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PENTAGRAMA LECTORIUM ROSICRUCIANUM Janeiro/fevereiro 1999 - ano vinte e um nº 1 Revista bimestral do “NÃO NEGUES NEM MUTILES O QUE TE PERTENCEA FABRICAÇÃO DO OURO, PROCESSO PURAMENTE INTERIOR O APOCALIPSE DE GABIR, UM IMPULSO GNÓSTICO QUANDO A ALMA RETOMA SUA LIBERDADE O ROMPIMENTO ENTRE PASSADO E FUTURO SIMPÓSIO SOBRE FICINO EM RENOVA OS MISTÉRIOS DESVENDADOS O EU ACORRENTA A ALMA À NATUREZA ABANDONAR O TEMPO PARA ENCONTRAR O ETERNO PRESENTEOS ROSA-CRUZES ENTRAM EM CENA A BARCA CELESTE DO LIVRO DOS MORTOS DOS EGÍPCIOS

PENTAGRAMA · baseada na Doutrina Universal. ... bém citemos Manu e os sete Rishis que viajam juntos na arca, assim como as narrativas semelhantes que aparecem nos Puranas

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PENTAGRAMAL E C T O R I U M R O S I C R U C I A N U M

Janei ro / fevere i ro 1999 - ano v in te e um nº 1

R e v i s t a b i m e s t r a l d o

“NÃO NEGUES

NEM MUTILES O QUE

TE PERTENCE”

A FABRICAÇÃO DO

OURO, PROCESSO

PURAMENTE INTERIOR

O APOCALIPSE DE

GABIR, UM IMPULSO

GNÓSTICO

QUANDO A

ALMA RETOMA

SUA LIBERDADE

O ROMPIMENTO

ENTRE PASSADO

E FUTURO

SIMPÓSIO SOBRE

FICINO EM RENOVA

OS MISTÉRIOS

DESVENDADOS

O EU ACORRENTA A

ALMA À NATUREZA

ABANDONAR O TEMPO

PARA ENCONTRAR O

“ETERNO PRESENTE”

OS ROSA-CRUZES

ENTRAM EM CENA

A BARCA CELESTE DO

LIVRO DOS MORTOS

DOS EGÍPCIOS

ÍNDICE

2 A ARCA CELESTE DO LIVRO

DOS MORTOS DOS EGÍPCIOS

7 SIMPÓSIO SOBRE FICINO EM

RENOVA

8 A FABRICAÇÃO DO OURO,PROCESSO PURAMENTE

INTERIOR

10 O APOCALIPSE DE GABIR,UM IMPULSO GNÓSTICO

14 OS MISTÉRIOS DESVENDADOS

16 OS ROSA-CRUZES ENTRAM

EM CENA

30 QUANDO A ALMA RETOMA

SUA LIBERDADE

34 ABANDONAR O TEMPO PARA

ENCONTRAR O “ETERNO

PRESENTE”

37 O EU ACORRENTA A ALMA

À NATUREZA

1999 ANO VINTE E UM

NÚMERO 1

A revista Pentagrama propõe-se a atrair

a atenção de seus leitores para a nova era

que já se iniciou para o desenvolvimento da

humanidade.

O Pentagrama tem sido, através dos tempos,

o símbolo do homem renascido, do novo

homem. Ele também é o símbolo do universo

e de seu eterno devir, por meio do qual o plano

de Deus se manifesta.

Entretanto, um símbolo somente tem valor

quando se torna realidade. O homem que

realiza o Pentagrama em seu microcosmo,

em seu próprio pequeno mundo, consegue

permanecer no caminho de transfiguração.

A revista Pentagrama convida o leitor a operar

esta revolução espiritual em seu próprio interior.

© Stichting Rozekruis Pers. Reprodução proibida sem autorização prévia.

PENTAGRAMA

2

A filsosofia da Rosacruz ¡urea so-

mente é atual em sua maneira de se

expressar. A linguagem e as imagens

são modernas, mas o conteúdo e o

objetivo desta filosofia são tão ve-

lhos quanto a própria humanidade

dialética e estão em perfeita e pura

sintonia com a verdadeira sabedoria

superior de todos os tempos.

asta que um lampejo de reminiscên-cia, ou seja, que a memória original ouconsciência superior brilhe em nós, paraque reconheçamos imediatamente anatureza desta filosofia. Mas o subcons-ciente e a consciência intelectual comumtambém podem, com um pouco de difi-culdade, descobrir que a filosofia da Ro-sacruz ¡urea está segura e solidamentebaseada na Doutrina Universal.

Esta Escola Espiritual não surgiu pa-ra trazer velhas fórmulas para o gostoatual e disfarçar sua própria pobreza,segundo os métodos dialéticos comuns.Trata-se de realizar a tarefa invariável,ou seja: levar de volta os homens decaí-dos para sua Pátria original, mostrando-lhes o único caminho, a única verdade,a única vida, que é a vida imutável.

Não se trata de método antigo, masuniversal.

Os tempos mudam, a natureza e adecadência humana, também. O estadomaterial e espiritual da humanidadetambém vai mudando, o que exige umaadaptação inteligente da Doutrina Uni-versal à necessidade do momento. Nãoqueremos fazer reviver o que é antigo,mas sim o que é universal. Queremosexperimentar o método universal em seusignificado racional e moral do momen-

to e não como um método antigo. É as-sim que é preciso compreender as pala-vras de Cristo: “As coisas antigas passa-ram, e eis que todas as coisas se torna-ram novas” (Coríntios, 5:17). E o que pa-rece ser contraditório: “Não vim paraabolir a lei e os profetas; não vim paraabolir, mas sim para cumprir” (Mateus,5:17). Por isso é preciso compreenderque o eterno Imutável manifesta-se notempo em concordância com o presen-te. Quando um trabalho espiritual nãocorresponde a esta característica, é umtrabalho morto. Todo movimento espiri-tual deve compreender qual é a tarefada Fonte universal de toda Vida no pre-sente.

Talvez alguns fiquem espantadospelo fato de que, apesar de tudo, dese-jamos atrair vossa atenção para o pas-sado, e mais precisamente para oLivro dos Mortos dos egípcios. Faze-mos isto para tentar confirmar aindauma vez a atualidade da filosofia daRosacruz ¡urea por meio de uma via-gem ao passado; e também para fazerde tal modo que vossa possível estag-nação no caminho se transforme emum verdadeiro retorno à Pátria origi-nal. “As coisas antigas passaram e setornaram novas.”

O que voltou a ser novo? Se obser-varmos as figuras que ilustram o Livrodos Mortos dos egípcios, veremos aí re-presentada, sem exceção, a barca ce-leste ou o navio solar. Em uma destas fi-guras, Osíris toma seu lugar na barcasolar rodeada por sete raios; geralmen-te há sete remadores na barca, ou seteremos. Às vezes, Õsis está sentada aolado de Osíris e os sete raios formam,em conjunto, a criança: Horus.

Quando Xisuthmis, o Noé dos caldeus,

B

A BARCA CELESTE DO LIVRO DOS MORTOS

DOS EGÍPCIOS

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foi salvo, ele tomou lugar em sua barcaceleste acompanhado por sete deuses.E quando o Yao chinês embarca, vemosclaramente sete figuras com ele. Tam-bém citemos Manu e os sete Rishis queviajam juntos na arca, assim como asnarrativas semelhantes que aparecemnos Puranas. Pensemos na história doWendidad persa, um dos mais antigoslivros sagrados. Ele conta que AhuraMazda diz a seu servo Yima: “Faça umwara (cercado) e depois um argha (umaarca ou veículo) em que te reunirás comtodas as sementes vitais originais deorigem masculina e feminina; esmaga aterra com tuas mãos. Dá vida a todas asluzes não-manifestadas.”

QUANDO O SÉTIMO ANJO SOOU

A TROMBETA

No Novo Testamento (Apocalipse, 11),há sete anjos que soam a trombeta, unsdepois dos outros. Depois que o sétimoanjo tocou, de todos os aspectos do cos-mo planetário se fizeram ouvir “grandesvozes que disseram: o reino do mundopassou a ser de nosso Senhor e do seuCristo; e ele reinará pelos séculos dosséculos. E abriu-se o santuário de Deusque está no céu, e no seu santuário foivista a arca do seu pacto”, a arca celes-te, o navio solar.

À nossa consciência, parece clara-

A barca solar,Templo de Seti,Abydos (cerca de1300 a.C.)

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mente que a barca solar de Osiris, repre-sentada no Livro dos Mortos dos egípcios,é a mesma do visionário de Patmos. O sig-nificado destas imagens simbólicas ésempre o mesmo.

Para explicar mais uma vez o seu sig-nificado invariável, tomemos o exemploda barca celeste de Yima no Wendidad.Como todos sabem, Yima primeiro faz umWara, ou seja, um cercado, um campo detrabalho. Aí ele faz um Argha, um novoveículo, uma arca, de acordo com as leisda Vida Universal. Em linguagem de hoje,diremos que este homem é um verdadei-ro franco-maçon, um livre construtor quetrabalha com o novo martelo e a novapalavra. É um homem que cria para simesmo um novo campo de trabalho, quese isola propositalmente da vida dialéticae que entra no novo campo de vida paraaí realizar sua barca celeste, o navio so-lar. São expressões místicas para desig-nar o homem divino que empreende aviagem de volta para sua pátria original.

“ESMAGAR A TERRA E CONSTRUIR

A ARCA”

Para começar esta viagem e realizaresta construção, é preciso constituir um“cercado”: o candidato que segue o cami-nho deve se distanciar fundamental e es-truturalmente da vida comum. Ele deve se

desligar de um modo de viver totalmentefalso. Ele deve “esmagar a terra”, seu euda natureza inferior: deve abandoná-lo econstruir, no interior de seu cercado, oNovo Homem, a arca celeste que lhe per-mitirá entrar no Templo de Deus.

OS MISTÉRIOS DESVENDADOS

Qualquer que seja a forma do toquedivino e do despertar para a vida espiri-tual, o caminho de retorno indicado peloLivro dos Mortos dos egípcios é o mesmoque é indicado pelo Apocalipse.E quandose diz sobre Jesus Cristo: “Do Egito cha-mei meu Filho”, já podemos compreenderesta frase. Esta frase traduz a mensagemimutável de salvação, que é a mesma,ontem e hoje. Ela revela a mesma mis-são, o mesmo caminho, a mesma verda-de, o mesmo trabalho de construção. To-das as coisas antigas passaram e se tor-naram novas.

