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Atualidades Ornitológicas Nº 156 - Julho/Agosto 2010 - www.ao.com.br 4 5 Atualidades Ornitológicas Nº 156 - Julho/Agosto 2010 - www.ao.com.br como o faz com as aves (Franz 1991, Motta Junior & Taddei Referências bibliográficas Bond, J. (1942) Notes on the Devil Owl. The Auk, 59: 308-309. 1992, Lopes et al. 2004). Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) (2009) Listas das Aves do Durante o tempo de estudo, apenas um exemplar da espécie foi Brasil . Versão de 05 de outubro de 2008. Disponível em observado, uma vez, em 03 de fevereiro de 2006. A ave estava pou- <http://www.cbro.org.br>. Acesso em [10/10/2009]. sada a 10 metros do solo, no estacionamento dos professores, que Errington, P.L. (1932) Technique of raptor food habits study. The Condor, 34: 75- 86. é um local onde o trânsito de pessoas é relativamente alto. Era ata- Franz, M. (1991) Field observations on the Stygian Owl Asio stygius in Belize, cado constantemente por bem-te-vis (Pitangus sulphuratus) e sui- Central America. (resumo). Journal of Raptor Research, 25(4): 163. riris-cavaleiros (Machetornis rixosa), permanecendo, no entanto, Hempel, A. (1949) Estudo da alimentação natural de aves silvestres do Brasil. no mesmo local durante todo o tempo em que foi observado pela Arquivos do Instituto Biológico, 19: 237-268. Lopes, L.E., R. Goes, S. Souza & R.M. Ferreira (2004) Observations on a nest of manhã. the Stygian Owl (Asio stygius) in the central brazilian cerrado. Ornitologia O encontro das penas e pelotas coincidiu com a época de verão Neotropical, 15: 423-427. e podem ser divididos em duas fases: entre 22 de novembro de Melo Júnior, T.A., J.F. Pacheco & M.G. Diniz (1996) Ocorrência de Asio stygius 2005 e 06 de fevereiro de 2006 e, posteriormente, entre 13 de (Strigiformes: Strigidae) na região metropolitana de Belo Horizonte e em outras localidades do estado de Minas Gerais. Ararajuba, 4 (1): 34-38. novembro de 2006 e 06 de fevereiro de 2007. Moojen, J., J.C. Carvalho & H.S. Lopes (1941) Observações sobre o contudo gástrico Melo Junior et al. (1996) citam que dos vários recolhimentos das aves brasileiras. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 36 (3): 405-444. feitos pela Policia Florestal de Minas Gerais na região metro- Motta Junior, J.C. & V.A. Taddei (1992) Bats as prey of Stygian Owls in Southeas- tern Brazil. Journal of Raptor Research, 26(4): 259-260. politana de Belo Horizonte, 80% deles ocorreram entre os Motta Junior, J.C., A.A. Bueno & A.C.R. Braga (2004) Corujas do Brasileiras. Dis- meses de abril e outubro, ou seja, fora do verão. Pode-se, dessa ponível em <http://www.ibcbrasil.org.br/upload/1agxd1to01_corujas- maneira, supor que a espécie realize algum tipo de desloca- new.pdf>. Acesso em: [09/10/2005] mento sazonal nesse período estando, assim, mais propensas a Motta Junior, J.C. (2006) Relações tróficas entre cinco espécies de Strigiformes simpátricas na região central do Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasi- se ferirem de alguma maneira nas áreas urbanizadas. Porém leira de Ornitologia, 14(4): 359-377. essa migração deve ser melhor avaliada, pois Lopes et al. Pardiñas, U.F.J. & S. Cirignoli (2002) Bibliografía comentada sobre los análisis (2004) observaram o mocho-diabo o ano todo na área por eles de egagrópilas de aves rapaces em Argentina. Ornitologia Neotropical, 13: estudada. 