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a nos desaf iadores como os de crise, que estamos enfren-tando neste agora, pedem coragem em vários sentidos. É preciso coragem

para se manter produtivo e otimista, para continuar fazendo um bom traba-lho apesar das diversidades e, também, para dar uma guinada na sua vida quan-do as coisas não estão seguindo o cami-nho que você imaginava. Mas essa co-ragem para mudar nem sempre é uma tarefa fácil. Afinal, é comum que os profissionais entrem em uma zona de conforto e se mantenham lá até serem obrigados a se reinventar. Só que quem percebe qual é o momento de partir para outra sai na frente: essa consciência é

essencial para que a realidade de uma demissão, por exemplo, não pegue você de surpresa. É claro que mudar é assus-tador, mas, quando isso acontece, essa é a melhor decisão a ser tomada. “Se a pessoa não muda, fica esperando eter-namente algo que não vem”, diz Telma Guido, especialista em transição de car-reira da Right Management Brasil, con-sultoria de São Paulo. Ao longo desta reportagem, mostramos como virar a página da sua vida e como entender se está na hora de correr atrás de um novo emprego, abandonar um projeto que não vinga, fechar um empreendimento, aca-bar com um mau hábito, repensar os seus objetivos de carreira ou encerrar um ciclo. Os profissionais desta matéria vão inspirar você a respirar fundo e se jogar sem medo em um novo desafio.

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FOTO: GA BR I EL CH I A R A ST EL L I

COMO SABER SE CHEGOU O MOMENTO DE ENCERRAR UM CICLO NA SUA VIDA E VIRAR A PÁGINA

P O R A N N A C A R O L I N A R O D R I G U E S E L U C I A N A L I M A .

#PARTIUNOVOS DESAFIOS

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Seja tomar café, colocar o cinto de segurança, roer as unhas ou fumar, de acordo com uma pesquisa da

Universidade Duke, dos Estados Unidos, os hábitos estão presentes em 40% dos nossos dias – tanto os bons quanto os ruins. “Hábito é toda ação que não envolve um processo de decisão, quando en-tramos no piloto automático e não temos mais consciência de que estamos fazendo algo”, diz Sâmia Simurro vice-presidente de pro-jetos da Associação Brasileira de Qualidade de Vida, de São Paulo.

Assim como no dia a dia, os hábitos ruins no trabalho podem ter consequências na saúde e nos relacionamentos. “Quando a pessoa começa a ter prejuízos e negligencia tarefas, é sinal de que convive com um mau hábito”, diz Renata Maransaldi, psicóloga e coach, de São Paulo. Clarissa Soneghet, de 35 anos, só percebeu que o hábito de trabalhar demais era prejudicial quando teve um problema sério no quadril. For-mada em turismo, ela assumiu uma posição como gerente de produção de eventos e chegava a passar dez, 12 horas no trabalho – inclusive aos finais de sema-na. “Mais que o tempo, o ritmo

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#É HORA DE

MUDAR UM HÁBITO

CLARISSA SONEGHET, SÓCIA DA KIND

Trabalhar demais fez com que ela adoecesse. A saída foi deixar o emprego de gerente de produção de eventos e empreender

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de trabalho era muito frenético, eu sou perfeccionista e queria acompanhar tudo de perto, nada podia dar errado”, afirma Clarissa.

Quando saiu da área de eventos, Clarissa migrou para marketing em uma agência e o cenário não mudou. “Eu era responsável pelos lançamentos dos produtos. Chegou uma hora que não tinha tempo de fazer mais nada, o trabalho con-sumia toda a minha dedicação”, afirma Clarissa. Mesmo sofrendo constantemente de enxaqueca crônica foi só em 2012, quando teve o problema no quadril, que ela repensou seu estilo de vida. “Comecei a questionar por que eu gastava tanta energia em projetos com os quais eu não me identifica-va. Os prazos sempre para ontem me incomodavam também. Daí eu decidi que era hora de construir algo para mim”, afirma Clarissa.

