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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL CRIMINAL Informativo 904 - STF DIREITO PENAL HOMICÍDIO Dirigir alcoolizado na contramão: reconhecimento de dolo eventual. Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo automotor sob a influência de álcool, além de fazê-lo na contramão. Esse é, portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa consciente e o dolo eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não se preocupou com o risco de, eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte de outrem. STF. 1ª Turma. HC 124687/MS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904).1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado- 904-stf.html

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CENTRO DE APOIO OPERACIONAL CRIMINAL

Informativo 904 - STF

DIREITO PENAL

HOMICÍDIO

Dirigir alcoolizado na contramão: reconhecimento de dolo eventual.

Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo

automotor sob a influência de álcool, além de fazê-lo na contramão. Esse é,

portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa

consciente e o dolo eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não

se preocupou com o risco de, eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte

de outrem.

STF. 1ª Turma. HC 124687/MS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904).1ª Turma. HC 125360/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/2/2018 (Info 892).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: João, na direção de veículo automotor, entrou na contramão e atingiu

uma motocicleta, causando a morte do condutor. Não foi feito teste de

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etilômetro (“bafômetro”) em João, mas as testemunhas afirmaram que ele

exalava hálito etílico e que estava cambaleante.

João foi pronunciado e condenado a 6 anos de reclusão em regime

inicial semiaberto por homicídio doloso simples (dolo eventual).

O condenado impetrou sucessivos habeas corpus até que a questão

chegou ao STF.

No writ, João pede a desclassificação do delito para homicídio

culposo na condução de veículo automotor, crime previsto no art. 302 do CTB.

O pedido foi acolhido pelo STF? NÃO. O STF entende que, em casos de homicídio causado por

motorista embriagado, se o Tribunal do Júri entender que houve dolo eventual,

não cabe ao Supremo alterar esta tipificação, sendo uma decisão legítima do

júri popular.

Verifica-se a existência de dolo eventual no ato de dirigir veículo

automotor sob a influência de álcool, além de fazê-lo na contramão. Esse é,

portanto, um caso específico que evidencia a diferença entre a culpa

consciente e o dolo eventual. O condutor assumiu o risco ou, no mínimo, não

se preocupou com o risco de, eventualmente, causar lesões ou mesmo a morte

de outrem.

STF. 1ª Turma. HC 124687/MS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato do condutor do veículo

estar embriagado não gera a presunção de que tenha havido dolo eventual:

A embriaguez do agente condutor do automóvel, por si só, não pode

servir de premissa bastante para a afirmação do dolo eventual em acidente de

trânsito com resultado morte.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.689.173-SC, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 21/11/2017 (Info 623).

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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Corrupção PassivaPratica corrupção passiva o Deputado que concede apoio político à

permanência de Diretor da Petrobrás em troca do recebimento de propina

Importante:Determinado Deputado Federal integrava a cúpula de um partido de

sustentação do governo federal.

Como importante figura partidária, ele exercia pressão política junto

à Presidência da República a fim de que Paulo Roberto Costa fosse mantido

como Diretor de Abastecimento da Petrobrás.

Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia

dinheiro do referido Diretor, quantia essa oriunda de contratos ilegais

celebrados pela Petrobrás.

O STF entendeu que esta conduta se enquadra no crime de

corrupção passiva (art. 317 do CP).

Obs: foi a primeira condenação do STF envolvendo a chamada

“operação Lava Jato”.

STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

A situação concreta foi a seguinte: O Deputado Federal Nelson Meurer (PP/PR) integrava a cúpula do

Partido Progressista (PP). Como importante figura partidária, ele exercia

pressão política junto à Presidência da República a fim de que Paulo Roberto

Costa fosse mantido como Diretor de Abastecimento da Petrobrás. Como

“contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia dinheiro do referido

Diretor, quantia essa oriunda de contratos ilegais celebrados pela Petrobrás.

Essa prática foi revelada pelo próprio Paulo Roberto Costa em declaração

prestada no bojo de acordo de colaboração premiada. O Deputado foi

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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denunciado pela prática de corrupção passiva (art. 317 do CP) e também por

lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98).

O que o STF decidiu? O STF condenou o réu pela prática dos delitos.

O delito de lavagem de dinheiro, será apreciado no tópico abaixo.

E quanto ao crime de corrupção passiva, o que decidiu o STF? O STF entendeu que a conduta descrita se enquadra no crime de

corrupção passiva (art. 317 do CP):

O regime presidencialista brasileiro confere aos parlamentares um

poder que vai além da elaboração e votação de lei e outros atos normativos.

Os parlamentares possuem intensa participação nas decisões de governo,

inclusive por meio da indicação de cargos no Poder Executivo. Essa dinâmica é

própria do sistema presidencialista brasileiro, que exige uma coalizão para

viabilizar a governabilidade. Trata-se do chamado “presidencialismo de

coalizão”.

