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GESTÃO E FORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONSTRUÇÃO COLETIVA DE SABERES

LUZ, Anízia Aparecida Nunes

MELLO, Lucrécia Stringhetta

RESUMO: Por meio deste estudo buscamos refletir sobre a prática do gestor escolar que atua na Educação Infantil. Diante dos desafios, a equipe de educação infantil da secretaria municipal de educação de Três Lagoas/MS iniciou, no ano de 2011, um projeto de formação continuada. Os estudos refletem sobre a construção da identidade do profissional, na perspectiva de uma formação que possibilite a compreensão sobre o que é próprio para essa etapa da educação. Nesse contexto de inquietações as reflexões abordam as concepções de educação e de infância que fundamentam o trabalho dos gestores. Os debates encaminham para o entendimento de que a ação dos sujeitos caracteriza-se na promoção e nas articulações entre as atividades e pessoas incorporando as dimensões: currículo, programas, planejamento, avaliação, ensino e aprendizagem, oferecendo condições de legitimar a coletividade, a unidade e a qualidade da ação pedagógica. Temos como aporte a metodologia qualitativa por concebermos que os participantes, criadores de suas práticas, expressam-se em uma relação dinâmica com a realidade e ainda, temos presente a interdisciplinaridade, como promotora de uma atitude que conduz à prática reflexiva, parceria e ousadia. Emerge no sentido de envolver a complexidade do campo de atuação dos participantes como “articuladores” de projetos, de pessoas e de políticas educacionais. Percebemos que os estudos vem contribuindo nas ações administrativas e pedagógicas articuladas com as teorias e experiências dos profissionais. E, sinalizam um caminho dinâmico para gestão no sentido de desmistificar e ultrapassar marcas históricas que, por vezes, influenciam as ações dos sujeitos inseridos nas instituições educativas.

ABSTRACT:

Through this study we reflect on the practice of school manager who works in the childhood education. Faced with the challenges that are placed, the staff of the municipal childhood education  of Três Lagoas/MS started in (the year) 2011, a project of continuing education. The studies reflect on the construction of professional identity from the perspective of a formation that enables  the comprehension of what is appropriate for this stage of education, aiming the strengthening of practices. In this context of anxiety   the  reflections concern the concepts of education and childhood that underlie the work of managers. The discussions  lead to the understanding that the actions of the subjects/managers  is to promote and joint activities between people and incorporating dimensions: curriculum, programs, planning, assessment, teaching and learning, providing conditions to legitimize the community, the unit and the quality of the pedagogical action. We have as a contribution   the qualitative methodology by which we conceive that the  participants, creators of their practices, expressed in a dynamic relationship with the reality in wich they work and yet we have this interdisciplinarity, as a promoter of an attitude that leads to reflective practice, partnership and daring. Emerge towards to involve the complexity of the field of participants as "organizers" of projects, people and educational policies. Thus, we see that the studies has contributed in teaching and administrative actions articulated and confronted with the

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theories and experiences of professionals working in the area. And yet, signaling a path to living and dynamic management in order to demystify and overcome  some historical marks that sometimes influence the daily actions of the subjects included in educational institutions.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil; Gestão; Formação Continuada.

KEYWORDS: Childhood Education; Management; Continuing Education.

INTRODUÇÃO

Embora saibamos que existem muitos estudos envolvendo o trabalho e a atuação do gestor escolar, consideramos, ainda, incipiente as discussões no que tange a gestão na instituição da Educação Infantil. Por isso a temática, nessa área, é bastante interessante e necessária.

Temos assistido, a partir da década de 1980, um avanço na área da Educação Infantil, pela parte legal que vem, nos últimos anos, ocupando um espaço político efetivado por meio da Constituição Federal de 1988, da LDB 9394/96, Resolução nº 5, entre outras. Assim como avanços em relação aos estudos das questões ligadas diretamente à infância e ao desenvolvimento infantil tentando dar sentido ao que pontua os documentos legais, fundamentadas por autores como Kramer (1995, 1998, 1999, 2009), Sanches (2003), Machado (2002), Campos e Rosemberg (2006), Lopes (2009), Antunes (2004), Oliveira (2010), Dias e Faria (2007).

