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A relação entre o capital intelectual e a transferência de conhecimento em empresas de Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal Cátia Alexandra Moreira Duarte ISCAP-IPP [email protected] José António Fernandes Lopes Oliveira Vale ISCAP-IPP, CEOS.PP [email protected] Área Temática: D - Contabilidade e Controlo de Gestão

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A relação entre o capital intelectual e a transferência de conhecimento em empresas de Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal

Cátia Alexandra Moreira Duarte ISCAP-IPP

[email protected]

José António Fernandes Lopes Oliveira Vale ISCAP-IPP, CEOS.PP [email protected]

Área Temática: D - Contabilidade e Controlo de Gestão

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1. Introdução

No atual mercado competitivo, torna-se crucial para as empresas encontrarem novas

formas de conseguirem obter vantagens competitivas. A Gestão do Conhecimento (GC)

e a Gestão do Capital Intelectual (GCI) assumem um papel bastante importante para

alcançar esse fim, pois permitem valorizar as organizações e melhorar a eficácia

organizacional, pois são fontes vitais para obtenção de vantagem competitiva e um melhor

desempenho. Autores, tais como Seleim e Khalil (2011), acreditam que existe uma

relação clara entre as duas grandes áreas abordadas neste artigo: GC e Capital Intelectual

(CI). Efetivamente, afirmam que se verifica uma influência mútua das mesmas, pois as

organizações usam a gestão do conhecimento para conseguir acumular Capital intelectual

e vice-versa. Lin et al. (2010) afirmam que a acumulação de CI e criação de conhecimento

estão intimamente relacionados. As organizações necessitam de “gerir o saber”, pois o

conhecimento bem gerido permite a tomada de decisão. É importante criar, transferir e

absorver o conhecimento para se desenvolver inovação e criatividade dentro das

organizações (Nonaka et al., 2000).

O Capital Intelectual (CI) pode ser visto como o principal recurso de uma empresa, pois

permite a transformação da informação em conhecimento. Neste artigo, concetualizamos

CI como a “combinação de conhecimentos com recursos intangíveis que a empresa possui

à sua disposição e cuja gestão efetiva pode fornecer à empresa uma vantagem competitiva

sustentável” (Cohen e Kaimenakis, 2007, p. 243). Atualmente existe alguma

concordância no que diz respeito às componentes que o constituem, especificamente:

Capital Humano (CH), Capital Estrutural (CE) e Capital Relacional (CR) (Stewart, 1998).

O CI está, assim, a tornar-se o fator mais importante e cada vez mais fundamental para a

produtividade das organizações quando comparado com os fatores tradicionais como o

capital ou a mão-de-obra.

A GCI e da GC têm-se tornado críticas para diferentes organizações, nomeadamente para

as consideradas “knowledge-intensive”, tais como as empresas de contabilidade/

auditoria/consultoria fiscal. Efetivamente, os profissionais de contabilidade necessitam

não só de desenvolverem os seus conhecimentos como também aperfeiçoarem as suas

técnicas, comportamentos, ética e iniciativas, visto que se deparam, diariamente, com

tomadas de decisões. Nesse sentido, gerir o conhecimento torna-se fundamental. Estas

empresas necessitam de, essencialmente, assegurar e potenciar o seu capital humano,

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nomeadamente a experiência profissional, a educação e a proficiência dos seus

funcionários (Cheng et al., 2009).

Em termos de investigação em CI e GC, apesar de haver uma compreensão geral acerca

desta relação bidirecional entre os processos de GC e as dimensões de CI, poucos estudos

têm-se debruçado sobre esta relação (Nonaka et al., 2000). Em termos mais específicos,

poucos estudos aprofundaram o modo como as organizações acumulam e criam o seu CI

a partir de uma gestão eficaz e eficiente do conhecimento (Seleim and Khalil, 2011).

Consequentemente, consideramos que a exploração da natureza do relacionamento entre

GC e CI é uma questão importante que merece mais atenção da comunidade científica.

Por outro lado, vários estudos sobre CI salientam a importância da colaboração, e

consequentemente o papel que a Transferência de Conhecimento (TC) possui na criação

deste.

Nesse sentido, e de modo a contribuir para esta discussão, este artigo visa explorar a

relação existente entre as principais dimensões do Capital Intelectual e a Transferência

de Conhecimento (uma das principais dimensões da GC) em empresas portuguesas de

contabilidade/auditoria/consultoria fiscal.

Para conseguir atender a este objetivo, foram formuladas as seguintes questões de

investigação:

Qual o impacto da Transferência de Conhecimento nas tradicionais

dimensões do CI?

Qual o impacto do CI na Transferência de Conhecimento?

Para responder às questões de investigação em causa foi, em termos empíricos, utilizada

uma metodologia de natureza quantitativa, onde se destaca a utilização de um inquérito

por questionário online, aplicado a empresas de contabilidade/auditoria/consultoria fiscal,

aquando da recolha de dados e a realização de um modelo de equações estruturais para

analisar esses dados.

Na próxima secção é apresentada a revisão da literatura, a qual se foca em dois conceitos

principais – o CI e a Transferência de Conhecimento – e, mais especificamente, na sua

interação. Seguidamente é apresentado o modelo conceptual e são propostas hipóteses a

testar. Na secção 4 é descrita a metodologia utilizada e na secção 5 são apresentados os

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resultados. Na secção 6 são discutidos os resultados e apresentadas as conclusões do

estudo. Ainda nesta secção são enunciadas algumas limitações de investigação e

sugeridas algumas indicações para investigação futura.

