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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 033.739/2013-7 GRUPO II – CLASSE VI – Primeira Câmara TC 033.739/2013-7 Natureza: Representação Órgão: Universidade Federal de Juiz de Fora Responsável: Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (112.796.566-20) Representação legal: Lucas Sampaio de Souza (OAB/MG 152.577), representando Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (procuração à peça 34) SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO FIRMADO COM FUNDAÇÃO DE APOIO À UNIVERSIDADE PARA MANUTENÇÃO DE TIME DE VOLEIBOL. RECURSOS À CONTA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA DESTINADOS À GRADUÇÃO, PÓS-GRADUAÇÃO, ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO. OUTRAS IRREGULARIDADES FORMAIS. AUDIÊNCIA. RAZÕES DE JUSTIFICATIVA DEMONSTRARAM A NATUREZA EMINENTEMENTE ACADÊMICA DO PROJETO E OS RESULTADOS ALCANÇADOS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. DETERMINAÇÃO. CIÊNCIA. RELATÓRIO Em exame representação encaminhada pela Controladoria Regional da União em Minas Gerais (CGU/MG), relativa a supostas irregularidades ocorridas na execução do Convênio 010/2011 (processo 23071.0l6588/2011-46), registrado sob o nº 760.440/2011 - Siconv, celebrado entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão da UFJF (Fadepe/JF), tendo por objeto a execução do programa de voleibol na universidade (peça 11, p. 22-32). 2. Para melhor compreensão das alegadas irregularidades que motivaram esta representação, transcrevo o exame técnico da instrução lançada pela Secex-MG à peça 14: “EXAME TÉCNICO 1

 · Web view25.2. Da equipe de 13 jogadores teoricamente que serviram de ‘amostra de pesquisa’ para o convênio, só houve a manutenção de 4 para participar da Superliga temporada

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 033.739/2013-7

GRUPO II – CLASSE VI – Primeira CâmaraTC 033.739/2013-7 Natureza: RepresentaçãoÓrgão: Universidade Federal de Juiz de Fora Responsável: Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (112.796.566-20) Representação legal: Lucas Sampaio de Souza (OAB/MG 152.577), representando Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (procuração à peça 34)

SUMÁRIO: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO FIRMADO COM FUNDAÇÃO DE APOIO À UNIVERSIDADE PARA MANUTENÇÃO DE TIME DE VOLEIBOL. RECURSOS À CONTA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA DESTINADOS À GRADUÇÃO, PÓS-GRADUAÇÃO, ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO. OUTRAS IRREGULARIDADES FORMAIS. AUDIÊNCIA. RAZÕES DE JUSTIFICATIVA DEMONSTRARAM A NATUREZA EMINENTEMENTE ACADÊMICA DO PROJETO E OS RESULTADOS ALCANÇADOS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. DETERMINAÇÃO. CIÊNCIA.

RELATÓRIO

Em exame representação encaminhada pela Controladoria Regional da União em Minas Gerais (CGU/MG), relativa a supostas irregularidades ocorridas na execução do Convênio 010/2011 (processo 23071.0l6588/2011-46), registrado sob o nº 760.440/2011 - Siconv, celebrado entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão da UFJF (Fadepe/JF), tendo por objeto a execução do programa de voleibol na universidade (peça 11, p. 22-32). 2. Para melhor compreensão das alegadas irregularidades que motivaram esta representação, transcrevo o exame técnico da instrução lançada pela Secex-MG à peça 14:

“EXAME TÉCNICO

4. O Convênio 010/2011 (Siconv 760.440/2011) celebrado entre a UFJF e a Fadepe foi aditado por meio do Primeiro Termo Aditivo firmado em junho/2012, sendo o valor inicial estabelecido em R$ 2.113.775,72 majorado em mais R$ 2.070.000,00 perfazendo o total de R$ 4.183.775,72, com o período de vigência de 22/12/2011 a 30/5/2013 (peça 1, p. 3).

5. No Relatório de Auditoria 201.211.778 a CGU/MG apontou as seguintes irregularidades concernentes ao citado convênio:

5.1. Falta de amparo legal para formação e manutenção da equipe de voleibol da UFJF, objeto do Convênio 760.440/2011 entre a UFJF e a Fadepe (peça 1, p. 5).

5.2. O Convênio 760.440/2011, firmado sob a justificativa de projeto de ensino, pesquisa e extensão, configurou indícios de transferência indevida de recursos públicos para manutenção de clube desportivo (peça 1, p. 28).

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5.3. Houve a aprovação do Termo de Referência e contratações no âmbito do Convênio 760.440/2011 sem que houvesse elementos capazes de propiciar a avaliação da estimativa de custo pela administração (peça 2, p. 22).

5.4. Previsão de despesas administrativas no Plano de Trabalho do Convênio 760.440/2011, sem a devida comprovação de execução, caracterizando o pagamento de taxa de administração (peça 2, p. 26).

5.5. Ausência de previsão, no Convênio 760.440/2011, de recursos arrecadados com o projeto avençado junto à fundação de apoio (peça 2, p. 31).

5.6. Ausência de aprovação do projeto do Convênio 760.440/2011 nos moldes estabelecidos pelo Decreto 7.423/2010 (peça 3, p. 4).

5.7. Contratações por inexigibilidade de licitação sem a devida caracterização da singularidade dos objetos (peça 3, p. 9).

5.8. Restrição à competitividade em licitação visando à contratação de empresa para fornecimento de refeições (peça 3, p. 16).

5.9. Pagamento de R$ 159.538,74 com despesas contraídas antes da vigência do Convênio 760.440/2011 (peça 3, p. 21).

5.10. Fragilidades recorrentes no acompanhamento e fiscalização da execução do Convênio 760.440/2011(peça 3, p. 25).

5.11. Falta de publicidade, por parte da UFJF e da Fadepe, na divulgação do convênio firmado (peça 3, p. 31).

6. Na instrução preliminar (peça 4) foi proposta, e acolhida pelo despacho do Secretário (peça 6) diligência à Universidade Federal de Juiz de Fora, solicitando encaminhar documentos e esclarecimentos relacionados ao Convênio Siconv 760.440/2011, celebrado entre a universidade e a Fadepe, tendo por objeto a execução do programa de Voleibol –UFJF, bem como da respectiva prestação de contas.

7. Em atendimento ao Ofício 1128/2014-TCU/Secex-MG, de 27/6/2014 (peça 7), entregue no endereço destinatário em 9/7/2014 (peça 8), o Sr. Carlos Barral, Pro - Reitor de Planejamento UFJF, por intermédio do e-mail institucional da Secex/MG, solicitou a prorrogação do prazo inicial por mais 10 dias, justificando as dificuldades e tarefas extras no momento de transição da reitoria da instituição de ensino (peça 9).

8. Mediante o e-mail institucional da Secex/MG, datado de 25/7/2014, o interessado foi comunicado do deferimento da prorrogação de prazo para atendimento ao Oficio 1128/2014, por mais 10 dias, estabelecendo-se o novo prazo para atendimento até 4/8/2014 (peça 10). Por meio do Ofício 112, de 3 de setembro de 2014 (peça 11), o Sr. Carlos Elizio Barral Ferreira envia a documentação inserida nas peças 11-12. A seguir será analisada a resposta da universidade acerca do Convênio 760.440/2011 celebrado com a Fadepe.

Resposta da Universidade Federal de Juiz de Fora

9. Inicialmente, a UFJF discorreu sobre a sua missão institucional, salientando os princípios que a norteiam e as ações desenvolvidas da pesquisa, ensino e extensão que, a seu ver, justificariam a celebração de um convênio tendo por objeto a execução de programa de Voleibol (peça 11, p. 1-3). Nesse espectro, a universidade defendeu que o convênio em questão é uma inovação, uma ‘conjugação entre ensino, pesquisa e extensão’, se tratando, na verdade, não de um time de voleibol, mas de um projeto de estudo que, para se realizar, ‘precisa se constituir como um laboratório complexo, como ocorre em laboratórios e pesquisas que envolvem como objeto de estudo de diferentes áreas do conhecimento’ (peça 11, p. 4).

10. No que tange à fonte orçamentária, a universidade enviou o Ofício 090 da SPO/MEC de 25/10/2013, que esclarece sobre a utilização das fontes mencionadas, o que, segundo seu entendimento, enquadra o objeto do convênio dentro da ação orçamentária (peça 12, p. 5).

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11. Em relação à falta de amparo legal para a formação e manutenção da equipe de voleibol e indícios de transferências indevidas de recursos públicos para manutenção de clube esportivo, a UFJF esclareceu que:

‘empregou recursos do programa/ação 1073/4009 (em 2011) e 2032-20RK (em 2012) após ter buscado de boa-fé o entendimento de que esta dotação orçamentária seria a adequada para o custeamento do projeto acadêmico do voleibol. Tanto a ação 4009 quanto a 20RK contemplam a finalidade de ‘...formar profissionais de alta qualificação para atuar nos diferentes setores da sociedade...’, que é uma das principais metas que a UFJF vem perseguindo desde a implantação do projeto em questão’ (peça 12, p. 6).

12. Salienta a universidade, que o projeto acadêmico do voleibol é concebido e desenvolvido como um:

‘experimento para estudo e análise de esportes de alto rendimento, visando, unicamente, a que alunos dos Cursos de Educação Física, da Área de Saúde e de outras áreas de conhecimento, contando ainda com caráter altamente multidisciplinar, ou seja, que envolve acadêmicos das mais diversas áreas do saber possam apreender formas e saberes transmitidos pelos professores envolvidos no programa’ (peça 12, p. 7).

13. Em 26/9/2014 deu entrada nos autos, à peça 13, de nova documentação enviada pela UFJF, desta feita tratando-se do Ofício 004/2014, de 24/9/2014, em que o Reitor da universidade encaminha cópia de decisão em sindicância administrativa instaurada para a apuração de eventual responsabilidade por possível utilização indevida de recursos e/ou rubrica orçamentária no ‘Projeto de Vôlei’. Verifica-se que a sindicância concluiu não haver qualquer ação passível de punição, ou passível de se adequar a qualquer tipo infracional legal (peça 13, p. 1-15).

Análise da resposta da Universidade Federal de Juiz de Fora

14. A instituição de ensino superior se delonga nos esclarecimentos sobre as constatações e recomendações da CGU/MG, de modo que o resumo e as transcrições acima são suficientes para compreender as razões e os objetivos pretendidos pela universidade na celebração do convênio com a Fadepe. Portanto, a análise será realizada a partir desses elementos já postos, sem prejuízo de abordar os demais esclarecimentos/argumentos da universidade.

15. O cerne desta representação consiste, inicialmente, em confrontar a pertinência do Convênio 760.440/2011 com as finalidades institucionais da UFJF e com o relacionamento entre a universidade e a fundação de apoio - Fadepe. Assim, serão reexaminadas com mais profundidade as ocorrências (irregularidades achadas pela CGU/MG) descritas nos itens 5.1 e 5.2 desta instrução, pois delas derivam as demais ocorrências descritas no item 5 retro.

16. Inicialmente é importante expor a definição de convênio segundo a Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008, que regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco que envolvam a transferência de recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União. Diz o art. 1º, § 1º, inciso VI, da referida portaria:

VI - convênio - acordo ou ajuste que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando à execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação (grifo nosso).

17. Nesse escopo, o convênio é o instrumento que prevê a transferência de recursos financeiros de órgão ou entidade da administração pública federal para outro órgão ou entidade (pública ou

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privada sem fins lucrativos), visando a (...) realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação.

