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PENTAGRAMA LECTORIUM ROSICRUCIANUM Agosto 1997 - ano dezenove nº 4 A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA GNÓSTICA E O RESTABELECIMENTO DO HOMEM ORIGINAL OUTONO DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA: IMPULSO PARA A NOVA VIDA SENSAÇÃO DE ALEGRIA E DE DESEJO INTENSOS O GOLEM O DESEJO DE VIVER A VIDA PERFEITA A BUSCA NA “TERRA DE NINGUÉMO NASCIMENTO DA NOVA ALMA E O SIGNO DE CAPRICÓRNIO O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM PORAS EXPERIÊNCIAS GNÓSTICAS NÃO SÃO EXPLICADAS HISTORICAMENTE A LUTA INTERIOR PARA SOBREVIVER DESAPARECIMENTO DA TENSÃO ENTRE AÇÃO E REAÇÃO

PENTAGRAMA · A INVERSÃO DE SENTIDO DOS CHAKRAS As práticas de yoga e os métodos ... Depois do desmascaramento de todas estas imagens de Deus cultivadas h

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PENTAGRAMAL E C T O R I U M R O S I C R U C I A N U M

A g o s t o 1 9 9 7 - a n o d e z e n o v e n º 4

A FORMAÇÃO

DA CONSCIÊNCIA

GNÓSTICA E O

RESTABELECIMENTO

DO HOMEM

ORIGINAL

OUTONO

DA CIVILIZAÇÃO

EUROPÉIA: IMPULSO

PARA A NOVA VIDA

SENSAÇÃO DE

ALEGRIA E DE

DESEJO INTENSOS

O GOLEM

O DESEJO DE VIVER

A VIDA PERFEITA

A BUSCA NA “TERRA

DE NINGUÉM”

O NASCIMENTO DA

NOVA ALMA E O SIGNO

DE CAPRICÓRNIO

O QUE OS

ROSA-CRUZES

ENTENDEM POR…

AS EXPERIÊNCIAS

GNÓSTICAS NÃO

SÃO EXPLICADAS

HISTORICAMENTE

A LUTA INTERIOR

PARA SOBREVIVER

DESAPARECIMENTO

DA TENSÃO ENTRE

AÇÃO E REAÇÃO

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ÍNDICE:

2 A FORMAÇÃO DA

CONSCIÊNCIA GNÓSTICA

E O RESTABELECIMENTO

DO HOMEM ORIGINAL

6 O OUTONO DA CIVILIZAÇÃO

EUROPÉIA: IMPULSO PARA

A NOVA VIDA

14 SENSAÇÃO DE ALEGRIA E

DE DESEJO INTENSOS

15 O GOLEM

20 O DESEJO DE VIVER A

VIDA PERFEITA

25 A BUSCA NA “TERRA

DE NINGUÉM”

28 O NASCIMENTO DA NOVA

ALMA E O SIGNO DE

CAPRICÓRNIO

31 O QUE OS ROSA-CRUZES

ENTENDEM POR...

33 AS EXPERIÊNCIAS

GNÓSTICAS NÃO

SÃO EXPLICADAS

HISTORICAMENTE

36 A LUTA INTERIOR PARA

SOBREVIVER

40 DESAPARECIMENTO

DA TENSÃO ENTRE AÇÃO

E REAÇÃO

1997ANO DEZENOVE

NÚMERO 4

A revista Pentagrama propõe-se a atrair a aten-

ção de seus leitores para a nova era que já se

iniciou para o desenvolvimento da humanidade.

O Pentagrama tem sido, através dos tempos, o

símbolo do homem renascido, do novo homem.

Ele também é o símbolo do universo e de seu

eterno devir, por meio do qual o plano de Deus

se manifesta.

Entretanto, um símbolo somente tem valor

quando se torna realidade. O homem que reali-

za o Pentagrama em seu microcosmo, em seu

próprio pequeno mundo, consegue permanecer

no caminho de transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor a operar

esta revolução espiritual em seu próprio interior.

© Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

PENTAGRAMA

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A Escola Espiritual da Rosacruz

Áurea faz a distinção entre o homem

terrestre e o homem celeste. O

homem terrestre é mortal, o celeste

é imortal. Os dois existem em um

sistema que chamamos de micro-

cosmo.

xiste um plano para o restabeleci-mento do Homem Original: graças a umcomportamento totalmente novo, ohomem mortal deve desencadear umprocesso de cura interior, que permite oretorno do microcosmo ao reino de vidade onde ele provém. Este processoalquímico (a Escola Espiritual fala detransfiguração) é uma das colunas doensinamento gnóstico libertador. Nodecorrer de uma série de processos dedesenvolvimento, o homem mortal vaielevando-se passo a passo, e entãosurge um tipo de homem dotado dequalidades e poderes que ultrapassamde longe a personalidade humana. Épreciso não confundir estas novas qua-lidades com aquelas que são cultivadaspor treinamento ocultista, por exemplo.Elas somente serão liberadas se o euentregar-se voluntariamente. O busca-dor sério que persegue a única e eternaVerdade é tocado por três correntes deforça divina. Em seguida, vem o desen-volvimento do autoconhecimento, oreconhecimento de Deus e, enfim, oprocesso de transfiguração: a perfeitarecriação do arquétipo do homem.

O primeiro toque influencia, principal-mente, a cabeça e o coração. O resulta-do é uma reação do tipo humanitária,religiosa, artística ou racional. Ora,aquele que, depois de inúmeras expe-

riências, descobre que o humanitaris-mo, a religiosidade, o intelecto, a arte eoutras manifestações não oferecemnenhuma perspectiva durável de liberta-ção, chega ao autoconhecimento. Elesente que é preciso rebelar-se interna-mente contra todas as atividades profa-nas e impuras e dar uma nova ordem aelas. Se começarmos a agir assim,seriamente, sem relaxar, iremos obser-var que, pouco a pouco, vamos rece-bendo um novo poder, não-terrestre,que permite mover montanhas: é a ver-dadeira fé, resultado da corrente degraça que liberamos quando, por meiode um comportamento correto, fazemosuso da força de cura que nos toca.

O segundo toque provoca uma sériede mudanças notáveis na personalida-de. Ela aprende a renunciar a seusdesejos naturais e a dirigir suas aspira-ções mais profundas para a libertaçãode sua alma aprisionada. O segundotoque gnóstico atinge a cabeça com ointuito de restabelecer este santuário ede prepará-lo para a próxima fase.Somente depois disso é possível come-çar o terceiro processo, o da transfigura-ção.

O homem original possuía sete quali-dades que correspondem ao mundo ori-ginal sétuplo. O primeiro poder dohomem regenerado é o do amor divino.O segundo poder é a sabedoria divina,que a razão comum — por mais desen-volvida que ela seja — é incapaz desubstituir e traduzir. O terceiro poder é oda vontade renovada, que vê com oamor e com a sabedoria divina, paracumprir exclusivamente a vontade divi-na. O quarto poder é o de um novo pen-samento, capaz de traduzir os impulsosdo Espírito em imagens compreensí-

A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA GNÓSTICA

E O RESTABELECIMENTO DO HOMEM ORIGINAL

E

O homemimperfeito, car-regado deerros — ovelho rei —afoga-se nooceano daexistência dia-lética, de ondesurge a NovaVida em suapureza — ojovem rei,adornado comas sete estrelas daSabedoriadivina(SplendorSolis, 1582).

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veis. Esta estrutura mental deve, eviden-temente, adaptar-se à vida. É por issoque há o quinto poder, que é o da con-centração de energia dinâmica. O sextopoder trata da manifestação que será aexpressão da imagem: a Palavra criado-ra confere a força vital à forma.

O sétimo poder recolhe e reúne aprópria essência dos seis anteriores.Assim, tudo o que estes seis poderesmanifestam é colocado a serviço doplano de criação universal e utilizado demaneira correta.

A INVERSÃO DE SENTIDO DOS CHAKRAS

As práticas de yoga e os métodosocultos permitem ativar e cultivar estessete poderes até um certo ponto. Oschacras começam a girar mais rapida-mente, de tal modo que a irradiação dasforças naturais é intensificada. No início,parece que os resultados são satisfató-

rios, mas, na realidade, reforça-se aligação com o reino dos mortos, e estefenômeno provoca a cristalização e oendurecimento de todo o sistema, o quetorna o rompimento com a naturezacada vez mais difícil. Qualquer pessoaque reconheça este fato não faránenhum mal em evitar este caminho,pois percebe que é o inverso que o liber-tará: a completa exclusão da consciên-cia terrestre.

Portanto, não se trata nem de cultura,nem de “desdobramento” da personali-dade, mas da substituição total da anti-ga personalidade pela nova alma renas-cida. Pela transfiguração (que é o resta-belecimento do homem original) mani-festam-se novos poderes, e quem avan-çar no caminho da vida gnóstica nãosomente encontrará as forças curadorasdo Espírito Santo, mas também serásantificado por elas. Depois de um certotempo, os chakras irão girar mais lenta-mente, até pararem: é o momento emque as forças dialéticas já não têmnenhuma influência e devem retirar-sediante da força de renovação do Espíritodivino. No decorrer desta conversãocompleta e fundamental, os chacrascomeçam a girar em outro sentido e for-necem a força vital original, a fim de darseqüência ao processo de renovação.

As sete qualidades do Novo Homemtambém podem ser expressadas pelassete cavidades cerebrais. Chega umdeterminado momento em que as setecavidades cerebrais de quem segue ocaminho da libertação interior tornam-se receptivas ao prana divino. Estassete cavidades cerebrais formam a rosasétupla do santuário da cabeça. Suaspétalas representam:

a canção do Amor,a canção da Sabedoria,a canção da Vontade Superior,

A Pedra dos Sábios, a Pedra Filosofal(AtalantaFugiens, Michael Maier,1618).

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a canção da Força da Razão,a canção da Concentração da Ener-gia Dinâmica,a canção da Nova Forma Manifestada,a canção da Força de Coesão queliga todas as seis canções anterioresem uma perfeita unidade de setepoderes.

No livro “A Voz do Silêncio” MadameBlavatsky diz que um homem somentepoderá colocar seus pés no mais altodegrau da escala dos sons místicos setiver conhecimento da voz de seu deusinterior de sete maneiras. O sétimosom compreende os seis anterioresque formam um só som, pois os seispoderes se reúnem no sétimo. Estessete poderes dão acesso ao microcos-mo sétuplo e abrem as sete portaseternas. Assim se fecha o círculo dossete novos poderes.

O HOMEM DA NATUREZA:O SERVIDOR DA ALMA

Um dia, estes novos poderes a servi-ço do microcosmo poderão substituir osantigos poderes do homem natural. Arazão, liberta das influência do ser aural,pode servir a nova consciência. Lavadae purificada, ela está preparada paraassimilar as irradiações do novo podermental e para utilizá-las de maneira cor-reta. O corpo astral também tornou-seacessível às influências gnósticas, e tor-nou-se possível uma nova respiração.Deste modo, todos os átomos do siste-ma humano são carregados por novasforças-luzes que permitem uma novapercepção. Então, o corpo etérico devereagir, a fim de ser irradiado pela chamada mônada. Conseqüentemente, os áto-

mos do corpo físico se transformam. Ohomem passa a possuir uma nova men-talidade, uma nova sensibilidade, umanova personalidade e uma nova cons-ciência.

Seus novos poderes fazem do candi-dato um “mestre da pedra”. Ele os utilizapara vencer definitivamente o que éperecível e para auxiliar a todos os quebuscam. Neste sentido é dito no NovoTestamento que ele se torna um pesca-dor de almas humanas. Quando lançarsua rede de seu lado direito, ela não serasgará, mesmo estando carregada,pois agora ele aproveita apenas o queestá de acordo com seus novos pode-res, e joga fora o que vai contra o planodivino. Assim, ele vai seguindo o cursode sua vida: muitos daqueles que oencontrarem irão sentir seu estado inte-rior e, se quiserem, poderão partilhá-locom ele.

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Nesta época “pós-moderna”, a

humanidade já não se apega às

idéias e aos princípios estabelecidos

e respeitados há muito tempo.

É o outono da civilização européia:

anuncia-se um inverno angustiante.

O declínio já começou a manifestar-

-se no século XX e vem acelerando-

-se cada vez mais, mas cada civili-

zação possui um tesouro universal

de conhecimentos e de valores

invioláveis, que transcendem todas

as normas culturais.

omo estas jóias da sabedoria univer-sal e da inteligência libertadora podem edevem servir a uma alta finalidade espi-ritual, elas formam a fonte onde pode-mos descobrir o significado da vida eonde podemos ir buscar a força paraatingir este objetivo. Nas obras do gran-de filósofo holandês de origem portu-guesa, Baruch ou Benedictus deSpinoza (1632-1677), possuímos umdestes tesouros, onde é possível encon-trar as respostas às questões de nossaépoca.

Que objetivo poderá fixar para simesmo o homem que está empenhadoespiritualmente, quando seus bens cul-turais e seus valores parecem muitorelativos e em muitos casos já se trans-formaram em seus contrários? Queidéia dinâmica despertará ainda algumaconfiança, quando a observação lúcidade tudo o que é qualificado de culturaleva à conclusão de que o que impede adescoberta da Verdade é a presunçãodos homens? Que iniciativa poderáainda seduzir, quando parece que nadaescapa à degradação e à ruína?

Será que existe mesmo um desejo de

recusar estas maneiras de viver ligadasa modelos divergentes? Será que o servoltado para a espiritualidade conseguenutrir um desejo como este? Será queele consegue escapar deste declínio?Depois do desmascaramento de todasestas imagens de Deus cultivadas hátanto tempo, será que ainda é possívelaspirar pelo “verdadeiro” Deus? Nãoseria mais uma ilusão? Por quantotempo os seres humanos se deixarãoguiar ainda, nestes tempos agitados,por sua pretensa lucidez, ao invés deconfiar espontaneamente as rédeas desua vida à Força que anima a imortali-dade?