Como compreender tudo isto de formaatual? As coisas antigas sempre se mani-festam de forma nova, de acordo com omomento e a situação em que a humani-dade se encontra e com a tarefa a sercumprida. Neste sentido, a antiga sabe-doria é nova. O “Hora est” soou mais umavez, de acordo com os formidáveis acon-tecimentos que aconteceram no cosmo. Épor isso que muitos alunos, livres constru-

O filósofo dinamarquêsSörenKierkegaard(1813-1855)

Ra, o deus dosol, em suabarca (Papirosde Ani, Livrodos Mortos deTebas, BritishMuseum,Londres)

tores, se preparam para construir seu cer-cado, e sua arca. O tempo dos mistériosestá completo. O homem que quiserempreender o processo de renovaçãognóstica é colocado diante dos sete ve-zes sete aspectos de seu microcosmo.São sete campos de vida, com seus nú-cleos de consciência: os sete Rishis, e atarefa a ser cumprida.

Trata-se de um toque atual e de umaforça atual. Estamos falando de um no-vo campo de vida e de uma nova cons-ciência superior, com os quais o ser hu-mano sétuplo tem de construir sua arcaceleste. Todos aqueles que verdadeira-mente aspiram à Verdade para se voltartotalmente ao objetivo a ser atingido,têm a sua disposição uma vasta filoso-fia, claramente definida.

UMA ATIVIDADE DE CONSEQÜÊNC

IAS INCALCULÁVEIS

Avançando nesta nova senda, deveacontecer uma separação precisa entreos que se encontram dentro da barca e

os que continuam fora dela. Este é umfato de conseqüências incalculáveis.Alguns se mantêm na vida comum, en-quanto outros entram em sua arca ce-leste, ou seja: para eles, acontece umamudança total e para consegui-la, elestêm de levar em conta as condições es-pirituais cósmicas e atmosféricas dostempos atuais. É por isso que falamosde uma Rosacruz atual, de uma novafilosofia e da escola de uma nova cons-ciência.

Assim como o Filho, esta atividade “échamada do Egito” ou seja: sua fonteoriginal é o Livro dos Mortos egípcio. Acada nova época, ela fala e testemunhaa respeito do universo Imutável.

PRISIONEIRO DE UMA HUMANIDADE ILUSÓRIA

A expressão “chamado do Egito” tam-bém tem outra significação: podemostraduzir a palavra “Egito” por trevas. As--sim, seria possível ler esta passagemda Bíblia da seguinte maneira: “Das tre-vas chamei meu Filho”.

O pássaro Benudo antigo Egitotem o mesmosignificado que a fênix.

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Esta explicação contém uma liçãoimportante para todos os alunos, pois,se jamais se tratou de trevas, estas sãobem representadas por nossos dias!Será que houve, na história do mundomomentos como estes que passamosde confusão e de degenerescência emescala internacional? As anomalias vãoaumentando rapidamente, em todos ossetores. E, claro, nestas trevas, todos osFilhos de Deus são chamados. Todos osseres humanos carregam este verdadei-ro filho de Deus em seu sistema micro-cósmico. Eles estão acorrentados à ilu-são e à mentira, prisioneiros da noite eda ignorância. E estes filhos acorrenta-dos e prisioneiros atualmente estãosendo chamados diretamente por Deus.

Mas como compreender este chama-do divino? Não é somente uma voz queemociona a consciência, que desperta areminiscência: é uma força atual quetoca o mundo inteiro e toda a humanida-de e provoca processos e desenvolvi-mentos fundamentais.O chamado divinoobriga os seres humanos a reagir demodo consciente, harmonioso e inteli-gente à força divina regeneradora domomento presente. É por isso que jánão temos o menor interesse em voltarao passado se, para tanto, tivermos queesquecer a exigência do momento pre-sente.

Que as palavras “Do Egito chameimeu Filho” possam adquirir para vóstambém um significado real; e a verda-deira franco-maçonaria possa vos aco-lher como um de seus mais zelososconstrutores.

Jan van Rijckenborgh

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Em 1999 faz quinhentos anos que o

filósofo e humanista florentino Mar-

sílio Ficino morreu na residência que

Cosme de Médicis tinha colocado à

sua disposição. Este palácio, conhe-

cido sob o nome de Villa Medici di

Careggi, abrigava a famosa Acade-

mia néo-platônica da Renascença.

Era aí que os ilustres contemporâ-

neos de Ficino se reuniam para co-

lóquios e “banquetes”.

nimados por uma paixão em comumpor Platão e pela harmonia que reco-nheciam na Antiguidade Clássica, elesseguiram a corrente da filosofia hermé-tica que, graças ao trabalho e à irradia-ção deste grupo, influenciou o pensa-mento em muitos lugares da Europa.

Cosme de Médicis e Marsílio Ficinodevem ser considerados como grandesinspiradores. O primeiro é conhecidonão somente como um economista efi-ciente, mas também como um pensadorvisionário e um poeta. Ficino, por suavez, foi realmente um gênio literário, umtradutor, um filósofo, e tornou-se umporta-voz da vida da alma.

No dia 24 de abril de 1999, no Centrode Conferências de Renova, em Biltho-ven, na Holanda, acontecerá um simpó-sio que versará sobre os diversos as-pectos da vida e da influência de Ficinona Europa. Veremos como, em um pe-ríodo relativamente curto de 30 anos,pÙde ser dado um impulso considerávele sem precedentes que repercutiu naliteratura, nas artes e na cultura até oséculo XIX.

Ao mesmo tempo, haverá um debate

sobre a influência exercida pelo concei-to de “uomo universale”, o homem deação, criativo e autônomo, conceito filo-sófico que foi objeto de inúmeras refle-xões no decorrer dos tempos. Para-lelamente, veremos na programação, porexemplo, a questão do impulso dado aopensamento pela Rosa-Cruz do séculoXVII que, sem as traduções do CorpusHermeticum por Ficino jamais teriatocado tão profundamente a Europa.

Um outro assunto tratado será o pa-pel desempenhado pelo médico herme-tista Paracelso, neste contexto.

Para informações mais amplas sobreeste simpósio, os alunos deverão entrarem contato com:

Lectorium Rosicrucianum, Secretariadas Relações Públicas, Bakenesser-gracht 5, 2011, JS Haarlem, Holanda,tel. 023-5320791, fax 023-5428056.E-mail: [email protected].

SIMPÓSIO SOBRE FICINO EM RENOVA

A

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Para o homem terrestre, o sol é o

símbolo da fonte de luz de onde tudo

procede. Ele também representa a

verdade interior inviolável deposita-

da como um princípio no coração de

todos os homens. Podemos, portan-

to, dizer que o princípio solar é ine-

rente a cada um.

ouro pode ser definido como um me-tal solar. Ele sempre fascinou os homensque ele atrai por seu brilho e por sua irra-diação de um amarelo resplandescente.Nós o associamos mentalmente a concei-tos como riqueza, luxo, grandeza e poder.É um metal inalterável, inoxidável que,contrariamente a todos os metais, se en-contra em estado puro na natureza: é umcorpo simples, isto é, que resiste a todasas decomposições por via química. Oouro é soberano, é o símbolo da realeza.

O ouro é excessivamente maleável,dútil e tem uma coesão incrível. Umpequeno fio de um grama pode ser estira-do até um comprimento de dois quilÙ-metros, e uma pequena placa de ouro de1/10000 de milímetro de espessura nãose rompe. Pode-se até mesmo trabalharum fio bem fino de um só átomo parafazer passar por ele correntes infinita-mente pequenas.

O objetivo da verdadeira alquimia étransformar a natureza mortal em ouro daalma, e, como o ouro se une ao mercúrio,fazer com que a alma acabe se unindo aoEspírito. Ao lado disto, houve semprealquimistas que souberam transformar ochumbo em ouro. Assim, cada processode desenvolvimento espiritual sempretem sua contrapartida em processosmateriais.

A PUREZA DEPENDE DA NOBREZA DA ALMA

A pureza e a autenticidade do ourointerior dependem da nobreza da alma dequem soube liberá-lo em si mesmo.Quanto mais forte for a aspiração a estaluz eterna, mais intensa será a ligaçãomantida com ela, e mais elevada será aespiritualidade. Quanto mais forte for abase interior, maior será o teor do ouro daalma. Quando a terra ofereceu seu metalmais nobre e mais puro ao homem, estenão encontrou nada melhor para fazercom ele do que se atirar sobre esta rique-za material. Possuído por esta sede deouro, ele se atirou sobre o metal maisnobre de seu campo de vida e seu desen-volvimento espiritual passou por isto atéatingir seu ponto mais baixo. Em 1532,quando os espanhóis exigiram todo oouro que o último imperador inca, Ata-hualpa, possuía como resgate para con-servar a vida, este mandou trazer seustesouros, mas Pizarro, em sua cegueira,o fez assassinar, pois acreditava quehavia muito mais!

As sete chavesque transformamo caos em umaordem perfeita(Tripus aureus,Michael Maier,1618)

A FABRICAÇÃO DO OURO, PROCESSO

PURAMENTE INTERIOR

O

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UMA GRITANTE IMITAÇÃO

Em nosso mundo cheio de falsos bri-lhos, mundo egocêntrico, avarento eorgulhoso, não há muito lugar para oouro interior autêntico: a misericórdia ea nobreza do homem espiritual, o ho-mem-alma. O lampejo indizível e serenoque o ouro de sua alma projeta passadesapercebido ao lado da cor gritanteda pseudoespiritualidade.

Podemos imaginar a função do ouroespiritual estudando as propriedadesquímicas do metal que leva este nome.Uma solução de 1 sobre 100 milhõesdeste metal dá à água um reflexo púrpu-ra. A cor púrpura foi utilizada, no passa-do, para representar a ligação entre averdade e o amor. O ouro misturado àpúrpura é o símbolo do rei-sacerdote.

O coração humano está em relaçãocom o sol e reage ao calor que ele irra-dia. O núcleo espiritual do coração ,tam-bém chamado de rosa-do-coração,reage às irradiações de Vulcano, o solespiritual. Da mesma forma que ohomem material está imerso na luzsolar, o núcleo do homem espiritual éiluminado, provado e alimentado pelaluz de Vulcano. Esta energia luminosaoculta é evocada, liberada pelo espíritodivino. Quando este ouro escondidoconsegue se desembaraçar de suasimpurezas e chega a se manifestar, ohomem espiritual irradia uma forçacapaz de despertar os outros homenspara fazer com que eles alcancem a ver-dadeira Vida.