2. Revisão de Literatura

2.1 Capital Intelectual

Numa era focada no conhecimento, os recursos intangíveis, i.e. o Capital Intelectual (CI),

são considerados críticos para a criação de valor por parte das organizações. Atualmente

ainda não existe consenso relativamente à definição de CI. O CI pode ser conceptualizado

como um conjunto de recursos imateriais relacionado com o conhecimento dos

colaboradores, com a cultura, valores e todos os processos pertencentes à organização,

bem como com as relações com os diferentes stakeholders (Kujansivu, 2008). Stewart

(1998) considera que o Capital Intelectual corresponde ao conhecimento explícito

(existência concreta) e ao conhecimento tácito (intuitivo) que as organizações podem

desenvolver para criar vantagens competitivas. Para Stewart e Ruckdeschel (1998, p. 13),

o CI é composto pela “matéria intelectual – conhecimento, informação, propriedade

intelectual, experiência que pode ser utilizada para gerar riqueza. É a capacidade mental

coletiva”. Assim o CI pode ser visto de duas formas: como um recurso intangível que

contém conhecimento, e como uma combinação de recursos intangíveis que cria valor e

que ajuda as organizações a atingirem os seus objetivos (Halim 2010; Bukh et al. 2001).

Quanto às dimensões que compõe o CI, apesar dos diferentes modelos desenvolvidos ao

longo de mais de duas décadas, é possível dizer que, atualmente, existe algum consenso

quanto às mesmas. São estas o Capital Humano (CH), o Capital Estrutural (CE) e o

Capital Relacional (CR).

O CH inclui todo o conhecimento que os funcionários da organização possuem. Inclui,

ainda, capacidades, níveis de educação, experiência, competências profissionais,

proatividade ou traços de personalidade que contribuem para a obtenção de bons

resultados e um bom desempenho, aumentando a lucratividade e consequentemente o

crescimento da organização (Bontis et al., 2000; Seleim and Khalil, 2011). Pode-se

acrescentar que este tipo de capital pertence às pessoas.

Ao contrário do Capital Humano, o Capital Estrutural é detido e gerido pela organização.

O Capital Estrutural inclui todos os processos, patentes, marcas registadas e sistemas de

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informação, acabando por transmitir a imagem da organização. Está relacionado com o

CH, na medida em que apoia os funcionários na realização das suas tarefas (Luthy, 1998).

Edvinsson e Malone (1997) consideram o CE como composto por Capital do Cliente e

Capital Organizacional (CO), estando este último relacionado com o investimento da

empresa em sistemas, instrumentos e operações que ajudam no reconhecimento do

conhecimento pela organização. Por outro lado, Edvinsson e Malone (1997) sugerem a

subdivisão do CO em Capital de Inovação e Capital de Processos. O Capital de Inovação

atribui-se à capacidade de renovação e aos resultados da inovação, utilizados para criar e

disponibilizar no mercado novos produtos e serviços. O Capital de Processos é formado

por processos, técnicas e programas que servem de apoio aos funcionários para aumentar

a eficiência da produção (Edvinsson e Malone, 1997).

Finalmente, o CR inclui a capacidade da organização em desenvolver relações com

diferentes stakeholders, nomeadamente com os clientes (Seleim e Khalil, 2011). Nesta

dimensão, pode-se destacar a lealdade e satisfação dos clientes, a notoriedade da marca,

a reputação da empresa, assim como as inter-relações com os fornecedores e outros

agentes. Este capital é importante pois acaba por fornecer informações acerca das

oportunidades de mercado e constitui um guia útil para a organização melhorar e

desenvolver novos conhecimentos (Seleim e Khalil, 2011). Numa era em que a

informação pode ser encontrada nos mais variados locais, os clientes acabam por ser o

mais fiel canal de publicidade aos serviços prestados pelas organizações, (Madhani,

2016).

Este artigo foca-se em empresas de contabilidade/auditoria/consultoria fiscal, pois este

tipo de empresas caracteriza-se por serem de cariz “knowledge-intensive”.

Consequentemente, verifica-se que, por um lado, as capacidades dos

auditores/contabilistas não são demonstradas, nem contabilizadas nas demonstrações

financeiras e, por outro, o nível de ativos tangíveis destas organizações tende a ser

reduzido. Neste tipo de empresas (as quais se tratam de organizações fortemente baseadas

no conhecimento), o CH é destacado como sendo uma forte fonte de inovação e renovação

estratégica. O CH, e mais especificamente a educação, formação contínua, certificação

profissional e a experiência dos funcionários pertencentes a este tipo de empresas, tornou-

se fundamental como fator para potenciar a qualidade dos serviços prestados (Cheng et

al., 2009). Assim, estas empresas necessitam de garantir que os seus funcionários

possuam altos níveis de eficiência e características profissionais adequadas para fazer

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face às necessidades dos clientes. Efetivamente, para estas empresas obterem vantagens

competitivas, é necessário um bom desempenho dos seus funcionários a longo prazo. Para

que isso ocorra, a organização terá, não só, de recorrer ao capital físico, a recursos

organizacionais e financeiros, mas também e principalmente aos recursos de CH, o qual

terá de ser gerido com eficácia (Cheng et al., 2009).