Quando acabar a sedução da vidaegocêntrica, será que nos poderemosvoltar para a única lei de Amor, em totalabnegação? Se procuramos em nósmesmos a causa de nossa vida “peloavesso”, “na contramão”, por queencontramos tantos obstáculos, tantosparadoxos? A Verdade não é simples?Por que não é suficiente — ou é demais— ser uma pessoa boa, bem intenciona-da? Por que as tentações são tantasque a qualificação “satânico” aplicadaao universo lembra algo que todos pare-cem reconhecer como real, mesmo noalém deste “vale de lágrimas”?

A CHAVE DA RESPOSTA PARA AS

VERDADEIRAS PERGUNTAS

A visão dos rosa-cruzes gnósticos doséculo XVII, simples e universal, já deua resposta para as inúmeras perguntasque para nós são tão angustiantes. Estareposta, rejeitada por muitos, foi aprofun-dada por alguns. Na Fama Fraternitatis,de 1614, os rosa-cruzes apresentaramuma série de axiomas inabaláveis, que

O OUTONO DA CIVILIZAÇÃO EUROPÉIA:IMPULSO PARA A NOVA VIDA

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parecem condizer com nosso século decegueira espiritual1. Entretanto, ohomem que tem uma visão limitada doséculo XX, geralmente considera comdesdém os conceitos do século XVII.Para muitos, eles não passam de umsimples eco das idéias do Renasc-imento (que começou na Itália, no sécu-lo XV e prolongou-se até o século XVII,na Holanda), ou um prelúdio ao “Séculodas Luzes” (o século XVIII). Portanto, édifícil de avaliar o verdadeiro valor dotesouro de sabedoria e de conhecimen-to proposto à Europa pelos rosa-cruzesdo século XVII, pois o homem “racional”tem o hábito de expor à luz artificial dopensamento científico tecnocrático

todas as idéias que vai encontrando ecostuma não aceitar senão as provasexperimentais.

Assim, de uma obra puramente axio-mática como a Ética, de Spinoza —apesar das boas intenções da críticaque lhe fez o filósofo alemão Hegel(1770-1831) — restou apenas uma frá-gil apreciação de algumas hipótesescompletamente ultrapassadas. Queinjustiça! Na verdade, quem pode van-gloriar-se de ter podido aprofundar-seem conceitos espirituais de um pensa-dor tão eminente como Spinoza? Ele eo francês René Descartes estabelece-ram sua filosofia em uma época em queainda se vivia uma vida profundamente

A Academiadas Ciências edas BelasArtes (Gravuraem cobre deSébastienLeclerc, 1698,Bibliothek derEidgenössischemTechnischenHochschule,Zürich).

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religiosa. Os rosa-cruzes gnósticos tam-bém se baseavam no fato de que ohomem imortal é “nascido de Deus”, eeste é o ponto de partida válido paraquase toda a cultura ocidental destaépoca.

Para o homem atual, é incompreensí-vel que nos possamos sentir ligados aum “Criador”. É seu intelecto tão desen-volvido e individualizado que faz comque as idéias de Spinoza lhe pareçamtão difíceis. É preciso considerar osfatos, provar suas proposições e regis-trar seus resultados. O especialistaholandês em Spinoza, H. G. Hubbeling,declara que a mística racional deSpinoza não está baseada na experi-mentação, mas em um certo modo depensar. Trata-se de “lógica”2.

Atualmente, a lógica está quase sem-pre identificada com um modo de pen-sar frio, calculista e voltada para elamesma, como um aspecto da individua-lidade do eu. Mas, como esta lógica nãopassa de um instrumento do eu quequer conservar-se e segue seu destinoterrestre, ela não pode abrir novos cami-nhos e se petrifica, se cristaliza comouma carapaça impenetrável.

QUAL É O FUTURO DO EU?

O desenvolvimento do eu deve cederdiante da manifestação da mônada, oque exige uma pura animação do micro-cosmo. Esta animação começa pelopólo receptivo do coração: o deus inte-rior. Quando este processo começa, alógica estimula corretamente a renova-ção, e daí jorra uma fonte inesgotável desabedoria divina, de onde aflui um prin-cípio tão vivificante — a Gnosis — efalamos dela como se fosse uma força.Ora, não somente os rosa-cruzes doséculo XVII, mas também Leibnitz,Spinoza e Descartes conheciam estafonte da verdadeira renovação da vida.Todos explicaram este processo derenovação de modo particular, funda-mentando suas considerações em con-

ceitos que podemos explicar em nossosdias pelos termos “transmutação” e“transfiguração”. Leibnitz escreveu aMonadologia, em 1714. Aí, ele estabele-ceu que o universo é constituído por umnúmero infinito de mundos mais oumenos complexos, que ele chama de“mônadas”, que carregam dentro de siuma imagem do universo. Todas sintoni-zam umas com as outras, em uma “har-monia preestabelecida” com Deus,como Mônada suprema, que envolvetudo.

Também foi Leibnitz quem mostrouque o mundo em que a humanidadehabita não pode ser melhorado, porqueos limites do espaço e do tempo sãoum obstáculo. Este conceito chegou nahora certa para prevenir todos estesreformadores humanistas e religiososque, a partir do século XVIII, começa-ram a consertar de qualquer jeito isto ouaquilo para tornar a vida mais fácil deser vivida.

A INTUIÇÃO QUE VEM DIRETAMENTE DA

ALMA ETERNA.

Spinoza mostrou não somente o cami-nho do verdadeiro conhecimento, o cami-nho da lógica mística, mas também as di-ferentes gradações que culminam no “in-tuitio dei” (a intuição de Deus), o conheci-mento superior que vem diretamente daalma, desde que ela seja uma alma eter-na!3 Portanto, desde que o pólo receptivoda mônada possa garantir o trabalho pre-paratório. E é aí que Spinoza quer chegar:na renovação da alma, para que ela seja“preenchida” pelo eterno Bem absoluto!Entretanto, para fazer isto, é preciso que oterrestre volte a um mínimo biológico.

“Depois que a vivência me ensinouque tudo o que a vida comum encerraem si possui algo de bom ou ruim, noque tange a mente, decidi, finalmente,perscrutar a possibilidade da existênciade um bem verdadeiro que pudesse sercompartilhado e do qual apenas amente tivesse contato…” 4 Assim se abre

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o prefácio da Ética, um tratado sobre areforma do entendimento, que foi edita-da depois da morte de Spinoza. Nesteprefácio, o autor dá três regras. Eleaconselha que a alma cheia de aspira-ção seja moderada em todas as coisas,mas que jamais se desvie de sua alma-irmã, sua alma celeste. Estas regras devida fazem pensar bastante nos VersosÁureos de Pitágoras.

Spinoza, que lacrava suas cartascom um sinete de cera que levava oemblema da rosa, dizia que as riquezas,a glória, a honra e a volúpia são meiosdetestáveis para se manter. Para ele,eram “inimigos profanos do verdadeiroespírito humano”. A glória e a honra sãonossos adversários mais perigosos.

Descartes (1596-1650) desempe-nhou um papel importante no pensa-mento do século XVII e estabeleceu osfundamentos da filosofia moderna. Eletomou como ponto de partida a célebreproposição: “Cogito ergo sum”: penso,logo, existo. Ele demonstrou que a luzdo verdadeiro conhecimento está sedia-da na pineal e que a atividade desta luzé “clara e distinta”. O filósofo holandêsPieter Balling anota, a respeito disto:

“A Luz (digamos) é um conhecimentoclaro e distinto da verdade na inteligên-cia do próprio homem. Por meio desteconhecimento, ele ele está a tal pontoconvencido do ser e da qualidade dascoisas que é impossível duvidar disto”.5

Muitos renovadores freqüentaram,informaram-se e inspiraram-se uns aos

outros. A Holanda era, então, um impor-tante centro filosófico e espiritual daEuropa. É principalmente de Amsterdamque se expandiram as idéias do místicoalemão Jacob Boehme (1575-1624).Sua visão mostra inúmeras concordân-cias com os conceitos que o filósofo es-panhol Juda Abarbanel (1460?-1535?)colocou por escrito em Diálogos deAmor. Para ele, a alma ainda era umaespécie intermediária entre a razão e oconhecimento divino. É somente com oauxílio do Amor divino que a alma poderetornar a sua pátria celeste.

PERDA DA COMPREENSÃO LIBERTADORA

NO “SÉCULO DAS LUZES” E NA ÉPOCA

ROMÂNTICA

Portanto, é no século XVII que foireformulada e descrita a ligação entrerazão e mística. Tarde demais, temos asurpresa de constatar que espessacamada de neve, no século XVIII, reco-briu este rico tesouro de idéias e deimpulsos espirituais! Este fenômenopode ser explicado pelo fato de que opólo da mônada, a alma — o deus inte-rior — foi sendo cada vez menos consi-derado como o fundamento do verda-deiro conhecimento. Deu-se muitaimportância ao raciocínio especulativo,conhecido pelos gregos e qualificadode sofisma e de retórica. Platão eSócrates rejeitavam este método por-

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Segundo os rosa-cruzes atuais, a mônada é o núcleo espiritual indivisível do microcosmo. A mônada tem dois pólos: um está no coração e é o átomo original;o outro, no ser aural , está diretamente ligado à pineal, que é a porta de acesso do Espírito Sétuplo. No processo de transfiguração, estes dois pólosdevem-se unir em uma triunidade:Espírito, Alma e Corpo.

Além disso, houve grupos como os Colegiados renanos (séculos XVII e XVIII) que desempenharam um papel importante no aprofundamento da relação entre a alma, o conhecimento, o amor, a razão.Nestes círculos, Spinoza tinha muitos amigos, como os irmãosJoosten de Vries e o escritor PieterBalling, que lhe dedicou um livreto,em 1662.

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que ele dava maus resultados. Assim, arazão foi ficando pouco a pouco des-provida de qualquer espiritualidade eafundou no que se chamou de raciona-lismo.

Em seguida, na segunda metade doséculo XVIII, manifestou-se uma corren-te renovadora, sob a bandeira que traziaa divisa: “Liberdade, Igualdade, Frater-nidade”, que se difundiu no “Século dasLuzes”, como impulso espiritual dirigidocontra a tradição, os dogmas da igreja,o absolutismo e os preconceitos, e quese fiava inteiramente no poder da razãoesclarecida, na ciência, e sobretudo noprogresso. Este fato coincidiu com adescoberta do planeta Urano que, des-de o século XVII, foi qualificado de“mensageiro do Conselho Divino”. No li-vro Confessio da Fraternidade da Rosa-Cruz A.D. 1615, com comentários doautor, Jan van Rijckenborgh diz:

Deus já enviou mensageiros de SuaVontade, estrelas surgidas no Serpenta-rius e em Cignus… Descobrimos que ospossantes signos do Conselho Divinodos quais aqui tratamos podem seridentificados aos três planetas dosMistérios: Urano, Netuno, Plutão. Urano,o renovador do coração; Netuno, o reno-vador da cabeça; e Plutão, o recriadorfinal”. 6

É verdade que muitos reagem negativa-mente à atividade de Urano, que in-fluencia a verdadeira intuição, a ativida-de que já se sentia principalmente no“Século das Luzes”. Muitos, responden-do emocional e profanamente a este im-pulso libertador, mergulharam, no Ro-mantismo, em oposição radical ao racio-nalismo da época.

A NEGAÇÃO DOS AXIOMAS

IRREFUTÁVEIS DO SÉCULO XVII

A primeira conseqüência foi que asede da alma já não foi reconhecidacomo tal e todos os axiomas do séculoXVII foram abandonados. No início doséculo XIX, o filósofo alemão Hegel

(1770-1831) apresentou sua filosofia i-dealista dialética, em que ele colocava oespírito (a consciência) diante da reali-dade para chegar à autoconsciência.Apesar de seu respeito e de sua defe-rência com relação à obra de Spinoza,ele rejeitou completamente o aspectoespiritual. Então, a mística racional daÉtica — o equilíbrio que se irradia do co-ração e da razão (o aspecto moral e oaspecto racional) sob o impulso da almaimpessoal — mergulhou na noite por umlongo tempo.

O segundo fenômeno do “Século dasLuzes” desencadeou reações negati-vas, uma fixação sobre conceitos mate-rialistas e o desenvolvimento prático daciência, que se foi desligando pouco apouco de toda e qualquer idéia deDeus. O Romantismo caracterizou-sepor uma visão animista do mundo cen-trada no eu. Os artistas exaltaram ascoisas do mundo, a busca de um ideal,assim como a experiência intensamen-te vivida do amor, da felicidade e dosofrimento.

Apesar dos apetites gulosos do euromântico, que excluíram a mística sutilde Spinoza, o poeta alemão HeinrichHeine escreveu:

“Há, nos escritos de Spinoza, umacerta atmosfera que é inexplicável. Écomo se a doce brisa do futuro exalas-se deles”.7

Mas, enquanto a ciência materialista e oRomantismo conheciam seu maior triun-fo, houve um novo impulso da idéiagnóstica, que foi determinante para onovo modo de vida que deveria resultardele. Graças a diversas influências eso-téricas, o caminho ia sendo aplainadopara uma evolução totalmente nova. Omundo importante do pensamento teo-sófico e antroposófico opos-se à ciênciaintolerante e principalmente materialistae dogmática.

Exotericamente, aconteceu a mesmacoisa, por exemplo, com o filósofo ale-mão Friedrich Nietzsche (1844-1900),que soube desmascarar magistralmente

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as pretensões e a hipocrisia da ciência.Além disso, ele mostrou que o cristianis-mo verídico, original, “é possível a cadamomento” (“in jedem Augenblick möglichist”), porque a redenção de seu próprioser depende de cada um.8 Segundo ele,Spinoza já havia dado prova disso. É poresta razão que Nietzsche afirmava queera possível viver novamente o amor deDeus graças a Spinoza9. Ele descreve aressurreição do homem original emAssim falava Zaratustra (1883), obra quetrata do “homem superior” (Übermensch)em resposta à crise desta época.