18. A universidade, em resposta à diligência, deixou claro que o alcance das metas e resultados do convênio estaria diretamente ligado a atividades de estudo dos pesquisadores de diversas áreas de ensino e pesquisa da instituição e não à Fadepe, ‘que atuou apenas na execução financeira’ (peça 11, p. 9). Ora, isso é sinal de afronta à própria definição de convênio, pois, no caso sob exame, a Fadepe atuou como mera gerenciadora dos recursos financeiros, não se vislumbrando qualquer reciprocidade entre os interesses da concedente e os da convenente, conforme se exige para a celebração do convênio. O que se percebe, na realidade, com a celebração do convênio, é que se estabeleceu uma relação contratual de prestação de serviços em que a Fadepe administra os recursos repassados, mas a própria UFJF é a destinatária do resultado. Ou seja, na verdade trata-se de um contrato travestido de convênio (peça 11, p. 22-30).

19. A prestação de contas do Convênio 760.440/2011 encaminhado pela UFJF compõe-se dos seguintes documentos:

a) ofício de encaminhamento (peça 11, p. 34);

b) GRU de devolução de saldo de recursos (peça 11, p. 35);

c) Relatório de execução físico financeira no valor de R$ 3.711.309,07 (peça 11, p. 36);

d) Relação de pagamentos efetuados (peça 11, p. 37-56);

e) Relatório do cumprimento do objeto (peça 11, p. 57-60);

f) extratos bancários (peça 11, p. 63-80; peça 12, p. 1-59);

20. Nota-se que a prestação de contas enviada não atende aos requisitos da Portaria Interministerial 127/2008, porque além de não conter qualquer documento que espelhe a reciprocidade de interesses entre os convenentes (UFJF e Fadepe) não é possível avaliá-la quanto aos aspectos do alcance dos resultados esperados, contrariando o que diz o art. 15, inciso II, da referida portaria, in verbis:

Art. 15. O proponente credenciado manifestará seu interesse em celebrar instrumentos regulados por esta Portaria mediante apresentação de proposta de trabalho no Siconv, em conformidade com o programa e com as diretrizes disponíveis no sistema, que conterá, no mínimo:

I....

II - justificativa contendo a caracterização dos interesses recíprocos, a relação entre a proposta apresentada e os objetivos e diretrizes do programa federal e a indicação do público alvo, do problema a ser resolvido e dos resultados esperados;

21. Deve-se acrescentar, ademais, que o art. 6º, inciso VII, da Portaria Interministerial 127/2008, dispõe que é vedada a celebração de convênios e contratos de repasse: (...)

VII - com entidades públicas ou privadas cujo objeto social não se relacione às características do programa ou que não disponham de condições técnicas para executar o convênio ou contrato de repasse (grifo nosso).

22. Acrescente-se que o art. 5º do Estatuto da UFJF preceitua:

Art. 5º - A Universidade tem por finalidade produzir, sistematizar e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico, ampliando e aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, a solidariedade nacional e internacional, na perspectiva da construção de uma sociedade justa e democrática e na defesa da qualidade de vida (Fonte: http://www.UFJF.br/portal/files//2009/01/estatuto.pdf>acessado em 27/8/2014).

23. Deve-se levar em conta, ainda, que o art. 1º da Lei 8.958/1994, que dispõe sobre as relações entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio, dispõe:

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Art. 1o  As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs, de que trata a Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão celebrar convênios e contratos, nos termos do inciso XIII do   caput   do art. 24 da Lei   8.666, de 21 de junho de 1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade de apoiar projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução desses projetos.       (Redação dada pela Lei12.863, de 2013)

24. Assim, com razão a CGU entendeu que a celebração do referido convênio não observou o princípio da legalidade e nem as despesas dele decorrentes atenderam a finalidade institucional da universidade. Isso porque o convênio foi executado com recursos oriundos do Programa 1073 - Brasil Universitário, Ação 4009 - Funcionamento de Cursos de Graduação, no exercício de 2011, e do Programa 2032 - Educação Superior - Graduação, Pós-Graduação, Ensino, Pesquisa e Extensão, Ação 20RK-Funcionamento das Universidades Federais, no exercício de 2012. Enfim, o objeto do convênio, que é a execução do programa de voleibol na universidade, não se relaciona com as ações acima descritas, nem com a finalidade da UFJF e, tampouco se enquadra nas condicionantes previstas no art. 1º da Lei 8.958/1994 (peça 1, p. 5).

25. No que diz respeito à prestação de contas, a UFJF não apresentou qualquer documento concernente ao convênio que desfizesse as seguintes críticas da CGU/MG:

25.1. Não foram estabelecidas metas claras e específicas no convênio, nele não existindo elementos que o identificam à finalidade da universidade nas áreas do ensino, pesquisa e extensão. Não se verifica, ainda, no acordo estudado, a observância do disposto no inciso I, §1°, do art. 6° do Decreto 7.423/2010, no que se refere definição dos resultados esperados no plano de trabalho com seus respectivos indicadores (peça 1, p. 7);

25.2. Da equipe de 13 jogadores teoricamente que serviram de ‘amostra de pesquisa’ para o convênio, só houve a manutenção de 4 para participar da Superliga temporada 2012/2013. Desta vez a equipe contou com a participação de 5 novos jogadores pertencentes ao ranking da CBV. Assim, o quadro de evolução apresentado pela UFJF entre as temporadas da Superliga 2011/2012 e 2012/2013 como fruto das pesquisas acadêmicas é questionável, tendo em vista que houve alteração do grupo amostral (peça 2, p. 4);

25.3. Os argumentos apresentados pela UFJF quanto à importância das pesquisas no âmbito acadêmico são compreensíveis. Contudo, como já colocado, a composição da equipe de voleibol nos moldes utilizados, além de fazer uso de programa/ação inadequado, se afigura como gasto de recursos públicos em atividades incompatíveis com a missão/finalidade de uma Instituição Federal de Ensino Superior (peça 2, p. 14);

25.4. As argumentações de ganhos científicos são fragilizadas pela ausência, no Plano de Trabalho, Termo de Referência, ou em outro documento constante do processo do convênio, de críticas para mensuração da qualidade dos trabalhos científicos a serem desenvolvidos. Por exemplo, a universidade poderia fazer uso da metodologia Qualis empregada pela Capes para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal observação torna-se relevante haja vista os recursos alocados no convênio (montante total de R$ 4.l83.775,72 com recursos do Programa 1073/Ação 4009 e do Programa 2032/Ação 20RK) serem materialmente significativos em comparação com o montante de recursos alocados em ações orçamentárias para custear o ensino, a pesquisa e a extensão na UFJF (peça 2, p. 14-15);

25.5. A extensa lista citada [de outros trabalhos científicos semelhantes na área esportiva] não tem por objetivo entrar no mérito das pesquisas, mas sim demonstrar a viabilidade de se realizar pesquisas sem a necessidade de se montar/manter uma equipe desportiva. A Universidade de São Paulo possui diversos laboratórios e grupos de pesquisa, dentre os quais o Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol e Futsal, sem patrocinar um projeto externo, nem mesmo montar um time como experimento acadêmico nos moldes realizados pela universidade (peça 2, p. 19);

25.6. A manutenção da equipe não se trata de um simples laboratório, pois além da constatação de uso de programa/ação inadequado, se afigura como gasto de recursos públicos em atividades não

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prevista no Plano de Desenvolvimento e Institucional da universidade, ou seja, na manutenção de equipe profissional de voleibol (peça 1, p. 22-23)

25.7. O montante alocado pelo Convênio 760.440/2011 supera individualmente os valores destinados às ações voltadas à pós-graduação e à pesquisa científica nos exercícios 2011 e 2012 e equivale aos alocados em 2013 (valores empenhados). Tal fato, em tese, já causaria uma distorção nos resultados do ponto de vista de produto sob a ótica de política pública do Governo Federal que tem o Ministério do Esporte como órgão responsável pelo desenvolvimento de ações voltadas ao esporte de alto rendimento (peça 1, p. 24).

25.8. O valor global estimado para as propostas aprovadas é de até R$ 18 milhões. Desses, R$13,7 milhões serão destinados a custeio e bolsas e R$ 4,3 milhões destinados a capital, conforme previsão orçamentária e financeira do CNPq. Ressalta-se que o chamamento pode recepcionar projetos de pesquisadores de universidades ligadas às duas redes existentes enquanto ações do Ministério do Esporte, a Rede Cedes, da Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis) e a Rede Cenesp, da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (Snear). Para projetos nas áreas ‘Legados de Megaeventos Esportivos’ e de ‘Políticas Públicas e Gestão de Esporte e Lazer’, serão disponibilizados até R$ 5 milhões cada. A destinação para os campos ‘Esporte de Alto Rendimento’, ‘Esporte, Lazer e Desenvolvimento Social’, ‘Equipamentos para Esporte e Lazer’ e ‘Saúde e Medicina Esportiva’ será de até R$ 2 milhões para cada uma delas. Assim, o projeto do voleibol da UFJF (Convênio 760.440/2011 com montante de R$ 4.183.775,72, acrescido do montante atual de. R$ 2.480.000,00 para o Convênio 785.452/2013), corresponde a aproximadamente 3,33 vezes omontante destinado pelo órgão responsável pelo desenvolvimento do ‘Esporte de Alto Rendimento’ (peça 1, p. 25).

26. Enfim, anuímos à CGU/MG de que o objeto do Convênio 760.440/2011 não atendeu às finalidades institucionais da UFJF, pois a manutenção de uma equipe de voleibol, a pretexto de servir de laboratório de estudo, não está relacionada à pesquisa cientifica, mas configura gasto de recursos públicos em atividades não relacionadas às finalidades institucionais da universidade, pois não passa do patrocínio de uma equipe profissional de voleibol. Além disso, existem outros meios, conforme demonstrado pela CGU, de realizar pesquisas – de forma mais ‘criativa’ e menos onerosa – no mesmo campo de atuação pretendido pela UFJF, sem a necessidade da contratação e manutenção de uma equipe desportiva.

27. Apenas dissentimos, por ora, da CGU/MG, quanto à proposta de intimação da Fadepe para devolver os recursos oriundos do Convênio 760.440/2011, apesar de mal aplicados. Isso porque, na realidade, conforme dito anteriormente, não obstante a aparência formal de convênio, o instrumento não passa de um contrato, colocando-se a Fadepe como mera prestadora do serviço de gerenciamento dos recursos alocados pela UFJF, sem que no instrumento ficasse configurado qualquer indicação de reciprocidade de interesses entre as partes.

28. Por meio desse ‘contrato/convênio’ a Fadepe se encarregou de gerir os recursos recebidos da UFJF, com a função mais específica de promover o pagamento dos atletas, fornecedores, refeições, etc. Por sua vez, os atletas cumpriram seus contratos, prestaram os serviços jogando vôlei na liga nacional e os fornecedores foram pagos pelos serviços oferecidos à Fadepe. Não se encontra no relatório da CGU/MG quaisquer indícios de locupletamento ou desvio dos recursos por parte a Fadepe, fazendo-nos crer que os pagamentos realizados tiveram as respectivas contrapartidas nos serviços prestados.”

