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2º CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM Ensino Clínico IV Autora: Guiomar Ribeiro DOR – Um caso específico A dor é uma realidade filosoficamente imperfeita. Admitimos a sua

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2º CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

Ensino Clínico IV

Autora:

Guiomar Ribeiro

Lisboa

Junho de 2002

DOR – Um caso específico

A dor é uma realidade filosoficamente imperfeita. Admitimos a sua existência quando se passa connosco e acreditamos

na que os outros nos comunicam (DINIZ et al., 2001, p.5)

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Quando a dor é nossa

Quando a dor é nossaNão se pode mensurarEla vem... Instala-se...

E alguns ainda passam a perguntar :O que é isso? Estás enganado!

Não.. porque a dor é de cada umE se é sentida, existe...

Por muitos motivos...Por entendimentos certos ou errados, mas, nossos!

Que nascem dentro de nósPor isso a dor é nossa!

Respondemos de forma diferente a cada estímulo de vidaAlguns aos quais já nos habituámos, quando modificados,

dóiArde na alma... Dói em nosso ser...

Magoa o coração...E grita-se por ajuda... e olham-nos e dizem:

Estás enganado! Não é nada disso...Mas a dor é nossa!!!

Talvez, por essa razão, só nós a sentimosAs lágrimas que caem são vistas como lágrimas vãs...

Lágrimas de fraquezaSão sinaisEntregas

E nascem de um sentimento profundo......a dor que é nossa!!!

Mas essa dor não é perene...(prefiro acreditar que não o é)A dor é nossa sim! Mas um dia acaba... (será?)

E foi uma dor...Nossa!

(Anónimo)ÍNDICE:

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1. Introdução ...............................................................................................................3

2. Apreciação ..............................................................................................................6

3. Planeamento/ Execução .........................................................................................16

3.1. Terapêuticas Farmacológicas ........................................................................17

3.2. Terapêuticas não Farmacológicas .................................................................20

4. Avaliação ...............................................................................................................25

5. Conclusão ...............................................................................................................27

6. Anexos ...................................................................................................................28

7. Referências Bibliográficas .....................................................................................36

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1. INTRODUÇÃO

No âmbito da unidade curricular Ensino Clínico IV, procedo à elaboração deste

trabalho escrito individual. Este debruçar-se-á sobre uma situação concreta de

prestação de cuidados de enfermagem a uma doente que sofria de dor, durante o

estágio referido que decorreu de 15 de Abril a 14 de Junho de 2002.

Sendo a dor um dos problemas dos doentes com o qual o enfermeiro se defronta

mais frequentemente, pareceu-me bastante pertinente a realização deste trabalho ao

longo do ensino clínico, dando-me a oportunidade de tomar consciência e aplicar

diversas estratégias adoptadas comummente (ou não) pelos enfermeiros para reduzir

ou eliminar a dor e ajudar os doentes a lidar com a dor, ao mesmo tempo que estava

em contacto com a prática. A necessidade de aliviar a dor é um dos problemas com

que, mais frequentemente, os enfermeiros se confrontam (SAXEY, 1988, p.31).

A dor é uma realidade um tanto abstracta, de contornos amiúde indefiníveis, em

constantes transformações dinâmicas (DINIZ et al., 2001, p.5).

Não existe ainda, e provavelmente não existirá, uma definição satisfatória e

universalmente aceite de dor. Todos nós já experienciámos este fenómeno, de uma

forma ou de outra. No entanto, sentimos dificuldade em compreender exactamente

como é sentida a dor do outro, sendo uma experiência subjectiva que não pode ser

quantificada por alguém que não a sente.

Várias definições encontradas descrevem a dor como sendo uma experiência

desagradável. Contudo, o termo “desagradável” não é suficientemente claro e

explícito, ao descrever algo que pode levar uma pessoa a um estado de extremo

desequilíbrio, de desespero, ou até mesmo ao suicídio.

Chapman e Bonica (1983), citados por Caunt (1993, p.25), definem dor como uma

constelação de experiências sensoriais, emocionais e mentais desagradáveis e de

determinadas respostas autónomas psicológicas e comportamentais que lhes estão

associadas provocadas por ferimento, doença ou inflamação. McCaffery (1983), por

seu lado, defende que não existe uma definição precisa, sendo a dor aquilo que a

pessoa diz que é, existindo sempre que a pessoa diz senti-la, citada por Bolander

(1998, p.1170). É também encarada como um mecanismo normal de defesa do corpo

contra os ferimentos e a doença (CAUNT, 1993, p.25). A Associação Internacional

para o Estudo da Dor define ainda dor como uma desagradável experiência sensorial

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e emocional associada com lesão tecidular real ou potencial, ou descrita em termos

de tal lesão (citado por BOLANDER, 1998, p.25).

A dor é muitas vezes associada à existência de uma, ou várias lesões. Contudo,

Raiman (1988, p.36) refere que a dor não é apenas uma experiência sensorial

evocada pela lesão, sendo melhor descrita como a consciência que o corpo tem das

suas próprias carências, consciência esta associada a preocupações acerca da

natureza e o significado da dor, ansiedade relativa ao passado e presente e receios de

implicações possíveis e consequências futuras, como o sofrimento prolongado e

morte.

Relativamente à luta contra a dor, diz-se que é um desafio audaz, que demanda

perseverança. É uma batalha que, por vezes, se perde, mas que, mais frequentemente,

se ganha (DINIZ et al., 2001, p.6).

Este trabalho contribuiu, decerto, para apreender formas de lidar com este

fenómeno tão subjectivo – a DOR – adquirindo, nesse sentido, não só aptidões

técnicas, como também perspicácia e compaixão, saberes estes que irão ser

desenvolvidos ao longo de todo o curso e vida profissional, já que a evolução é

contínua e ao longo de toda a vida.

A dor é responsável por mais incapacitação do que qualquer outro sintoma e é o

principal factor na doença que leva as pessoas a procurarem assistência médica

(ZBOROWSKI, 1969, citado por RAIMAN, 1988, p.39).

Por conseguinte, a dor tem que ser encarada, mais do que nunca, como um

problema e não só como sintoma, requerendo uma atenção e atitude terapêutica

especiais.

Relativamente à duração, podem referir-se três tipos de dor:

- Dor transitória;

- Dor aguda;

- Dor crónica.

A dor transitória é de curta duração e, geralmente, não lhe é dada muita

importância, uma vez que está ligada a lesões ligeiras, como uma picada.

A dor aguda caracteriza-se por início súbito, sendo provocada por lesão dos

tecidos, podendo esperar-se que acabe quando a causa da lesão for removida,

funcionando também como um indicador de que algo está errado. Este tipo de dor

ocorre de forma auto-limitativa, tendo prognóstico de probabilidade de completo

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alívio final. Dor de início recente e de provável duração limitada, havendo

normalmente uma definição temporal e/ ou causal (DINIZ et al., 2001, p.27).

