeira velha e abandonada pode virar um vaso, uma mesa pode virar um quadro, e vice-versa. A imagem desta página fez parte da exposição Matuto ao Cubo, série de trabalhos em que Bueno planta mudas e sementes em peças de mobiliário, como cadeiras e poltronas, para criar obras de arte vivas, que necessitam ser regadas todo dia para não definhar: “quanto mais a pessoa cuida, mais a obra fica interessante”, avisa o artista. Saiba mais sobre rodrigo Bueno: # mataadentro.com.br

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* GALERIA

Foto DOUGLAS GARCIA

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