3. Em decorrência dessa primeira análise dos autos, foi promovida a audiência de Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, então Reitor da UFJF, atual Diretor de Desenvolvimento e Representação Institucional da mesma Autarquia Federal (peça 17). Suas razões de justificativa foram resumidas e analisadas por meio da instrução de peça 31, da qual cabe transcrição do seguinte excerto:

“Resposta da Universidade Federal de Juiz de Fora

8. Preliminarmente, a UFJF discorreu sobre a sua missão institucional, salientando os princípios que a norteiam e as ações desenvolvidas da pesquisa, ensino e extensão que, a seu ver, justificariam a celebração de um convênio, tendo por objeto a execução de programa de Voleibol (peça 11, p. 1-

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3). Nesse espectro, a universidade defendeu que o convênio em questão é uma inovação, uma ‘conjugação entre ensino, pesquisa e extensão’, se tratando, na verdade, não de um time de voleibol, mas de um projeto de estudo que, para se realizar, “precisa se constituir como um laboratório complexo, como ocorre em laboratórios e pesquisas que envolvem como objeto de estudo de diferentes áreas do conhecimento” (peça 11, p. 4).

9. No que tange à fonte orçamentária, a universidade enviou o ofício 090 da SPO/MEC de 25/10/2013 esclarecendo sobre a utilização das fontes mencionadas, o que, segundo seu entendimento, enquadra o objeto do Convênio 010/2011 dentro da ação orçamentária (peça 12, p. 5).

10. Em relação à falta de amparo legal para a formação e manutenção da equipe de voleibol e indícios de transferências indevidas de recursos públicos para manutenção de clube esportivo, a UFJF esclareceu que:

empregou recursos do programa/ação 1073/4009 (em 2011) e 2032-20RK (em 2012) após ter buscado de boa-fé o entendimento de que esta dotação orçamentária seria a adequada para o custeamento do projeto acadêmico do voleibol. Tanto a ação 4009 quanto a 20RK contemplam a finalidade de ‘... formar profissionais de alta qualificação para atuar nos diferentes setores da sociedade...’, que é uma das principais metas que a UFJF vem perseguindo desde a implantação do projeto em questão (peça 12, p. 6).

11. Salientou, a universidade, que o projeto acadêmico do voleibol é concebido e desenvolvido como um:

experimento para estudo e análise de esportes de alto rendimento, visando, unicamente, a que alunos dos Cursos de Educação Física, da Área de Saúde e de outras áreas de conhecimento, contando ainda com caráter altamente multidisciplinar, ou seja, que envolve acadêmicos das mais diversas áreas do saber possam apreender formas e saberes transmitidos pelos professores envolvidos no programa (peça 12, p. 7).

12. Em 26/9/2014, deu entrada nos autos, à peça 13, de nova documentação enviada pela UFJF, desta vez tratando-se do Ofício 004/2014, de 24/9/2014, em que o Reitor da universidade encaminha cópia de decisão em sindicância administrativa instaurada para a apuração de eventual responsabilidade por possível utilização indevida de recursos e/ou rubrica orçamentária no ‘Projeto de Vôlei’. Verifica-se que a sindicância concluiu não haver qualquer ação passível de punição, ou passível de se adequar a qualquer tipo infracional legal (peça 13, p. 1-15).

13. A análise da resposta da UFJF foi realizada na instrução à peça 14, sugerindo a audiência do reitor da universidade para apresentar razões de justificativas acerca das irregularidades apontadas pela CGU/MG relacionadas ao Convênio 010/2011.

14. Em atendimento ao despacho do Secretário (peça 16), a audiência do então Reitor da UFJF, Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, foi materializada por meio do Ofício 1989/2014-TCU/Secex-MG, de 20/10/2014, cujo AR retornou indicando a entrega da correspondência em 3/11/2014 (peças 17-18).

15. Depois de obter vistas dos autos e prorrogação de prazos, o responsável apresentou as razões de justificativas constantes da peça 27, complementada com as peças 28-30, as quais passamos a analisar em seguida.

Razões de justificativas do Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora

16. Ocorrência: falta de amparo legal para a celebração do Convênio 010/2011 entre a UFJF e a Fadepe, com o objetivo de formação e manutenção da equipe de voleibol da universidade que, firmado sob a justificativa de projeto de ensino, pesquisa e extensão, configurou a transferência indevida de recursos públicos para manutenção de clube desportivo;

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16.1. Razões de justificativas: o responsável esclarece que a celebração do Convênio 010/2011 entre a UFJF e a Fadepe, com o objetivo de formação e manutenção da equipe de voleibol da universidade não pode ser avaliada somente pelo aspecto da legalidade, sem que se considere o contexto da atuação e formação universitária (peça 27, p. 1).

16.1.1. A Fadepe atuou exclusivamente em sua função legal e institucional, no apoio do projeto, e todas as atividades ocorreram nas instalações da Fafeid. Por se caracterizar como um projeto acadêmico, a Fadepe exerceu seu papel como fundação de apoio, nos termos do seu estatuto fundacional, sem qualquer objeção por parte do Ministério Público em relação às prestações de contas da fundação (peça 27, p. 4).

16.1.2. Enfim, salienta o responsável que o projeto voleibol é destinado ao desenvolvimento de ações acadêmicas, quer dizer, de ensino, pesquisa e extensão em esporte de alto rendimento (peça 28, p. 2).

17. Ocorrência: apesar da aparência formal de Convênio 010/2011, na realidade estabeleceu-se uma relação contratual de prestação de serviços em que a Fadepe administra os recursos repassados, mediante a retenção do percentual de 15% do valor global conveniado, a título de despesas administrativas, não havendo reciprocidade entre as partes, sobretudo porque apenas a própria universidade é a destinatária do resultado, o que contraria o art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (peça 11, p. 22-30);

17.1. Razões de justificativas: as despesas administrativas da Fadepe não surgem exclusivamente da necessidade do Convênio 010/2011, mas também para fazer frente a despesas administrativas conforme permitido na Portaria Interministerial 507/2011 (peça 27, p. 5).

17.1.1. Segundo o responsável, um convênio ou um contrato que tenha por base a Lei das Fundações de Apoio simplesmente não pode ser analisado com os mesmos critérios com que são analisados os demais convênios e contratos em geral (em que se levam em conta, sobremaneira, as co-respectivas ‘contrapartidas’), porque no caso trata-se de uma expressa e legal relação de apoio na qual, de um lado, existe uma entidade apoiada (UFJF) e, de outro lado, existe uma entidade apoiadora (Fadepe) sem fins lucrativos, cuja existência jurídica, até mesmo pela legislação geral, como no Código Civil brasileiro, é prevista para finalidades ‘pias’, de auxílio, de incentivo, de apoio, sem qualquer previsão de necessidade de ‘contrapartida’ para que possa cumprir seus fins institucionais (peça 28, p. 2-3).

18. Ocorrência: a prestação de contas do Convênio 010/2011 não atende aos requisitos da Portaria Interministerial 127/2008, pois além de não conter qualquer documento que espelhe a reciprocidade de interesses entre os convenentes (UFJF e Fadepe) não é possível avaliá-la quanto aos aspectos do alcance dos resultados esperados, contrariando o que diz o art. 15, inciso II, da referida portaria;

18.1. Razões de justificativas: o responsável apresenta o quadro indicando os resultados alcançados a partir da execução do Convênio 010/2011 (peça 27, p. 6-14).

18.1.1. Complementa dizendo que o resultado essencial do denominado ‘Projeto Voleibol’ é exatamente, e a rigor, a própria constituição do laboratório que consiste numa equipe de competição em nível de alto rendimento com uma estruturação (‘organicidade/anatomia’) específica e em pleno funcionamento (funcionalidade/‘fisiologia’) igualmente específica - sendo que a simples e própria existência deste laboratório é o verdadeiro ‘resultado’ do mencionado projeto (peça 28, p. 3).

19. Ocorrência: na celebração do Convênio 010/2011 não se observou, ainda:

a) o art. 6º, inciso VII, da Portaria Interministerial 127/2008, pois é vedada a celebração de convênios e contratos de repasse com entidades públicas ou privadas cujo objeto social não se relacione às características do programa ou que não disponham de condições técnicas para executar o convênio ou contrato de repasse;

b) o art. 1º da Lei 8.958/1994, tendo em vista que as Instituições Federais de Ensino Superior podem celebrar convênios com as fundações de apoio com a finalidade de apoiar projetos de

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ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação o que não é o caso do Convênio 010/2011;

c) o art. 1º da Lei 8.958/1994, pois o objeto do Convênio 010/2011 - execução do programa de voleibol na universidade - não se relaciona com a finalidade da UFJF e, tampouco, se enquadra nas condicionantes previstas no referido dispositivo legal (peça 1, p. 5).

d) o art. 39, inciso I, da Portaria Interministerial 127/2008, tendo em vista que na cláusula sétima previu o pagamento de despesas administrativas à Fadepe no percentual de 15%, correspondendo a cerca de R$ 627.000,00 do total conveniado (peça 27, p. 34);

e) o art. 39, inciso V, da Portaria Interministerial 127/2008, tendo em vista que, segundo a CGU/MG, houve pagamento de despesa em data anterior à vigência do instrumento, no montante de R$ 159.538,74;

19.1. Razões de justificativas: a Fadepe caracteriza-se como entidade privada de apoio às instituições de ensino superior e no que concerne aos projetos específicos o relacionamento da fundação está disciplinado em norma própria (resolução) aprovada pelo Conselho Superior da universidade, observando, assim, o disposto na Lei 8.958/1994 e no respectivo decreto regulamentador.

19.1.1. No caso específico do Convênio 010/2011, o alcance das metas e resultados está diretamente ligado a atividades de estudo dos pesquisadores de diversas áreas de ensino da universidade. A Fadepe atuou meramente na execução financeira do convênio (peça 27, p. 16).

19.1.2. O responsável justificou as despesas pagas antes da vigência do instrumento devido a necessidade da contratação – de alguns profissionais - para promover a viabilidade do projeto, pois não seria possível a realização das atividades se essas contratações tivessem ocorrido apenas após o início da vigência do Convênio 010/2011 (peça 27, p. 19).

19.1.3. Complementou afirmando que a Fadepe caracteriza-se como entidade privada cuja finalidade institucional é exclusivamente dar apoio (inclusive quanto ao Gerenciamento Financeiro) às Instituições e Ensino Superior, e tal relacionamento entre a Universidade e a Fadepe, no que diz respeito aos projetos específicos, está disciplinado em norma própria (Resolução), aprovada pelo órgão colegiado deliberativo máximo (Conselho Superior, Consu) da instituição apoiada, observado assim, rigorosamente, o disposto na Lei 8.958/1994, dita lei das Fundações de Apoio, e no seu respectivo Decreto regulamentador.

