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407 Stress, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com dor de cabeça Stress, anxiety symptoms and depression on women with headache Estrés, síntomas de ansiedad y depresión en mujeres con dolor de cabeza Vivian Mascella 1 Pontifícia Univ. Campinas (PUCCamp) Nádia Vieira 2 Pontifícia Univ. Católica S.Paulo (PUC/S.Paulo) Luiz Carlos Beda 3 Univ. do Rio Grande do Sul (RG) e Pontifícia Univ. Católica/São Paulo (PUC/SP) Marilda Emmanuel Novaes Lipp 4 University George Washington and Institute of Health Resumo: Aceita como um sintoma psicofisiológico, a cefaleia tem sido avaliada como preocupante, já que pode levar a redução e prejuízo nas capacidades do indivíduo. Em atendimento primário, a cefaleia aparece como a segunda queixa mais comum de dor sendo considerada um grande problema de saúde pública. Estima-se que mais da metade da população apresente algum tipo de cefaleia em determinada fase da vida, e em grande parte, de forma crônica. A maioria das cefaleias é de causa primária. Entre elas, as mais corriqueiras são a migrânea ou enxaqueca e as cefaleias do tipo tensional. O impacto da migrânea para o indivíduo não se restringe somente à crise de dor de cabeça, mas também afeta sua qualidade de vida. A migrânea aumenta com o passar dos anos, estando entre as 20 mais incapacitantes doenças do ser humano. A presente pesquisa tem como objetivo avaliar o stress, a ansiedade e a depressão em mulheres com dor de cabeça. Participam 31 mulheres, sendo que 16 apresentam migrânea e 15, cefaleia, tipo tensional (CTT), na faixa etária de 18 a 72 anos. Os resultados revelam que 100% das mulheres com migrânea apresentam stress, enquanto que 66,67% das mulheres com CTT são estressadas. No que se refere à ansiedade 31,25% das mulheres com migrânea estavam em nível moderado, enquanto que 60% das mulheres com CTT apresentam um nível mínimo. Com relação à depressão, 37,50% das mulheres com migrânea encontram- se em níveis moderados, e 53,33% das mulheres com CTT apresentam níveis mínimos de depressão. É relevante destacar que, embora a amostra da pesquisa seja reduzida, os resultados encontrados são semelhantes aos de outros estudos, e confirmam a necessidade 1 Psicóloga, Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação (PUC-Campinas), bolsista CAPES. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS). Brasil. Contato: Rua Antônio Bravo Lopes, 26- Cond. Res. Villa dos Ingleses, Sorocaba- SP, CEP: 18051-869. Brasil Tel.: (15) 99105-5887. E-mail: [email protected] 2 Neurologista - PUC/SP. Contato: Rua Braz Laino, 71- Jd. Emília- Sorocaba-SP, CEP: 18031- 020. Brasil Tel.: (15) 338-87670. E-mail: [email protected] 3 Neurologista - (URG-RS), PUC/SP e South Dakota (USA). Contato: Rua Braz Laino, 71- Jd. Emília- Sorocaba-SP, CEP: 18031-020. Brasil Tel.: (15) 3234-7574. E-mail: [email protected] 4 Psicóloga - American University. Mestre e PhD- George Washington University. Pós doutorado em stress social - National Institute of Health, dos EUA. PRESIDENTE FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE TERAPIAS COGNITIVAS (FBTC) e Diretora- Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS). Contato: Rua Tiradentes, 289 – Conj. 91 –Guanabara, Campinas-SP, CEP: 13023-190. Brasil Tel.: (19) 3234-0288. E-mail: [email protected] Bol. Acad. Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil - V. 34, n o 87, p. 407-428

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• Stress, sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com dor de

cabeça

Stress, anxiety symptoms and depression on women with headache

Estrés, síntomas de ansiedad y depresión en mujeres con dolor de cabeza

Vivian Mascella1

Pontifícia Univ. Campinas (PUCCamp)

Nádia Vieira2

Pontifícia Univ. Católica S.Paulo (PUC/S.Paulo)

Luiz Carlos Beda3

Univ. do Rio Grande do Sul (RG) e Pontifícia Univ. Católica/São Paulo (PUC/SP)

Marilda Emmanuel Novaes Lipp4

University George Washington and Institute of Health

Resumo: Aceita como um sintoma psicofisiológico, a cefaleia tem sido avaliada comopreocupante, já que pode levar a redução e prejuízo nas capacidades do indivíduo. Ematendimento primário, a cefaleia aparece como a segunda queixa mais comum de dorsendo considerada um grande problema de saúde pública. Estima-se que mais da metadeda população apresente algum tipo de cefaleia em determinada fase da vida, e em grandeparte, de forma crônica. A maioria das cefaleias é de causa primária. Entre elas, as maiscorriqueiras são a migrânea ou enxaqueca e as cefaleias do tipo tensional. O impacto damigrânea para o indivíduo não se restringe somente à crise de dor de cabeça, mastambém afeta sua qualidade de vida. A migrânea aumenta com o passar dos anos,estando entre as 20 mais incapacitantes doenças do ser humano. A presente pesquisatem como objetivo avaliar o stress, a ansiedade e a depressão em mulheres com dor decabeça. Participam 31 mulheres, sendo que 16 apresentam migrânea e 15, cefaleia, tipotensional (CTT), na faixa etária de 18 a 72 anos. Os resultados revelam que 100% dasmulheres com migrânea apresentam stress, enquanto que 66,67% das mulheres comCTT são estressadas. No que se refere à ansiedade 31,25% das mulheres com migrâneaestavam em nível moderado, enquanto que 60% das mulheres com CTT apresentam umnível mínimo. Com relação à depressão, 37,50% das mulheres com migrânea encontram-se em níveis moderados, e 53,33% das mulheres com CTT apresentam níveis mínimosde depressão. É relevante destacar que, embora a amostra da pesquisa seja reduzida, osresultados encontrados são semelhantes aos de outros estudos, e confirmam a necessidade