UM TESOURO OCULTO EM VOSSO

PRÓPRIO CORAÇÃO

Intelectualmente, este processo éincompreensível e impossível de serrealizado. Mas o verdadeiro buscadordo ouro interior não precisa se assustarpor causa disto, pois o ouro do tesourooculto em seu coração possui todas as

propriedades necessárias para começare para levar a um bom fim o processoalquímico de transformação e de reno-vação.

A atividade alquímica da Luz espiri-tual é conhecida desde sempre. Emtodos os tempos aquele que busca aDeus encontra-se diante deste proces-so interior. Entretanto, a expressão exte-rior desta sabedoria deve ir sendo adap-tada às novas condições microcósmi-cas, cósmicas e macrocósmicas parapoder ser transmitida. Mas sua essênciacontinua sempre a mesma: trata-sesempre da Luz das Luzes, do Sol espiri-tual interior, da força que nós designa-mos como Espírito crístico, que emanada Fonte da Vida e portanto é denomi-nada também de “Filho”. Quando estaLuz se inflama no coração de um serhumano, o microcosmo mergulhado nastrevas da noite pode imergir no ouropuro da nova Vida que o curará e oregenerará.

O papiro deLeyde contémindicações para a fabricação doouro (século II,Rijksmuseum deLeyde).

Nestes países que rodeiam o Mar

Mediterrâneo, que são em grande

parte islâmicos, quem respondeu ao

poderoso impulso crístico que pre-

cedeu ao Islam por meio de textos

inspirados foram os gnósticos. Uma

destas obras é conhecida como o

Apocalipse de Gabir.

uando as bases institucionais daIgreja cristã e do Islam foram estabeleci-das, não houve lugar para os gnósticos,que foram rejeitados, perseguidos, e, porfim, aniquilados. Mas, apesar desta vio-lenta oposição contra os que divulgavamo ensinamento prático da libertação, ospensamentos e conceitos inspiradospela Gnosis encontraram um solo fértilem inúmeros pequenos grupos quedeles deram testemunhos nesta época.Entre estes grupos estão os ismaelitas,os druzos, os alaoítas sírios (ou nuza-réis). Quando os ismaelitas se desliga-ram do Chiismo oficial por causa de suadoutrina esotérica, foram tratados como“ghulat” (extremistas) e foram persegui-dos. Atualmente, algumas destas comu-nidades ainda existem. Assim os alaoís-tas (12% da população síria) atualmentese servem de textos sagrados de origemgnóstica. Isto não é espantoso no sécu-lo XX, quando o Islam e o Cristianismoestão em perene oposição? Antes de setornarem instituições, estas duas reli-giões ainda eram um pouco tolerantes,mas as ordens dos concílios da Igrejacristã e as leis Islâmicas do Alcorãoestabeleceram uma separação radicalentre os dogmas justificados pela teolo-gia e a manifestação da Gnosis.

No início, do lado dos árabes, uma

grande tolerância contribuiu, por exem-plo, para o rico desenvolvimento da cul-tura da Idade Média. Foi neste momentoque aconteceu nitidamente uma espéciede islamização, o que é confirmado pe-los textos do que chamamos de “a Gnos-is islâmica”. As influências gnósticasainda são reconhecíveis em inúmeroscasos, mas nem sempre de modo evi-dente, pois já nesta época, os que bus-cavam a sabedoria divina utilizavamsímbolos e alegorias para mascararsuas intenções e escapar de seus car-rascos.

Tanto ontem como hoje, a maioria dostextos esotéricos não é acessível ao pú-blico. Com o passar do tempo, entretan-to, algumas cartas e obras passaram pa-ra o exterior e um dos textos que chega-ram até nós é o Umm al Kitab, tambémconhecido pelo título de O Apocalipsede Gabir. Quem transmite a mensagemdeste texto original é Gabir, que recebeuo ensinamento de Bakir, “aquele querevela o conhecimento”. Gabir simbolizao homem decaído, o Adão que ouve no-vamente a voz de Bakir, o Espírito. Poreste fato deve-se entender que Bakirnão é um personagem histórico, massim a manifestação interior de Deus.

Um diálogo como o de Bakir com Ga-dir encontra-se em inúmeros textos sa-grados, como no antigo texto hindu Bha-gavad Gita, em que Krishna conversacom Arjuna, assim como no texto her-mético do Egito antigo, no qual Piman-dro se dirige a Hermes.

A veste de luz que envolve Bakir pos-sui cinco aspectos, que nos fazem pen-sar nos atributos do Homem perfeitoparamentado com a veste da alma rege-nerada. Gabir chega a ouvir a voz deBakir: ele se encontra em terra firme, e

O APOCALIPSE DE GABIR,UM IMPULSO GNÓSTICO

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pode começar seu caminho que conduzà união da alma e do Espírito. O Apoca-lipse de Gabir começa com a descriçãoda criação, da queda e depois do cami-nho da libertação.

A CRIAÇÃO SEGUNDO GABIR

O divino repousa em si mesmo, comoum princípio quíntuplo, no mar branco, eeste mar é encimado por uma espiral

branca. Esta espiral contém tudo o quefoi criado: “o mais universal dos diwansmanifestados” (a região mais alta), ossete céus e a região terrestre. A visãoda “branca espiral acima do mar branco”faz pensar nas palavras bíblicas: “E oEspírito de Deus pairava sobre a facedas águas” (Gênese, 1:2).

O Espírito invisível, que não pode serconhecido nem penetrado, infinitamentesuperior, opera na matéria divina ou ma-triz e através dela, que é matéria mági-ca, energia pura. No Apocryphon de Jo-ão, está escrito que o Pai, e portanto ocriador, o pensador, se reflete na Mãe, aágua, a energia. Sobre esta união re-pousam os cinco atributos do Pai:

Krishna e Arjunaobservam a bata-lha (cerâmica dearenito,Deogarth, sécu-los V-VI a.C.)

No Umm al Kitab, as almas humanas são representadas comocentelhas de luz que caíram.Originalmente, seu número era124.000. Seu exílio para o mundodas vestes de argila foi a puniçãode seu “esquecimento”. Em cadauma das sete esferas, elas seesqueceram do que haviam visto eexperimentado na esfera anterior.Cada vez que o Rei sublime lheslançava um apelo, elas hesitavamem reconhecer que se tratava ounão de seu legítimo criador. No finaldas contas, elas decidiram seguirseu próprio caminho. É destemesmo modo que o evangelho apó-crifo de João declara que as almasque reconhem o objetivo a ser atingido mas não se arrependemsão afastadas para um eão inferior.No Umm al Kitab uma parte destasalmas ññ os Nuzareis e os Alaoítasdão diferentes números delas – descemsobre a terra para aí transformar oestado de sua alma, tendo em vistatornar possível sua libertação.

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1. a energia, o amor, a Mãe;2. o entendimento;3. a incorruptibilidade;4. a vida eterna;5. a Verdade.

Da branca espiral e do mar branco,ou seja, do princípio do pai e do princí-pio da mãe, emana a mais alta dimen-são, o princípio solar. O sublime Reideste diwan universalmente manifesta-do fez ressoar a divina palavra e criouassim os sete diwan ou esferas que cor-respondem às sete regiões cósmicas oucelestes, com suas criaturas e seusguias. Cada região era perfeita em simesma.

Esta descrição da criação que vem àexistência pela palavra do sublime Reifaz pensar nos versículos do Evangelhode João: (1:1-3): “No princípio era o Ver-bo e o Verbo era Deus. Ele estava, noprincípio com Deus. Todas as coisasforam feitas por ele e nada do que foifeito foi feito sem ele.”

A QUEDA DE AZAZEL

O mais poderoso guias das regiõescósmicas é Azazel, denominado Ialda-baoth pelos gnósticos. É Ahriman entreos persas, Iblis no Coorão e Satã naBíblia. o sublime Rei lhe havia empres-tado sua luz e assim conferiu o poder depronunciar também a palavra que,entretanto não passou de um grito. Poreste grito, ele criou o mundo

e suas criaturas. Mas, em seguida,Azazel cometeu um erro: de pretenderser divino. Ele se considerou um criadore não uma criatura.

As outras falanges celestes, comSalman, o Adão perfeito, viam bem quesua perfeição era uma dádiva da divin-dade e louvavam seu do criador, masAzazel não o louvava porque se consi-derava o criador. Ele também não acei-tava Salman como o homem perfeitoque cumpria as obras de seu criador.

COMO O OCIDENTE

CONHECEU O UMM AL KITAB

De 1900 a 1918, em Boukhara e nos

contrafortes de Pamir, funcionários e

pesquisadores apoderaram-se de

alguns exemplares de um livro

redigido em persa antigo e cujo título

em árabe era Umm al Kitab, que

significa “A Mãe dos Livros” ou

“Texto Original”. Os ismaelitas que

povoavam estas regiões o tinham

em grande estima. Em 1900, quem

trouxe o primeiro exemplar para São

Petersburgo foi um funcionário russo.

Um segundo exemplar foi

trazido em 1910, e vinha de um vale

do Wahan, situado entre as

montanhas do Pamir e o Indo-Kush

(hoje, o noroeste do Afganistão). Em

1914, o etnólogo e linguista I Zarabin

encontrou um terceiro manuscrito

em Sughan, numa região que fazia

parte do Tdjiquistão.

Este último remontava a 1879 e

era o mais antigo dos três. Um

quarto exemplar reapareceu em

São Petersburgo. W. Ivanov ainda

descobriu um certo número deles

perto dos ismaelitas da Õndia. Em

1932, Ivanov publicou suas “Notas

sobre o Ummuíl kitab dos Ismaelitas

da ¡sia central” e em 1936 publicou o

texto integral em persa, na revista

“O Islam”.

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Em razão deste orgulho, ele não pôdese manter por muito tempo no diwanuniversalmente manifestado e caiu deuma região para a outra, até o momen-to em que ele chegou ao extremo limitede um eão.

As sete regiões correspondem àssete cores seguintes: vermelho rubi, corde fogo, verde esmeralda, violeta, cordo sol, da lua e, finalmente, o azul. Ha-via correspondência com os sete aspec-tos da vida divina: estado divino, reale-za, sublimidade, onipotência, divindade,iluminação e espiritualidade.