São autores, que em seus estudos apresentam um re-pensar sobre a Educação Infantil considerando-a como a primeira etapa no processo de aprendizagem. Abordam, também, a necessidade de re-construção da concepção de infância, abrindo espaço para a valorização da criança em suas especificidades, suas particularidades e a compreensão de que é “[...] alguém profundamente enraizado em um tempo e um espaço, alguém que interage com essas categorias (outras categorias etárias), que influencia o meio onde vive e é influenciado por ele”. (PERROTI, op cit MUNIZ, 1999, p. 247)

Podemos dizer que esse movimento sinaliza a importância que o atendimento a criança de 0 a 5 anos, em instituições escolares, vem assumindo diante de algumas experiências proporcionadas nesse espaço. São experiências, que podem interferir significativamente tanto na aprendizagem, quanto no desenvolvimento humano e social das crianças. Desse modo, o objetivo pretendido é o de ampliar a análise e a discussão sobre qual o papel do gestor (diretor e especialista em educaçãoi) em relação à orientação e à coordenação de ações e pessoas para a consecução das tarefas na instituição de Educação Infantil.

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Nesse contexto de inquietações que o grupo de estudos esta inserido torna-se necessário refletir sobre as concepções de educação e de infância que fundamentam o trabalho dos gestores, bem como, discutir sobre as ações prioritárias do currículo que considere a construção da aprendizagem da criança e que possibilite o seu desenvolvimento integral. Assim, temos percebido que as ações empreendidas no grupo vêm contribuindo, no mínimo, para ampliação da discussão sobre as práticas administrativas e pedagógicas nas unidades de Educação Infantil, articuladas e confrontadas com as teorias e experiências dos profissionais que atuam na área. E, ainda, sinalizam um caminho vivo e dinâmico para trabalhar com a criança no sentido de desmistificar e ultrapassar algumas marcas históricas que, por vezes, influenciam as ações cotidianas dessas instituições.

1 A GESTÃO ESCOLAR NO ESPAÇO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Os tempos atuais se apresentam com uma dinâmica de constante modificação no âmbito econômico, social e cultural. Essas mudanças se inserem na educação, especialmente a pública, trazendo em seu bojo questionamentos e desafios sobre os quais muitas vezes nos sentimos despreparados para encontrar respostas, mas, que necessitam ser encarados e refletidos pelo coletivo escolar.

De acordo com Orsolon (2001, p. 18), a escola se caracteriza como espaço de atuação dos educadores em relação constante com a sociedade na qual está inserida. Porém, as ações exercidas nos espaços escolares são bastante complexas. Cabe ao profissional da educação, especificamente o que atua na gestão (aqui queremos enfatizar tanto a administrativa, no figura do diretor, quanto à pedagógica, na figura do especialista em educação), tomar para si a responsabilidade de “[...] desvelar e explicitar as contradições subjacentes a essas práticas [...]”.

Isso requer dos gestores escolares comprometimento e compartilhar de responsabilidades, além de atitudes de previsão daquilo que se deseja transformar. Integrar os objetivos da instituição de Educação Infantil levando-se em conta valores, costumes e manifestações culturais, incentivar práticas curriculares inovadoras e criar oportunidades de reflexão sobre a ação pedagógica. Na busca de identidade própria para essa instituição e os atores que nela atuam, o debate central diz respeito a sua função que transita entre o educar e o cuidar. Contudo, observamos que ainda existe um longo caminho a ser percorrido no sentido de articular essa duas instâncias. Percebemos que há “[...] conflito entre o que se acredita que deva ser feito com as crianças na instituição de educação infantil e sua prática real, carregada de ambiguidades e múltiplas facetas”. (GOMES, 2009, p. 164).

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São os questionamentos que nos movimentam, os conflitos e as inquietações nos levam a refletir sobre as concepções de educação e de infância que fundamentam o trabalho dos profissionais, gestores, que atuam nas instituições que atendem crianças de 0 a 5 anos. Isso, associado, também, ao fato de ocupar o cargo de Coordenadora da Área da Educação Infantil na Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Três Lagoas/Ms (SEMEC), atuando diretamente com os diretores e especialistas. Entre algumas das funções do cargo esta a organização e a implementação de formação contínua. Uma das formações que organizamos vem acontecendo, por meio de encontros quinzenais, com os gestores especificamente da área (diretores e coordenadores pedagógicos de unidades educativas que atendem de educação infantil) e sobre a qual abordamos neste trabalho.