20.Ocorrência: no planejamento e na execução/operação do Convênio 010/2011, verificaram-se, também, várias inconsistências e/ou incongruências, segundo a CGU/MG, tais como:

a) não foram estabelecidas metas claras e específicas no convênio, nele não existindo elementos que o identificam à finalidade da universidade nas áreas do ensino, pesquisa e extensão. Não se verifica, ainda, a observância do disposto no inciso I, §1°, do art. 6° do Decreto 7.423/2010, no que se refere definição dos resultados esperados no plano de trabalho com seus respectivos indicadores (peça 1, p. 7);

b) na equipe de 13 jogadores teoricamente que serviram de ‘amostra de pesquisa’ para o Convênio 010/2011, só houve a manutenção de 4 para participar da Superliga temporada 2012/2013. Desta vez a equipe contou com a participação de 5 novos jogadores pertencentes ao ranking da CBV. Assim, o quadro de evolução apresentado pela UFJF entre as temporadas da Superliga 2011/2012 e 2012/2013 como fruto das pesquisas acadêmicas é questionável, tendo em vista que houve alteração do grupo amostral (peça 2, p. 4);

c) a composição da equipe de voleibol nos moldes utilizados, além de fazer uso de programa/ação inadequado, se afigura como gasto de recursos públicos em atividades incompatíveis com a missão/finalidade de uma Instituição Federal de Ensino Superior (peça 2, p. 14);

d) as argumentações de ganhos científicos são fragilizadas pela ausência, no Plano de Trabalho, Termo de Referência, ou em outro documento constante do processo do Convênio 010/2011, de

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críticas para mensuração da qualidade dos trabalhos científicos a serem desenvolvidos. Por exemplo, a universidade poderia fazer uso da metodologia Qualis empregada pela Capes para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal observação torna-se relevante haja vista os recursos alocados no convênio (montante total de R$ 4.l83.775,72 com recursos do Programa 1073/Ação 4009 e do Programa 2032/Ação 20RK) serem materialmente significativos em comparação com o montante de recursos alocados em ações orçamentárias para custear o ensino, a pesquisa e a extensão na UFJF (peça 2, p. 14-15);

e) a extensa lista citada pela CGU/MG de outros trabalhos científicos semelhantes na área esportiva demonstra a viabilidade de se realizar pesquisas sem a necessidade de se montar/manter uma equipe desportiva. A universidade de São Paulo possui diversos laboratórios e grupos de pesquisa, dentre os quais o Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol e Futsal, sem patrocinar um projeto externo, nem mesmo montar um time como experimento acadêmico nos moldes realizados pela UFJF (peça 2, p. 19);

f) a manutenção da equipe de voleibol não se trata de um simples laboratório, pois além da constatação de uso de programa/ação inadequado, se afigura como gasto de recursos públicos em atividades não prevista no Plano de Desenvolvimento e Institucional da universidade, ou seja, na manutenção de equipe profissional de voleibol (peça 1, p. 22-23)

g) o montante alocado pelo Convênio 010/2011 supera individualmente os valores destinados às ações voltadas à pós-graduação e à pesquisa científica nos exercícios 2011 e2012 e equivale aos alocados em 2013 (valores empenhados). Tal fato, em tese, já causaria uma distorção nos resultados do ponto de vista de produto sob a ótica de política pública do Governo Federal que tem o Ministério do Esporte como órgão responsável pelo desenvolvimento de ações voltadas ao esporte de alto rendimento (peça 1, p. 24).

h) como exemplo do emprego sem parcimônia dos recursos públicos, cita-se a Chamada Pública 091/2013 realizada pelo Ministério do Esporte e o CNPq com o objetivo de selecionar projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação voltados para o desenvolvimento do Esporte em suas diferentes dimensões. O valor global estimado para as propostas aprovadas é de até R$ 18 milhões. Desses, R$ 13,7 milhões serão destinados a custeio e bolsas e R$ 4,3 milhões destinados a capital, conforme previsão orçamentária e financeira do CNPq. Ressalta-se que o chamamento pode recepcionar projetos de pesquisadores de universidades ligadas às duas redes existentes enquanto ações do Ministério do Esporte, a Rede Cedes, da Secretaria Nacional de Esporte, Lazer e Inclusão Social (Snelis) e a Rede Cenesp, da Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (Snear). Para projetos nas áreas ‘Legados de Mega eventos Esportivos’ e de ‘Políticas Públicas e Gestão de Esporte e Lazer’, serão disponibilizados até R$ 5 milhões cada. A destinação para os campos ‘Esporte de Alto Rendimento”, 'Esporte, Lazer e Desenvolvimento Social’, ‘Equipamentos para Esporte e Lazer’ e ‘Saúde e Medicina Esportiva’ será de até R$ 2 milhões para cada uma delas. Assim, o projeto do voleibol da UFJF (Convênio 010/2011 com montante de R$ 4.183.775,72, acrescido do montante atual de. R$ 2.480.000,00 para o Convênio 785.452/2013), corresponde a aproximadamente 3,33 vezes o montante destinado pelo órgão responsável pelo desenvolvimento do "Esporte de Alto Rendimento" (peça 1, p. 25).

20.1. Razões de justificativas: foram estabelecidas metas bem claras para a realização das pesquisas científicas, abertura de campo de estágio e capacitação de estudantes e profissionais que identificam o projeto com as finalidades institucionais e estatutárias da UFJF nas áreas de ensino, pesquisa e extensão (item 21, letra ‘a’ retro c/c peça 27, p. 20).

20.1.1. Nem sempre é possível manter o atleta de uma temporada para outra, devido outras propostas de trabalho, ou dificuldade de adaptação ao ambiente de pesquisa da universidade. Todavia, os atletas não podem ser considerados ‘amostra de pesquisa’, pois o objeto de pesquisa em termos amplos era (ou é) o conjunto de atividades de uma equipe de esporte coletivo de alto rendimento, especialmente em situação de competição oficial (item 21, letra ‘b’ retro c/c peça 27, p. 20).

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20.1.2. O plano de trabalho e o termo de referência vêm evoluindo a cada momento, sem jamais deixar de ter presentes as pesquisas que o Convênio 010/2011 pretende desenvolver (item 21 letras ‘d’ e ‘e’ retro c/c peça 27, p. 20).

Análise das razões de justificativas do Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora

21. O resumo dos argumentos apresentados pelo responsável acima exposto já é suficiente para compreender as razões e os objetivos pretendidos na celebração do Convênio 010/2011 com a Fadepe. Assim, a análise será realizada a partir desses elementos já postos, com ênfase nas premissas utilizadas pelo ex-reitor para defender a celebração do convênio em pauta. Os argumentos do responsável serão abordados em 2 tópicos.

Tópico I - Convênio 010/2011 diferenciado dos demais convênios em geral (itens 16.1 e 17.1.1 retro)

22. O responsável tenta conferir algum tipo de status ao Convênio 010/2011que as normas não dispensam aos demais convênios. Para o ex-reitor essa distinção explicaria as irregularidades apontadas pela CGU/MG, tais como: desnecessidade de reciprocidade nos fins colimados; possibilidade de pagamentos anteriores à data de vigência do instrumento; falta de clareza nas metas, objetivos e resultados. Abordaremos ponto a ponto as justificativas do responsável em relação a essas falhas.

23. Ausência de reciprocidade entre os objetivos da UFJF e a Fadepe (item 16 retro): inicialmente há que se destacar a nítida distinção entre convênio e contrato, vez que para o responsável essa distinção não existe em se tratando a Fadepe de fundação de apoio (item 17.1.1 retro e peça 28, p. 2-3). Não lhe assiste razão, pois é importante e são básicas as diferenças entre contrato e convênio.

24.Na obra ‘Licitações e Contratos - Orientações e jurisprudência do TCU, 4ª Edição – revista, atualizada e ampliada, p. 835’ (disponível no site do TCU), a diferença entre contrato e convênio foi assim resumida:

No contrato, o interesse das partes é diverso. Interessa à Administração a realização do objeto contratado e ao particular o valor do pagamento correspondente. Há sempre contraprestação, vantagem ou benefício pelo objeto avençado.

No convênio o interesse das partes é recíproco e a cooperação mútua. As partes têm por finalidade a consecução de determinado objeto de interesse comum.

25. Nessa linha segue a Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008, que regula os convênios, os contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal com órgãos ou entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco que envolvam a transferência de recursos financeiros oriundos do Orçamento Fiscal e da Seguridade Social da União. Essa portaria traz em seu art. 1º, § 1º, inciso VI, a seguinte definição de convênio:

VI - Convênio - acordo ou ajuste que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando à execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação (grifo nosso).

26. Nesse escopo, o convênio é o instrumento que prevê a transferência de recursos financeiros de órgão ou entidade da administração pública federal para outro órgão ou entidade (pública ou privada sem fins lucrativos), visando a (...) realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação.

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27. No caso sob exame, não se vislumbra qualquer reciprocidade, cooperação mútua ou interesse comum entre a UFJF e a Fadepe na consecução do Convênio 010/2011, cujo objeto se refere à execução do programa de Voleibol (peça 28, p. 30). Na cláusula primeira do mencionado Convênio 010/2011 a convenente se incumbiria do gerenciamento do projeto, com suporte administrativo e finalistico, a execução do programa de Voleibol-UFJ. O responsável apresentou o quadro da peça 30(p. 6-14) contendo informações sobre diversas teses, dissertações e trabalhos acadêmicos e nenhum desses trabalhos foram desenvolvidos pela Fadepe ou em benefício daquela fundação de apoio. Na verdade, conforme definido na cláusula primeira do instrumento convenial, a Fadepe atuou como responsável pelo gerenciamento e operacionalização de uma equipe de voleibol, sem qualquer participação ou cooperação da UFJF nessa fase operacional. Para isso, a fundação de apoio recebeu (que o Convênio 010/2011 chama indevidamente de despesas administrativas) como pagamento pelos serviços prestados (característica do contrato) 15% do valor total “conveniado”.

28.Possibilidade de pagamentos anteriores à data de vigência do instrumento (item 19, letra “e” retro): independentemente de ser contrato ou convênio, as razões de justificativas do responsável (item 18.1 e peça 27, p. 5) não merecem prosperar, pois ambos os instrumentos não admitem o pagamento antecipado. A citada Portaria Interministerial 507/2011 permite o pagamento de despesas administrativas, mas não aceita o pagamento antecipado. No caso dos contratos, a jurisprudência desta Corte também é forte no sentido da vedação à prestação de serviços sem cobertura contratual (e.g., Acórdão 1808/2008 Plenário). Assim, a vigência do Convênio 010/2011 deveria ter sido dimensionada para comportar todas as atividades e despesas necessárias à sua plena execução. Dessa forma, a despesa no valor de R$ 159.538,74 apurada pela CGU/MG deve ser objeto de glosa (itens 18 e 20 retro).

28.1. A propósito, vale salientar que a jurisprudência do TCU é no sentido de que, embora seja irregularidade grave a aplicação de recursos do convênio fora do prazo de vigência, devem ser analisadas as circunstâncias de cada caso concreto, sendo fator crucial para a atenuação da falha a comprovação de efetiva utilização dos recursos no objeto pactuado (Acórdãos 5.273/2009-TCU-2ª Câmara, 1.331/2008-TCU-Plenário, 1.378/2008-TCU-1ª Câmara, 1.624/2008-TCU-2ª Câmara e 109/2008-TCU-2ª Câmara, entre outros).

28.2. Contudo, vê-se que tal jurisprudência foi construída nos exercícios de 2008/2009, sendo superada por acórdãos mais recentes e que melhor se adéquam ao caso vertente, como o Acórdão 5.165/2011-TCU-2ª Câmara e o Acórdão 7320/2014-TCU-1ª Câmara. Aliás, emblemático é o seguinte trecho do Voto do Ministro Relator do Acórdão 6051/2012 – TCU – 1ª Câmara:

As alegações de defesa apresentadas pelos acusados, acompanhadas pelos poucos elementos probatórios, confirmam a realização do projeto em período anterior à vigência do convênio, quando sequer havia certeza quanto à descentralização do auxílio financeiro pela União. Neste sentido, toda documentação de suporte apresentada ao órgão concedente e a este Tribunal, ainda que seja considerada fidedigna, visa dar validade às despesas incorridas antes mesmo de o ajuste entrar em vigor, em flagrante contrariedade ao art. 8º, incisos V e VI, da IN/STN 01/1997 (grifo nosso).