As palavras de negação que Azazelestava sempre fazendo ressoar no limi-te do eão lhe fizeram perder seus atribu-tos divinos. Ao final de seu périplo atra-vés dos sete domínios cósmicos, suaúltima veste-luz lhe foi retirada e ele tor-nou-se matéria, o mundo visível. Estacondensação de Azazel em matérialembra o “Canto da Pérola”, um textoantigo inspirado pela Gnosis.

A queda do homem e a possibilidadede retorno.

Aqueles que chamamos de “os rebel-des” – os que não quiseram ou nãopuderam decidir se iriam tomar partidoou ser contra o sublime Rei – se sepa-ram com Azazel e suas criaturas. Estegrupo formou a humanidade atual, des-viada da Palavra. Depois de uma outramentira de Azazel, estes homens foramexpulsos do paraíso e receberam aveste de argila. De fato, eles tinhamcaído duas vezes, e em sua miséria, vol-taram-se para o princípio solar, pergun-tando: “O que devemos fazer para nostornarmos puros, se temos esta forma?”O sublime Rei disse: “É preciso satisfa-zer quatro condições, se não quereiscontinuar muito afastados de mim:1. dar testemunho de vosso Deus sem

hesitação ou incerteza;2. venerar seus enviados e por eles

aprender a me conhecer;3. praticar a fraternidade;4. desviar-vos dos prazeres e das

vantagens do mundo.”É por este anúncio da possibilidade de

libertação que termina a parte maisimportante do Apocalipse de Gabir.

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OS MISTÉRIOS DESVENDADOS

Geralmente, emprega-se freqüente-

mente a palavra “mistério” em rela-

ção a acontecimentos ou fenômenos

inexplicáveis ou que podem ser

explicados apenas parcialmente. A

palavra vem do grego “myste”, que

designa o iniciado em um culto ou

ritual secreto.

em dúvida é por isso que o conceitode mistério apenas se aplicava, antiga-mente, às coisas da religião, à relaçãooculta do homem interior com Deus, daqual o cristianismo foi, em seguida, umarelação exterior. Assim, o Criador tornou-se o grande mistério, protegido por aque-les que se haviam estabelecido comoautoridades no plano teológico. A razãonascente tentou, em vão, lançar-se sobreeste mistério, para desvendá-lo.

Por que dizemos “em vão”? Porque arazão comum não foi criada para estafinalidade. A razão faz parte da personali-dade; ora, é o mundo perecível que aconstituiu e ela está submetida a ele. Arazão terrestre não possui a chave quepermite abrir e desvendar suficientemen-te os mistérios do espaço e do tempopara perceber a eternidade que está pordetrás. A razão somente pode observar oque é de seu domínio, ou, como se diz,com justeza: “A razão somente pode ex-primir-se no domínio da razão”. Tudo oque se encontra fora dela continua ocultopara ela, secreto, misterioso.

E, no entanto, os homens falam deeternidade, e muitos crêem em um Deuse desejam conhecê-lo. Não seria somen-te um belo discurso? Será que estes con-ceitos vêm do interior ou do exterior? Co-mo podemos estar seguros a respeito da

existência da eternidade? Até mesmo osateus que a negam reconhecem esteconceito, pelo próprio fato de contestá-lo.A resposta a todas as perguntas residena própria essência do Criador, que co-nhece sua criação e quer ser reconheci-do por ela.

UMA BALISA NO OCEANO DAS

FORÇAS OPOSTAS

A luz do sol dá testemunho da existên-cia do sol, mas o olho do sistema biológi-co humano não suporta sua potência. Aluz do Sol espiritual dá testemunho desua existência, mas o eu do sistema hu-mano não suporta suas irradiações. É porisso que a fonte original de toda a criaçãoenvia mensageiros para o homem quevive nas trevas. Eles dão testemunho dafonte de onde provêm e são como balisasno oceano das forças opostas, que é omundo dialético.

A vida terrestre dialética provoca ce-gueira naquele que está buscando, e que,portanto, não pode se servir da chave dosMistérios gnósticos, pois não está prontopara encontrá-la, nem no exterior, nem nointerior de si mesmo! Os mensageiros daLuz falam sobre todos os planos de vida,de modo direto ou indireto, a fim de desven-dar o que está oculto à razão terrestre.

Eles não se dirigem a esta “luz aparen-te”, expressão de Goethe para designar arazão, mas sim a este núcleo de vida ori-ginal que o homem possuiu em seu cora-ção, na esperança de que ele não estejacompletamente extinto ou incapaz de sereacender.

É deste núcleo, deste núcleo divino,que provém a intuição e o desejo de eter-

S

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nidade; um raio de algo “completamentediferente,” o qual o homem mortal nãopode nem sequer imaginar; pensamentosque ultrapassam a consciência terrestre,como vagos reflexos da única Verdadeescondida em uma centelha-do-coração.

Estes mensageiros se esforçam porfazer surgir este tesouro oculto: por meiode palavras, de mitos e de parábolas, ale-gorias, lendas, representações artísticase teatrais. Assim, eles inspiram aquelesque buscam e que podem somente rea-gir, seja por um comportamento elevadodo qual muitos dão testemunho, seja poratos indignos que fazem com que seupróximo sofra.

PARA O CORAÇÃO FECHADO HÁ SEMPRE

UMA NOVA ABERTURA

Os seres humanos são sistematica-mente chamados em todas as partes domundo, e isto em uma linguagem adapta-da a sua condição de vida. Quando lhesmostram a imagem do único futuro possí-vel, suas reações para tentar encontrar asenda que acabará por elevá-los sobre omundo que eles mesmos fabricaram sãoinfinitamente diversificadas.

Portanto, não é suficiente unir todos osconhecimentos possíveis sobre osMistérios, nem ficar mantendo sua subli-me imagem interior no coração. Trata-seapenas de um início. O ser que já viven-ciou uma vez que a vida tem uma outradimensão, uma dimensão totalmente dife-rente, irá se colocar a caminho, a suamaneira ññ este é um comportamentopróprio do homem da natureza. Logo queseu desejo é desperto, ele irá em frente,desde que mostre a compreensão sufi-ciente para tanto. Se o caso não é este,

ele continuará a reagir, mas seguirá ocaminho em espiral que sempre recon-duz à única senda, depois de várias expe-riências dolorosas.

ENGAJAMENTO E COMPORTAMENTO

Todos aqueles que começam o cami-nho com entusiasmo abandonam asenda rapidamente se o comportamentonão estiver de acordo com o elevadoobjetivo pretendido. Atrelados à vida coti-diana, adotamos a atitude corresponden-te as nossas obrigações; o mesmo acon-tece àquele que segue o chamado daGnosis que ressoa em seu coração: elefaz de tal modo que suas ocupações coti-dianas não sejam obstáculo para o obje-tivo que ele deve atingir. Ora, a renovaçãointerior depende da atividade da Gnosis,a força regeneradora que, pela palavra epela imagem, é capaz de ligar novamen-te ao verdadeiro objetivo da vida entrevis-to intuitivamente, e dá o poder de atingi-lo.

No momento em que a eternidade sur-ge no coração como objetivo único da vi-da, os Mistérios da Manifestação univer-sal vão se desvendando pouco a pouco.Um grande número de escritores, artis-tas e cientistas célebres testemunharameste desenvolvimento interior. Quando ohomem divino ressuscita, o que é ocultoaparece, e o homem interior reconheceseu Criador. É então que a vida terrestrenão conduz à morte, mas torna-se otrampolim para a eternidade. O destinode toda verdadeira Escola de Mistérios é,portanto, não somente ir á frente dosbuscadores em seu caminho, mas sobre-tudo desvendar com eles os Mistériosgnósticos.

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As inaugurações, colóquios e expo-

sições que aconteceram na Holanda

e por toda a parte do mundo foram

bem recebidos pela imprensa em

1998, e o interesse crescente por to-

das as realizações da Escola Inter-

nacional da Rosacruz Áurea é extre-

mamente encorajador. Neste primei-

ro número da revista Pentagrama

de 1999, a Redação faz uma sele-

ção no mar de informações nacio-

nais e internacionais para divulgar

todas estas atividades.

QUATRO SÉCULOS DE TRADIÇÃO

ROSA-CRUZ NA BIBLIOTECA DE LA HAYE,NA HOLANDA

a quinta-feira, dia 10 de dezembro de1998, cerca de 270 convidados estavamreunidos na sala de conferência da Bi-blioteca Real de La Haye para assistir àabertura oficial da exposição O Chama-do da Rosa-Cruz, quatro séculos de umatradição sempre viva.

A Biblioteca Real foi fundada em1798: é a biblioteca nacional da Holan-da, comparável à British Library deLondres e à Bibliotheque Nationale, deParis. O Dr. W. van Drimmelen, diretor ebibliotecário, lembrou, em seu discursode abertura, que a Rosa-Cruz ocupavaum lugar importante na sociedade. Épor esta razão que a Biblioteca Realcolaborou ativamente com esta exposi-ção. Além disso, ela possui uma seção“Hermetismo” e uma seção “Esoterismo”cujas obras sintonizam perfeitamentecom a exposição.

Trata-se de um apanhado históricodas reações que surgiram a partir daedição dos Manifestos Rosa-cruzes em

1614. O senhor J. R. Ritman, fundadorda Bibliotheca Philosophica Hermetica,expôs em linhas gerais como surgiramestes manifestos e as reações que elesdesencadearam na Europa, entre asquais é preciso notar o surgimento demovimentos e correntes espirituais co-mo a franco-maçonaria, a teosofia, aantroposofia, a “Rosicrucian Fellow-ship” de Max Heindel, a A.M.O.R.C. e oLectorium Rosicrucianum, que foramtodos repostas a este poderoso impulsoespiritual de quatrocentos anos atrás.

A exposição compreende 180 títulos:os primeiros manuscritos e escritos daFama Fraternitatis R.C. O Chamado daFraternidade Rosa-Cruz e dezenas derespostas a esta obra, manuscritas ouimpressas em numerosas línguas. Alémdestes, figuram muitos textos, fotos eobjetos provenientes dos diferentes gru-pos que surgiram na seqüência desteimpulso. Durante a inauguração, umanova tradução holandesa da FamaFraternitatis R.C. foi apresentada por M.A. H. van den Brul, do Lectorium Rosi-crucianum. A primeira tradução em ho-landês surgiu no ano seguinte da pri-meira edição alemã de 1614. Isto provabem o grande interesse levantado, nes-ta época, pelos Manifestos da Rosa-Cruz. A nova tradução é baseada empesquisas do Dr. Carlos Gilly e de M.Pleun van der Kooij a partir das fontes.O primeiro exemplar foi oferecido ao Dr.W. van Drimmelen e fará parte da Biblio-teca Real.