31-59. Romualdo, R.C., D. Fink, C.S. Brandt & C.E. Zimmermann (2004) Registros de Asio Outra hipótese é que o encontro das penas na universidade stygius (Wagler, 1832) na área urbana de Blumenau, Santa Catarina, p. 351. tenha coincidido com o período de muda da espécie na região e o Em: XII CBO – Congresso Brasileiro de Ornitologia, Blumenau, SC, 2004. pequeno número de pelotas encontradas durante o período de Schubart, O., A.C. Aguirre & H. Sick (1965) Contribuição para o conhecimento da alimentação das aves brasileiras. Arquivos de Zoologia, 12: 95-249. estudo pode ser devido ao local não ser utilizado como repouso Schueler, F.W. (1972) A new methodof preparing owl pellets: boiling in NaOH. diurno da espécie, mas sim como local de caça. Bird-Banding, 43(2): 142. O mocho-diabo necessita ainda de muitos estudos no campo e é Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira: edição revista e ampliada por José Fer- preciso uma atenção especial a esta espécie, uma vez que parece nando Pacheco. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 862 p. Sigrist, T. (2006) Aves do Brasil: Uma visão artística. Edição do autor, 672 p. existir em baixa densidade, como citado por Motta Junior (2006), Willis, E.O. & Y. Oniki (2003) Aves do Estado de São Paulo. Ed. Divisa, Rio Cla- podendo por isso facilmente ser extinta em alguns locais (Motta ro. 398 p. Junior et al. 2004). Mestrando do curso de Ecologia de Ecótonos da Universi- Agradecimentos dade Federal do Tocantins (UFT), Porto Nacional, TO. A José Carlos Motta Júnior pelo auxílio bibliográfico. Também Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Aves, a Bruna de Aquino Yokota, Marcelo Barbosa e Suélen Amâncio UFT, Palmas. Clube de Observadores de Aves do Vale do pelos comentários na primeira versão do manuscrito. Paraíba, SP (COAVAP). [email protected] Marco Aurélio Crozariol As corujas são difíceis de serem estudadas no campo por serem, em sua maioria, ativas somente durante a noite (Motta Junior et al. 2004), sendo reconhecidas 22 espécies no Brasil (CBRO 2009). Dentre as corujas brasileiras, Asio stygius, conhecida popular- mente como mocho-diabo, tem sua biologia pouco estudada (Melo Junior et al. 1996), bem como sua distribuição que se encontra hoje muito falha e confusa. Essa ave é encontrada pontu- almente do México e Antilhas até o Paraguai e Argentina. Na Ama- zônia, nas regiões centro-oeste, sudeste e sul (Bond 1942, Sick 1997, Motta Junior et al. 2004). Sigrist (2006) cita que esta espé- cie parece expandir sua distribuição no sudeste do Brasil. A espécie já foi observada nos mais diferentes ambientes como: cerrado, pinheiral, matas de araucária, ao redor de matas úmidas, florestas semi-abertas, bosques artificiais e mesmo áreas urbanas, como Blumenau (SC) e região metropolitana de Belo Horizonte (MG) (Franz 1991, Melo Junior et al. 1996, Sick 1997, Willis & Oniki 2003, Lopes et al. 2004, Romualdo et al. 2004, Sigrist 2006). possuíam árvores, presença de penas e/ou pelotas no solo ou Quanto a alimentação, as corujas brasileiras, em geral, são mesmo a presença de A. stygius pousado nas árvores. Todas as ainda pouco conhecidas (Motta Junior et al. 2004). No entanto, penas encontradas foram etiquetadas com a data do encontro (Fi- assim como algumas outras espécies de aves fazem, as corujas gura 2). As pelotas foram armazenadas dentro de sacos plásticos e regurgitam as partes duras das presas consumidas em forma de posteriormente higienizadas utilizando NaOH a 10%, segundo