Trata-se de um projeto que visa propiciar encontros para troca de experiência entre os participantes, assim como à formação, integração e articulação dos saberes práticos e teóricos de todos envolvidos no que tange o papel da gestão escolar. Os encontros que se iniciaram em 2011, teve nesse ano especifico, como aporte para seu desenvolvimento, a parceria com o Instituto avisá-la, por meio do Programa Formar em Rede. Momento ímpar que nos impulsionou, pois possibilitou a reflexão entorno das convicções e concepções que temos sobre educação e o papel que cada um assume diante dela, fortalecendo nossas ações.

Entre os anos de 2011 e 2012 participavam do grupo 12 unidades educativas, Centros de Educação Infantil (CEI)ii, em média 25 gestores (diretores e especialista em educação). O foco das discussões se pautava no brincar como ação integrada, articulada aos aspectos do desenvolvimento integral da criança e, especificamente, de sua aprendizagem de modo a percebê-la como um ser completo (histórico, social, cultural, afetivo e cognitivo). As ações desenvolvidas no grupo transcenderam o espaço formativo para chegarem até o espaço institucional. Assim, buscamos trabalhar no sentido de incentivar a elaboração e desenvolvimento de projetos que permeassem o tema.

Os frutos desses encontros se configuraram, em 2012, na idealização e realização do nosso I Seminário “VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO SONHO A REALIDADE”. Os objetivos pretendidos foram: - Promover encontro com os profissionais da área de Educação Infantil com o intuito de aprofundar o debate acerca da infância, docência, criança e suas especificidades diante das situações que envolvem a organização e desenvolvimento dos saberes e fazeres nas instituições educativas; - Ampliar e divulgar os conhecimentos, resultado dos trabalhos, empreendidos pelos profissionais engajados com essa etapa da educação.

Diante dessa iniciativa, estendemos o convite para as 14 unidades escolares, que atendiam desde a educação infantil (Pré-escola) até o ensino fundamental. Por entendermos que as mesmas não poderiam ficar de fora, mesmo que não faziam parte

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do grupo de estudos e formação. A proposta aceita, por todas as unidades, foi de que cada uma participasse com um projeto. Assim, tivemos 21 projetos inscritos para comunicação oral.

O momento trouxe uma nova realidade, fomos confrontadas com a necessidade de expandir o grupo de estudos também para os profissionais/gestores que atuavam nas unidades escolares. Então nesse ano de 2013 demos início aos encontros com as 29 unidades, contando com uma média de 70 participantes no grupo (especialistas em educação, diretores e diretores adjuntosiii).

Assim, percebemos que participar desse processo vem possibilitando a reflexão sobre as novas exigências impostas ao papel dos gestores escolares, considerando que sua atuação não se restringe ao planejamento, coordenação e direção. No grupo, as discussões têm-se encaminhado para o entendimento de que a ação dos sujeitos encontra-se na promoção e nas articulações entre as atividades, as pessoas, os diferentes saberes e modos de fazer, caracterizando-se pelo que consegue reunir e somar. Além disso, o seu trabalho deve ser incorporado em todas as suas dimensões: currículo, programas, planejamento, avaliação, ensino e aprendizagem, oferecendo condições de legitimar a coletividade, a unidade e a qualidade da ação pedagógica. Pois,

No processo de efetivação pedagógica, destacamos o papel do profissional que atua nessa área de educação de crianças pequenas, ou seja, a intencionalidade educativa própria desse nível de ensino requer também a qualificação que proporcione conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento integral da criança, materiais e métodos de aprendizagem e cuidados com a saúde, higiene e afetividade. (SOUZA; MELLO, 2008, p. 38).

Paralelamente, as discussões dão um tom sobre a construção da identidade do profissional que atua na educação infantil, na perspectiva de uma formação que possibilite a compreensão sobre o que é próprio para essa etapa da educação, visando o fortalecimento das práticas e a valorização profissional.

