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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Departamento de Ciência dos Alimentos Bacharelado em Química de Alimentos Disciplina de Seminários em Alimentos Liofilização aplicada a alimentos Laura Pereira Garcia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASDepartamento de Ciência dos AlimentosBacharelado em Química de AlimentosDisciplina de Seminários em Alimentos

Liofilização aplicada a alimentos

Laura Pereira Garcia

Pelotas, 2009.

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Laura Pereira Garcia

Liofilização aplicada a alimentos

Orientadora: Carla Mendonça

Pelotas, 2009.

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Bacharelado em Química de Alimentos da Universidade Federal de Pelotas como requisito parcial da Disciplina de Seminários em Alimentos.

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Dedico este trabalho primeiramente a

minha família que mesmo longe está

sempre presente e a uma grande

amiga que incansavelmente me ouviu

e me auxiliou na execução do trabalho.

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Robert Shuller

O que você faria se soubesse que é impossível falhar?

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Resumo

GARCIA, Laura Pereira. Liofilização aplicada a alimentos. 2009. 45f. Trabalho Acadêmico - Bacharelado em Química de Alimentos. Disciplina de Seminários em Alimentos. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

A liofilização é um processo diferenciado de desidratação de produtos, pois ocorre em condições especiais de pressão e temperatura, possibilitando que a água previamente congelada (estado sólido) passe diretamente ao estado gasoso (sem passar pelo estado líquido), ou seja, a mudança de estado físico ocorre por sublimação, com o objetivo de estabilizar produtos através da diminuição da atividade de água. Para ser possível a realização de uma liofilização é preciso que o produto esteja previamente congelado; haja uma fonte de calor, envolvendo transmissão de calor, transferência de câmara de vácuo e que exista um condensador operando em temperatura superior a do produto congelado. Os diversos tipos de liofilizadores diferenciam-se conforme a maneira que fornecem calor para a superfície do alimento, podendo ser: condução, radiação, microondas ou a combinação deles. A liofilização se divide em etapas: congelamento, secagem primária e secagem secundária. Os alimentos que passam pelo processo apresentam alta retenção das características sensoriais e qualidade nutricional, apresentam uma vida de prateleira maior quando corretamente embalados, dependendo do alimento é possível a permanência em temperatura ambiente. A textura dos alimentos liofilizados é mantida, havendo pouco encolhimento e nenhuma formação de crosta na superfície. Entre os produtos que são conservados por liofilização destacam-se café em pó, mariscos, carne, peixe, ervas aromáticas, frutas e hortaliças (morangos, framboesas, aspargos), cogumelos, alimentos infantis, preparações (café com leite, sopas), leite, queijo, iogurte, ovo, condimentos e extratos solúveis. Também são submetidas ao processo dietas completas (também chamadas de rações) onde podem se incluir refeições pré-cozidas para o uso militar, viagens espaciais, expedições, esportes específicos. O café é o produto liofilizado mais consumido, e o emprego da liofilização se dá pelo alto valor da matéria prima bem como pelas altas taxas de extração e preservação de componentes voláteis. O inconveniente do processo é seu elevado custo de equipamentos e operação, que são mais elevados que os demais métodos, por isso a técnica não é frequentemente aplicada, sendo mais utilizada para matérias primas com alto custo de venda, para compensar o preço do seu tratamento outra desvantagem é que a técnica também aumenta largamente o tempo de processamento.

Palavras-chave: Liofilização. Lyophilization. Freeze drying. Alimentos.

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Lista de Figuras

Figura 1 Relação entre a atividade de água e a deterioração dos

alimentos........................................................................................... 12

Figura 2 Diagrama de fases da água.............................................................. 13

Figura 3 Transmissão de calor na liofilização................................................ 15

Figura 4 Principais componente do liofilizador.............................................. 22

Figura 5 Diagrama de equilíbrio sólido-líquido entre a água e um

sal...................................................................................................... 26

Figura 6 Congelamento sem formação de eutético....................................... 27

Figura 7 Esquema ilustrativo do fenômeno de colapso................................ 29

Figura 8 Cinética dos componentes voláteis durante a liofilização............. 31

Figura 9 Curva de secagem, das temperaturas das placas de aquecimento

e do produto durante a liofilização................................................. 33

Figura 10 Perda de vitaminas durante a liofilização...................................... 35

Figura 11 Isotermas da água............................................................................ 39

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Temperatura de colapso de alguns alimentos durante a liofilização. 29

Tabela 2 Teor máximo de umidade para diversos alimentos............................ 36

Tabela 3 Rendimento para produtos desidratados......................................... 36

Tabela 4 Volume de matéria-prima necessária para a obtenção do produto

liofilizado............................................................................................. 37

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Sumário

1 Introdução....................................................................................................... 92 Atividade de água (aw)................................................................................... 113 Liofilização...................................................................................................... 133.1 Fundamentos físicos da liofilização.......................................................... 133.2 Mecanismos da liofilização........................................................................ 143.2.1 Transferência de energia e massa.......................................................... 143.2.1.1 Taxa de transferência de calor............................................................. 163.2.1.1.1 Transferência de calor através de camada congelada.................. 163.2.1.1.2 Transferência de calor através de camada seca............................. 173.2.1.1.3 Aquecimento por microondas........................................................... 173.2.1.2 Taxa de transferência de massa.......................................................... 184 Equipamentos................................................................................................. 214.1 Liofilizadores de contato............................................................................ 224.2 Liofilizadores acelerados............................................................................ 234.3 Lioflizadores por radiação.......................................................................... 234.4 Liofilizadores de microondas e dielétricos............................................... 245 Etapas da liofilização..................................................................................... 255.1 Congelamento.............................................................................................. 255.1.1 Congelamento com formação de eutético............................................. 265.1.2 Congelamento sem formação de eutético............................................. 265.1.3 Textura do material congelado............................................................... 275.1.4 Colapso estrutural da matriz sólida liofilizada...................................... 285.1.5 Retenção de voláteis durante a liofilização........................................... 295.2 Desidratação primária................................................................................. 315.3 Desidratação secundária............................................................................ 336 Efeitos nos alimentos.................................................................................... 347 Conservação de alimentos desidratados..................................................... 388 Reconstituição de alimentos desidratados.................................................. 399 Custo do processo de liofilização................................................................. 41

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10 Conclusão...................................................................................................... 4211 Referências.................................................................................................... 44

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1 Introdução

Um dos objetivos do estudo da tecnologia de alimentos é o aumento da vida de

prateleira dos produtos, para reduzir o número de alimentos que se deterioram antes

do consumo, logo, cada vez mais se aprimoram as técnicas de conservação de

alimentos. Podem ser empregados diversos métodos de conservação pelo emprego

de calor ou frio, modificações de pH, atmosfera e atividade de água (com redução do

teor de água ou sua imobilização). A escolha do método depende das características

do alimento, aspectos que se têm o interesse de preservar, tempo de vida útil

pretendido, pré-existência de maquinário na indústria, viabilidade econômica, entre

outros fatores.