Graças às influências e às correntessobre as quais falamos, aconteceu umareviravolta na vida e no pensamento.Mas isto ainda não significava que real-mente tinham uma idéia clara de que oeu deveria desaparecer e de que elecertamente não seria “assimilado” auto-maticamente pela mônada, como sedizia, e como ainda se diz. Se o homemdeve um dia ser o portador do amor divi-no, o eu deverá deixar lugar para tanto.O amor divino e a liberdade interior emCristo somente são possíveis quando aalma imortal e o Espírito divino estãounidos, um ao outro. Ora, esta ligaçãonão deixa nenhum lugar ao ego tríplicehumano. Os rosa-cruzes do século XVIIexpressavam este fato com as seguin-tes palavras: “In Jesu morimur” (EmJesus, que é a alma imortal, morremos).Mais tarde estas palavras foram assimmodificadas: “In Christo morimur”, a fimde sugerir que o ego desenvolvido podeperder-se diretamente no Espírito, emCristo. Todavia, os escritos gnósticosoriginais dizem: “In Jesu morimur”, e ahistória mostra, desde o início do últimoimpulso gnóstico, que na ausência deuma nova alma imortal, a iluminaçãotransforma-se em seu contrário.

O “SÉCULO DAS LUZES”MERGULHOU NAS TREVAS

Em 1947, em Amsterdam, surgiu a pri-meira versão européia de “Der Dialektik

der Aufklärung” (A Dialética das “Luzes”)dos sociólogos alemães TheodorAdorno (1903-1969) e Max Horkheimer(1895-1973)10. Os autores mostramcomo todos os objetivos de quase ummeio-século de “Luzes” surtiram efeitocontrário, e que esta corrente coloca emperigo a humanidade ocidental. O inte-lecto, dizem eles, destruiu a Razão, poiso eu o empanturrou de objetivos terres-tres e agora ele se apresenta como umaentidade independente.

A grande ilusão do que chamamos de“Século das Luzes” e do Romantismosurge claramente quando examinamostodas estas tentativas empreendidas,desde o século XIX, para atingir umcerto nível espiritual graças à ciência

Aqui, o filósofoEmpédocles(século V)simboliza atendênciasecular do serhumano deseguir sua vozinterior e dedirigir seuolhar para oque ainda nãoconsegue per-ceber (LucaSignorelli,Catedral deOrvietto, Itália,cerca de1500).

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materialista, sendo que esta perspectivanão passava de uma nova ilusão. EmConfessio da Fraternidade de Rosa-Cruz11, Jan van Rijckenborgh diz, sobreeste assunto:

“Tal é a ilusão de nossa época, ilusãosobre a qual se repousam as filosofias,ilusão que faz tropeçar em Hegel e suadialética; a noção errônea das relaçõesentre força e matéria e sua mútua inte-ração nesta natureza. O homem se a-garra à matéria para elevar-se. Querelevar-se, abraçando a matéria. Fazen-do isto porém, ele descobre que as for-ças materiais são relativas, que, no fun-do elas não existem absolutamente, quesão fictícias e limitadas. Ele atravessauma crise. Descobrindo que a matéria éuma força, tenta irromper através damatéria, e a dialética se manifesta. Aforça o repele, e ele rola na poeira darelatividade, raspa-se com lascas debarro, e o drama clássico de Jó repete--se mil vezes”.

Os setores fundamentais, como aMatemática e a Física não podem expli-car nem seguir a vida tão complexa, tãodinâmica e tão rebelde. Estas ciênciasnão encontram nenhuma base irrefutá-vel para seus fenômenos. É assim queas ciências continuam sendo especula-tivas e não podem demonstrar a verda-de absoluta. Estas especulações sur-gem de um lado pela falta de verdadeiroconhecimento, e, de outro, porque aciência orienta sua bússola por expe-riências que se desenvolvem no interiordas dimensões espaço-temporais.Quanto a isto, Spinoza diz: “A experi-mentação jamais nos instruiu sobre aessência das coisas”. No século XVII, jáse havia compreendido que os conheci-mentos que não provêm de Deus sópodem ser especulativos.

No século XX, Jan van Rijckenbotrgh,que é o fundador da Escola Espiritual daRosacruz Áurea, reuniu o imenso tesou-ro de conhecimento dos rosa-cruzes doséculo XVII, de Spinoza e de muitosoutros ainda, e foi assim que ele fez asíntese da sabedoria clássica e moder-na. Graças à força gnóstica que o ani-

mou, ele afastou a obscuridade causa-da pelas pretensas “Luzes”, e fez istopara o bem de todos.

AS NÚPCIAS ALQUÍMICAS:RETORNO A DEUS

O apoio aos valores culturais desapa-receram rapidamente no século XX. Naverdade, eles foram conservados emgrande parte por uma autoridade moral,por um lado, e por uma visão da ciênciaao mesmo tempo romântica e realista,por outro. Atualmente, estes valores es-tão esfacelando-se e vão desaparecen-do com o vento. Mas, por baixo de tudo,o próprio fundamento da Verdade,

O QUE OS ROSA-CRUZESENTENDEM POR EGO?

O homem dialético tem uma consciência tríplice, com um “eu” tríplice. Estes três estados deconsciência não são somente figurados ou filosóficos: eles também podem ser demonstradoscientífica e organicamente. A consciência central ou “eu”encontra-se na cabeça. Todas asfaculdades intelectuais, assim comoseu treinamento, procedem da atividade do eu. A segunda consciência está sediada no coração. Esta consciência não temnada a ver com o átomo originalsituado na cavidade direita do coração. Esta consciência é a responsável por todos os registrosda vida emocional e sentimental. Aterceira consciência está situada na bacia e está ligada ao sistema do fígado, do plexo solar e do baço.Este ego da natureza é o mais fundamental dos três. Ele determina o caráter e a amplitude do karma, e assim influencia os dois egos e os mantém a seu serviço.

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escondido no coração de todos os sereshumanos, continua existindo como umajóia empoeirada e sem brilho. Ora, estajóia é um princípio autônomo.

Atualmente, todos os que estão bus-cando podem começar purificando osantuário de seu coração. A força reno-vadora necessária é simbolizada e man-tida pelo planeta Urano na qualidade deplaneta dos Mistérios. Esta fonte derenovação tem um poder tão grandeque é uma verdadeira alegria ver osvalores carcomidos do século XVIII e doséculo XIX serem varridos, e assistirsua transmutação em verdadeira Liber-dade, Unidade, Amor.

O dilema do buscador atual pode serresolvido por esta verdadeira Força: aGnosis. Sobretudo em nossa época, emque o desespero obriga a restaurar al-guns conceitos teológicos medievais earcaicos, a intuição divina da qual falaSpinoza tem o poder de efetuar um tra-balho saudável na nova alma. O homemque se orienta espiritualmente — quechegou a um ponto morto em planoscientíficos e artísticos, assim como nocristianismo dogmático — já não conse-gue ver Deus fora de seu próprio ser. Aesposa, a nova alma, já mora dentrodele, mesmo que ele ainda só possaperceber sua voz. Aquele que suspirapela liberdade interior e vivencia em suaalma que este mundo é uma prisão nãotem necessidade de esperar a morte. Asverdadeiras “Luzes” já começaram a bri-lhar para ele há muito tempo.

Mas, voltemo-nos para a mais alta e pro-funda fonte de experiência gnóstica e diga-mos, com o gnóstico Valentino (140 d.C.):

Aqueles que dizem que é preciso primeiro morrer para ressuscitardepois, se enganam. Se não conseguirmos a ressurreição durante a vida, não a conseguiremos depois da morte. (Evangelho de Felipe).

No coração do ser humano, o “comple-tamente Outro” espera… até que o eusilencie e que a festa, a celebração dasnúpcias, possa começar.

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Per Spiritum Sanctum Reviviscimus!

1) Fama Fraternitatis, Jan van Rijckenborgh,Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda, 1983.2) Logica en ervaring in Spinoza’s enRuusbroecs’s mystiek (Lógica e experiênciana mística de Spinoza e de Ruysbroeck), H.G. Hubbeling, Leiden, Brill, 1973.3) Spinoza, H. G. Hubbeling Ambo/Baarn,1989.4) Ética, de Spinoza.5) “A luz no candelabro que serve para obser-var coisas importantes, no livreto chamado‘Os segredos de Deus’” P. Bailling, 1662.6) Confessio, Jan van Rijckenborgh, LectoriumRosicrucianum, 1987, 1ª edição, p. 45a54.7) Geschichte der Religion und Philosophiein Deutschland.8) Der Wille zur Macht (A vontade de poder),Friedrich Niestzche9) Zur Philosophie und iherer Geschichte,Friedrich Nietzsche.10) Dialektik der Aufklärung, 1947, MaxHorkheimer, Theodor Adorno.11) Cf. 6) Chap. 1.

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Na Ética de Spinoza, encontramos

esta afirmação, entre outras: “Quem,

levado pelo medo, faz o bem por te-

mer o mal não é guiado pela razão.

Entretanto, o homem, tocado pela ra-

zão que ‘está no meio’, terá somente

sensações de alegria e de desejo in-

tensos, para sempre”.

maginai que estais tão abatidos echocados com a vida que, por medo desofrer ainda mais profundamente, vosrefugiais na Escola Espiritual da Ro-sacruz Áurea e que, sob o império destemedo intenso, vos tornastes alunos.Muito bem: nela se fala que, tomandoconsciência da sabedoria gnóstica,podeis entrever, nem que seja por umsegundo, um pequeno raio de luz docaminho da perfeição. Pode ser que arazão, que está “no meio” jamais tenhafalado convosco. Então, a rosa-do-cora-ção ainda está totalmente em botão, e adoutrina gnóstica ainda não faz nenhumsentido para vós, não tem nenhum sig-nificado, nenhuma força.

Uma escola espiritual como a nossa

não entra, de modo algum, no esquemade uma religião natural. É por isso queSpinoza diz: “Aqueles que se esforçamem constranger o homem pelo medo (eaqui ele se refere ao medo de uma jus-tiça vingadora) obrigando-o a fugir domal ao invés de amar a virtude, somen-te estão tentando torná-lo tão miserávelquanto eles mesmos”.

Portanto, observai o seguinte sinalcaracterístico: o ser humano que che-gou ao fim de seu caminho na naturezada morte, e que já atingiu o fundo dopoço do enfraquecimento, e que viu suavida consumida em angústia, preocupa-ção e medo, e também na luta e no ins-tinto de conservação, deve indagar-separa saber se ainda tem o impulso fre-qüente de buscar novos objetos oumotivos de angústia, de preocupação ede medo, e se tem a tendência de acharnovas razões para começar ou seguiruma determinada luta.

Se o caso for este, então ele não ter-minou sua travessia da região da deses-perança: ele ainda não atingiu o fundode seu sofrimento.

Quando, psicologicamente, estais novosso limite, então nasce o silêncio, aresignação, e depois a voz da rosa res-soa através de vosso sofrimento: é avoz da razão que “está no meio”. Nãoestais fugindo mais uma vez, mas a ale-gria e o desejo vos invadem: “O homemtocado pela razão terá somente sensa-ções de alegria e de desejo intensos,para sempre”.

SENSAÇÃO DE ALEGRIA E DE DESEJO INTENSOS*

I

* Texto extraído da Gnosis Chinesa,comentários sobre o Tao Te King, por Janvan Rijckenborgh e Catharose de Petri,Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda, 1992.

Spinoza (1632-1677), o filóso-fo holandês deorigem judiaportuguesaque foi rejeita-do pela sina-goga por suasidéias não--conformistas

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A palavra hebraica “golem” significa

“corpo sem alma”, “matéria sem for-

ma” ou “argila”. Aqui, referimo-nos

ao que ainda está “sem forma”, “em-

brionário”. Em seguida, esta palavra

refere-se à imitação luciferiana da

criação divina, e às atividades hu-

manas que daí decorrem em todos

os domínios da cultura terrestre.

xiste uma narrativa do século XIII,proveniente de um grupo de cabalistasdo Sul da França, em que a história dogolem é assim relatada:

Ao final de três anos, quando elescomeçavam a reunir as letras do alfa-beto combinando-as, agrupando-as eformando palavras, um homem foi cria-do e em sua fronte estava escrito:“JHWH Elohim Emet”: o Senhor Deus éVerdade. Mas este ser (golem) traziauma faca na mão e com ela raspou oAlef (a primeira letra do alfabetohebreu) da palavra “Emet”, de tal modoque somente restou a palavra “Met”,que significa “morte”. Portanto, agoraestava escrito: “Deus está morto.” Jere-mias rasgou suas vestes e disse: “Porque tiraste o Alef da palavra Emet?” Elerespondeu: “Vou dizer-te uma parábola:um arquiteto construía casas, cidades,praças, e ninguém conseguia igualá-loem seu trabalho, nem compreenderseu saber, nem possuir suas capacida-des. Mas dois homens o obrigaram eele lhes desvelou seus segredos etodos os aspectos de sua profissão.Quando estes dois homens já tinhamaprendido tudo com o arquiteto, puse-ram-se a discutir com ele até romperrelações; então, tornaram-se arquitetosindependentes, pedindo preços inferio-res para os mesmos serviços. Quando

se percebeu, todos davam o trabalhode construção para estes dois homens.Deus também vos fez a sua imagem,de acordo com sua natureza e suaforma. Mas agora, assim como elecriou, vós também criastes um homem,e os homens dirão: “Não há Deus nomundo, a não ser estes dois!”

E Jeremias disse: “Em verdade,devemos estudar estas coisas unica-mente para conhecer a força e o poderdo Criador, mas não devemos colocá-las em prática”.1

Em todos os homens, há um golemprofundamente escondido dentro deseu ser: o germe de uma forma ideal,um novo Adão que ainda não nasceu.Esta imagem remete à tarefa interiorque todos devemos executar: a rejeiçãodo velho Adão, para substituí-lo pelo novohomem, Adamas, a Alma-Espírito.

Entretanto, o golem não é somente osímbolo do “novo” que deve vir, mastambém da situação atual do homemterrestre a quem falta o Espírito, o quefaz com que ele seja um “ser sem al-ma”. Enquanto o novo Adão, que estálatente dentro dele, não reage, ou nãopode reagir ainda ao chamado quevem do Espírito, o homem terrestre éum golem, um instrumento sem vonta-de, uma bala que as forças que secombatem atiram umas nas outras.Estas forças moram dentro dele: sãoimpulsos que combatem contra a inte-ligência, desejos contra a vontade,emoções contra a razão, e assim pordiante.

