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PUC
RIO
“Oportunidade de Negócio no Lixo”: Cooperativas de Material
Reciclável, Empreendedorismo Social e Capacitação dos
Cooperados
Adrielma Silveira Fortuna dos Santos
Orientadora: Profª. Me. Leila Curty Siqueira
Tipo de trabalho 2 apresentado
ao Curso de Especialização em
Educação Empreendedora, como
parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de especialista.
Rio de Janeiro, 27 de Junho de 2017.
Ficha Catalográfica
CDD: 370
Santos, Adrielma Silveira Fortuna dos “Oportunidade de negócio no lixo” : cooperativas de material reciclável, empreendedorismo social e capacitação dos cooperados / Adrielma Silveira Fortuna dos Santos ; orientadora: Leila Curty Siqueira. – 2017. 32 f. : il. color. ; 30 cm Curso em parceria com o Instituto Gênesis (PUC-Rio), através da plataforma do CCEAD (PUC-Rio). Com o patrocínio do Sebrae em parceria com o MEC. Trabalho de Conclusão de Curso (especialização)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Empreendedora, 2017. Inclui bibliografia 1. Educação – TCC. 2. Cooperativismo. 3. Catadores de material reciclável. 4. Empreendedorismo social. 5. Programa de capacitação. I. Siqueira, Leila Curty. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Educação. III. Título.
Bacharela em Ciências Sociais e Mestra em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe.
Doutoranda em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS. Concludente do
curso de Ciências Sociais-Licenciatura pela UFS. Atua como pesquisadora do Laboratório de Estudos
do Poder e da Política (LEPP) na área da Sociologia da Militância e dos Eventos de Protestos, com
ênfase em processos de militância, manifestações de rua e movimentos sociais em Sergipe. Registrada
como Socióloga sob o número de registro profissional 0000259/SE. É coordenadora de planejamento e
projeto do Instituto Doar-se e colaboradora no Conselho de Jovens Empreendedores de Sergipe, atuando
na área do empreendedorismo social.
Agradecimentos
À Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ao SEBRAE Nacional e ao Instituto Federal de
Sergipe pela oportunidade de realização do curso de Especialização em Educação Empreendedora e por
todas as experiências acadêmicas proporcionadas.
À professora e tutora Ana Paula Santoro pela sua dedicação, paciência, alegria e motivação, durante
todo o curso, o que possibilitou e estimulou ainda mais minha participação e comprometido com a
Especialização.
À Orientadora Leila Curty pela dedicação, atenção e disponibilidade durante as orientações e também
pelas conversas que foram sempre de grande aprendizado.
Aos cooperados que atuam na cooperativa investigada pela disponibilidade, contribuição, pelo
aprendizado e por todo trabalho que eles fazem para deixar o ar que respiramos mais limpo. Serei
imensamente grata pelas narrativas que foram de fundamental importância para a realização do presente
trabalho.
À minha irmã Cristina Santos, sem ela não teria conseguido se inscrever na Especialização.
Ao meu querido Adysson Fortuna, pelo companheirismo e pelas conversas sobre empreendedorismo.
Aos meus colegas de curso, especialmente para os sergipanos e as sergipanas que estiveram comigo
nessa jornada, especialmente a Dayse Prado e Ildema Aragão pelas conversas e experiências trocadas ao
longo do curso.
Resumo
Este trabalho tem como objeto de estudo uma cooperativa de material reciclável localizada no município de
Nossa Senhora do Socorro no estado de Sergipe, que surgiu em 20 de junho de 2011. A pesquisa teve como
objetivo geral, desenvolver um programa de cursos e capacitações que ao mesmo tempo seja baseado em
conhecimento técnico, inovador e organizacional e na realidade vivenciada pelos dirigentes e catadores de
materiais recicláveis uma cidade do estado de Sergipe. Os procedimentos metodológicos utilizados para
compreender as dificuldades, o funcionamento, as interações, os sonhos e a organização dos cooperados na
cooperativa, entre outros foram, pesquisa documental, entrevistas, observação participante e revisão
bibliográfica. A partir dos procedimentos e do conhecimento acumulado durante a Especialização em Educação
Empreendedora foi possível desenvolver um programa de capacitação voltado para a realidade da cooperativa
analisada. Os resultados encontrados apontam que as pessoas que trabalham como catadoras de materiais
recicláveis tem baixa ou nenhuma escolaridade, são pessoas que tem dificuldade em encontrar emprego no
mercado formal e que moram em periferias das cidades. Tais resultados reafirmam o que outros estudos já têm
apresentado, como também reafirmam a necessidade de estudar esse objeto, bem como, desenvolver propostas
empreendedoras dentro da área do cooperativismo de material reciclável.
Palavras-chave: cooperativismo; catadores de material reciclável; empreendedorismo social; programa
de capacitação.
Sumário
Introdução .......................................................................................................................... 7
Justificativa .......................................................................................................................................... 7
Iniciativa Empreendedora: Contextualizando. ..................................................................................... 8
Estrutura do TCC ................................................................................................................................. 8
1- Contextualização da oportunidade de negócio: objeto, problema de pesquisa e
objetivos ............................................................................................................................ 10
1.1. Objetivos Geral e Específicos. ...................................................................................................... 10
1.1.1. Objetivos Geral .......................................................................................................................... 10
1.1.2. Objetivos Específicos ................................................................................................................. 10
1.2. Metodologia e Atividades. ........................................................................................................... 11
1.3. Referencial da Análise .................................................................................................................. 12
2– “O Lixo É Luxo”: encontrando uma oportunidade de negócio ............................. 16
3- Programa de Capacitação: realidade, conhecimento e oportunidade ................... 19
3.1. Curso de capacitação e aperfeiçoamento para cooperativas de material reciclável. ..................... 23
4 –Conclusões ................................................................................................................... 27
4.1. Considerações Finais. ................................................................................................................... 28
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 29
Apêndice ........................................................................................................................... 30
Lista de Gráficos
Gráfico 1 – Radiografia do Bem/Tempo de atividade ............................................................................. 17
Gráfico 2 –Radiografia do bem/Localização da sede ............................................................................... 18
Gráfico 3 – Escolaridade .......................................................................................................................... 20
Gráfico 4 – Renda Mensal. ....................................................................................................................... 21
Lista de Imagens
Imagem 1 – Radiografia do Bem/Área de atuação. .................................................................................. 17
Lista de Tabelas
Tabela 1- Narrativas. ................................................................................................................................ 19
Tabela 2 – Sexo/Idade .............................................................................................................................. 21
Tabela 3 – Despesas. ................................................................................................................................ 23
Tabela 4 – Programação do Curso. .......................................................................................................... 24
Introdução
O tema deste trabalho de conclusão de curso é “Educação, trabalho e empreendedorismo”. O
objeto de estudo dessa pesquisa são as cooperativas de catadores de materiais recicláveis em Sergipe.
Tal pesquisa tem como recorte empírico, uma cooperativa de material reciclável que surgiu em 20 de
junho de 2011, na cidade de Nossa Senhora do Socorro no estado de Sergipe. O objetivo geral do
trabalho é analisar as relações de trabalho dos membros da cooperativa, o funcionamento e a
organização das cooperativas, a fim de construir, desenvolver e aplicar um programa de capacitação e de
orientação para os dirigentes e cooperados. Para tanto, foram utilizados procedimentos metodológicos
que permitiram investigar a divisão sexual do trabalho, a estrutura e os procedimentos de coleta,
armazenamento e venda do material reciclável, os parceiros e apoiadores das cooperativas, os clientes,
as dificuldades e desafios diários enfrentados pelas cooperativas enquanto instituições burocráticas, bem
como, pelos membros enquanto indivíduos que carregam uma trajetória de vida cheias de sonhos,
iniciativas, criatividade, dentre outros aspectos. Os métodos utilizados foram: entrevistas
semiestruturada (Ver apêndice I) com perguntas objetivas e subjetivas, observação participante,
pesquisa documental e revisão bibliográfica. O principal resultado esperado por essa pesquisa é o
desenvolvimento de um programa de capacitação e orientação que qualifique os cooperados e que eles
se reconheçam no processo de aprendizagem.
