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Revista Diversitas Ano 2 n. 3 set 2014/mar 2015 Dossie ^ Pedagogia Grio ^

Diversitasdiversitas.fflch.usp.br/sites/diversitas.fflch.usp.br/files... · Murilo Leal Pereira Neto ... A palavra Griô define a essência ... narrativas continuassem a fertilizar

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Revista

DiversitasAno 2 n. 3 set 2014/mar 2015

Dossie

Pedagogia Grio

Divisão de Biblioteca e Documentação Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo

Diversitas / Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos [da]

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas [da] Universidade de São Paulo. – Ano 2, n. 3 (set 2014 / mar 2015) . São Paulo: DIVERSITAS/FFLCH/USP, 2014,

Semestral. 364p. ISSN 2318-2016

1. Diferenças interculturais. I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação. II.

Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos.

Universidade de são PaUlo

Prof. Dr. Marco Antonio Zago (Reitor)Prof. Dr. Vahan Agopyan (Vice-reitor)

FacUldade de FilosoFia, letras e ciências HUmanas

Prof. Dr. Sérgio França Adorno de Abreu (Diretor)Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria (Vice-diretor)

diversitas – núcleo de estUdos das diversidades, intolerâncias e conFlitos

Profa. Dra. Zilda Márcia Grícoli Iokoi (Coordenadora)Prof. Dr. Sérgio Bairon (Vice-coordenador)

Programa de Pós-gradUação interdisciPlinar HUmanidades, direitos e oUtras legitimidades

Profa. Dra. Zilda Márcia Grícoli Iokoi (Coordenadora)

Prof. Dr. Antônio Ribeiro de Almeida Júnior (Vice-coordenador)

Revista

DiversitasAno 2 n. 3 set 2014/mar 2015

revista diversitas

Número 03 – setembro-2014/março-2015ISSN – 2318-2016Site: http//:www.diversitas.fflch.usp.br/revistaE-mail: [email protected]

editora resPonsável

Maria das Graças de Souzaeditoras adjUntas

Mara SelaibeSandra Regina Chaves Nunes

conselHo editorial

Antônio Ribeiro de Almeida JúniorCláudia Moraes de SouzaJair de Almeida JúniorMaria Constança Peres PissarraMaria Lucia HomemRodrigo CasaliTeresa Cristina Teles

conselHo consUltivo

Antonio Carlos dos Santos (Universidade Federal de Sergipe UFS)Benjamin Abdala Junior (Universidade de São Paulo)Boia Efraime Junior (Universidade Pedagógica de Moçambique)Clodoaldo Meneguello Cardoso (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP)Edson Luiz André de Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul –

UFRGS)Emílio Antonio Francischette (Universidade do Grande Rio – UNIGRANRIO)Eneida Maria de Souza (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG)Eunice Prudente (Universidade de São Paulo – USP)Flávia Cristina Piovesan (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP)Flávio Wolf de Aguiar (Universidade de São Paulo)Francisco Carlos Teixeira da Silva (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ)Gunter Axt (UNILASALLE)Héctor M. Cruz Feliciano (Universidad Nacional Autónoma de Nicarágua)Inês Macano Raimundo (Universidade Eduardo Modlane – Moçambique)Ismênia de Lima Martins (Universidade Federal Fluminense – UFF)Joana Maria Pedro (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC)José Ribeiro (Universidade Aberta – Portugal)Martin Lienhard (Universidade de Zurich – Suíça)Mauro Maldonato (Universitá della Basilicata – Itália)Murilo Leal Pereira Neto (Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP)Rita Chaves (Universidade de São Paulo – USP)Rubens Fernandes Júnior (Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP)

organização dos artigos: Líllian Pacheco, Roberta Navas Battistella e Sérgio Baironrevisão: Camila RodriguesProjeto gráFico: Michelle Odete dos Santos e Vitor Antônio de AraújocaPa: Andréa Faragacci e Michelle Odete dos Santos diagramação: Vitor Antônio de Araújo