Tratando-se de uma abordagem qualitativa, diálogo e a reflexão são constantes e necessários na investigação e na busca de informações capazes de oferecer um conhecimento novo em relação ao que já se sabe, captar a lógica inerente, abrindo caminhos que exercitem a coletividade e a criatividade no que diz respeito a elaboração de propostas para implementar a educação escolar, especificamente a infantil. (CHIZZOTTI, 1991).

Tanto quanto o agir é percebido de uma maneira totalitária o conhecimento também tende a seguir as mesmas premissas. Portanto, também, a interdisciplinaridade nos pode ser muito útil nesse trabalho, por que ela aponta a verdadeira natureza relevante ao tema da gestão na educação infantil, mostrando os obstáculos sem nos fazer cair em ilusões.

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Sendo assim, o conceito de interdisciplinaridade se fundamenta na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como conjunto de dados estáveis estando sujeitos ao ato de conhecer isento e distanciado do contexto, apontando para a necessidade de se levar em conta a relação entre os aspectos contraditórios dessa realidade.

A interdisciplinaridade uma atitude que conduz à prática reflexiva, à criação, humildade, parceria e ousadia. Para mudar de atitude, é preciso transformar “[...] a velha prática em nova pela reflexão, que leva a uma teoria que se inter-relaciona com a prática, com uma prática que se relaciona com a vida, com base na realização e no prazer”. (JOSGRILBERT, 2001, 85).

Desse modo, entendemos ser necessário procurar aprofundar o entendimento sobre a Educação Infantil e a infância partindo da vivência de uma realidade que se insere no cotidiano dos gestores escolares. Ao articular saberes, conhecimentos, vivências e pessoas caminhamos para uma perspectiva geral do contexto escolar objetivando uma maior reflexão sobre as atuais exigências para a instituição que atende a criança de 0 a 5 anos.

2 GESTÃO PARTICIPATIVA: TOMADAS DE DECISÕES E RESPONSABILIDADES COLETIVAS

A gestão escolar tem sido um tema presente em discussões na área da educação, especialmente no que se refere à escola básica, margeando os campos da política e da legislação educacional. Consubstanciou-se como um tema notório a partir das reformas educacionais da década de 1990, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394, de 1996. As investigações abordam experiências do cotidiano em busca de soluções para problemas como qualidade de ensino, participação interna e externa para a realização da gestão democrática e da autonomia de que se reveste o papel dos gestores quando trata das relações e inter-relações vividas no contexto da escola.

Revisitando a história da educação brasileira, no que tange à direção escolar, encontramos, na sua organização, a influência exercida pela administração empresarial. No contexto brasileiro, o fim da ditadura militar e as mudanças políticas, sociais e econômicas trariam para o debate a gestão escolar democrática, reforçada pela própria Constituição Federal de 1988 como também pela LDBEN - 9394/96. A gestão da educação, que inclui a gestão da escola, sofreria as críticas desencadeadas nos anos 1980 destacando-se o processo político-pedagógico e a preocupação com a sua democratização, que ocorreria no final da década.

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Diante da historicidade da função gestora, encontramos princípios de uma organização escolar fundada na experiência administrativa, com características aplicáveis às empresas, como já evidenciamos anteriormente. Percebemos, contudo, que as ações empreendidas no espaço em que ocorrem o ensino e a aprendizagem pressupõem relações pessoais e interpessoais cujos objetivos dirigem-se para práticas da formação humana. Nas palavras de Russo (2004, p. 29): “A proposta de superação do paradigma da administração empresarial como fundamento da administração escolar tem por hipótese a natureza específica do processo pedagógico de produção escolar.”

Sem perder de vista as ideias já produzidas no campo da gestão escolar, seja das teorias ou das orientações normativas, a proposta deste trabalho é enveredar para o espaço empírico da ação do diretor e do especialista em educação, identificando o campo de ação e os desafios do cotidiano da escola. Por isso, visamos analisar os diferentes aspectos que compõem a ação do gestor, na área da Educação Infantil, compreendendo como vem desenhado o seu perfil diante das novas propostas e possibilidades de reformas educacionais. Considerando que a questão central é de caráter educacional e que, na maioria dos casos, os profissionais da educação, necessitam de uma sólida fundamentação teórica que os motivem no enfrentamento dos desafios cotidianos.