Em resumo, para empresas de contabilidade/auditoria/consultoria fiscal torna-se crucial

realizar uma eficaz e eficiente gestão tanto do seu CI como do seu conhecimento. Em

termos de CI, importa criar/adotar um modelo que permita identificar e,

consequentemente, mensurar todos os recursos intangíveis da organização. Estes modelos

podem ser utilizados como instrumento de gestão estratégica para avaliar e desenvolver

o CI da organização. Esta não é uma tarefa fácil, visto que a implementação de um modelo

de gestão de CI dependerá sempre das especificidades de cada organização e da própria

natureza dinâmica destas (Molodchik et al., 2013). Podem-se destacar, a título de exemplo

e devido à sua importância, os seguintes modelos utilizados para mensurar o CI: “Skandia

Navigator” de Edvinsson e Malone (1997); “Intangible Assets Monitor” de Sveiby

(1997); Modelo Ramboll de Pedersen (1999); ou “IC Rating” de Jacobsen et al. (2005).

Assim, o CI das organizações e, em termos mais específicos, as suas várias dimensões,

podem ser mensurados através de indicadores qualitativos e/ou quantitativos.

Efetivamente, a cada dimensão do CI podem-se associar indicadores e medir esse CI,

sendo que cada organização deve adaptar os seus indicadores conforme a análise que é

realizada. Os indicadores em causa devem ser claros e evidentes de forma a refletirem

todos os recursos intangíveis da organização (Molodchik et al., 2013).

Neste tipo de serviços (contabilidade/auditoria/consultoria fiscal) também a divulgação

de CI deve ser reconhecida como um complemento crucial para demonstrar a

sustentabilidade e uma visão mais completa acerca do estado da empresa. A criação de

relatórios de CI permite comunicar este “estado” às partes interessadas e, assim, melhorar

a transparência da organização (Johanson et al., 2003).

2.2 Gestão do Conhecimento

Além da gestão do Capital Intelectual, a gestão do conhecimento também tem vindo a

contribuir significadamente para a produtividade, crescimento e sobrevivência das

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organizações. Constantemente, é criado conhecimento através de ação e interação

tornando-se fonte fundamental para a obtenção de vantagens competitivas sustentáveis

por parte das mesmas (Nonaka et al., 2000). Por outro lado, a gestão do conhecimento

não só é vista como chave para se obterem vantagens competitivas, mas também para

maximizar o CI e melhorar processos internos. Na realidade, uma correta gestão do

conhecimento contribui para a criação, captura, organização, acesso e uso correto dos

ativos intelectuais de uma empresa (Seleim and Khalil, 2011).

O conhecimento dentro das organizações pode ser visto através de várias características,

nomeadamente a de ser transportável e ter significado quando partilhado com os outros.

Apesar do conhecimento ser visto, atualmente, como umas das fontes responsáveis pela

qualidade nos serviços, ainda importa aprofundar o mesmo ao nível da sua compreensão,

criação e gestão (Nonaka et al., 2000).

Em termos gerais, os processos de GC podem ser subdivididos da seguinte forma (Seleim

e Khalil, 2011):

(1) Aquisição de conhecimento, relacionado com atividades que selecionam e adquirem

conhecimento de fontes externas;

(2) Criação de conhecimento, relacionado com atividades que desenvolvem e criam

insights, capacidades e relacionamentos na organização, bem como a geração de

conhecimento interno;

(3) Documentação de conhecimento, relacionado com atividades que institucionalizam o

conhecimento sob a forma de uma memória organizacional para que possa ser transferido

e reutilizado no futuro;

(4) Transferência de conhecimento, relacionado com atividades que possibilitam o

intercâmbio de conhecimento entre indivíduos, grupos e unidades organizacionais ao

longo dos diferentes níveis organizacionais;

(5) Aplicação do conhecimento, relacionado com atividades que envolvem a utilização

dos conhecimentos disponíveis para melhorar processos, produtos e serviços, bem como

o desempenho organizacional.

Em termos de conhecimento, este artigo foca-se na sua transferência, tendo em conta a

sua importância para a gestão do CI. A Transferência do Conhecimento (TC) é uma

consequência da colaboração e comunicação, e as empresas de

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contabilidade/auditoria/consultoria fiscal possuem características que encorajem esta

transferência. A partilha de conhecimento é, pois, fundamental para se conseguir gerir o

conhecimento e também para desenvolver e acumular CI (Matsuo, 2015).

A TC pode ser conceptualizada como a troca de informação e conhecimento entre os

indivíduos, de forma ao destinatário aplicar e reformular o conhecimento absorvido num

novo contexto. Neste processo os funcionários trocam e discutem o know-how e, desta

forma, contribuem para a competitividade da organização (Hamdam e Damirchi, 2011).