Imagens da capa cedidas pela ONG Grãos de Luz e Griô

Sumario

editoriais

dossiê Pedagogia griô

escritas griô

A Pedagogia Griô: educação, tradição oral e política da

diversidade

Líllian Pacheco

Caminhada de iniciação de Márcio Caires na África do

Oeste

Márcio Caires

Relato de experiência da Pedagogia Griô na Escola

Viva Olho do Tempo: ‘trazendo a alegria de Engenho

Velho, nós somos a força de Gramame e o cantar é de

Mituaçu’

Maria Déa Limeira e Maria da Penha Teixeira

Pedagogia Griô: relato de prática fundante na educação

das relações étnico-raciais em Porto Alegre

Vanderlei de Paula Gomes

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artigos acadêmicos

A educação das relações étnico-raciais, a pedagogia das

africanidades e a Pedagogia Griô

Benjamin Xavier de Paula

Dos griots aos Griôs: a importância da oralidade para as tradições

de matrizes africanas e indígenas no Brasil

Mestre Alcides de Lima e Ana Carolina Francischette da Costa

Fundamentos da Produção Partilhada do Conhecimento

e o saber do Mestre Griô

Caio Lazaneo, Roberta Navas Battistella e Sérgio Bairon

Ação Griô no contexto da Escola Classe em Ceilândia-DF: tradição,

arte e educação

Fabíola Resende

“Narrativas da Trilha Griô nas Terras do Boi Falô – Uma experiência

partilhada da Pedagogia Griô”

Henrique Dutra

Cultura dos povos tradicionais de terreiros: percurso de vivências

na Universidade Federal do Rio de Janeiro

Aderbal Ashogun Moreira, Clarisse Mantuano e Marta Simões Peres

Pedagogia Griô em atos de currículo nas escolas

quilombolas de Rio de Contas – Bahia

Patrícia Pacheco

entrevista Mestre Alcides de Lima

Ana Carolina Francischette da Costa

artigos

Derechos Humanos, Diversidad E Interdisciplinaridad

Rodrigo Montoya Rojas

No sesquicentenário de nascimento de Franz Boas

Margarida Maria Moura

Repensando Carolina Maria de Jesus

José Carlos Sebe Bom Meihy

resenHas

Marilucia Melo Meireles. Os “bobos” em Goiás: enigmas e silêncios.

Goiânia, Editora UFG, 2014, p.368 páginas. ISBN: 978-85-7274-

374-7

Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes

Thiago Honório. Documents (2012)

Edilamar Galvão

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176

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246

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Esta revista é um marco histórico, é a

primeira revista acadêmica que assume o

título Pedagogia Griô. Ao longo da história

de sua construção, a Pedagogia Griô conta

com trabalhos prioritariamente vivenciais,

corporais, dialógicos, afetivos e culturais fundados

na oralidade, na fonte primordial do pensamento

e da racionalidade e em diálogo com o universo da

tradição escrita. Possui também diversas publicações

em livros, revistas, cds de músicas, vídeos, jogos e

sites. É a primeira vez que escritores do universo

dos pontos de cultura, da gestão pública e das

comunidades que trabalham com a Pedagogia

Griô são convidados a escreverem com escritores

acadêmicos sobre este tema e outros que lhe

acrescentam para uma publicação acadêmica.

Somos nós educadores, Mestres Griôs, pesquisado-

res, Griôs aprendizes partilhando a perspectiva de uma

velha pedagogia que se reinventa e dialoga com as ten-

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dências da educação no século XXI, dos griots da África

aos Griôs do Brasil, com uma visão pluri-inter-trans-

cultural. Propondo e relatando vivências étnico-raciais

positivas, contando histórias, compartilhando experiên-

cias de implementação de projetos, atos de currículos,

práticas pedagógicas, inclusive processos de iniciação e

aprendizagens com Mestres Griôs. Outros textos cui-

dam de novas e velhas referências teóricas e caminham

ao encontro da realidade para partilhar a perplexidade

das forças afetivas que movem a histórias de vida e as

(r)evoluções culturais do povo brasileiro.

Como criadora da Pedagogia Griô junto a Márcio

Caires, o Velho Griô, dou as mãos nesta roda, com o

sonho que aprendi a sonhar junto com Sérgio Bairon - a

Produção Partilhada do Conhecimento. Sou aprendiz de

cada olhar que ocupa o centro.