Não se pode esquecer, contudo, que a Constituição Federal atribui ao

Congresso Nacional competência para fiscalizar e controlar os atos do Poder

Executivo, incluídos os da Administração Indireta (art. 49, X, da CF/88). Vale

lembrar, inclusive, que o Congresso Nacional possui poderes próprios de

autoridade judicial quando instituídas comissões parlamentares de inquérito

para apuração de fatos determinados (art. 58, § 3º). Ademais, para evitar

conflitos de interesses, os Deputados e Senadores são proibidos de:

a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público,

autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

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concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a

cláusulas uniformes; e

b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive

os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades constantes da alínea

anterior.

Isso demonstra que os parlamentares devem manter independência

em relação ao Poder Executivo para o exercício de suas atribuições.

Nesse contexto, se um parlamentar recebe vantagens indevidas em

troca de sustentação política a um diretor da Petrobrás, isso significa evidente

omissão em sua função de fiscalizar a lisura dos atos do Poder Executivo.

O exercício ilegítimo da atividade parlamentar, mesmo num governo

de coalizão, é apto a caracterizar o crime de corrupção passiva.

Esse tipo penal tutela a moralidade administrativa e tem por finalidade

coibir e reprimir a mercancia da função pública, cujo exercício deve ser pautado

exclusivamente pelo interesse público.

O STF afastou o argumento da defesa de que se estaria

“criminalizando a atividade político-partidária”. Não é nada disso. A atividade

política continua sendo permitida, sendo lícito que partidos políticos apoiem

determinada pessoa para os cargos de destaque do governo (exs: ministérios,

diretorias etc.). O que se está punindo, neste caso, são atos que transbordaram

os limites do exercício legítimo do mandato, ou seja, puniu-se um Deputado

que recebia propina para dar sustentação política a um Diretor de estatal.

Provas No caso concreto, o réu foi delatado por Paulo Roberto Costa.

No entanto, o STF afirmou que não estava condenando o réu apenas

com base nas declarações do colaborador. Isso porque tais declarações, de

forma isolada, não servem para fundamentar um decreto condenatório (art. 4º,

§ 16, da Lei nº 12.850/2013).

O STF afirmou que os fatos retratados encontram consistente suporte

em outros elementos de prova (cruzamento de dados de companhias aéreas;

afastamento de sigilo bancário; perícias em sistemas de contabilidade de Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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pagamentos de propina; depoimentos de testemunhas; e quebra e

disponibilização de dados telefônicos), produzidos sob o crivo do contraditório.

Esse conjunto de provas atesta e reforça a veracidade das

declarações prestadas no âmbito de colaboração premiada e autoriza a sua

utilização como fundamento à resolução do mérito da causa penal.

Lavagem de dinheiro O Deputado também foi denunciado pela prática de lavagem de

dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98). Inicialmente, o STF afirmou que o réu não

cometeu o crime quando recebeu o pagamento das propinas em espécie (em

“dinheiro vivo”). O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o delito

de lavagem, seja quando recebido pelo próprio agente público, seja quando

recebido por interposta pessoa.

Por outro lado, o STF entendeu que o Deputado praticou a lavagem

pelo fato de ter recebido a propina em depósitos bancários fracionados, em

valores que não atingem os limites estabelecidos pelas autoridades monetárias

à comunicação compulsória dessas operações. Ex: suponhamos que, na

época, a autoridade bancária dizia que todo depósito acima de R$ 20 mil

deveria ser comunicado ao COAF; diante disso, o Deputado recebia depósitos

periódicos de R$ 19 mil para burlar essa regra. Para o STF, isso configura o

crime de lavagem. Trata-se de uma forma de ocultação da origem e da

localização da vantagem pecuniária recebida pela prática do crime anterior.

Além disso, a apresentação de informações falsas em declarações de

ajuste anual de imposto de renda foi uma forma de tentar dar um ar de licitude

a patrimônio oriundo de práticas delituosas.

Efeitos da condenação Em relação aos efeitos da condenação, o STF condenou o réu a pagar

danos materiais, mas negou pedido do Ministério Público para condená-lo em

danos morais coletivos.

ProcessoFonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018

(Info 904).

DESCAMINHO

Descaminho é crime formal

O descaminho é crime tributário FORMAL. Logo, para que seja

proposta ação penal por descaminho não é necessária a prévia constituição

definitiva do crédito tributário.

Não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF.

O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto

ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de

mercadorias.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/3/2014 (Info 548). STF. 2ª Turma. HC 122325, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/05/2014.

É dispensada a existência de procedimento administrativo fiscal com a

posterior constituição do crédito tributário para a configuração do crime de

descaminho (art. 334 do CP), tendo em conta sua natureza formal.

STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

O delito de descaminho está previsto no art. 334 do Código Penal com

a seguinte redação:

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

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O descaminho é crime tributário material? Para o ajuizamento da

ação penal é necessária a constituição definitiva do crédito tributário? Aplica-se a Súmula Vinculante 24 ao descaminho?

NÃO. Tanto o STJ como o STF entendem que o descaminho é crime

tributário FORMAL. Logo, para que seja proposta ação penal por descaminho

não é necessária a prévia constituição definitiva do crédito tributário.

Não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF:

Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a

ordem tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes

do lançamento definitivo do tributo.

O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto

ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou exportação de

mercadorias.

STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti

Cruz, julgado em 20/3/2014 (Info 548). STF. 2ª Turma. HC 122325, Rel. Min.

Gilmar Mendes, julgado em 27/05/2014.

É dispensada a existência de procedimento administrativo fiscal com a

posterior constituição do crédito tributário para a configuração do crime de

descaminho (art. 334 do CP), tendo em conta sua natureza formal.

STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

LAVAGEM DE DINHEIRO

Simples fato de ter recebido a propina em espécie não configura lavagem de

dinheiro.

Recebimento de propina em depósitos bancários fracionados pode configurar

lavagem.

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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Simples fato de ter recebido a propina em espécie não configura

lavagem de dinheiro O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o

delito de lavagem, seja quando recebido pelo próprio agente público, seja

quando recebido por interposta pessoa.

STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Recebimento de propina em depósitos bancários fracionados pode

configurar lavagem Pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina

por meio de depósitos bancários fracionados, em valores que não atingem os

limites estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória

dessas operações.

Ex: suponhamos que, na época, a autoridade bancária dizia que todo depósito

acima de R$ 20 mil deveria ser comunicado ao COAF; diante disso, um

Deputado recebia depósitos periódicos de R$ 19 mil para burlar essa regra.

Para o STF, isso configura o crime de lavagem. Trata-se de uma forma de

ocultação da origem e da localização da vantagem pecuniária recebida pela

prática do crime antecedente.

STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

A situação concreta foi a seguinte:

O Deputado Federal Nelson Meurer (PP/PR) integrava a cúpula do

Partido Progressista (PP). Como importante figura partidária, ele exercia

pressão política junto à Presidência da República a fim de que Paulo Roberto

Costa fosse mantido como Diretor de Abastecimento da Petrobrás.

Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia dinheiro

do referido Diretor, quantia essa oriunda de contratos ilegais celebrados pela

Petrobrás.

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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Essa prática foi revelada pelo próprio Paulo Roberto Costa em

declaração prestada no bojo de acordo de colaboração premiada.

O Deputado foi denunciado pela prática de corrupção passiva (art. 317

do CP) e também por lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98).

O que o STF decidiu?

O STF condenou o réu pela prática dos delitos.

Quanto ao crime de corrupção passiva, a conduta já foi analisada em

item anterior.

O crime de lavagem de dinheiro é tipificado nos seguintes termos:

O Ministério Público apontava uma série de condutas que

configurariam o crime de lavagem de dinheiro. Inicialmente, o STF afirmou que

o réu não cometeu o crime quando recebeu o pagamento das propinas em

espécie (em “dinheiro vivo”).

O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o delito de

lavagem, seja quando recebido pelo próprio agente público, seja quando

recebido por interposta pessoa.

STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Assim, se uma pessoa recebe propina em dinheiro, isso não significa,

necessariamente, a prática de lavagem de dinheiro.

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

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Por outro lado, o STF entendeu que:

O agente praticou a lavagem pelo fato de ter recebido a propina em

depósitos bancários fracionados, em valores que não atingem os limites

estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória

dessas operações. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Ex: suponhamos que, na época, a autoridade bancária dizia que todo

depósito acima de R$ 20 mil deveria ser comunicado ao COAF; diante disso, o

Deputado recebia depósitos periódicos de R$ 19 mil para burlar essa regra.

Para o STF, isso configura o crime de lavagem. Trata-se de uma forma de

ocultação da origem e da localização da vantagem pecuniária recebida pela

prática do crime anterior.

Além disso, a apresentação de informações falsas em declarações de

ajuste anual de imposto de renda foi uma forma de tentar dar um ar de licitude

a patrimônio oriundo de práticas delituosas.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

REMIÇÃO

Não é possível a remição ficta da pena

Importante:

Não se admite a remição ficta da pena. Embora o Estado tenha o

dever de prover trabalho aos internos que desejem laborar, reconhecer a

remição ficta da pena, nesse caso, faria com que todas as pessoas do sistema

prisional obtivessem o benefício, fato que causaria substancial mudança na

política pública do sistema carcerário, além de invadir a esfera do Poder

Executivo. Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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O instituto da remição exige, necessariamente, a prática de atividade

laboral ou educacional. Trata-se de reconhecimento pelo Estado do direito à

diminuição da pena em virtude de trabalho efetuado pelo detento. Não sendo

realizado trabalho, estudo ou leitura, não há que se falar em direito à remição.