A dor crónica tem duração igual ou superior a 6 meses (LOPES et al., 2001, p.5),

persistindo para além do cumprimento de uma função necessária, não tendo

objectivos biológicos úteis. Este tipo de dor é extremamente debilitante, gerando

sentimentos de impotência e desespero, podendo originar depressões profundas. Pode

ou não ter uma causa aparente. É uma dor prolongada no tempo, normalmente com

difícil identificação temporal e/ ou causal, que causa sofrimento, podendo manifestar-

se com várias características e gerar diversos estádios patológicos (DINIZ et al.,

2001, p.42).

Foram feitas apenas abordagens muito sucintas dos vários tipos de dor,

relativamente à sua duração, visto não ser este o objectivo deste trabalho, sendo que o

problema da dor aguda será mais aprofundado no decorrer do mesmo, uma vez que é

relativo à doente em questão, cujo caso será descrito.

A dor pode também ser dividida relativamente à sua origem (funcional/

patológica); localização (visceral/ somática); qualidade (pulsátil, tipo queimadura,

“moinha”...). Porém, não acho pertinente o desenvolvimento destas questões, visto já

terem sido trabalhadas exaustivamente no trabalho realizado anteriormente sobre esta

mesma temática.

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2. APRECIAÇÃO

A apreciação mostra ser extremamente importante para a análise do estado da

pessoa e para o planeamento de cuidados individualizados, servindo de base à

avaliação da eficácia do plano de cuidados, contribuindo na redefinição dos

problemas.

Torna-se fundamental possuir determinados conhecimentos a priori, essenciais à

compreensão da dor, e colher informações, permanentes e actualizadas, acerca da

pessoa e do seu meio, visando a compreensão do doente como um todo, e não

somente como um sintoma, para melhor avaliar, neste caso específico, a dor.

Começarei, então, por fazer uma apresentação/ caracterização, que denota a

evolução da doente que acompanhei ao longo do EC IV, com base em dados que fui

colhendo progressivamente, à medida que fui estabelecendo com esta uma relação

cada vez mais achegada, contextualizando toda a situação de cuidados.

Posteriormente, irei apresentar resumidamente a aplicação do processo de cuidados de

enfermagem nesta doente, incidindo de forma especial no seu problema de dor.

A doente pela qual estive responsável e a quem prestei cuidados de enfermagem

foi a D. M.V., doente do sexo feminino; raça negra, natural de Cabo Verde, mas

residente em Portugal há já muitos anos; 57 anos de idade; casada, com 3 filhos;

residente no Barreiro, numa casa com saneamento básico, com o marido e um dos

filhos (o do meio). Uma das suas irmãs, mais velha, vivia perto da sua casa. O filho

mais velho encontrava-se detido num estabelecimento prisional há cerca de 1 ano, o

que causava um grande desgosto à doente; o filho do meio vivia com os pais, estudava

(12º ano) e trabalhava para ajudar em casa; o filho mais novo estava em constante

mudança, passando curtos períodos da sua vida em locais bastante diferentes, tais

como Açores e Porto, não tendo projectos futuros muito definidos. A D. M.V. era

católica praticante, demonstrando ter muita fé em Deus. Trabalhava num refeitório,

fazendo de tudo um pouco (sic), cozinhar, limpar, etc., mas sempre em constante

movimento.

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Há cerca de 20 anos, a D. M.V. sofreu um acidente de viação, resultando lesão a

nível da perna esquerda, que foi suturada na altura. Passado algum tempo, decorreu

uma osteomielite na tíbia desse local, derivada de infecção a nível dos espaços

medulares, canais Haversianos e no espaço subperiósteo, com consequente destruição

da tíbia, por enzimas proteolíticas (PHIPPS et al., 1995, p.2082). Desta forma a

doente apresentava exposição da tíbia no membro inferior esquerdo há vários anos.

Foi internada no Hospital do Barreiro, onde fez enxerto de pele no local já referido

(zona dadora – coxa do mesmo membro). A doente, ficou, no entanto, bastante

desapontada com este seu internamento, uma vez que o seu problema não foi

solucionado e após a alta a lesão não cicatrizou, permanecendo um “buraco” na região

(sic). Ao longo do tempo foi sendo acompanhada no Centro de Saúde do Montijo,

onde era realizado o penso da lesão, que não evoluía no sentido da cicatrização. A

doente permaneceu sempre a exercer a sua profissão, pois, segundo ela, o salário do

marido não era suficiente para prover as necessidades da família.

Excepto o internamento referido no H. do Barreiro, os únicos internamentos da

doente tinham sido por ocasião dos partos, tendo apenas como antecedente úlcera

gástrica, já tratada e devidamente medicada com protectores gástricos, nomeadamente

sucralfato e omeprazol.

Foi neste contexto que a D. M.V. foi internada no Hospital de S. José, serviço de

Cirurgia Plástica e Reconstrutiva. Este serviço, pelo que pude observar ao longo do

EC, era bastante acolhedor para os doentes, uma vez que os profissionais,

exceptuando um ou outro caso, integravam bastante bem os doentes nas rotinas do

serviço, fazendo com que estes se sentissem parte integrante do mesmo. Apesar de

não ser fisicamente acolhedor, pela experiência que tive no local posso dizer que os

doentes, na sua maioria, se sentiam bem e bastante acompanhados. Relativamente à

temática em questão – a dor – o próprio contexto do serviço lançou-me alguns

desafios. No serviço em causa não era usual a utilização de instrumentos específicos

de avaliação da dor, como escalas, questionários, etc., nem recurso a outras terapias

não farmacológicas no combate à dor. O ênfase era, sem dúvida, à administração de

terapêutica anti-álgica prescrita. Neste sentido, os próprios médicos cirurgiões e

anestesistas não se mostravam, por vezes, muito focalizados no problema da dor.

Posso mencionar, a título de exemplo, uma situação a que assisti, em que um doente

vindo do bloco operatório no fim do turno da tarde fica sem medicação analgésica

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prescrita durante a noite. Notei em várias situações que eram os enfermeiros que

estavam mais atentos a este problema, sendo eles, muitas vezes, que iam sugerir aos

médicos alguma alteração na terapêutica analgésica, visando um maior alívio da dor.

Também não era rotina deste serviço o estabelecimento de momentos específicos

para uma discussão pré-operatória com os doentes, na qual os enfermeiros

esclarecessem dúvidas, medos, falassem acerca da cirurgia, assegurando que a

conversa as explicações do cirurgião tinha sido perceptível, e na qual

percepcionassem a atitude do doente face à dor e qual o método anti-álgico da sua

preferência.

O primeiro contacto que tive com a doente, no início do estágio, foi no dia 17/04,

já depois da cirurgia (doente tinha sido intervencionada cirurgicamente no dia

anterior). Tinha, então, sido submetida a uma intervenção cirúrgica, sob anestesia

geral, na qual foi retirado o músculo recto abdominal para efectuar um retalho livre a

nível da perna esquerda, que tinha exposição da tíbia e enxerto de pele (zona dadora –

coxa do membro inferior direito). A doente encontrava-se consciente, orientada em

todas as referências; apresentava bom estado geral (boa nutrição, pele hidratada);

tinha 2 osmovacks (direito e esquerdo) a nível da região abdominal que drenavam

abundantemente líquido sero-hemático; tinha soro em curso em veia periférica;

drenagem vesical; e pensos na sutura abdominal, na região do retalho na perna

esquerda e na coxa direita – zona dadora. Nesta fase pós-operatória a doente era

dependente nas suas AVD’s. Um dos problemas, nesta altura notório, era sem dúvida

a dor pós-operatória., que poderá ser inserida no conceito de dor aguda.