esferas e que são chamadas de pelotas. Essas pelotas permitem indicado por Schueler (1972). identificar vários dos seus itens alimentares (Errington 1932, Motta Junior et al. 2004, Sigrist 2006). Os trabalhos que utilizam Resultados e Discussão essa abordagem para descrever itens alimentares das espécies de No dia 05 de dezembro de 2005 foram localizadas duas pelotas Strigidae brasileiras têm aumentado nos últimos anos segundo no solo, próximo ao tronco de uma grande árvore onde penas da Pardiñas & Cirignoli (2002). espécie eram frequentemente encontradas. As pelotas estavam Um fato interessante é que nem mesmo trabalhos considerados próximas uma da outra e, quando analisadas, foram identificados: referências com respeito à alimentação das aves brasileiras, como ossos de aves (2 crânios e 1 mandíbula, 4 esternos, 5 pélvis, 10 o de Moojen et al. (1941) e Hempel (1949) mencionam dados metacarpos, 5 coracóides, 3 escápulas, 9 ulnas, 5 rádios, 8 úme- sobre a dieta do mocho-diabo. Somando-se a estes, apenas o tra- ros, 9 fêmures, 5 pigóstilos e 14 tarsos), de mamíferos (1 mandí- balho de Schubart et al. (1965) cita o conteúdo estomacal de um bula e 2 ulnas) e de anfíbio (1 pé). Também foram encontrados exemplar, onde foi encontrado um grande Orthoptera. Trabalhos fragmentos de insetos. Estima-se dessa forma que o mocho-diabo recentes trazem mais informações sobre a alimentação da espécie se alimentou de pelo menos cinco aves, um ou dois roedores, um (Franz 1991, Motta Junior & Taddei 1992, Sick 1997, Willis & anfíbio e insetos. Oniki 2003, Lopes et al. 2004, Motta Junior et al. 2004, Sigrist Em trabalhos realizados por Motta Junior & Taddei (1992) e 2006), sendo essa nota apenas uma ínfima adição no que se refere Motta Junior (2006), cerca de 90% dos itens encontrados nas a dieta da espécie. Dessa maneira, os objetivos desta nota são: pelotas desta espécie eram de aves, corroborando os resultados auxiliar o conhecimento da distribuição e da dieta da espécie no aqui apresentados. Vale ainda ressaltar que um dos crânios Brasil. encontrados neste trabalho é de um pequeno Emberizidae, apa- rentemente do tiziu, Volatinia jacarina (Figura 3) e que restos Materiais e Métodos mortais dessa espécie foram aos mais encontrados nas pelotas O estudo foi realizado no município de Taubaté (SP) (Figura 1), analisadas por Motta Junior & Taddei (1992). É provável que o SP, no Campus Bom Conselho da Universidade de Taubaté crânio da ave seja arrancado antes da ingestão, pois o seu (UNITAU) (23°01'51”S e 45°33'51”O). Durante o período de número foi bastante pequeno se comparado à quantidade de indi- estudo, entre os meses de novembro de 2005 e maio de 2007, víduos que aparentemente foram encontradas nas pelotas por quase diariamente, exceto aos finais de semana e em período de mim analisadas. A. stygius é também citada na literatura como férias (janeiro), foram inspecionados durante o dia os locais que um grande comedor de morcegos, caçando-os em vôo, assim Ocorrência do mocho-diabo, Asio stygius Taubaté, Vale do Paraíba Paulista, com (Strigiformes: Strigidae), no município de alguns dados sobre a sua alimentação Figura 1. Mapa do Vale do Paraíba Paulista destacando o município de Taubaté. Figura 2. Penas do mocho-diabo, Asio stygius etiquetadas após a coleta no campo. Figura 3. Crânio de um pequeno Emberizidae, aparentemente do tiziu, Volatinia jacarina, encontrado em uma das pelotas do mocho-diabo, Asio stygius.