Justificativa
As cooperativas de materiais recicláveis nos últimos anos têm ganhado destaque nacionalmente e
internacionalmente não só como um tipo de empreendedorismo e negócio social que tem impacto direto
na sociedade e no meio ambiente, mas como um negócio com grande lucratividade, sendo vista como
uma tendência de mercado dos próximos anos. Contudo, ainda há muito a ser feito sobre a
conscientização da coleta seletiva e sobre o importante papel das cooperativas de material reciclável e
dos cooperados. Os catadores ainda são discriminados, normalmente estão à margem da sociedade e não
tem uma qualificação mínima sobre empreendedorismo, negócios, direitos trabalhistas, dentre outras
áreas.
Tendo em vista o importante papel das cooperativas de material reciclável para a sociedade, a
economia, o desenvolvimento do empreendedorismo e principalmente para o meio ambiente, esse
trabalho busca através do programa de capacitação e orientação que as cooperativas, mostrar e valorizar
a importância do trabalho dessas cooperativas junto ao poder público e privado, estimular e auxiliar no
surgimento de novas cooperativas.
8
Iniciativa Empreendedora: Contextualizando
O programa de capacitação e orientação das cooperativas será aplicado com apenas uma
cooperativa, localizada na cidade de Nossa Senhora do Socorro, como dito anteriormente. Contudo, o
programa é possível de ser aplicado com outras cooperativas, desde que se observe a realidade desta
antes, para possíveis ajustes nos conteúdos ministrados nas aulas. Nesse sentido, o programa de
capacitação terá duração de três meses, com carga horária de 72 horas. O programa terá sua edição
piloto em 2017.2, com a cooperativa analisada nesse Trabalho de Conclusão de Curso. Será formada
uma única turma, tendo em vista que são apenas 15 cooperados que atuam na instituição analisada.
A partir da mobilização de parcerias como, Conselho de Jovens Empreendedores de Sergipe,
Universidade Federal de Sergipe, universidades e faculdades particulares, Sistema S e prefeitura de
Nossa Senhora do Socorro iremos tentar realizar o curso sem nenhum custo para a cooperativa, como
também serão submetidos projetos por meio do Instituto Doar-se1 para concorrer editais que apoiam
ações como esta que foi desenvolvida nesse trabalho. Além dessas instituições citadas, iremos negociar
financiamento com empresas privadas e com o poder estadual e municipal que tem políticas públicas
voltadas para coleta seletiva e para cooperativas e associações desse ramo. Acreditamos que o custo
com transporte dos cooperados, lanche, material didático, pagamento dos ministrantes, fardamento,
certificados e visitas técnicas vai gerar um orçamento, a ser detalhado no último capítulo deste trabalho.
É importante enfatizar que já existem leis federais que incentivam a criação de cooperativas e
associações de material reciclável. Resende (2013) ressalta a Lei 12.305/2010 da Política Nacional de
Resíduos Sólidos, em seu art. 9º, caput, que enfatizou especialmente à redução, reutilização e
reciclagem de resíduos sólidos com o escopo de proporcionar a reinserção dos resíduos sólidos na
cadeia produtiva. Um dos objetivos dessa lei é tanto a preservação do meio ambiente e de geração de
renda, como a redução de gastos públicos com a manutenção e preservação dos aterros sanitários. No
art. 8º, inciso IV, daquela Lei determina que haja incentivo para a criação e desenvolvimento de
cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.
(RESENDE, 2013).
Estrutura do TCC
Apresentado brevemente do que se trata o presente estudo, a seguir destaca-se a estrutura geral
de cada parte desse trabalho.
Na introdução tem-se uma visão geral do que se trata o trabalho, localizando-o empiricamente,
espacialmente e temporalmente.
1 A autora desse Trabalho de Conclusão de Curso coordena uma iniciativa de negócio social chamado “Projeto Doar-se” que futuramente
irá atuar como “Instituto Doar-se”, tal projeto atua em quatro eixos de forma prática e teórica a saber, saúde, deficiência, inclusão social e
ecologia.
9
No primeiro capítulo apresenta-se de forma mais clara objetivo geral e específicos, o problema
de pesquisa, a identificação de oportunidades, o referencial teórico e a metodologia utilizada.
Já no segundo capítulo são apresentados e analisados os dados de pesquisa coletados a partir das
entrevistas e observações realizadas na cooperativa analisada, tais dados juntamente com a revisão da
literatura sobre o tema que embasaram a criação do programa de capacitação a ser apresentado no
capítulo seguinte.
Assim, o terceiro capítulo apresenta de forma detalhada a estrutura do programa de capacitação:
a quantidade de módulos, os seus objetivos, os seus conteúdos e atividades, a quantidade e duração das
aulas. Nesse capítulo também serão incorporadas algumas falas dos dirigentes da cooperativa
investigada e dados qualitativos que fundamentam a criação e a metodologia presente no programa de
capacitação.
Por fim na conclusão são apresentados os resultados alcançados com a pesquisa e algumas
considerações sobre nossa participação dos alunos na Especialização em Educação Empreendedora. Nas
referências bibliográficas são apresentados todos os livros, artigos, jornais, entrevistas, lidas e consultas
realizadas para o desenvolvimento desta pesquisa.
10
1. Contextualização da oportunidade de negócio: objeto, problema de pesquisa e
objetivos
Os negócios e iniciativas voltadas para o terceiro setor, principalmente aqueles e aquelas que
visam ter um impacto social e ambiental, ao mesmo tempo tendo também lucratividade, vem crescendo
nos últimos anos. Este TCC tem como objeto de estudo, portanto, uma cooperativa de material
reciclável situada em uma cidade do estado de Sergipe. Entre os tipos de empreendedorismos vistos na
especialização, este trabalho se enquadra no “empreendedorismo social”, uma vez que, pretende
desenvolver um conjunto de ações que visa a melhoria das condições de trabalho e intelectual dos
cooperados, bem como, do meio ambiente, lançando mão de medidas que podem ser tanto lucrativas
quanto sociais. Dito isso, o problema é o seguinte: Qual a relação entre as necessidades e dificuldades
comerciais, administrativas, organizacionais, técnicas e escolares dos dirigentes e membros das
cooperativas e sua consolidação e sustentabilidade no terceiro setor?
Esse problema, de forma mais clara, questiona a relação entre educação formal, conhecimento
técnico e os desafios de iniciar e manter uma cooperativa e associação de materiais recicláveis. A
oportunidade identificada é a da formação e capacitação dos dirigentes e membros dessas organizações
da sociedade civil, uma vez que alguns estudos demonstram que a maioria daqueles que trabalham como
catadores de materiais recicláveis têm baixa ou nenhuma escolaridade formal, estão à margem da
sociedade e não conseguem trabalho formal. Outro dado também é o de que este ramo gera bilhões de
reais por ano, mas tal riqueza não tem modificado a realidade e a condição social destes catadores.
Sendo assim, desenvolver cursos e programas de capacitação voltados especificamente para os catadores
de material reciclável que estejam ou que possam se associar ou criar uma cooperativa é uma
oportunidade tanto de impacto social quanto econômico, tendo em vista que esses trabalhadores terão
mais conhecimento teórico para administrar suas finanças, planejar sua carreira, enxergar e defender o
valor do seu trabalho na sociedade, entre outros aspectos.