1 Psicóloga, Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação (PUC-Campinas), bolsistaCAPES. Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Instituto de Psicologia eControle do Stress (IPCS). Brasil. Contato: Rua Antônio Bravo Lopes, 26- Cond. Res. Villa dosIngleses, Sorocaba- SP, CEP: 18051-869. Brasil Tel.: (15) 99105-5887. E-mail:[email protected] Neurologista - PUC/SP. Contato: Rua Braz Laino, 71- Jd. Emília- Sorocaba-SP, CEP: 18031-020. Brasil Tel.: (15) 338-87670. E-mail: [email protected] Neurologista - (URG-RS), PUC/SP e South Dakota (USA). Contato: Rua Braz Laino, 71- Jd.Emília- Sorocaba-SP, CEP: 18031-020. Brasil Tel.: (15) 3234-7574. E-mail:[email protected] Psicóloga - American University. Mestre e PhD- George Washington University. Pós doutoradoem stress social - National Institute of Health, dos EUA. PRESIDENTE FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE

TERAPIAS COGNITIVAS (FBTC) e Diretora- Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS). Contato:Rua Tiradentes, 289 – Conj. 91 –Guanabara, Campinas-SP, CEP: 13023-190. Brasil Tel.: (19)3234-0288. E-mail: [email protected]

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de elaboração de um tratamento psicológico adequado para mulheres que sofrem demigrânea e CTT, visando à promoção da saúde e melhora da qualidade de vida.

Palavras - chave:Stress; depressão; dor de cabeça.

Abstract: Accepted as a psychological sympton, the headache has been evaluated with

concern, since it can lead to limitation and damage to an individual’s capacities. In

primary attendance, headache appears as the second most common complaint of pain,

considered as a great problem of public health. It is estimated that more than half of the

population presents some type of headache in some phase of life, and a great part, in a

chronic way. Most headaches have a primary cause. Among them, the most common

are migraine and those of a tensional type. The impact of migraine on an individual is not

only on a headache crisis, but it also affects its quality of life. Migraine increases with

age, and is considered as one of the 20 most incapacitating sicknesses of the human

being. The current research had as a goal to evaluate stress, anxiety and depression on

women with headache. 31 women participated; from these, 16 had migraine and 15 had

tension-type headache (TTH), with ages between 18 and 72. Results revealed that

100% of women with migraine had stress, from these 50% were resisting it and 43,75%

were near exhaustion, as 66,67% of women with TTH showed stress. In relation to

anxiety, 31,25% of women with migraine had a moderated level, while 60% of women

with TTH showed a minimum level. As for depression, 37,50% of women with migraine

revealed moderated levels, and 53,33% of women with TTH presented minimum levels

of depression. It is worth noting that, although the research sample is small, the results

met are similar to other studies, and confirm the need to elaborate a psychological

treatment for women who suffer from migraine and TTH, aimed at health promotion and

improved life quality.

Keywords: Stress; depression; headache.

Resumen: Aceptada como un síntoma psicofisiológico, la cefalea ha sido evaluada

como preocupante, ya que puede conducir a la reducción de las capacidades de la

persona. En la atención primaria, la cefalea aparece como la segunda queja más común

de dolor, siendo considerada como un importante problema de salud pública. Se estima

que más de la mitad de la población tuvo algún tipo cefalea en algún momento de la vida

y gran parte, de manera crónica. La mayoría de estas es causa primaria. Entre estas,

las más comunes son la migraña o jaqueca y la cefalea tensional. El impacto de la

migraña en los individuos, no se limita sólo a la crisis de dolor de cabeza, sino que

también afecta su calidad de vida. La Migraña aumenta con los años, estando entre las

20 enfermedades más discapacitantes de los seres humanos. Esta investigación tiene

como objetivo evaluar el estrés, la ansiedad y la depresión en las mujeres con dolor de

cabeza. Participan 31 mujeres, 16 presentan migraña y el restante cefalea tensional

(CTT), con edades comprendidas entre los 18 y 72 años. Los resultados muestran que

el 100% de las mujeres con migrañas presentan estrés, mientras que el 66,67% de las

mujeres con CTT están estresadas. Con respecto a la ansiedad, 31,25% de las mujeres

que sufren de migrañas tienen un nivel moderado, mientras que el 60% de las mujeres

con CTT muestran niveles mínimos. Con respecto a la depresión, 37,50% de las mujeres

con migraña se encuentran en niveles moderados, y 53,33% de las mujeres con CTT

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niveles mínimos de depresión. Vale la pena señalar que, aunque la muestra de

investigación es pequeña, los resultados encontrados en esta, son similares a otros

estudios, y confirman la necesidad de elaborar un tratamiento psicológico adecuado

para las mujeres que sufren de migraña y CTT, destinado a la promoción de la salud y

la mejora de la calidad de vida.

Palabras claves: Estrés, depresión, dolor de cabeza.

Introdução

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCe) (2009), cefaleiaé sinônimo de dor de cabeça e esse termo engloba todas as dores de cabeçaexistentes. Por ser na cabeça, e a maior parte das vezes no crânio, o estudo dacefaleia consequentemente coube aos médicos neurologistas, e os avanços obtidosnesta área se devem a estes especialistas (Raffaelli Jr., Silva Néto & Roesler,2005). No entanto, devido ao fato de que fatores psicológicos são frequentementerelatados por pacientes com esta queixa, psicólogos da saúde estão gradativamentese voltando para o estudo e a pesquisa sobre cefaleia (Mascella, 2011).

Atualmente a cefaleia é uma das queixas mais frequentes na prática médica,sendo considerada um grande problema de saúde pública. Estima-se que mais dametade da população apresente algum tipo de cefaleia em determinada fase davida, e em grande parte, de forma crônica (Nobre, 2006). De acordo comTopczewski (2002) a cefaleia não é uma queixa que está se tornando mais comumcom o passar dos anos, porém, está sendo melhor avaliada, mais valorizada emais estudada pelos especialistas. Sendo que as modificações psicossociais, osnovos e diversos hábitos alimentares, além do estilo de vida podem serconsiderados como as principais causas da maior incidência da cefaleia.

Aceita como um sintoma psicofisiológico, a cefaleia, muitas vezes, tem sidoconsiderada como preocupante, já que pode levar a redução e prejuízo nascapacidades do ser humano. O conceito de diminuição das capacidades propostopela Organização Mundial da Saúde (OMS) (2001) designa qualquer restrição oufalta de capacidade para realizar uma atividade de modo considerado normal,intervindo no livre desempenho das atividades de vida diária de uma pessoa,desde aquelas relacionadas à atuação profissional – como perda de dias detrabalho, evitar realizar atividades físicas, de lazer e convívio social, até alteraçõesno estado de humor, além de outros (Bosco, 2006). As cefaleias merecem maisatenção, especialmente sobre as estratégias que levam a adequada prevençãoprimária, diagnóstico e tratamento (Rasmussen, 2001).