Ela queria mudar e, para isso, fez um exercício de autoconhe-cimento parecido com o descrito no best-seller O Poder do Hábito (Objetiva, 49,90 reais), lançado em 2012. No livro, o escritor Charles Duhigg afirma que os hábitos são compostos de três etapas e que precisamos compreendê-las para nos livrarmos deles. São elas: o sinal ou o gatilho que desencadeia aquela ação, a rotina ou a frequên-cia com que o realizamos e aquilo que buscamos ao repetir o hábito. Para Clarissa, o impulso surgiu após um curso de empreendedo-rismo, no qual ampliou sua visão sobre outras formas de trabalho e conheceu sua atual sócia, Nathália Roberto. Juntas fundaram, em 2014, a Kind, uma empresa de consultoria voltada para o universo feminino. Hoje, com horários fle-xíveis e mais autonomia, Clarissa nem cogita voltar ao modelo antigo de trabalho. “Agora faço exercícios e tenho flexibilidade para esco-lher parceiros de negócios”, diz.

5PERGUNTAS PARA MUDAR UM HÁBITO

1. Esse hábito está prejudicando algum aspecto da minha vida?

2. Qual o motivo pelo qual eu realizo essa ação?

3. Eu estou motivado a mudar esse hábito?

4. Qual o meu plano de ação para isso?

5. Como eu vou me manter afastado desse hábito?

Mesmo que os ciclos profissionais tenham encurtado, encerrar uma etapa ainda gera

conflitos. “A maioria das pessoas não possui um plano para a car-reira e, por isso, esse momento vem associado a uma crise”, diz Vera Vasconcelos, da Produtive, consultoria de carreira, de São Paulo. E, quando as causas desse

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#É HORA DE

ENCERRAR UM CICLO

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desejo de mudança são originadas pelas emoções, o processo fica mais complicado. “Quando a pessoa tem uma visão clara do que quer, lê o cenário e encerra uma etapa porque não possui mais possibilida-

des de concretizar os objetivos. Isso acontece naturalmente”, diz Telma Guido, da Right Management.

Esse foi o caso do engenheiro Eduardo Lima, de 38 anos, CEO da eduK, plataforma de cursos online. Após anos trabalhando na área de mineração e siderurgia, Eduardo percebeu que seus objetivos haviam mudado: “Eu ia trabalhar todo dia e questionava o que eu estava

fazendo ali, pensava que precisava encontrar outro caminho profis-sional”, diz. O sonho de empreen-der era uma inquietação. Então o mineiro fez um plano para dar uma guinada. “Pesquisei modelos de negócios, mas nunca tinha achado algo com que eu me identificasse, até que, em 2007, surgiu o convite de um amigo de Belo Horizonte que estava montando uma franquia

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5PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DESISTIR DE UM CICLO

1. Quais foram os meus aprendizados?

2. Eu entreguei todos os projetos com os quais me comprometi?

3. A causa da minha insatisfação está em mim ou no meu trabalho?

4. Onde estou não existe mais possibilidade de mudanças?

5. O que eu faço deixou de fazer sentido?

EDUARDO LIMA, FUNDADOR DA EDUK O engenheiro pesquisou diversos modelos de negócios até encontrar na educação online a satisfação pessoal

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de e-commerce, a Neomerkato.” No começo, ele trabalhava nas horas livres, mas depois começou a investir, o empreendimento cresceu e ele abandonou de vez a engenha-ria, passando a trabalhar de casa.

