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2º CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM 3º. Ano – 1º. Semestre PROVA DE AVALIAÇÃO 1º Módulo “Expressar é começar a se libertar...” (Frida Kahlo) Unidade Curricular Desenvolvimento Pessoal e Ética Profissional III

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2º CURSO DE LICENCIATURA EM ENFERMAGEM

3º. Ano – 1º. Semestre

A aluna:

Guiomar Ribeiro

Lisboa

2002

PROVA DE AVALIAÇÃO

1º Módulo

“Expressar é começar a se libertar...”(Frida Kahlo)

Unidade Curricular

Desenvolvimento Pessoal e Ética Profissional III

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Índice

1. Introdução ..................................................................................................2

2. Plano de Intervenção .................................................................................3

2.1. Técnicas aplicadas ao Grupo I .................................................................5

2.2. Técnicas aplicadas ao Grupo II ..............................................................9

3. Conclusão .................................................................................................12

4. Referências Bibliográficas .......................................................................13

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1. Introdução

Pretendo com este trabalho, realizado no âmbito da Unidade Curricular de

Desenvolvimento Pessoal e Ética Profissional III, descrever um possível plano de

intervenção a pessoas com diversas alterações de comportamento, utentes de um

Hospital de Dia Psiquiátrico, no qual utilizaria técnicas experienciadas ao longo das

aulas desta Unidade Curricular.

Este plano de intervenção terá como base a situação-problema apresentada.

Segundo Bolander (1998, p. 180), “a finalidade do planeamento de cuidados é a

utilização, o mais correcta possível, dos recursos, no sentido de ajudar a pessoa a

atingir os resultados desejados”. Neste caso específico, projectar, idear um plano,

torna-se fundamental de modo a aproveitar os recursos, as técnicas vivenciadas em sala

de aula, visando ajudar a pessoa com perturbações do foro psiquiátrico a adequar da

melhor forma possível os seus comportamentos.

Com este objectivo, a intervenção irá focalizar a expressão e libertação de

pensamentos e sentimentos, que muitas vezes está comprometida, através de diversas

técnicas expressivas/ projectivas. O indivíduo terá de passar inicialmente por uma auto-

consciencialização, perceber-se a si próprio, para depois perceber o outro e adequar os

seus comportamentos ao mundo exterior.

“Se se pretende e intenciona que o paciente se motive a exteriorizar os seus

sentimentos, afectos, angústias (...) é essencial que a equipa profissional se firme com

uma presença constante, coerente, tenha disponibilidade e mantenha uma continuidade

no seu plano de intervenção” (OLIVEIRA, 1998). Segundo esta autora, está implícita a

elaboração de um plano de intervenção para realmente conseguir esta expressão interior.

Os recursos terapêuticos, as técnicas a utilizar, não se deverão nunca constituir

como um aglomerado de instrumentos, mas como um conjunto organizado, planeado, de

forma a ter um efeito realmente terapêutico na pessoa, permitindo o seu crescimento e

conhecimento interior.

Deste modo, será apresentada uma sugestão de um plano interventivo nas

condições referidas, entre diversos planos possíveis e também adequados.

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2. Plano de Intervenção

O plano de intervenção que será aqui apresentado terá como linha orientadora a

minha própria experiência pessoal, ao vivenciar as técnicas em sala de aula. Na minha

opinião, esta experiência, ainda que curta, foi de extrema importância para me aperceber

dos efeitos e sentimentos resultantes da aplicação de técnicas expressivas/ projectivas/

de relaxamento...

Se tivesse abordado apenas uma perspectiva teórica destas técnicas, penso que

teria adquirido um conhecimento demasiado superficial e racional para que as pudesse

desenvolver ou mesmo aplicar.

Assim, tendo passado pela própria experiência em grupo, vivendo o jogo da

comunicação, posso ter uma percepção mais profunda destas técnicas que servem de

base a este plano.

Na situação apresentada, as pessoas demonstram uma grande diversidade de

alterações de comportamento, pelo que, na minha opinião, seria benéfico dividir os

utentes em dois grandes grupos mais homogéneos, com pessoas mais comuns entre si.

“É importante não apenas seleccionar pacientes que se beneficiarão de um

grupo, mas colocá-los num grupo do qual eles se beneficiarão” (ZREBIEC, 1997, p.

298), pelo que penso que esta etapa é de fulcral importância para todo o bom

funcionamento do grupo.

Seleccionaria, então, um primeiro grupo constituído por pessoas que apresentam

comportamentos de isolamento, inibição e tristeza e um segundo grupo com os

indivíduos que demonstram hiperactividade, dificuldades de concentração, irritabilidade

fácil, impulsividade e comportamentos exuberantes.