A cefaleia crônica está associada à má qualidade de vida, menorprodutividade no trabalho e/ou no estudo, diminuição da atenção e concentraçãoe dificuldades no relacionamento interpessoal; portanto, a resolução deste problematem grande interesse social e econômico (Coelho e outros, 2005). Dessa forma ador de cabeça afeta não somente o indivíduo, mas a família com quem ele convive

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e a sociedade como um todo (Solomon, Lipton & Newman, 1992; Lipton & Stewart,1993), e sua prevenção e tratamento adequados são necessários.

Segundo os critérios de classificação internacional das cefaleias daSociedade Internacional de Cefaleias (2004), encontramos as cefaleias primáriasaquelas que acontecem pela primeira vez, sem ter uma relação temporal comoutro transtorno e é reconhecido como causa de cefaleia. Das inúmerasmodalidades clínicas das dores de cabeça, a Migrânea é uma das mais frequentesentre as cefaleias primárias (Silva, 2003). O impacto da Migrânea para o indivíduonão se restringe somente à crise de dor de cabeça, pois foi comprovado que tempior qualidade de vida em comparação a indivíduos com cefaleias não-migranosas,sendo tão incapacitante quanto à depressão (Bigal, Fernandes, Moraes, Bordini,& Speciali, 2000; Krymchantowski, 2008).

Stovner, Zwart, Hagen, Terwindt e Pascual (2006) realizaram uma revisãode estudos epidemiológicos sobre dor de cabeça na Europa, que é parte de umagrande iniciativa do Conselho Europeu do Cérebro para estimar os custosincorridos por causa de distúrbios cerebrais. Resumindo os dados sobre aprevalência de 1 ano, a proporção de adultos com dor de cabeça na Europa foi de51% , 14% com Migrânea e 4% com “dor de cabeça crônica”. Pesquisas feitas noBrasil chegaram a resultados parecidos (Sanvito e outros, 1996). Num estudorealizado em duas cidades do interior do Estado de São Paulo, 55,6% dospacientes atendidos com a queixa de dor de cabeça apresentavam cefaleiaprimária, entre elas, a Migrânea é a mais prevalente (Bigal, Bordini, & Speciali,2000).

Em uma pesquisa realizada por Estatísticas norte-americanas,dinamarquesas e brasileiras apontam que 93% da população, em geral, já tevedor de cabeça em algum momento da vida. Desse número, 31% necessitariam detratamento médico em razão da incapacidade funcional que as crises causam(Raffaelli Jr., Silva Néto & Roesler, 2005). Para a OMS (1980) as cefaleias estãoentre as 10 condições mais incapacitantes para os dois sexos, e entre as cincomais incapacitantes para as mulheres (Lj e outros, 2007).

O estudo da dor de cabeça reporta, necessariamente, à necessidadede compreensão dos mecanismos pelos quais a dor em geral se manifesta. SegundoLipp (2006), existem essencialmente dois tipos de dor: Nociceptiva somática evisceral e Não- nocioceptiva.

A dor nociceptiva somática é uma sensação rude, localizada no tempo e noespaço e descrita como uma facada, ardor e latejamento. Piora com o movimentoe melhora pelo repouso, manifesta-se nos ossos, músculos esqueléticos earticulações. A dor nociceptiva vísceral é vaga, difusa e referida em estruturasdistantes daquelas comprometidas, associada com náusea, vômito e sudorese.Se origina no coração, vesícula, pâncreas e outros órgãos.

A dor Não-nociceptiva seria o segundo tipo e se subdivide em neuropática epsicogênica. A dor Não-nociceptiva neuropática é aquela cuja origem é a lesão ou

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irritação do nervo. São dores ardentes ou penetrantes. Já a Dor não-nociceptivapsicogênica é aquela em que nenhum mecanismo nociceptivo ou neuropáticopode ser identificado e com componentes emocionais suficientes para estabelecercritérios. Geralmente cruzam concomitantemente com transtornos depressivos,de ansiedade, sexuais, somatoformes, fictícios e do sono. Receptores nervosospresentes na pele reagem aos estímulos químicos, mecânicos ou térmicos eencaminham impulsos elétricos através de fibras nervosas até a medula espinhal,por onde as fibras nervosas condutoras da dor passam. Da medula espinhal,essas fibras sobem através do feixe espinotalâmico em direção ao primeiro centroreceptor da dor, o tálamo. A partir do tálamo os estímulos são levados por fibrasnervosas ao córtex, onde são integrados e interpretados de acordo com acodificação que o sistema límbico lhes dá, com base em experiência passada.Quando o impulso chega ao córtex é que a interpretação emocional da dor seinicia. O stress emocional é acompanhado de estimulação dos músculosestriados que, uma vez tencionados, podem contribuir para a sensação dolorosa.

Existem dois modos particulares de associação entre a dor e o stress, poisestes dois fenômenos estão intimamente ligados. O stress pode ser consequênciada dor, ou seja, fontes de tensão e pode ser a consequência da percepção da dor,seja ela aguda, difusa ou crônica. O stress como fator desencadeante ou cooperadorpara a etiologia da dor crônica (Lipp, 2006). Torna-se, portanto, importante estudara contribuição que o stress é capaz de fazer para a ontogênese das doenças emgeral e especificamente para a dor de cabeça.

A reação do stress é um processo complexo, com componentespsicobioquímicos já geneticamente programados no ser humano desde o seunascimento, a fim de ajudá-lo a preservar sua vida. Em doses moderadas, aadrenalina produzida, aumenta a motivação, fornece energia, vigor e pode resultarem alta produtividade. Em doses excessivas ele tem a capacidade de destruir edesequilibrar (Lipp & Malagris, 2001; Ebrecht e outros, 2004).

