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I. IDENTIFICAÇÃO: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Mª Gabriela Ramos de Oliveira”. Título: VER-O-PESO: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POESIA. Público alvo: discentes do 8º ano – manhã. Disciplinas envolvidas: Língua Portuguesa e Língua Inglesa, História, Artes, Estudos Amazônicos. Tempo previsto: 3 meses. Obra lida: Peso Vero, de Daniel da Rocha Leite. II. JUSTIFICATIVA O projeto “Ver-o-Peso: história, memória e poesia” traz a proposta de conhecer a literatura, em especial à regional. Pretende ampliar a leitura que o discente tem de sua realidade, de seu contexto, pois é refletindo sobre sua realidade, questionando-a, percebendo-se um agente histórico e social que ele será capaz de transformá-la, comprometer-se com ela, tornar-se um verdadeiramente cidadão crítico. Baseado na obra Peso Vero, de Daniel da Rocha Leite, os alunos tomaram contato com uma realidade social enriquecedora, cheia de personagens marginalizados, excluídos que, ao mesmo tempo, fazem do Ver-o-Peso um lugar de vida, de enredos cheios de memórias; contraditoriamente, de doação e anulação. Uma obra que reflete o lado humano de um dos maiores cartões postais do norte, a maior feira a céu aberto da América Latina. Segundo os PCN’S, “a escola deve assumir a valorização da cultura de seu próprio grupo e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional, como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade. Para tanto, é preciso que a escola esteja enraizada na comunidade”. Acontece, porém, que este processo de “valorização da cultura de seu próprio grupo”, de (trans) formação de atitudes, memórias, identidades, passa pelo processo de ler. Este, aqui, visto muito mais que um meio de geração de conhecimento, de

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I. IDENTIFICAÇÃO: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Mª Gabriela Ramos de Oliveira”. Título: VER-O-PESO: HISTÓRIA, MEMÓRIA E POESIA. Público alvo: discentes do 8º ano – manhã. Disciplinas envolvidas: Língua Portuguesa e Língua Inglesa, História, Artes, Estudos

Amazônicos. Tempo previsto: 3 meses. Obra lida: Peso Vero, de Daniel da Rocha Leite.

II. JUSTIFICATIVAO projeto “Ver-o-Peso: história, memória e poesia” traz a proposta de conhecer a

literatura, em especial à regional. Pretende ampliar a leitura que o discente tem de sua realidade, de seu contexto, pois é refletindo sobre sua realidade, questionando-a, percebendo-se um agente histórico e social que ele será capaz de transformá-la, comprometer-se com ela, tornar-se um verdadeiramente cidadão crítico.

Baseado na obra Peso Vero, de Daniel da Rocha Leite, os alunos tomaram contato com uma realidade social enriquecedora, cheia de personagens marginalizados, excluídos que, ao mesmo tempo, fazem do Ver-o-Peso um lugar de vida, de enredos cheios de memórias; contraditoriamente, de doação e anulação. Uma obra que reflete o lado humano de um dos maiores cartões postais do norte, a maior feira a céu aberto da América Latina.

Segundo os PCN’S, “a escola deve assumir a valorização da cultura de seu próprio grupo e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no âmbito nacional e regional, como no que faz parte do patrimônio universal da humanidade. Para tanto, é preciso que a escola esteja enraizada na comunidade”.

Acontece, porém, que este processo de “valorização da cultura de seu próprio grupo”, de (trans) formação de atitudes, memórias, identidades, passa pelo processo de ler. Este, aqui, visto muito mais que um meio de geração de conhecimento, de informação, mas de análise, de posicionamento estético e crítico, a “leitura de mundo”, como se referiu Paulo Freire. Ou seja, a leitura vista como um processo não apenas de ensino, mas de aprendizado também. E desenvolver a competência de leitura é tarefa da escola, que “tem por responsabilidades dispor o nosso patrimônio literário às novas gerações e, ao mesmo tempo, apresentar uma sequência de atividades com texto que levem as crianças aos patamares de maturidade e autonomia em leitura”. (SILVA, 2003).