A versão da história do golem quecitamos tira seu profundo significadoda força de um nome. E, especialmen-te, do nome hebraico de Deus (Jeo-vá), escrito com as quatro letrasJHWH, o tetragrama. Este nome nãodevia ser pronunciado, a não ser por

O GOLEM

E

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iniciados. Por esta razão, dizia-se fre-qüentemente: “o Nome”. Um nomesempre está ligado a uma força, eexprimir um santo nome libera estaforça. Daí vem a história de que o di-reito de emitir o Nome era reservadoaos sacerdotes e iniciados.

O homem criado à imagem de Deus,de acordo com sua natureza e sua for-ma, é o homem microcósmico, o homemdivino. Por mais que possamos imaginá--lo, pensamos em um ser autocriador,em uma entidade masculina-feminina,em harmonia com a natureza divina ori-ginal. Este Homem (com maiúscula) erauma criatura proveniente de uma matrizdivina. Em hebreu, esta força, Nephesh,que dá a vida e a forma, é chamada de“sopro”. O homem divino é denominadoAdam Kadmon. Ele era e é um co-cons-trutor, um co-diretor do plano divino.

Segundo a tradição do século XIII, ogolem foi criado sobre o conselho do Se-pher Letzirah, o Livro da Criação. Ele foitirado da argila, ou de uma “massa semforma” (Salmo 139, 16). Em 1580, o sábioe piedoso Maharal de Praga, JehoedaLoev ben Bezlel, moldou na argila umaespécie de homem artificial ou golempara proteger os habitantes do gueto dePraga contra os ataques dos cristãos. Orabino deu vida a esta criatura, introduzin-do em sua boca um pergaminho que tra-zia a seguinte inscrição: “O nome exatode Deus”. Existe também, na tradiçãojudia, um ritual mágico conhecido: o “cria-dor”, o mágico, sopra areia sobre umprato cheio de água enquanto a cada res-piração as pessoas dizem uma letra doSepher Letzirah. Portanto, aqui tambémhá uma referência a “sopro”. Pensa-setambém no conceito “inspiração”, quetodo o artista criador possui.

A LETRA ALEF

É muito significativo que, tirando-se aprimeira letra do alfabeto hebraico, oAlef, a verdade desapareça e que amorte tome seu lugar. O Alef eqüivale à

origem, à fonte. O valor numérico doAlef é 1. Pode-se dizer: na natureza divi-na reinam a unidade e a verdade. A ver-dade é criadora e formadora. Diz-se queo homem-microcosmo original possuíauma consciência microcósmica emacrocósmica. Ele vivia da unidadecom Deus e nesta unidade ele estavaligado harmoniosamente com todas ascriaturas vivas.

Lúcifer criou uma contranatureza,que é similar e imita a natureza divina.Ele quebrou a ligação com esta unidadee com a verdade; e a verdade transfor-mou-se em morte. Os microcosmos queo seguiram e mergulharam na matériaderam a Lúcifer, que acabara de chegar,todas as honras e todos os cargos. Suacriação é este mundo no qual os ho-mens vivem e morrem. É uma naturezatotalmente separada da fonte original e,por isso mesmo, degenerada a ponto deser desprovida de alma, habitada porcriaturas sem alma: os golens. A partirdeste ponto de vista, todo o homemmortal é um golem.

Segundo a filosofia gnóstica, a natu-reza mortal, luciferiana, é submetida àdualidade. É o mundo dialético dosopostos. A dualidade reina nesta nature-za e portanto também em cada pessoa:

À esquerda: acasa do go-lem (FritzSchwimbeck,1917).Embaixo: umcorvo voavaem direção deuma pedraque pareciaengordurada,pensando:quem sabeisto é bompara se comer(FritzScwimbeck,1917)!

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dia e noite, calor e frio, amor e ódio etc..O equilíbrio entre os dois é cada vezmais temporário e instável e tudo logose transforma em seu contrário. É porisso que os antigos gnósticos, principal-mente os maniqueus, diziam que o malera o bem que caía em um mau mo-mento. O que um dia era “bom” transfor-mava-se mais tarde em “mal”. Assim, tu-do no mundo dialético é relativo e é oproduto da ilusão. Assim, a vida tambémé relativa, limitada, finita, e está subme-tida à degradação, ao declínio e à mor-te. A conclusão lógica é que o campo devida dos seres humanos não é o campode vida ímpio. Cada um segue sua pró-pria verdade e se atribui corpo e alma.E, em nome desta verdade relativa, ex-plodem guerras espantosas.

Portanto, a consciência humana tam-bém é dupla e cheia de contradições. Fa-la-se de uma consciência das horas de vi-gília e de um subconsciente que tem suaprópria vida. Este apresenta todas as ca-racterísticas de um fantasma que, regular-mente, rege a consciência de vigília ou atémesmo a obscurece. O escritor austríacoGustav Meyrink (1868-1932), em seu cé-lebre romance intitulado O Golem, tomouesta imagem do golem como um símbolodeste fantasma individual e coletivo.2

Da mesma forma que a criação lucife-riana separada leva sua própria vida, as-sim acontece com seus habitantes. Postoque a “queda” é um processo e que cadapasso neste caminho pede um outro, emum certo momento desaparece toda equalquer luz e somente reinam as maisprofundas trevas. Na pior das hipóteses,estas trevas — ou seja, a privação da al-ma — levam à possessão. Para rompereste efeito de bola de neve, é preciso es-tabelecer uma nova ligação com o campode vida divino. Tudo na natureza aspira aisto. Mas a solução não está no progres-so da tecnologia, ou o que chamamos de“a arte pela arte”, por exemplo. É como seum neófito, de modo arbitrário e sem apreparação necessária indispensável pa-ra uma criação mágica, tentasse dar vidaao resto do golem de Praga. Ele é inca-paz de dominar o processo e o golem vai

crescendo até tornar-se um figura mons-truosa. Se ele não praticar logo o “ritual dadissolução”, o monstro irá atirar-se sobreele. Então, o neófito será abatido e sufo-cado por sua própria criatura.

No romance de Meyrink, O Golem, umdesconhecido dá um livro ao personagemprincipal, Athanasius Pernath. O desco-nhecido lhe mostra um capítulo intitulado“Ibbur”. A inicial dourada “I” parece estargasta e Pernath recebe a tarefa de restau-rar a letra. “O livro me falava como em umsonho, cada vez mais clara e nitidamente.Ele perturbava meu coração como sefizesse uma pergunta.” diz Pernath.

A palavra “Ibbur” significa “fecundaçãoda alma”. Se a vida da alma é percebidae vivida conscientemente no sentido ple-no da palavra, a alma é fecundada peloEspírito e daí nascerá o homem celeste,o microcosmo restaurado. É um proces-so de auto-iniciação, em que a pessoa setorna consciente de sua origem e de suavocação de homem divino. Ou seja,como diz a Pernath o arquivista Hillel:“Você pegou o livro Ibbur e o leu. Suaalma ficou grávida do Espírito de vida”.

Não é por acaso que este romancede Meyrink (escrito em 1915) teve umgrande sucesso. Primeiro, porque ele éescrito genialmente. Mas seu sucesso

Anúncio daaparição dogolem (FritzSchwimbeck,1917).

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deveu-se, principalmente, pelo tema dosubconsciente, simbolizado pelo golem,que era um tema muito vivo na época.Vinte e nove autores já haviam tratadodo tema do duplo na literatura, como“Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, por exemplo. Apsicanálise entrava em cena (Freud,Adler, Jung), e pretendia-se “descobrir”o subconsciente.

O que desde 1924 é empreendidopela Escola Espiritual da Rosacruz Áu-rea não tem como finalidade a reanima-ção do subconsciente. A Escola Espiri-tual não se dirige à consciência em vigí-lia normal, nem ao subconsciente, masao ser divino, o microcosmo. Neste pro-cesso, o núcleo espiritual do homem élibertado dos entraves do espaço e dotempo, que são as colunas da contrana-tureza luciferiana. Assim a força do sub-consciente, o “golem interior”, é transfor-mada: trata-se daquilo que a tradiçãocristã chama de “perdão dos pecados”.

Este processo conduz à libertação e àrecriação do homem divino que é prisio-neiro do homem mortal. Assim, o ser hu-mano é santificado, enobrecido. Ele prati-ca a verdadeira religião, ligando o Alef àmorte, e assim ele triunfa sobre a morte.

Página derosto do DePoort desLichts (OPortal da Luz),de PaulusRicius (obracabalística de1516).

1. Joseph Dan, The Early Kabbalah, New York, 1986.2. Gustavo Meyrink. O Golem., RosekmisPers, Haarlem 1996.

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Os seres humanos sabem ou sentem

que eles já não estão em união com o

Criador, que eles já não fazem parte

da unidade divina. Eles são como bar-

quinhos abandonados, flutuando so-

bre o mar, ao sabor das ondas. Eles

perderam a direção. Às vezes sopra a

tempestade e a água se tumultua; às

vezes o oceano da vida é calmo e ale-

gre. Mas, onde leva esta viagem? A

maioria não sabe.

Escola Espiritual da Rosacruz Áureafala dos quatro alimentos santos, dosmateriais de construção divinos, com osquais é possível lançar uma ponte entreo terrestre e o divino. Quando o Pensa-mento divino que emana do Pai irradiana substância primordial — ou seja, nocampo matricial não-manifestado —produz-se uma animação, surge umacentelha. Uma idéia divina que provémdo Pai une-se a este campo-mãe, e estaunião desencadeia um processo ígneo.

Este processo pode ser comparado aoprocesso de desenvolvimento de umembrião. Dois princípios confluem: daí sedesenvolve um ser vivo, com todas asconseqüências decorrentes. Na base,encontra-se um plano — e as forças exe-cutam este plano da maneira correta. Aidéia surge a partir de Deus, o Pai, e éligada ao campo-mãe divino. Acende-seuma centelha que se define como a ani-mação: a alma. É evidentemente o princí-pio de uma alma ainda não desenvolvida,mas a alma nasceu e já pode crescer.

Assim, trata-se de um Pai, de umaMãe e de um Filho. Desta colaboraçãoemanam, a partir daí, quatro forças: as

forças necessárias para a manifestaçãodo plano completo do devir do filho.Trata-se dos números 3, 4 e 1 — melhor dizen-do, trata-se do triângulo, do quadrado,circunscritos pelo círculo da eternidade.Destas quatro forças, uma é a força defogo chamada hidrogênio; a segunda é ooxigênio. Este segundo elemento énecessário para acender o primeiro.

Assim como o embrião cresce emsegurança dentro do corpo de sua mãe,a alma também está protegida. Em umdesenvolvimento sétuplo, vai sendoconstituído um corpo em volta da cente-lha: não um corpo de carne e de sangue,mas um corpo de luz, um corpo compos-to de matéria luminosa. Para que estecorpo cresça, ainda é preciso duasoutras forças chamadas carbono eazoto. O carbono é a matéria de constru-ção do corpo. Ela se torna mais densa eforma um corpo em volta da centelha, deacordo com o plano do processo. Oazoto é o fator de diminuição de veloci-dade, que retém o processo no interiordos limites assinalados pela Idéia. Oazoto também é um fator de continuida-de, que assegura toda a execução doprocesso. Quando uma parte do corpo éelaborada, o processo de constituiçãode células vai diminuindo de velocidade,de tal forma que o crescimento não con-tinua indefinidamente. A atividade sedesloca para uma outra parte do corpo.

RESTABELECIMENTO DO

CAMPO DE VIDA CORROMPIDO

Ora, no final do desenvolvimento sétu-plo a que nos referimos acima, produz-seum acidente chamado de “Queda”. A al-

O DESEJO DE VIVER A VIDA PERFEITA

A

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ma em crescimento desviou-se do Paipara voltar-se para a matéria. Ela ficouapaixonada pela matéria e a envolve.Então a alma mudou de natureza; suaforma — a princípio luminosa — foi-setornando pouco a pouco mais densa, eos materiais de construção tiveram deadaptar-se a esta situação, pois a alma,a partir deste momento, tornou-se inca-paz de assimilar os quatro alimentossantos originais. Estes alimentos santostornaram-se, portanto, inacessíveis àhumanidade que vivia na matéria gros-seira e dela dependia, sem limites.

A Escola Espiritual chama os mate-riais de construção divinos de quatro“alimentos santos” porque eles provêmda Vida original e são capazes de

reconduzir o homem à Vida original. NaEscola Espiritual, estes quatro alimen-tos santos servem para curar e santifi-car o sistema humano decaído. Osquatro materiais de construção domundo terrestre não se comparam aeles de modo algum: eles nunca serãosantos. Se o homem, em seu estadoatual, quisesse assimilar os alimentossantos originais, estes se consumiriamneste campo. É somente pela graçadivina que os quatro materiais de cons-trução estão disponíveis sob uma for-ma adaptada. Sem eles, os seres hu-manos não poderiam viver. Eles só nãosão mais freqüentemente envolvidospelos quatro alimentos santos, queestão mais próximos que mãos e pés,

“O emblemade Ur” mostraa oposição entre “a paz”e “a guerra”(Cerca de2600-2400a.C. Betumecom conchas,calcário vermelho elápis lazuli, no BritishMuseum, em Londres).

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porque também estão infinitamente dis-tantes deles!

O DESEJO DE VIVER A VIDA PERFEITA

Chamamos de átomo-centelha-do--Espírito no coração o que resta do mi-crocosmo original. Na maioria dos ho-mens, esta centelha está mergulhada emsono profundo. Alguns têm uma reminis-cência, aspiram a outras coisas, desejama Vida perfeita. Este desejo os arrastapelo mundo e acaba fazendo com que setornem buscadores da Verdade. Sealguém se torna um buscador é porqueDeus sempre está tocando a centelha deseu coração. Nela, está inscrito o planode desenvolvimento divino original. É aIdéia projetada por Deus. Esta centelhaé, certamente, a maior maravilha que sepode imaginar, e habita o coração huma-no. Assim como, em um passado distan-te, o homem divino se desenvolvia deacordo com a Idéia de Deus, assim aindaé possível, para o homem terrestre, reali-zar este plano no momento atual.Entretanto, o grande problema é que amaioria dos seres humanos não estácapacitada para ler o plano de Deus emseu coração. Neles, esta centelha, que éo átomo primordial, está completamenteinativa, apesar de continuar sendo sem-pre o ponta de toque e o lugar de reen-

contro entre o homem e Deus.Em nossa época, quando luz e trevas

se apresentam tão claramente, os maispotentes esforços são realizados paradespertar o átomo primordial, para acen-der esta centelha em um fogo poderoso:o fogo da verdadeira alma. Afinal, esteátomo contém todo o processo de evolu-ção do microcosmo renovado e total-mente purificado, onde reside o Homem--Luz eterno. A Escola Espiritual daRosacruz Áurea introduz o buscadorneste processo de desenvolvimento.