Stress é um estado de desequilíbrio do funcionamento desenvolvido frentea situações desafiadoras, que levam o organismo a utilizar seus recursos psico-biológicos para lidar com eventos que exijam uma ação mobilizadora.Essencialmente, possui, em sua gênese, a necessidade do organismo lidar comalgo que ameaça sua homeostase ou equilíbrio interno. Quando os recursos domomento são insuficientes devido à vulnerabilidade pessoal, ou à ausência deestratégia de enfrentamento, ou ainda pela gravidade ou intensidade do estressorpresente, o organismo pode ser afetado em sua plenitude com consequênciasgraves para sua saúde física ou mental (Andrade & Lotufo Neto; 2004; Savoia,2004; Steiner & Perfeito, 2004; Yehuda & McEwen, 2004; Steptoe, 2005; Lipp &Rocha, 2005). O reestabelecimento da homeostase se deve a um mecanismoextremamente complexo, herdado geneticamente pelo organismo, que permiteenfrentar situações desafiadoras e sobreviver a elas. Esta reação pode ser vista

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como sendo a fase inicial de um complexo processo de stress. Tal processo foidividido em quatro fases ou estágios que se sucedem de acordo com a gravidadedo quadro sintomatológico.

O Estágio de Alarme

O mecanismo natural de resposta a eventos estressantes, semelhante paratodos, pode ser gerado por todo e qualquer tipo de estimulo desafiador, o que deuorigem a primeira publicação de Selye (1936) sobre o tema, que o definiu como arepresentação somática da necessidade de sobrevivência, ou seja, a “chamadaàs armas” em defesa própria. Esta reação foi chamada de estágio de alarme porSelye (1936) e de “luta ou fuga” por Cannon (1939). Selye logo notou que a lutapela sobrevivência não é constituída somente pelo esforço para a sobrevivênciaimediata. Se o evento desencadeador da reação for de tal magnitude que setorne incompatível com a sobrevivência, a pessoa vai a óbito nas primeiras horasou dias. Do contrário, após um período de exposição ao evento desafiador, umoutro estágio do processo de stress se desenvolve que é o de resistência ao queestá ocorrendo.

O Estágio de Resistência

Tendo sobrevivido ao impacto do desafio, o organismo procurareestabelecer a homeostase interna a fim de que consiga manter suasobrevivência. Muita energia é colocada na tarefa, mas se o evento é eliminadoou a pessoa consegue se adaptar à situação, as funções biológicas sãoreestabelecidas a aproximadamente seu funcionamento prévio. Porém, há quese entender que as múltiplas adaptações, cumulativas através do tempo, podemlevar a um desgaste grande do organismo, com consequências de grandemagnitude para o ser humano.

O Estágio de Quase Exaustão

Poder-se-ia pensar que uma vez conseguida a adaptação, esta seestabeleceria para sempre sem maiores danos, no entanto, se o eventoestressante continuar presente, a energia exigida para lidar com ele pode nãoser mais suficiente. O organismo começa, então, a se desorganizaremocionalmente e as vulnerabilidades biológicas são ativadas. O processo deadoecimento se inicia. Isto ocorre quando a carga alostática é grande demais.Carga alostática se refere ao esforço necessário para voltar à homeostase interna(McEwen, 2000). A recuperação ao estado de saúde já não é tão completa.

O Estágio de Exaustão

Após um período de grande stress, a pessoa não mais consegue mais deadaptar à situação, as reservas de energia se extinguem e adoecimento grave

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pode ocorrer. O reestabelecimento completo é quase que impossível. Comopostulado por Selye (1984) toda atividade biológica causa desgaste e deixacicatrizes químicas irreversíveis que se acumulam causando envelhecimento edoenças.

As pessoas diferem em como reagem aos eventos estressores, dependendode vários fatores tais como: (1) a interpretação que a pessoa dá ao que estáocorrendo, pois há grande diferença entre as pessoas como se veem e analisemcada situação; (2) a intensidade do estressor; (3) a idade da pessoa, já quedependendo do estágio de desenvolvimento em que se encontra, algumassituações estressam e outras não; (4) as estratégias de enfrentamento presentesdo repertório comportamental, pois o uso de mecanismos de coping pode mediaro efeito de certos estressores; (5) o momento de vida, uma vez que existe umatemporalidade na aptidão para lidar com as ocorrências do dia a dia, isto é,dependendo de tudo o que esteja ocorrendo, a pessoa pode, naquele momento,ser mais hábil ou menos hábil para lidar com certos estressores.

Assim, dependendo desses fatores, o stress pode, em certo momento,desencadear um desequilíbrio no funcionamento orgânico com variasconsequências, inclusive a dor de cabeça.

Um tipo de cefaleia muito frequente na população é a cefaleia do tipotensional (CTT), um tipo de cefaleia primária, que é menos estudado do que aMigrânea, pelo fato de o paciente não recorrer tanto ao médico, pois conseguemanter suas atividades rotineiras, com menor impacto no dia a dia(Krymchantowski, 2008). Em vários estudos clínicos e epidemiológicos, duascomorbidades são notadamente focalizadas em indivíduos com CTT: depressão eansiedade. Estas condições são mais frequentes e graves entre os portadores decefaleia do que na população geral (Fichtel & Larsson, 2002; Matta & MoreiraFilho, 2003; Powers, Gilman & Hershey 2006).

O stress emocional é um dos principais fatores desencadeantes da Migrâneae da CTT como também está relacionado com a duração e piora das crises. Ocomeço da dor de cabeça pode ser precipitado por acontecimentos estressantesde maior intensidade, mas também com pequenos aborrecimentos do dia-dia(Galego, 2006). Adicionalmente, pode ocorrer quando as estratégias deenfrentamento são insuficientes para lidar com os desafios, sendo, que nestassituações, o stress é o gatilho para o surgimento da dor de cabeça (Bandell-Hoekstra e outros, 2000). O stress excessivo, com frequência, causa contraturasmusculares e, muitas vezes, as pessoas que sofrem com dor de cabeça crônicaapresentam inabilidade para relaxar (Solomon & Fraccaro,1991). Muitoprovavelmente os aspectos emocionais e bioquímicos operam em conjunto.

A depressão é uma das dimensões afetivas com um importante fator de

comorbidade com os quadros dolorosos. Pessoas com dor crônica e depressão

relatam maior intensidade dolorosa, menor habilidade de controle de suas vidas,

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maior uso de estratégias passivas e não fazem uso de enfrentamento (Andrade &

Pontes Laganá de Andrade, 2006).