Líllian Pacheco

Em seu livro ”As Américas e as Civilizações”,

Darcy Ribeiro chama o Brasil de Povo

Novo. Novo porque inaugura um encontro

diferenciado entre etnias e nações, muito

distante das ideias de “pureza” de suas

matrizes europeias formadoras. Novo porque aproxima

todos os continentes do mundo. Novo porque sua

diversidade, como universalidade, não apresenta outra

saída que não seja o caminho da convivência com o

outro. Uma convivência acostumada a dialogar com

o mundo todo. A palavra Griô define a essência deste

Povo Novo, que tanto reconhece as suas ancestralidades

quanto dialoga com o Outro. Griô é um nome-síntese

de trajetórias agregadoras, múltiplas, híbridas, mestiças

e inovadoras do povo brasileiro. Não representa

uma unidade cultural, ao contrário, expressa a

diversidade de um povo que aprendeu a construir sua

identidade com o Outro. É um nome que age como

uma metáfora de que o “eu” é sempre o resultado do

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diálogo com o “outro”, ou melhor, o eu é também o

outro. O nome Griô, simboliza uma forte expressão

tanto da valorização dos saberes orais oriundos

dos recônditos rurais e das cidades do Brasil, quanto da

valorização do encontro entre a brasilidade e o mundo

diverso que a compôs. Nesse sentido, a brasilidade

do mundo e o mundo da brasilidade são a mesma

coisa. Trata-se da fertilização do diálogo, presente na

hibridização dos continentes e promovida a partir de

uma Epistemologia do Sul. Um Povo Novo que tem por

essência, ao mesmo tempo, o universal e as tradições

locais.

Griô significa que não vivemos a ideia de uma

brasilidade “pura” e “nacionalista”, mas que nossa

brasilidade é, em essência, antropofílica.

A experiência do Grãos de Luz e Griô de Líllian

Pacheco e Márcio Caires, nos demonstrou que o

nome Griô é a própria diversidade que defende, daí a

sua importância. É metalinguagem que reúne ética e

estética. É reinvenção da vida em sua expressividade

estética, reconhecendo que na cultura, na educação

e na cidadania, ética e estética não podem atuar

separadamente. O nome Griô tem gravado em sua

corporeidade as relações entre África, Europa e

Américas e seu fundamento está na transmissão da

cultura oral por meio dos grandes mestres contadores

de histórias. Histórias do seu povo no interior da rede

de histórias dos povos. Nesse universo, não podemos

enfatizar uma etnia ou uma cultura específica, pois

as suas singularidades só adquiriram importância na

diversidade do diálogo com outras culturas.

A Pedagogia Griô reconhece que o Griô não é

periferia, mas o centro da espiral cultural que compõe o

Povo Novo. Não é cultura letrada escrita, é cultura oral,

erudita e corporal e vem sendo transmitida ao longo

de séculos sem apoio do ensino formal ou da mídia em

larga escala. Quando conta as suas histórias, o Mestre

Griô revela o que há de mais vivo e ancestral no mundo,

mas também socializa e atualiza para todos nós as

tradições de seu povo. Não é por acaso, que na África

os Mestres Griôs eram poupados da participação nas

guerras, pois se morressem, não significaria a morte de

uma pessoa, mas do fundamento de uma cultura. Não

é por nada que em algumas regiões da África Ocidental,

os Mestres Griôs ao morrerem eram enterrados no

interior das árvores (Baobá, por exemplo), para que suas

narrativas continuassem a fertilizar a cultura, assim

como as folhas de uma árvore fazem com o nosso

entorno.

Sendo assim, o presente número da Revista do

Diversitas, tem por objetivo aproximar os saberes da

cultura oral, das experiências da sociedade civil (Grãos

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de Luz e Griô) e dos produzidos na Universidade.

A proposta é que este encontro de saberes ofereça

condições para um diálogo mais profícuo a partir de suas

diversidades, que represente uma nova forma de produzir

e socializar o conhecimento, no caminho da construção

de uma cidadania brasileira que se seja calcada, sobretudo,

em nossa grande riqueza de culturas orais.

Sérgio Bairon

Dossie

Ped

agogia Grio