Entre os diversos métodos existentes, está aquele baseado na redução da

umidade dos alimentos a partir do congelamento e subsequente sublimação da água

contida nos mesmos, denominado de liofilização.

De acordo com Baruffaldi e Oliveira (1998) ”o termo liófilo significa amigo do

solvente, o que define com fidelidade as características dos produtos liofilizados:

altamente higroscópicos e de fácil dissolução na água”.

Historicamente, o primeiro produto liofilizado, de forma adequada, foi o vírus da

raiva, em 1911. Hoje em dia, são rotineiramente liofilizadas grandes variedades de

substâncias, tais como: alimentos, antibióticos, anticoagulantes, bactérias, vírus,

enzimas, hormônios, frações de sangue.

Na área de alimentos, podemos citar como exemplo de produtos que passam

pelo processo de liofilização: matérias-primas alimentares, bebidas, bem como

alimentos prontos.

Durante a Segunda Guerra mundial a liofilização em alimentos ganhou um

grande impulso, devido ao fato de que neste período desenvolveram-se muitos

estudos sobre o processamento de alimentos liofilizados e suas condições.

Sem dúvida, o maior destaque foi durante o programa Apollo da NASA, que

impulsionou as pesquisas básicas para elucidação dos mecanismos de liofilização

de alimentos. Os produtos tecnológicos existentes atualmente foram desenvolvidos

a partir dos fundamentos adquiridos nestas pesquisas.

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O processo de liofilização se mostra eficiente comparado com outros meios de

desidratação, frente características como contração do produto, perda de voláteis,

decomposição térmica, ações enzimáticas e desnaturação de proteínas, por isso

merece destaque.

O objetivo deste trabalho foi realizar uma pesquisa bibliográfica sobre alimentos

liofilizados, suas características, etapas do processamento, equipamentos utilizados,

aspectos físico-químicos associados, bem como abordar fundamentos e

mecanismos da liofilização aplicada a alimentos.

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2 Atividade de água (aw)

Existe uma relação entre o conteúdo de água dos alimentos e sua capacidade

de sofrer alterações, e é justamente nesse fator que a liofilização visa atuar:

reduzindo o conteúdo de água do alimento e simultaneamente concentrando os

solutos, dessa maneira diminuindo o risco de alterações. Mas o conteúdo de água

não é um indicador isolado, o restante da composição do alimento deve ser levado

em consideração ao prever a susceptibilidade de alteração de um alimento, fatores

como concentração de oxigênio, pH, mobilidade da água, tipo de soluto presente,

também devem ser considerados. Percebe-se, observando-se alimentos com igual

conteúdo de água, que estes podem sofrer alterações de forma distinta, devido ao

fato da água estar ligada com diferentes intensidades às moléculas dos constituintes

não aquosos (água constitucional – mais fortemente ligada; água vicinal – próxima

aos grupos hidrofílicos; água multicamadas – ligada de forma mais fraca); quando à

água apresenta-se ligada mais fortemente aos componentes não aquosos, torna-se

menos disponível para o crescimento de microrganismos e reações químicas

hidrolitícas.

A atividade de água é definida pela relação entre a pressão de vapor da água em

um alimento ou solução e a pressão de vapor da água pura, na mesma temperatura.

Então, de uma forma genérica, a atividade de água indica a intensidade das forças

que ligam a água aos componentes não aquosos. Porém a atividade de água em

temperaturas baixas (abaixo de 0°C) é independente da composição da amostra e

depende somente da temperatura, a exemplo disso pode-se citar um alimento a -

15°C com aw=0,86, neste produto os microrganismos não crescerão e as reações

químicas se processam de uma forma muito lenta, mas em uma temperatura de

20°C alguns microrganismos já crescem de forma moderada e algumas reações se

processam rapidamente (FENNEMA, 1996).

A Fig.1 mostra a relação existente entre a atividade de água e susceptibilidade de

deterioração de alimentos por ação de microrganismos, reações químicas ou

enzimáticas.

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Figura 1 – Relação entre a atividade de água e a deterioração dos alimentos.Fonte: OETTERER, 2006.

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3 Liofilização

A liofilização também denominada por outras nomenclaturas como

criodesidratação ou criosecagem, é um processo diferenciado de desidratação de

produtos, pois ocorre em condições especiais de pressão e temperatura,

possibilitando que a água previamente congelada (estado sólido) passe diretamente

ao estado gasoso (sem passar pelo estado líquido), ou seja, a mudança de estado

físico ocorre por sublimação.

O processo tem por objetivo estabilizar produtos (diminuição da atividade de

água) através de uma série de operações em que o material é submetido durante o

processamento: congelamento, sublimação, secagem a vácuo e armazenagem do

produto. Assim obtêm-se produtos de qualidade superior, fácil reconstituição

(hidratação) e longa vida de prateleira.

3.1 Fundamentos físicos da liofilização O estado de agregação de qualquer substância depende das condições de

temperatura e pressão a que ela está exposta, podendo se apresentar em estado

sólido, líquido ou gasoso. Em determinadas condições é possível a coexistência de

dois estados físicos, e em condições fixas e características de cada substância

podem ainda coexistir os três estados físicos, o chamado ponto triplo das

substâncias, dado por certa temperatura e pressão (Fig. 2).

Figura 2 - Diagrama de fases da água.Fonte: OETTERER, 2006.

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Segundo Ordóñez (2005) o ponto triplo da água é definido por uma temperatura

de 0,0099 °C e pressão 610,5 Pa (4,58 mmHg). Então a temperatura e pressão mais

baixas que a característica do ponto triplo a fase líquida não ocorre, portanto todo o

processo de liofilização ocorre em pressão inferior a 4,58 mmHg, para que não

exista água em estado líquido durante o processo o que acabaria causando danos

estruturais ao produto.

Ao observar a Figura 1, conclui-se que a uma pressão superior a 4,58 mmHg, ao

fornecer calor a um material congelado, a água contida neste se fundirá tornando-se

líquida, e se o fornecimento de calor for continuado ela se evaporará. Portanto,

fornecendo-se calor a um material congelado a uma pressão menor que 4,58 mmHg,

a água presente neste material passará para o estado de vapor, ou seja, sublimará.

Usualmente na prática da liofilização, a temperatura do produto congelado deve ser

mantida bem abaixo de 0 °C (BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

3.2 Mecanismos da liofilização

Conforme já mencionado, para ser possível a realização de uma liofilização é

preciso que o produto esteja previamente congelado, haja uma fonte de calor,

câmara de vácuo e que exista um condensador operando em temperaturas superior

a do produto congelado.

3.2.1 Transferência de energia e massa

Segundo Baruffaldi e Oliveira (1998), como qualquer outro método de

desidratação, a liofilização é um processo simultâneo, que envolve transmissão de

calor e transferência de massas. O que pode ser observado na Fig. 3.

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Figura 3 – Transmissão de calor na liofilização: a) pela camada seca; b) pela camada congelada; c) geração interna do calor por microondas.Fonte: ORDÓÑEZ, 2005.