Pesquisadores acreditam que a depressão, em alguns casos, possa ser

um sintoma de stress patológico, isto porque há uma correlação entre episódios

de depressão e reatividade do eixo pituitária-adrenal-cortical que é também um

dos eixos do stress. Depressão e stress, às vezes, se confundem e tornam um

diagnóstico diferencial muito difícil. A depressão, enquanto sintoma do stressestá relacionada às condições de adaptação do momento. Quando a necessidade

de adaptação ultrapassa os recursos internos da pessoa, o quadro do stressevolui para a fase de quase-exaustão e, posteriormente, para a exaustão quando

a depressão, em geral, surge (Lipp, Malagris, Oliveira & Prieto, 2005). Os

episódios recorrentes de depressão indicariam uma pessoa biologicamente

vulnerável e com déficit de estratégias de enfrentamento da vida ou alguém que,

embora resistente biologicamente, teve a vulnerabilidade emocional desenvolvida

devido aos fatores adversos presentes em seu meio ambiente. Levanta-se a

hipótese de que o stress e a depressão coexistiriam em casos de cefaleia.

A ansiedade também está associada ao acréscimo da percepção da dor ecom os fatores que aumentam e complicam o risco da saúde física, prolongandoa experiência dolorosa. Algumas pessoas experimentam intensidade maior deansiedade que outras e levam mais tempo para se recuperar, o que as prejudicano enfrentamento dos estressores e na busca de solução das dificuldades queprecisam enfrentar. Pessoas com pouca habilidade em regular suas emoçõestendem a encontrar grande dificuldade no manejo dos desafios que enfrentam. Aansiedade agrava a percepção da dor, a intensifica, aumenta sua duração e, porum mecanismo de escalonamento, aumenta mais ainda o nível de ansiedadeprévia (Lipp, 2006). A resposta emocional básica do indivíduo à dor, na medidaem que ela significa um evento ameaçador, é a ansiedade aguda e todas asreações fisiológicas que fazem parte do quadro ansioso (Angelotti & Dotto, 2006).

A interligação entre stress, ansiedade, depressão e cefaleia carece de maiorcomprovação científica. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar o stress,sintomas de ansiedade e depressão em mulheres com dor de cabeça.

Método

ParticipantesParticiparam do estudo 31 mulheres divididas em dois grupos de acordo

com os seguintes critérios de inclusão:

Grupo 1: 16 mulheres com idade mínima de 18 anos, com diagnóstico de Migrânea,de acordo com os critérios diagnósticos da Sociedade Internacional de Cefaleia.Grupo 2: 15 mulheres com idade mínima de 18 anos, com diagnóstico de CTT, deacordo com os critérios diagnósticos da Sociedade Internacional de Cefaleia.

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MaterialPara a coleta dos dados foram utilizados os seguintes instrumentos: roteiro

de entrevista semiestruturada e o Inventário de Sintomas de Stress para Adultosde Lipp (ISSL), Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressãode Beck (BDI).

ProcedimentoApós aprovação pelo Comitê de Ética da PUC Campinas (Protocolo 993/

10), foi solicitado à equipe médica da clínica de Neurologia e Neurocirurgia deuma cidade do interior do Estado de São Paulo, o encaminhamento de mulheresadultas com diagnóstico de Migrânea sem aura ou Migrânea com aura típica comcefaleia migranosa e CTT para a realização desse estudo. A pesquisadorapermanecia numa sala designada na própria clínica. Coube assim, aos médicosneurologistas, o diagnóstico de Migrânea sem aura ou Migrânea com aura típicacom cefaleia migranosa e Cefaleia do tipo tensional previamente aoencaminhamento.

Método de análise dos resultadosPara descrever o perfil da amostra, segundo as variáveis em estudo, foram

feitas tabelas de frequência das variáveis categóricas (ansiedade, depressão,stress,...), com valores de frequência absoluta (n) e percentual (%), e estatísticasdescritivas da variável contínua (idade), com valores de média, desvio padrão,valores mínimo e máximo, mediana. Para comparação das variáveis categóricasentre os grupos foi utilizado o teste exato de Fisher, na presença de valoresesperados menores que 5. Para comparar a variável contínua entre os dois gruposfoi utilizado o teste de Mann- Whitney. O nível de significância adotado para ostestes estatísticos foi de 5% (p < 0,05). Os dados dos testes aplicados foramcomputados com base nas tabelas de cada manual, ISSL (Lipp, 2000) BDI e BAI(Cunha, 2001).

Resultados e discussão

Com relação ao tipo de cefaleia, 48,39% da amostra era de CTT, 29,03%com Migrânea sem aura e 22,58% com Migrânea com aura. No que se refere aotipo de cefaleia, os dados obtidos confirmam os de Rasmussen que encontrouprevalência de cefaleia maior do que a da Migrânea ao longo da vida (Rassmussen,1994, 2001). A maior incidência de Migrânea sem aura encontrada está emconformidade com a literatura na área em que, de acordo com Krymchantowski(2008) a Migrânea sem aura é o tipo mais comum, acometendo quase 90% dospacientes. Segundo o mesmo autor Migrânea com aura é menos prevalente, comofoi confirmado na presente pesquisa.

A amostra do presente estudo, foi composta de 31 mulheres na faixa etáriade 18 a 72 anos. As características da amostra confirmam o estudo de Stewart,Simon, Schechter e Lipton (1995) que revela que a Migrânea ocorre três vezes

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mais em mulheres do que nos homens. No que se diz respeito à Cefaleia tipotensional episódica, Schwartz e colaboradores, em ampla avaliação de pacientes,encontram valores muito próximos para os dois sexos com relação à prevalência,apenas com pequena predominância entre as mulheres em todas as faixas etáriascomparadas (Schwartz, Stewart & Simon, 1998). Uma das explicações para aprevalência de mulheres na amostra é de que elas procuram mais ajuda médicado que os homens, tanto na Migrânea quanto a CTT (Krymchantowski, 2008).

Na CTT 40% da amostra tinham entre 18 a 30 anos, uma população maisjovem do que a encontrada na literatura, porém numa faixa etária também altamenteprodutiva, onde a dor de cabeça é muito prejudicial. Segundo um estudo realizadopor Schwartz e colaboradores, na Cefaleia tipo tensional episódica há umpredomínio de indivíduos entre 30 e 39 anos de idade, tanto em homens (42,3%)quanto em mulheres (46,9%) (Schwartz, Stewart & Simon, 1998).

Analisando-se a faixa etária da amostra, verifica-se que na Migrânea 37,50%tinham idades entre 40 a 49 anos, o que vai de encontro com uma meta-análiserealizada de 24 estudos de prevalência publicados antes de 1994, mostrando quea Migrânea era mais comum em mulheres, e que o pico de prevalência ficavaentre 35 e 55 anos tanto no sexo feminino quanto no masculino. Diversos estudosrevelam índices maiores entre os 30 e 40 anos (Krymchantowski, 2008).