Entretanto, essa “leitura de mundo” do aluno precisa ser instigada, provocada, para que se tenha o desenvolvimento de um “olhar diferenciado”.

Nelly Novaes Coelho, citando Morin, afirma que a literatura poderia ser a ponta do eixo ideal para uma nova estrutura de ensino, pois “é um mundo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo.” (COELHO). A literatura, desta forma, formaria a mente do educando, teria um poder transformador. E não há como questionar que com “as obras literárias tomamos contato com verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana” (COUTINHO).

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Eis por que ter sido possível, por meio deste projeto, trabalhar a interdisciplinaridade. Afinal, o conhecimento não é e não vem “fragmentado”. Muito menos o ensino de língua e literatura. Não há compartimentalização no “cérebro”. Todos os conceitos e aprendizados formarão este ser. E os nossos alunos têm direito a uma educação de qualidade, contextualizada, dinâmica e significativa.

III. OBJETIVO - GERAL: Proporcionar o prazer da leitura e aguçar o potencial cognitivo e criativo dos discentes.

- ESPECÍFICOS

Aproximar a literatura dos discentes, ampliando o conhecimento que dispõem sobre escritores e literatura regionais;

(Re) conhecer a realidade amazônica na obra “Peso Vero”, de Daniel da Rocha Leite; Proporcionar aos discentes, inicialmente pela leitura depois pela experimentação, a

oportunidade de ampliação dos seus horizontes pessoais e culturais; Possibilitar uma leitura contextualizada, ampla e crítica da realidade dos discentes; Trabalhar de forma interdisciplinar, a partir da leitura da obra em questão; Contextualizar historicamente o espaço Ver- o- Peso (Bella Epoque); Incentivar produções (orais e escritas) em diferentes suportes: vídeos, telas/pinturas,

entrevistas, fotos, relatos de experiência; Compreender conceitos como prosa e poema; Organizar uma exposição com os trabalhos produzidos pelos alunos: vídeos,

telas/pinturas, entrevistas, fotos, haicais.

IV. METODOLOGIAAs ações do projeto ocorreram por meio das sequências didáticas determinadas:

Apresentação da obra Peso Vero e do autor Daniel da Rocha Leite; Discussão em sala sobre literatura e autores paraenses; Leitura e análise do conto “O dono do Solar” (escrito); Leitura e análise do conto “Barroco” (oral); Leitura e análise dos contos, como “Ela anda só os andrajos”, “Café com leite”, “Dinheiro

Molhado”, “ Rato Submarino”, “Menina do Café” ( em grupo); Socialização das leituras e análises feitas pelos grupos; Oficinas de fotografia (professora de artes); Aula passeio ao Ver-o-Peso (entrevistas, fotografias, contextualização histórica); Oficinas de pinturas em aquarela e de vídeo; Mesa redonda com o escritor Daniel da Rocha Leite (que não aconteceu, pois o mesmo

viajou para fazer o doutorado em Portugal); Exposição para à escola e turmas.

V. AVALIAÇÃOA avaliação compreendeu, basicamente, 02 etapas: a primeira diária e contínua,

baseada no envolvimento, participação, frequência nas atividades desenvolvidas; a segunda, teórica.

No que tange à primeira avalição, percebeu-se o interesse da turma, que se identificou com a obra desde o primeiro momento da leitura. Fazer com que identificassem os temas dos contos e poemas da obra foi recompensador: prostituição, trabalho infantil, trabalho

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diário (valor deste e jornada de trabalho da mulher/mãe), educação cidadã, por exemplo. E lhes mostrar na realidade alguns destes conceitos e temas completou o processo de reflexão, de análise crítica de sua realidade.

A frequência e participação de alunos, que antes não se interessavam pelas aulas/atividades ou pouco participavam (às vezes tinham até ação negativa) melhoraram. Alguns superaram seu medo e vergonha e falarem em público (outras turmas), e explicaram o que aprenderam a partir da leitura do livro e, consequentemente, das ações que executaram ao longo do projeto.