1.1 Objetivos Geral e Específicos
O objetivo geral, bem como, os objetivos específicos deste trabalho estão descritos a seguir:
1.1.1 Objetivo Geral
O objetivo geral desta pesquisa é o de desenvolver um programa de cursos e capacitações que ao
mesmo tempo seja baseado em conhecimento técnico, inovador e organizacional e na realidade
vivenciada pelos dirigentes e catadores de materiais recicláveis de uma cidade do estado de Sergipe.
1.1.2 Objetivos específicos
Os objetivos específicos são os seguintes:
11
Identificar as necessidades, as dificuldades e os sonhos dos dirigentes e membros da
cooperativa de materiais recicláveis;
Desenvolver um programa de cursos e capacitação dos cooperados para autogestão da
cooperativa;
Assessorar a cooperativa na elaboração de projetos para captação de recursos necessários à
viabilização e sustentabilidade da cooperativa;
Promover a troca de conhecimento e de relacionamento entre a cooperativa e outras
iniciativas do terceiro setor, tanto vinculadas ao poder público quanto ao poder privado; e
Organizar eventos com apoio de parcerias voltados para a discussão do desenvolvimento e
criação de cooperativas e associações de materiais recicláveis e do empreendedorismo social
no estado de Sergipe.
1.2. Metodologia e Atividades
A cooperativa escolhida para se desenvolver a intervenção está localizada em uma cidade que
faz divisa com a capital de Sergipe. Segundo informações coletadas no seu blog a cooperativa surgiu em
20 de junho de 2011, os interessados fizeram uma Assembleia Geral para a formação da Cooperativa.
Os objetivos da Cooperativa são o de “efetuar a coleta de material reciclável porta a porta em
residências, empresas, órgãos públicos e entidades em geral; transportar, selecionar, pesar, adicionar,
beneficiar e armazenar o material reciclável coletado em suas dependências; comprar material reciclável
coletado por terceiros; efetuar a venda em comum do material reciclável a industrias e terceiros
interessados2”.
Em 2012 a Cooperativa contava com 35 cooperados, entre homens e mulheres, com faixa etária
dos 19 aos 64 anos. A organização já participou de programas de capacitação patrocinado por uma
empresa privada. Como mostra o relato de uma cooperada, de 38 anos, mãe de dois filhos, que não
conseguiu completar o ensino fundamental:
Meu sonho era ter a carteira assinada, mas as portas nunca se abriam e no lixão eu era
esquecida pela sociedade. O Programa Reciclando Realidades me ensinou a ter
motivação, a não desistir nunca e a correr atrás dos meus sonhos. Aprendi muito sobre
logística e como transformar os materiais que recolhemos na rua em artesanato, para
aumentar a minha renda e de todos os 20 cooperados que trabalham comigo”, conta a
cooperada, que hoje já está cursando o ensino médio (CDN Comunicações, 2015).
O relato acima foi citado, por um lado, para exemplificar a importância de desenvolver
programas, cursos e capacitações voltados para o desenvolvimento pessoal e profissional dos catadores
de material reciclável. Por outro lado, para justificar a escolha metodológica e os métodos de
investigação utilizados. Defende-se, que a intervenção empreendedora tem que ser adequada à realidade
12
dos cooperados, tem que ser gratuita ou com um preço acessível, a linguagem utilizada tem que ser
compreendida pelos cooperados que serão assistidos.
Em acordo com o que foi exposto até o momento, o tipo de pesquisa realizada é qualitativo, os
métodos utilizados foram: entrevistas semiestruturadas com 12 dos (as) 15 cooperados (as) que fazem
parte da cooperativa; revisão bibliográfica (artigos, dissertações e teses sobre a cooperativa do ramo
pesquisado); pesquisa documental (leis, estatutos, noticiário de jornais); e, por fim, observação
participante na instituição.
As atividades realizadas foram pesquisas sobretudo na internet em bibliotecas virtuais e nas
redes sociais da cooperativa; contato via telefone móvel ou por e-mail com representantes da
cooperativa para agendar visitas e a entrevista semiestruturada; planejar e organizar os conteúdos dos
cursos; mobilização das nossas redes de contatos profissionais para o fechamento de futuras parcerias na
realização de eventos, bem como, para promover uma rede de contatos para a cooperativa que está
sendo investigada.
1.3. Referencial da Análise
A revolução industrial iniciada no século XVIII na Inglaterra foi o começo de uma nova
sociedade que almeja aumentar o seu poder de consumo. As indústrias, a produção em massa, o
desenvolvimento tecnológico e bélico por um lado trouxe muitos benefícios para as sociedades, por
outro lado trouxe também um dos grandes problemas do século XXI: a poluição. É nesse contexto
histórico e amplo que as raízes desse trabalho se situam, uma vez em que ele busca analisar uma das
formas de ação coletiva e de empreendedorismo que visa equilibrar e minimizar os impactos ambientais,
causados pelas industriais, pela tecnologia, pelo o forte poder de consumo do homem na
contemporaneidade.
Um dos pontos tratados na disciplina Educação, Trabalho e Empreendedorismo foram as
mudanças ocorridas no mundo do trabalho. Aranha (2016) destaca o processo de transformação social e
do mundo do trabalho a partir da análise do fordismo, taylorismo, da sociedade moderna. Como o autor
expõe em sua disciplina, ao longo da história da humanidade o conceito de trabalho se transformou,
bem como, a relação do homem com o trabalho e com os processos de aprendizagem e de
desenvolvimento de competências e habilidades. Segundo Karl Marx (1978, p. 148):
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em
que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla o seu metabolismo com a
Natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele
põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua corporalidade, braços, pernas,
cabeça e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua
própria vida. A atuar, por meio desse movimento sobre a Natureza externa a ele, e ao
modifica-la, ele modifica a sua própria natureza.
2 Para preservar a identidade da Cooperativa e dos seus cooperados o link do blog não será referenciado.
13
Na concepção de Marx o homem produz o trabalho, mas também esse mesmo homem é produto
do trabalho que cria. Uma das principais contribuições do clássico da Sociologia foi trazer a reflexão
sobre as condições de trabalho, sobre as formas de alienação do trabalho, sobre a precarização
psicológica e física que os trabalhadores sofrem nos seus ambientes de trabalho. De forma
complementar, Aranha (2016, p.11) destaca que “O conceito de trabalho também está ligado a um
conjunto de atividades realizadas. É o esforço feito por indivíduos como objetivo de atingir uma
meta. Fazer uma atividade exaustiva”.
Um conjunto de estudos sobre cooperativas de material reciclável no Brasil têm mostrado como
os catadores de materiais recicláveis são cotidianamente modificados pela sua função, tais modificações
são tanto físicas, por conta das condições precárias de trabalhos, pelas longas jornadas de trabalho,
quanto psicológicas por conta da discriminação social, pelos estigmas sociais que estes trabalhadores
vivenciam diariamente (ARANTES, BORGES, 2013; GAMA, KODA, 2010; MEDEIROS, MACEDO,
2006; RIBEIRO, 2014; RIBEIRO; NARDI; MACHADO, ,2012; SOUZA ; PAULA; SOUZA-PINTO,
2012).
Estes trabalhos também mostram em seus resultados, por um lado, a baixa escolaridade, a falta
de qualificação, a desvalorização social e a exclusão desses profissionais do mercado de trabalho
formal. Já por outro lado, alguns desses trabalham apontam a potência econômica e a geração de riqueza
que as cooperativas de material reciclável tem movimentado nos últimos anos em alguns estados do
país, exemplo, o caso de 33 cooperativas de catadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro que
originou uma economia de recursos de aproximadamente R$ 34 milhões para a economia fluminense
(RIBEIRO ; NARDI; MACHADO, 2012).
O Cooperativismo segundo o Wikipédia é:
A doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os
mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em suas atividades econômicas.