Com relação aos antecedentes familiares, ou seja, história de cefaleiasemelhante em parentes de primeiro grau, na CTT 73,33% responderam que temantecedentes familiares, enquanto que 75% das participantes com Migrâneatambém responderam positivamente. Esse dado dá suporte à literatura em queTopczewski (2002) aponta que diversos estudos mostram incidência aumentadada Migrânea em parentes próximos, como pais, irmãos, avós e tios; há mençõesde vários autores mostrando essa coincidência em 50- 90% dos casos. Já naCTT o histórico familiar é pouco mencionado entre os pacientes, contrariando oque cita Silva, (2003), já que a prevalência de antecedentes familiares nasparticipantes com CTT é alta (73,33%). Mas alguns trabalhos têm mostrado umsignificativo aumento da prevalência da CTT entre familiares próximos (pais,irmãos, filhos) de portadores dessa forma de cefaleia. Torelli e colaboradores(Torelli, Cologno & Manzoni, 1999), avaliaram 120 portadores de CTT, e 53% temhistórico familiar positivo para esta condição confirmando o resultado encontradona amostra estudada.

Os dados sobre o prejuízo no ambiente de trabalho e nas atividades delazer quando está com a crise de dor de cabeça são significativos, principalmentena Migrânea. No ambiente de trabalho, 60% das mulheres com CTT disseramque se sentiam muito prejudicadas, e 43,75% das mulheres com Migrânea sesentiam impossibilitadas de trabalhar. Em um estudo realizado por Matta e MoreiraFilho (2006) 14% dos pacientes com CTT estudados faltaram do trabalho pormotivo de dor. O impacto na qualidade de vida, bem como a diminuição das

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capacidades laborativa e de lazer, provocados pela Migrânea, são fatos bemconhecidos e amplamente descritos na literatura. No estudo realizado por Vincente colaboradores em uma empresa, concluiu-se que cerca de 10% dos trabalhadoresrelataram dor de cabeça suficientemente intensa a ponto de prejudicar seudesempenho no trabalho (Vincent e outros,1998).

Em um estudo de sobre a epidemiologia da Migrânea realizada por Lipton,Silberstein e Stewart (1994) foi avaliado o grau de diminuição das capacidadesprovocado pela Migrânea: 12%, nenhuma diminuição das capacidades: 51,3%diminuição leve ou moderada, 35,5% diminuição intensa das capacidades e 1%não sabem. Dessa forma, a maior parte dos pacientes tinha diminuição significativadas capacidades em decorrência da Migrânea, em concordância com o resultadoobtido na pesquisa.

Nas atividades de lazer 13,33% das mulheres com CTT relataram serimpossibilitadas de realizar suas atividades de lazer, enquanto que a mesmaimpossibilidade foi citada em 56,25% das mulheres com Migrânea. A amostra daMigrânea mais uma vez apresenta um dado mais grave do que a CTT. Um estudode Bigal e outros (2000) feito no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicinade Ribeirão Preto sugere que a Migrânea representa problema de saúde públicaentre os funcionários do HC. Acarreta importante impacto na qualidade de vidadeles, o que permite inferir haver diminuição de sua capacidade laborativa, comprejuízo econômico considerável.

De acordo com Wöber e Wöber-Bingöl (2010) a identificação de fatoresdesencadeantes ou precipitantes é frequentemente recomendada como umaestratégia básica no tratamento da cefaleia. Com relação aos resultados sobre osfatores desencadeadores de dor de cabeça, na amostra total, 90,32% relataramperceber o que desencadeia uma crise. O stress é o desencadeador mais prevalentetanto para a CTT, (84,62%), quanto para Migrânea (80%). Os principais fatoresdesencadeadores na CTT foram: stress (84,62%), jejum prolongado (38,46%),alimentos (30,77%), privação de sono (23,08%) e outros (23,08%). Os fatoresprincipais desencadeadores de dor de cabeça na Migrânea foram: stress (80%),alimentos (46,67%), privação de sono (46,67%), jejum prolongado (26,67%) eoutros (46,67%). No item “outros desencadeadores de dor de cabeça” foramdadas respostas como: ficar muito tempo sem tomar água, aborrecimento,preocupação, ansiedade, comer com pressa durante a refeição.

Num estudo sobre os principais desencadeadores na Migrânea, Ierusalimschye Moreira Filho (2002) o stress foi identificado em 76% da amostra como o princi-pal fator desencadeador de Migrânea. De acordo com uma pesquisa realizadapor Zétola, Nóvak, Luiz, Branco, Sato, Nita, Bubna e Werneck (1998), 69% dospacientes avaliados com Migrânea apontaram o stress como um fatordesencadeante para o surgimento da dor de cabeça, enquanto que dos com CTT

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apenas 26,4% apontaram o stress como um fator desencadeador, o que contrariaos resultados encontrados nesta pesquisa em relação à CTT, em concordânciacom os resultados da Migrânea. Melhado (2011) coloca que a maneira como cadaindivíduo lida com os estressores diários pode manter, precipitar ou exacerbarcefaleias e acentuar a incapacidade relacionada a elas.

De acordo com Wöber e Wöber-Bingöl (2010) menstruação tem um papelmuito desfavorável na Migrânea e, possivelmente, na CTT. Há pelo menos algumaevidência de que fatores ambientais, como o clima, luzes, ruídos, odores, stress eoutros fatores psicológicos, problemas de sono, fadiga e cansaço podemdesempenhar um papel de gatilho.

Poucos estudos pesquisaram o nível de stress em pessoas com CTT eMigrânea. No presente estudo, 66,67% das participantes com CTT e 100% dascom Migrânea apresentavam stress. Nas participantes com CTT, 53,33% estavamem fase de resistência, 6,67% em fase de quase exaustão e 6,67% em fase deexaustão. Das que tinham stress, nenhuma apresentava predominância desintomas físicos, 53,33% com sintomas psicológicos e 13,33% com sintomas destress físico e psicológico. De acordo com as respostas das participantes ao ISSL,os sintomas físicos mais apontados pelas participantes com CTT foram boca seca(60%) e cansaço constante (60%). Na Migrânea os sintomas físicos de stress

mais citados são demonstrados na Tabela 1.O sintoma físico citado nos dois tipos de dor de cabeça foi boca seca, e o

sintoma psicológico em comum foi vontade de fugir de tudo. Os sintomaspsicológicos de stress mais frequentes na CTT e na Migrânea estão nas Tabelas2 e 3.