A força motora de transferência de massa é o gradiente de pressão e a força

motora de calor é o referencial de temperatura. Com o fornecimento de calor a

pressão constante e abaixo de 4,58 mmHg a um material congelado, se inicia a

sublimação (gelo sólido sublima diretamente para vapor sem se fundir), porém,

como a emissão de vapores aumenta a pressão destes, bloqueando a sublimação,

logo é necessário um equipamento ou dispositivo que retenha os vapores emitidos,

na pratica é utilizado um condensador.

O vapor d’água é continuamente removido do alimento mantendo-se a pressão

da câmara do liofilizador abaixo da pressão de vapor na superfície do gelo, através

da remoção de vapor com uma bomba de vácuo e posterior condensação em uma

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serpentina de refrigeração. À medida que a secagem segue, a sublimação atinge o

interior do alimento congelado, deixando-o parcialmente desidratado.

O calor latente de sublimação (quantidade de calor necessária para que ocorra a

sublimação) é de 2,84 MJ kg-1 e pode ser conduzido através do alimento pela

camada seca ou pela congelada, ou produzido por microondas (geração interna de

calor). O vapor d’água sai dos alimentos através de canais formados pelo gelo

sublimado, e sendo assim removido.

Em determinados alimentos líquidos (como exemplo sucos de frutas com

elevado teor de açúcares e extrato de café concentrado) há formação de um estado

vítreo no congelamento, causando dificuldades na transferência do vapor, portanto o

líquido é congelado como uma espuma (liofilização por sopro de vácuo) ou o suco é

desidratado juntamente com a polpa, os dois métodos produzem canais através do

alimento para que o vapor escape. Outro método utilizado também é a moagem do

suco congelado para produzir grânulos que secam mais rapidamente, ao mesmo

tempo em que possibilitam um melhor controle do tamanho das partículas do

alimento desidratado (FELLOWS, 2006).

A taxa de secagem dos alimentos depende principalmente da resistência dos

mesmos a transferência de calor e da resistência ao fluxo de vapor (transferência de

massa) da frente de sublimação (limite entre as camadas seca e congelada).

3.2.1.1 Taxa de transferência de calor

Para frente de sublimação existem três métodos de transferência de calor.

3.2.1.1.1 Transferência de calor através de camada congelada

Quando o calor é transferido por condução pela camada congelada do alimento

a taxa de transferência de calor depende da espessura do alimento e da

condutividade térmica do gelo. Mesmo o gelo sendo um condutor de calor

relativamente bom, o calor necessário para a sublimação é tão elevado, e o

gradiente de temperatura muito estreito, que a velocidade de desidratação só será

aceitável se o produto tiver pouca espessura. À medida que a secagem avança

facilita-se a transferência de calor, em decorrência da redução progressiva da

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espessura do gelo. A temperatura superficial do aquecedor é controlada para evitar

que ocorra o descongelamento do gelo.

3.2.1.1.2 Transferência de calor através de camada seca

Se o calor é transferido pela camada desidratada do alimento, essa taxa de

transferência de calor depende da espessura e da área superficial do alimento, da

condutividade térmica da camada desidratada e da diferença de temperatura entre a

superfície do alimento e a frente de gelo. Então, o fator limitante da velocidade de

secagem é a transferência de calor. A condutividade térmica da camada seca é tão

baixa que se compara a de matérias isolantes, logo oferece uma alta resistência ao

fluxo de calor. Então, ao passo que liofilização (secagem) avança, essa camada se

torna mais grossa e a resistência da transferência de calor aumenta. Uma redução

de tamanho ou na espessura do alimento aumenta a taxa de transferência de calor

ou um aumento de temperatura, porém, na liofilização a temperatura de superfície é

limitada entre 40 e 65 °C, para evitar que ocorra desnaturação protéica e outras

mudanças químicas que poderiam reduzir a qualidade do alimento.

3.2.1.1.3 Aquecimento por microondas

Quando se emprega o aquecimento por microondas o calor se produz no interior

do alimento, por isso a taxa de transferência de calor não é influenciada pela

condutividade térmica do gelo ou do alimento desidratado, ou pela espessura da

camada seca, assim, a secagem ocorre muito mais rapidamente. O problema

apresentado é que o fator de perda de gelo é mais baixo que o da água, logo, existe

o risco de que o aquecimento do alimento não seja homogêneo, visto que as zonas

onde há fusão ou temperatura maior se aquecerão mais rápido. Outra desvantagem

das microondas é o maior gasto energético. De acordo com Ordóñez (2005), as

microondas normalmente se combinam com a fonte de calor convencional

(superfícies aquecidas), e assim o tempo total de secagem reduz-se em 33 a 50 %.

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3.2.1.2 Taxa de transferência de massa

Quando o calor alcança a frente de sublimação (limite entre as camadas seca e

congelada), ele eleva a temperatura e a pressão de vapor d’água do gelo, a

transferência do vapor d’água produzido na frente de sublimação à superfície do

alimento ocorre sempre pela camada seca do produto, dependendo da espessura e

da área de exposição da proporção seca, permeabilidade e da diferença de

pressões parciais de vapor d’água entre a superfície de camada seca e a frente de

congelamento. À medida que ocorre o avanço da frente de sublimação, a espessura

da camada seca aumenta, sendo assim a transferência de vapor d’água pela

camada seca fica mais difícil, sendo este um fator limitante na velocidade de

secagem do alimento. De maneira geral, a permeabilidade e a condutividade térmica

do alimento variam inversamente: os alimentos compactos têm uma condutividade

térmica elevada, mas uma difícil difusão do vapor devido a sua estrutura, enquanto

que nos porosos ocorre o inverso (MAFART, 1996).

O vapor move-se através do alimento seco para uma região de baixa pressão de

vapor na câmara de secagem. Um grama de gelo forma 2 m3 de vapor a 67 Pa,

portanto, na liofilização comercial, torna-se necessário remover várias centenas de

metros cúbicos de vapor d’água por segundo através dos poros do alimento seco.

O gradiente de pressão parcial de vapor (força condutora da transmissão de

massas) depende da pressão que existe na câmara de secagem e da temperatura

do condensador de vapor d’água, ambas devem ser tão baixas quanto

economicamente possível, e também da temperatura do gelo na frente de

sublimação, que deve ser tão alta quanto possível, sem que ocorra a fusão. As

condições geralmente utilizadas na prática, levando em consideração a questão

econômica, são: pressão da câmara de 13 Pa e a temperatura do condensador

cerca de -35 °C.