O associativismo cooperativista tem por fundamento o progresso social da cooperação
e do auxílio mútuo segundo o qual aqueles que se encontram na mesma situação
desvantajosa de competição conseguem, pela soma de esforços, garantir
a sobrevivência. Como fato econômico, o cooperativismo atua no sentido de reduzir os
custos de produção, obter melhores condições de prazo e preço, edificar instalações de
uso comum, enfim, interferir no sistema em vigor à procura de alternativas a seus
métodos e soluções (WIKIPÉDIA, 2017).
Como ressalta-se na citação acima o associativismo cooperativista relacionasse de forma direta
com o progresso social de pessoas/trabalhadores que se encontra em uma situação desvantajosa, como
vimos anteriormente, estudos mostram que os catadores de materiais recicláveis estão à margem da
sociedade, tem baixa escolaridade e não consegue se inserir no mercado de trabalho formal.
Diferentemente dos país industrializados em que tem relativa abundância de capital e uma escassez de
mão de obra barata, países em desenvolvimento como o Brasil, tem abundância de mão de obra barata,
14
já que existe uma parcela da população sem qualificação técnica ou de ensino superior, e escassez de
capital (SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO, 2012). Nesse sentido, são muito urgentes a reflexão e o
desenvolvimento de programas de educação e qualificação dos catadores de material recicláveis, bem
como, do fortalecimento de cooperativas criadas por eles.
Segundo Souza, Paula e Souza-Pinto (2012) existe três integrantes da cadeia da reciclagem no
Brasil:
Os integrantes da cadeia de reciclagem no Brasil são os catadores, os sucateiros e as
indústrias. Os catadores, apesar da relevância do seu trabalho para os municípios,
trazendo benefícios sociais, econômicos e ambientais por meio da agregação de valor
aos materiais recicláveis recolhidos, são pouco valorizados e são os que menos se
beneficiam dessa atividade. As indústrias compram normalmente materiais de
sucateiros, que possuem infraestrutura e equipamentos adequados para fornecer
grandes quantidades e qualidade, diferentemente dos catadores, que se encontram
dispersos, sem as condições necessárias para negociar diretamente com a indústria.
(SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO., 2012, p. 246).
Um aspecto muito importante e que a maioria das pesquisas sobre cooperativismo, voltado para
a reciclagem de resíduos sólidos ressaltam, é a desvalorização e os poucos benefícios ganhados pelos
catadores de materiais recicláveis. Estudos mostram que apesar da geração de riqueza e do capital
econômico movimentado pelos catadores, estes não conseguem ascender socialmente, não conseguem
modificar a sua realidade social. A reprodução social, econômica e escolar desses catadores faz com que
se permaneça no mercado mão de obra barata, sem qualificação. Mantendo assim uma estrutura em que
os menos beneficiados são os catadores, sendo eles, diariamente modificados psicologicamente e
fisicamente pelas péssimas condições de trabalhos e pelos estigmas sociais que os excluem da
sociedade.
A grande produção de lixo gerada por residências, indústrias, construção civil, empresas
privadas e públicas é um problema não só no Brasil, mas também de outros países da América Latina. O
grande desafio, principalmente, dos países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é o
descarte correto do lixo que são produzidos pelos diferentes segmentos sociais (FILHO, s/d). Nesse
contexto a reciclagem aparece como uma alternativa positiva.
Segundo Resende (2013) a reciclagem é uma importante forma de tratamento dos resíduos
sólidos, pois promove a proteção do meio ambiente, a geração de emprego e renda para os catadores de
materiais recicláveis. Nesse sentido, o conceito de lixo tem sido transformado ao longo do tempo,
fazendo parte de um processo que envolve políticas públicas, campanhas de conscientização, incentivos
financeiros para empresas, universidades e órgão públicos estimularem a criação de cooperativas,
associações e projetos sociais cujo foco é os resíduos sólidos.
Resende (2013) ressalta a Lei 12.305/2010 da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em seu art.
9º, caput, que enfatizou especialmente à redução, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos com o
15
escopo de proporcionar a reinserção dos resíduos sólidos na cadeia produtiva. Um dos objetivos dessa
lei é tanto a preservação do meio ambiente e de geração de renda, como a redução de gastos públicos
com a manutenção e preservação dos aterros sanitários. No art. 8º, inciso IV, daquela Lei determina que
haja incentivo para à criação e desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.
Como mencionado anteriormente, alguns autores chamam atenção para o perfil dos catadores de
materiais recicláveis, que normalmente são oriundos das classes sociais mais baixas da sociedade, são
jovens e adultos de ambos os sexos, às vezes usuários de drogas e que estão à margem da sociedade e
não conseguem um emprego formal (FILHO, s/d; RESENDE, 2013). O trabalho dos catadores de
materiais recicláveis e das cooperativas e associações desse ramo tem movimentado a economia
significativamente. Citando Paulo Mozart da Gama e Silva Resende (2013) destaca que se estima que
existam aproximadamente 1.000.000 (um milhão) de catadores em vazadouros de lixo, cujos negócios
decorrentes de suas atividades movimentam R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais) por ano. O
dado revela a potência econômica da reutilização de material reciclável. Contudo, nem sempre a riqueza
gerada reverbera nas condições de vida e de trabalho dos catadores filiados ou não a cooperativas e
associações.
Em suma, a análise mais profunda sobre como o poder público e privado trata o descarte dos
resíduos sólidos e sobre as condições que eles dão para os catadores de materiais recicláveis,
cooperativas e associações desse ramo é indispensável na hora da elaboração e execução do programa
de capacitação e orientação que este trabalho busca produzir.
Nesse sentido, entende-se que tanto os órgãos públicos quanto empresas privadas, bem como, a
sociedade em geral, produzem o problema da supergeração de lixo, que nem sempre são recicláveis,
mas que afetam drasticamente o meio ambiente. Por isso, todos nós somos responsáveis e devemos
procurar medidas para equilibrar e superar os problemas causados pelo o lixo gerado.
Acredita-se que os catadores, as cooperativas e as associações de material reciclável são uma
alternativa positiva para a problemática do lixo. Contudo, é importante que sejam desenvolvidos
práticas e programas de qualificação profissional que permita aos catadores modificar efetivamente sua
condição social.
16
2. “O Lixo é Luxo”: encontrando uma oportunidade de negócio
Como dito anteriormente o principal resultado esperado por essa pesquisa é o desenvolvimento
de um programa de capacitação e orientação que qualifique os cooperados e que eles se reconheçam no
processo de aprendizagem. Sendo assim, este capítulo tem como objetivo apresentar alguns dados
secundários, afim de se fundamentar a oportunidade de negócio encontrada. Antes disso, é válido que se
faça algumas considerações metodológicas.
Segundo Quivy e Campehoudt (1998) através de um roteiro de entrevista aberto, é possível
apreender e interpretar o sentido que os indivíduos dão à sua vida, no nosso caso buscamos
compreender o sentido que os catadores de material de reciclável dão à sua atuação na cooperativa de
material reciclável. Para compreender melhor o cotidiano da cooperativa e seu funcionamento houve a
observação participante, conforme o sociólogo interacionista Howard Becker defende que tal método
tem como função a “coleta de dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou
organização que estuda” (BECKER, 1999). De forma complementar a esses métodos, foi realizado
ainda um mapeamento de informações sobre as cooperativas de material existentes em Sergipe e de
forma específica da cooperativa analisada, além disso, foi feita também uma revisão bibliográfica a
respeito do tema estudado. Segundo Vergara (1998) a pesquisa documental é realizada no interior de
órgão públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas. No caso deste trabalho foi realizado
com suporte em jornais eletrônicos, em sites de órgãos públicos e em mídias sociais. Com relação à
pesquisa bibliográfica a autora destaca que ela ocorre através do estudo sistematizado com base em
material público em revistas, livros, jornais, redes eletrônicas, entre outros. Nesta pesquisa consultou-se,
principalmente, artigos publicados em meio digital.