Tabela 1. Sintomas físicos mais frequentes na Migrânea

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Tabela 2. Sintomas psicológicos mais frequentes na Cefaleia do tipo tensional

Tabela 3. Sintomas psicológicos mais frequentes na Migrânea

Os resultados apresentados nas participantes com Migrânea são mais graves,como na maior parte do estudo. Com relação às fases do stress, 43,75% estavamem fase de quase exaustão e 6,25% em fase de exaustão. Das participantes comstress, 6,25% estavam com predominância de sintomas físico, 81,25% sintomaspsicológicos e 12,50% com sintomas de stress físicos e psicológicos. Os resultadosdas participantes com Migrânea se assemelham com o que Galego (2006)encontrou em pacientes com Cefaleia crônica diária, onde 90% dos pacientesapresentavam stress. Destes, 2,2% estavam em fase de alerta, 36,7% em fase de

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resistência, 51,1% em fase de quase exaustão e 10% em exaustão. Dos pacientescom stress, 94,5% houve o predomínio de sintomas psicológicos; 3,3% sintomasfísicos e em 2,2% sintomas de stress físico e psicológico. Verifica-se tambémpresença de um stress excessivo em mulheres, como em outros estudos de Lipp(2000) e Tanganelli (2000). Os dados indicam que, na atualidade a prevalência dostress feminino tem se mostrado elevado.

Na CTT (53,33%) e na Migrânea (50%), aproximadamente metade estavana fase de resistência do stress, ou seja, o organismo esta atuando para impediro desgaste total de energia, quando se resiste aos estressores e se tenta,inconscientemente, reestabelecer a homeostase que foi quebrada na fase de alerta.A produtividade cai drasticamente. Caracteriza-se pela produção de cortisol, sendoassim, o indivíduo fica mais vulnerável a vírus e bactérias (Lipp, 2000).

Porém, na Migrânea a outra metade da amostra estava em fases maisexcessivas do stress (43,75% em quase exaustão e 6,25% em exaustão). Nafase de quase exaustão a tensão excede o limite do gerenciável, a resistênciafísica e emocional começa a se dissolver. O indivíduo passa a sentir grandeinstabilidade emocional. Pensar lucidamente, rir de piadas, tomar decisões etrabalhar, tudo isto é realizado com muito esforço. O cortisol é produzido em maiorquantidade e tem como conseqüência o efeito negativo de destruir as defesasimunológicas, dessa forma, doenças começam a surgir (Lipp, 2000).

Pacientes com depressão muitas vezes não são diagnosticadoscorretamente, pois queixas associadas como a fadiga, a perda de peso, a cefaleia,as alterações gastrointestinais, as dores e alterações do sono, frequentemente,ganham maior atenção do médico não especialista (Angelotti & Dotto, 2006). Nestapesquisa, no que se refere a sintomas de depressão, a maior parte das participantesestava com depressão mínima, 53,33% na CTT e 43,75% na Migrânea. Porémuma parte significativa (37,50%) das participantes com Migrânea apresentam nívelmoderado de depressão, o que aponta um nível mais preocupante da depressão.

Em um estudo realizado no Ambulatório de Distúrbios Afetivos do HospitalUniversitário de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, 68,9% dos pacientesdeprimidos tinham queixas de sintomas orgânicos, sendo a cefaleia, (13,75%) osintoma mais frequente. A maioria (63,2%) referiu que o episódio depressivosucedeu o aparecimento da doença ou dos sintomas orgânicos (Aguiar & Caleffi,2006).

Em uma pesquisa realizada por Matta e Moreira Filho (2003) sintomas dedepressão foram encontrados em 40% dos pacientes diagnosticados com CTT,em concordância com os dados encontrados no presente estudo. De acordo comCosta, Ybarra, Corrêa e Teixeira (2006), a depressão maior atinge 30% ou maisda população com Migrânea e pouco mais de 10% da população geral, isto é,

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migranosos têm risco três vezes maior de sofrer de depressão do que pacientessem cefaleia.

Em um estudo longitudinal, Breslau e outros (2000) investigaram comorbidadedepressiva em 536 pacientes com Migrânea. A prevalência de depressão ao longoda vida no grupo de migranosos foi de 40,7%. Resultados semelhantes foramencontrados no estudo de Mercante e outros (2007), onde pacientes com Migrâneaforam avaliados, sendo que 50% apresentavam algum Transtorno de humor, e44% apresentaram episódio depressivo maior.

Com relação a sintomas de ansiedade, 60% das participantes com CTTapresentam níveis mínimos de ansiedade, enquanto que as participantes comMigrânea estão divididas entre os níveis mínimo (25%), leve (37,50%) e moderado(31,25%). Novamente as participantes com Migrânea apresentam maior gravidadedos sintomas em relação às participantes de CTT. Em um estudo realizado porMatta e Moreira Filho (2003), sintomas de ansiedade foram encontrados em 44%dos pacientes diagnosticados com CTT. No estudo de Mercante e outros (2007),pacientes diagnosticados com Migrânea, 76% apresentaram algum transtorno deansiedade, e 52% apresentaram diagnóstico de Transtorno de ansiedadegeneralizada, semelhante aos resultados encontrados nesta pesquisa.

Um estudo realizado em mulheres com cefaleias primárias, conduzido porAbbate- Daga, Fassino e Giudice (2000), encontrou características depersonalidade relacionadas à preocupação excessiva, cansaço e timidez. Essascaracterísticas são refletidas nos sentimentos apontados nas respostas à questãoaberta da entrevista, principalmente, o medo de ter uma crise de dor de cabeça ea necessidade de isolamento quando a dor se manifesta.

Análise de conteúdo

As respostas dadas pelas participantes à questão aberta foram submetidasà análise de conteúdo de acordo com os conceitos de Bardin (1997). Deste modo,depois de feita uma leitura integral e detalhada das informações fornecidas pordeterminado respondente, os tópicos mais relevantes das verbalizações foramextraídos das respostas. Com base nesse material, foram identificados significadosem comum, que permitiram o seu agrupamento em categorias. Algumas falas foramtranscritas, na análise dos resultados, respeitando os seus coloquialismos, a fimde oferecer um melhor entendimento das interpretações elaboradas durante aanálise do conteúdo. Para confirmação das categorias, os juízes receberam asverbalizações das respondentes (sem identificação) e as categorias extraídas.Foi solicitado que incluíssem as respostas fornecidas a questão na categoria queconsiderassem apropriadas.