Diante disso, buscamos, nos encontros, incentivar a implicação crítica reflexiva envolvendo o debate político sobre a educação, na escala dos estabelecimentos escolares, referindo-se aos desafios, as finalidades dos programas escolares, a elaboração e implementação de projetos, à democratização da cultura e à gestão democrática da instituição de Educação Infantil.

Percebemos que as práticas e as relações de interação desenvolvida nas escolas de Educação Infantil podem delinear novas formas do fazer em relação ao administrar e em relação ao pedagógico, tanto do diretor quanto do especialista em educação. Mediante essas considerações, acreditamos que o processo de construção de ações escolares, compartilhadas e integradas permeiam a prática de uma gestão participativa e garante-a.

Gestão participativa, de acordo com Catani e Gutierrez (2003, p. 71), significa que:

[...] a participação se funda no exercício do diálogo entre as partes. Esta comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com diferentes formações e habilidades, ou seja, entre agentes dotados de distintas competências para a construção de um plano coletivo e consensual de ação.

Na prática, a realidade mostra-se, contudo, contraditória: é difícil efetivar a participação, especialmente na instituição pública. Além desse contexto, consideramos ainda que, a instituição de Educação Infantil é um local de convivência entre diferentes pessoas, da ação que se caracteriza pela função de cuidar e educar, no sentido mais

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amplo que esses conceitos trazem e, também, por meio das relações estabelecidas cotidianamente, além do fato implícito nessas ações.

Assim, transpõe sua organização educativa buscando valorizar o individual e o coletivo, na perspectiva de uma gestão democrática, “A gestão passa a ter outro sentido, ou seja, o de suscitar o trabalho coletivo, valorizar os agentes sociais da escola e contribuir para o alcance de um bom ambiente de trabalho”. (MAIA, 2000, p. 88).

Apenas boa vontade não basta; é necessário conhecimento na área e a consciência sobre responsabilidades assumidas. Dessa forma:

Para que a participação em grupo traga benefícios à escola, é imprescindível a presença de um líder que mobilize os agentes da organização nesse sentido, que suscite o bom relacionamento entre eles e que esteja diretamente envolvido com o processo em busca da qualidade do ensino. (MAIA, 2000, p. 88).

De acordo com a autora, a gestão que se fundamenta no princípio da participação coletiva deve propiciar condições, tanto aos profissionais da escola e alunos quanto aos membros da comunidade, para assumirem a elaboração, a efetivação, a avaliação e novas proposições para o projeto escolar. Diante disso, garante também, ao especialista em educação, autonomia para desempenhar seu papel e, pela consciência coletiva, planejar suas ações tendo em vista a qualidade contínua da educação.

Sabemos que a escola é um espaço coletivo e que o processo de autonomia deve ser uma conquista de todos que dela fazem parte. Mudar é difícil e exige responsabilidade sobre aquilo que estamos fazendo; demanda investimento árduo, solidário e humano. Lidar com as pessoas implica lidar com as diferenças, enfrentar e resolver conflitos.

Como resultado dessa organização, temos a questão da autonomia, que deriva tanto das características pessoais quanto das condições de trabalho. A autonomia existe a partir do papel que desempenha, junto aos pares, na articulação das ações desenvolvidas. Importa esclarecer o conceito de “autonomia” na visão de Barroso (2003, p. 16):

O conceito de autonomia está etimologicamente ligado à ideia de autogoverno, isto é, à faculdade que os indivíduos (ou as organizações) têm de se regerem por regras próprias. Contudo se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade) de decidir, ela não se confunde com a ‘independência’. A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia também é um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a uma coisas e não o ser em relação as outras. (BARROSO, 2003, p.16).

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O autor afirma que a autonomia precisa ser construída no espaço confluente entre diferentes pessoas, espaço onde se confrontam ou se equilibram as opiniões. A autonomia é construída sobre condições que permitam a liberdade individual em favor da coletividade escolar.

