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204 UMA TEORJA DA A<;Ao COLETIVA do que a norm at, 0 apetite que esta "menor" do que 0 IIOfffiat a dor que estii alem da expectativa normal, 0 movimento dos . 'r intestinos que e "pouco comum", e assim por dianto. Qual e a sabedoria de folk com relac;ao ao "funcionamento normal"? Co mo ela e ensinada e aprendida? Como ela varia de grupo para grupo? 11 Arte como A<;ao Coletiva >,. Uma tradic;ao sociologica respeitavel sustenta que a arle tern urn carliter social, sendo esta uma instancia especifica da proposic;ao mais geral de que 0 conhecimento c os produtos cultura is sao de carater social ou tern uma base socia l. Muitas linguagens foram usadas para descre ve r as relac;5es entre as obras de arte e seu contexto social. Os estudos va riaram desde aqueles que tentaram correlacionar va rios estilos artisticos e as enfases culturais das sociedades em que foram encontrados ate aqueles que investigam as circunstancias que cercavam a produc;iio de obras particulares. Tanto cientistas sociais quanta academicos humanistas contribuiram para essa Iiteratura. (Uma amos!ra represen tati va de trabalhos pode ser encontrada em Albrecht, Barnett e Griff, 1970.) Grande parte do s escritos sociologic os fala de organizac;5es OU sistemas sem referencia as pessoas cujas ac;5es coletivas constituem a organiza,ao ou 0 sistema. Grande parte da lite- ratura sabre arte, como urn produto social, faz 0 mesmo, de- monstrando ou congruencias sem referencia as ati- vidades coletivas par meio das quais elas foram produzidas, ou falando de es truturas sociais sem referencia as ac;5es de pessoas que fazem juntas coisas que eriam essas estrutura s. Minha Jeitura confessadamente dispersa de materiais sobre as artes. a literatura sociologica disponfvel, (especialmente Blumer, * Fix1raido de American Sociological Rt!view (dezembro, 1974) , vol. 39, n.o 6.

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    1966, e Strauss e outros, 1964) e a participal'ao e experiencia pessoal em varios mundos artfsticos levaram-me a uma con-cepl'ao da arte como uma forma de a

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    tratam por sua competencia (Faulkner, 1973a, 1973b). Eles pod em sabotar uma nova obra que, por ser dificil, pode fazer com que eles nao fa~am uma boa apresenta,ao, colocando, assim, os seus interesses de carreira em contradi~ao com as interesses do compositor.

    Conflitos esteticos entre 0 pessoal de apoio e 0 artista tambem ocorrem. Urn escultor amigo meu foi convidado a uti-lizar os servi,os de urn grupo de impress ores litognificos expe-rientes. Sabendo pouco sobre a teenica da litografia, ficou con-tente com 0 fa to de que esses mestres artesaos fariam im-pressao real, sendo essa divisao de trabalho comum e tendo gerado uma arte de impressao alta mente especializada. Desenhou projetos con tendo grandes areas de cores solidas, pensando em simplificar 0 trabalho do impressor. Ao contnirio, tornou-o mais dificil. Quando 0 impress or espalha a tinta sobre a pedra, uma area grande exige mais de urn movimento para ficar com-pi eta mente cheia de tinta e pode, assim, exibir marcas do rolo. Os impressores, que se orgulhavam- de sef os melhores do mundo, explicaram a meu amigo que, em bora eles pudessem imprimir seus desenhos, as areas de cores solidas poderiam apresentar dificuldades devido as marcas dos rolos. Ele nao conhecia nada sobre marcas de rolo e falou sobre a sua utili za,ao como parte de seu desenho. Os impressores disseram que nao, que isso nao seria possfvel porque marcas ,de rolo cram um sinal 6bvio (para outros impressores) de pouca habilidade e nao era permitido que nenhuma pintura mostrando marcas de rolo deixasse a oficina. Sua euriosidade artistica foi viti-mada pelos pad roes de habilidade dos impressores, urn exemplo nitido de como grupos de apoio especializados desenvolviam seus pr6prios pad roes e intcresses.2

    Meu amigo ficou amerce dos impressores porque nao sab;". ele proprio, como imprimir litografia. Sua experiencia exemplificava a escolha com que 0 artista se defronta em cada elo cooperativo. Ele pode fazer as coisas da maneira como grupos estabelecidos de pessoal de apoio estao preparados para faze-10; pode ten tar fazer com que eles a fa~am de sua pr6pria maneira; pode treinar Dutfas pessoas para faze-Io a sua pr6-pria maneira; ou pode faze-Io ele proprio. Qualquer escolha, exceto a primeira. requer urn investimento adicional de tempo e energia para se fazer 0 que poderia ser feito de maneira menos cara por meio da forma padronizada. 0 envolvimento

    ~ Os arranjos entre artistas, impressores c edilores sao descritos em Kase (1973).

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    do artista com e sua depedencia de elos cooperativos, aSSIl11, restringe 0 tipo de arte que ele pode produzir.

    Exemplos semelhantes podem ser encontrados em qualquer campo da arte. E. E. Cummings teve problemas para que seu primeiro livro de poesia fosse publicado porque os impressores tin ham medo de compor seus layouts bizarros (Norman, 1958). A produl'iio de urn filme envolve multiplas dificuldades desse tipo: atores que s6 serao fotografados em poses que os favo-re9arn, escritores que nao querem que uma palavra seja mudada, operadores de camaras que nao usam processos com os quais nao estao familiarizados.

    Os artist as freqlientemente criam obras que nao se ajustam aos recursos existentes para a produ

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    interessados, que construiram os instrumentos (que ele jii tinha inventado) sob sua dire~50. No inverno, eIes aprenderam a tocar os instrumentos e a ler a nota~ao que ele planejou. Na prImavera, ensaiaram varias obras e, finalmente, fizeram uma apresenta~iio. Sete ou oito meses de trabalho finalmente resultaram em duas horas de music a, horas que poderiam ter s ido preenchidas com outra musica depois de oito ou dez horas de ensaio por musicos sinf6nicos treinados que tocassem o repertorio padrao. A diferen~a nos recursos necessarios da a medida da for~a da restri~50 imposta pelo sistema convencional.

    De forma semelhante, as ' conven9oes que especificam 0 .'.l'!..e deyeria ser un'..a .. boa fotografia estao incorporadas n50 so numa estOtica mais 'ou menos aceita no mundo da fotografia de arte (Rosenblum, 1973), mas tambem na aceita~1io das res-

    tri~oes construidas no complexo claramente entrela,ado de equi-pamento e materiais padronizados feitos por grandes fabricantes . Lentes, caixas, obturadores, aberturas, filmes e papel disponi-veis, tudo isso constitui uma pequena fra,50 das coisas que poderiam ser feitas, uma sele,iio que po de ser usada em con-junto para produzir fat os aceitaveis; como talento, elas podem tambem ser usadas para produzir efeitos que seus fornecedores nao tern em mente. Mas alguns tipos de fotos, uma vez comuns, :so podem ser produzidas agora com grande dificuldade, porque

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