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL

DOS ALUNOS MÉDICOS EM RENOVA

De 15 a 17 de maio de 1998 desen-volveu-se uma Conferência Interna-cional consagrada aos médicos, alunos

Da esquerdapara a direita:Dr. W. vanDrimmelen(Diretor daBiblioteca Real),J.R. Ritman(BibliothecaPhilosophicaHermetica), A. H.van den Brul(LectoriumRosicrucianum).

OS ROSA-CRUZES ENTRAM EM CENA

N

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18

da Escola da Rosacruz Áurea, o que jáera um antigo desejo dos fundadores.Cerca de 100 médicos de países dife-rentes se reuniram em Renova paraaprofundar sua tarefa em suas especia-

lidades, e para discutir a partir de suasexperiências cotidianas, no intuito deajudar, de aconselhar e sustentar os alu-nos no plano físico e psicológico, umavez que eles mesmos são médicos ealunos.

O TEMPLO CATHAROSE DE PETRI EM CAUX,NA SUÍÇA, FOI INAUGURADO HÁ 20 ANOS

A inauguração do Templo Catharosede Petri, em Caux, na Suíça foi no dia 9de setembro de 1978. O sétimo grandetemplo da Escola Espiritual Interna-cional da Rosacruz Áurea estava prontopara sua missão. Catharose de Petri de-clarou, nesta ocasião: “Cada um dos se-te Templos tem sua cor própria, sua pró-pria vibração. Cada um se encontra sobum dos sete raios do Espírito Sétuplo.Entretanto, seis outras forças tambémoperam nestes templos, a fim de que osanto trabalho possa realizar-se com-pletamente em cada um. Assim surgiu aúnica Luz que é independente do sol ou

Na BibliotecaReal: O Chamadoda FraternidadeRosa-Cruz, qua-tro séculos deuma tradiçãosempre viva.

Conferência internacional dos médicos emRenova.

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da lua. Assim se levantam novas luzes,nas regiões de trevas.”

Desde esta inauguração, acontece-ram mais de 420 conferências de reno-vação das quais participaram entre 300e 500 alunos cada vez. Para festejareste aniversário, houve uma jornada de“portas abertas” em maio de 1998 queatraiu inúmeros visitantes. Uma exposi-ção sobre o tema: A Gnosis no momen-to atual (em francês) foi igualmente pro-posta, dando-lhe informações sobre aDoutrina Universal. Catorze painéisapresentavam, em alemão, o seguintetema: Botschafer des Lichts im Laufeder Jahrhunderte (Os mensageiros daLuz através dos séculos). Houve umconcerto no grande hall e também umapeça de teatro foi apresentada pelosjovens: O Doutor Fausto. No intervalo,

os convidados se serviram de um buffetregiamente guarnecido.

O CENTRO DE CONFERÊNCIAS SOLE

NOVO, EM BENIN, NA ÁFRICA DO SUL

“Um lugar de meditação para os jovens”.Foi no meio de palmeiras, em Djé-

règbé, na república do Benin, que se deua consagração do Centro de Conferên-cias Sole Novo, no dia 21 de novembrode 1998. Vieram 85 convidados da Cos-ta do Marfim, do Gabão, da Repúblicados Camarões, da Bélgica, da Alema-nha, da França, da Holanda e da Suíça.O ministro do Planejamento e do De-senvolvimento Social, Albert Tévoèdjré,o Guarda dos selos e ministro da Jus-tiça, Joseph Gnonlonfoun, representa-ram as autoridades. O prefeito e chefeda cidade de Djérègbé, assim como umgrande número de cidades vizinhastambém participaram desta inaugura-ção solene do primeiro Centro de Con-ferências do Lectorium Rosicrucianumna África.

Notas e matérias foram publicadasnos jornais Le Citoyen, Le Matin, Pro-grès, Les Echos du Jour, La Nation e LeMatinal. La Nation de 23 de novembrode 1998 cita uma parte do discurso pro-nunciado pelo ministro Albert Tévoèdjrénesta ocasião: “Não venho aqui comorepresentante do governo, mas como

Convidados sãorecebidos commúsica, em Caux

Ainda há muitotrabalho, antes dainauguração ofi-cial do Centro deConferênciasSole Novo, emBenin, na África.No centro, à esquerda:recepção dosministrosTévoèjré eGnonlonfoun.

Abaixo, no centro: planta do Centro deDjérègbé. Abaixo,à direita: reuniãocom a imprensae acolhida aosvisitantes estrangeiros.

cristão. Saúdo meus amigos rosa-cru-zes por sua iniciativa muito louvável.Nossos jovens encontrarão aqui umlocal de meditação, pois o desenvolvi-mento de uma nação depende do graude crescimento da alma de seus filhos.”

O senhor A. H. van den Brul tomou apalavra em nome da Direção EspiritualInternacional da Rosacruz Áurea: “AAlma é a intermediária entre a matéria

e o Espírito, entre o Espírito e o corpo.Se colocarmos a alma no centro davida, desaparecerá o egocentrismo, avida direcionada pelo eu, e a união sefará com todos que também vivem daalma e pela alma. É por isso que fala-mos freqüentemente em nossa escolasobre a “religião do coração”. O verda-deiro aluno da Rosacruz Áurea farátodo o possível para seguir as inten-

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Textos extraídosdos artigos editados nos jornais maisimportantes deBenin.

ções da alma inspirada e animada pelaLuz da centelha divina que irradia nohomem: a centelha do Espírito que estáoculta no coração, como bem sabem osalunos da Rosacruz Áurea. É nestariqueza espiritual, que pode se desen-volver em todo ser, que os alunos refle-tem nos Templos e nos Centros deConferência.”

O responsável pelo novo Centro,Senhor Nicolas Ahouandijnou, expres-sou seu reconhecimento pelo grandio-so trabalho efetuado durante trêsanos. Os próprios alunos fabricaramos tijolos e construíram os edifícios.“Para as coisas sagradas, não hánecessidade de acumular dinheiro emum banco.”

O Centro de Conferências SoleNovo do Benin é um novo elo da cor-rente que envolve a toda a obra gnós-tica empreendida para o mundo e pa-ra a humanidade. Quem se reúne nes-te templo a fim de refletir coloca-sesob os raios do Novo Sol; quer dizerque o trabalho que vai se desenvolverneste Centro será orientado para oúnico e grande objetivo: a renovaçãoda vida.

O Templo e os diferentes locais fo-ram construídos sobre um terreno depelo menos cinco hectares, em lugartranqüilo, em meio a palmeiras; tudoestá previsto para abrigar 500 pessoas.Os dormitórios já acolheram 150 alu-nos que participaram da Conferência eo refeitório, 300. Há também uma salade silêncio e uma biblioteca deempréstimo.

O primeiro contato com os pesquisa-dores do Benin data de 1954. Entre 1960e 1970 havia somente 3 alunos. O reco-nhecimento oficial do Lectorium Rosi-crucianum aconteceu em 1989. Atual-mente, há 150 alunos e 100 societáriose interessados.

NOVO CONJUNTO DE TEMPLOS EM

SARAGOZA, NA ESPANHA

Os alunos da Espanha terminaram asegunda fase dos trabalhos de extensãodo Centro de Conferências El NuevoMercurio, em Saragoza-Villamajor, comuma rapidez incrível. Um conjuntoimpressionante de três templos se elevaao pé dos contrafortes dos Pirineus ebrilha ao sol ardente da Espanha. Logoque todos os edifícios deste Centro fica-ram prontos, os alunos espanhóis tive-ram lugares suficientes para assistir às15 conferências de renovação de 1998,e aí receberam cerca de 450 visitantes

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O novo conjuntodos templos emZaragoza.Abaixo: vista doalojamento.

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espanhóis e estrangeiros. O templo pro-visório foi concebido de tal forma quecom pouco trabalho os alunos puderampreparar novos dormitórios. Esta últimaextensão permitiu a instalação de 150novos leitos.

No sábado, dia 17 de janeiro de 1998,420 pessoas, alunos espanhóis e convi-dados de inúmeros campos de trabalhoeuropeus, foram recebidos na entradados três templos para a inauguração so-lene do Grande Templo. As autoridadese os habitantes de Villamajor, cerca de250 pessoas, haviam sido convidadasalguns dias antes. Muitos ficaram es-pantados de ver que o Centro de Con-ferências inteiro é gerenciado e mantidopelos próprios alunos.

OS JOVENS NO CENTRO DE BIRNBACH,NA ALEMANHA

Em agosto de 1998, 140 jovens reu-niram-se em Birnbach para a semanainternacional de trabalho anual. Elesfizeram a limpeza da floresta, a mudan-ça da casa de madeira destinada aosjovens, e também cavaram buracos pa-ra instalar os alicerces para a ponte queatravessa um riacho, além de traçaremnovos caminhos recobertos de seixos.

REPRESENTAÇÃO DE PARSIFAL NO

CASTELO DE WILDENBERG

Uma equipe do Trabalho público deMannheim, Darmstadt, Frankfurt, Giesen,Wiesbaden e Würzburg começou a pre-parar, em 1995, uma peça de teatro so-

Grupo inerna-cional dosJovens traba-lhando no jar-dim do centrode Birnbach.

Tomada doCentro deConferênciasEl NuevoMercurio, emZaragoza.Representaçãoteatral deParsifal deWolfram vonEschenbachno castelo deWildenberg.

bre Parsifal, que deveria ser representa-da nos lugares em que Wolfram vonEschenbach escreveu uma grande par-te da epopéia do Graal em 1210. Tudoestava pronto no dia 6 de junho de1998, um dia esplêndido e ensolaradoem que pelo menos 320 convidados, in-teressados e alunos tomaram seuslugares debaixo de grandes guardas-sóis no jardim do castelo. Este assuntoe este lugar foram escolhidos porqueWolfram descreve em Parsifal a buscada Verdade. Muitas situações são atuaispara os pesquisadores e podem lhesdar certos pontos de referência aindahoje. Por esta razão Wolfram e seusamigos aparecem na peça. Esta abor-dagem permitiu esclarecer aspectosintelectuais, místicos, artísticos e filosó-ficos além de toda exposição abstrata.