Este tipo de dor, conforme já referido, surge subitamente, estando normalmente

associada a alguma lesão de tecidos. Lopes (1989, p.15) refere que este tipo de dor é

normalmente caracterizado por ser uma combinação de lesão tecidular, dor e

ansiedade.

Segundo a teoria da especificidade, existem determinados receptores nervosos

(nociceptores), que reagem a estímulos nocivos, que podem ser mecânicos, químicos

ou térmicos, que são interpretados como dor. Os impulsos da dor são transportados

por fibras nervosas sensitivas – fibras rápidas, mielinizadas A-, no caso da dor

aguda, localizada e distinta, sendo conduzidos até ao centro de dor no tálamo, sendo,

por sua vez, enviados para o córtex cerebral, onde ocorre a percepção real da dor.

Segundo outra teoria, do ponto de partida, esta percepção iria depender da chegada

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dos impulsos de dor, ou seja, os impulsos são conduzidos através de uma “porta

aberta” na substância gelatinosa, sendo dirigidos ao tálamo e córtex, onde a percepção

e interpretação da dor ocorrem, no entanto, a informação dolorosa só é transmitida

neste caso. Se, por exemplo, a “porta” estiver fechada, devido à libertação de

neurotransmissores de inibição, o contacto não ocorre, sendo interrompido o impulso

doloroso. (CLANCY et al., 1993, p.21 ; PHIPPS et al., 1995, p.307)

A D. M.V. sofreu, então, de dores bastante intensas nos primeiros dias do pós-

operatório, sendo prescrito morfina (3 fórmulas) + metoclopramida (3 fórmulas) em

50cc de SF, em seringa infusora, a 2cc/ hora.

No final dessa semana a doente estava nitidamente melhor. Não tinha os

osmovacks; não tinha soro em curso, tendo medicação anti-álgica PO – Algimate

125mg em SOS; encontrava-se desalgaliada, urinando espontaneamente; mantinha os

pensos nos locais já mencionados atrás; mostrava já alguma independência em

determinadas AVD’s, necessitando de ajuda parcial apenas na higiene, na qual a

doente colaborava, e algumas mobilizações (levantes). No entanto, apesar de todos os

cuidados a nível de assépsia e de ser respeitada a técnica asséptica na realização dos

pensos, surgiu, ao fim de cerca de 10 dias, infecção da sutura abdominal, que ficou

deiscente e com várias locas (inicialmente três). Este facto contribuiu para o

agravamento da dor.

Além disso, e tendo em linha de conta o que foi referido por Lopes (mencionado

anteriormente), a ansiedade vivida por esta doente, por motivos que passarei a

explicar de seguida, piorava ainda mais a sua situação. Além de ver a sua situação

clínica agravar-se devido a complicações pós-operatórias, ficava bastante preocupada

ao notar o medo e ansiedade dos familiares, nomeadamente o marido, o filho que

vivia com eles e irmã, quando estes a visitavam e reparavam que nem tudo estava a

decorrer da melhor forma. Ao aperceber-se também que o internamento iria ser mais

prolongado que o previsto (a senhora ficou internada cerca de 2 meses, o que não era

muito usual naquele serviço), ficava preocupada devido a problemas a nível familiar.

Por um lado, o seu marido e filho estavam em casa sem saber cozinhar, o filho tentava

ajudar mas estudava e trabalhava, sendo a irmã que morava perto que ia ajudando em

casa. Por outro lado, os problemas que afectavam os outros filhos (referidos atrás)

também perturbavam bastante a doente.

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Além de tudo isto, e relativamente à situação clínica, o retalho do membro inferior

ficou com bastante tecido muscular excedente. Este facto preocupava também

bastante a D. M.V., que se encontrava extremamente ansiosa e com discurso

depressivo, uma vez que, um dos seus médicos cirurgiões, referia que a doente teria

que ir novamente ao bloco operatório, para retirar o tecido excedente; por outro lado,

o outro médico afirmava que o retalho iria atrofiar naturalmente e com a ajuda de uma

meia elástica, logo, não seria necessária uma nova intervenção cirúrgica.

A doente ficava naturalmente bastante confusa com esta contradição,

questionando permanentemente os enfermeiros, e principalmente a mim pois, desde o

início tentei dar espaço à doente para que esta expusesse todas as suas preocupações e

dúvidas, relativamente ao que iria ser feito com a sua situação. Entretanto, a situação

da doente ia-se arrastando e, consequentemente o internamento ia sendo cada vez

mais prolongado, sem que a doente soubesse o que iria ser feito com ela, devido aos

médicos tomarem posições diferentes.

Ao longo da hospitalização, ocorreram ainda alguns conflitos entre a doente e os

seus médicos. A D. M.V. afirmava que, ao ir para a operação, não sabia o lhe iriam

fazer. Segundo ela, não estava devidamente informada acerca da intervenção. Sabia

apenas que iria ser submetida a uma intervenção cirúrgica à perna que tinha exposição

da tíbia, não tendo, no entanto, conhecimento de que iriam tirar “algo” do abdómen.

Confrontava, então, o médico relativamente a esta situação de falta de informação,

que lhe dizia que a tinha informado que iria tirar tecido “da barriga ou das costas”

(sic). A doente estava bastante transtornada com este conflito e afirmava

convictamente que o médico não lhe tinha dito nada. Pensava que iriam tirar tecido

(tecido muscular para o retalho) do outro membro inferior e nunca no abdómen. No

pós-operatório imediato, ficou extremamente surpreendida ao reparar que tinha um

penso na região abdominal, pedindo, nesse instante, que chamassem o cirurgião, que

lhe disse, então, que a teria informado e que talvez não tivesse percebido. Toda esta

situação era perturbadora para a doente, que tinha medo de ser de algum modo

prejudicada por confrontar os médicos e expressar a sua opinião.

A D. M.V. acabou por ser submetida a nova intervenção cirúrgica cerca de 5

semanas após a primeira, cirurgia esta em que eu tive a oportunidade de acompanhar a

doente, na qual foi remodelado o retalho, com novo enxerto de pele (zona dadora –

coxa do membro inferior direito), e foi feita limpeza cirúrgica das 2 locas da região

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abdominal, sob anestesia geral. Passou, então, por novo período de dor pós-operatória,

tendo sido prescrito, no primeiro dia, Algimate (1 fórmula EV 8/ 8h) e, nos dias

seguintes, Algimate 125mg PO, 8/ 8h e em SOS. Este é o ponto que irei focalizar

adiante, relativo à dor sentida pela doente ao longo de todo o internamento, em

especial durante o período em que a acompanhei; formas como lidei com a situação

de dor e ajudei a D. M.V. a lidar com a sua dor, desde a sua avaliação até à

intervenção e resultados obtidos.

Diante da identificação deste problema de enfermagem: dor aguda relacionada

com o período pós-operatório; complicações daí resultantes, nomeadamente

infecção da sutura abdominal e deiscência da mesma; realização de pensos;

ansiedade extrema vivida pela doente, tornava-se fundamental uma boa avaliação

da dor.