Houve produção escrita, oral, visual, imagética e midiática – contextualizada. E a experiência de socializarem o conhecimento foi muito positiva, pois exigiu responsabilidade e compromisso, além, claro, de conteúdo. Não chegamos a envolver 100% da turma, pois trabalhar em uma escola de periferia é sempre desafiador (e com leitura também), mas conseguimos 90% de “adesão” da turma.

A expectativa foi superada, com certeza. E eles querem fazer outros trabalhos com este para apresentar novamente à escola. Organizaremos os trabalhos em um livro, que será apresentado ao Conselho Escolar da Escola. Esperamos registrar muito mais que a criatividade e a poesia. Quem sabe até a história, a memória e a identidade destes discentes que foram muito mais que leitores: foram cidadãos, agentes do conhecimento, sujeitos de suas próprias histórias.

VI. REFERENCIAL TEÓRICO

        A leitura é um passaporte para a vida. É uma atividade permanente da condição humana, uma habilidade a ser adquirida desde cedo e treinada em suas várias formas.

       Para Paulo Freire, “um acontecimento, um fato, um efeito, uma canção, um gesto, um poema, um livro se acham sempre envolvidos em densas tramas, tocados por múltiplas razões de ser”. Por esse motivo, um texto deve ser lido a partir de seu contexto, o que inclui um contexto ainda maior no qual interessa muito mais a compreensão do processo, em que a circunstância e como as coisas ocorrem, do que o produto final, o texto em si.

    Ler é, sobretudo, um hábito de quem é estudante e daquele que aprendeu a ler. A leitura abre espaço para o entender, aprender e pensar.

   Segundo Cazden (1987 p. 169), leitura é um conjunto de processos paralelos em interação que atendem simultaneamente a níveis diferentes da estrutura do texto é também um processo construtivo. Diz ainda que a mente dos leitores não é uma tabula rasa na qual o significado das palavras e orações são passivamente registrados.

VII. RECURSOS

HUMANOS: Direção escolar, equipe técnica, docentes e discentes.MATERIAIS: papel cartolina, papel cartão, canetas hidrocor, etcTECNOLÓGICOS: TV, DVD, Data show, microfones, caixa amplificada.

VIII. BIBLIOGRAFIA

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BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: 1997.

COELHO, Nelly Novaes. A literatura: um “fio de Ariadne” no labirinto do ensino neste limiar de milênio? In: Literatura: arte, conhecimento, e vida. São Paulo: Petrópolis, 2000.

COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

LOUREIRO, João de Jesus Paes. A questão cultural amazônica. In: Estudos e problemas amazônicos: História Social e Econômica e Temas especiais 2ª edição. Belém: Cesup, 1988.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. Unidade de leitura- trilogia pedagógica - Campinas, SP: Autores Associado, 2003 (Coleção Linguagens e Sociedade).

FREIRE,

IX. ANEXOS

Suas pontas finas e apontadas

parece até quatro espadas.(Adriele Barbosa Caldas)

Conhecendo passado vivendo o presente crendo no futuro.

(Carolaine Sousa Alves)

EXPLICAÇÃO – DIA DA EXPOSIÇÃO

De ponta a ponta vi o Ver-o-Peso

que fiquei até tonta!(Sabrina dos Santos Lima)

Um velho do Maranhão,veio morar no Pará com muita gratidão.

(Edilan Sousa Lopes)

EXPLICAÇÃO – DIA DA EXPOSIÇÃO

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FOTO: ALUNO EDILAN LOPES

A baía do Guajaráfica aqui no Pará.

Se não fosse, não iria dar pra rimar (Ingrid Eduarda da Silva Pereira)

O Ver-o-Peso é uma poesia da imagem, a fotografia

da literatura, uma sabedoria. (Lailson Pimenta Coelho)

Conheci a Bete Cheirosinha quando vi que ela vendia

cada porção maluquinha... (Carolaine Sousa Alves )

O Ver-o-Peso é lindo!Mas quem mora nele

não tem riso.(Elizeu das Chagas Neto,

aluno PNE)