Antes da representação, houve umavisita com guia a partir da torre do cas-telo onde soou o sinal do início da peça,pouco antes das 15 h. Depois da primei-ra parte, sugeriu-se aos convidados quetomassem parte do buffet previsto paraantes da reprise da representação, queiria acontecer uma hora depois. ¿s17h30, uma pequena orquestra de 8pessoas executou uma série de músi-cas da Idade Média para encerrar estemagnífico dia. Não somente os especta-dores admiraram a excelente organiza-ção e o soberbo espetáculo, comoexpressaram também seu reconheci-mento pelo interpretação profunda quefoi feita a respeito do caminho que aalma de quem busca tem de percorrer.

Os atores e organizadores não esque-cerão, sem dúvida, este período deintensa cooperação, cheio de aprofun-damentos, assim como esta peça cujaexecução causou, com certeza, respeitoe admiração.

TRANSFORMAÇÃO DO CENTRO DE

HILVERSUM

“Os rosa-cruzes abrem suas portas.Os homens estão buscando a si pró-prios no esoterismo”, escreveu um jor-nal de Hilversum. O número de alunosde Hilversum, onde o trabalho começouhá 60 anos, foi crescendo mais rapida-mente do que o edifício em que eles sereuniam. Os projetos de reconstruçãodeste Centro, o maior do campo de tra-balho holandês, datam de 1993. Foi sóem 1996 que a primeira fase destes tra-balhos foi encerrada: uma extensãoimportante da fachada do edifício. Emseguida, veio um período de dois anosde intensa atividade para uma recons-trução radial dos locais. No dia 1º de feve-reiro, domingo, centenas de convidadospuderam entrar no Centro totalmentereformado. Vizinhos e representantes daimprensa tinham sido convidados na vés-pera para uma visita guiada. Os que qui-seram saber mais a respeito da Rosacruz¡urea puderam assistir, às 14h e às 16h,a duas conferências que tinham comotítulo: A senda que leva à Gnosis e A ver-dade viva. A maior e mais antiga das

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escolas “Jan van Rijckenborgh” faz partedo Centro de Hilversum.

A COMPRA DE UM CENTRO EM GUILDFORD,NA INGLATERRA

Depois de muitos anos de busca, osalunos do Reino Unido compraram emGuildford, logo ao sul de Londres, umacasa independente que convém muitobem para um núcleo e um pequenoCentro de Conferências, muito acessívelpor estrada de rodagem e por trem. Osalunos estrangeiros podem chegar atélá pelo aeroporto de Gatwick. Os traba-lhos começarão no momento em quesaírem os alvarás e os alunos esperaminaugurar este campo de trabalho até ofinal de 1999. No térreo, está previstoque haverá salas de reunião e escritó-rios, e o templo será no primeiro andar.

QUATRO CONFERÊNCIAS NO CENTRO

DE PRAGA, TCHECOSLOVÁQUIA

No dia 27 de outubro de 1992 foidada a primeira conferência pública na“Stadsbibliotheek” de Praga. O grandeinteresse que ela levantou suscitou aformação de um grupo de alunos bas-tante dinâmico. A partir deste momento,as três conferências anuais atraíram ra-pidamente um número crescente de alu-nos e interessados. Em 1996, o Lect-orium Rosicrucianum foi reconhecidooficialmente e os alunos começaram aprocurar um local. Um ano mais tarde,foi alugado um imóvel, no centro da anti-ga cidade, mas era preciso reformá-lototalmente. Com muitos corações, cabe-ças e mãos, graças a donativos e a umempréstimo do Fundo Internacional, osalunos de Praga trabalharam em seucentro visando a abertura oficial de 7 demarço de 1998.

A segunda fase: a reforma da cozinha,de muitos escritórios e salas de reunião,

de uma sala de silêncio, de um refeitórioe de um espaço para a Mocidade deve-ria estar terminada para a primeira con-ferência, de 13/14 de março de 1999.Em seguida, seria a vez do espaçoexterno. Durante este tempo, duasséries de aulas de contato para pesqui-sadores já aconteceram neste edifício.

CONCERTOS EM RENOVA, GRAÇAS AO

FUNDO NACIONAL DE CONSTRUÇÃO

Nos dias 1º e 2 de maio, treze músi-cos e dois membros do grupo teatral OLabirinto deram um concerto com obrasde Mozart, Beethoven, Granados, César

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O futuro Centrode Guilford.Abaixo entradado Centro dePraga. A renovação da fachadaestá previstapara 1999, noprograma.

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Frank e Saint-SaÎns no refeitório que foitransformado especialmente para estaapresentação. Alunos do país inteirovieram acompanhados de membros desuas famílias. Houve tantos interessa-dos que precisamos reunir um grandenúmero de cadeiras!

UM CENTRO EM NYIREGYHÀZA,NA HUNGRIA

No dia 10 de novembro, às 19 h, naHungria, um novo Centro do campo detrabalho europeu da Rosacruz ¡ureaentrou em atividade.

TARDE DE “PORTAS ABERTAS”NO CENTRO DE BIRNBACH

Esta tarde atraiu mais de 300 visitan-tes que aprovaram as mudanças e refor-mas do “Michaelshof”. Uma exposiçãoapresentava a doutrina e o trabalho daRosacruz ¡urea Internacional. Muitos ad-miraram a maneira pela qual os antigosedifícios haviam sido restaurados e rece-beram favoravelmente o projeto de umanova construção, assim como a constru-ção de uma estrada de acesso particular,para aliviar a circulação em volta da pro-priedade. O prefeito expressou sua satis-fação com os resultados obtidos depoisde dez anos de acertos e esforços emcomum. “A população perguntava o queiria acontecer com o “Michaelshof”. Oque vemos aqui, hoje, confirma nossaidéia de que ele está em mãos cheias de

Crianças daescola Jan vanRikckenborghde Duiven.

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solicitude.” O responsável pelo campo detrabalho do norte da Alemanha, JochenSchneemann, expressou seu reconheci-mento e seu pleno acordo com a comu-nidade de Birnbach e vizinhança sob aforma de um presente para a nova Casada Mocidade de Birnbach.

ABERTURA DE UM CENTRO EM DOUALA,NA REPÚBLICA DOS CAMARÕES

No dia 26 de novembro, quinta-feira,houve a inauguração de um Centro emDouala, importante cidade portuária. Otemplo está previsto para cerca de 150pessoas. Aí se encontram também: umasala de contato, uma biblioteca de em-préstimos e uma casa moderna para ointendente.

O DESPERTAR DA RAZÃO NOS

SÉCULOS XX E XXI

No dia 23 de maio de 1998, sábado,200 conhecedores e admiradores de Spi-noza reuniram-se em Renova, em Biltho-ven, quando se deu o simpósio sobre afilosofia e as obras de Baruch Spinoza(1632-1677). Este eminente filósofo pan-teísta de origem portuguesa influenciouinúmeros de seus contemporâneos comsuas idéias bastante tolerantes. Sua Ética,que somente foi publicada após sua mor-te, sempre atrai a atenção neste agitadoséculo XX.Em quatro conferências, sua obrafoi amplamente esclarecida e comentada.

MUDANÇA DA ESCOLA JAN VAN

RIJCKENBORGH DE DUIVEN

No início das aulas de 1998, os alunosda escola Jan van Rijckenborgh deDuiven mudaram-se para um edifício

mais espaçoso, rodeado de verde e si-tuado perto da estação. As instalaçõessão amplas, arejadas e bem iluminadase dispõem de uma sala de ginástica quepode ser transformada em sala de teatro.

MUDANÇA EM LA PAZ, BOLÍVIA

O fechamento do Centro de La Pazaconteceu em 31 de outubro, sábado,as 17 h. As novas instalações estão sen-do preparadas, assim como a constru-ção de um Templo para cerca de 150pessoas. O término dos trabalhos estáprevisto para o final do ano de 1999.

Acima, à direita:Templo deDouala. Abaixo:edifício do novo Centro deLa Paz.

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CANTO DO IRMÃO DAS SETE

ESTRELAS

Escuta!Eu Te anunciouma notícia maravilhosa:meu carcereiro abriu a porta de minha prisão.É claro que ele apenas a entreabriu,mas agora já posso respirar!

A chave que abre minha celaé uma Palavra.Uma Palavraque tem um som tão doce,um perfume tão agradável.Há quanto tempo eu não a ouvia!

O carcereiro não falou comigocomo sempre,com um tom de comando.Ele se mostrou terno, íntimo,como nunca tinha feito antes.

Suas lágrimas me aqueceram,ó que sensação deliciosa!Eu respirei profundamente,me estiquei, me estendi.Os sete mantosque me envolvem estreitamentejá não me apertam.

Os olhos de meu carcereiroprocuram me vermas, cegos pela luz de meu nascimento,ficam procurando no escuro.

Sinto que estou despertando lentamentede uma morte infinita.Tua Palavra me envolvee penetra em mim.Desperta-me com Tua doce voz.

QUANDO A ALMA RETOMA SUA LIBERDADE

No “Canto do Irmão de Sete

Estrelas”, a alma prisioneira, sedenta

de luz, implora a ajuda de seu com-

panheiro eterno, o Irmão de Sete

Estrelas”, o Espírito Santo. Ela

lamenta por ter um carcereiro, o eu

que a mantém encarcerada. Ela

acha que este não é digno de carre-

gar o nome de homem, pois nunca

está pronto para lhe devolver a liber-

dade. Depois de algum tempo, o car-

cereiro começa a escutar. Ele decide

permitir que ela receba o pão, a

Palavra de Deus, em sua cela.

Progressivamente, ele vai assumindo

o papel de servidor da alma. Esta já

pode alimentar-se de pão, que é a

Luz; ela já está bastante forte para

retomar sua liberdade e ir ao encon-

tro de seu “Irmão de Sete Estrelas”.

Quando o eu já não faz valer seus

direitos e se coloca a serviço da

alma, esta se prepara para encon-

trar-se com o Espírito. Espírito, alma

e corpo se reaproximam, em um pro-

cesso de fusão. A tri-unidade

Espírito, Alma e Corpo se realiza, e

manifesta-se uma consciência abso-

lutamente nova.

Acerca-te, pois, deste carcereiro,dirige a ele Tua Palavra sedutora.Será que ele aprenderá a nos servir?

Irmão,estou sofrendo mais uma vez,o carcereiro me prendeu novamente!Ele partiu e não voltou.O que o afastou?O esquecimento,por não poder me ver ?Ou será a falta de sintonia?