Na prática a temperatura do gelo na frente de sublimação deveria manter-se

exatamente abaixo do seu ponto de fusão eutético, que pode ser aproximadamente

10 °C abaixo do ponto de fusão do gelo, porém não deve ultrapassar a temperatura

de colapso crítica (característica de cada produto). Quando a liofilização é realizada

em temperaturas muito baixas, a elevada viscosidade da fase aquosa concentrada

do alimento congelado impede que se produzam as mudanças estruturais, assim

sendo a estrutura final do alimento é similar a inicial, com poros nos pontos onde

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anteriormente haviam os cristais de gelo, esses poros encontram-se cercados por

uma matriz seca formada de componentes insolúveis e por componentes

precipitados que, inicialmente, estavam dissolvidos. Se a operação se realiza em

temperatura mais elevada, ou seja, acima da crítica, a viscosidade da fase aquosa

concentrada (solutos) diminui e passa a ter mobilidade necessária para fluir sob as

forças que atuam na estrutura do alimento, então, desaparece a separação dos

solutos, típica do produto congelado, e ainda dificulta a transferência de vapor.

Quando a transferência de vapor se dá pela camada seca do alimento pode ser

expressa por:

dw = -A b (Pvi – Pvs) Eq. 1

dt x

onde dw/dt é a velocidade de fluxo mássico do vapor pela camada seca; A, é a área

da superfície efetiva de sublimação; b, permeabilidade da camada seca; Pvi, pressão

parcial de vapor e Pvs é pressão parcial de vapor de água na superfície da camada

seca; x, espessura da camada seca. E caso o calor seja transferido ao gelo somente

pela camada seca, a velocidade de transferência de calor é calculada por:

dQ = kd A ( θ s – θ i) Eq.2

dt x

onde dQ/dt é a velocidade de transferência de calor; kd, condutividade térmica da

camada seca; θs, temperatura da camada seca do produto e θ i temperatura do gelo

na frente de sublimação (ORDÓÑEZ, 2005).

O tempo total de secagem depende de diversos fatores como: x, espessura do

alimento; ρ, densidade total do alimento seco, M1, teor de umidade inicial e M2, teor

de umidade final na camada seca; λs, calor latente de sublimação; kd, condutividade

térmica da camada desidratada, equacionados da seguinte forma:

td = x² ρ (M 1 – M2) λ s Eq. 3

8kd (θs – θi)

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onde observa-se que o tempo de secagem é proporcional ao quadrado da

espessura do produto, logo, se esta for duplicada, irá aumentar o tempo de secagem

por um fator quatro, então, é interessante que as camadas do produto a ser

liofilizado sejam finas (KAREL,1974 apud FELLOWS, 2006).

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4 Equipamentos

Os liofilizadores constituem-se basicamente pelos elementos: câmara de vácuo,

fonte de calor, condensador e bomba de vácuo. A câmara de vácuo (onde o

alimento fica contido) tem por objetivo diminuir a pressão, para que não ocorra fusão

do gelo, esta pode ser de forma retangular, que permite o aproveitamento do espaço

inteiro mais facilmente, ou pode ser cilíndrica, que apresenta uma maior resistência

à pressão. A fonte de calor tem a finalidade de suprir calor latente de sublimação. O

condensador é formado por serpentinas de refrigeração que transformam os vapores

diretamente em gelo (executando a chamada sublimação inversa), este é adaptado

com dispositivos automáticos de descongelamento a fim de manter área máxima de

serpentina livre para que aja uma maior eficiência do processo; tendo em vista que a

maior parte do consumo de energia ocorre na refrigeração dos condensadores,

estes dispositivos proporcionam economia na liofilização. A bomba de vácuo tem a

finalidade de remover os vapores não condensáveis.

Existem diversos tipos de liofilizadores, diferenciando-se em detrimento do modo

como se proporciona calor para a superfície do alimento, os tipos que utilizam

condução e radiação são utilizados comercialmente (o aquecimento por convecção,

que se dá por diferença de densidade de um fluido não é importante porque o

aquecimento ocorre dentro da câmara de vácuo, e no vácuo não ocorre a

movimentação por diferença de densidade) e atualmente também se utiliza a

liofilização por microondas. Cada um destes tipos de secadores pode ser encontrado

tanto na versão contínua como em batelada, na secagem por batelada o produto é

fechado dentro da câmara de secagem mantendo-se a temperatura do aquecedor

entre 100 e 120 °C para a secagem inicial, sendo gradualmente reduzida durante o

período de secagem de 6 à 8 h. As condições de secagem são diferenciadas para

cada alimento, mas a temperatura da superfície do alimento não deve ultrapassar os

60 °C, por ser uma temperatura estipulada com a finalidade de evitar a desnaturação

protéica. Na liofilização contínua as bandejas com o alimento são colocadas em

carros que entram e saem do secador mediante comportas de segurança, uma pilha

de bandejas, intercalada pelas placas de aquecimento, é movida sobre trilhos ao

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longo das zonas de aquecimento de uma longa câmara de vácuo (Fig. 4). As

temperaturas dos aquecedores e os tempos de permanência do produto em cada

zona são pré-programados de acordo com o tipo e o volume do alimento, sendo

utilizados microprocessadores para este monitoramente e controle do tempo do

processo, temperatura, pressão da câmara e a temperatura na superfície do

alimento. Atualmente já existem outros equipamentos onde se dispensa a utilização

de bandejas e o alimento move-se no liofilizador por meio de esteiras rolantes,

bases fluidizadas ou por atomização.

Figura 4 – Principais componente do liofilizador.Fonte: ORDÓÑEZ, 2005.

4.1 Liofilizadores de contato

Neste tipo de liofilizador o calor é fornecido por condução, o alimento é colocado

em bandejas com divisões, estas bandejas estão sobre placas ocas aquecidas por

resistências elétricas incorporadas ou através de circulação interna da água quente.

Se o produto é congelado na mesma câmara, faz-se circular pelo interior das placas

líquido refrigerante. A velocidade de secagem por esses equipamentos é baixa em

comparação com outros tipos, em decorrência do calor ser aplicado apenas em uma

das superfícies do alimento; o contato não ser uniforme entre alimento congelado e

superfície aquecida, reduzindo assim ainda mais a taxa de transferência de calor;

ocorrência de uma queda de pressão no alimento, que resulta em diferenças entre

as taxas de secagem das camadas altas e das baixas; mesmo assim, o liofilizador

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de contato tem grande capacidade de produção. A velocidade do vapor é cerda de 3

ms-1, e as partículas finas do produto eventualmente podem ser transportadas pelo

vapor e perdidas (MAFART, 1994).

4.2 Liofilizadores acelerados

Nestes equipamentos o alimento situa-se entre duas malhas metálicas

expandidas e é submetido a uma leve pressão em ambos os lados, o aquecimento

também se dá por condução (como no equipamento anterior), mas o calor é

transferido mais rápido no alimento através da malha do que pelas placas sólidas,

em comparação com outros tipos de equipamento a desidratação ocorre mais

rapidamente porque a transmissão de calor é mais uniforme e o vapor escapa mais

facilmente da superfície do alimento (FELLOWS, 2006; ORDÓÑEZ, 2005).