STF. 1ª Turma. HC 124520/RO, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904). STJ. 5ª Turma. HC 421.425/MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 27/02/2018. STJ. 6ª Turma. HC 425.155/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018.

Previsão legal da remição

O art. 126 da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) estabelece:

O art. 126 da LEP trata, portanto, da remição (ato de remir).

O que é a remição?

Remição é...

- o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente

- de reduzir o tempo de cumprimento da pena

- mediante o abatimento

- de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou

- de 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.

É uma forma de estimular e premiar o condenado para que ocupe seu

tempo com uma atividade produtiva (trabalho ou estudo), servindo, ainda, como

forma de ressocialização e de preparação do apenado para que, quando

termine de cumprir sua pena, possa ter menos dificuldades de ingressar no

mercado de trabalho.

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

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O tempo remido será considerado como pena cumprida, para todos os

efeitos (art. 128).

Obs: a remição de que trata a LEP é com “ç” (remição). Remissão

(com “ss”) significa outra coisa, qual seja, perdão, renúncia etc., sendo muito

utilizada no direito civil (direito das obrigações) para indicar o perdão do débito.

É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto?

• Remição pelo trabalho: NÃO.

• Remição pelo estudo: SIM.

Outras regras importantes sobre a remição:

• As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma

presencial ou por metodologia de ensino à distância e deverão ser certificadas

pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados (§ 2º do

art. 126).

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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• É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo

estudo, desde que as horas diárias de trabalho e de estudo sejam compatíveis

(§ 3º do art. 126).

• O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos

estudos, continuará a beneficiarse com a remição (§ 4º do art. 126).

• O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3

(um terço) caso o condenado consiga concluir o ensino fundamental, médio ou

superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do art. 126).

• A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º

do art. 126). Assim, se o indivíduo está preso preventivamente e decide

trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso venha a ser condenado

no futuro.

• A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério

Público e a defesa (§ 8º do art. 126).

Remição ficta ou automática O trabalho e o estudo são direitos do preso,

conforme prevê o art. 41, II e VI, da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal).

Na verdade, o trabalho possui uma natureza híbrida considerando que, além de

ser um direito, é também um dever do apenado (art. 31).

Além disso, conforme vimos acima, o trabalho e o estudo são muito

interessantes para o apenado considerando que ele poderá diminuir o tempo

de cumprimento da pena por meio do instituto da remição. Ocorre que, na

prática, a maioria das unidades prisionais não oferece oportunidades para que

o preso trabalhe ou estude.

Diante desse cenário, surgiu a seguinte tese: o Estado deve oferecer

aos presos oportunidades de trabalho e estudo. Com isso, o apenado pode se

ressocializar e ter direito à remição. Nos presídios onde isso não é oferecido,

pode-se dizer que o Poder Público está sendo omisso em seu dever. Ocorre

que os presos não podem ser prejudicados pela omissão do Estado. Logo, se a

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html

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unidade prisional não oferece condições de trabalho ou estudo para os presos,

deve-se considerar, de forma ficta, que estes presos estão trabalhando e,

portanto, deve-se conceder a eles a remição mesmo sem o efetivo trabalho.

Assim, a defesa pede que os presos sejam beneficiados com a remição da

pena, na proporção de 3 dias encarcerados por 1, até o efetivo oferecimento de

trabalho ou de estudo.

Essa tese ficou conhecida como “remição ficta” ou “remição automática”.

A remição ficta é aceita pelos Tribunais Superiores?

NÃO.

Não se admite a remição ficta da pena. Embora o Estado tenha o dever

de prover trabalho aos internos que desejem laborar, reconhecer a remição

ficta da pena, nesse caso, faria com que todas as pessoas do sistema prisional

obtivessem o benefício, fato que causaria substancial mudança na política

pública do sistema carcerário, além de invadir a esfera do Poder Executivo.

O instituto da remição exige, necessariamente, a prática de atividade

laboral ou educacional. Trata-se de reconhecimento pelo Estado do direito à

diminuição da pena em virtude de trabalho efetuado pelo detento. Não sendo

realizado trabalho, estudo ou leitura, não há que se falar em direito à remição.

STF. 1ª Turma. HC 124520/RO, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/5/2018 (Info 904). STJ. 5ª Turma. HC 421.425/MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 27/02/2018. STJ. 6ª Turma. HC 425.155/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018.

Fonte: Dizer o Direito https://www.dizerodireito.com.br/2018/07/informativo-comentado-904-stf.html