Visando esta avaliação tive em consideração determinados aspectos, que poderão

influenciar ainda que indirectamente a avaliação da dor, relativos ao meu próprio

contexto, isto é, à forma como eu própria vejo a dor, as minhas representações e

vivências pessoais, e o contexto da profissão.

Se, por exemplo, eu, enquanto pessoa e devido a experiências individuais, admirar

a grande tolerância à dor, vendo esse facto como motivo de orgulho, isso irá

influenciar a forma como eu, no exercício da prática profissional irei encarar a dor do

outro. Contudo, deveríamos, como enfermeiros, abster-nos de admirar a tolerância à

dor porque podemos estar a negar ao doente o direito de não a tolerar

(MCCAFFERY, 1983, citada por CAUNT, 1993, p.27). Os enfermeiros devem

clarificar os seus conceitos pessoais de dor, para evitar que os apliquem aos outros.

Segundo Saxey (1988, p.33), as crenças dos enfermeiros a respeito da dor pós-

operatória e do seu alívio afectam as suas interpretações sobre a prescrição das

drogas, reflectindo um modelo pessoal de administração de drogas analgésicas. Por

exemplo, a minha percepção e expectativas acerca do alívio que os analgésicos

deveriam trazer ao doente, quer através da minha experiência pessoal de dor, da dor

de outros e de administração de analgésicos, poderão influenciar o modo como irei

avaliar a dor da doente.

Tentei ainda evitar uma resposta rotineira à dor, que pode ser imposta pelo próprio

contexto da profissão e do serviço.

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Tomei também consciência de alguns mitos ou ideias pré-concebidas que poderia

ter acerca desta temática, inculcados pela própria sociedade, de modo a exercer o

importante papel que o enfermeiro tem no combate à dor de forma mais correcta.

Algumas destas ideias vão sendo abordadas mais adiante.

Realmente, o papel desempenhado pelo enfermeiro, como profissional de saúde, é

extremamente importante neste sentido, sendo ele quem passa mais tempo com o

doente, pelo que deve ter um papel activo (DALE, 1995, p.19). A reacção do

profissional de saúde à dor e sofrimento do seu semelhante tem de ser destituída de

preconceitos, inteligente e enraizada num princípio básico de aceitação e crença no

doente (RAIMAN, 1988, p.41/2).

Passarei, então, a descrever a forma que utilizei para avaliar a dor nesta doente

específica, levando em consideração todos os aspectos mencionados acima.

Tentei avaliar a dor de forma relativamente constante, tomando a iniciativa de

falar com a D. M.V. neste sentido, visto que se a avaliação da dor só se processar

quando o doente se queixa pode surgir algum problema (SAXEY, 1988, p.33). Tive

em consideração tanto dados subjectivos como objectivos. Porém, segundo estudos

realizados 69% dos enfermeiros escolhe, actualmente, os métodos não verbais como

sendo o critério mais indicativo da dor, como por exemplo, sinais fisiológicos e

mesmo enfermeiros que concordam que «a dor é o que o doente diz que é» relutam

em utilizar o relato verbal do doente como o melhor indicador da dor (SAXEY, 1988,

p.32). Não obstante, numerosos estudos feitos nos últimos vinte anos, provaram que o

método mais fiável, é perguntar ao doente (LOPES, 1989, p.20).

Desta forma colhi determinados dados subjectivos, pedindo à D. M.V. que me

descrevesse a sua dor, tendo o cuidado de validar com a doente o significado que a

dor assumia para ela, tendo em conta modelos culturais, experiências anteriores,

personalidade, idade e ansiedade. Esta doente, apesar de ser natural de Cabo Verde,

encontrava-se totalmente socializada na nossa cultura, que normalmente não encara a

dor de forma positiva; a doente vi-a como um sinal de perigo, que ameaçava a sua

saúde e bem-estar, e também como um “castigo” da parte de Deus – a D. M.V. era

bastante crente e, por vezes, referia a seguinte afirmação: “Deus quis assim...”.

Relativamente à idade, não pode ser estabelecida uma relação directa entre esta e a

tolerância à dor, no entanto, poder-se-á dizer que a experiência de vida pode fornecer

modos de superar a dor e suportar a sensação dolorosa (LOPES, 1989, p.14). Assim,

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esta doente, com 57 anos, teria certamente um modo pessoal de lidar com a dor e

aliviá-la, construído através de experiências anteriores. A ansiedade vivida pela

doente ao longo do internamento, por motivos explanados atrás, foi indubitavelmente

uma agravante.

Estes dados são relevantes, uma vez que vão influenciar a resposta

comportamental do indivíduo face à dor. A dor e o sofrimento, tal como acontece com

a alegria e a felicidade, são termos abstractos complexos que dizem respeito a muitas

respostas diferentes, específicas de cada indivíduo (RAIMAN, 1988, p.41).

Leriche (1879), citado por Raiman (1988, p.43) refere ainda que a dor não é uma

simples questão dum impulso viajar ao longo dum nervo, a uma velocidade fixa; é o

resultado dum conflito entre um estímulo e o indivíduo na sua globalidade.

Os dados subjectivos colhidos apresentados a seguir são alusivos à dor no período

pós-operatório da primeira cirurgia em que existia infecção e deiscência da sutura

abdominal. A D. M.V. descreveu a sua dor relativamente à frequência, localização,

características, intensidade, o que agrava, o que alivia e alterações provocadas.

- frequência: a dor foi descrita como sendo intermitente, persistindo mais após a

realização do penso da sutura abdominal, fundamentalmente quando era feito com

instilação (SF + água oxigenada) e expressão;

- localização: região da sutura abdominal, sendo bastante localizada, sem qualquer

irradiação;

- características: durante a realização do penso era uma dor aguda, forte, cortante. Nos

outros períodos persistia uma dor desconfortável, tipo moinha;

- intensidade: relativamente a este ponto, foram descritas à doente duas formas de

descrever a intensidade. Escolhi as escalas que menciono a seguir, por serem métodos

facilmente compreensíveis pela doente, mesmo em períodos em que se encontrasse

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Fig.1A resposta do indivíduo à dor

Fonte: Raiman (1988)

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mais sonolenta, como no pós-operatório imediato (SAXEY, 1988, p.31). Uma delas

foi a escala visual analógica (EVA), por exigir uma avaliação simples e curta, não

perturbando a doente em recuperação. Este é o método mais simples de medida

subjectiva da dor (CAUNT, 1993, p.26), no qual a doente marcava o número que

mais se adequava à sua dor, num segmento de recta numerado de 0 a 10, em que 0

traduz a ausência de dor e 10 traduz a pior dor que conseguisse imaginar:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

0 Ausência de dor

10 A pior dor Fonte: Dale (1995)

Outra forma de descrever a intensidade era através de uma escala de 0 a 5 como a

seguinte, em que foi pedido à doente que indicasse o termo e respectivo número que

descrevesse com maior exactidão a dor experimentada no momento:

0 Não há dor

1 Dor suave

2 Desconforto

3 Angustiante

4 Horrível

5 Torturante Fonte: Phipps (1995)

Durante o período pós-operatório imediato da primeria cirurgia não foi utilizada

qualquer escala, uma vez que era o meu primeiro contacto com a doente e estava

ainda numa fase muito precoce de adaptação. Além disso, estes métodos não eram

usados no serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva, o que me causou algumas

inibições inicialmente. Aquando da infecção e deiscência da sutura os resultados

foram geralmente 5 ou 6, após a realização dos pensos, na EVA e 2 (Desconforto) na

mesma ocasião. No período pós-operatório da segunda cirurgia os resultados foram na

maioria das vezes 4, na EVA e 2 (Desconforto), sendo, por vezes, 1 (Dor suave).