4.3 Liofilizadores por radiação

A radiação infravermelha de aquecedores radiantes é utilizada para efetuar

aquecimento de camadas finas de alimentos sobre bandejas planas, estes

aquecedores são dispostos acima e abaixo das bandejas, e o aquecimento é mais

uniforme do que por condução, porque as irregularidades presentes na superfície do

alimento têm pouca influência sob a taxa de transferência de calor e não ocorre

queda de pressão através do alimento, originando assim condições constantes de

secagem. Nesse tipo de aquecimento não é necessário o contato íntimo entre

alimento e aquecedores, sendo utilizadas bandejas planas, que são mais fáceis de

limpar e de menor custo. A velocidade do vapor é de aproximadamente 1 ms -1 e

existe pouco risco de carregamento do produto. É comum haver a combinação de

aquecimento por condução por contato direto (superfície inferior do alimento) com

aquecimento por radiação (parte superior do alimento) (FELLOWS, 2006;

ORDÓÑEZ, 2005).

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4.4 Liofilizadores de microondas e dielétricos

Os aquecedores por radiofrequência têm o uso potencial na liofilização, porém

não são utilizados em escala comercial em decorrência da dificuldade de controle,

pois a água tem um fator de perda mais alto que o gelo e qualquer derretimento

localizado de gelo causa um superaquecimento “descontrolado” e uma reação em

cadeia (FELLOWS, 2006; ORDÓÑEZ, 2005).

Uma modificação da liofilização é a liofilização de compressão reversível, onde o

alimento é liofilizado para a remoção de 90% da umidade e então é comprimido em

blocos sendo submetido a uma pressão de 69000 kPa, a umidade residual torna o

alimento elástico durante a compressão e o alimento é posteriormente desidratado

sob vácuo. Quando é embalado juntamente com gás inerte esse alimento tem a

possibilidade de ter uma vida de prateleira de cinco anos, sendo muito utilizados em

situações especiais como rações militares (exemplo: uma refeição constituída de

barras separadas de carne cozida, linguiça, sobremesa de granola e bebida de

laranja), sendo constituídos por barras de rápida reconstituição, assumindo

facilmente sua forma e tamanho normais (UNGER, 1982 apud FELLOWS, 2006).

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5 Etapas da liofilização

O passo prévio a liofilização é o congelamento dos alimentos, a fim de

transformar as soluções aquosas dos alimentos em uma mistura de duas fases

sendo uma constituída por cristais de gelo e a outra pela solução concentrada dos

solutos. O congelamento pode ser realizado a parte ou no próprio recinto do

liofilizador. O tipo e a velocidade de congelamento têm grande efeito na estrutura

final do alimento, porque a distribuição dos poros no alimento depende do tamanho

e da localização dos cristais de gelo formados. As condições mais adequadas para o

congelamento dependem das características particulares do alimento a ser

liofilizado. Ao liofilizar, se houver a formação de cristais de gelo grandes, com

geração de uma rede cristalina, tem-se uma boa estrutura porosa, que facilitará o

escape de vapor d’água durante a liofilização, bem como a entrada da água em sua

posterior reidratação. Ao longo da secagem por liofilização distinguem-se duas

etapas: desidratação primária, onde ocorre a maior retirada do conteúdo de água e

secundária, que visa retirar uma certa quantia da água ligada.

5.1 Congelamento Ao se congelar uma solução a água transforma-se em gelo, num grau variado,

porém de alta pureza. Logo, os constituintes não aquosos são concentrados em uma

pequena quantidade de água. Como resultado do congelamento pode ocorrer a

formação de misturas eutéticas (temperatura de fusão dos componentes da mistura

se torna a mesma e não ocorre modificações na composição) ou precipitados

amorfos, ainda pode acontecer a desidratação do material insolúvel, assim como a

coalescência de gotas de líquidos imiscíveis. A intensidade das alterações varia

conforme o alimento e a taxa de congelamento (BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

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5.1.1 Congelamento com formação de eutético A Fig. 5 representa o diagrama de equilíbrio sólido-líquido entre a água e um sal

em diferentes concentrações e temperaturas. Ao se considerar uma solução à direita

de E, ocorre a precipitação do sal à medida que se processa o resfriamento e torna-

se cada vez mais diluída até atingir a concentração eutética. E observando-se uma

solução à esquerda de E, quando se abaixa a temperatura ocorre à separação do

gelo, e a solução remanescente torna-se cada vez mais concentrada, até atingir a

concentração eutética. Logo, abaixo da temperatura eutética (traçada no gráfico),

seguramente todo material presente no sistema encontra-se no estado sólido

(devido a formação de uma mistura eutética onde os componentes da mistura

fundem a mesma temperatura) o que é um requisito básico para a liofilização

(BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

Figura 5 – Diagrama de equilíbrio sólido-líquido entre a água e um sal.Fonte: BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998.

5.1.2 Congelamento sem formação de eutético Para uma série de soluções não se observa a formação de eutético durante o

resfriamento, quando tais soluções são resfriadas acontece a formação de gelo puro

e a solução intersticial de concentra ao longo de uma curva (EC, por exemplo) (Fig.

6). Com o aumento da concentração, a viscosidade da solução atinge valores

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grandes, ocorrendo então a vitrificação da solução, na prática estes materiais são

denominados de sólidos amorfos (BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

Figura 6 – Congelamento sem formação de eutético.Fonte: BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998.

5.1.3 Textura do material congelado

A repartição do gelo em cristais desempenha um papel importante no

comportamento do soluto durante a liofilização, assim como nas características

finais do produto. Na prática, costuma-se denominar velocidade de congelamento

pelo número de graus Celsius dividido pela unidade de tempo, no caso segundo.

Assim, diz-se que as velocidades de congelamento são: muito lentas, quando estão

abaixo de 0,001°C/s; lentas, quando situam-se entre 0,001 e 0,06°C/s; rápidas,

compreendidas entre 0,06 e 50°C/s e, muito rápidas, acima de 50°C/s

(BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

Também se encontra a expressão da velocidade de congelamento em termos da

profundidade, num dado intervalo de tempo, em velocidade de congelamento entre

0,5 e 1 mm por minuto o gelo que se separa de uma solução eutética tem a

tendência de formar cristais de gelo na forma de agulhas, na direção em que o

congelamento se processa. Essa cristalização é chamada de direcional e está

ausente tanto em baixas como em altas velocidades de congelamento, assim como

em soluções de concentração igual ou superior a eutética (BARUFFALDI;

OLIVEIRA, 1998).

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A velocidade com que o congelamento se processa determina a dimensão dos

cristais de gelo. O congelamento rápido produz cristais de gelo muito pequenos que

ajudam a preservar os detalhes estruturais, devido à redução dos danos a estrutura

celular do alimento, porém os pequenos poros que se formam durante a sublimação

são mais restritivos ao fluxo de vapor do que os formados pelo congelamento lento,

por serem de maior diâmetro, mas a velocidade de congelamento depende das

características que se tem a finalidade de preservar no produto, em geral opta-se

pelo congelamento rápido porque os cristais formados causarão menor dano

estrutural aos alimentos, porém o processo levará mais tempo.