Embora a mudança de Eduardo tenha ocorrido em poucos meses, não existe um prazo correto para definir quando é exatamente a hora de encerrar um ciclo. Algumas pessoas precisam sempre de estí-mulos, de mudanças, de adrenalina e, para elas, os ciclos fecham mais rápido. Para outras, é necessário estabilidade e movimentos de carreira mais tranquilos. “Fazer algumas perguntas como: ‘O que eu ganho se eu continuar aqui? E o que perco?’ ajudam a analisar se o problema está no lugar em que você trabalha ou em você mesmo”, diz José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), de São Paulo. A motivação e a satisfação com o trabalho são alguns dos sinais mais claros que devem ser levados em conta na hora de decidir partir pra outra. “Todo ser humano busca felicidade, e isso está diretamente ligado com engajamento, com o sentimento de ter uma missão e contribuir para algo”, diz José Roberto.

Depois que encontrou seu caminho no empreendedoris-mo, Eduardo estava próximo desse estágio. Mas conseguiu conquistar de fato o tão dese-jado propósito quando montou, ao lado de um amigo, a eduK.

Criada em 2013, a empresa tem estúdios para gravação de aulas online dos mais diversos tipos – de empreendedorismo a moda – e hoje conta com mais de 100 mil assinantes. “Sinto que mudei pela minha qualidade de vida e porque queria mais satisfação. No começo, cheguei a ganhar menos. Mas ago-ra eu trabalho com um propósito, que é a educação”, afirma Eduardo.

Os motivos para querer deixar um emprego podem ser inúmeros. Na crise, costuma pesar a

falta de reconhecimento, a remu-neração baixa, a pressão, as equi-pes enxutas. E o fator chefe chato sempre é uma questão. Antes de pedir demissão, porém, é preciso identificar esses problemas, ava-liar se existe uma solução e medir a temperatura do mercado. “Mes-mo sendo um momento difícil, cada um precisa saber avaliar se vale a pena continuar em um lugar que não lhe faz bem”, diz Isabella Santoyo, coach de vida e carreira, de São Paulo. Essa foi a estra-tégia de Lara Hammoud, de 24 anos, gerente de finanças na Bidu, startup de seguros, de São Paulo. Formada em administração, ela trabalhava em uma consultoria onde aprendeu bastante, mas tinha medo de ficar presa em uma carreira mais consultiva e não co-nhecer a rotina de uma empresa. “Além disso, me incomodava o fato de ser prestadora de serviços e não desenvolver relações de longo prazo”, diz Lara.

Para encontrar qual caminho trilhar, a paulistana fez algo alta-mente recomendado pelos espe-cialistas: conversar com amigos e colegas que já enfrentaram a

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#É HORA DE

MUDAR DE EMPREGO

LARA HAMMOUD, GERENTE DA BIDU

Conversas com amigos e colegas a ajudaram a entender que era hora de procurar um novo trabalho

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situação. “Fazer um planejamento da mudança é fundamental para encontrar uma saída e entender aonde você quer chegar”, diz Isabella. Com isso em mente, Lara começou a entender que não queria uma carreira numa multinacional, por exemplo, e que desejava algo mais dinâmico. Um dos amigos su-geriu que, talvez, ela tivesse perfil para trabalhar em uma startup e a indicou para entrar na Bidu. “Foi tudo muito rápido, eles precisavam de alguém e, em menos de duas se-manas, eu já tinha sido contratada”, diz Lara. Mas, antes de dar a pala-vra final, ela voltou várias vezes na empresa, conversou com gestores e colegas com os quais trabalharia. “Expliquei que não possuía expe-riência em diversas atuações e que precisava de um tempo para apren-der e de suporte”, afirma. As portas da empresa anterior continuaram abertas. Isso porque a administra-dora não saiu de supetão: indicou ao chefe que estava se sentindo estagnada – o que é fundamental. “Fazer uma análise detalhada de que a insatisfação continua mesmo depois de pensar em alternativas dentro do atual emprego é funda-mental”, diz Isabella.