28.3. Conforme se depreende do relatório da CGU/MG, as despesas no montante de R$ 159.538,74 foram realizadas antes ou simultaneamente à data de assinatura (dezembro/2011 – peça 3, p. 30) ou vigência (22/12/2011 a 21/12/2012 - peça 3, p. 27) do Convênio 010/2011 (peça 11, p. 22-30), ou seja, antes da existência de ato formal que respaldasse juridicamente tais despesas, não cabendo, assim, verificar se há ou não conexão entre elas e o objeto do convênio, sobretudo porque a norma (convenial ou contratual) não admite o pagamento de despesas antes da entrada em vigor desses instrumentos (item 28 retro).

28.4. A propósito, a própria cláusula décima terceira do convênio estipula que seria motivo de rescisão automática o inadimplemento de quaisquer de suas cláusulas especialmente a cláusula décima que definiu o início da vigência do instrumento para 22/12/2011 (peça 3, p. 27 c/c p. 29). Assim, a Fadepe deverá ser requerida pela UFJF a devolver os recursos utilizados na realização dessas despesas. Por sua vez, ao ser notificada pela universidade (fase interna que antecede a uma

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eventual tomada de contas especial) a Fadepe poderá se aproveitar do momento oportuno para se manifestar e, consequentemente, exercer o direito ao contraditório.

29.Falta de clareza nas metas, objetivos e resultados (item 20, letra “a” retro): o responsável deixou claro que o resultado é o próprio ‘laboratório’ formado a partir da equipe de voleibol (item 19.1.1 e peça 28, p. 3). Na verdade, a equipe de voleibol – laboratório – deveria ser o meio utilizado para a realização das pesquisas. Assim, também não é possível aceitar essa linha de argumentação, porque as metas, objetivos e resultados devem ou deveriam ser direcionadas, quantitativa e qualitativamente, à capacitação de recursos humanos e às pesquisas científicas na área da ciência do esporte conforme previsto na Meta 2 do plano de trabalho do Convênio 010/2011 em tela (peça 28, p. 45-48).

30.O plano de trabalho acostado aos autos, de fato, conforme apontou a CGU/MG, não define adequadamente suas metas e objetivos. Não faz conexão entre o objeto conveniado (programa de formação de uma equipe de voleibol) e as pesquisas científicas e os trabalhos acadêmicos. Não especifica quantas pesquisas e trabalhos científicos seriam desenvolvidos e não indica o escopo de cada pesquisa (o que se quer provar cientificamente, o que se quer demonstrar, a relevância das pesquisas para a comunidade acadêmica da universidade ou de outras instituições, etc.)

30.1. Para demonstrar a falta de clareza das metas do plano de trabalho, tomemos como exemplo a Meta 1 - Capacitação de recursos humanos na área de ciências do esporte (peça 28, p. 45). Ali diz apenas que seriam gastos R$ 942.586,42 nessa meta, sendo RS 15.840,00 com a contratação de bolsistas, R$ 224.600,00 com a estruturação de projeto (não diz como) e R$ 715.646,42 com a formação de equipe multidisciplinar/cursos de capacitação, sem indicar quantos e quais contratados, e quais seriam os cursos de capacitação.

Tópico II - Celebração do Convênio 010/2011 com uma fundação de apoio

31. Nesse tópico abordaremos dois aspectos: a celebração do Convênio 010/2011 com a Fadepe e o pagamento de ‘despesas administrativas’ a essa fundação de apoio.

32. Inicialmente, vale repisar que para o responsável a celebração do Convênio 010/2011 está amparada na Lei 8.958/1994 (item 20.1 retro). Esse é o ponto da justificativa que se aproxima da razoabilidade, pois realmente há o permissivo legal para se celebrar convênios com as fundações de apoio como se verá a seguir.

33. Ao longo do tempo a Lei 8.958/1994 vem sendo sistematicamente alterada para atender aos interesses das instituições federais de ensino e das fundações de apoio. Nesse sentido, a Lei 12.349/2010 alterou o art. 1º da Lei 8.958/1994 que passou a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1º  As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs, sobre as quais dispõe a Lei 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão celebrar convênios e contratos, nos termos do inciso XIII do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade de dar apoio a projetos de ensino, pesquisa e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico, inclusive na gestão administrativa e financeira estritamente necessária à execução desses projetos. 

§ 1º  Para os fins do que dispõe esta Lei, entendem-se por desenvolvimento institucional os programas, projetos, atividades e operações especiais, inclusive de natureza infraestrutural, material e laboratorial, que levem à melhoria mensurável das condições das IFES e demais ICTs, para cumprimento eficiente e eficaz de sua missão, conforme descrita no plano de desenvolvimento institucional, vedada, em qualquer caso, a contratação de objetos genéricos, desvinculados de projetos específicos. 

§ 2º  A atuação da fundação de apoio em projetos de desenvolvimento institucional para melhoria de infraestrutura limitar-se-á às obras laboratoriais e à aquisição de materiais, equipamentos e outros insumos diretamente relacionados às atividades de inovação e pesquisa científica e tecnológica. 

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34. Posteriormente o art. 1º da Lei 8.958/1994 sofreu nova alteração, desta vez pela Lei 12.863, de 2013 passando a viger com a seguinte redação:

Art. 1º As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs, de que trata a Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão celebrar convênios e contratos, nos termos do inciso XIII do caput do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade de apoiar projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução desses projetos,.

§ 1º Para os fins do que dispõe esta Lei, entendem-se por desenvolvimento institucional os programas, projetos, atividades e operações especiais, inclusive de natureza infraestrutural, material e laboratorial, que levem à melhoria mensurável das condições das IFES e demais ICTs, para cumprimento eficiente e eficaz de sua missão, conforme descrita no plano de desenvolvimento institucional, vedada, em qualquer caso, a contratação de objetos genéricos, desvinculados de projetos específicos. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010) 

§ 2º A atuação da fundação de apoio em projetos de desenvolvimento institucional para melhoria de infraestrutura limitar-se-á às obras laboratoriais e à aquisição de materiais, equipamentos e outros insumos diretamente relacionados às atividades de inovação e pesquisa científica e tecnológica. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)

§ 3º É vedado o enquadramento no conceito de desenvolvimento institucional, quando financiadas com recursos repassados pelas IFES e demais ICTs às fundações de apoio, de: (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010

I   - atividades como manutenção predial ou infraestrutural, conservação, limpeza, vigilância, reparos, copeiragem, recepção, secretariado, serviços administrativos na área de informática, gráficos, reprográficos e de telefonia e demais atividades administrativas de rotina, bem como as respectivas expansões vegetativas, inclusive por meio do aumento no número total de pessoal; e (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)

II   - outras tarefas que não estejam objetivamente definidas no Plano de Desenvolvimento Institucional da instituição apoiada. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)

§ 4º É vedada a subcontratação total do objeto dos ajustes realizados pelas IFES e demais ICTs com as fundações de apoio, com base no disposto nesta Lei, bem como a subcontratação parcial que delegue a terceiros a execução do núcleo do objeto contratado. (Incluído pela Lei nº 12.349, de 2010)

§ 5º Os materiais e equipamentos adquiridos com recursos transferidos com fundamento no § 2o integrarão o patrimônio da contratante. (Incluído pela Lei 12.349, de 2010)

35. Contudo, há jurisprudência desta Corte que embora anterior ao advento das leis que modificaram a Lei 8.958/1994, a exemplo do entendimento do Voto do Ministro Relator Guilherme Palmeira exarado no Acórdão 290/2007 - Plenário, que defende que para a celebração de contratos e convênios entre as Ifes e as fundações de apoio são exigidos, cumulativamente, que as instituições tenham a incumbência estatutária de promover a pesquisa, o ensino ou o desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e que os objetos dos termos firmados ou celebrados (contratos ou convênio) efetivamente refiram-se a essas atividades.

36. Nesse diapasão, o art. 3º do estatuto social da Fadepe está assim redigido:

Art. 3º A Fadepe/JF tem por objetivos:

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I – Apoiar, elaborar, promover, executar e subsidiar políticas, ações e projetos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução dessas atividades, para os fins:

a) de ensino, pesquisa e extensão; ciência e tecnologia; cultura e arte; assistência e preservação, conservação, restauração e educação ambientais; e outras correlatas; e

b) de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico, inclusive na gestão administrativa e financeira estritamente necessária à execução desses projetos;

II – exercer as atividades previstas no inciso I, alienas ‘a’ e ‘b’, deste artigo, relativamente a outras pessoas físicas ou jurídicas, de Direito Público ou Privado, inclusive as ‘Instituições Científicas e Tecnológicas – ICTs’ (Lei 10.973/2004, que ‘Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providências’).

III – celebrar convênios e contratos em geral, com pessoas físicas e jurídicas de Direito Público ou de Direito Privado nacionais ou estrangeiras (inclusive as previstas no art. 6 º da Lei 11.107/2005, que ‘Dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos e dá outras providências’, bem como entidades congêneres);

IV – promover a captação de recursos de entidades públicas e privadas, agências de fomento nacionais ou estrangeiras e entes e órgãos afins;

V – conceder bolsas de ensino, pesquisa e extensão e de estímulo à inovação aos alunos de graduação e pós-graduação vinculadas a projetos institucionais das instituições apoiadas, na forma da regulamentação específica, observados os princípios referidos no parágrafo único deste artigo (Lei 8.958/1994, art. 4º);

VI – conceder outras modalidades de auxílio relacionadas com suas demais atividades e/ou objetivos institucionais;

VII – formar recursos humanos nas áreas de educação, ciência e tecnologia, cultura, artes e congêneres, mediante o oferecimento de cursos presenciais ou a distância;

VIII – implantar, executar e prestar serviços de radiodifusão, com fins não econômicos, e com objetivos exclusivamente educativos, científicos e culturais;

IX – prestar serviços relacionados com suas demais atividades e/ou objetivos institucionais, a pessoas físicas e jurídicas de Direito Público ou Privado, nacionais ou estrangeiras, diretamente ou por intermediação;

X – proceder, direta ou indiretamente, à aquisição de equipamentos nacionais ou estrangeiros e à construção ou reforma de instalações físicas de pessoas jurídicas, de Direito Público ou de Direito Privado;

XI – alienar, produzir, editar, gerenciar e comercializar, sem fins lucrativos, inclusive mediante consignação, objetos resultantes das atividades das instituições apoiadas, ou a elas relacionados, ou sobre os quais detenha direito de propriedade ou de exploração, como, dentre outros, medicamentos, livros, periódicos e outras formas de comunicação de dados, textos, sons e imagens;

XII – promover ou apoiar a realização de eventos científicos, tecnológicos, educacionais, artísticos, científicos e culturais, bem como o intercâmbio entre as entidades nacionais ou estrangeiras e órgãos envolvidos;

XIII – promover o registro e o gerenciamento de direitos de propriedade intelectual;

XIV – promover, através da propositura de ‘Ações Civis Públicas’ e medidas judiciais conexas, ou mediante a intervenção em procedimentos que estiverem em curso, observadas as normas próprias de competência (art. 10, inciso I, alínea “d”), em cada caso:

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a) a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (Lei 7.347/1985, art. 5º);

b) a proteção das pessoas portadoras de deficiência física (Lei 7.853/1999, art. 3º);

c) a defesa dos interesses e direitos da pessoa idosa (Lei 10.741/2003, art. 81); e

XV – exercer atividades correlatas ou compatíveis com seus objetivos. (http://www.fadepe.UFJF.br/index.php?pg=verpagina&idpag=7>acessoem 12/4/2015)

37. O responsável deixa claro que a UFJF se interessa(va) pelos resultados dos trabalhos e pesquisas científicas com a manutenção onerosa de uma equipe de voleibol de alto rendimento (itens 18.1.1 retro). No entanto, nota-se que a Fadepe não foi criada com o objetivo de dirigir, gerenciar ou administrar recursos para a manutenção de equipe de voleibol (não é a sua expertise), ainda que a pretexto de ser usada como ‘laboratório’ pela UFJF em pesquisas científicas e/ou acadêmicas.