Como visto anteriormente, as cooperativas de materiais recicláveis nos últimos anos têm
ganhado destaque nacionalmente e internacionalmente não só como um tipo de empreendedorismo e
negócio social que tem impacto direto na sociedade e no meio ambiente, mas como um negócio com
grande lucratividade, com impacto positivo na economia do país. Contudo, ainda há muito a ser feito
sobre a conscientização da coleta seletiva e sobre o importante papel das cooperativas de material
reciclável e dos cooperados. Os catadores ainda são discriminados, normalmente estão à margem da
sociedade e não tem uma qualificação mínima sobre empreendedorismo, negócios, direitos trabalhistas,
ou outros tipos de qualificação. Além disso, falta incentivo público e uma publicização das
oportunidades de negócios nesse setor.
Uma pesquisa recente divulgada na Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios na edição
do mês de maio de 2017, traz um mapa social dos negócios sociais do Brasil. Os dados apresentados são
relevantes para a pesquisa aqui desenvolvida por que mostra como o desenvolvimento dos negócios
17
sociais no Brasil é recente e como ainda é pouco institucionalizado, carecendo também de investimentos
financeiros e parceiros, por exemplo. Abaixo cita-se alguns dados dessa pesquisa:
Gráfico 1 – Radiografia do Bem/Tempo de atividade
Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios (2017).
Participaram do censo 579 empresas, um número significativo que demonstra um mercado de
trabalho crescente, tendo em vista que 40% dessas empresas têm menos de três anos. E, 29% não
possuem Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, tal regulamentação traz muitas vantagens
trabalhistas e também possibilita a conquista de investidores anjos e outros parceiros, contudo nem toda
empresa social tem condições de arcar com os custos da regularização da empresa.
A imagem abaixo mostra quais são as áreas em que os negócios sociais atuam:
Imagem 1 – Radiografia do Bem/Área de atuação
Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios (2017)
Como pode ser visto acima as principais áreas são a de Educação e Tecnologias Verdes,
totalizando 61%. A oportunidade de negócio visualizada e desenvolvida nesse trabalho se situa nessas
duas áreas também tendo em vista o desenvolvimento um programa de cursos e capacitação para um
público específico, que são os catadores de material reciclável que atuam em cooperativa.
Outro dado interessante apresentado nessa pesquisa é o da localização geográfica desses
negócios sociais, como é apresentado no mapa abaixo:
18
Gráfico 2 -Radiografia do bem/Localização da sede
Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios (2017).
A região em que mais se desenvolve negócios sociais é na região sudeste, tendo um total de 63%
da amostra. Norte e Centro-Oeste têm a pior porcentagem, Nordeste também fica muito aquém da região
Sudeste. Contudo, apesar dessas últimas regiões serem ainda pouco desenvolvidas com relação ao
empreendedorismo social, revela uma oportunidade de negócio e um mercado a ser explorado.
Pensando o caso de Sergipe já existem algumas iniciativas, por exemplo, entre o Banco Yunus e o
SENAC e mesmo as cooperativas de material reciclável já formalizadas e em processo de formalização.
Tendo em vista o importante papel das cooperativas de material reciclável para a sociedade, a
economia, o desenvolvimento do empreendedorismo e principalmente para o meio ambiente, esse
trabalho busca através do programa de capacitação e orientação que será desenvolvido junto à
cooperativa previamente definida: aperfeiçoar, qualificar e potencializar os serviços da cooperativa,
mostrar e valorizar a importância do trabalho de cooperativas junto ao poder público e privado,
estimular e auxiliar no surgimento de novas cooperativas.
19
3. Programa de Capacitação: realidade, conhecimento e oportunidade
Como dito no início deste trabalho analisamos uma cooperativa de material reciclável localizada
na cidade de Nossa Senhora de Socorro, no estado de Sergipe, tal cidade fica a poucos minutos da
capital do estado. Com base nos dados coletados através das entrevistas e conversas com os cooperados
e dirigentes da cooperativa, bem como, das observações participantes e do material coletado na internet
sobre a instituição, este capítulo tem dois objetivos: apresentar e caracterizar a cooperativa analisada no
que se refere ao perfil dos cooperados, a sua história até chegar a cooperativa, seus sonhos e ainda dados
sobre a renda mensal de cada um, escolaridade, entre outros aspectos; o segundo objetivo é apresentar a
proposta de um curso de capacitação e aperfeiçoamento que pode ser tanto aplicado à realidade dessa
cooperativa, como nas demais cooperativas do estado. Contudo, é importante ressaltar que a aplicação
desse programa em outras cooperativas necessita de ajustes a realidade das mesmas.
A cooperativa analisada é composta por 15 membros, sendo que são 11 mulheres e 4 homens.
Na diretória existe os cargos de presidente, vice-presidente, diretor financeiro, diretor operacional e
diretor pressional, além desses cargos a fundadora da cooperativa fica com a parte de relações públicas.
A cooperativa surge após o fim dos lixões na cidade de Socorro e de Aracaju, todos que trabalham na
cooperativa hoje já trabalharam no lixão. Alguns se conhecem desde a época do lixão e foram
determinantes para criação e permanência da cooperativa. De forma mais específica, dos 13
entrevistados, 10 entraram em 2011, ano de fundação, os outros três entraram no ano de 2012, 2013 e
2016. Todos antes de entrar na cooperativa já trabalharam nos lixões que existiam nas cidades citadas
anteriormente. Conforme pode ser visto na Tabela 1 a seguir:
Tabela 1- Narrativas
Antes de trabalhar na cooperativa onde você trabalhava, e fazendo o quê?
“Trabalhava no lixão quase 3 anos, e na feira livre e na firma” [empresa de construção civil].
“Antes trabalhava no lixão desde 2002, trabalhei como empregada doméstica”.
“Durante 10 anos trabalhei no lixão e como catadora de rua e antes como empregada doméstica”.
“Antes trabalha no Lixão, durante 12 anos. Antes trabalhei também em uma empresa de fornecimento de água”.
“Antes trabalhava no lixão, trabalhei durante uns 10 anos”.
“Antes trabalhava no lixão, desde de quando meus filhos eram pequenos”.
“Trabalhava no lixão desde 2001 e também na construção civil”.
“Trabalhava no lixão da Palestina, durante 8 anos, antes de trabalhar lá, trabalhava na feira no sábado e no domingo”.
“Antes no lixão, passei 25 anos. Antes do lixão eu era pedreiro”.
“As vezes fazia faxina, mas era dona de casa, trabalhei no lixão durante 19 anos”.
Trabalhei no lixão desde quando meus filhos eram pequenos, durante uns 30 anos.
“Antes no lixão, durante 12 anos. Minha profissão é pintor”.
Fonte: elaboração própria.
20
Como a Tabela 1 apresenta apenas uma pessoa trabalhou menos que 10 anos no lixão, as
atividades desempenhadas pelos cooperados antes ou concomitante ao trabalho de catador de material
reciclável, também são trabalhos que não necessitam de conclusão do ensino médio e muito menos de
um curso superior. Pedreiro, pintor, dona de casa, feirante, empregada doméstica e faxineira, são
atividades desempenhadas principalmente por pessoas com baixa escolaridade e que as vezes são
colocadas à margem da sociedade. Os dados referentes ao nível de escolaridade dos cooperados
reafirmam isso, como demonstrado no gráfico seguinte:
Gráfico 3 - Escolaridade
Fonte: Elaborado pela autora.
A maioria dos cooperados não chegou a terminar nem o ensino fundamental, precisamente oito
cooperados não concluíram, apenas uma pessoa tem o ensino médio incompleto e três pessoas não
sabem nem ler e nem escrever. É interessante ressaltar que a pessoa que tem o maior grau de
escolaridade é aquela que fundou a cooperativa e fica responsável pelas relações públicas da
cooperativa, que seria conceder entrevistas, buscar parcerias, viajar para eventos fora do estado,
palestrar em eventos e outros.