Para tanto, a Escola Espiritual dispõede um corpo-vivo onde os quatro alimen-tos santos são acessíveis. É um campode trabalho onde todos os buscadoressérios podem cumprir a obra em si mes-mos e onde podem receber o auxílionecessário. Para começar, a atividade dacentelha deve ser estimulada. Então, elavai atraindo a força-luz pura que está pre-sente no campo de respiração purificadoda Escola Espiritual. Assim, o Corpo-Vivoconstitui, em primeira mão, a ponte entreo Reino da Luz original e o mundo perdi-do onde vive a humanidade, este mundoque qualificamos de dialética.

DESCOBERTA DO QUE SE TORNOU ILEGÍVEL

Portanto, as forças com as quaisdevemos construir estão presentes

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para que possamos cumprir o caminhoque conduz à Vida eterna. Mas o poderde ler o plano de construção já desapa-receu. Cabeça, coração e mãos estãomais do que nunca totalmente prisionei-ros da estrutura magnética do mundodecaído. É por isso que a EscolaEspiritual ensina a seus alunos a ler oplano e a colocá-lo em prática. É porisso, também, que existe uma escola,pois, para muitos, o plano de constru-ção tornou-se ilegível e sua redesco-berta exige que ele receba informaçõesvaliosas.

Para que a atenção do buscador sevolte novamente para o plano e queele enxergue sua estrutura viva, épreciso que ele o reconheça em seupróprio coração. Linha por linha,palavra por palavra, o plano vai-seintroduzindo em seu imo, nas profun-dezas de seu ser interior. Se ele dire-cionar-se corretamente e consagrar-se ao plano sem nenhuma restrição,dentro dele despertará a idéia origi-nal e ela se refletirá no santuário dacabeça.

A cabeça começa, então, a perce-ber um pouco o que é o plano, mesmoque ainda deformadamente. Nasce acompreensão, que é a própria base dotrabalho para o desenvolvimento doplano. Na verdade, enquanto estiver-mos mergulhados nas trevas conti-nuaremos a ser barquinhos à deriva,

no mar agitado. Mas, fixando os olhosneste objetivo, a bússola interna podeorientar-se rumo ao porto de salva-ção. Somente deste modo é possívelobter resultados concretos, poissomente então nasce a nova com-preensão, que dá impulso para açõeslibertadoras.

A partir deste momento, é lançadauma ponte entre Deus e o homem; oabismo é preenchido, mas, com a condi-ção de que o desejo, o anelo, seja sufi-cientemente ardente para que o busca-dor escute e entre no campo de trabalhocom toda a humildade. Muitos são oschamados… Mas será que eles conse-guirão vencer a resistência da antiganatureza?

O plano de construção está, portan-to, oculto em cada coração humano. Eé possível aprender a ler este plano,mas cada indivíduo deve garantir suaconstrução! É preciso talhar cadapedra a partir dos duríssimos materiaisdo eu. E, freqüentemente, as pedrasintegradas devem ser quebradas por-que elas não se adaptam, ou porqueelas são constituídas de materiaisruins, ou porque elas estão mal coloca-das. Mas todo aquele que perseveraconsegue cumprir a obra! Então, oNovo Homem, o Homem-Luz divinoressuscita, enquanto o velho homemdesaparece no prodigioso milagre detransfiguração.

Estas seisilustrações traduzem avisão da“Queda” porJacob Boehme,a criação deAdão e suaredenção(Ilustrações deFreher, emThe Works ofJacob Boehme,de WilliamLaw, 1764).

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A época em que cada um seguia

docilmente as autoridades vai fican-

do cada vez mais distante. Todo o

mundo acabou encontrando-se face

a face com seus próprios sentimen-

tos, suas concepções mentais e

seus atos; e pagar as conseqüên-

cias não é nada fácil.

o tempo de Lutero, os católicos com-pravam indulgências na esperança degarantir um lugar no Paraíso. Hoje, assi-namos uma apólice de seguro para nosproteger no futuro. Todo o mundo sabeque o futuro nem sempre é aquilo quese espera. Em todas as épocas, inventa-ram-se sistemas engenhosos paragarantir os resultados desejados. A edu-cação, a ciência e a religião usam estesmétodos, mas não podem dar garantiasabsolutas.

O que acontece quando um projeto,por mais que seja cuidadosamente ela-borado, não dá certo uma vez ou outra,ou até chega a ser uma catástrofe? Aresposta é muito simples: “É a vida!” Tu-do acaba transformando-se, um dia, emseu contrário. A vida na terra é assim, épreciso aceitá-la! Mas esta resposta nãosatisfaz a todos.

Todas as pessoas se encontram limi-tadas pela fronteira da “Terra de Nin-guém” de sua própria natureza, porassim dizer. Esta “Terra de Ninguém”sempre foi um lugar proibido, mas osseres humanos jamais pararam de ten-tar explorá-la. Em nossa época, passoua ser mais fácil e muitos aí penetram —conduzidos ou não por um guia, ou porseus próprios pensamentos e desejos.

A primeira descoberta deste “lugarproibido” revela um caos. Tudo aí decli-na irremediavelmente, invadido pelas

ervas ruins de nossos pensamentos.Ao longe, entrevemos muitos edifíciose templos esplêndidos, mas, quandonos aproximamos, percebemos quenão passam de ruínas: são o resultadode um longo caminho de sofrimento.Neste lugar, tudo é inesperado, tudoestá em constante transformação,nada é estável, tudo surge de acordocom as circunstâncias, que se modifi-cam à medida que a humanidade vaiviajando pelo universo. Podemos com-parar esta “Terra de Ninguém” comnosso próprio campo de manifestaçãomicrocósmico. Dentro dele também háguerras e destruição, projetos grandio-sos e aniquilamento, aspirações pro-fundamente sentidas e pântanos ondeafundam os mais altos ideais.

QUEM AQUI PODE SER UM GUIA

EXPERIENTE?

Uma força misteriosa está semprenos impulsonando a seguir adiante, afim de descobrir o segredo que está nocentro desta região proibida, onde nin-guém vive, ninguém reina, ninguémaspira a um poder maior. Empurrado poresta força desconhecida, buscamos,pesamos os prós e os contras, refleti-mos para saber qual é a melhor direçãoe tateamos com o pé para garantir a fir-meza do chão. O buscador inexperientelogo sofre um acidente. Ele não conhe-ce o caminho, não percebe os sinaisque poderiam auxiliá-lo, age segundosua própria temeridade e já não seencontra, na selva de suas própriascriações. Mas regularmente, mesmo senão for na vida presente, ele chegadiante da porta da “Terra de Ninguém”.Ela está bem fechada e bem guardada!

A BUSCA NA “TERRA DE NINGUÉM”

Dante Alighieri(1265-1321)indica o cami-nho para mui-tos buscado-res na “Terrade Ninguém”de seu serinterior (Re-trato de Giottodi Bondone,1266-1337,em Florença).

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Mas, com um bom guia, ele consegueentrar; então — talvez pela enésima vez— ele vai-se encontrar no ponto de par-tida da viagem rumo ao desconhecido, ese esforçará para atingir o centro destaregião, pois é lá, segundo dizem, queestá a fonte da riqueza e da felicidade,onde a porta se abre para um mundoque oferece novas possibilidades. Estaatração o intriga, o impulsiona a enfren-tar todos os combates e a buscar novoscaminhos que o conduzirão ao centrodesta região. Apesar de ver o objetivosurgir muitas vezes diante dele, alémdas nuvens e da vegetação, a estradaque leva até ele não é reta. É precisodar muitas voltas para encontrar a dire-ção certa. E, quando enfim ele chega nopalácio de seus sonhos, ele percebe

que é uma ruína, um caos indescritível,onde é impossível haver vida.

Entretanto, ele entra. Ele pressenteum mistério, vai avançando passo apasso, lentamente, impulsionado pelodesejo de riqueza, de honra, de poder.Será que ele os encontrará neste edifí-cio em ruínas, onde parece que não hánada que o sustente, nenhum elementovalioso? Mas que força é esta que oimpulsiona?

É assim que, pesando e sopesando,refletindo e decidindo, ele determina opercurso de sua viagem. Por que elecontinua? Porque quer decifrar o grandesegredo, adquirir riqueza e imortalida-de… ou poder logo servir de guia paratodos aqueles que um dia irão entrar —e entrarão realmente — para descobrir

Pandora abresua caixa edela deixa sairtodos os ma-les; somente aesperança continua nofundo da caixa(Gravura doséculo XIX).

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a fonte original de sua própria existên-cia.

Depois de infinitos e corajosos esfor-ços, ele chega ao centro da “Terra deNinguém” e fica parado diante do gran-de espaço aberto de seu próprio ser. Eleesperava ver um palácio, um templo,mas encontra-se como que diante deum buraco no tempo, um vácuo tãocompleto, tão direto, tão angustiante,que ele pensa em dar meia-volta. Porque ele chegou aí? Por que quis entraraté aí?

Quando chega à porta por trás daqual ele descobre que não há nada, temde mostrar por que veio justamente atéaí. Na verdade, este motivo vai determi-nar a seqüência de sua busca em seupróprio passado — uma “Terra deNinguém” cheia de horrores.

RENUNCIAR A SI MESMO PARA PODER

CONTINUAR

Este motivo é determinado por suavida. Este motivo é a soma de todos osseus desejos, pensamentos, experiên-cias. Será que ele entrou para abando-nar toda a sua vida e não possuirnada, mais tarde? Será que ele querentregar-se totalmente para poderentrar?

Agora, ele vê que seu desejo vai seratendido. Que seu futuro pessoal, noqual ele tanto refletiu, que havia sentidoe construído, encontra-se diante dele.Seria realmente este futuro que eledesejava? E os desejos de seu coração,será que também viraram estas ruínas?Ou será que ele foi induzido a erro porseu intelecto e seus desejos, e seu futu-

ro tornou-se um fantasma, uma ilusão?A humanidade está caminhando há

muito tempo e ela enche sua própria“Terra de Ninguém” de todas as suas ilu-sões e suas conseqüências: por toda aparte há ruínas, campos de batalhaabandonados, e novos focos de cólera ede miséria, onde a morte espreita eescolhe suas vítimas. Será que é istoque o ser humano está buscando? Seriaesta a sua razão de viver?

Se é assim, ele pode traçar seu pró-prio futuro com segurança. Mas, quandoele se aproxima do futuro, um medoindizível o surpreende e lhe diz que elejogou a carta errada. Então ele sabecom certeza que um dia vai ter de voltarao começo, pois, quando chegar diantedo portal da nova vida com um motivoimpuro, a caixa de Pandora será abertae terá de prestar contas a todo o seupassado.

Seria este o seu objetivo? Ou ele dei-xou atrás de si a “Terra de Ninguém”com a ajuda da alma imortal, que é oúnico guia que pode encontrar o cami-nho? Neste caso, a alma o corrige todosos dias e lhe mostra claramente suasmotivações. E, quando ele chegar umdia, novamente, diante do portal, e esti-ver realmente pronto para renunciar atudo o que ele adquiriu no decorrer desua vida, toda a riqueza e felicidade lhepertencerão.

No mundo inteiro, milhares de pes-soas fazem esta viagem através de seupróprio passado, presente e futuro. Seumotivo determina a escolha do guiaque os conduzirá à única meta do futu-ro: a Nova Vida que se abre para aimortalidade.

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O signo de Capricórnio ocupa um

lugar especial na astrologia. É sob

este signo que se celebra a festa de

Natal. Desde a mais remota antigüi-

dade, o bode é o signo da terra, mas

também da aspiração de elevar-se a

uma altura solitária. Ele representa o

conflito que agita o ser humano: o

terrestre deve sacrificar-se para libe-

rar em si a Luz. O conceito de “bode

expiatório” tem relação com esta

idéia.

os Mistérios gregos, o homem terres-tre, no início do processo de desenvolvi-mento que deveria transformá-lo emHomem verdadeiro, era representadopor um homem-bode ou sátiro, que sedivertia-se alegremente, seguindo odeus Dionísio. Mais tarde, um laço ínti-mo uniu Zeus à cabra Amaltéia, que oamamentou. Atenas, filha de Zeus, car-regava como escudo uma couraça depele de cabra. Assim, diversos símbolosrepresentam a vitória sobre o terrestre.

Na mitologia germânica, o bode que“mostra os dentes” e que “range os den-tes” puxa o carro de guerra de Thor, odeus do trovão. Estas duas característi-cas, que também se aplicam aos lobos,representam a natureza material agres-siva do ser dialético, que pode, entretan-to, transformar-se em serva divina. Navéspera do dia em que Thor deveria pôr-se a caminho para combater os gigan-tes, ele mata dois bodes e os come,mas conserva seus ossos. Ora, no diaseguinte, os dois animais estão bemvivos diante de seu carro. Assim, o su-perior triunfa sobre o inferior e o trans-forma em seu servidor.

À medida em que a cabra já não pode

servir à vida superior, ela simboliza aluxúria e o diabo, as forças inferioresopostas ao divino. É por isso, também,que o diabo, o “príncipe deste mundo”, érepresentado como um bode.

O tempo das “grandes trevas” estásob o signo astrológico do Capricórnio,que é a porta pela qual a Luz divinapenetra igualmente nas trevas. O nas-cimento de Cristo, a festa de Natal,acontece em uma época de grandeescuridão*.