No entanto, é preciso ressalvar que a partilha de conhecimento por parte dos membros da

organização irá depender de vários fatores, tais como a sua predisposição para partilhar

esse conhecimento, a sua motivação, o tipo de relações existentes na organização ou o

próprio ambiente cultural (Trivellasa et al., 2015). No entanto, não está no âmbito do

presente artigo analisar esses fatores. Consequentemente, torna-se crucial que a

organização desenvolva vias para fomentar essa partilha de conhecimento como, por

exemplo, incentivando os funcionários, através das suas próprias estruturas

organizacionais ou através das crenças pessoais destes (Trivellasa et al., 2015). Por outro

lado, pode-se também considerar que a partilha de conhecimento é condição necessária,

mas não suficiente para a criação de CI. Assim, torna-se necessário que os membros de

uma organização assimilem e usem o conhecimento adquirido. Consequentemente, as

organizações deverão estarem preparadas com sistemas e ferramentas adequadas para

fazer face a essa necessidade, pois a capacidade de absorção (absorptive capacity) de um

membro dependerá da capacidade de absorção da informação por parte da organização.

A capacidade de absorção consiste na capacidade de uma organização reconhecer o valor

de uma nova informação, de assimilá-la e conseguir aplicar a mesma tendo em conta os

seus objetivos. O processo de absorção de conhecimento tanto pode integrar processos

internos, ligados às experiências passadas ou ações atuais, como integrar processos

externos ligados à necessidade de aprender e adquirir conhecimentos a partir do ambiente

externo (Cohen e Levinthal, 1990).

A confiança é, também, um outro fator está diretamente ligado à TC, pois a partilha de

informação necessita que exista confiança entre as partes para que essa informação possa

ser considerada como verdadeira. De facto, acredita-se que a confiança pode atenuar o

risco de comportamentos oportunistas. Por outro lado, a existência de desconfiança entre

os membros duma organização, pode levar esses membros a concentrarem-se na proteção

do seu conhecimento, o que dificulta a transferência. Também a interação social, em

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termos de proximidade e a comunicação entre os funcionários são cruciais para que se

verifique transferência de conhecimento. (Sankowska, 2013; Hamdam e Damirchi, 2011).

Assim, vários fatores podem afetar o processo de TC. No contexto em análise, a TC tem

efeitos distintos consoante, por exemplo, esta é efetuada por contabilistas/auditores

experientes ou não experientes. De acordo com Rodgers e Hall (2016), existe maior efeito

quando ocorre entre funcionários mais experientes. Tal deve-se ao facto de funcionários

mais experientes terem maior rapidez de raciocínio e processamento da informação

recolhida, bem como uma maior capacidade em estruturar toda essa informação (ou seja

CH). Por outro lado, em serviços de contabilidade/auditoria/consultoria fiscal, reveste-se

de grande importância o funcionário recorrer a estruturas de conhecimento para entender

as necessidades dos clientes. Importa, ainda, destacar que grande parte do conhecimento

adquirido por estes profissionais advém de cursos de formação, normas e manuais da

respetiva área (Rodgers and Hall, 2016). Este conhecimento expresso em linguagem

formal e sistemática, partilhada através de dados, fórmulas e manuais, diz respeito ao

conhecimento explícito. Trata-se dum conhecimento de fácil transmissão e partilha. Por

outro lado, existe o conhecimento tácito que está relacionado com intuições, comentários,

opiniões, ideias, emoções e valores. É um conhecimento subjetivo, pessoal e difícil de

formalizar (Nonaka, 2000).

2.3 Relação entre Capital Intelectual e Transferência de Conhecimento

Os processos de GC e os elementos necessários para criar CI devem ser implementados

e trabalhados em conjunto para maximizar o valor da organização e a sua eficácia.

Consequentemente, importa determinar como as empresas se organizam para alcançar

esse fim (Wang et al., 2016). Assim, torna-se crucial a incorporação e integração de novas

tecnologias, pessoas e uma correta medição do que se quer gerir (tanto em termos de

conhecimento como de CI). Um dos objetivos dos processos da GC é a obtenção de

conhecimento para a organização, contribuindo para a criação e acumulação de CI nas

organizações (Rasekh, 2014; Wang et al., 2016).

A gestão do CI e a GC são constructos interrelacionados ao nível das suas diferentes

dimensões, sendo possível afirmar que o desenvolvimento de CI (através das suas

diferentes dimensões) afeta diretamente a GC das organizações. Mais especificamente,

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verifica-se uma influência positiva e significativa das dimensões do CI sobre os processos

de GC (Seleim e khalil 2011).

Numa perspetiva baseada no CI pode considerar-se que o CH contribui diretamente para

a GC, pois são os indivíduos da organização que possuem o conhecimento e capacidades

para melhorar a GC (Hsu e Sabherwal, 2012). O CH influencia positivamente os vários

processos de GC, entre os quais a aquisição e a TC, suportando a opinião de que o CH é

uma fonte do intelecto, do conhecimento, da inovação e da invenção (Seleim e Khalil,

2011). Acresce que, existindo dentro da organização CH sob a forma de conhecimento

tácito como valores, experiência, crenças e atitudes dos funcionários e conhecimento

explícito como consciência de boas práticas, tal permitirá aumentar a capacidade de

absorção e dessa forma adquirir conhecimento a partir de fontes externas (Seleim e Khalil

(2011). Por sua vez, o CE pode promover os processos de GC, através da estrutura

organizacional e das tecnologias de informação, por exemplo (Hsu e Sabherwal, 2012),

sendo que de acordo com Seleim e Khalil (2011) o CE influencia de forma positiva não

só o processo de TC como de documentação. Isto acontece porque atividades relacionadas

com a rotina, os sistemas e manuais utilizados e todos os processos organizacionais fazem

parte do CE. Consequentemente, é necessário armazenar e organizar o conhecimento de

forma correta e coerente. Finalmente, o CR influencia positivamente e significativamente

a TC, visto que as interações pessoais facilitam a integração e a partilha de conhecimento

dentro da organização (Seleim e Khalil, 2011; Hsu e Sabherwal, 2012). Também Matsuo

(2015) considera que o CR pode influenciar positivamente a TC, apesar de sugerir que

tanto este como o CH, são as duas dimensões com menor impacto (apesar de positivo)

sobre a TC.