O que faz-nos lembrar das palavras de Orsolon (2001, p. 18):

[...] as transformações em questão são um trabalho de autoria e de coautoria, no qual o discurso oficial, a pressão do ambiente não são suficientes para desencadear processos. É necessário que haja a adesão, a revisão das concepções, o desenvolvimento de novas competências e a consequente mudança de atitudes dos envolvidos no processo. Mudar é portanto um trabalho conjunto dos educadores da escola e supõe dialogo, troca de diferentes experiências e respeito à diversidade de pontos de vista.

Dessa forma, a mudança de postura parte necessariamente do individual para o coletivo, tomando a instituição de Educação Infantil como um espaço possível para romper com a continuidade posta. Ou seja, é imperativo que se traga a criança e as especificidades da infância para o centro das discussões e atenções das propostas pedagógicas. Como lembra Kramer (1986, p. 79):

Conceber a criança como um ser social que ela é, significa: considerar que ela tem uma história, que pertence a uma classe social determinada, que estabelece relações definidas segundo seu contexto de origem, que apresenta uma linguagem decorrente dessas relações sociais e culturais estabelecidas, que ocupa um espaço que não é só geográfico, mas que também é de valor, ou seja, ela é valorizada de acordo com os padrões de seu contexto familiar e de acordo também com sua própria inserção nesse contexto.

O que buscamos é uma concepção contrária à ideia de natureza infantil, abstrata e universal. Faz uma ruptura para “desnaturalizar” a criança e o próprio conceito de natureza infantil, a qual “[...] separa a criança de uma natureza concreta”. Considera natural o meio social e cultural onde a criança vive e age o que é próprio da infância, dando significação aí, onde ela se reconhece como indivíduo. (MUNIZ, 1999, p. 247).

Estamos pensando a partir de um significado social e ideológico da infância que vem sendo construído historicamente. Conforme esclarece Kramer (2003, p. 19):

[...] a ideia de infância [...] aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a sua inserção e o papel social da criança na comunidade. Se na sociedade feudal, a criança exercia um papel produtivo direto ‘de adulto’ assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser alguém que precisa de ser cuidada, escolarizada e preparada para uma função futura. Esse conceito de infância é pois, determinado historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade.

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Olhar a infância e sua especificidade vem em um crescente movimento contribuindo para o entendimento da criança como um sujeito de direitos, situado historicamente e possuidores de saberes. Nesse processo percebemos sinais de mudanças caracterizadas por um novo tipo de atendimento. Ou seja, essa evolução traz mudanças nas instituições e nas propostas de Educação Infantil, exigindo o perfil de um novo profissional para atuar com essa faixa etária. Agora é indispensável se pensar na criança a partir de suas especificidades, particularidades e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, sociais... Caracterizando um atendimento que prevê o desenvolvimento integral da criança.

Assim, pensar a partir desta ótica exige um compartilhar de responsabilidades e um trabalho conjunto dos que atuam na instituição de Educação Infantil, contemplando ações desde o planejamento da proposta curricular, de organização da rotina, planejamento de atividades até a sua realização cotidiana, assim como situações de avaliação. Envolve também “rever” e “re-pensar” as concepções sobre infância, sobre a função social da Educação Infantil, sobre o papel que cada um desempenha nessa instituição, sobre a sua própria atuação e sobre a responsabilidade diante das crianças.

É preciso se questionar se a instituição de Educação Infantil, como espaço e tempo que assegure o cuidar e o educar em todas as suas formas e garanta a socialização, convivência, desenvolvimento integral e consequentemente a aprendizagem da criança, se caracteriza como realidade. O que é preciso para garantir esses direito? Quais desafios precisam ser enfrentados e vencidos? E o que dizer das crianças que ainda não têm garantido o direito ao acesso à Educação Infantil?

Costumamos perguntar para a criança: O que você vai ser quando crescer? Ela não vai ser, ela é agora, no instante presente. Ser que fala, pensa e age, um ser em construção, que é influenciado e influência o seu meio, é tempo, movimento, verdadeiramente ser de transformação. A criança é real, temos que permitir ouvi-la... Ela nos diz de suas necessidades, de todas as maneiras, basta observá-las e aprender suas mais variadas formas de expressão, suas mais variadas formas de linguagem... Do local em que estamos, temos que agir.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Podemos dizer que a Educação Infantil nem sempre teve lugar de destaque no que tange as propostas educacionais. O crescente avanço se configura no campo das ideias caracterizadas por meio de leis, documentos oficiais e estudos sobre o desenvolvimento infantil. No entanto, as ações dos profissionais que atuam com a criança de 0 a 5 anos,

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ainda tem um longo caminho a ser trilhado, assim como o próprio contexto em que elas se dão (espaço físico, administrativo e pedagógico).