Existem ainda outros métodos específicos de avaliação, também não utilizados pelo

serviço, que penso não ser relevante mencionar, apresentando-os depois em anexo.

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- o que agrava: algumas mobilizações em que faz esforço no abdómen, “nervos”

(ansiedade) derivados de desconhecimento da situação futura, agravamento do estado

de saúde (na sua percepção), problemas a nível familiar;

- o que alivia: “estar entretida”, ficar imóvel no leito, adesivo do penso abdominal

aplicado na horizontal ao longo do abdómen;

- alterações provocadas: algumas mobilizações que não consegue ou lhe custa fazer,

dificuldade em adormecer.

Relativamente aos dados objectivos observei:

- frequência cardíaca mais elevada que o normal para si, fundamentalmente após a

realização dos pensos;

- diaforese;

- posição defensiva, protegendo com as mãos a parte dolorosa, o abdómen e ficar

imóvel no leito;

- tensão muscular, especialmente a nível dos membros superiores e fácies;

- sobrancelhas franzidas, cerrar de dentes e punhos, nomeadamente durante a

realização dos pensos;

- gemer, demonstrando fácies deprimido ou fazendo caretas, chorar, no momento

antes de fazer o penso da sutura abdominal, antecipando a dor que iria ter.

Penso que este método foi bem conseguido, uma vez que tentei compreender a

D. M.V. como uma globalidade e não apenas o seu problema de dor. Assim, quer

através de observação, quer por meio de conversa com a doente, colhendo dados

subjectivos e objectivos, validando-os com a mesma e relacionando-os com toda a sua

vivência, penso ter conseguido uma avaliação da dor relativamente próxima da dor

real, que a doente, e só ela, sentia, aceitando a dor do outro.

Contudo, pude verificar que, apesar da disponibilidade dos instrumentos de

avaliação da dor, estes nem sempre são usados. Por um lado, alguns enfermeiros

confiam nos sinais fisiológicos, como a alteração de sinais vitais e aspecto do doente.

Por outro lado, há enfermeiros que talvez contem com a comunicação verbal, o que

poderá ser bastante subjectivo, já que estará sujeito a diferentes interpretações

consoante os enfermeiros que tratam do doente (DALE, 1995, p.18).

Após uma avaliação correcta da dor, torna-se fundamental estabelecer metas e

planear os cuidados a prestar ao doente de forma individualizada. Logo, será

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apresentado seguidamente o planeamento e execução de alguns cuidados de

enfermagem que prestei à D. M.V. referentes à sua dor.

3. PLANEAMENTO/ EXECUÇÃO

Com base nos dados recolhidos anteriormente e numa avaliação adequada da

dor, surge esta etapa que visa a utilização, da forma mais correcta, dos recursos,

estabelecendo prioridades, no sentido de ajudar a pessoa a atingir os resultados

desejados.

Deverá, então, haver um planeamento cuidado e rigoroso, estabelecendo

objectivos específicos e planeando cuidados individualizados, de forma a assegurar

que se está a levar em conta todas as componentes que reflectem as necessidades do

doente, para assim responder às solicitações da pessoa na sua globalidade.

A intervenção profissional face ao indivíduo com dor é de extrema importância,

na medida em que, ela própria, interfere com a satisfação de necessidades. A dor é o

problema prioritário a tratar, no planeamento de cuidados. Independentemente da sua

intensidade, a dor não aliviada pode tornar-se uma preocupação de tal forma

monopolizadora, que toda a atenção da pessoa seja direccionada para o seu alívio.

Assim, sendo cada indivíduo singular, com manifestações de dor únicas, o

planeamento de cuidados de enfermagem para aquela pessoa em concreto revela-se

indispensável à concretização das metas propostas. Reconhece-se, assim, ser uma

prioridade que, durante o período peri-operatório, principalmente no pós-operatório,

os doentes tenham acesso a um maior alívio da dor (DINIZ et al., 2001, p.26).

Segundo um estudo realizado, os enfermeiros acreditam que o alívio da dor

promove a recuperação do doente, logo, seria razoável esperar que isso fosse

prioritário nos cuidados de enfermagem prestados ao doente. No entanto, foi

considerado prioritária a avaliação dos sinais vitais e detecção de hemorragias

(SAXEY, 1988, p.33). Cohen (1980), citado por Saxey (1988, p.33), refere também

que o alívio da dor pós-operatória não se coloca como objectivo prioritário pelos

enfermeiros. Porém, na minha prestação de cuidados à D. M.V. tentei evidenciar

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como objectivos fundamentais, tendo em consideração o diagnóstico de enfermagem

relativo à dor, mencionado anteriormente (p.9):

- Eliminar ou reduzir ao máximo os estímulos dolorosos;

- Aliviar e, se possível, eliminar a dor;

- Ajudar a doente viver melhor.

Além disso, o controlo da dor no período peri-operatório tem vantagens

reconhecidas (DINIZ et al., 2001, p.27):

- maior conforto do doente;

- prevenção de potenciais complicações;

- precocidade da alta;

- humanização dos cuidados.

Estabeleci também como objectivo a redução da ansiedade, visto encontrar-se

directamente ligada ao problema em questão. Seers (1987), citado por Clancy et al.

(1993, p.23), refere que índices elevados de ansiedade estão ligados a um aumento da

percepção da dor.

Desta forma, tendo em vista os objectivos referidos administrei terapêutica

farmacológica, assim como, apliquei determinadas técnicas complementares, não

farmacológicas, nomeadamente a massagem, que será mais aprofundada.

3.1. TERAPÊUTICAS FARMACOLÓGICAS

A terapêutica farmacológica relativa ao combate à dor resume-se especialmente

à utilização de fármacos analgésicos, com recurso, ou não, a fármacos adjuvantes.

Neste sentido, o papel de enfermeiro passa por:

- administração da medicação adequada;

- avaliação da analgesia;

- estar atento a possíveis efeitos secundários;

- comunicação rápida e exacta da necessidade de alguma alteração na

medicação.