5.1.4 Colapso estrutural da matriz sólida liofilizada Em todas as fases da liofilização o produto deve ser mantido em uma

temperatura limite, para evitar que ocorra qualquer alteração estrutural do alimento

sólido. O fenômeno de colapso estrutural é frequentemente confundido com fusão

eutética, e é de interesse particular na liofilização de alimentos líquidos, onde a

estrutura é formada no congelamento. A liofilização pode tanto secar um produto

sólido úmido, como transformar um alimento líquido em um sólido seco. Produtos

que no congelamento formam matrizes altamente viscosas e amorfas, não sofrem

definidas transições de fases, mas podem fluir em função da umidade e temperatura

por sua redução de viscosidade.

O colapso e a transição vítrea de polímeros amorfos são fenômenos similares.

Na transição vítrea ocorre a passagem de um líquido para o estado sólido sem

mudança de fase, quando um polímero no estado vítreo é aquecido seu volume

aumenta a uma razão constante. Abaixo da temperatura de transição vítrea o

polímero exibe um comportamento semelhante ao do vidro, ao elevar-se a

temperatura acima dos valores de transição este polímero amolece como se fosse

uma borracha, prosseguindo-se o aquecimento é convertido em uma goma e

finalmente transforma-se em líquido. Nos produtos liofilizados o colapso é uma

alteração estrutural perceptível como um encolhimento da matriz sólida liofilizada,

este encolhimento é causado pela redução de viscosidade, portanto o colapso é

resultado das forças gravitacionais de superfície que promovem o escoamento da

matriz sólida (BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

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Figura 7 – Esquema ilustrativo do fenômeno de colapso.Fonte: BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998.

Na Tabela 1 são apresentadas as temperaturas em que ocorre o colapso em

alguns alimentos.

Tabela 1 – Temperatura de colapso de alguns alimentos durante a liofilização

Alimento Temperatura de colapso (°C)Extrato de café (25%) -20Suco de maçã (22%) -41,5Suco de uva (16%) -46

Tomate -41Milho verde -8 a -15

Batata -12Sorvete -31 a -33

Queijo cheddar -24Pescado -6 a -12

Carne bovina -12

Fonte: FELLOWS, 2006.

5.1.5 Retenção de voláteis durante a liofilização A liofilização é reconhecida como o melhor método de conservação de

substâncias voláteis entre os métodos de controle de umidade. Isso ocorre porque

há retenção de moléculas de baixo peso molecular, mesmo as com pressão de

vapor maior que a da água, devido à difusão seletiva da água através da matriz

liofilizada; significa que nas condições da liofilização o coeficiente de difusão das

moléculas voláteis é muito menor que o coeficiente da água. Em escala

macromolecular a retenção de voláteis se dá pelo aprisionamento de moléculas em

microrregiões da matriz liofilizada, o processo de alojamento dos voláteis em

microrregiões inicia no congelamento da solução, os voláteis são retidos na matriz

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alimentar antes da sublimação do gelo. Com a continuação do resfriamento ocorre a

formação de mais gelo puro, deixando a solução intersticial mais concentrada, e

finalmente devido a alta concentração de soluto e baixa temperatura as forças

intermoleculares dentro da solução tornam-se tão grandes que ela sofre uma

transição vítrea, solidificando-se no estado amorfo. A capacidade de substâncias

amorfas reterem outras moléculas está na existência de volume livre nesses sólidos,

o estado cristalino, em decorrência de seu limitado volume livre é incapaz de

acomodar impurezas na sua estrutura, por este motivo que a cristalização sucessiva

é conhecida para purificação de substâncias (BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

Além da retenção de voláteis a liofilização pode encapsular gorduras evitando a

sua oxidação, emulsões liofilizadas de óleo em solução de açúcar, lavadas em

hexano para eliminação do óleo superficial, demonstram resistência à oxidação,

porém ao se provocar o colapso pela adição de água a oxidação se inicia

imediatamente. O mesmo se pode dizer dos voláteis retidos na matriz sólida

liofilizada, onde os voláteis ali contidos não são removidos mesmo que ela seja

pulverizada e em seguida colocada sob pressão reduzida por várias horas, porém a

eliminação dos voláteis é instantânea quando a matriz entra em colapso

(BARUFFALDI; OLIVEIRA, 1998).

Com base nos experimento realizado por Krokida (2005), é possível confirmar a

maior retenção de voláteis em amostras de maçã pelo processo de liofilização que

por secagem convencional por ar (experimentada em três temperaturas), o

experimento foi realizado monitorando-se três dos principais voláteis responsáveis

pelo sabor da maçã (acetato de etila, butirato de etila e antranilato de metila) através

de cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas e como resultado

houve uma maior retenção de voláteis na maçã tratada por liofilização e percebeu-se

que na secagem convencional por ar quanto maior a temperatura utilizada na

secagem, maior foi a perda dos compostos em questão, indicando que a perda se

dá principalmente pela temperatura utilizada no processamento e pela temperatura

que o alimento atinge (Fig. 8).

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Figura 8 - Cinética dos componentes voláteis durante a liofilização.Fonte: KROKIDA, 2006.

5.2 Desidratação primária Após o congelamento do alimento, reduz-se a pressão abaixo de 600 Pa, e

fornece-se o calor latente de sublimação do gelo, esta operação deve ser

cuidadosamente regulada e monitorada, porque precisa proporcionar a força

condutora para a sublimação, mas a temperatura deve ser mantida abaixo do ponto

triplo para evitar que o gelo se funda. A Fig. 10 representa uma curva típica de

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secagem e a evolução da temperatura durante o processo de liofilização do

alimento. O aquecimento é feito com placas calefatoras com temperatura inicial

elevada (em alguns casos superiores a 100°C), já para alimentos sensíveis ao calor

as placas são mantidas em temperaturas menores (20 a 30°C), porém implica em

um maior tempo de processamento. Ao passo que o gelo sublima, a temperatura da

superfície do alimento começa a aumentar enquanto o interior permanece congelado

e frio, portanto é necessário que se diminua progressivamente a temperatura das

placas para evitar a queima da superfície seca do alimento. As condições típicas

utilizadas na liofilização são temperatura superficial do produto de 35 a 80 °C no

máximo, e pressão da câmara 13 a 270 Pa, em alimentos muito sensíveis ao calor e

cultivos microbianos o usual é de 20 a 30° C e pressões inferiores a 13 Pa. A

velocidade de secagem é lenta, cerca de 1,5 kg de água m-2.h-1 correspondente a um

avanço na frente de sublimação de 0,2 a 0,3 cm.h-1. Nessa etapa ocorre a

sublimação do gelo, podendo levar de 6 a 10 horas, até reduzir o conteúdo de água

a 15 % sobre o peso úmido inicial. É importante que o vapor d’água gerado seja

eliminado à medida que vá sendo produzido, com a finalidade de que a pressão de

vapor no liofilizador se mantenha abaixo da pressão de vapor na superfície do gelo.

A velocidade da liofilização nesta etapa é dependente da resistência do alimento à

transferência de calor para frente de sublimação e de massa (vapor) para a câmara.

O final da desidratação primária pode ser constatado pelo aumento da temperatura

do produto num valor próximo ao do ambiente ou pela observação visual quando

desaparece a interface entre camada seca e camada congelada (ORDÓÑEZ, 2005).