Do local que estamos ainda impera muitas incertezas e indagações a cerca da concepção de infância que estamos construindo coletivamente no grupo, do papel da gestão na instituição educativa e, acima de tudo, do papel social da Educação Infantil. Percebemos que são as questões que nos movimentam, são as indagações que norteiam nossas buscas, nos aproximando cada vez mais das possibilidades de mudanças.

Nesse sentido, sabemos que toda prática questionadora exige uma constante reflexão da ação; é um caminhar que nos obriga a levantar dúvidas, reconhecer nossas limitações, nos conscientizar e, principalmente tomar decisões e assumir responsabilidades. Para isso, o grupo vem se fortalecendo em suas propostas diante da gestão e da organização do trabalho administrativo e pedagógico que considere as crianças a partir de seus contextos sociais e culturais, fornecendo elementos que venham contribuir para o seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.

A fim de continuarmos o diálogo, pois ele não se encerra aqui, lembramos da metáfora, utilizada por Sarmento (2012), do jogo, cama de gato, para explicar como a criança olha, expressa, aprende e apreende o mundo, corrobora na compreensão dessa simbologia por meio da qual ela: “mete os dedos para tirar a figura com que desenha a vida”. (SARMENTO, 2012, p. 5). Nesse contexto, percebemos que a gestão da educação infantil é nossa cama de gato, urge meter os dedos nela para redesenharmos suas formas de organização do tempo, do espaço e de pessoas, bem como as propostas pedagógicas de modo deixá-las prazerosas e convidativas.

“Olhar” e se organizar a partir da criança, de suas linguagens, das múltiplas linguagens, por meio das quais elas se expressam, ocupam lugar fundamental, pois possibilitam descobertas e sua interação com o mundo. Assim, o grupo tem caminhado na perspectiva de construir uma concepção de gestão para Educação Infantil que poderia ser facilmente traduzida por aquilo que nos fala o poeta Manoel de Barros que “só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro...”, nesse sentido, buscamos “transver a gestão da Educação Infantil”, aproximando o contexto legal ao contexto real, a fim de produzirmos saberes e formas de realizações infinitas, dentro de uma possível perspectiva de mudanças.

REFERÊNCIAS:

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Page 13:  · Web viewcontribuindo nas ações administrativas e pedagógicas articuladas com as teorias e experiências dos profissionais. E, sinalizam um caminho dinâmico para gestão no

RUSSO, Miguel Henrique. Escola e Paradigmas de Gestão. Eccos revista científica. v. 6, n. 1, jun. 2004. p. 25-42.

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SEMEC de Três Lagoas/MS – Coordenadora de Área da Educação Infantil e UFMS/CCHS - Doutoranda em Educação – [email protected] UFMS/CPTL/CCHS – Coordenadora do Curso de Pedagogia, Professora de graduação e de Pós-Graduação e orientadora - [email protected] No sistema municipal de ensino de Três Lagoas/Ms usamos a terminação de especialista em educação também denominado de coordenador ou supervisor pedagógico em outros sistemas de ensino.ii Até o ano de 2012, no município de Três Lagoas/MS, contavamos com 12 CEI, sendo que 6 deles atendiam crianças de 0 a 5 anos e os outros 6 atendiam apenas crianças de 0 a 3 anos. Também, contavamos com 17 unidades escolares, sendo que 14 delas atendiam crianças entre 4 e 5 anos (Pré), conjuntamente com o ensino fundamental. Atualmente esse quadro mudou em relação ao CEI, temos 15 em funcionamento buscando atender a demanda para esse nível da educação, mas que, infelizmente, reconhecemos ainda não atingimos a meta.iii Outro fator relevante foi que em dezembro de 2012 tivemos as eleições para o cargo de diretor e diretor adjunto para todas as unidades educativas, incluindo os Centros em que, ainda, não estava regulamentada, oficicalmente, essa função.