De acordo com Seleim e Khalil (2011) e Hsu e Sabherwal (2012) o efeito inverso também

se verifica. Assim, todos os diferentes processos de GC produzem efeitos positivos sobre

as três dimensões do CI (Al-dalahmeh, 2017). Assim, a criação de conhecimento, que

está relacionada com o desenvolvimento de ideias, soluções, insights, habilidades e

conhecimentos novos e úteis, influencia positivamente a acumulação de CI (Rasekh,

2014; Wang et al., 2016). De acordo com Al-dalahmeh, (2017), a criação de

conhecimento também contribui positivamente para o desenvolvimento de CE, pois ao se

criar conhecimento desenvolvem-se novas competências técnicas e organizacionais. No

entanto, para que isso aconteça, a organização necessita de enriquecer toda a base de

conhecimento, como rotinas, processos, manuais, arquivos e direitos de propriedade

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intelectual. Seguidamente, todo o conhecimento precisa ser transferido, divulgado e

absorvido.

Assim, a TC é vista como uma interação social que resulta numa propagação de formas

de conhecimento, competências e experiências entre os funcionários e entre a organização

e demais stakeholders, contribuindo de forma positiva para a criação de CH (Al-

dalahmeh, 2017). Adicionalmente, Matsuo (2015) considera que a partilha e transferência

de conhecimento contribui para o aumento do CE da organização. Efetivamente, o CE da

organização (como por exemplo toda a estrutura organizacional ou as tecnologias de

informação) pode ser alavancado pelos processos de GC, e especificamente de TC (Chieh

Hsu e Sabherwal 2012; Seleim e khalil 2011). Finalmente, a TC pode contribuir, forma

positiva, para o desenvolvimento de CR, visto que para as atividades relacionadas com a

transferência de conhecimento resulta do relacionamento com clientes, fornecedores e

parceiros (Al-dalahmeh, 2017).

De entre os vários processos de GC, a TC é apontada como o fator comum para a

acumulação de CH, CR e CO nas organizações. Daí este artigo se focar apenas neste

processo e não nos demais citados. Este processo (TC) envolve partilha de conhecimento

entre os funcionários dentro da organização e também entre a organização e demais

stakeholders tais como os seus clientes, parceiros, fornecedores ou o governo.

Apesar do presente artigo não se focar na análise da (possível) relação existente entre as

dimensões do CI, importa mencionar a sua importância, nomeadamente para efeitos de

tomada de decisão por parte dos gestores. A título de exemplo, Lin (2010) verificou que,

em empresas de setores financeiros, o CH tem efeitos positivos tanto no CE (pois o

relacionamento entre clientes e funcionários desenvolve uma maior capacidade de

absorção da informação e consequentemente aumento do CE) como no CR (numa lógica

de interação entre os funcionários mais experientes com os menos experiente). Neste tipo

de setor, a competência dos trabalhadores torna-se o elemento mais importante do CH,

assim como a sua formação e satisfação. Destaca-se, ainda e em termos de CE, o papel

da organização em termos de cultura organizacional e a capacidade de inovação e, por

fim, e em termos de CR, a fidelidade e satisfação do cliente como os principias

indicadores (Lin, 2010; Halim 2010; Bukh et al., 2001).

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3. Modelo Concetual e Hipóteses

Com base na literatura sobre CI e GC, foi desenvolvido o modelo concetual apresentado

na figura 1. Este modelo descreve uma relação bidirecional entre Transferência de

Conhecimento e as dimensões do CI. A primeira relação proposta parte do processo de

transferência de conhecimento em direção às três dimensões do CI. A segunda relação

proposta parte das três dimensões do CI em direção ao processo de Transferência de

Conhecimento.

Assim, foram formuladas as seguintes hipóteses de investigação:

H-A: O processo de Transferência de Conhecimento influencia positivamente as

dimensões do CI.

H-B: As dimensões do CI influenciam positivamente o processo de Transferência de

Conhecimento.

Subdivididas da seguinte forma:

H1-A: O processo de Transferência de Conhecimento influencia positivamente o Capital

Humano.

H2-A: O processo de Transferência de Conhecimento influencia positivamente o Capital

Relacional.

H3-A: O processo de Transferência de Conhecimento influencia positivamente o Capital

Estrutural.

H1-B: O Capital Humano influencia positivamente o processo de Transferência de

Conhecimento.

H2-B: O Capital Relacional influencia positivamente o processo de Transferência de

Conhecimento.

H3-B: O Capital Estrutural influencia positivamente o processo de Transferência de

Conhecimento.