Além da ânsia por se demitir logo, outro erro que os profissionais cometem é de postergar demais a decisão da saída. Quando há muito desgaste emocional (e até físico) e os valores não estão mais alinhados, não tem jeito: é hora de partir para outra. “Quando há essa combinação, a pessoa não se sente mais engajada e sair faz todo o sentido”, diz Isabella. Ficar no em-prego apenas por receio do que os outros vão achar da sua decisão ou porque você prefere insistir em algo que está lhe fazendo mal em vez de encontrar outra solução é terrível. Isso só vai minar as suas energias e minguar sua força de vontade para tentar algo novo.

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5PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DEIXAR SEU EMPREGO

1. Meus valores estão alinhados aos valores da empresa?

2. Minhas habilidades estão sendo utilizadas?

3. Sinto vontade para desempenhar o que esperam de mim?

4. Vejo um futuro e desejo crescer junto com a empresa?

5. Estou ficando doente por causa de aspectos do trabalho com os quais não consigo lidar?

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#É HORA DE

DESAPEGAR DE UM PROJETO

Q uem trabalha com proje-tos sabe como é grande a pressão para que as empreitadas deem certo

rapidamente – ainda mais na crise, quando os investimentos min-guam. “A principal habilidade para trabalhar bem com isso é decidir rápido”, diz Randes Enes, profes-sor da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro. É evidente que projetos precisam de um tempo hábil para dar certo, e muitas vezes a ansiedade acaba atrapalhando. Mas há um limite entre insistir em algo que vai parar em pé e em algo que está fadado a dar errado.

Alexandre da Silva, de 53 anos, líder da área de sistemas inteligen-tes do Centro de Pesquisas Global da GE no Brasil, lida com essas questões. Ele é responsável por coordenar um grupo de pesqui-sadores que trata de automação industrial avançada e atua em diferentes negócios da GE, em setores como óleo e gás, energia elétrica, transportes ferroviários e aviação. Todo ano, ele administra uma carteira de 12 projetos, mais ou menos. “A decisão entre perse-verar ou interromper acontece em todos os projetos”, diz Alexandre. O passo a passo ideal para estru-turar um projeto é avaliar o grau de risco, traçar um plano e definir parâmetros para avaliar se as coi-sas estão caminhando bem ou não. Segundo Randes, a experiência de realizar um projeto é semelhante

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#É HORA DE

TER UMANOVA META

à de ler um livro. A pessoa gosta da capa, começa a ler o livro, e no primeiro capítulo já não aprecia. Em vez de largar a leitura, mui-tos continuam lendo. “Isso é uma mentalidade cultural, ler um livro é um projeto. Mas, uma vez que não está gostando, vira uma perda de tempo”, afirma Randes. “Ela sabe que não vai dar certo, que não é lucrativo, mas, só porque já co-meçou, acha que precisa terminar – mesmo que isso envolva recursos desnecessários e que não atinja o resultado desejado. Essa é uma decisão extremamente emocional e que envolve o ego”, diz o pro-fessor. E o mesmo raciocínio nos acomete quando nos dedicamos a um projeto que não vai render. Depois que se fez a análise de que é preciso mudar de rumo ou partir para outra, o mais importante é não se deixar consumir pela sensação de fracasso e incompe-tência nem encarar esses “erros” de maneira negativa. O melhor é abandonar o barco furado rapida-mente – para não afundar junto.

Para tomar uma decisão desse tipo, Alexandre tenta alinhar sua visão e intuição ao julgamento técnico. “Interromper requer mais coragem do que insistir”, diz. O que o ajuda na análise, além de sua experiência prévia, é ouvir feedbacks dos clientes e colegas e fazer projetos com ciclos mais curtos. “Antigamente, a gente levava entre três e cinco anos para desenvolver um produto novo, hoje esses ciclos foram encurtados significativamente, para menos de um ano”, afirma Alexandre. Isso dá agilidade para abastecer o mercado de novidades e, também, para errar rápido.