38. Ademais, percebe-se que o objetivo da Fadepe é diverso, ou não se identifica com o da UFJF, pois o seu interesse se resumiu ‘apenas’ na administração e no gerenciamento dos recursos financeiros repassados por conta do Convênio 010/2011 sem dele experimentar qualquer atividade relacionada à produção de conhecimento científico ou intelectual.

39. Assim, a Fadepe atuou como mera gerenciadora dos recursos financeiros, não se vislumbrando qualquer reciprocidade entre os interesses da concedente e os da convenente, conforme se exige para a celebração de convênio. Na realidade se estabeleceu uma relação contratual de prestação de serviços em que a Fadepe administrou os recursos alocados ao convênio, mas a própria UFJF foi ou é a única destinatária do resultado. Trata-se de um contrato travestido de convênio (peça 11, p. 22-30).

40. A Portaria Interministerial 507/2011, mencionada pelo responsável, apresenta o mesmo conceito do Convênio 010/2011ao da Portaria Interministerial 127/2008 (item 24 retro). Realmente o parágrafo único do art. 52 da Portaria Interministerial 507/2011 admite as despesas administrativas em até 15% do valor do objeto conveniado, conforme o texto abaixo:

Parágrafo único. Os convênios celebrados com entidades privadas sem fins lucrativos, poderão acolher despesas administrativas até o limite de 15% (quinze por cento) do valor do objeto, desde que expressamente autorizadas e demonstradas no respectivo instrumento e no plano de trabalho. (grifo do original)

41. Todavia, dentre os vários gastos previstos em diversos elementos de despesas descritos no mencionado plano de trabalho não se identifica em qual elemento foram consideradas as despesas administrativas a que se refere a cláusula sétima. Para demonstrar a imprecisão do plano de trabalho, montamos o quadro abaixo contendo os gastos e respectivos valores decotados por elemento de despesas extraídos do próprio plano de trabalho (peça 28, p. 49-52):

Código da natureza Descrição da natureza da despesa Valor (R$)

339018 Auxílio Financeiro a Estudante 15.840,00

339033 Passagens e Despesas com Locomoção 126.177,60

339047 Obrigações Tributárias e Contributivas 197.982,58

339036 Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Física 863.435,61

39030 Material de Consumo 85.000,00

339039 Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica 2.895.339,93

TOTAL 4.183.775,72

42. Verifica-se do quadro acima que não é possível precisar o elemento da despesa contendo as despesas administrativas. Mais provável que tais despesas estejam embutidas no elemento da

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despesa 339039 (outros serviços de terceiros - pessoa física). Agora, mesmo decotando o elemento da despesa 339039, conforme se verifica do quadro abaixo (peça 28, p. 49-51), ainda assim não fica claro em quais serviços estariam inseridas essas despesas administrativas:

Plano de aplicação

Elemento da despesa:

339039 - Outros Serviços de Terceiros - Pessoa Jurídica

Descrição dos serviços Valor (R$)

Serviços Técnicos Profissionais 155.119,55

Serviços médicos, hospitalares, odontológicos e laboratoriais 14.750,64

Fornecimento de alimentação 27.643,00

Locação de Imóveis 31.600,00

Alimentação 127.000,00

Seguro 46.000,00

Contratação de Serviços de Pessoa Jurídica 2.304.226,74

Hospedagem 182.000,00

TOTAL 2.895.339,93

43. Portanto, as aludidas despesas administrativas, autorizadas na cláusula sétima, não foram devidamente demonstradas no plano de trabalho do Convênio 010/2011, justificando a irregularidade apontada pela CGU/MG.

44. A propósito, a prestação de contas do Convênio 010/2011encaminhada pela UFJF compõe-se dos seguintes documentos:

a) ofício de encaminhamento (peça 11, p. 34);

b) GRU de devolução de saldo de recursos no valor de R$ 546.517,48 (peça 11, p. 35);

c) Relatório de execução físico financeira no valor de R$ 3.711.309,07 (peça 11, p. 36);

d) Relação de pagamentos efetuados (peça 11, p. 37-56);

e) Relatório do cumprimento do objeto (peça 11, p. 57-60);

f) extratos bancários (peça 11, p. 63-80; peça 12, p. 1-59);

45. Nota-se que a prestação de contas enviada não atende aos requisitos da Portaria Interministerial 127/2008, ou da Portaria Interministerial 507/2011, porque além de não conter qualquer documento que espelhe a reciprocidade de interesses entre os convenentes (UFJF e Fadepe) não é possível avaliá-la quanto aos aspectos do alcance dos resultados esperados, contrariando o que diz o art. 15, inciso II, da referida portaria, in verbis (ou o art. 19, caput e inciso II, da Portaria Interministerial 507/2011):

Art. 15. O proponente credenciado manifestará seu interesse em celebrar instrumentos regulados por esta Portaria mediante apresentação de proposta de trabalho no Siconv, em conformidade com o programa e com as diretrizes disponíveis no sistema, que conterá, no mínimo:

I....

II - justificativa contendo a caracterização dos interesses recíprocos, a relação entre a proposta apresentada e os objetivos e diretrizes do programa federal e a indicação do público alvo, do problema a ser resolvido e dos resultados esperados.

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46. Não consta dos autos qualquer documento indicando a intenção mútua (UFJF e Fadepe) em celebrar o Convênio 010/2011 e, ao que tudo indica o interesse na celebração do convênio partiu unilateralmente da UFJF. Mesmo nessa hipótese, para atender o normativo pertinente – art. 15, inciso II, da Portaria Interministerial 127/2008, ou art. 19, inciso II, da Portaria Interministerial 507/2011 - a Fadepe deveria ter manifestado o seu interesse em celebrar o Convênio 010/2011 justificando a caracterização dos interesses recíprocos, a relação entre a proposta apresentada e os objetivos e diretrizes do programa federal e a indicação do público alvo, do problema a ser resolvido e dos resultados esperados.

CONCLUSÃO

47. Nesta fase processual, examinamos as razões de justificativas do ex-Reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, acerca das irregularidades verificadas na execução do Convênio 010/2011 celebrado com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fadepe) tendo por objeto a execução do programa de voleibol na universidade (item 1 retro).

48. Em suas razões de justificativas, o ex-Reitor não apresentou os argumentos necessários a desconstituir as irregularidades constatadas pela CGU/MG consolidadas no item 4 desta instrução, especialmente aquelas concernentes aos normativos abaixo mencionados:

a) art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (ou art. 1º da Portaria Interministerial 507/2011), tendo em vista que não ficou demonstrado que o Convênio 010/2011 celebrado entre a UFJF e a Fadepe visou à execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação (itens 16, 23 e 25 retro).

b) o art. 39, inciso V, da Portaria Interministerial 127/2008 (ou art. 52, inciso V, da Portaria Interministerial 507/2011), tendo em vista que houve pagamento de despesa em data anterior à vigência do instrumento, no montante de R$ 159.538,74 (itens 19, letra ‘e’ e 28 retro);

c) o art. 6º, § 1º, inciso I, do Decreto 7.423/2010, posto que o plano de trabalho do Convênio 010/2011 não definiu os resultados esperados com seus respectivos indicadores, não contendo, ainda, elementos que o identificam à finalidade da universidade nas áreas do ensino, pesquisa e extensão (itens 20, letra ‘a’ retro);

d) o art. 1º da Lei 8.958/1994 (e suas alterações), tendo em vista que o Convênio 010/2011 não foi celebrado com a finalidade de apoiar projeto de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação e também não se relaciona com a finalidade da Ufj (itens 19, letras ‘b’ e ‘c’, 37 retro).

e) o art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (ou o art. 52, parágrafo único, da Portaria Interministerial 507/2011), tendo em vista que o Convênio 010/2011 foi celebrado sem que as despesas administrativas até o limite de 15% (quinze por cento) do valor do objeto, previstas em sua cláusula sétima, fossem expressamente autorizadas e demonstradas no respectivo instrumento e no plano de trabalho (itens 17, 19, letra ‘d’ e 40 retro);

f) o art. 15, inciso II, da Portaria Interministerial 127/2008 (ou art. 19, inciso II, da Portaria Interministerial 507/2011), considerando que não consta da prestação de contas encaminhada elementos que indiquem a manifestação do interesse em celebrar o Convênio 010/2011, justificando a caracterização dos interesses recíprocos, a relação entre a proposta apresentada e os objetivos e diretrizes do programa federal e a indicação do público alvo, do problema a ser resolvido e dos resultados esperados (itens 18 e 46 retro);

49. Das irregularidades acima enumeradas, consideramos que apenas a referente ao pagamento de despesas em data anterior à vigência do Convênio 010/2011, no montante de R$ 159.538,74, é passível de glosa (item 48 letra ‘b’ retro), conforme análise feita no item 28 desta instrução. As demais se referem a irregularidades graves com infringência injustificada à legislação aplicável ao assunto, que em razão do seu descumprimento ensejam a aplicação da multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/1992. Deve-se ressalvar que a irregularidade enumerada no item 48, letra “e” retro,

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apesar de implicar despesas da ordem de R$ 627.566,36, na realidade é produto da falta de adequação do texto do convênio e do respectivo plano de trabalho à exigência do art. 52, parágrafo único, da Portaria Interministerial 507/2011. Afinal, conforme já analisado, são aceitáveis as despesas administrativas no limite de até 15% do valor do convênio ou do contrato (item 40 retro).

50. Os recursos públicos devem ser gastos com parcimônia, visando o interesse público e com foco nos princípios da economicidade, eficiência e eficácia. Além das irregularidades acima examinadas, deixou-se a nítida impressão de que a relação custo benefício foi bastante desfavorável para justificar gastos significativos, da ordem de quatro milhões de reais com a montagem de uma equipe de voleibol (item 41 retro) ‘apenas’ para a realização de pesquisas e trabalhos científicos na área do esporte (item 20, letra ‘h’ retro).

51. Em razão do exposto, propor-se-á rejeitar as razões de justificativas analisadas, considerar procedente a presente representação, aplicar a multa prevista no art. 58, II, ao responsável e fazer as determinações pertinentes à UFJF, inclusive para que notifique a Fadepe para devolver a quantia de R$ 159.538,74, referente ao pagamento de despesas antes da vigência do Convênio 010/2011, instaurando, se necessário, o processo de tomada de contas especial visando obter o ressarcimento dessas despesas consideradas indevidas no relatório da CGU/MG (peça 3, p. 21-23).