Figura 1

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Modelo Concetual

4. Metodologia

Tendo em conta os objetivos descritos, optou-se por uma metodologia quantitativa, como

sendo o método mais adequado para esta investigação. Este estudo inclui as dimensões

do Capital Intelectual com os respetivos indicadores, assim como o processo de

Transferência de Conhecimento e indicadores.

Relativamente às dimensões do CI, foram consideradas as seguintes (Shakina e

Molodchik, 2013; Cohen e Kaimenakis 2007):

1. Capital Humano (CH): incluí as capacidades, formação, educação, experiência,

atitudes e valores dos funcionários duma organização;

2. Capital Relacional (CR): interliga as relações tanto internas como externas

existentes entre os agentes económicos, como clientes, fornecedores, governo,

outros parceiros, funcionários e meios de comunicação social;

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3. Capital Estrutural (CE): ajusta todo o conhecimento existente dentro da

organização. Neste tipo de capital reside as rotinas, manuais, procedimentos e

estratégias da organização.

O processo da Transferência de Conhecimento (que integra a GC) está diretamente

relacionado com as relações existentes entre funcionários e as atividades que permitem

a troca de conhecimento entre indivíduos nos diferentes níveis organizacionais (Matsuo,

2015; Seleim and Khalil 2011).

Atividades que possibilitam o intercâmbio de conhecimento entre indivíduos, grupos e

unidades organizacionais nos diferentes níveis organizacionais.

Para se compreender a relação existente entre CI e TC foi efetuado um inquérito por

questionário. Neste inquérito utilizou-se uma escala de Likert de cinco pontos, em que 1

refere-se a “discordo totalmente” e 5 refere-se a “concordo totalmente”. Este tipo de

escala é, normalmente, utilizada em questionários, quando o objetivo do estudo é

especificar o nível de concordância duma dada afirmação. As afirmações utilizadas no

questionário para mensurar as diferentes dimensões tiveram por base o estudo efetuado

por Seleim e Khalil (2011). Assim, utilizaram-se 13 itens relativos à variável CH, 6 itens

alusivos ao CR, 6 itens referentes ao CE e 5 itens para mensurar a TC.

4.1 Amostra e Recolha de Dados

Este estudo centrou-se em empresas de Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal em

Portugal. A escolha deste tipo de empresas deve-se ao facto de poderem ser consideradas

“knowledge-intensive”, devido essencialmente à especificidade dos serviços que prestam.

Este tipo de empresas são fortemente dependentes do conhecimento e do CI para serem

competitivas. Assim, utilizou-se a base de dados SABI para aceder às empresas em causa

tendo em conta o Código de Atividade Económica 69200. Daqui resultou um total de

12 974 empresas. Seguidamente, limitou-se a amostra às empresas que possuíam email,

a qual ficou reduzida a 6 311 empresas.

Seguidamente, foi desenhado um inquérito por questionário, o qual foi enviado, por email

(com um link para preenchimento online), para as 6 311 empresas, sendo que amostra

final ficou constituída por 283 respondentes, dos quais 261 foram considerados válidos

(isentos de não respostas). Este inquérito por questionário encontra-se dividido em três

partes distintas: numa primeira parte procura-se analisar o perfil do respondente (género,

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nível de escolaridade e categoria profissional). Na segunda parte do questionário

recolhemos dados acerca da empresa inquirida (antiguidade da empresa, número de

trabalhadores, localização geográfica da sede). Por último, e de acordo com Seleim e

Khalil (2011), foi utilizada a escala e os itens acima mencionados com o intuito de

mensurar as diferentes dimensões do CI bem como a TC.

4.2 Análise dos Dados

Em primeiro lugar foi efetuada uma análise de cariz descritivo para caracterizar a amostra

em causa. Seguidamente, procedeu-se a uma análise multivariada (de causa-efeito).

Assim, as hipóteses de investigação foram testadas com recurso ao modelo de equações

estruturais utilizando-se, para tal, os procedimentos de estimação do Método da Máxima

Verosimilhança (ML), com recurso ao AMOS v 23.0. Este é um método tradicional,

sendo o mais utilizado em Análise de Equações Estruturais (AEE). No ajustamento do

modelo utilizou-se uma estratégia two-step: no 1º passo ajustou-se o modelo medida, e

no segundo passo ajustou-se o modelo estrutural (Maroco, 2010).

Na avaliação da qualidade do ajustamento do modelo utilizaram-se os índices CFI e GFI,

considerando-se que estes indicam um bom ajustamento quando se obtêm valores

superiores a 0.90 (todavia, valores entre 0.80 e 0.90 poderão ser considerados razoáveis,

embora que sofríveis) (Maroco, 2010). Recorreu-se, ainda, à análise dos índices de

parcimónia, PGFI e PCFI, onde se considera que um modelo possui um bom ajustamento

sempre que os seus valores se situem entre 0.60 e 0.80 (Maroco, 2010). Utilizou-se

também o RMSEA com I.C. a 90% e a probabilidade de rmsea ≤ 0.05. Também se

considerou um I.C. para o RMSEA a 90% com limite superior abaixo de 0.10, o que pode

ser considerado razoável. No entanto, considera-se que o ajustamento é muito bom

quando o limite superior do I.C. é inferior a 0.05 (Maroco, 2010). Para refinar o modelo

recorreu-se aos índices de modificação calculados pelo AMOS. Todas a estimativas dos

coeficientes do modelo são apresentadas na sua forma estandardizada.