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Figura 9 – Curva de secagem, das temperaturas das placas de aquecimento e do produto durante a liofilização.

Fonte: ORDÓÑEZ, 2005.

5.3 Desidratação secundária

Também chamada de dessorção, ocorre depois que todo gelo já foi eliminado do

alimento, mas o alimento continua retendo certa quantidade de água líquida e para

obtenção de um produto estável o conteúdo de umidade deve ser reduzido a cerca

de 2 a 8 %, que corresponde a água fortemente ligada, por evaporação ou

dessoração. Este resultado pode ser obtido se o alimento parcialmente seco

permanecer no liofilizador por cerca de 2 a 6 horas e for aquecido até sua

temperatura se igualar a da placa (20 a 60 °C), mantendo-se o vácuo, assim ocorre

a evaporação de grande parte da água residual, outra possibilidade é a finalização

através de outro método de secagem, em decorrência dos elevados custos do

processo de liofilização. Ao término da secagem antes da retirada do alimento da

câmara, deve haver a introdução de um gás inerte, em geral utiliza-se o nitrogênio,

para rompimento do vácuo, pois se ocorrer à entrada de ar na câmara os produtos

imediatamente absorveriam umidade. O tempo desta etapa é cerca de 30 a 50 % do

tempo gasto com a etapa anterior (ORDÓÑEZ, 2005).

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6 Efeitos nos alimentos

Os alimentos que passam pelo processo de liofilização apresentam alta retenção

das características sensoriais e qualidade nutricional, apresentam uma vida de

prateleira maior quando corretamente embalados, dependendo do alimento é

possível a permanência em temperatura ambiente. Os compostos aromáticos

voláteis não são absorvidos pelo vapor d’água e ficam presos na matriz do alimento,

sendo possível uma retenção de 80 a 100 % do aroma do alimento. Ainda,

possibilitam maior facilidade no transporte, devido à leveza e por não necessitarem

de refrigeração, acarretando um menor custo no transporte (EVANGELISTA, 2005).

A textura dos alimentos liofilizados é mantida, havendo pouco encolhimento e

nenhuma formação de crosta na superfície, a estrutura porosa, aberta pela saída

dos cristais de gelo, permite à rápida e completa reidratação, mas esta estrutura é

frágil e requer proteção contra danos mecânicos, a presença destes poros também

influência na deterioração oxidativa dos lipídeos, pois permite a entrada de oxigênio,

mas este problema pode ser resolvido ao embalar o alimento com gás inerte.

Também propicia um aumento na digestibilidade dos alimentos, devido a mudança

nas estruturas quaternária e terciária das proteínas; após a retirada de água ocorre

mudança nestas estruturas devido a exposição das partes hidrofóbicas da proteína,

antes protegidas no interior das estruturas terciárias e quaternárias, em função da

não afinidade com a água. Ocorrem apenas alterações mínimas nas proteínas,

amidos e outros carboidratos, já nas vitaminas observa-se a perda moderada de

ácido ascórbico (vitamina C) e tiamina, enquanto nas demais se podem observar

perdas mínimas, conforme a Fig. 10 (EVANGELISTA, 2005; FELLOWS, 2006).

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Figura 10 – Perda de vitaminas durante a liofilização.

Fonte: FELLOWS, 2006.

A liofilização impede ação de microrganismos aeróbicos devido à ausência de

oxigênio, a retirada da água funciona ainda como um método de controle

microbiano, devido ao fato dos microrganismos necessitarem de água disponível

para desenvolverem suas atividades metabólicas. Alguns mofos podem crescer em

umidades baixas como cerca de 12 % mas existem alguns que podem crescer em

alimentos com um teor de umidade inferior a 5 %. As leveduras e bactérias já são

mais exigentes no teor de umidade para seu desenvolvimento necessitando por

volta de 15 a 25 %. As frutas secas apresentam um teor de umidade em torno de 15

a 25 % já as frutas liofilizadas apresentam um teor de 5 % aproximadamente,

restringindo em grande parte a condição de desenvolvimento de microrganismos

(EVANGELISTA, 2005; GAVA, 2002; OETTERER, 2006).

Nas tabelas 2, 3 e 4 são apresentados respectivamente, dados de umidade

máxima de alguns alimentos, rendimentos obtidos do processo de liofilização de

diversos alimentos e volume de matéria-prima necessária para uma determinada

quantidade de produto.

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Tabela 2 – Teor máximo de umidade para diversos alimentosAlimento Umidade máxima (%)

Amidos e féculas 13 – 14

Café solúvel 3

Frutas liofilizadas 5

Frutas secas ou dessecadas 25

Massas alimentícias ou macarrão fresco 30

Massas alimentícias ou macarrão seco 13

Sopas desidratadas 10

Fonte: OETTERER, 2006.

Tabela 3 - Rendimento para produtos desidratados

Produto Rendimento (%)

Batata desidratada 10

Beterraba desidratada 7,7

Beterraba em pó 7,7

Carne liofilizada 20

Cebolinha desidratada 5

Cenoura desidratada 6

Frango liofilizado 20

Mandioquinha desidratada 20

Milho verde liofilizado 25

Morango liofilizado 5

Palmito liofilizado 6,6

Tomate em pó 5

Fonte: OETTERER, 2006.

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Tabela 4 – Volume de matéria-prima necessária para a obtenção do produto liofilizado

Alimentos Antes da liofilização (kg) Depois da liofilização (kg)

Banana 32 1

Cebola 10 1

Espinafre 32 1

Fonte: EVANGELISTA, 2005.

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7 Conservação de alimentos desidratados

A qualidade e a vida útil dos alimentos liofilizados são excelentes por várias

razões, a temperatura máxima que o alimento alcança é moderada, logo as reações

químicas e enzimáticas são limitadas, como a desidratação ocorre no estado sólido

não possibilita a movimentação de líquidos e solutos, contração do sólido ou

endurecimento superficial, logo o produto final conserva o tamanho e a forma do

alimento original. É importante salientar que os alimentos desidratados não são

estéreis, a redução do número de microrganismos como resultado nas operações de

desidratação é baixa e a inativação de enzimas é parcial. Os alimentos desidratados

são frágeis e quebradiços tornado-se mais sensíveis a danos mecânicos. Os

alimentos desidratados porosos são mais suscetíveis as reações de oxidação (de

lipídeos, pigmentos, vitaminas e substâncias aromáticas) o que limita sua

conservação, por isso é aconselhável o acondicionamento no vácuo, em atmosferas

inertes (embalados com nitrogênio), embalagens impermeáveis ao oxigênio e

opacas. A umidade final dos produtos desidratados chega a cerca de 1 a 5 %, o que

possibilita a conservação dos produtos por um período mais longo de tempo,

contanto que seu armazenamento se proceda de forma correta com embalagens

adequadas e correta manipulação. A vida útil dos alimentos liofilizados pode chegar

até a um ano em temperatura ambiente (ORDÓÑEZ, 2005).