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

52. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:

52.1. Conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237, inciso II, do Regimento Interno deste Tribunal, para, no mérito, considerá-la procedente;

52.2. Rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo ex-Reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG, Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (CPF 112.796.566-20);

52.3. Aplicar ao Sr. Henrique Duque de Miranda Chaves Filho (CPF 112.796.566-20), ex-reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora, individualmente, a multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/1992, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno/TCU), o recolhimento da dívida ao Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

52.4. Autorizar, caso requerido, o desconto da dívida na remuneração do servidor, observado o disposto no art. 46 da Lei 8.112/1990;

52.5. Autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial da dívida caso não atendida a notificação e não seja possível o desconto determinado;

52.6. Determinar à Universidade Federal de Juiz de Fora, com fundamento no art. 250, inciso II, do RI/TCU, que, no prazo de 60 dias, providencie junto à a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Fadepe) a devolução da quantia de R$ 159.538,74, tendo em vista a utilização desse valor pela fundação de apoio para pagamento de despesas em data anterior à vigência do Convênio 010/2011, contrariando o art. 39, inciso V, da Portaria Interministerial 507/2011; caso seja necessário, deverá ser instaurada a competente tomada de contas especial visando a apuração dos fatos, identificação dos responsáveis e a exata quantificação do débito, ante o disposto no art. 8º da Lei 8.443/1992;

52.7. Dar ciência à Universidade Federal de Juiz de Fora sobre as irregularidades verificadas na celebração e execução do Convênio 010/2011, não renovando – mediante termos aditivos – o referido instrumento, em razão do descumprimento dos seguintes normativos pertinentes:

a) art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (ou art. 1º da Portaria Interministerial 507/2011), tendo em vista que não ficou demonstrado que o Convênio 010/2011 celebrado entre a UFJF e a Fadepe visou a execução de programa de governo, envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação (itens 16, 23 e 25 retro).

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b) o art. 39, inciso V, da Portaria Interministerial 127/2008 (ou art. 52, inciso V, da Portaria Interministerial 507/2011), tendo em vista que houve pagamento de despesa em data anterior à vigência do instrumento, no montante de R$ 159.538,74 (itens 19, letra ‘e’ e 28 retro);

c) o art. 6º, § 1º, inciso I, do Decreto 7.423/2010, posto que o plano de trabalho do Convênio 010/2011 não definiu os resultados esperados com seus respectivos indicadores, não contendo, ainda, elementos que o identificam à finalidade da universidade nas áreas do ensino, pesquisa e extensão (itens 20, letra ‘a’ retro);

d) o art. 1º da Lei 8.958/1994 (e suas alterações), tendo em vista que o Convênio 010/2011 não foi celebrado com a finalidade de apoiar projeto de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e tecnológico e estímulo à inovação e também não se relaciona com a finalidade da Ufj (itens 19, letras ‘b’ e ‘c’, 37 retro).

e) o art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (ou o art. 52, parágrafo único, da Portaria Interministerial 507/201), tendo em vista que o Convênio 010/2011 foi celebrado sem que as despesas administrativas até o limite de 15% (quinze por cento) do valor do objeto, previstas em sua cláusula sétima, fossem expressamente autorizadas e demonstradas no respectivo instrumento e no plano de trabalho (itens 17, 19, letra ‘d’ e 40 retro);

f) o art. 15, inciso II, da Portaria Interministerial 127/2008 (ou art. 19, inciso II, da Portaria Interministerial 507/2011), considerando que não consta da prestação encaminhada elementos que indiquem a manifestação do interesse em celebrar o Convênio 010/2011 justificando a caracterização dos interesses recíprocos, a relação entre a proposta apresentada e os objetivos e diretrizes do programa federal e a indicação do público alvo, do problema a ser resolvido e dos resultados esperados (itens 18 e 46 retro);

52.8. Dar ciência do acórdão que vier a ser proferido, assim como do relatório e do voto que o fundamentarem à Controladoria Geral da União em Minas Gerais, para subsidiá-la em futuros trabalhos de auditoria e/ou elaboração dos próximos relatórios de auditorias de contas anuais da referida universidade.”

4. A proposta acima recebeu a anuência dos dirigentes da Secex-MG (peças 32 e 33).

É o Relatório.

VOTO

Cuidam os autos de representação encaminhada pela Controladoria Regional da União em Minas Gerais (CGU/MG), em razão de supostas irregularidades identificadas na execução do Convênio 010/2011 (processo 23071.0l6588/2011-46), registrado no Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse (Siconv) sob o nº 760.440/2011, celebrado entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão da UFJF (Fadepe/JF), tendo por objeto a execução do programa de voleibol na Universidade.

2. A CGU/MG e a Secex/MG apresentaram posicionamentos convergentes no sentido da inadequação do objeto do convênio, qual seja, a manutenção de um time de voleibol de alto desempenho com recursos destinados a Graduação, Pós-Graduação, Ensino, Pesquisa e Extensão, entendendo que se configurou gasto de recursos públicos em atividades não relacionadas às finalidades institucionais da Universidade, e sim patrocínio de uma equipe profissional de voleibol.

3. Além disso, foram relatadas outras irregularidades formais relativas ao instrumento de ajuste, as quais podem ser assim resumidas: celebração de convênio com uma fundação de apoio, pagamento de despesas administrativas, convênio com características de contrato, pagamentos anteriores à data de vigência do instrumento e falta de clareza nas metas, objetivos e resultados do convênio.

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4. A proposta de encaminhamento alvitrada é no sentido de conhecer da representação para, no mérito, considerá-la procedente, rejeitando as razões de justificativa apresentadas pelo ex-reitor e aplicando-lhe multa. Também se consignou proposta de determinação à UFJF para que providencie junto à Fadepe/JF o ressarcimento dos valores pagos anteriormente à vigência do convênio, bem como de dar ciência à UFJF das irregularidades encontradas para que não renove o referido instrumento.

5. Conheço da representação porquanto preenchidos os requisitos de admissibilidade cabíveis à espécie. Quanto ao mérito, tendo em vista os esclarecimentos apresentados pelo responsável em sua defesa, a qual mostrou-se consistente e fundamentada em dados expressivos (peças 27 a 30), divirjo do entendimento esposado pela unidade instrutora em razão dos argumentos que passo a detalhar.

***

6. Entendo que a questão do objeto do convênio, qual seja, a alegada “manutenção de um time de voleibol” pela Universidade, assim como os aspectos atinentes ao montante de recursos investidos e às rubricas orçamentárias correspondentes, e a alegada falta de clareza nas metas, objetivos e resultados do convênio, não podem ser analisados sem considerar os argumentos e dados apresentados pelo ex-reitor da UFJF e sem considerar o importante aspecto da autonomia universitária.

7. Primeiramente, conforme esclareceu o ex-reitor, não se trata de manutenção ou patrocínio de um clube desportivo, conforme inicialmente aventado pela CGU/MG, mas sim do desenvolvimento de um projeto acadêmico que tem um time de voleibol como “laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Esporte de alto-rendimento”, com a finalidade de “formar profissionais de alta qualificação para atuar nos diferentes setores da sociedade”. São diversos os argumentos apresentados pelo responsável nesse sentido, os quais passo a relatar resumidamente abaixo.

8. O projeto teve iniciativa em uma das unidades acadêmicas da UFJF, a Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid), tendo sido aprovado em diversas instâncias deliberativas colegiadas da Universidade (Departamento e Conselho da Faculdade e Comitê de Ética em Pesquisa), em conformidade com o que dispõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para as ações acadêmicas carreadas por uma instituição de ensino superior, e apresentou os seguintes objetivos:

a) Fomentar a geração de conhecimento acadêmico no esporte de formação e competitivo na cidade e região de Juiz de Fora-MG;

b) Abrir campos de ensino, pesquisa e extensão nas áreas relacionadas ao esporte;

c) Gerar conhecimento acadêmico na área do voleibol através da produção de pesquisas científicas; e

d) Capacitar recursos humanos das diferentes áreas de conhecimento envolvidas no esporte.

9. Nesse sentido, o desenvolvimento do projeto em foco vem ao encontro da atuação do Brasil no cenário esportivo mundial como sede da Copa do Mundo de 2014, da Fase Final da Liga Mundial de Vôlei de 2015 e dos Jogos Olímpicos em 2016, uma vez que a UFJF vem desempenhando seu papel para o crescimento do ensino, pesquisa e extensão em Esporte de Alto Rendimento, de modo absolutamente compatível com algumas das atuais necessidades nacionais. Todavia, há que se ressaltar que essa atuação do Brasil no cenário esportivo acaba por envolver também as áreas de Administração Pública, Economia, Turismo, dentre outras. Ou seja, sendo multidisciplinar, o projeto tem o condão de preparar seus alunos para atuarem profissionalmente em diversas áreas ligadas ao esporte, em especial ao voleibol, modalidade na qual o Brasil frequentemente protagoniza os rankings mundiais e que é o segundo esporte coletivo mais praticado no país, atrás apenas do futebol.

10. Também foi esclarecido que algumas instituições estabelecem parceria com clubes esportivos de referência no país para desenvolver ações relativas a pesquisa e extensão nessa área do Esporte de Alto Rendimento, como acontece entre a Universidade Federal de Minas Gerais e o Minas Tênis Clube, assim como entre a Universidade de São Paulo e o Esporte Clube Pinheiros. Entretanto,

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essa possibilidade não existia em Juiz de Fora onde não havia nenhuma instituição esportiva desta envergadura ou nas proximidades. Ademais, foram feitas comparações com os estudos acadêmicos produzidos nessas instituições a partir de pesquisas em Esportes de Alto Rendimento, tendo sido demonstrada grande vantagem nos resultados alcançados pela UFJF a partir do projeto em apelo. Por exemplo, o “Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol e Futsal da Universidade de São Paulo publicou seu último artigo no ano de 2004, há mais de uma década atrás.

11. Já quanto aos resultados do projeto da UFJF, a defesa do responsável, aliada ao Relatório Final de Avaliação do Projeto de Vôlei da Faefid, demonstraram por meio de dados numerosos e consistentes que houve um incremento nos trabalhos científicos e acadêmicos produzidos na Universidade após a implantação do projeto. Foram enumeradas dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso, teses de doutorado, publicações de artigos, pesquisas e trabalhos, além de participações em congressos e conferências, abrangendo as áreas de administração, estatística, ciências biológicas, educação física, psicologia, nutrição e comunicação social. Além disso, também foi destacada a visibilidade alcançada pela UFJF em virtude da lograda participação do time na Série “A” da Superliga Masculina de Voleibol, transmitida nacional e internacionalmente em rede de televisão por assinaturas, e no Campeonato Mineiro de Vôlei.

12. Além dos trabalhos de pesquisa realizados, o projeto de Voleibol UFJF desde o seu início vem sendo utilizado constantemente como base de estágio acadêmico, principalmente pelos alunos da Educação Física, com potencial para acadêmicos de outros cursos. Foram desenvolvidos dois ciclos de oito cursos de capacitação com mais de 300 inscrições, sendo a maioria de alunos da graduação, com os seguintes temas:

a) Métodos de preparação técnica e tática no voleibol,

b) Psicologia do esporte

c) A importância da estatística no voleibol

d) Princípios de Preparação física no Voleibol

e) Gestão e administração de projetos esportivos

f) Fisioterapia esportiva: prevenção e tratamento

g) Aspectos fisiológicos do voleibol

h) Comunicação e Esporte

13. Ainda, em 2014 foram oferecidos 4 cursos de 8 horas/aula para capacitação de alunos e profissionais do esporte, cujos temas abordados foram:

a) Aspectos Psicofisiológicos do voleibol de alto-rendimento

b) Estruturação e planejamento de projetos esportivos de alto-rendimento

c) Métodos de treinamento e análise dos fatores técnico e táticos no voleibol

d) Processos de Ensino-aprendizagem-treinamento no voleibol

14. O projeto também envolve atividades em núcleos de iniciação esportiva para adolescentes socialmente carentes em dois bairros de Juiz de Fora, além de ter iniciado um grande programa de visitas a escolas públicas para incentivar a prática esportiva e permitir a aproximação da comunidade externa com a UFJF.