5. Resultados

5.1 Análise Descritiva

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A amostra do presente estudo é caracterizada por 261 empresas de

Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal, sendo que cerca de 43,3% das mesmas

possuem sede no Centro e 33,7% no Norte de Portugal. Em termos de antiguidade da

empresa, a amostra revela que a maioria possui entre 6 a 15 anos e entre 16 a 25 (36,8%

e 32,2% da amostra, respetivamente). Os indivíduos que preencheram o inquérito por

questionário online foram maioritariamente do género masculino (62,1% da amostra). Do

total de respondentes, 61,3% possuem o grau de licenciatura (ver tabela 1)

Tabela 1

Análise de Frequências

Variável Item Frequência Percentagem

Género Feminino 99 37,9%

Masculino 162 62,1%

Habilitações

Literárias

Secundário 15 5,7%

Curso Profissional 12 4,6%

Bacharelato 36 13,8%

Licenciatura 160 61,3%

Mestrado 35 13,4%

Doutoramento 2 0,8%

Não Resposta 1 0,4%

Localização da Sede

Norte 88 33,7%

Centro 113 43,3%

Sul 50 19,2%

Arquipélago

Madeira

3 1,1%

Arquipélago

Açores

6 2,3%

Fora de Portugal 1 0,4%

Antiguidade da

Empresa

< 1 1 0,4%

1-5 30 11,5%

6-15 96 36,8%

16-25 84 32,2%

>25 50 19,2%

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5.2 Modelo Medida

Em primeiro lugar foi avaliado o ajustamento do modelo teórico à amostra recolhida.

Assim, foram obtidos os seguintes resultados, resumidos na tabela 2.

Tabela 2

Resumos do Ajustamento do Modelo Medida

Modelo Medida

IC↔TC

2 (449) 1240,139

p-value 0,000

2/gl 2,762

CFI 0,890

GFI 0,828

RMSEA 0,078

p[rmsea<=0.05] 0,000

PCFI 0,791

PGFI 0,620

IC a 90% do rmsea ]0.073; 0.084[

Como se pode verificar na tabela 2, todos os índices necessários para realizar a análise

em causa revelam um ajustamento aceitável por parte das quatro variáveis (CH, CE, CR

e TC) e dos 30 itens.

Para além das medidas de qualidade do ajustamento do modelo, existem três medidas de

validade que também devem ser calculadas (Gefen, Straub, Boudreau, 2000; Hair et al.,

2010): a consistência interna dos itens, a fiabilidade compósita, bem como a validade

convergente (Average Variance Extracted-AVE). A consistência interna dos itens que

fazem parte de cada variável foi analisada pelo alpha de cronbach (α). Como todas as

variáveis possuem α superiores a 0.80, pode-se esperar uma boa consistência interna de

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todas as variáveis (ver tabela 3). A fiabilidade compósita (Fornell e Larcker, 1981) estima

a consistência interna dos itens reflexivos da construção, de acordo com um grau que

varia de 0 a 1. Quando a fiabilidade compósita é superior ou igual a 0.70, a mesma

expressa uma fiabilidade de construção adequada (Fornell & Larcker, 1981). Como se

pode verificar na tabela 3, todas as variáveis apresentam valores de fiabilidade compósita

claramente superiores a 0.70. Por fim, a validade convergente é avaliada pela variância

média extraída (AVE) (Fornell e Larcker, 1981). Como todos os AVE 0,50 (ver tabela

3), demostra haver uma validade convergente adequada em todas as variáveis (Hair et al.,

2010).

Tabela 3

Resumo das medidas de validade

Variáveis Alpha de

Cronbach (α) Fiabilidade Compósita

Variância Média

Explicada (AVE)

CH (com 13 itens) 0,953 0,953 0,610

CR (com 6 itens) 0,893 0,884 0,560

CO (com 6 itens) 0,900 0,897 0,597

TC (com 5 itens) 0,846 0,840 0,520

5.3 Modelo Estrutural

O modelo causal (bilateral) das dimensões do CI (capital intelectual) e da TC

(transferência de conhecimento), ajustado a 261 empresas de Contabilidade/Auditoria/

Consultoria Fiscal, com respondentes de ambos os géneros, bem como de dimensões

empresariais diferentes, está ilustrado na figura 2 e 3.

Podemos verificar na figura 2, que o modelo 1 (TC→IC) apresentou um ajustamento

também razoável ( χ2(448)=1263,139; χ2/df=2,819; CFI=0.899; GFI=0.875; PGFI=0.647;

PCFI= 0.785; RMSEA=0.079, P(rmsea≤0.05)=0.000, I.C. a 90% ]0.075; 0.094[ ). Neste

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modelo todos os itens possuem pesos fatorais elevados. Assim a TC (Transferência do

Conhecimento) tem um efeito direto positivo e significativo em todas as dimensões do

Capital Intelectual. Por ordem decrescente, o maior efeito que TC exerce é sobre o CR

(Capital Relacional) (β=0.95; p=0.000), seguindo-se do CH (Capital Humano) (β=0.84;

p= 0.000) e por fim sobre o CE (Capital Estrutural) (β=0.78; p=0.000).