Foi possível perceber que o nível escolar é algo valorizado, praticamente todos gostariam de
concluir o ensino básico. Não foi observado um desejo espontâneo de fazer um curso superior ou
técnico, talvez por conta da distância da realidade vivenciada por eles. Por outro lado, havia um desejo
de aprender a ler e escrever daqueles que não sabem e de conclusão dos estudos daqueles que não
completaram, com exceção de um cooperado, o mais velho da equipe. A Tabela 2 abaixo mostra o sexo
e a idade dos cooperados:
21
Tabela 2 – Sexo/Idade
Sexo Idade Sexo Idade
Feminino 41 anos Masculino 45 anos
Feminino 42 anos Masculino 52 anos
Feminino 45 anos Masculino 53 anos
Feminino 46 anos Masculino 64 anos
Feminino 47 anos
Feminino 53 anos
Feminino 54 anos
Feminino 58 anos
Fonte: elaboração própria.
Algumas mulheres são chefas de famílias ou os maridos estão desempregados, outras dividem as
despesas com o cônjuge. O lixão e a cooperativa foram a oportunidade visualizadas por elas para
conseguir dinheiro para sobreviver e sustentar os filhos. Apesar de que todos cooperados alegarem que
no lixão ganhavam mais e recebiam o dinheiro na hora que vendia o material coletado, há muitas
vantagens de se trabalhar na cooperativa. O gráfico seguinte se refere a renda mensal dos cooperados:
Gráfico 4 – Renda Mensal
Fonte: elaboração própria.
Apenas uma pessoa possui renda mensal familiar um pouco maior que um salário mínimo.
Todos os cooperados trabalham oito horas por dia e cinco dias por semana. Um dos desejos
compartilhados por todos é que eles possam contribuir para o INSS e que possam ganhar um ou mais de
um salário mínimo na cooperativa. Por um lado, há um descontentamento com o pouco dinheiro
recebido na cooperativa, por outro lado há uma expectativa de crescimento profissional dentro da
cooperativa e uma segurança e satisfação de estar fazendo parte da instituição e não mais nos lixões ou
nas ruas, como é possível perceber nas narrativas seguintes:
22
“No lixo ficava no sol, na lama, na carniça, fui furada com uma injeção na perna, fui para o
médico, mas não peguei nenhuma doença, aqui é mais seguro” (Cooperada, 53 anos).
“Mudou o modo da sociedade ver a gente, antes via a gente como catador de lixo, hoje já ver a
gente como empresa, quando a gente chegava em uma empresa pra pedir ajuda, mandava ficar
esperando, dava um chá de cadeira, hoje não” (Cooperada, 42 anos).
“Deixei de trabalhar no lixão, nas ruas, não trabalho junto com os urubus, na lama, melhorou
muito minha vida” (Cooperada, 58 anos).
“Estamos amparadas, estamos mais seguras, do que quando estávamos no lixão. Ganha
pouco, mas vai melhorar” (Cooperada, 54 anos).
O reconhecimento social é muito importante no processo de valorização dos catadores de
materiais recicláveis. Colocamos a valorização como um processo, pois acreditamos que isso depende
de uma conscientização de todas instituições sociais: escola, família, Estado, igreja, até chegar na
autovalorização dos catadores cooperados. Apesar do local onde a cooperativa não ser o espaço ideal e
por conta disso eles não conseguem expandir a cooperativas e também os lucros, os cooperados
valorizam muito o espaço.
Além desses dados que se referem mais ao perfil dos cooperados, foram feitas algumas perguntas
referentes as dificuldades enfrentadas pelos cooperados e sobre cursos que eles gostariam de fazer.
Verificou-se que muitos deles já participaram de diversos cursos nas áreas de gestão, educação
financeira, planejamento, informática, artesanato, entre outros. Contudo, os cursos são realizados fora da
cooperativa e juntos com outras cooperativas, o que por um lado há uma troca de conhecimento entre
diferentes cooperativas, mas por outro dificulta o processo de aprendizagem. Os cursos são geralmente
financiados por parceiros como Sistema S, Petrobrás e outras instituições.
A partir dos relatos concluiu-se que os cursos são muito importantes para o crescimento
profissional dos cooperados e para as atividades desempenhadas na cooperativa. Contudo, há uma
precariedade na aplicação do conhecimento adquirido nos cursos no dia a dia da cooperativa, bem como,
uma dificuldade na socialização do conhecimento entre todos os membros da cooperativa. Dito de outro
modo, nem todos cooperados conseguem fazer todos os cursos, às vezes por que não podem sair da
cooperativa, outras vezes por ser fora da cooperativa e ainda por situações que se referem à falta de
interesse dos cooperados, mesmo assim, todos afirmaram que os cursos são importantes e necessários.
Nesse sentido, percebe-se que um dos cursos mais significativos para as cooperadas foi o de
artesanato com material reciclável, pois é um “aprendizado rentável”, outro curso ressaltado é o de
informática, que no momento das pesquisas algumas cooperadas estavam fazendo. Alguns cooperados
ressaltaram desafios a serem enfrentados que se relacionam à administração, planejamento das tarefas,
conflitos internos e falta de parcerias.
23
Pensando em tudo que foi relatado e verificando-se uma oportunidade de crescimento e
expansão dessa cooperativa, mas também de problemas cotidianos que precisam ser sanados para que os
cooperados tenham um melhor desempenho e conquistem não só parceiros, mas também outros
cooperados, foi organizado um curso que foca tanto em aspectos objetivos e práticos, quanto nos
aspectos subjetivos que se relacionam à identidade, ao espirito de solidariedade e união entre os
cooperados. Teoricamente laçou-se mão dos conteúdos de algumas disciplinas vistas durante a
Especialização que deu origem a este TCC (ALMEIDA, 2016; BARRETO, 2016; COSTA, 2016;
DUPRAT, 2016; GAMA, 2016; KORMAN DIB, 2016; LAUFER, 2016; ZAREMBA, 2016).
3.1. Curso de capacitação e aperfeiçoamento para cooperativas de material reciclável
O curso terá duração de três meses, no total serão 24 aulas, duas aulas semanais, cada aula com
duração de três horas, totalizado 72 horas no total do curso. Todos cooperados receberão certificado de
conclusão do curso, desde que tenham 75% de presença. A cada uma hora e meia de aula terá um
intervalo de 15 minutos, onde terá disponível suco, café e biscoitos para os cooperados e professor (a)
lancharem. Além disso, receberão uma camisa/uniforme com os símbolos da cooperativa e com os
símbolos das empresas parceiras, como também, será dado o material didático gravado em DVD através
de recurso audiovisual, no formato impresso e em PDF, Kit caderno de anotação, caneta, lápis, borracha,
cartolinas, giz colorido para realização de atividades individuais e em grupo.
A utilização de diferentes recursos didáticos, bem como, de elaborar um programa de curso
teórico-prático se deve ao baixo grau de escolaridade dos cooperados, como foi possível visualizar no
Gráfico 3. Entende-se que a educação e o empreendedorismo devem ser inclusivos e por isso, o foco em
dinâmicas, atividades, metodologias de ensino, que permitam aos cooperados com menor ou maior grau
de instrução compreender e dominar o conhecimento transmitido no curso.
A tabela seguinte apresenta o planejamento das possíveis despesas para colocar o curso em
prática:
Tabela 3 – Despesas
Despesas Quantidade Valor Unitário (R$) Total (R$)
Inscrição por pessoa Até 15 alunos por turma 115,00 1725,00
Professores 4 professores 60 por aula 1.440,00
Material didático Kit 15 kits 7 por kit 105,00
Material didático DVD 15 DVD 3 unidades 45,00
Transporte Três visitas (de Kombi) 166,70 500,00
Lanche 16 pessoas 16 por aula 384,00
Camisa/uniforme 16 pessoas Parceria com empresa privada Doação
Espaço de realização do curso Uma sala Parceria Prefeitura Doação
24
Certificados e outras despesas 16 certificados 300,00 300,00
Total 667,70 4499,00
Fonte: elaboração própria.