Penso que é importante as pessoas que irão desenvolver actividades em

conjunto, sentirem pontos em comum, semelhanças entre si. Reportando-me a situações

que vivi em sala de aula, por vezes, senti que existiam diferenças importantes e

divergências de ideias ao desenvolvermos actividades em grupo, que dificultavam a

comunicação entre nós.

Vários autores partilham esta opinião referindo que “mais importante é que

ninguém veja a si próprio como um tipo diferente num grupo, pois estará sob alto risco

de desistência” (ZREBIEC, 1997, p.298) e, em relação ao primeiro grupo seleccionado,

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autores com experiência de trabalho com grupos deste âmbito, afirmam que consoante a

“nossa observação, e a de alguns colegas que a corroboraram, de que as pessoas com

estruturas depressivas trabalham melhor e sentem-se melhor em grupos homogéneos”

(BROFMAN, 1997, p.243). Este autor refere ainda que, em grupos homogéneos, as

pessoas não se sentem diferentes e há possibilidade de se identificarem com os outros

que vivem situações semelhantes, compartilhar os seus problemas e conflitos, sentirem-

se reconhecidos – “fenómeno de ressonância”, o que poderá ser bastante benéfico pois

a pessoa que vive este fenómeno deixa de se sentir só.

Por outro lado, é de salientar também que a interacção do doente com outros

membros de um grupo pode ser, por si só, terapêutica. O indivíduo existe desde sempre

inserido em grupos: família, pares, cidade, a própria sociedade. O Homem não existe

sozinho, logo, torna-se fundamental na área de Saúde Mental, colocar o doente (quando

preparado para isso) em interacção com outras pessoas.

Por exemplo, relativamente ao grupo I, a inserção num grupo possibilitará, por

exemplo (baseado em AFONSO, 1996 e BROFMAN, 1997):

- ainda que numa fase inicial possa haver alguma resistência à participação,

devido às próprias características do grupo, com o tempo a pessoa poderá superar o

desafio que é estar com os outros;

- ajuda e participação recíproca em várias actividades, que contribui para uma

coesão e união do grupo;

- «fenómeno de ressonância» (já referido anteriormente);

- exercitar a capacidade de socialização, perdendo o sentimento de isolamento.

“...encontros pareciam oferecer apoio mútuo, aliviar a depressão e reduzir o

isolamento” (ZREBIEC, 1997, p.297).

Em relação ao grupo II, o contacto grupal dá a oportunidade de (baseado em

AFONSO, 1996):

- aprender (ou reaprender) a estar com o outro, a respeitá-lo e aceitá-lo;

- hábitos sociais e interacções positivas;

- autodisciplina;

- a partilha de problemas no seio do grupo produz um efeito tranquilizante e

securizante nos seus membros.

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“As interacções de grupo estimulam respostas e diálogos socialmente

apropriados” (ZREBIEC, 1997, p.297).

As técnicas experienciadas em sala de aula e que seriam aplicadas aos utentes

deste Hospital de Dia são baseadas nos princípios da Psicoterapia.

“A Psicoterapia tem uma definição oficial que é o tratamento do sofrimento

psíquico pela palavra ou por métodos psicológicos afins” (RIBEIRO, 1998, p.48).

Sucintamente, este tipo de terapia visa ajudar a pessoa a conseguir um

ajustamento mais adequado de personalidade e comportamentos, tentando restaurar o

equilíbrio emocional. Para que isso seja possível, é necessário, primariamente,

estabelecer uma relação e uma atmosfera terapêutica; depois torna-se fundamental uma

libertação emocional por parte do doente, de modo a atingir posteriormente uma

autocompreensão, que pode levar a mudanças positivas (baseado em RIBEIRO, 1998).

A Arteterapia e a utilização de técnicas expressivas, surge como meio de

libertação emocional, tão importante para a pessoa se conhecer e aceitar.

“Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de

cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida” (JUNG,

1920 citado por NOBRE em 1* ).

Assim, após a divisão dos utentes em dois grupos distintos, irei apresentar duas

técnicas ligadas à arte, já vivenciadas por mim, que aplicaria ao grupo I.

2.1. Técnicas aplicadas ao Grupo I

A minha opção para este grupo que, como já referido, demonstra isolamento,

inibição e tristeza, recairia sobre «Musicoterapia» (talvez seja mais correcto dizer

Técnicas Psicomusicais) e Modelagem.

TÉCNICAS PSICOMUSICAIS:

A Musicoterapia tem como objectivos, entre outros, facilitar e promover a

comunicação, a relação e a expressão pelo que, na minha opinião, deverá ser aplicada a

este grupo que apresenta dificuldades a este nível.