Figura 2

Modelo 1 (TC →IC dimensões)

O modelo 2 representado na figura 3 (IC→TC), possui um ajustamento razoável à

estrutura de variância e covariância dos 30 itens analisados ( χ2(449)=1240,139;

χ2/df=2,762; CFI=0.902; GFI=0.880; PGFI=0.645; PCFI=0.795; RMSEA=0.08,

P(rmsea≤0.05)=0.000, I.C. a 90% ]0.067; 0.088[ ). Todos os itens apresentam pesos

fatoriais elevados, e a percentagem da TC (Transferência do Conhecimento) explicada

pelo modelo é de 73%. O CH (Capital Humano) é a única variável que não apresentou

um efeito direto significativo para a TC (Transferência do Conhecimento). Quanto ao CR

(Capital Relacional), este apresenta um efeito direto e estatisticamente significativo de

0.60 na TC (Transferência do Conhecimento) (β=0.60; p=0.000). Por fim, o CE (Capital

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Estrutural) apresenta um efeito direto (β=0.60; p=0.000) e estatisticamente significativo

na TC (Transferência de Conhecimento).

Figura 3

Modelo 2 (CI dimensões → TC)

6. Discussão e Conclusões

Este estudo visou discutir a influência mútua entre o processo de Transferência de

conhecimento e as três dimensões do CI: Capital Humano, Capital Estrutural e Capital

Relacional. Assim, dois conjuntos de hipóteses, acima mencionados, foram formulados e

testados. O primeiro conjunto de hipóteses previa a influência positiva do processo de

transferência de conhecimento sobre as dimensões do CI: CH, CR e o CE. O segundo

conjunto de hipóteses previa a influência dessas mesmas dimensões sobre o processo de

transferência de conhecimento.

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Os resultados evidenciam a existência de uma influência bidirecional, pois verifica-se

uma relação recíproca entre o processo de transferência de conhecimento e as dimensões

de CI. Por um lado, em linha com Seleim e Khalil (2011), os resultados sugerem que o

processo de transferência de conhecimento apresenta uma influência positiva e

estatisticamente significativa sobre todas as dimensões do CI. Especificamente, o efeito

é maior sobre o CR, seguindo-se o CH e, por fim, o CE. De acordo com Al-dalahmeh

(2017) o CR aumenta quando existe partilha de conhecimento dentro e fora da empresa,

daí ser a dimensão destacada com maior efeito. Tal como sugerido por Al-dalahmeh

(2017), o CH aumenta com o aumento da TC, uma vez que existe partilha de experiência,

valores e crenças dentro deste tipo de empresas. É necessário adquirir funcionários com

altas qualificações e desse modo existir partilha de conhecimento entre estes.

Por outro lado, e também em linha com o estudo de Seleim e Khalil (2011) e Hsu e

Sabherwal (2012), os resultados sugerem que existe um efeito positivo e significativo do

CE e do CR sobre a transferência de conhecimento. De acordo com Trivellas (2015) o

CE das empresas de contabilidade/auditoria/consultoria fiscal inclui métodos e técnicas

desenvolvidas e institucionalizadas (como rotinas organizacionais, sistemas, manuais e

procedimentos), o que contribui para o aumento da comunicação, interligação e partilha

entre os membros da empresa. Surpreendentemente, apesar existir um efeito positivo do

CH sobre a transferência de conhecimento, este não é significativo. Tal é surpreendente

pelo facto do CH ser uma dimensão de importância acrescida no contexto em causa (ver

por exemplo, Lin, 2010; Halim, 2010; Bukh et al., 2001). Por fim, e a titulo de resumo,

os resultados das hipóteses testadas através do método de equações estruturais podem ser

observados na figura 4:

Figura 4

Resumo das Hipóteses de Investigação

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Assim, consideramos que este estudo contribui para o desenvolvimento da investigação

em CI e gestão do conhecimento, na medida em que permite relacionar duas áreas

similares e complementares num contexto específico caracterizado pela importância dos

seus recursos intangíveis: empresas de Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal. Este

estudo contribui, ainda, para melhorar a perceção dos gestores acerca da importância da

gestão de conhecimento (e especificamente a transferência de conhecimento) bem como

do CI para as suas organizações desenvolverem vantagens competitivas.

Este estudo não está isento de limitações. Uma limitação diz respeito ao facto de se ter

analisado apenas uma dimensão da gestão do conhecimento, ou seja, a transferência de

conhecimento. Consequentemente, sugere-se que investigação futura se debruce em

analisar as inter-relações existentes entre todas as dimensões da GC e do CI no contexto

apresentado neste artigo. Uma outra limitação diz respeito aos indicadores adotados, os

quais, com base na literatura disponível, foram adaptados a empresas de

Contabilidade/Auditoria/Consultoria Fiscal. Assim, estudos futuros poderão focar-se em

desenvolver indicadores (para cada dimensão do CI e da GC) específicos ao contexto em

causa. Por fim, considera-se que este estudo deverá ser replicado não só no contexto em

causa, mas também ao nível de outro tipo de organizações e em diferentes países.

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Efetivamente, importa ainda salientar o facto das empresas que fazem parte da amostra

serem todas portuguesas e, consequentemente, possuírem as suas próprias

especificidades.

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