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8 Reconstituição de alimentos desidratados

Ao reconstituir alimentos desidratados é importante ter um conhecimento das

isotermas de sorção de água, que são gráficos que relacionam quantidade de água

com a atividade de água, ambas do alimento e em temperatura constante (Fig. 11).

Estas isotermas são úteis aos processos de concentração e desidratação porque

mostram a facilidade ou dificuldade de eliminar a água, e estão relacionadas com a

estabilidade dos alimentos.

Figura 11 – Isotermas da águaFonte: FELLOWS, 2006.

A disposição dos alimentos desidratados para reidratação é um indicativo da sua

capacidade de absorver água e de chegar a um estado próximo ao do alimento

original. Algumas vezes a reidratação pode ser difícil e para facilitá-la utiliza-se água

quente, água ligeiramente salgada ou emprego de agentes umectantes que

diminuem a tensão superficial. A reconstituição de alimentos desidratados depende

de alguns fatores que variam conforme a forma em que se encontram os alimentos.

Nos alimentos desidratados inteiros ou fragmentados em porções:

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a) Da estrutura dos fragmentos, que se mostram favoráveis a reidratação devido

à estrutura porosa que adquirem com a secagem

b) Do grau de alteração experimentado durante a secagem pelos componentes

que retêm água (principalmente proteínas e amidos), em decorrência disso

que a reconstituição de vários produtos depende da velocidade de

desidratação, logo o possível dano térmico durante a dessecação ou causado

por congelamento inadequado pode levar a redução da capacidade de

retenção de água e assim após a reconstituição este alimento terá um

aspecto e textura deficitários.

Nos alimentos dessecados em pó:

a) Umectabilidade que é a capacidade das partículas de pó adsorver água na

superfície, começando assim a reidratação. Essa propriedade depende muito

do tamanho das partículas, quando elas são pequenas e apresentam uma

grande relação área/massa elas não se umedecem individualmente formando

então aglomerados com a camada superficial umedecida que se opõe a

difusão da água no interior. A composição das partículas, e em destaque a

natureza da superfície das partículas, influenciam também na umectabilidade,

como exemplo a presença de gordura livre na superfície reduz essa

propriedade de forma considerável, sendo que às vezes é necessário até

mesmo adição de agentes com atividade de superfície.

b) Solubilidade que representa a velocidade e grau com que as partículas se

dissolvem na água, sendo dependente principalmente das características

físicas e composição química do alimento.

c) Dispersabilidade que é caracterizada pela facilidade com que as partículas

se distribuem individualmente na superfície e dentro da água de

reconstituição.

d) Submergibilidade é a habilidade das partículas de pó de afundar rapidamente

na água de reconstituição, dependendo principalmente do tamanho e

densidade das partículas, por exemplo, quando se tratam de partículas

grandes e densas essas submergem com rapidez, porém para partículas

relativamente grandes que contenham ar retido apresentam pouca

submergibilidade em razão de sua baixa densidade (ORDÓÑEZ, 2005).

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9 Custo do processo de liofilização

A liofilização tem uma aplicação ainda limitada na indústria alimentar, em

decorrência do custo do equipamento e de operação ser muito elevado. O frio para o

congelamento do alimento, a condensação do vapor d’água e a manutenção de

vácuo atribuem custo elevado à operação, além do mais a operação se processa de

forma bastante lenta, um liofilizador de 15 m³ sublima entre 50 e 60 kg de água por

hora. Portanto, este custo elevado só pode ser aceito em matérias-primas de alto

valor comercial ou muito sensíveis ao calor, sendo mais adequadas para alimentos

particulados. Entre os produtos que são conservados por liofilização destacam-se

café em pó, mariscos, carne, peixe, ervas aromáticas, frutas e hortaliças (morangos,

framboesas, aspargos), cogumelos, alimentos infantis, preparações (café com leite,

sopas), leite, queijo, iogurte, ovo, condimentos e extratos solúveis. Também são

submetidas ao processo dietas completas (também chamadas de rações) onde

podem se incluir refeições pré-cozidas para o uso militar, viagens espaciais,

expedições, esportes específicos. O café é o produto liofilizado mais consumido, e o

emprego da liofilização se dá pelo alto valor da matéria prima, altas taxas de

extração e preservação de componentes voláteis. Para a redução de custo do

processo de liofilização utiliza-se a pré-concentração do alimento, porém deve-se ter

atenção para que esta concentração seja suave e não altere as características

originais do alimento, comumente feita em café e suco de frutas, por

crioconcentração até 38 % (p/p) de sólidos antes de serem liofilizados. É um método

empregado também na conservação de produtos biológicos, medicamentos

injetáveis, vacinas, plasma sanguíneo, tecidos humanos para transplantes, cultivos

de bactérias e vírus (EVANGELISTA, 2005; OETTERER, 2006; ORDÓÑEZ, 2005).

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10 Conclusão

A liofilização é uma técnica muito superior de conservação que as demais, por

preservar as características do produto de modo particular, fato que nem sempre

acontece nas demais técnicas, na liofilização a decomposição térmica e perda de

voláteis são reduzidas significativamente, preservando assim características

essenciais de um alimento.

A conservação proveniente da redução de atividade de água possibilita uma vida

de prateleira bem maior ao alimento, por reduzir notoriamente a possibilidade do

desenvolvimento de microrganismos e por retardar as reações enzimáticas.

Entretanto, os alimentos que passam por um processo de liofilização devem ser

embalados de forma espacial (vácuo, atmosfera modificada), para não permitir a

entrada de umidade na embalagem, o que afetaria negativamente as características

do alimento liofilizado.

A liofilização também reduz a necessidade de refrigeração para o armazenamento

dos alimentos que foram submetidos a ela, desta forma acaba reduzindo custos no

transporte e armazenagem destes produtos, além do mais o volume e o peso do

alimento que passa pelo processo é diminuído, possibilitando ainda mais a redução

desses custos.

Nutricionalmente também se mostra um bom método de preservação de

características, pois interfere menos no conteúdo de vitaminas, e a desnaturação

protéica que ocorre pode até mesmo ser benéfica, por possibilitar uma maior

digestibilidade das mesmas.

O alimento que passa por esse processo apresenta fácil reconstituição

(reidratação) e boa aparência após sua reconstituição. O alimento mais popular no

Brasil que é submetido a este processamento é o café solúvel.

O inconveniente do processo é seu elevado custo de equipamentos e operação,

que são mais elevados que os demais métodos, por isso a técnica não é

frequentemente aplicada, sendo mais utilizada para matérias primas com alto custo

de venda, para compensar o preço do seu tratamento, a técnica também aumenta

largamente o tempo de processamento.

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O método vem sofrendo combinações com outro a fim de redução de tempo e

custo e também vem sofrendo aprimoramento para possibilitar uma maior

aplicabilidade.

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Manole, 2006. 664p.

ORDÓÑEZ, Juan A. Tecnologia de alimentos: Componentes dos alimentos e

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POTTER, Norman N. La ciencia de los alimentos. México: Centro regional de

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