Neste caso específico, irei abordar de forma breve a terapêutica administrada à

D. M.V., que teve prescrita ao longo do seu internamento.

Nos primeiros dias do pós-operatório da primeira cirurgia, foi prescrito morfina

(3 fórmulas) + metoclopramida (3 fórmulas) em 50cc de SF, em seringa infusora, a

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2cc/ hora. A morfina pertence ao grupo dos opiáceos, actuando como analgésico,

ligando-se a receptores existentes no cérebro e na medula espinhal. Este é o fármaco

de eleição no último degrau da escada analgésica (Fig.2). Opióide agonista de acção

curta, é bem absorvido por todas as vias de administração, no caso da D. M.V. foi

administrado via EV. Via oral, a absorção ocorre maioritariamente no duodeno e

jejuno. Esta via deve ser privilegiada, inicialmente, sempre que possível, utilizando as

restantes vias quando a oral é totalmente impossível (por exemplo: em caso de

disfagia, oclusão/ vómitos, prostração intensa ou quando há necessidade de aumentar

rapidamente as doses analgésicas). No caso desta doente foi utilizada a via EV por ser

necessário aumentar rapidamente a analgesia, uma vez que as dores eram

extremamente intensas a nível das incisões cirúrgicas. Além disso foi administrada

por infusão contínua, evitando os problemas dos bolus (toxicidade nos picos de

concentração e dor nas fases de baixa concentração), permitindo também administrar

um grande volume de solução. É metabolizada essencialmente no fígado e excretada

no rim. Alguns efeitos secundários que a morfina apresenta são: obstipação, boca

seca, náuseas e vómitos, sedação e alterações cognitivas, retenção urinária, mioclonias

e depressão respiratória. No caso concreto da D. M.V., ocorreu obstipação, devido à

inibição da contractilidade do cólon, havendo necessidade de administração de

Lactulose e Microlax’s; sedação e alterações cognitivas, nomeadamente sonolência;

retenção urinária, devido ao efeito da morfina sobre o esfíncter vesical, pelo que a

doente foi algaliada. A metoclopramida, administrada conjuntamente, visava reduzir

os efeitos secundários, como as náuseas e vómitos. Existe muitas vezes a ideia de que

a morfina deve ser considerada um fármaco de último recurso, no entanto, deve ser

utilizada sem receios no combate à dor.

Opióides fortes

Analgésicos Opióides fracos

não opióides

Fig. 2 – Escada Analgésica

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Fonte: DINIZ et al. (2001)

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Nos primeiros dias do período pós-operatório da segunda cirurgia, foi

administrada 1 fórmula de Algimate (clonixinato de lisina) EV, 8/8h. Este é um

analgésico não opióide, pertencente ao grupo dos anti-inflamatórios não esteróides

(AINE’s), que actua como inibidor das prostaglandinas (neuromediadores que

potenciam a dor), em particular. É considerado um fármaco com potente acção

analgésica. Para administração EV, é necessário ser diluído em 100cc de SF e ser

administrado de forma lenta, uma vez que esta pode ser dolorosa, havendo, por vezes,

queixas álgicas ao longo do membro.

O fármaco que foi administrado durante mais tempo ao longo do internamento

foi Algimate (clonixinato de lisina) 125mg PO, 8/ 8h. Algumas características deste

fármaco foram já mencionadas. Tem como efeitos secundários pirose e enfartamento

gástrico, mas tem a vantagem de não provocar, por si só, úlceras gástricas. Este facto

era importante para a doente em questão, uma vez que tinha antecedentes de úlcera

gástrica, sendo, no entanto, recomendado à doente que não tomasse o comprimido

com o estômago vazio.

Na administração de terapêutica tive sempre o cuidado de estar familiarizada

com a terapêutica que ia administrar e cumprir os “5 certos”, certificando-me que era

o medicamento certo, administrado à pessoa certa, à hora certa, na dose certa e via de

administração certa. Além disso, como estava também prescrito Algimate PO em

SOS, tinha o cuidado de fazer avaliações constantes da dor, de modo a verificar a

necessidade de mais terapêutica anti-álgica, tendo consciência que poderia

administrar, no máximo, 6 comprimidos por dia.

Estabeleci também com a doente um clima de confiança, compreensão, empatia

e respeito mútuos visto que isso irá influenciar o próprio êxito do analgésico

(CLANCY et al., 1993, p.24).

Segundo estudos de investigação, existe uma diferença significativa entre a

quantidade de analgésicos prescritos e a que foi na realidade administrada, sendo a

primeira maior que a segunda (SAXEY, 1988, p.33). Isto denota que há ainda alguma

relutância por parte dos enfermeiros em administrar analgésicos, o que pode estar

relacionado com o mito de que é necessário esperar o maior tempo possível antes de

administrar a medicação anti-álgica ou a ideia de que os doentes se viciam em

analgésicos. Na realidade, é fundamental uma administração em intervalos regulares

para obter níveis sanguíneos estáveis e são raros os casos de dependência.

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A administração de terapêutica anti-álgica é importante, contudo, não pode ser

considerada pelo enfermeiro como o único meio de aliviar a dor de um doente

(LOPES, 1989, p.20).

3.2. TERAPÊUTICAS NÃO FARMACOLÓGICAS

Hunt et al. (1977), citados por Raiman (1988, p.39), verificaram, em estudos

realizados, que os enfermeiros tinham tendência para sobrevalorizar o alívio fornecido

pelos analgésicos. Um outro estudo efectuado (SAXEY, 1988, p.34) revela que

somente um pequeno número de enfermeiros mencionou intervenções como

distracção, calor, frio e massagem, dando maior importância à administração de

fármacos. Pessoalmente, tentei não demonstrar esta tendência e utilizei também

formas não farmacológicas, que complementavam a própria terapêutica

farmacológica, no combate à dor.

O enfermeiro poderá proporcionar distracções alternativas ou massagens para

reduzir a tensão muscular. Para alguns doentes, só o facto de o enfermeiro «estar

ali» já é um valioso cuidado de enfermagem (NUMBERS, 1988, p.4).

Uma das técnicas que utilizei para complementar a actuação dos fármacos, foi a

massagem, técnica esta que passarei a descrever com mais pormenor.

Massagem é um conjunto de manipulações praticada geralmente com as mãos,

sem ajuda de instrumentos, sobre uma parte ou a totalidade do corpo, com o

objectivo de provocar modificações directas ou reflexas (ALMEIDA et al., 2000,

p.75).

A primeira vez que apliquei esta técnica foi no dia 26/04, turno da manhã. Logo

no início do turno, a doente encontrava-se muito queixosa e ansiosa. Após conversar

com a doente e proceder à avaliação da dor (descrita nas pp.11-13), as prioridades que

estabeleci de imediato foram, para além da prestação dos cuidados de higiene, a

diminuição do seu desconforto e ansiedade. Ajudei, então, a doente no seu banho e,

no final, ofereci-lhe uma massagem, explicando a sua finalidade, de relaxamento,

conforto e, possivelmente, alívio da dor.

Estava criado um ambiente calmo, que facilitava a interacção e descontracção.

Fechei a porta, a janela e, para manter a privacidade da D. M.V. corri as cortinas. A

doente colocou-se na posição mais confortável para si (decúbito lateral, próxima da

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beira da cama) e mantive exposta apenas a região a ser massajada – a região dorsal,

desde a região glútea superior até aos ombros.