5PERGUNTAS ANTES DE ABANDONAR UM PROJETO

1. A equipe que trabalha comigo está alinhada para atingir a meta estabelecida?

2. Eu tenho indicadores objetivos que apontam que estou no caminho certo?

3. O projeto está chegando ao final de seu prazo sem a maioria dos resultados esperados?

4. Já tentei reajustar o plano para tentar salvar o projeto?

5. Estou apegado demais ao plano e não consigo enxergar saídas?

Ainda na época da fa-culdade, o publicitário Felipe Versati, de 29 anos, já tinha decidido

qual caminho gostaria de seguir: iria trabalhar na área de criação de uma grande agência. “A gente acre-dita que vai encontrar um ambiente informal, onde você pode trabalhar de bermuda, ter liberdade para criar e ainda ganhar prêmios com seu trabalho”, diz Felipe. Mesmo passando por outras áreas, o desejo persistia e, em 2011, prestes a con-cluir a graduação, Felipe aceitou a proposta de trabalhar na Bilheteria.com, agência especializada em ser-viços culturais, em São Paulo. Che-gando lá, o publicitário encontrou uma realidade totalmente diferente da que esperava. Trabalhando mais de 18 horas por dia, sem horário para comer e dormir e sem vida social, o paulista percebeu que, mesmo alcançando o seu sonho, ele se sentia insatisfeito. “Muitas pessoas criam expectativas irreais sobre algo porque olham apenas para as coisas boas e acreditam que isso representa o todo. Daí, quan-do se deparam com a realidade, acabam se frustrando”, diz Daniela do Lago, coach de São Paulo.

Um ano e uma úlcera depois, Felipe entendeu que era hora de mudar seu objetivo, mesmo com expectativas de crescimento na agência. “Eu já havia me tornado analista sênior e tinha a perspec-tiva de uma promoção em breve, mas isso não compensava a minha

ALEXANDRE SILVA, LÍDER DA GE Para se sair bem com projetos, é preciso ter um poder de decisão veloz. O mais importante é enxergar os erros rapidamente

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falta de adaptação ao modelo de trabalho e vi que tinha que alme-jar outra coisa”, diz Felipe. E essa mudança de ambição é normal. Muitos entram no mundo corpo-rativo acreditando que sucesso é sinônimo de uma posição eleva-da, por exemplo, mas conforme o tempo passa as expetativas mudam e você precisa se ajustar.

Com um MBA que o auxiliou a ampliar seus horizontes, em 2013, Felipe quis resgatar um sonho antigo e começou a procurar oportunidades no terceiro setor, onde havia estagiado. Mesmo com ganhos menos agressivos, ele acei-tou a proposta de estruturar a área de marketing da Associação Cruz Verde, organização fi lantrópica que atende pessoas com paralisia cerebral grave, em São Paulo. “Mu-dei as minhas expectativas”, diz.

Um dos pontos mais difíceis na hora de largar uma ambição é, por vezes, reconhecer que a defi nição de sucesso que cada um de nós pos-sui pode ser diferente daquela que aprendemos ser a mais acertada. “Precisamos conhecer nossos obje-tivos e expectativas e compreender que nossa satisfação tem que estar relacionada com as nossas cren-ças”, diz Paulo Moraes, diretor da Talenses, empresa de recrutamento do Rio de Janeiro. Outro ponto é não olhar para essa mudança de ambição como um fracasso. “Quan-do você entende que aquele desejo não lhe pertencia, precisa encarar como uma alternância de caminho, e não um passo para trás”, diz Vera.

Hoje, quase três anos após a esco-lha, a associação é um dos empre-gos mais duradouros de Felipe. “An-tes, com um ano eu queria mudar de trabalho, agora me sinto muito recompensado. Por mais que você seja premiado, nunca seus produtos vão te dar um abraço de agradeci-mento, como os que eu ganho dos pacientes diariamente”, conclui.

5PERGUNTAS PARA SE FAZER ANTES DE DESISTIR DE UMA META

1.O que eu valorizo de verdade?