A questão aberta contida no roteiro de entrevista, as categorias identificadasquanto às respostas dadas e as porcentagens de respostas que se enquadram

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em cada categoria constam na Tabela 4. Sobre os sentimentos das participantescom CTT e Migrânea em relação ao sofrer com as dores de cabeça, foram criadastrês categorias: Sentimentos negativos, estratégias de esquiva / fuga e Angustiadiante da dor.

Tabela 4. Descrição das categorias e suas respectivas porcentagens das respostas àquestão – Como você se sente quanto a sofrer de CTT e Migrânea?

Sentimentos negativos:Sobre os sentimentos negativos das participantes com CTT e Migrânea em

relação ao sofrer com as dores de cabeça, foram expostos sentimentos comoraiva, ansiedade, irritação, medo, como pode ser vista nas respostas a seguir:

P7 (CTT)- “Tem horas que dá raiva, pois incomoda”.P14 (CTT)- “Impaciente, com raiva”.P5 (CTT)- “Fico ansiosa, você sabe que se tiver alguma coisa que foge da

sua rotina pode te prejudicar”.P1 (Migrânae)- “Fico tensa em quando vou ter essa crise, em qualquer

momento carrego remédios aonde vou”.P8 (Migrânea)- “Mal estar, desanimo, irritação”.P10 (Migrânea)- “Queria achar um jeito de não ter mais, estou sempre com

medo dela vir, é bom quando não tenho”.Estratégias de esquiva / fuga:Nessa categoria, foram selecionadas respostas que demonstraram a

impotência das respondentes frente à dor de cabeça, e também o isolamento quese colocam quando estão com a dor, numa estratégia de fugir da dor, se isolar natentativa de fazer com que a dor passe, sem mencionar um sentimento. Algumasrespostas que ilustram essa categoria foram:

P2 (CTT)- “Quando estou com dor tenho que ficar num lugar escuro, isolada.

Não posso ficar no meio de muita gente em lugar fechado”.P13 (CTT)- “Dá vontade de ficar num quarto em silêncio, sem ser

incomodada”.P6 (Migrânea)- “Quanto mais quieta eu fico, mais eu quero ficar, se possível

sozinha e deitada”.

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P15 (Migrânea)- “A possibilidade de qualquer tipo de atividade é uma

inercia, tenho que ficar quieta num quarto escuro e fechado”.Angústia diante da dor:Essa categoria foi criada a partir de respostas que demonstraram tristeza,

inconformismo, inutilidade, desespero diante da dor. As respostas abaixo podemilustrar essa categoria:

P4 (CTT)- “Eu fico apavorada, nervosa, penso meu Deus do céu, porque

essa dor de cabeça? Eu me cuido, cuido da minha alimentação”.P9 (CTT)- “Tristeza, tenho vontade de ficar só deitada”.P4 (Migrânea)- “Me sinto mal, porque quero trabalhar e não posso. Me

sinto inútil”.P5 (Migrânea)- “Horrível, não consigo fazer nada, passo muito mal. Fico

triste, choro quando estou com a dor”.

Considerações finais

O presente estudo procurou trazer contribuições para o campo da Psicologia,bem como da Neurologia, ao estudar o stress, ansiedade e depressão em mulherescom CTT e Migrânea. Com relação aos desencadeadores de dor de cabeça, ostress foi o mais citado nas mulheres com CTT, o que ocorre também em mulherescom Migrânea, porém com uma frequência menor, talvez por conta da aura, que émencionada por algumas mulheres como o único fator desencadeador de dor decabeça.

Os resultados da pesquisa revelaram presença de stress em grande parteda amostra. Todas as mulheres com Migrânea apresentam stress, sendo que ametade da amostra se encontra em fases mais avançadas do stress, o que nãoocorre com as mulheres com CTT, que apesar de grande parte apresentar estesintoma, poucas estão em fases mais graves. Isso sugere que a Migrânea, comoé mencionado na literatura, é mais incapacitante e com sintomas mais graves doque a CTT, colaborando para apresentarem fases mais graves de stress.

No que se refere à sintomatologia, a área psicológica foi a mais predominante.O que demonstra que o manejo inadequado dos aspectos emocionais teminterferido ainda mais do que os aspectos físicos, no que se refere ao stress.Esses dados ressaltam a importância de um tratamento, como por exemplo, umtreino de controle do stress, associado ao tratamento farmacológico, para aprendera manejar tal sintoma, e dessa maneira talvez, evitar uma crise de cefaleia.

Os resultados encontrados no Inventário de Ansiedade de Beck revelamque mulheres com Migrânea apresentam níveis mais graves de ansiedade do quemulheres com CTT, um resultado semelhante ao encontrado em outras pesquisas.O mesmo ocorre com os resultados do Inventário de Depressão de Beck, onde asmulheres com Migrânea apresentam níveis mais graves de depressão do que as

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mulheres com CTT, o que confirma os dados da literatura de que pacientes comMigrânea tem três vezes mais chances de desenvolver depressão do que aquelesque não sofrem de nenhum tipo de cefaleia.

Pode-se verificar que as mulheres com Migrânea estão em níveis mais gravesde stress, ansiedade e depressão, porém isso não descarta um tratamento nãofarmacológico paralelo ao medicamentoso para mulheres com CTT, já que estastambém apresentam stress, ansiedade e depressão, porém em níveis menos gravese com menor frequência, mas se faz essencial para mulheres com Migrânea. Umaspecto comum aos dois tipos de cefaleia é a angustia que essas mulheres sentemao sofrerem das dores de cabeça, a impotência frente o surgimento da dor, e omedo e insegurança que ela ocorra em momentos importantes da vida.

Conclui-se que mulheres que sofrem com Migrânea e CTT apresentamníveis excessivos de stress, ansiedade e depressão, necessitando de uma atençãoespecial quanto a esses aspectos psicológicos na forma de tratamentoscomplementares aos farmacológicos, como por exemplo, psicoterapia, Treino deControle do Stress e exercícios de relaxamento. Esses tratamentos adicionais sãode importância para proporcionar melhor qualidade de vida e bem estarbiopsicossocial a essa população clínica.

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