- Ocorrência do mocho-diabo, Asio stygius...As corujas são difíceis de serem estudadas no campo por serem, em sua maioria, ativas somente durante a noite (Motta Junior et al. 2004),

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Page 1: - Ocorrência do mocho-diabo, Asio stygius...As corujas são difíceis de serem estudadas no campo por serem, em sua maioria, ativas somente durante a noite (Motta Junior et al. 2004),

Atualidades Ornitológicas Nº 156 - Julho/Agosto 2010 - www.ao.com.br4 5Atualidades Ornitológicas Nº 156 - Julho/Agosto 2010 - www.ao.com.br

como o faz com as aves (Franz 1991, Motta Junior & Taddei Referências bibliográficasBond, J. (1942) Notes on the Devil Owl. The Auk, 59: 308-309.1992, Lopes et al. 2004).Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO) (2009) Listas das Aves do Durante o tempo de estudo, apenas um exemplar da espécie foi

Brasil. Versão de 05 de outubro de 2008. Disponível em observado, uma vez, em 03 de fevereiro de 2006. A ave estava pou- <http://www.cbro.org.br>. Acesso em [10/10/2009].sada a 10 metros do solo, no estacionamento dos professores, que Errington, P.L. (1932) Technique of raptor food habits study. The Condor, 34: 75-

86.é um local onde o trânsito de pessoas é relativamente alto. Era ata-Franz, M. (1991) Field observations on the Stygian Owl Asio stygius in Belize, cado constantemente por bem-te-vis (Pitangus sulphuratus) e sui-

Central America. (resumo). Journal of Raptor Research, 25(4): 163.riris-cavaleiros (Machetornis rixosa), permanecendo, no entanto, Hempel, A. (1949) Estudo da alimentação natural de aves silvestres do Brasil. no mesmo local durante todo o tempo em que foi observado pela Arquivos do Instituto Biológico, 19: 237-268.

Lopes, L.E., R. Goes, S. Souza & R.M. Ferreira (2004) Observations on a nest of manhã.the Stygian Owl (Asio stygius) in the central brazilian cerrado. Ornitologia O encontro das penas e pelotas coincidiu com a época de verão Neotropical, 15: 423-427.

e podem ser divididos em duas fases: entre 22 de novembro de Melo Júnior, T.A., J.F. Pacheco & M.G. Diniz (1996) Ocorrência de Asio stygius 2005 e 06 de fevereiro de 2006 e, posteriormente, entre 13 de (Strigiformes: Strigidae) na região metropolitana de Belo Horizonte e em

outras localidades do estado de Minas Gerais. Ararajuba, 4 (1): 34-38.novembro de 2006 e 06 de fevereiro de 2007. Moojen, J., J.C. Carvalho & H.S. Lopes (1941) Observações sobre o contudo gástrico

Melo Junior et al. (1996) citam que dos vários recolhimentos das aves brasileiras. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 36 (3): 405-444.feitos pela Policia Florestal de Minas Gerais na região metro- Motta Junior, J.C. & V.A. Taddei (1992) Bats as prey of Stygian Owls in Southeas-

tern Brazil. Journal of Raptor Research, 26(4): 259-260.politana de Belo Horizonte, 80% deles ocorreram entre os Motta Junior, J.C., A.A. Bueno & A.C.R. Braga (2004) Corujas do Brasileiras. Dis-meses de abril e outubro, ou seja, fora do verão. Pode-se, dessa

ponível em <http://www.ibcbrasil.org.br/upload/1agxd1to01_corujas-maneira, supor que a espécie realize algum tipo de desloca- new.pdf>. Acesso em: [09/10/2005]mento sazonal nesse período estando, assim, mais propensas a Motta Junior, J.C. (2006) Relações tróficas entre cinco espécies de Strigiformes

simpátricas na região central do Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasi-se ferirem de alguma maneira nas áreas urbanizadas. Porém leira de Ornitologia, 14(4): 359-377.essa migração deve ser melhor avaliada, pois Lopes et al.

Pardiñas, U.F.J. & S. Cirignoli (2002) Bibliografía comentada sobre los análisis (2004) observaram o mocho-diabo o ano todo na área por eles de egagrópilas de aves rapaces em Argentina. Ornitologia Neotropical, 13: estudada. 31-59.