15. Ainda como decorrência do projeto, surgiram para a Universidade outras oportunidades que vão além do ensino, pesquisa e extensão, como receber delegações esportivas de diferentes países para realizar treinamentos em suas instalações, e a escolha da UFJF como base de treinamento para os

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Jogos Olímpicos de 2016, situações estas que indubitavelmente enriquecem o ambiente universitário e contribuem para as ações acadêmicas a que o projeto se prontificou desenvolver.

16. Sem me delongar enumerando ainda outros argumentos apresentados pelo responsável, entendo que restou demonstrado que o objeto do Convênio 010/2011 firmado entre a UFJF e a Fadepe/JF tem caráter eminentemente acadêmico, não se tratando de mera manutenção de time de voleibol. Tampouco vislumbro deficiências quanto aos objetivos definidos ou à falta de detalhamento das metas. Com efeito, cabe à Instituição disponibilizar os recursos (no caso, o time de voleibol como “laboratório”) para o ensino, pesquisa e extensão, permitindo que a escolha do foco dos trabalhos dos estudantes aconteça de maneira voluntária e dinâmica.

17. Com relação aos valores investidos nesse projeto, da ordem de R$ 4,18 milhões, aspecto questionado pela CGU, foi esclarecido que o orçamento total da Universidade cresceu 275% no período de 2005 a 2014, passando de cerca de R$ 178 milhões para R$ 670 milhões, o que permitiu realizar investimentos em diversos projetos acadêmicos e ampliações de instalações do campus, tais como a própria reforma e ampliação das instalações da Faefid, que passou a se constituir, segundo afirmado, uma das melhores estruturas esportivas do Brasil dentre as instituições de ensino superior. Ainda foi mencionado o investimento nas construções do Parque Científico e Tecnológico, de um planetário, de um jardim botânico, do Novo Hospital Universitário, e do campus de Governador Valadares, onde foram criadas em torno de 800 novas vagas para discentes em dez cursos de graduação. Logo, diante do orçamento total da universidade, dos significativos investimentos que vêm sendo feitos em áreas de conhecimento diversificadas e dos resultados demonstrados para o Projeto Voleibol, os recursos investidos no mesmo parecem coerentes e oportunos.

18. Ademais, dissinto do entendimento da Secex/MG quando questiona as rubricas orçamentárias destinadas ao projeto, que foram Programa 1073 - Brasil Universitário, Ação 4009 - Funcionamento de Cursos de Graduação, no exercício de 2011, e Programa 2032 - Educação Superior - Graduação, Pós-Graduação, Ensino, Pesquisa e Extensão, Ação 20RK-Funcionamento das Universidades Federais, no exercício de 2012. Não vejo problemas no enquadramento desse projeto nas rubricas acima, já que, inicialmente, a constituição do time de vôlei esteve intimamente ligada ao Curso de Graduação em Educação Física, e a partir de 2012 permitiu o desenvolvimento de inúmeros trabalhos de graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão, abrangendo, não é demais repetir, as áreas de administração, estatística, ciências biológicas, educação física, psicologia, nutrição e comunicação social. Enfim, conforme demonstrado pelos resultados alcançados com o projeto, não vejo conflito com as rubricas dos recursos que lhe foram destinados.

***

19. Resta, agora, analisar as demais irregularidades apontadas na instrução da Secex/MG, quais sejam, celebração de convênio com uma fundação de apoio, convênio com características de contrato, pagamento de despesas administrativas e pagamentos anteriores à data de vigência do instrumento.

20. Entendo não haver incongruência na celebração do convênio em tela com a fundação de apoio à Universidade. Também não vislumbro que o convênio em tela tenha características de contrato conforme aventado pela unidade instrutora, em razão de a Fadepe/JF estar encarregada, consoante afirmado pelo próprio ex-reitor, da execução administrativa do Convênio 010/2011, enquanto que as ações acadêmicas estariam a cargo dos próprios docentes e discentes da UFJF.

21. Destaque-se que o estatuto social da Fadepe/JF prevê expressamente como seu objetivo o seguinte:

“Art. 3º A Fadepe/JF tem por objetivos:

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I – Apoiar, elaborar, promover, executar e subsidiar políticas, ações e projetos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à execução dessas atividades, para os fins:

a) de ensino, pesquisa e extensão; ciência e tecnologia; cultura e arte; assistência e preservação, conservação, restauração e educação ambientais; e outras correlatas; e

b) de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico, inclusive na gestão administrativa e financeira estritamente necessária à execução desses projetos;”

22. Ou seja, diante da iniciativa acadêmica de desenvolver o Projeto Voleibol voltado para o ensino, pesquisa e extensão, nada mais legítimo que contar com sua fundação de apoio para desempenhar as funções executivas e administrativas que, de outra maneira, estariam sobrecarregando a Universidade desnecessariamente. Não há que se falar em objetivos divergentes entre os convenentes. Trata-se do mesmo objetivo partilhado pelas duas entidades, o desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão, apenas com a divisão de tarefas atinentes a cada parte.

23. Ademais, o Tribunal tem entendimentos contrários à celebração de convênios entre universidades e fundações de apoio quando estes tiverem o intuito de fugir à obrigatoriedade legal de licitar, o que não é o caso nos presentes autos. Logo, considero justificada a questão.

24. Quanto ao aspecto das despesas administrativas realizadas no âmbito do Convênio, o ex-reitor justificou que, em função da grande quantidade de projetos que executa em apoio às ações acadêmicas da UFJF, a Fadepe/JF necessitou da indicação da exclusividade dos serviços de cinco empregados para atendimento especializado ao Projeto voleibol, em especial em função da operacionalização do Siconv, que mostra-se complexa e necessita de quatro profissionais diferentes para a execução de ações que exigem segregação de funções. Esclareceu ainda que a questão foi devidamente analisada e aprovada pela UFJF tendo em vista que as remunerações mensais desses empregados se enquadravam nos termos da legislação pertinente, a saber, Portaria Interministerial 507/2011, que traz as diretrizes referentes ao cadastro de convênios no Siconv e expressamente permite a realização de despesas administrativas até o percentual de 15% do valor total do objeto a ser executado.

25. Entretanto, consoante analisado pela unidade instrutora nos itens 40 a 43 da instrução transcrita no relatório precedente, o parágrafo único do art. 52 da Portaria Interministerial 507/2011 admite as despesas administrativas em até 15% do valor do objeto conveniado “desde que expressamente autorizadas e demonstradas no respectivo instrumento e no plano de trabalho”, o que não ocorreu no convênio em tela. As aludidas despesas administrativas, autorizadas na cláusula sétima do instrumento de ajuste, não foram devidamente demonstradas no respectivo plano de trabalho. Assim, acolho a proposta de encaminhamento alvitrada pela Secex/MG, com os ajustes necessários, no sentido de determinar à UFJF a correção da irregularidade.

26. Por fim, quanto ao pagamento de despesas realizadas anteriormente à assinatura do convênio, o responsável esclareceu que o fato decorreu da primeira participação dos atletas em competição oficial, que ocorreu em 10/12/2011, de acordo com a tabela de jogos da Superliga Masculina divulgada pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). Sendo assim, para que o Projeto atingisse os objetivos propostos, fez-se necessário reunir esse grupo com um mês de antecedência, enquanto o Projeto tramitava internamente na UFJF para registro, tendo sido publicado o Termo de Convênio em 21/12/2011, apenas 11 dias após o jogo. Foi esclarecido, ainda, que:

“apesar de parte (muitíssimo pequena) das atividades terem sido executadas, parcialmente, antes da vigência formal do ajuste, a primeira parcela dos respectivos recursos financeiras foi disponibilizada apenas em 03/01/2012, e nenhum pagamento foi realizado com Documento de Liquidação emitido antes da vigência do Convênio.”

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27. Observo que, a despeito de ter-se confirmado a realização de despesas anteriores à formalização do convênio, não havia significativa insegurança quanto à sua efetiva aprovação, já que esta dependia apenas da vontade da Universidade como concedente, que era a própria interessada na realização do projeto. Assim, considerando que a assinatura do termo de ajuste era iminente e que as despesas mostraram-se relevantes para a participação do time no jogo que ocorreu apenas onze dias antes da publicação do convênio, entendo que a irregularidade pode ser considerada como falha formal, podendo ser sanada por meio de ciência à UFJF.

28. Destarte, podem ser acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo ex-reitor, devendo ser conhecida a presente representação e, no mérito, considerada parcialmente procedente.

Ante o exposto, voto no sentido de que seja aprovado o Acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 10 de novembro de 2015.

Ministro BRUNO DANTAS Relator

ACÓRDÃO Nº 7147/2015 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo nº TC 033.739/2013-7. 2. Grupo II – Classe de Assunto: VI Representação 3. Responsável: Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, ex-reitor (112.796.566-20).4. Órgão: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).5. Relator: Ministro Bruno Dantas.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado de Minas Gerais (Secex-MG).8. Representação legal: Lucas Sampaio de Souza (OAB/MG 152.577), representando Henrique Duque de Miranda Chaves Filho.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação a respeito de irregularidades

relativas ao Convênio 010/2011, celebrado entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Fundação de Apoio e Desenvolvimento ao Ensino, Pesquisa e Extensão da UFJF (Fadepe/JF), tendo por objeto a execução do Projeto de Voleibol na Universidade.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da Primeira Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. conhecer da presente representação, uma vez satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos no art. 237, inciso VII, do RITCU, c/c art. 103 da Resolução TCU 259/2014, para, no mérito,

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considerá-la parcialmente procedente;

9.2. acolher as razões de justificativa apresentadas pelo responsável, Henrique Duque de Miranda Chaves Filho;

9.3. determinar à Universidade Federal de Juiz de Fora que promova a alteração do instrumento de Convênio 010/2011 para que passe a detalhar expressamente as despesas administrativas até o limite de 15% (quinze por cento) do valor do objeto, previstas em sua cláusula sétima, em observância ao art. 1º, § 1º, inciso VI, da Portaria Interministerial 127, de 29 de maio de 2008 (ou o art. 52, parágrafo único, da Portaria Interministerial 507/201);

9.4. com fulcro no art. 7º da Resolução-TCU 265/2014, dar ciência à Universidade Federal de Juiz de Fora que foi constatada irregularidade no Convênio 010/2011, relativa ao pagamento de despesa em data anterior à vigência do instrumento, no montante de R$ 159.538,74, em afronta ao art. 39, inciso V, da Portaria Interministerial 127/2008 (ou art. 52, inciso V, da Portaria Interministerial 507/2011);

9.5. encaminhar cópia deste acórdão, assim como do relatório e do voto que o fundamentam, à Universidade Federal de Juiz de Fora, ao responsável e à representante.

10. Ata n° 39/2015 – 1ª Câmara.11. Data da Sessão: 10/11/2015 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-7147-39/15-1.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler e Bruno Dantas (Relator).13.2. Ministro-Substituto convocado: André Luís de Carvalho.

13.3. Ministro-Substituto presente: Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)WALTON ALENCAR RODRIGUES

(Assinado Eletronicamente)BRUNO DANTAS

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)SERGIO RICARDO COSTA CARIBÉ

Procurador

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