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* site da Internet referenciado no ponto 4.

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A Musicoterapia tem “objectivos terapêuticos, no campo das dificuldades de

comunicação” (LEITE, p.10).

No entanto, esta técnica exige um musicoterapeuta qualificado, pelo que irei a

falar, não de Musicoterapia, mas de Técnicas Psicomusicais.

Recordando aquilo que vivenciei e senti em sala de aula, dei-me conta de que a

música é uma forma de expressão e pode até mesmo ser considerada uma linguagem, na

medida em que, através dela, conseguimos transmitir pensamentos, vivências,

sentimentos, afectos, imagens (...). Uma prova clara deste aspecto, foi a experiência de

escutar vários trechos musicais, escrevendo aquilo que nos era transmitido através das

diversas músicas e ritmos. Na verdade, todos nós, em geral, num grupo de mais de 40

alunos, sentimos que a música nos transmitiu coisas semelhantes. Admito que foi com

alguma admiração da minha parte que notei que os meus colegas tinham sentido e

vivido coisas semelhantes a mim com aqueles trechos musicais...estava escrito! A

mensagem transmitida por quem toca, é recebida e a prova está na harmonia e coerência

das nossas respostas. É, então, notório o poder de expressão da música.

Esta ideia é também defendida por diversos autores:

“A música é uma forma de expressão e, às vezes melhor que as palavras, ela

traduz sentimentos e ideias, preenche a relação entre as pessoas” (LEITE, p.9).

“A música e o ritmo são verdadeiramente linguagens que permitem comunicar e

suprimir barreiras” (VERDEAU-PAILLÈS, p. 16).

“A música expressa uma infinidade de estados de espírito, emoções, afectos...”

(COPLAND, citado por COSTA, 1989, p.65).

Desde cedo que me sinto ligada à música, tocando vários instrumentos musicais

ou simplesmente, escutando. Por vezes, sinto dificuldade em expressar através da

linguagem verbal, ou racionalizar, algo que estou a sentir, a viver. E é interessante que

quando pego na viola, o meu instrumento de eleição, esse sentimento flui naturalmente

em cada acorde tocado. Além disso, a música ajuda-me a pensar sobre mim,

proporciona-me momentos de insight e introspecção.

Na experiência em sala de aula, quando fomos divididos em vários grupos e nos

foi pedido que compuséssemos algo com vários instrumentos disponíveis, é curioso que

o grupo no qual eu estava inserida quase não falou. Apenas combinámos algumas coisas

gerais, como quem começava e quem tocava o quê, e deixámo-nos envolver plenamente

na música que fluía. Na verdade, não sentimos muita necessidade de recorrer à

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linguagem verbal. Estávamos, naquele momento, em contacto com uma nova forma de

linguagem e queríamos usá-la ao máximo. Os acordes, os ritmos, os sons fluíam

naturalmente, parecia que se adaptavam harmoniosamente a eles próprios, ganhando

vida. Senti-me muito próxima de todo o grupo e estive de alguma forma a comunicar

com os meus colegas. O resultado final superou as minhas expectativas. Não estava à

espera que o conjunto fosse tão harmonioso pois tinha sido algo construído no

momento.

Senti claramente o “diálogo instrumental”, como refere Leite (p.10, 13):

“O «diálogo» instrumental (...) estimula o ritmo interior e combina-o com o dos

outros (...) todos constróem uma só obra e cada um toca o seu instrumento, há qualquer

coisa que é única e traz uma união muito sólida...”.

Assim, penso que as Técnicas Psicomusicais iriam ser bastante benéficas para

este grupo, uma vez que iriam possibilitar (baseado em COSTA, 1989, LEITE e

VERDEAU-PAILLÈS):

- transmitir sentimentos e ideias que o grupo tivesse dificuldade em expressar

por palavras;

- um despertar de emoções que fazem o grupo pensar sobre eles próprios e os

seus sentimentos, o que facilita o autoconhecimento e a autoaceitação;

- comunicar mais facilmente, uma vez que a música é “uma forma de

comunicação menos ameaçadora e mais envolvente” (LEITE, p.10);

- activar a imaginação e a criatividade;

- como mediador, a música estabelece uma ponte entre a realidade e a fantasia;

- vencer a inibição psicomotora e psicológica.

Em suma, “A descontracção, a sociabilidade, a faculdade de comunicar manifestadas

pelos doentes são os testemunhos da eficacidade da técnica. O retomar da iniciativa, a

afirmação de si evoluem paralelamente à sua criatividade” (VERDEAU-PAIILÈS,

p.20).