Senti-me um pouco inibida inicialmente. Wood e Becker (1984), citados por

Almeida (2000, p.75), referem que o equipamento mais importante para a massagem

é um par de mãos bem treinadas, dirigidas por uma mente inteligente. Não posso

propriamente dizer que as minhas mãos estavam «bem treinadas», visto ser a primeira

vez que aplicava esta técnica, segundo alguns princípios especiais, descritos por

Almeida (2000), no entanto, isso não foi suficiente para me inibir de tal forma que

não fosse capaz de aplicar a massagem. Foi necessária uma abertura da minha parte e

coragem para alterar certas rotinas do próprio serviço e situações pouco frequentes

nos hospitais. A doente estava também um pouco surpreendida com o que estava a

suceder, mas, agradavelmente surpreendida.

Apliquei, então, uma solução cremosa hidratante (para proporcionar um melhor

deslizamento) nas minhas mãos, de modo a que a mesma ficasse à temperatura das

mãos. Tive o cuidado de ter as unhas curtas e limadas, não ter qualquer adereço nas

mãos, assumir uma posição correcta e confortável para mim, assim como lavar as

mãos antes e após a técnica. Avisei a doente de que a solução poderia estar fria e

comecei, assim, a massagem, primeiro de modo mais superficial (deslizamento

superficial), à medida que ia exercendo maior pressão (deslizamento profundo),

terminando novamente com deslizamento superficial. Fui seguindo determinados

movimentos, rítmicos e lentos, bastante perceptíveis na fig. 3.

Fig. 3 – Movimentos da massagem dorsal

Fonte: Almeida (2000)

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A massagem prolongou-se por cerca de 5min, que é o tempo descrito como

suficiente para alcançar os objectivos (ALMEIDA, 2000, p.78), ao longo da qual

mantive o diálogo com a doente, num tom de voz baixo e calmo.

Foi deveras gratificante para mim ouvir, no final da interacção: “Muito

obrigada! Sinto-me bastante mais aliviada”, o que era visível na própria doente, com

um fácies mais calmo e atitudes mais optimistas relativamente à sua situação. Esta

técnica foi também aplicada noutras ocasiões, nomeadamente após a mudança de

pensos, tendo o cuidado de não ser já no horário das visitas (a partir das 12h). Foram

aplicados os mesmos princípios e acções descritas atrás.

Esta técnica foi escolhida tendo em consideração os efeitos descritos, que

correspondiam aos objectivos inicialmente planeados: redução da dor; diminuição da

ansiedade; aumento do relaxamento; aumento do bem-estar; promoção de confiança e

empatia (SOUSA, 1999, p.28). Além disso, trata-se de uma técnica que pode ser

utilizada livremente, sem ter que proceder à aquisição de materiais que o serviço não

possuía. A massagem induz o relaxamento e reduz a dor. A fricção suave e curta do

dorso pode ser extremamente repousante. Além disso, aumenta o apoio e confiança

entre o doente e o enfermeiro (URBANO et al., 1999, p.32).

Pareceu-me, também, ser uma técnica que poderia adaptar bastante bem àquela

doente específica, no entanto, sendo a técnica escolhida por mim, leva-me a

questionar: «Será que fiz da D. M.V. realmente uma parceira nos cuidados, nesta

situação em especial?» McCaffery e Beebe (1989), citados por Dale (1995, p.16),

afirmam mesmo que um doente tem o direito de (...) ser informado de todos os

métodos de alívio da dor, escolher o seu método preferido de controlo da dor (...).

Sinto que poderia ter partilhado de forma diferente a escolha da técnica com a doente.

A dor pode ser intensificada pela ansiedade, medo do desconhecido, medo da

dor e desespero (BOLANDER, 1998, p.1189). Logo, o facto de a doente pensar

antecipadamente na dor, aumenta a ansiedade e também a própria intensidade com

que a dor vai ser percebida. Depreende-se, então, que a distracção e a redução da

ansiedade iria contribuir para a diminuição, ou mesmo abolição, da dor, podendo,

portanto, ser usada como «arma» do enfermeiro no combate à dor (LOPES, 1989,

p.14). Por esse motivo, eu informava e preparava a doente, sempre que se

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aproximasse um procedimento doloroso, nomeadamente a realização dos pensos,

dando informações, por exemplo, a nível sensorial, o que a doente iria sentir e em que

momento preciso.

Tive também a oportunidade de acompanhar a doente num período pré-

operatório (antes da segunda cirurgia) e, visto que a redução da ansiedade pré-

operatória resulta em diminuição da dor pós-operatória (SAXEY, 1988, p.31), tive o

cuidado de, por meio de uma conversa informal, tirar dúvidas relativas à cirurgia, dar

explicações, fazendo questões, de modo a assegurar-me que a doente tinha percebido.

Carr (1990), citado por Dale (1995, p.17), afirma também que a falta de exactidão da

informação pré-operatória contribui para aumentar a ansiedade e a dor.

Relativamente à ansiedade que a D. M.V. vivia, que envolvia toda a sua

situação, e tendo como objectivo a redução desse mesma ansiedade, usei diversas

estratégias.

Por vezes, o ficar junto da doente, mostrando disponibilidade e genuíno

interesse por ela, deixando que esta falasse livremente, sentindo que eu estava ali para

a ouvir, era suficiente para a acalmar e descontrair. Aproveitava, ao longo da

conversa, para tocar a doente, sempre que conveniente. A terapêutica do toque pode

resumir-se apenas ao agarrar na mão do doente, batendo ligeiramente no antebraço

ou acariciando suavemente as costas da mão... este tipo de estimulação dá origem a

alterações do hipotálamo que produzem um efeito relaxante através do sistema

nervoso parassimpático (CAUNT, 1993, p.28). O toque pode constituir um

componente crucial importante quando se deseja um eficaz alívio da dor (URBANO

et al., 1999, p.32).

Além disso, a diminuição da tensão muscular, por exemplo, por meio da

massagem já descrita, ajudava também a doente a descontrair-se. Tranquilizava,

também, a D. M.V. relativamente à terapêutica analgésica, sentindo-se segura de que,

quando precisasse, ser-lhe-ia administrada. Por meio de distracção, quer conversando

com a doente, quer incentivando-a a ver um programa de televisão, do seu agrado, a

ler o seu livro de índole religioso, que sempre a acompanhava, ou proporcionando

momentos em conjunto com outras doentes, mesmo de outras salas, a doente deixava

de focalizar a sua atenção na dor. Uma autora refere mesmo que se o doente se sentir

isolado e for encarado duma forma separada em relação ao processo patológico, o

sofrimento potencial é aumentado e as oportunidades para alívio e uma maior

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compreensão ou mesmo perdidas (RAIMAN, 1988, p.43). Por conseguinte, tentei

acompanhar a D. M.V. das formas descritas, não permitindo que esta se sentisse

isolada. Realmente, a interacção enfermeiro–doente revela-se de extrema importância

para uma prestação de cuidados individualizada. Diers et al. (1972), citado por Saxey

(1988, p.31) referem que a qualidade da relação enfermeiro-doente influi na eficácia

das intervenções de enfermagem. Assumi, assim, uma acção não meramente

tecnicista, mas inserida numa dimensão relacional, tendo em vista a assistência da

pessoa como um todo. Na verdade, se o enfermeiro se concentra demasiado no papel

representado pelos conhecimentos científicos de cariz biológico e nos aspectos

relacionados com a competência técnica, sem a preocupação pela vertente relacional

e pela participação do doente em todo o processo, não só desvirtua como ignora o

conceito holístico do Homem que tem dor (URBANO et al., 1999, p.34).