Pretende-se fechar parcerias com empresas privadas e prefeitura da cidade, além disso, como
este trabalho se situa dentro da categoria do empreendedorismo social, através de editais o projeto deste
curso será submetido afim de conseguir financiamento para que os cooperados possam realizar o curso
gratuitamente.
Dentro das limitações deste TCC, serão apenas apresentados o objetivo de cada módulo e o tema
de cada aula. A Tabela 4 apresenta o planejamento do curso conforme seus três meses de duração.
Tabela 4 – Programação do Curso
Programação do curso 2017.2
Primeiro Mês
1ª Semana – Módulo I – Quem sou eu?
Objetivo: Refletir sobre o papel do cooperado como indivíduo carregado de experiências e
de uma história de vida, afim de traçar metas individuais.
Aula 1- Educação formal, metas, sonhos e diferentes realidades.
Aula 2- Planejamento estratégico pessoal.
2ª Semana – Módulo II – Empreendedorismo, Cooperativismo, Direitos Trabalhistas
e Ética Profissional.
Objetivo: Apreender conteúdos introdutórios e específicos sobre os conceitos de
empreendedorismo, cooperativismos, direitos trabalhistas e ética profissional, tendo como
foco sempre o cooperativismo de material reciclável.
Aula 3 – Tipos de empreendedorismos, funcionamento e organização de uma cooperativa
segundo a Lei.
Aula 4 – Direitos e deveres trabalhistas no cooperativismo e ética profissional.
3ª Semana – Módulo II – Liderança, trabalho em equipe e características de um
empreendedor
Objetivo: Apresentar e identificar os tipos de características e perfil de lideranças e empreendedores na cooperativa, afim de aprimorar e melhorar o trabalho em equipe.
Aula 5- Diferença entre líder, chefe e treinador.
Aula 6- Perfil do empreendedor e construção de uma equipe.
4ª Semana – Módulo III- Planejamento, habilidades individuais e comunicação no
meio digital
Objetivo: Explicar os conceitos de planejamento e de comunicação digital, afim de que os
próprios cooperados possam dividir tarefas conforme suas habilidades individuais e as
necessidades da cooperativa.
Aula 7- Plano de comunicação no meio digital e divisão de tarefas.
Aula 8- O que é CANVAS? Elaboração de CANVAS por equipe.
Segundo Mês
5ª Semana – Módulo III- Gestão de cooperativas e elaboração de projetos
Objetivo: Explicar de forma introdutória a noção de gestão de cooperativa e de projetos
sociais, afim de que os próprios cooperados tenham capacidade de elaborar um projeto
social sozinhos.
Aula 9 – O que é gestão de cooperativas? Situando as cooperativas de material reciclável.
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Aula 10 – Elementos de um projeto social, editais e agências/empresas de financiamento.
6ª Semana – Módulo III – Gestão de Pessoas e de Conflitos
Objetivo: Explicar o conceito de gestão de pessoas e de conflitos, afim de que os
cooperados reflitam sobre os seus conflitos e dificuldades diárias e as possam gestá-la de
forma a não prejudicar o funcionamento da cooperativa.
Aula 11- Presidente, diretores, cooperados, todos são importantes.
Aula 12- Negociação e resolução de conflitos.
7ª Semana - Módulo III – Mercado, inovação e áreas de atuação
Objetivo: Desenvolver e apresentar a importância de se analisar as tendências de mercado
dentro da área de reciclagem e do cooperativismo, afim de despertar os interesses dos
cooperados em novos nichos de atuação dentro do seu negócio.
Aula 13 – Conhecendo o mercado das cooperativas de material reciclável.
Aula 14 – Tendências de mercado, novas fronteiras e nossa realidade.
8ª Semana – Módulo IV – Gestão autossustentável: visitas técnicas e captação de
parceiros
Objetivo: Praticar os conhecimentos apreendidos nos módulos anteriores, afim de captar
novos parceiros, clientes e recursos para a cooperativa.
Aula 15- Por que ter uma cooperativa autossustentável e como captar novos parceiros.
Aula 16- Visita técnica em 3 escolas públicas e 3 escolas particulares.
Terceiro Mês
9ª Semana- Módulo IV – Gestão autossustentável: visitas técnicas e captação de
parceiros e parceiros
Objetivo: Praticar os conhecimentos apreendidos nos módulos anteriores, afim de captar
novos parceiros, clientes e recursos para a cooperativa.
Aula 17- Visita técnica em 2 supermercados, 2 mercearias de bairro e 2 restaurantes.
Aula 18- Visita técnica em 2 faculdades particulares e na Universidade Federal de Sergipe.
10ª Semana – Módulo IV – Ambiente de trabalho “ideal”
Objetivo: Refletir sobre o ambiente de trabalho no que se refere a infraestrutura, colegas
de trabalho, limpeza, confraternizações, etc., afim de refletir como isso pode atrapalhar ou
melhorar o funcionamento da cooperativa.
Aula 19- Identidade, local adequado, tecnologia e equipamentos.
Aula 20- Família, amizade, solidariedade e pertencimento.
11ª Semana – Módulo V – Valorize seu trabalho, ele muda o mundo
Objetivo: Refletir sobre a valorização e o papel do catador de material reciclável em
Sergipe, no Brasil e no mundo.
Aula 21 –A vida no lixão e a vida na cooperativa- Curta-Metragem | Ilha das Flores (1989).
Aula 22 – “Lixo é luxo”, oportunidade e cuidados com o planeta.
12ª Semana – Produção de memória e confraternização
Objetivo: Confraternizar e registrar memórias da cooperativa, bem como, traçar metas
continuas para a cooperativa desenvolver sozinha.
Aula 23 – Produção de cartas, de vídeos e festinha.
Aula 24 – Pós curso, visita da coordenadora na cooperativa e reunião apenas com os
dirigentes da cooperativa. Fonte: elaboração própria.
O custo total estimado por pessoa será de R$ 300,00 (trezentos reais), incluindo todas as
despesas descritas na tabela 4, totalizando R$ 4.499,00 (quatro mil e quatrocentos e noventa e nove
reais). Como é possível perceber o lucro gerado desse curso reside no pagamento das inscrições. Tal
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lucro, no valor de R$ 1.725,00 (hum mil e setecentos e vinte e cinco reais), será reinvestido no próprio
Instituto Doar-se, para que este custeie despesas de funcionamento, realize outras atividades voltadas
para o cooperativismo de materiais recicláveis e lance o programa de capacitação novamente. Para que
esse curso saia de forma gratuita para os cooperados há três possibilidades disponíveis: submissão de
projetos para concorrer a editais, financiamento da prefeitura e patrocínio de empresas privadas.
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4. Conclusões
O objetivo geral deste trabalho foi o de analisar as relações de trabalho dos catadores de
materiais recicláveis da cooperativa investigada, seu funcionamento e sua organização, a fim de
construir e aplicar um programa de capacitação e de orientação para os dirigentes e cooperados. Desse
modo, os resultados esperados com essa intervenção empreendedora foram: chegar a um quadro geral
do perfil social, escolar e econômico dos catadores, fundamentado tanto a partir da literatura sobre o
tema quanto das entrevistas realizadas com 12 cooperados da cooperativa investigada; (i) ter um
mapeamento das cooperativas de materiais recicláveis em Sergipe e identificar se elas se comunicam
entre si, ou seja, pertencem a uma rede densa de relações, em que essas cooperativas dialogam, se
ajudam, trocam experiências, interagem de alguma forma; e (ii) desenvolver um programa de
capacitação que esteja de acordo com a realidade dos cooperados, ou seja, um programa que eles se
reconheçam e que apreendam conteúdos e ferramentas que possam modificar mesmo que minimamente
sua condição na sociedade e que possam aplicar o conhecimento apreendido afim de melhorar o
funcionamento e organização da cooperativa.