RECONHECIMENTO DO

ADVERSÁRIO INTERIOR

Quem se abre ao nascimento do divi-no recebe o poder de fazer a distinçãoentre a luz e as trevas. Uma força não--terrestre o penetra interiormente, e lhemostra a atividade das trevas, dentrodele e ao seu redor. Somente podemosreconhecer as trevas quando a Luz crís-tica nos faz percebê-la. Como o AntigoTestamento não se baseia nesta forçado Cristo cósmico, que “tudo mostra etudo estilhaça”, o símbolo do Capricór-nio ainda não aparece nestes textos.

Depois da queda, a humanidade fi-cou tragicamente ligada à matéria. Osgregos expressam este fato em seus“poemas satíricos”, onde tratam do filhodos deuses acorrentado à matéria. É agrande tragédia secular do mundo dialé-tico: uma tragédia desconhecida para a-queles que estão voltados exclusiva-mente para a satisfação de seus dese-jos terrestres e são prisioneiros da ilu-são terrestre. O bode simboliza a almadestes seres.

Esta mesma idéia é expressada peloconto espanhol “A Cabra Preta”. Um jo-vem promete casar-se com uma jovem

O NASCIMENTO DA NOVA ALMA E O SIGNO DE

CAPRICÓRNIO

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casta. Obcecado por seu desejo, ele gos-taria que ela se entregasse a ele antes docasamento. Para conseguir seu intento,ele a coloca em uma situação perigosa epromete-lhe que irá salvá-la, desde queela ceda a seu desejo. Ela cede e ele asalva. Mas, logo que o perigo passa, elase transforma em uma cabra preta e osegue onde quer que ele vá.

DOMAR A FERA QUE EXISTE NO HOMEM

A força que tenta intensificar o aspec-to animal do ser humano volta-se tam-bém, é claro, para aqueles que estãoem busca da vida superior. Como elesnão conseguem encontrar Deus — poissão freados pela porção animal queexiste dentro deles — logo se vêem to-mados por sentimentos de culpa. O bus-cador tem a impressão de que nuncapoderá ultrapassar os aspectos inferio-res de seu ser, que sempre o estão do-minando. Se quisermos obter resultadosno caminho da libertação interior, é pre-ciso aprender a ver e a aceitar que apersonalidade é o ponto de partida dasenda, neste mundo de contrários emque ela vive. Pela compreensão, pelapaciência e pela auto-entrega ao cami-nho de desenvolvimento divino, os de-sejos inferiores vão-se apagando poucoa pouco, com toda a certeza. Esta ima-gem também surge nos Mistérios gre-gos. Os sátiros que servem de escolta aseu mestre Dionísio mostram muito bemsua dualidade e, ainda que a seu serviço,também partem para a aventura. Depoisde uma tragédia grega sempre era apre-sentada uma peça satírica. Em umdrama de Eurípides, o condutor dos sáti-ros declara: “Por tua vontade, Dionísio,eu suporto mil dificuldades!”

No momento em que o sátiros se se-param de Dionísio caem prisioneirosdos ciclopes, que são as forças devo-radoras da natureza.

A festa que celebra o milagre deJesus nas Bodas de Caná cai em 6 dejaneiro, no meio da escuridão, no signode Capricórnio. Em seguida, Jesus seretira para o deserto, onde, durante 40dias de jejum, Satanás vem tentá-lo. Onúmero 40 indica um ciclo completoatravés do reino da matéria (pois 4 é osímbolo da matéria). Durante todo estetempo, a alma jejua: não se nutre denada terrestre. Satanás vem tentá-la,dizendo: “Se és Filho de Deus, ordenaque estas pedras se tornem pães” (Ma-teus, 4:3). Aqui, é preciso considerar aspedras como símbolos da vida inferior,que gostaria tanto de chegar a um sta-tus mais elevado. Este aspecto inferiornão pode nunca saciar de verdade agrande fome interior dos seres huma-nos. Depois da terceira tentação, Jesusdiz: “Retira-te, Satanás!” (Mateus, 4:10).

Quem consagra sua vida à busca daLuz, haverá de passar pelas três tenta-ções no deserto, não somente uma vez,mas sempre, e das mais diversas formas.

Dionísio nobarco comsarmentosque simboli-zam a sabe-doria que oconduz (Pratode louça gregaExekia, séculoVI a.C., nomuseuAntiken-sammlung deMunique).

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É a partir daí que se desenvolve a au-toconsciência e a compreensão do pro-cesso evolutivo do mundo.

O aluno sério deve aceitar o conflitointerior entre a vida inferior e a vida su-perior, e vivê-lo conscientemente. En-tão, finalmente, o “grande adversário” (oSatã interno) tem de ceder diante danova alma em crescimento. Em“Fausto”, de Goethe, Mefistófeles, que écompanheiro do Dr. Fausto, diz que eleé uma parte desta “força que semprecria o bem e sempre pende para o mal”.

Quem quiser empreender a luta inter-na contra o “mal”, vai observar que estaluta vai sempre mantê-lo muito distanteda libertação interior, e que ela ajuda me-nos ainda para desenvolver o “bem”.Assim, quanto mais fazemos o “bem”,mais o pólo oposto nos atinge. As pedrasterrestres não podem transformar--se em pão. Tanto o bem quanto o mal,que são as forças contrárias fundamen-tais da natureza dialética, devem ser ven-cidos e abandonados. A imagem do bo-de expiatório simboliza o homem terres-tre em quem penetra a Luz e que é comoque repelido pela natureza da morte. Eleevoluiu até o estágio do nascimento eagora se prepara para entregar-se total-mente ao processo de desenvolvimentodivino. Ele se prepara para participar dosacrifício da Luz. A animalidade perdeseu poder sobre o ser humano meio-ani-mal/meio-homem verdadeiro.

O nascimento da Nova Alma, o ho-mem-Jesus, no signo de Capricórnio,mostra que o homem que aspira a Deusestá pronto para abandonar totalmentesua vida antiga. Aí vemos claramente oaspecto positivo do Capricórnio: o serhumano é atraído para o alto, para asalturas solitárias de sua vida, e deverenunciar a tudo o que pertence à vidainferior. * no hemisfério norte, pois é inverno.

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Chakra: Palavra que vem do sânscrito,língua sagrada dos hindus, que significa“roda” ou ciclo”. Este conceito pode seraplicado a um certo período de evoluçãoda roda do tempo. No que diz respeito aosistema corporal humano, esta palavrafaz alusão às portas giratórias de ligaçãoentre os diferentes corpos. É atravésdestas portas, ou chakras, que são assi-miladas as forças que se derramamsobre os seres humanos. No homem vol-tado para a vida terrestre, os chakrasgiram no sentido dos ponteiros de umrelógio. Logo que ele atinge um certonível espiritual, os chakras põem--se a girar em sentido inverso.

Cristo, que também é chamado de o “Ou-tro” no ser humano: é o verdadeiro Homem,o Homem imortal, que provém de Deus eque é “perfeito como o Pai é perfeito”. Aressurreição deste Filho único, que éCristo no ser humano, é o único objetivoda existência no campo de vida dialético.

Dialética: É uma característica do mun-do no qual vive a humanidade de hoje.Envolve espaço, tempo e forças opostasda luz e das trevas, do bem e do mal, davida e da morte. Estes dois extremosestão ligados um ao outro e estão sem-pre gerando um ao outro. A Dialéticasanta é o mundo original imaculado, queexistia antes da queda.

Escola Espiritual: A Escola Espiritual daRosacruz Áurea, o Lectorium Rosi-crucianum, é a Escola de Mistérios, queestá aberta a todos aqueles que dese-jam percorrer o caminho de ChristianRosenkreuz. Atualmente, esta Escolaestá estabelecida em 35 países.

Eão: Em sua origem, os 12 eões deve-riam ser os guias da humanidade. Por

sua interação secular com as práticashumanas errôneas, eles tornaram-sepotestades enormes que vão contra odesenvolvimento original do homem.Formados a partir de todas as formashumanas de energia, de pensamento,de emoção, de ação geradas pela vidaterrestre, estes eões estão sempre exi-gindo mais alimento e fazem com queos homens sacrifiquem suas forças emseu proveito. Onde quer que os sereshumanos estejam reunidos (seja por te-rem a mesma aspiração, ou por estaremagindo em conjunto), estarão criandoum eão, ou estarão obedecendo a umeão já existente.

Éter: Há três grupos de quatro éteres,ou forças de vibração, que colaboramrespectivamente com o santuário dacabeça (éter mental), com o santuáriodo coração (éter astral ou elétrico) ecom o santuário da bacia (éter sanguí-neo).Todo o universo visível foi construí-do a partir destas doze forças.

Espírito planetário: Na Doutrina Uni-versal, os espíritos planetários são cha-mados de “Filhos de Deus”. No interiorde suas respectivas regiões, eles têmde levar as diferentes correntes de vidaà perfeição. O microcosmo humano, as-sim como sua personalidade, estão liga-dos ao Espírito planetário da terra.

Força crística: É a força que explica aSabedoria divina original e que nos dá opoder de voltar à Fonte original da vida. Asemente desta força libertadora estáoculta em todos os seres humanos; logoque ela germina, faz nascer a Nova Alma.A força crística é um elo de ligação entreo homem que empreendeu o caminho davolta e a fonte original, da qual ele sedesviou.

O QUE OS ROSA-CRUZES ENTENDEM POR...

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Gnosis: É o Espírito de Deus, o alentodivino, Logos, É a Força, o Amor e a Sa-bedoria divinos em ação.

Logos planetário: O Logos planetário éo Senhor do planeta original divino, in-violável. Nosso planeta terra provémde uma Terra Santa, para ser umaescola de experiências, onde o micro-cosmo deve fazer sua aprendizagemantes de poder voltar, purificado e res-tabelecido, para seu campo original. OEspírito crístico é o mediador desteprocesso.

Macrocosmo: É o universo. Pesquisasrecentes, feitas com modernos telescó-pios mostraram que o universo tem,pelo menos, doze bilhões de anos. To-dos os elementos do macrocosmo tam-bém estão presentes no microcosmo.Hermes Trismegisto, o sábio egípcio,diz: “Tudo o que está embaixo é como oque está em cima, tudo o que está foraé como o que está dentro”.

Microcosmo: É o pequeno mundo (mi-nutus mundus). Sistema de vida esféri-co no qual se encontram (de dentro pa-ra fora): o corpo material, o corpo eté-rico, o corpo astral, o corpo mental (es-tes quatro formam a personalidade), ocampo de manifestação ou campo derespiração, o ser aural e o sétuplocampo magnético espiritual, que tem alipika como limite. O microcosmo dohomem atual está danificado e dege-nerado.

Natureza da morte: Nosso campo devida onde reinam as ilusões e as forçascontrárias; o campo de nosso nasci-mento, crescimento e morte, onde ahumanidade decaída deve aprendermediante a experiência.

Planeta dos Mistérios: Urano (desco-berto em 1718), Netuno (descoberto em1846) e Plutão (visível em 1930) são osplanetas exteriores de nosso sistemasolar. Como são campos magnéticos, e-les exercem uma grande influência so-bre o processo de desenvolvimento dahumanidade em geral e de cada indiví-duo em particular. Urano ensina a pen-sar com o coração, Netuno destrói ospensamentos cristalizados e Plutão ofe-rece novas possibilidades.

Serpentarius: A constelação de Serpen-tarius (Ophiuchus e a Serpente) forma,com a constelação de Cignus (Cisne)um campo magnético no interior do qualse desenrolam processos importantes eindispensáveis para o mundo e a huma-nidade. No curso da viagem de nossosistema solar no espaço, a humanidadechegou às esferas de influência deSerpentarius e Cignus.

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As Escolas de Mistérios existiram

até na época de Jesus. Algumas se

encontravam em Eleusis e em Del-

fos, na Grécia, onde Orfeu e Apolo

eram venerados como guardiães

dos Mistérios. Na Pérsia, elas ensi-

navam a sabedoria de Zoroastro; no

Egito e na Ásia Menor, elas se base-

avam no ensinamento de Atis ou O-

síris. O Antigo Testamento refere-se

a elas em textos que falam dos Na-

zarenos, homens consagrados a

Deus, como Sansão e Gedeão.

s pesquisas atuais provam que osprofetas conheceram estas Escolas dosMistérios, pois eles sempre estavam en-sinando que os rituais exteriores repre-sentavam processos internos que con-duzem à ligação entre o homem e Deus.Nesta época, sabia-se que, se o homemquisesse unir-se a Deus, deveria ultra-passar o ponto mais baixo da materiali-dade. Os que já eram iniciados rece-biam o conhecimento encerrado nosMistérios. Neste processo, os mediado-res estavam em ligação consciente comas forças divinas e suas leis — e viviamatravés delas. Portanto, é de interessesecundário saber quais eram os símbo-los utilizados para transmitir este conhe-cimento.

Até a vinda de Jesus, estes Mistériosforam mantidos em segredo. Jesus mos-tra claramente, àqueles que o ouvem,que a natureza terrestre pode ser anula-da por um processo consciente, nodecorrer do qual acontece o despertar eo crescimento do “Deus em mim”.“Quem quiser perder sua vida por mim”(por amor ao Espírito divino) “a ganha-rá”. A vida de Jesus dá testemunho do

processo que, até esta época, só pode-ria ser cumprido entre as paredes deuma Escola de Mistérios. Em seus pen-samentos, seus sentimentos e sua von-tade, ele renunciou a seu egocentrismopara que o filho de Deus florescessedentro dele.

A humanidade havia chegado aoponto em que os Mistérios deviam serrevelados para garantir seu progressoespiritual. Tornou-se possível vivenciar oprocesso da morte e da ressurreição in-teriores de modo autônomo e responsá-vel. Isto significa que, há cerca de 2.000anos, o despertar do verdadeiro serpodia tornar-se um processo conscien-te.

A GNOSIS REVELADA ABERTAMENTE

Portanto, os Mistérios estavam aber-tos a todos e já não eram reservadosexclusivamente a um pequeno grupo deeleitos, iniciados, por assim dizer, exte-riormente. A iniciação tornava-se umprocesso interior que era preciso servivido com plena consciência. É por issoque as Escolas de Mistérios podiamfechar suas portas. Jesus revelava oconhecimento oculto; e este conheci-mento, a Gnosis, surgiu como uma cor-rente historicamente visível nas regiõesà volta do Mediterrâneo.