Tentei também ter algumas intervenções puramente psicológicas visando alterar

a interpretação que a doente fazia da dor, garantindo-lhe, por exemplo, que a dor não

significa automaticamente que algo está a correr mal (MCCAFFERY, 1983, citada

por DALE, 1995, p.17). Por exemplo, a doente, ao ver aproximar o carro de pensos,

ficava de imediato ansiosa e até mesmo chorosa. Tinha receio da dor e,

principalmente, de ver que a sutura estava pior, o que não era a realidade. Desta

forma, fiz com que a doente se apercebesse que a instilação e expressão que eram

feitas, que causavam inevitavelmente algum desconforto, ajudavam a drenar o líquido

purulento do interior da sutura e, quanto mais depressa a infecção da sutura fosse

debelada, mais rápida seria a cicatrização. A doente recusava olhar para o seu

abdómen durante a realização do penso, opção esta que foi respeitada. No entanto, ia

descrevendo para a doente a situação da sutura, sendo sempre honesta e sincera para

com ela, para que não tivesse uma percepção errada da sua situação, quer melhor,

quer pior que a real.

Aquando da realização do penso tentava também usar sentido de humor, o que

mostrou ser bastante proveitoso, uma vez que a doente acabava sempre por ter um

sorriso nos lábios. Era também incentivada a inspirar profundamente quando o

desconforto era maior, fundamentalmente durante a expressão da sutura. Além disso,

numa conversa amigável com a doente, tentei enfatizar os pontos positivos da

realização do penso e fazer, assim, que ela própria tivesse outra percepção desta

intervenção, uma vez que, no momento, era uma “tortura” para ela (sic).

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A família estava também ansiosa com a situação da sua familiar e pude

observar, por vezes, que esta ansiedade era transmitida à doente durante as visitas.

Assim, tentei demonstrar uma atitude de disponibilidade também para com a família,

ouvindo-os, dando-lhes o meu apoio e esclarecimentos necessários e possíveis.

4. AVALIAÇÃO

A avaliação dos cuidados prestados à pessoa com dor é muito importante, para

que o enfermeiro tenha um feedback sobre as intervenções planeadas e executadas, e

de que forma estas contribuíram, ou não, para o alívio da dor no doente. Esta fase do

processo de cuidados tem como principais objectivos: a identificação das respostas do

utente aos cuidados de enfermagem e a avaliação do sucesso/ insucesso do plano para

atingir os resultados esperados.

Ao planificar um processo de cuidados, como referido, existem certos resultados

que são esperados, pelo que se pode avaliar o maior ou menor sucesso da intervenção

verificando se estas metas foram alcançadas, comparando o estado actual do doente

com os resultados esperados.

A avaliação é extremamente importante no planeamento de acções futuras, não

devendo o enfermeiro ficar simplesmente pela suposição que os cuidados prestados

foram eficazes (LOPES, 1989, p.21).

Assim, face a todos os cuidados prestados, farmacológicos e não farmacológicos

relativos ao problema de dor, pude verificar, validando com a doente, que a dor foi

efectivamente reduzida e até mesmo, em algumas ocasiões, eliminada. As avaliações

da dor pós actuação dos fármacos e técnicas complementares descritas apontaram,

exactamente nesse sentido.

Além de a própria doente referir sentir-se melhor (2 - EVA; 1 - Dor suave; ou

não referia mesmo dor), objectivamente, a frequência cardíaca diminuía, apresentava

uma expressão facial de maior relaxamento e calma, e tinha mesmo um discurso mais

positivo e optimista face à sua situação.

O tratamento da dor só é eficaz se o doente for encarado na globalidade, como

um indivíduo com uma determinada personalidade, pertencente a uma família, com os

seus valores culturais, sociais e religiosos. Tem também os seus problemas, motivados

ou não pela sua doença (LOPES, 1989, p.18).

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Penso que só desta forma foram atingidos os resultados referidos, em que a dor

foi notoriamente aliviada. Foram supridas várias necessidades da doente, ao mesmo

tempo que dava prioridade ao seu problema de dor. O tipo de relação estabelecida

entre o enfermeiro e o doente desempenha um papel primordial no sucesso das

medidas efectuadas (LOPES, 1989, p.19).

A relação que estabeleci com a doente desde o início foi, indubitavelmente,

facilitadora de todo o processo de intervenção. O clima que se gerou entre nós, de

confiança, sinceridade e respeito contribuiu para que as intervenções planeadas e

executadas alcançassem bons resultados.

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5. CONCLUSÃO

Este trabalho constituiu-se, na minha opinião, como um desafio, uma vez que

me pôs em contacto directo, como estudante de enfermagem ainda tão inexperiente,

com um problema tão complexo e subjectivo – a dor.

Desta forma, penso que se revelou um excelente meio de aprendizagem, não

apenas teórica, mas na prática do exercício profissional. Desenvolvi, sem dúvida,

determinadas características, tanto a nível de relações interpessoais, como a nível de

competências técnicas. Entre as intervenções que realizei no âmbito desta temática,

que foram certamente importantes para o meu desenvolvimento, estão: o apoio

psicológico, cuidados de enfermagem relativos ao aspecto físico do doente e cuidados

de enfermagem relativos à administração de terapêutica analgésica.

Neste Ensino Clínico, especialmente devido à elaboração deste trabalho, pude

aprender modos complementares no combate à dor, nomeadamente a massagem

terapêutica.

Apesar de algumas dificuldades encontradas na elaboração deste trabalho, como

o “ir além” das rotinas e meios utilizados no serviço onde estava inserida, foi bastante

gratificante para mim a realização do mesmo.

Em última instância, considero que, com este trabalho, consegui responder aos

objectivos propostos e ter aprendido noções bastante importantes para o

desenvolvimento das minhas capacidades relativamente à prestação de cuidados de

enfermagem a doentes com dor.

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Assim, desejo que no exercício da sua profissão cada enfermeiro assista o Homem que tem dor, e

não a dor que existe no Homem(URBANO et al., 1999, p.34).

6. ANEXOS – Instrumentos de avaliação da dor

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Anexo 1 – Fonte: Dale (1995)

Anexo 2 – Fonte: Cardoso (1999)

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Anexo 3 – Fonte: Lopes (2001)

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Anexo 4 – Fonte: Cardoso (1999)

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Anexo 5 – Fonte: Cardoso (1999)

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Anexo 5 (cont.)

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Anexo 5 (cont.)

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anexo 6 – Fonte: Cardoso (1999)

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CLANCY, John et al. – A subjectividade da dor in Nursing, N.º 71, Dezembro 1993

(pp.21-24). ISSN 0871-6196;

DALE, Fiona – Dor no pós-operatório do doente cirúrgico programado in Nursing,

N.º 85, Fevereiro 1995 (pp.16-19). ISSN 0871-6196;

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URBANO, Graça Pereira et al. – Aprender com a dor – do conhecimento ao alívio

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