2.Eu tenho condições reais de concretizar essa ambição onde estou?

3. Eu fi z algo no sentido de concretizar esse objetivo?

4.Essa meta está prejudicando outros aspectos da minha vida?

5.Eu ainda quero me tornar aquilo que planejei há algum tempo?

#É HORA DE

FECHAR SEUEMPREENDIMENTO

O advogado Francisco Pereira, de 35 anos, trilhou uma carreira na área de consultoria.

Em 2008, era supervisor da multi-nacional Terco e queria se tornar gerente. Tudo mudou quando um amigo o chamou para empreender na área têxtil. “Sempre tive esse sonho e, quando fui convidado para ser responsável pela gestão da empresa, aceitei”, diz Francisco. Os dois montaram uma companhia que concebia e fabricava peças de vestuário. Em sete meses, o inves-timento havia sido quitado, eles fecharam contratos, tinham uma equipe de 12 pessoas e cada sócio lucrava 5 000 reais mensais.

Só que as coisas pioraram em 2009, quando sofreram um baque. Um cliente que já havia retirado 50% das peças desapareceu, o que gerou um rombo. Os sócios pega-ram dinheiro emprestado, cobri-ram os gastos com funcionários e com a manutenção. Até que, seis meses depois, outro cliente deu calote. “Com a dívida anterior e sem dinheiro para brigar judicialmente, ficamos com um prejuízo de mais de 217 000 reais”, diz Francisco.

Nesse momento, o advogado sentiu o drama comum aos empre-endedores: sabia que talvez fosse melhor voltar atrás, mas ainda se sentia muito ligado ao negócio para desistir. “É como uma bateria que está sempre no vermelho, chega uma hora que não vai aguentar

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5PERGUNTAS ANTES DE DESISTIR DE UM EMPRE-ENDIMENTO

1.Acredito na ideia?

2.A ideia está ligada ao meu propósito?

3. Atingi o limite de tempo?

4.Atingi o limite de dinheiro?

5.Esgotei todos os caminhos?

mais”, diz Tiago Aguiar, mentor empresarial e sócio da QI Empre-ender Grandes Ideias, de São Paulo. Desistir é sempre difícil no mundo do empreendedorismo porque é fácil se iludir com histórias mira-bolantes de perseverança que se assemelham aos “doze trabalhos de Hércules”. Claro que a persistência é boa – desde que o empreendedor tenha um olhar racional sobre suas metas e sobre seus erros e encon-tre saídas viáveis para continuar

tentando até esgotar todas as possibilidades. Sem isso, é provável que a persistência se transforme em teimosia. “O teimoso passa anos e não sabe quais ações deram errado, não estabelece um plano e não se adapta à nova realidade”, diz Tiago.

Para não fazer parte desse grupo, Francisco e seus sócios analisaram tudo friamente. Notaram que, por causa das dívidas, pagariam juros sobre juros, o que não valeria a pena. A saída foi fazer um novo empréstimo para fechar o negócio em 2010. Além da tristeza com o fracasso, o advogado tinha que lidar com uma dívida de 12 000 reais, di-vidida entre os sócios, que demorou

três anos para quitar. Desempre-gado, vendeu o carro e precisou de ajuda familiar para pagar as contas. A solução foi começar tudo de novo – só que, desta vez, no mundo corporativo. Ele entrou em contato com seu antigo gerente da Terco, que o indicou para uma vaga em outra consultoria, a BDO, onde é, hoje, gerente sênior da área de tributos. “Voltar foi difícil porque eu não aceitei esse baque, tive que vir de cabeça baixa, ganhando menos”, diz. Mas essa humildade o ajudou a perceber que poderia aprender com os erros e que, pelo menos em médio prazo, o seu lugar é onde há uma carteira assinada.

FRANCISCO PEREIRA, GERENTE DA BDOUma análise racional fez com que o advogado fechasse sua empresa e voltasse ao mundo corporativo

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