Romualdo, R.C., D. Fink, C.S. Brandt & C.E. Zimmermann (2004) Registros de Asio Outra hipótese é que o encontro das penas na universidade stygius (Wagler, 1832) na área urbana de Blumenau, Santa Catarina, p. 351.

tenha coincidido com o período de muda da espécie na região e o Em: XII CBO – Congresso Brasileiro de Ornitologia, Blumenau, SC, 2004.pequeno número de pelotas encontradas durante o período de Schubart, O., A.C. Aguirre & H. Sick (1965) Contribuição para o conhecimento

da alimentação das aves brasileiras. Arquivos de Zoologia, 12: 95-249.estudo pode ser devido ao local não ser utilizado como repouso Schueler, F.W. (1972) A new methodof preparing owl pellets: boiling in NaOH. diurno da espécie, mas sim como local de caça.

Bird-Banding, 43(2): 142.O mocho-diabo necessita ainda de muitos estudos no campo e é Sick, H. (1997) Ornitologia brasileira: edição revista e ampliada por José Fer-

preciso uma atenção especial a esta espécie, uma vez que parece nando Pacheco. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 862 p.Sigrist, T. (2006) Aves do Brasil: Uma visão artística. Edição do autor, 672 p.existir em baixa densidade, como citado por Motta Junior (2006), Willis, E.O. & Y. Oniki (2003) Aves do Estado de São Paulo. Ed. Divisa, Rio Cla-podendo por isso facilmente ser extinta em alguns locais (Motta

ro. 398 p.Junior et al. 2004).

Mestrando do curso de Ecologia de Ecótonos da Universi-Agradecimentos dade Federal do Tocantins (UFT), Porto Nacional, TO.

A José Carlos Motta Júnior pelo auxílio bibliográfico. Também Grupo de Pesquisa em Ecologia e Conservação de Aves, a Bruna de Aquino Yokota, Marcelo Barbosa e Suélen Amâncio UFT, Palmas. Clube de Observadores de Aves do Vale do pelos comentários na primeira versão do manuscrito. Paraíba, SP (COAVAP). [email protected]

Marco Aurélio Crozariol

As corujas são difíceis de serem estudadas no campo por serem, em sua maioria, ativas somente durante a noite (Motta Junior et al. 2004), sendo reconhecidas 22 espécies no Brasil (CBRO 2009).

Dentre as corujas brasileiras, Asio stygius, conhecida popular-mente como mocho-diabo, tem sua biologia pouco estudada (Melo Junior et al. 1996), bem como sua distribuição que se encontra hoje muito falha e confusa. Essa ave é encontrada pontu-almente do México e Antilhas até o Paraguai e Argentina. Na Ama-zônia, nas regiões centro-oeste, sudeste e sul (Bond 1942, Sick 1997, Motta Junior et al. 2004). Sigrist (2006) cita que esta espé-cie parece expandir sua distribuição no sudeste do Brasil.

A espécie já foi observada nos mais diferentes ambientes como: cerrado, pinheiral, matas de araucária, ao redor de matas úmidas, florestas semi-abertas, bosques artificiais e mesmo áreas urbanas, como Blumenau (SC) e região metropolitana de Belo Horizonte (MG) (Franz 1991, Melo Junior et al. 1996, Sick 1997, Willis & Oniki 2003, Lopes et al. 2004, Romualdo et al. 2004, Sigrist 2006). possuíam árvores, presença de penas e/ou pelotas no solo ou