Estou perturbada, angustiada,como posso tocá-lo?Como posso mostrar-lhe quem sou?Ele já não ouve a minha voz.Ela já não soa como a sua voz!

Oh, faz uma eternidade que estoubatendo, que estou querendo.Se isto pudesse despertá-lo, inquietá-lo!

Tua Palavra eterna, esta chaveque Tu lhe deste para me encontrar,e que eu ouvi dele,faz viver a imagemdo Reino da Luz,do qual fazemos parte.Nossa Pátria!

Agora, seique Tua Luz sétupladesce para me salvar,a mim, Tua irmã decaída.Destes Tua Palavra, esta chave,a Teu servidor,para que ele abrisse a prisãoonde estou presa.

” Irmão!, se ele esquecer novamente,faz com que ele conheça seu dever.Se um conflito interior

o arrastar novamentetoca-o com Tua espada de Luzlembra-lhe o porquê de sua vida.

Repete Tua Palavra, repete-a!A chave de minha salvação!Suplico-Te, meu Bem-Amado!

Será que o dia feliz está se aproximando?Agora ele voltou,abriu minha cela,com Tua Palavra!

Como esta chave funciona bem!A porta me dá mais espaço.Respiro profundamente.

Ele olha para dentro,e não diz uma palavra sequer, durantemuito tempo,diante de mim, sem me ver.

Mas eu vi seu rosto,abatido, tão triste.Aí está ele, sem apoio.Ele cai de joelhos,com a cabeça entre as mãos.E novamente eu sinto suas lágrimasque me aquecem, e que me fortificam.

Ele chora durante muito tempo,com Teu nome nos lábios.Uma grande felicidade me invade.

Logo ele se levanta e vai-se embora.

Mas, sim! Ele está voltando!” Irmão, posso ter alguma esperança?Será que este é o sinal da libertação?Lança Tua espada de luzcomo um raiopara mostrar aos humanospor que são chamados “Homens”

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Eu me adaptoà Tua Palavra, frágil brisa,que ondula ao meu redorindizivelmente doce.Os sete mantosque me apertavamagora se alargame tenho mais espaço.Um já forma a pétalade uma flor,ó prodígio!

Assim, eu já sei:a força de Tua Palavra está agindo.Oh, que ele venhae me traga a Tua Palavra!Que eu possa chamar: “Homem”e acaba-se o carcereiro!

Irmão das Sete Estrelas,Tua vinda me dará satisfação.Estou sem inquietude.Desejo ardentemente a luz e a vida,como se algo de poderoso,algo que não conheçoviesse, inevitavelmente!

Sim, reconheço meu Reinoe a falangedos fiéis que seguem Tua Luz.Nossa santa aliançaé para sempre, pela eternidade.Também reconheço minha queda.Somente Tu, meu Irmão, sabespor que, do coração do universo,mergulhei nas trevas.Sabes por que eu Te deixei,por que percorria região dos homens,e habitei entre eles.Este será nosso segredo,para sempre.

Agora conheço Tua Palavra:“Salta, precipita-te para baixo.Abrevia tua dor.Depois, levanta tua taça,e oferta-a para o céu.”

Então, eu caí,prisioneira do mundo dos homens.E chegaram os eões

e me feriram cruelmente.

Agora, sinto que o mundojá não pode me reter por muito tempo;Eu sei: Tua Palavra me liberta.E aquele que me estende a chave,o homem,deverá proclamar isto.

Vem, pois, tu, cego,dá-me a chave!Tenho fome, tenho sede.

Oh, meu Companheiro eterno, escuta-me.O homem é muito singular :vive na discórdia e no esquecimento.Busca e perscruta todas as coisaspelo lado exterior,e à direita torna-se um círculo!

Mas onde está sua inteligência?Tua Palavra,oferecida para libertar a alma de tua irmãatualmente prisioneira,esta Palavra,ele deixou que a serpente tomasseconta dela,e a multidão, enraivecida,a desviou e a violentou.

A serpente me mantém longe dohomem:ela pica, ela morde.E quem rouba a chave dela?Então ela já não vem em minha direção,pois já me esqueceu.

Estou esperando há tempos,mas minha espera é inútil!

Parte em duas a fera dentro delecom Tua espada de Luz, ó Senhor,dá-lhe novamente Teu conhecimentopara que ele possa me encontrar.Perto de Tua Palavra eu vou morrendo,E Tua Sabedoria me elevarápara além da noite!

Agora eis que ele volta!Riacho de lágrimas,com Tua Palavra nos lábios.Que alegria!

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Ele está de volta!Morto de vergonha,o homem!Com seus cabelos grisalhos, sua frontebranca,suas faces encovadas,seus olhos dilatados de horror,voltados para a serpente vencida.

Assim está ele: chorando,cansado de lutarcontra a fera dentro dele.

Seus lábios murmuram Teu Nome.Eu respiro profundamente,como e bebo Tua Palavra,e digo: “Com a ajuda díEle, ó homem,

venceste a ferapara poderes me servir.Que seja! Cumpre teu dever!”

Ele compreende minhas palavras,e se levanta,estendendo as mãos.

Agora, ele continua perto de mim,E me traz Tua Palavracomo alimento e bebida.Seu sangue, seu suor e suas lágrimascorrem sobre a rocha em que me man-téns.Ele não me vê,mas se oferece cegamente.

” Irmão das Sete Estrelas,meu esposo,como é forte a Luzde Tua Palavra!

Os sete raios de Teu Poderformam uma ponteque liga novamente Tua Palavra, docoração do universoao túmulo do coração humano.

Jubilante, entrevejonossa união que se aproxima.

O homem, Teu servidor,me sacia com pão e vinho.Seu sangue faz de minha cela

um Templo, um santuárioem que desabrocho para a Vida.

Minha Luz e o perfume da Rosa,que vêm de Teu Poder,eu os espalho sobre os homens,para que, pelo sangue deles,possam se elevar até o santuário,esta imagem da sala do Trono,maculada pelo homem-animal,que se tornou o labirinto de sua alma!

Mas eis que o santuário está purificado,liberto de toda ilusãopor Tua Palavra,pelo perfume da Rosa, por Tua Luz.

Assim brilha, diante de Tia porta do salão das Núpcias.Estou pronta!

E agora o Homem está de pé,entre o esposo e a esposa,como servidor da Luz.

Está chegando a hora da união!

O número dos Perfeitosjá foi atingido desde já.Penso em uma Palavra que provém de nosso Reino:o GRAAL,no qual Tu desces e me carregas,para oferecer ao Homem a taçaem que repousa a Pérola.

Será que ele vai pegar o Graal?Será que vai reencontrar o Graal dentrodele?E, por ele, renascido, regenerado,irá se unir a nós,por toda a eternidade?

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Em dezembro de 1997, a revista Ti-

me publicou, sob o título “Jovem pa-

ra sempre”um artigo intrigante sobre

“a eterna juventude”. Tratava-se de

resultados sobre o envelhecimento

da célula, e especialmente sobre as

possibilidades de tornar mais lento o

processo de envelhecimento a ponto

de poder prolongar a vida considera-

velmente.

autor se perguntava se era realmen-te possível fazer com que um ser huma-no vivesse três ou quatro vezes maisque o normal. James Vaupel, diretor doinstituto Max Planck, de Rostock, diz aeste respeito: “Não sabemos absoluta-mente se a vida humana tem realmenteum limite”. Esta observação parece re-provar de uma vez por todas a realiza-ção do sonho ancestral de uma vida lon-ga ou eterna. Foi a constatação da exis-tência da doença, da velhice e da morteque suscitou a busca do príncipe SidhartaGautama, o futuro Buda. Suas observa-ções o conduziram à renúncia dos bensmateriais para descobrir o que é durávele que escapa ao tempo. Mas, graças àciência atual, isto já não é necessário!Ideais como estes podem ser jogadosno lixo das lendas piedosas! E a ciênciaresolve o problema do tempo no sentidode que na perspectiva de uma vida ter-restre muito prolongada cada um terátempo de sobra!

O que existe de mais inquietante nes-ta visão da revista Time é a ingenuidadecom a qual o homem se projeta no futu-ro. O que acontecerá se ele conseguirprolongar sua vida em dezenas de anos,

ou mesmo vários séculos? Os proces-sos de envelhecimento se tornariam maislentos. Mas então, o sofrimento seriatambém prolongado? E o que acontece-ria se não houvesse mais nenhumatransformação? Nenhum envelhecimen-to? Se os processos de nascimento,crescimento, envelhecimento e mortefossem eliminados? A vida não ficariafixa, não se cristalizaria como um blocode gelo? A vida não ficaria privada deexperiências a serem vividas, de possi-bilidades de formação da consciência,como um relógio que pára de bater e jánão tem utilidade?

Envelhecer faz parte do tempo, quedetermina a vida e as experiências. Otempo não traz a mudança, ele é a pró-

ABANDONAR O TEMPO PARA ENCONTRAR

O “ETERNO PRESENTE”

O QUE ACONTECERIA SE O

HOMEM NÃO MORRESSE MAIS?

Em Todos os homens são mortais(1908), Simone de Beauvoir contacomo, sorvendo um elixir, o personagem principal, Fosca,adquire imortalidade. Fosca seencontra em uma situação insuportável. Faz uma viagem pelo mundo e pela história, e descobre que a impotência e oslimites dos homens fazem com que eles sempre caiam nos mesmos erros. O mundo imperfeitocontinua imperfeito. O ciclo do nascimento, da vida e da mortesurge como uma graça e a imortalidade do homem físico como uma ilusão.

O

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pria mudança! É por isso que é impossí-vel tomar posse do tempo e submetê-lo.O homem não pode retê-lo, ele correentre seus dedos. Uma lei estabeleceu aexistência do tempo: a lei que rege ohomem e com a qual ele deve se confor-mar. Ninguém sabe de onde vem otempo, para onde ele vai e onde eleacaba. O tempo determina o ciclo denascimento, vida e morte.

O que caracteriza o valor de uma vidahumana? Será a duração desta vida ouas experiências que ela permitiu? Seriao desenvolvimento da alma? Mas ocrescimento da alma depende dotempo? O tempo de uma vida humanajá está fixado, ele é determinado pela

força vital. O que é importante é poder,graças ao número de anos concedidos,procurar e descobrir a dimensão interiorda eternidade e abrir-se a ela.