Sempre nos perguntamos como aGnosis surgiu tão de repente, pois pare-ce que ela veio ao mundo como que saí-da do nada, sem preparação, e já com-pletamente adulta. Ela carregava em sitraços de todas as culturas e tradiçõesdo tempo. Mas qual era sua origem? APérsia, Israel, a Grécia, o Egito?

Daí para a frente, as Escolas de Mis-térios, que jamais deixaram de seguir o

AS EXPERIÊNCIAS GNÓSTICAS NÃO SÃO EXPLICADAS

HISTORICAMENTE

A

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mesmo objetivo, podiam revelar aberta-mente sua doutrina, e a sabedoria gnós-tica foi transmitida quase simultanea-mente, sob formas bem diversas, entreos judeus, os gregos e os persas.

MAIS UM PASSO RUMO À META FINAL

Qual forma prevaleceu? Isto não tema menor importância, pois destes locaissagrados irradiou-se uma poderosa cor-rente universal de força gnóstica queveio sustentar a sabedoria que já haviasido divulgada. Muitos se indagaram porque tantos grupos gnósticos falavam desalvadores do mundo diferentes deJesus, agora que Jesus era considerado“o Salvador”, a força salvadora. Emalguns manuscritos de Nag Hammadi,os salvadores têm nomes egípcios epersas, enquanto outros mencionamJesus. Os Hierofantes dos Mistérios queabriram suas portas na época de Jesussabiam que a sabedoria estava manifes-tada nele e que começava uma novafase do caminho que conduz à metafinal — mas alguns ainda utilizavam no-mes dos salvadores originais de perío-dos anteriores. Por exemplo, alguns es-critos de Nag Hammadi falam de Set,filho de Adão.

Outros adaptaram seus ensinamen-tos ao novo período e introduziram o no-me de Jesus. Mas será que é tão impor-tante saber o nome dado à força liberta-dora, para quem quer percorrer o cami-nho e tornar-se o verdadeiro Homem?Não é verdade que é ao Homem originalque estes escritos estão-se referindo?Também fica claro porque os escritosgnósticos sempre mostram a libertaçãocomo parte de um grande processo cós-mico. Quando se trata da salvação noNovo Testamento, pouco se menciona acriação do mundo e o papel da humani-dade neste processo, e não há alusão arespeito da humanidade anterior àqueda, nem sobre a possibilidade deuma volta a esta humanidade. O NovoTestamento se limita em falar sobre a

libertação em si enquanto a sabedoriatradicional judaica, grega e egípcia de-monstra claramente as relações cósmi-cas deste processo. É por isso que to-dos os sistemas gnósticos propõemmitos que explicam o nascimento domundo espiritual, a criação do mundoterrestre, as hierarquias espirituais dosanjos e arcontes que governavam omundo.

A VERDADE GNOSIS É O CONHECIMENTO

DIRETO DE DEUS

Diz-se que o conceito “Gnosis” proce-dia de características psíquicas e espiri-tuais do tipo humano mediterrâneo decerca de 2.000 anos atrás. Este homemvivenciava, então, uma espécie de va-zio, pois todos os valores espirituais etradicionais estavam virando ruínas. To-das as certezas estavam-se desfazen-do. As estruturas sociais, as normas eos valores gerais já não ofereciam ne-nhum apoio. A humanidade estava en-frentando um caos indescritível. Nestesentido, é evidente o paralelo com nos-sa época. Pensou-se que, para preen-cher este vazio, alguns imaginaramuma série de certezas e de processossobrenaturais no interior dos quais seriapossível alguém se retirar a fim de po-der, ao menos, continuar a existir. Se-gundo esta teoria, os sistemas gnósti-cos não passam de reações ao ambien-te e à natureza, e não possuem nenhumvalor objetivo.

Mas, de acordo com escritos gnósti-cos autênticos, mostra-se, entretanto,que as experiências de seus autoresnão dependem de modo algum das cir-cunstâncias sociais ou outras. São ex-periências interiores que somente po-dem ser vivenciadas quando o princípioespiritual latente no ser humano estádespertado e lhe mostra a instabilidadee a impiedade do mundo. Assim, não éimportante se o mundo está bonito oucaótico. Pode acontecer, porém, queestas experiências somente possam

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realizar-se quando todos os sistemasantigos se desfazem e quando o serhumano se encontra em total confusão.

Não podemos marcar as experiên-cias gnósticas com uma etiqueta históri-ca, psicológica ou cultural. Também nãose trata de colocar a Gnosis na lista dosprodutos da sabedoria tradicional. AGnosis sempre será uma experiência di-reta da Luz divina. Se quisermos ligarnovamente a Sabedoria dos Mistériosao desenvolvimento da História, pode-mos somente dizer que os antigos sím-bolos servem para representar proces-sos que se manifestam. Os locais sagra-dos servem, por assim dizer, de vestespara a sabedoria. Esta sabedoria carre-gada de força libertadora impulsiona ognóstico a seguir o caminho indicadodentro de seu próprio ser interior, paraaí buscar a libertação de sua alma.

Se quisermos estudar a origem e osignificado do conceito “Gnosis”, serápreciso perguntar de onde provém asabedoria original das Escolas dos Mis-térios de todos os tempos. Os biólogossempre gostam de explicar que a origemda vida vem de outro planeta. Mas istosomente desloca esta origem, sem expli-cá-la. O mesmo acontece com a origemda Gnosis. As experiências gnósticas di-zem respeito à vivência individual de u-ma ligação direta com Deus. Estas expe-riências estão fora do tempo, fora daHistória, fora dos modelos culturais. Nãosão nem especulações, nem invençõesarbitrárias. Elas tratam do ser verdadeirodentro do homem, da realidade do mun-do de onde provém o homem interior edo que é característico da Gnosis — docaminho que é preciso ser vivenciadopara voltar ao mundo original.

A ALMA RENASCIDA VIVE UM PROCESSO

SEMPRE IDÊNTICO

Trata-se de uma verdade universal.Esta se manifestou aos mestres e aseus alunos. Ela se manifestou a Jesus,o Cristo, que a ensinou publicamente.

Suas experiências são confirmaçõesdas experiências dos gnósticos. Muitosdeles foram seus discípulos, e outros,os discípulos de períodos mais recen-tes.Todos deram testemunho da mesmacoisa porque vivenciaram o mesmo pro-cesso dentro de suas almas.

Assim, pode-se dizer que a Gnosis semanifesta com toda a certeza em mo-mentos precisos da História da humani-dade; e que, no momento em que os ho-mens estiverem maduros o bastante pa-ra receber este conhecimento direto, osinstrutores da Gnosis aparecerão. É oque acontece em nossos dias, quandoinúmeros buscadores podem encontrardentro de si mesmos a senda que con-duz à Gnosis.

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Entre os limites daquilo que o eu im-

põe para se manter e o desejo de al-

go totalmente diferente, há uma opo-

sição incessante. Na força concen-

trada de um grupo, o indivíduo pode

executar ações que jamais consegui-

ria realizar sozinho. Estas ações são

os efeitos dos impulsos que animam

um grupo: são impulsos irrefletidos e

totalmente emocionais.

uitas vezes, quando o “autor” destasações tem a oportunidade de refletirlogo em seguida — independentementedo grupo — chega a se arrepender mui-to do que aconteceu. Com certeza, bus-cando motivos que provocaram açõesperigosas, ele sentirá que os cometeupara salvar sua própria vida, ou paramostrar-se maior, melhor e mais forte doque os outros — portanto, para fortale-cer sua própria consciência. Mas o queé a coragem?

A palavra “coragem” logo evoca con-ceitos como força, combatividade, intre-pidez, audácia. Os corajosos defenso-res de um ideal elevado são espertos eseguem na frente de seus colegas deluta. Mas a coragem também tem rela-ção com uma grande concentração,uma aspiração ardente e um intensodinamismo.

Muitas expressões ilustram um ou vá-rios destes aspectos: “Encher-se de co-ragem”; “enfrentar o desespero com co-ragem”, sem esquecer a coragem “deser o que sou”, ou de “aceitar-me comosou”. Estes dois últimos aspectos se en-quadram melhor na sociedade atual.Quem quer somente seguir por aí faz

esforço para se identificar com um ídolo,ou para ser “autêntico”, ou, se não con-seguir, para aceitar as conseqüências edaí tirar o melhor partido possível. Deum lado, há um desejo de identificar-secom um ideal superior; de outro, há oslimites fixados pelo eu, que diz: “Eu souassim! Eu não sou como os outros!”

Será que a coragem não é a formadegenerada de um poder tão deformadoque se transformou em seu contrário eque agora somente serviria para defen-der e perpetuar valores e princípios ter-restres? Esta coragem terrestre não se-ria, então, a resposta negativa ao pro-fundo desejo humano de conseguir aju-da, proteção, unidade? De onde vemeste desejo?

Quando alguém luta, atinge novos li-mites e vê seus ideais explodirem comobolhas de sabão quando começa a per-ceber o sofrimento que provoca nos ou-tros com a sua pretensa coragem. A vozde sua consciência talvez já esteja res-soando dentro dele — e lhe diz tudoaquilo que, no fundo, ele sabe muitobem. Se aceita e escuta esta voz e apre-cia o justo valor das idéias e pensamen-tos que vêm dela, ele pressentirá, tal-vez, que deve realmente ser corajoso eperseverante — mas de um modo com-pletamente diferente daquele que nor-malmente se imagina.

Neste momento, ele constata que to-da a coragem terrestre esbanja suaspróprias forças e a dos outros, e que elaé destruidora de vidas. O inverso destetipo de coragem é o esgotamento, a de-pressão, a solidão, a decepção, o de-sencorajamento. A angústia salta nagarganta do corajoso. Mas por quê? Seueu está sendo atacado, ferido, ou atémesmo anulado! O eu é sempre o único

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A LUTA INTERIOR PARA SOBREVIVER

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perigo: ele é perseguido pelo medo de jánão se poder manter, de não se poderopor a seu declínio. Assim, a coragem éum poder que geralmente cega, que nãoteme nenhum perigo. Entretanto, oheroísmo logo é seguido pelo desenco-rajamento, este momento de fraquezaem que a voz divina finalmente poderessoar na consciência, sem dúvidaainda que muita fragilmente. Mas, quan-to mais o combatente cai, esgotado,mais fortemente ressoa o chamado den-tro dele.

O EU É UM USURPADOR

Então, as circunstâncias fazem comque ele perceba claramente quem oimpulsiona a lutar contra seu próximo.Será que o eu não tem direito a existên-cia? Claro: ninguém pode existir sem oeu. Ele é a força diretriz que governa to-do o sistema. Mas um chefe inteligentesabe que ele atinge seus limites e temde abandonar suas posições. Neste ca-so, é preciso que seja experiente e quecompreenda que tem de abandonar oantigo para atingir o novo, subir um novodegrau, dar um passo a mais. Entre-tanto, esta compreensão também podedespertar nele um medo ancestral elevá-lo mais uma vez a se manter talcomo ele é e a defender tudo o que lhepertence. Então, ele luta “corajosamen-te” para conseguir sua finalidade… e,geralmente, passa ao lado da sendaque lhe indica a bússola interior divina.

Quem consegue compreender isto,percebe que, aos poucos, vai surgindodentro dele uma outra espécie de cora-gem, a coragem de servir humildemente

À beira doabismo(Joseph Bofill,1988, Museude Metz, naFrança).

Em tempo de guerra, as idéias e os ideais de grupo arrastam oshomens irresistivelmente e fazemcom que assassinem seu próximo.Fala-se de coragem e o herói recebeuma medalha em recompensa porseus “fiéis e leais serviços” à Pátria.Mas, quando ele volta para casa e retoma o curso normal de suavida, sua consciência o acusa. Seus“atos de coragem” o perturbam e o inquietam. Muitos antigos combatentes tentam reprimir estessentimentos, mas isto não faz desaparecer seu sofrimento.

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— a coragem necessária para percorrera senda de volta à Vida divina original. Acoragem que se desdobra para se auto-conservar cede lugar à coragem do bus-cador que percebe a Nova Alma.

No momento em que o buscador sé-rio dá o primeiro passo no caminho devolta, a alma que deseja ardentementea unidade evoca o Amor divino. Ela res-pira esta força, ela a assimila e operacom ela. O instinto que impulsiona parauma meta qualquer vai sendo purificadopor este Amor. A nova motivação queele faz nascer manifesta-se por umanova aspiração, um novo modo de pen-sar, de sentir e de agir. É preciso cora-gem para reconsiderar sua vida sob es-ta luz totalmente diferente, para aceitarque o eu desça de seu pedestal a fim detornar possível uma nova evolução.Aquele que chega a este ponto aprendea se ver tal como é na realidade: comouma criação de seu próprio microcos-

mo. Ele compreende que o que achavaque era coragem não passava de suaangústia diante do mundo das forçascontrárias. O sábio chinês Lao-Tsé diz,no capítulo 19 do Tao Te King:

É por isso que deves observar a quedeves te apegar: considera a ti mesmoem tua simplicidade original, guarda tuapureza original. Sente o mínimo possívelde egoísmo e de desejo.1

Na Gnosis Chinesa, os autores, Janvan Rijckenborgh e Catharose de Petridizem ainda:

O que se deve entender por isto?Certamente não a simplicidade e a pu-reza divinas originais. É impossível, pa-ra nós, nos vermos nesta simplicidade enesta pureza. Como almas mortais, ja-mais conhecemos este estado. Entre-tanto, quando vos aproximais da EscolaEspiritual e decidis seguir o caminho,deveis libertar-vos de todos os véus quea ilusão, a impostura e a educação tece-ram em torno de vós, e vos apegar aochão de vossa verdadeira natureza e devosso estado de ser real.2

NÃO VIVER NA ILUSÃO

Portanto, é preciso uma “nova cora-gem” para aceitar a vida com seus deve-res específicos pessoais, e cumpri-losde tal forma que o núcleo vital originaldesperte e seja reativado. Quem tem acoragem de reconhecer seus erros ouseu fracasso, também pode ter a cora-gem de proteger a jovem alma imortalque está crescendo e também é capazde dizer “não”, no caso de ela correr orisco de ser arrastada: por exemplo, reu-nindo bastante força interior para cortar

Perseu libertaAndrômeda.A inscriçãosignifica: “Aforça não levaa nada sem aprudência” (ocavalo alado éPégaso)(Jacques deGheyn II,1565-1629,Rijksprentenkabinet, emAmsterdam.)