Concluiu-se que todos os objetivos propostos e os resultados esperados foram alcançados. A
partir do mapeamento 10 cooperativas localizadas em três cidades de Sergipe Aracaju, Barra dos
Coqueiros e Nossa Senhora do Socorro. A partir das entrevistas constatou-se que a cooperativa dialoga
com outras cooperativas, principalmente da cidade de Aracaju e com algumas iniciativas de
cooperativas localizadas em outras cidades.
O contato se dá principalmente em cursos patrocinados por empresas privadas e públicas para
cooperativas do ramo e em eventos sobre coleta seletiva e meio ambiente. Os resultados também
revelam que os cooperados tem baixa ou nenhuma escolaridade, tem renda mensal familiar abaixo de
um salário mínimo, que são pessoas que têm dificuldade de se inserir no mercado formal e que são
pessoas com uma faixa etária entre 40 e 60 anos.
Os resultados alcançados se assemelham com aqueles encontrados na literatura consultada neste
trabalho. Foi constado que os menos beneficiados com a riqueza gerada através das cooperativas de
materiais recicláveis, são os catadores. Estes constituem uma mão de obra barata para as indústrias e os
sucateiros, uma vez que não têm qualificações, não têm escolaridade e não conseguem trabalho no
mercado formal.
A cooperativa analisada ainda necessita de atravessadores para vender sua matéria prima, pois
por conta de dificuldades de expansão e falta de parcerias não consegue vender as cargas de matéria
prima direto para indústria, o que segundo uma dirigente, acaba tendo um prejuízo significativo no
salário mensal dos cooperados.
28
Assim, espera-se que o programa de capacitação, elaborado nesta pesquisa, possa de alguma
forma desenvolver o senso crítico dos catadores sobre a sua condição em relação às indústrias e aos
sucateiros, bem como, sobre o valor de seu trabalho para a humanidade e por isso deve ser valorizado e
bem pago. Obviamente esta valorização perpassa pelo poder público e pelas organizações privadas.
Observamos que esse senso crítico e o reconhecimento do trabalho já está muito claro para alguns
cooperados e que a organização dos catadores por meio da cooperativa ajuda a desenvolver um senso de
pertencimento, uma identidade de empresário e uma maior valorização do trabalho que executa.
Concluiu-se ainda que o programa de capacitação desenvolvido neste TCC pode ser aplicado em
outras cooperativas, contudo deve-se antes analisar estas cooperativas afim de conhecer sua realidade e
necessidades, e fazer ajustes no programa caso necessário.
No caso da cooperativa investigada, foi observada a necessidade de se realizar o curso no próprio
espaço da cooperativa, para que todos cooperados possam participar, porém como a cooperativa ainda
não dispõe de sala de reunião e uma estrutura adequada, a solução encontrada foi fechar parcerias com a
prefeitura da cidade, empresas privadas, entre outros. Tal solução também será aplicada para captar
recursos para que o programa seja desenvolvido de forma gratuita para cooperativa, uma vez que a
mesma tem pouco recursos para investir em capacitação e em cursos.
4.1. Considerações Finais
Em suma, durante um ano e meio foram 12 disciplinas e este Trabalho de Conclusão de Curso.
Para mim a especialização em Educação Empreendedora foi a formação acadêmica que eu fiz com mais
prazer, alegria e satisfação. Foi apaixonante desde de quando fui aceita para fazer o curso até a defesa
desse trabalho. A especialização ajudou-me a encontrar o foco da minha carreira, a focar nos temas
profissionais que me interessam, nas minhas melhores habilidades, nos meus projetos futuros e que
ainda está por vir. Me desafiou.
Pesquisar as relações de trabalho, o funcionamento e organização nas cooperativas era um
interesse de estudo antigo que se realizou com a pesquisa, é algo sem dúvida que irei trabalhar por
muitos e muitos anos, de forma direta ou indireta.
De forma prática, pretendo elaborar e executar projetos na área do cooperativismo, pretendo
lecionar disciplinas em faculdades e universidades particulares e públicas dentro da área do
cooperativismo e do empreendedorismo social, pretendo trabalhar com consultoria e assessoria dentro
dessas duas áreas também. Enfim, quero replicar o conhecimento acumulado durante a especialização.
29
Referências Bibliográficas
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Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2016.
ARANTES, Bruno Otávio; BORGES, Livia de Oliveira. Catadores de materiais recicláveis: cadeia produtiva e
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DUPRAT, Eduardo. Noções Básicas de Gestão de Projetos e Processos. Brasília, DF: SEBRAE; Rio de
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GAMA, Carlos Alberto Pegolo da; KODA, Mirna Yamazato. Cooperativismo e reciclagem de resíduos sólidos:
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KORMAN DIB, Sandra. Desenvolvimento de negócios e carreiras empreendedoras. Brasília, DF: SEBRAE;
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Brasília, DF: SEBRAE; Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2016.
30
Apêndice I
Roteiro de entrevista semiestruturadas
EDU. Emp. TCC Intervenção Cooperativas
1. Nome
2. Idade
3. Escolaridade
Marcar apenas uma.
Ensino fundamental Incompleto
Ensino fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Outro (por favor, especifique)
4. Estado Civil
Marcar apenas uma.
Solteiro (a)
Casado (a)
Divorciado (a)
Outro (por favor, especifique)
5.Qual é a sua função na cooperativa?
6.Desde quando você faz parte da cooperativa?
7. Antes de trabalhar na cooperativa onde você trabalhava, e fazendo o quê?
8. Quantas horas por dia você trabalha na cooperativa?
9. Tem mais alguém da sua família que trabalha na cooperativa?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
10. O que mudou em sua vida depois que você entrou na cooperativa?
11. Qual renda mensal da sua família?
Marque apenas uma.
Menos de um salário mínimo
Um salário mínimo (R$ 937,00)
Dois salário mínimo (R$ 1.874,00)
Outro
12. Na sua opinião quais são as dificuldades enfrentadas pela cooperativa hoje?
13. Na sua opinião tais dificuldades se relacionam com alguma dessas questões?
31
Marque todas que se aplicam.
Financeira
Administrativas
Tecnológicas
Infraestrutura
Qualificação (cursos, oficinas, palestras, etc.)
Outra (por favor, especifique)
14. Quais são os seus sonhos com relação a cooperativa?
15. Você gostaria de ter um curso em alguma dessas áreas?
Marque todas que se aplicam.
Administrativa
Empreendedorismo
Finanças
Tecnologia
Informática
Regulamentação e direitos trabalhistas no cooperativismo
outros (por favor, especifique)
16. Teria algum curso profissionalizante, técnico, superior, que você gostaria de fazer?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
Talvez
17. Qual curso?
18. A Reviravolta faz parte da Federação das Cooperativas dos Catadores e
Selecionadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis de Sergipe?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
19. A Reviravolta recebe algum tipo de incentivo de alguma empresa privada ou da prefeitura
de Socorro?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
20. Na sua opinião é importante a participação em eventos, palestras, cursos?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
21. Por que?
22. Você já participou de algum curso, palestra, evento, pela cooperativa?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
32
23. Você tem contato com outras cooperativas de material reciclável ou com pessoas que
fazem parte?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
24. Se não, gostaria de ter?
Marcar apenas uma.
Sim
Não
Talvez
25. Para finalizar, na sua opinião qual a importância do seu trabalho para sociedade e para o
meio ambiente?