O reconhecimento da Gnosis, forçaque conduz à regeneração interior, éuma experiência radical, revolucionária,eternamente atual. A irrupção da eterni-dade no tempo é um momento descon-certante, em que a pessoa é desmasca-rada e fica extremamente emocionada.Jan van Rijckenborgh fala do “eternopresente” – o momento em que a forçaeterna da Gnosis se manifesta para aalma daquele que busca. O tempo eter-no está oculto na realidade flamejantedo presente. “O tempo está cumprido, e

O príncipeSidharta deixao palácio deseu pai secretamente(afrescos deChotscho,século IX d.C.)

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o reino de Deus está próximo”, estáescrito no Evangelho de Marcos (1:15).

A vida do ser humano começou emum tempo infinitamente remoto e o con-duz através do tempo, ele querendo ounão, em experiências cíclicas até omomento em que ele vai acabar reco-nhecendo interiormente seu Criador.Assim, ele não é movido pelo tempo,mas pela eternidade. E aquele que,finalmente permite o reencontro entreseu ser temporal e seu ser eterno emdevir é ao mesmo tempo eterno e tem-poral: ele é homem e é Deus.

O tempo divino é o instante e o ins-tante é infinito. É por isso que a prolon-gação da vida não tem nenhum sentido:o importante é tornar-se consciente dointemporal, da eternidade, que está naorigem de todas as dimensões.

Quem busca o “eterno presente” des-cobre que sua alma deve atravessar umprocesso de purificação a fim de viven-ciar o divino. A alma estimula o eu a fimde que o processo não páre no meio docaminho, pois o eu é filho do tempo, e aalma, a alma original não decaída, éfilha da eternidade. Esta é a razão pelaqual o homem da matéria envelhece,desde seu nascimento, e morre, isto afim de abrir para a alma novas sendas.

A alma divina é idosa e por isso eter-namente jovem. Mas o homem terrestreé como uma folha que se destaca deseu tronco. Criatura de seu própriosonho, ele vagueia no labirinto da ilusãobuscando sempre saber mais. Será queele encontrará o eterno centro?

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Com o passar dos séculos, sempre

houve seres cuja alma atingiu uma

grande elevação e que fizeram com

que outros aproveitassem isto. Ora,

muitas obras místicas da antiga

Pérsia descrevem o homem como

uma alma transportada e governada

por seus instintos naturais.

Os que experimentam esta sujeiçãovoltam seu desejo para uma ordem devida superior, para uma profunda sabe-doria, para a vida que não procede daexistência terrestre, mas que está sinto-nizada com a Fonte da Vida imortal. Emantigos textos da mística da antiga Pér-sia, é dito que estas viagem interior sedivide em fases denominadas: “alma na-tural”, “alma arrependida”, e “alma queatingiu a paz”. Quando alguém conse-gue perceber as tendências da alma na-tural, a “alma arrependida” põe-se a fa-lar, e depois ela segue em frente até afase em que nasce “a alma que atingiua paz”.

Nestes textos, a alma que sempre éalimentada e conduzida pelas forças danatureza é definida como “a alma queobriga a fazer o mal” ou “a alma que pro-voca o mal”. Ora, esta alma se acorren-ta à morte pelo fato de que estas forçastambém são as do reino animal. Os ins-tintos desta alma são freqüentementecomparados às características específi-cas dos animais, por exemplo, com asdo camelo, do burro, do cachorro, docavalo chucro e do carneiro. Os pensa-mentos, sentimentos, vontades e atosegocêntricos tão somente reforçamestas características animais, poisestas acabam fazendo parte estrutural

do sistema vital; elas podem até mesmotornar-se mais ou menos entidadesautônomas que regem a vida. Se umapessoa tem algo da alma de um cachor-ro, por exemplo, então sua alma naturalse reforça e acaba obscurecendo suaconsciência.

A ALMA TEM MUITOS

ASPECTOS

Nestas condições, podemos chegar adeixar de ser conscientes de nossoaprisionamento pelos instintos.Tomamos a aparência como se fosserealidade.

Quando se trata de alma, na místicada antiga Pérsia, os autores quasesempre fazem alusão a seu estado “ter-restre”. Entretanto, é a alma naturalquem pressente, ao menos um pouco, aexistência da vida superior. A almareveste muitos aspectos: ela pode pare-cer como que conduzida por paixões,perdida no deleite do poder, aspirandoconhecimentos e sucesso terrestres,inteiramente dedicada à ciência, à mís-tica ou à magia. Todos estes aspectos –e ainda muitos outros ññ acendem odesejo e ligam ao mundo perecível.

O ser que tenta sair disso sempre ficaatento contra os inúmeros artifícios daalma natural. Até mesmo a oração podelevá-lo a ligar-se à terra. A alma podedar muitos consentimentos. Ela vaiacorrentando os peregrinos a seushábitos, refinadamente, o que faz comque aqueles que buscam Deus adorme-çam no caminho de sua elevação,cheios de ilusão, achando que já atingi-ram “Aquilo”.

O EU ACORRENTA A ALMA À NATUREZA

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A ALMA DESMASCARADA

O poeta místico Djalal al Din Rumi(1207-1273) escreve: “A alma tem umacoroa de rosa, o Corão na mão direita,uma faca e um punhal na manga”, e eleoprime a pessoa devota que imagina teratingido alguma coisa graças a seuspróprios esforços. Somente no caminhodo autoconhecimento o peregrino des-mascara a alma e rejeita suas idéiaserrôneas. Ele educa a alma de modocomedido e vigilante: ele doma o “cava-lo chucro”.

Deixando de se alimentar e dormindopouco durante um período de quarentaou sessenta dias, o peregrino se esfor-çava por abafar a voz da alma natural.Rumi escreve: “Pois aquele que se gabanão pode receber o sopro divino da ins-piração: a força dos homens de Deusprocede de Deus e não de um pratocheio de comida.”

A fome e a mortificação não são umobjetivo em si mas o meio de romper opoder da alma natural. Rumi não jejuavaem dias fixos, mas mudava seus hábitospara não cair no costume.

O INIMIGO NÃO SÃO OS OUTROS

Podemos chamar esta luta interior de“a grande guerra santa”, pois o primeiroinimigo não são os outros, mas seu pró-prio ser interior, e é preciso triunfar sobreele no decorrer desta guerra santa inter-na. Assim , todo peregrino que está nocaminho do autoconhecimento vai expe-rimentar e perceber em si as atividadesdas forças da natureza e, progressiva-mente, algo de novo vai crescendo den-tro dele. Ele atinge a segunda fase: onascimento da “alma arrependida”. Estapode ser considerada como a “consciên-cia” que controla todos os atos do pere-grino. Trata-se de uma autoridade interiorcrescente que, dentro dele, fala e semanifesta pelo poder de discernimentodo que é superior ou inferior.

Daí para a frente, a consciênciaadverte a cada passo que ele dá. Assim,a luta torna-se contínua. Lá onde antesele ainda podia cair sob o poder danatureza terrestre, é preciso que ele vátomando uma decisão incessante paracontinuar na senda do autoconhecimen-to. Se ele cede a seus instintos naturais,ele prejudica a “alma arrependida” queestá em crescimento. Esta é a parte docaminho em que a natureza se rebela.Ela cobra sua dívida; ela pede, aos gri-tos, alimentos terrestres, amor, estima,poderes. É a luta da vida e da morte.

O PENSAMENTO VOLTADO PARA DEUS

A experiência e a compreensão vãocrescendo e são armas da “alma arre-pendida” do peregrino. Seu poder deresistir às tentações e aos assaltos daalma vai crescendo. Ele reconhece seuadversário com a ajuda do “pensamentovoltado para Deus”. Esta prece interiorincessante é a espada com a qual eleconduz sua guerra santa interior, pois“Deus protege aqueles que pensamincessantemente nele quando corremalgum perigo ou o risco de serem afoga-dos pelo adversário.“. Os místicos daantiga Pérsia definem esta fase como:“polir o espelho do coração mediante o

O misticismo é definido como oconhecimento intuitivo direto dodivino. Tais experiências interioresnão estão exclusivamente associa-das a uma forma de religião qual-quer, mas resultam da entrega inte-rior. Houve místicos em todas asgrandes religiões, geralmente comouma ramificação, e às vezes tam-bém como uma corrente subterrâ-nea que corre ao mesmo tempoque a corrente geral.

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pensamento voltado para Deus.”A fase da purificação é descrita como

a do Sol Vermelho. No fogo do SolVermelho a alma do peregrino é prova-da e purificada. Se ele persevera e con-tinua a seguir a voz da alma arrependi-da, sua atração pelas coisas do mundodesaparecerá.

A ALMA QUE ATINGIU A PAZ

“Minha carne derreteusob o ardor do coração,meu coração já nem vive mais.Ata ou desata minhas correntes.Tudo o que fazes me parece bom.Os homens sabem que eu amo alguém,mas não sabem quem é!”

O místico al-Halladj, martirizado eassassinado em 922 por suas idéiasreligiosas que não concordavam com asda religião oficial do Islam, expressa nes-tes versos o estado do peregrino comple-tamente desligado do mundo material eque sente a paz interior do Amor divino.É o terceiro estado: a alma que atingiu apaz. Sobre este estado de alma há rela-tivamente poucos textos, sem dúvidaporque as experiências das almas quejá atingiram um estado como este sãobem difíceis de serem expressas. “Aalma que atingiu a paz” também poderiaser qualificada de “a alma em posse doamor”. Os místicos da antiga Pérsia, os“poetas do amor” falaram a respeitodisto. Então, passam suas experiênciaspara as de outra pessoa. Seus versosse apresentam quase sempre comoconversas com Deus. Eles dão testemu-nho de sua entrega total ao Amor divino:

“Quer as luas brilhem ou desapareçam,elas não podem subsistir diante de nos-sa lua,pois sua luz irradia em todos os séculos,com uma luminosidade que o temponão apagará jamais”Assim escreve o poeta Jibli.”

As citações provêm de “Mistiche Dimensionem des Islams. Die Geschichtedes Sufismus”, de Annemarie Schimmel,Diedrichs Verlag, Munique, 1992, e de“Studien zum Begriff der mystiche Liebe im Islam”, Dissertation/UniversitätMarburg, 1954.

“O reconhecimento da Gnosis,

esta força que conduz à re-criação interior,

é uma experiência radical e revolucionária,

eternamente atual. A entrada da eternidade

no tempo representa um momento

desconcertante em que a pessoa é desmascarada

e causa uma grande comoção.”

(Abandonar o tempo para encontrar o “eterno presente”)