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de início um pensamento crítico, umpensamento que sempre é prejudicial;ou estando constantemente atento e vi-gilante, mantendo-se constantementeconsciente. Assim, ele desenvolve acompreensão e o poder de discerni-mento necessários para empreender ocaminho de volta.

Mas o que acontece com aquelesque sempre estão deixando-se guiar pe-las autoridades exteriores? Seus atosestariam sempre enraizados em voltade seus próprio eus? Ou será que elesjá sentem um raio, por menor que seja,do Amor divino dentro de seus cora-ções, a força poderosa que lhes dá o im-pulso para abandonar a antiga vida?

Quem nasce com a verdadeira cora-gem, a coragem do novo comportamen-to, está isento deste gosto desagradávelque dá a má consciência, ou muitas ilu-sões perdidas, mesmo que o mundo ex-terior possa considerar tudo isto de mo-do completamente diferente…

A confiança na força interior que aca-bará vencendo o medo vai crescendo:esta confiança que é fortalecida pelacerteza íntima de quem escuta e dequem segue o chamado do Amor divino.As influências sedutoras ou enganosas,tanto interiores como exteriores, já nãofazem efeito. Assim, o buscador, que an-tes estava hesitante, torna-se inabalávelpela manifestação de uma profunda féenraizada: torna-se uma rocha na tem-pestade. Seu olhar interior está sempredirigido para a meta da vida que ele re-conheceu. A violência dirigida contra ele— individualmente ou em grupo — que-bra-se contra esta rocha, e também seukarma, que luta para se conservar, àsvezes, em forma de elogios, às vezes,em forma de agressões.

O homem que caminha ao lado deum buscador “que encontrou” o caminhoirá orientar-se por ele. Assim, ele pode-rá efetivamente ajudar a seu próximo,com a força interior que ele aprendeu aliberar no Amor divino. Sua modéstiaagasalha o ser que perdeu a coragemda natureza e que, vencido, agora voltaseus olhos em direção à Luz.

1) A Gnosis Chinesa, Jan van Rijckenborghe Catharose de Petri, Rozekruis Pers, Ha-arlem, Holanda, 1992.2) Ibidem

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Tudo tem seu oposto: o amor opõe-se

ao ódio, a paz à guerra, a luz às tre-

vas, o belo ao feio, a harmonia à dis-

córdia. Cada ação pede uma reação.

claro e manifesto que, em nossa na-tureza age uma força que, em um dadomomento, converte todos os fenômenosem seus contrários. O que um dia sobe,no outro desce. Graças a isto, o homemsempre está sendo confrontado com no-vos fenômenos e novas idéias, e suaconsciência se forma a partir de suas re-ações. Assim gira a roda das ações e re-ações; e, ao fim de um certo tempo, to-dos acabam atingindo um limite e se in-dagam o que ainda pode acontecer.

A história também se repete, emboraem uma escala maior. A moda de hoje ésempre a roupa antiga, enfeitada de no-vas bugigangas. A política do século XXnão apresenta nenhuma idéia diferenteda dos séculos passados: o que muda ésomente o cenário do teatro mundial.Cada vez que a civilização de uma par-cela da humanidade atinge seu pontomais alto, parece que é uma espécie demiragem. O campo de tensão é destruí-do e começa o declínio. As leis que re-gem estes processos mostram muitobem os limites dentro dos quais ahumildade está encerrada.

Portanto, a consciência se forma nodecorrer de um longo caminho de expe-riências que acontecem entre os doisextremos do bem e do mal. Em seu pri-meiro campo de vida, o homem originalse encontrava em uma região onde nãoexistiam nem opostos nem contrários.No campo de vida divino, o amor não éuma mistura de simpatia e de antipatia,como no campo de vida terrestre. O inte-

resse pessoal, os desejos terrestres, aínão têm vez, pois a base de tais senti-mentos não pode subsistir no campo devida original.

No momento atual, a consciênciahumana é tão limitada que ela não per-mite julgar as coisas a não ser de acor-do com sua aparência, sem poder son-dar sua natureza verdadeira e profunda.Assim, falamos de bem e de mal, semcompreender que são frutos de umamesma árvore. Chamamos de bom oque nos agrada e nos arranja a vida; male mau é tudo o que vai contra nossosprojetos. A sabedoria hermética diz queo bem “é um mal menor”, mas quem écapaz de aprofundar-se nesta coerênciae na unidade de todas as coisas?Dizendo melhor: quem vê que os doispólos opostos têm a mesma raiz?

OS EXTREMOS DE UM MESMO PRINCÍPIO

Enquanto esta relação não for visível,durante muito tempo a consciência osci-lará entre dois pólos opostos. A açãoprovoca a reação, que desencadeiauma outra reação e assim por diante. Aroda gira e gira sempre, e o homem con-tinua fechado em suas próprias percep-ções e experiências. Às vezes, é precisoanos, ou até mesmo séculos ou eões,antes que a reação finalmente pare devibrar. E vai ficando cada vez mais difícilencontrar o que a provocou, em sua ori-gem. O ser humano sempre está sendoarrastado em um turbilhão de aconteci-mentos, dos quais ele mesmo é o autor,sem tomar consciência disto. Ele nãoestá consciente das forças que eledesencadeia. As conseqüências de

CavalgandoPégaso, seucavalo alado,Belerofonteabate o leãoda naturezainferior (Már-more, Cons-tantinopla, sé-culo V d.C.no BritishMuseum deLondres).

DESAPARECIMENTO DA TENSÃO

ENTRE AÇÃO E REAÇÃO

É

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seus pensamentos, de seus sentimen-tos e de seus atos podem, então, facil-mente escapar de suas próprias percep-ções e manifestar-se em um momentocompletamente diferente ou em um lu-gar totalmente diverso.

O homem atual aprendeu a pensarmuito analiticamente e a desenvolverseu espírito crítico. Se não fosse assim,ele não encontraria lugar na sociedadecompetitiva de nossa época. Quem po-de fugir disto? Quem conhece o segredoda vida “sem reação”? Quem é capaz deviver de tal forma que seu próximo nãoseja obrigado a se defender dele? Osoutros sempre são obstáculos quandoos objetivos escolhidos servem para re-forçar o eu tríplice de alguém ou paraexaltar o ego coletivo de um grupo. Épreciso, pois, opor-se para chegar aatingir sua finalidade, e a reação logovirá! Uma boa pergunta é a seguinte:“Podemos pensar, sentir e agir sem es-tarmos submetidos à influência e aocontrole de nosso eu? Somos realmentelivres?”

O AMOR SE TRANSFORMA FACILMENTE

EM ÓDIO

Cada vez mais, nos setores econômi-cos e políticos, a realidade surge com-pletamente diferente da idealização.Muitas regras e leis bem intencionadasacabam desencadeando resultadoscontrários. A ajuda ao que chamamosde Terceiro Mundo é um exemplo disto.A construção de uma piscina de luxo emuma região onde ninguém nada e ondea água é muito cara, ou de um teatro emum lugar onde nenhum artista iria aven-

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turar-se jamais, é também um bomexemplo bastante veiculado pela mídia.Isto vai contra o bom senso a ponto deser cômico. Mas a roda das experiên-cias continua girando e as experiênciasvão acontecendo graças às outras: as-sim, a consciência de uns vai evoluindoa partir da dos outros. O que é realizadopor amor terrestre logo se transformaem seu contrário.

Às vezes, falam que é bom não sabertudo, pois assim ignoramos as conse-qüências de nossos atos. Neste caso, alimitação da consciência seria uma pro-teção. O gnóstico não pensa assim. Pa-ra ele, a limitação da consciência pren-de o ser humano no movimento cíclicodas forças opostas e o impede de co-nhecer sua verdadeira natureza, oimpede de ver que nenhum fenômenono mundo é durável, e que aqui nãoexiste perfeição.

E, principalmente, o homem vê a cria-ção através de vidros pintados. Se elevisse seu próximo como um instrumen-to inconsciente em um microcosmo àderiva — um instrumento que age semnenhuma idéia de causas e efeitos —então ele não o julgaria nem o aconse-lharia com tanta leviandade. A cons-ciência limitada aprendeu que a mortemarca o fim da vida, que depois há océu ou o inferno e isto é tudo! O gnósti-co parte da idéia de que a morte natural— e principalmente a morte não força-da! — pode libertar o microcosmo doinstrumento que se tornou inútil. Então,torna--se possível a construção de umnovo instrumento. Segundo esta teoria,a morte ofereceria, portanto, uma novapossibilidade de salvação. Mas istoexige a transformação da consciência,pois a consciência comum não conhecenada além de opostos, enquanto aconsciência gnóstica procede de ummundo onde não existem contrários.

A compreensão limitada provém deuma consciência limitada. Esta limitaçãotem como causa, de um lado, o mundoonde se encontra a humanidade, e deoutro, a falta do verdadeiro conhecimen-to divino, que é a Gnosis, a Sabedoria

divina. Como já dissemos, a consciênciaterrestre somente reconhece como reali-dade os fenômenos terrestres. Ora,nesta realidade, o amor se transformaem ódio, a paz em guerra e a guerra empaz, porque a consciência humana nãoconhece a sabedoria original.

PRISIONEIRO DE SEU PRÓPRIO CÍRCULO

É possível que as limitações da cons-ciência finalmente sejam sentidas poralguém que é prisioneiro do círculo fe-chado das forças opostas. Mesmoquando já viveu muitas experiências e jánão aceita “a vida comum”, pode serque fique resignado com ela, depois deter-se rebelado ou de ter achado umasaída. Neste caso, as limitações da vidaterrestre provocam tamanha cristaliza-ção que seu microcosmo fica prisionei-ro. Para ele não há forma de rompercom este círculo e ele é incapaz deouvir o chamado para a liberdade.Graças à lei do mundo mortal, tudo oque é velho é jogado fora, para dar lugarao que é novo.

Quanto mais mergulhamos na maté-ria, mais espesso e impenetrável fica ovéu que nos envolve a consciência. Ce-dendo cegamente ao chamado da natu-reza, o eu e a natureza mortal se man-têm no jogo das forças contrárias.

Como pôr fim à limitação da consci-ência? Como neutralizar a ação das leisterrestres? Ligando-se à Alma imortal,ao “completamente Outro” dentro denós, e deixando de manter as forçascontrárias. Trata-se de uma escolhaconsciente que provoca uma revoluçãono ser interior. Então, tudo o que o serhumano combate tão duramente vai de-saparecendo pouco a pouco de sua vi-da cotidiana. Ele já não combate as for-ças opostas que o assaltam, pois se re-tira do campo de tensão destas forças edeixa tudo por isso mesmo. Ação e rea-ção lhe mostram a verdadeira naturezadestas forças. Ele as reconhece e já nãose deixa influenciar por elas. Ele se

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Arco esticadoentre a ação ea reação(IlustraçãoPentagrama).

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torna espectador de sua própria vida,dando importância ao homem original,que está perto dele, dentro dele! Osimpulsos e as obrigações do eu tríplicevão diminuindo e o microcosmo decaídotem a possibilidade de recriar-se.

O SOFRIMENTO NÃO É A FINALIDADE

DA VIDA

Deste modo, a consciência passa adeter a chave da transformação. Comotodas as experiências acumuladas nodecorrer de múltiplas vidas talvez te-nham feito nascer um poder de discerni-mento, ele é capaz de fazer a escolhacorreta. O sofrimento não é a finalidadeda vida, mas um processo que podeprovocar ações inteligentes no caminhoda libertação interior. A vida na matériamortal é o meio pelo qual se pode che-gar ao objetivo da vida imortal.

Assim, por meio de múltiplas expe-riências de vida, a consciência pode-setransformar e tornar-se receptiva à men-sagem de libertação. A transformaçãofundamental da consciência provocasua renovação total logo que o impulsognóstico é ouvido, compreendido e colo-cado em prática. Do contrário, a cons-ciência continua no interior de suas pró-prias limitações e vai reforçar sempre ecada vez mais seus laços com a vidamortal, que um dia a fará sucumbir.

A renovação gnóstica é, pois, a únicacondição para adquirir uma nova cons-ciência, capaz de ultrapassar a fronteirada morte.

Cada um vive de acordo com suaconsciência. Este estado de consciênciaé o estado de vida! A consciência da na-tureza mortal tem como resultado aexistência mortal; a consciência da na-tureza eterna conduz à vida eterna. Po-demos acumular conhecimentos teóri-cos sobre a nova vida, a vida gnóstica,mas conhecimento não é consciência,nova consciência. É por isso que é pre-ciso ter fé — a fé que sabe que a novavida gnóstica não é uma invenção, mas

a única realidade. Quem conseguir sen-tir esta fé compreenderá que não é sufi-ciente saber, pois o conhecimento gnós-tico deve ser traduzido em ações reno-vadoras.

É por isso que a Escola Espiritual daRosacruz Áurea fala do caminho de li-bertação, no decorrer do qual o alunovai-se libertando a si mesmo de todasas limitações dialéticas. Ele vai-se liber-tando delas com base no Conhecimentognóstico, e na Força gnóstica que elerecebe para este fim.

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Nesta época “pós-moderna”

a humanidade já não se apega às

idéias e aos princípios estabelecidos e

respeitados há muito tempo.

É o outono da civilização européia:

anuncia-se um inverno angustiante.

O declínio já começou

a manifestar-se no século vinte e

vem acelerando-se cada vez mais,

mas cada civilização

possui um tesouro universal

de conhecimentos e de valores invioláveis,

que transcendem todas as

normas culturais.

(Outono da civilização européia, impulso

para a Nova Vida, p. 6)