Quanto a alimentação, as corujas brasileiras, em geral, são mesmo a presença de A. stygius pousado nas árvores. Todas as ainda pouco conhecidas (Motta Junior et al. 2004). No entanto, penas encontradas foram etiquetadas com a data do encontro (Fi-assim como algumas outras espécies de aves fazem, as corujas gura 2). As pelotas foram armazenadas dentro de sacos plásticos e regurgitam as partes duras das presas consumidas em forma de posteriormente higienizadas utilizando NaOH a 10%, segundo esferas e que são chamadas de pelotas. Essas pelotas permitem indicado por Schueler (1972).identificar vários dos seus itens alimentares (Errington 1932, Motta Junior et al. 2004, Sigrist 2006). Os trabalhos que utilizam Resultados e Discussãoessa abordagem para descrever itens alimentares das espécies de No dia 05 de dezembro de 2005 foram localizadas duas pelotas Strigidae brasileiras têm aumentado nos últimos anos segundo no solo, próximo ao tronco de uma grande árvore onde penas da Pardiñas & Cirignoli (2002). espécie eram frequentemente encontradas. As pelotas estavam

Um fato interessante é que nem mesmo trabalhos considerados próximas uma da outra e, quando analisadas, foram identificados: referências com respeito à alimentação das aves brasileiras, como ossos de aves (2 crânios e 1 mandíbula, 4 esternos, 5 pélvis, 10 o de Moojen et al. (1941) e Hempel (1949) mencionam dados metacarpos, 5 coracóides, 3 escápulas, 9 ulnas, 5 rádios, 8 úme-sobre a dieta do mocho-diabo. Somando-se a estes, apenas o tra- ros, 9 fêmures, 5 pigóstilos e 14 tarsos), de mamíferos (1 mandí-balho de Schubart et al. (1965) cita o conteúdo estomacal de um bula e 2 ulnas) e de anfíbio (1 pé). Também foram encontrados exemplar, onde foi encontrado um grande Orthoptera. Trabalhos fragmentos de insetos. Estima-se dessa forma que o mocho-diabo recentes trazem mais informações sobre a alimentação da espécie se alimentou de pelo menos cinco aves, um ou dois roedores, um (Franz 1991, Motta Junior & Taddei 1992, Sick 1997, Willis & anfíbio e insetos. Oniki 2003, Lopes et al. 2004, Motta Junior et al. 2004, Sigrist Em trabalhos realizados por Motta Junior & Taddei (1992) e 2006), sendo essa nota apenas uma ínfima adição no que se refere Motta Junior (2006), cerca de 90% dos itens encontrados nas a dieta da espécie. Dessa maneira, os objetivos desta nota são: pelotas desta espécie eram de aves, corroborando os resultados auxiliar o conhecimento da distribuição e da dieta da espécie no aqui apresentados. Vale ainda ressaltar que um dos crânios Brasil. encontrados neste trabalho é de um pequeno Emberizidae, apa-

rentemente do tiziu, Volatinia jacarina (Figura 3) e que restos Materiais e Métodos mortais dessa espécie foram aos mais encontrados nas pelotas

O estudo foi realizado no município de Taubaté (SP) (Figura 1), analisadas por Motta Junior & Taddei (1992). É provável que o SP, no Campus Bom Conselho da Universidade de Taubaté crânio da ave seja arrancado antes da ingestão, pois o seu (UNITAU) (23°01'51”S e 45°33'51”O). Durante o período de número foi bastante pequeno se comparado à quantidade de indi-estudo, entre os meses de novembro de 2005 e maio de 2007, víduos que aparentemente foram encontradas nas pelotas por quase diariamente, exceto aos finais de semana e em período de mim analisadas. A. stygius é também citada na literatura como férias (janeiro), foram inspecionados durante o dia os locais que um grande comedor de morcegos, caçando-os em vôo, assim

Ocorrência do mocho-diabo, Asio stygius

Taubaté, Vale do Paraíba Paulista, com (Strigiformes: Strigidae), no município de

alguns dados sobre a sua alimentação

Figura 1. Mapa do Vale do Paraíba Paulista destacando o município de Taubaté.

Figura 2. Penas do mocho-diabo, Asio stygius etiquetadas após a coleta no campo.

Figura 3. Crânio de um pequeno Emberizidae, aparentemente do tiziu, Volatinia jacarina, encontrado

em uma das pelotas do mocho-diabo, Asio stygius.