MODELAGEM:

Esta foi outra das técnicas que experienciei em sala de aula – a Modelagem com

argila. Inicialmente, senti alguma dificuldade em entrar em contacto com a argila.

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Estava diante de mim um pedaço de argila disforme, eu teria que lhe dar alguma

forma... seria capaz?

Apesar da hesitação inicial, a sensação de estar em contacto com o barro, sentir a

sua textura, a sua temperatura, senti-lo moldar-se à medida que ia exercendo pressão

(...) foi, para mim, bastante gratificante. Esta sensação, de estimulação táctil, atingiu o

seu auge quando nos foi pedido que moldássemos a argila com os olhos vendados.

Aí, foi-nos pedido que, de olhos vendados, construíssemos uma representação

nossa na argila, como se nos víssemos do exterior. Vendaram-me então os olhos e não

pensei no que iria fazer. Não me ocorreu nenhuma ideia, simplesmente comecei a

moldar o barro. Dei-me conta de que estava a fazer uma figura humana...mas como seria

essa figura? Quando tirei a venda, no final, olhei para a figura que tinha construído,

olhei para as construções dos meus colegas à minha volta. Alguém me disse: “O que

fizeste faz-me lembrar a pintura «O grito»!” (não foi a única pessoa a estabelecer essa

relação). Mas porquê? Pode parecer estranho, mas não percebi na altura porque tinha

feito como representação minha uma figura humana com as duas mãos na cabeça, que

transmitia desespero (é a minha percepção...projectiva?).

Na verdade, esta experiência fez-me pensar em muita coisa, acerca de mim, e

tomar consciência de sentimentos e problemas dos quais talvez não me tivesse

apercebido antes. Ainda hoje, quando olho para aquela figura moldada que tenho no

meu quarto, algo concreto, real, que não posso negar, penso nisso.

Desta forma, penso que esta técnica que vivenciei de forma tão intensa seria

também apropriada a este grupo, que demonstra dificuldades relacionais e de

comunicação. Iria possibilitar (baseado em NOBRE em1;2; BOZZA em3; AMORIM

em4):

- atingir um estado de equilíbrio, visto que “a argila age como transformadora,

de um estado de desencontro para um estado de equilíbrio” (NOBRE em 1). “A argila é

estruturadora e é usada para dar uma forma concreta ao nosso inconsciente” (citado

em 2);

- libertar tensões, fadigas e depressões, uma vez que a argila “é um material vivo

e de acção calmante” (NOBRE em 1);

- mobilizar sentimentos e emoções, antes desconhecidos do próprio, para que

possam ser trabalhados, pois a argila facilita a projecção espontânea dos conteúdos

internos dos sujeitos;

- um canal de auto-expressão e criatividade;

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- facilita a expressão verbal, visto que se torna mais fácil falar a partir de um

objecto concreto construído pelo próprio doente, do que falar dos seus conteúdos

interiores directamente;

- através do significado que a pessoa que construiu der à sua construção, poder-

se-á ter acesso a conteúdos inconscientes, e não poderá negá-los uma vez que tem diante

de si algo real, concreto, registado na sua escultura;

- afirmação da individualidade pois é uma criação sua;

- maior confiança e valorização de si mesmo, visto que arriscou e alguma coisa

realizou.

“A argila (...) dada a sua flexibilidade e maleabilidade, facilita o rompimento

da armadura protectora que impede os indivíduos de se aproximarem dos seus

sentimentos, e do outro” (BOZZA em 3).

2.2. Técnicas aplicadas ao Grupo II

A minha opção para este grupo que, como já referido, apresenta alterações de

comportamento como hiperactividade, dificuldades de concentração, irritabilidade fácil,

impulsividade e comportamentos exuberantes, seria a Pintura e o Relaxamento

Muscular Progressivo.

PINTURA:

Esta técnica foi também experienciada em sala de aula

e, devido à minha própria vivência, penso que seria adequada a

este tipo de grupo. Recordo-me bem do dia em que esta técnica

foi experimentada. Sentia-me cheia de energia e talvez um

pouco distraída, a minha mente vagueava... No entanto,

quando foram organizados os grupos, peguei nas tintas e comecei a pintar.

Consegui focalizar a minha atenção na pintura que planeámos fazer em

conjunto. Queria experimentar todas as cores, o meu grupo tinha decidido pintar com as

mãos, estava a ficar bastante suja e a sujar à minha volta, mas não importava, havia

liberdade para isso.

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O próprio espaço, na minha opinião, estava bastante bem organizado.

Pintávamos no chão, comunicávamos, interagíamos, havia espaço para uma ampla

mobilidade. Lembro-me de andar de um lado para o outro, pintar aqui, pintar ali, no

entanto, tinha sempre que respeitar o espaço dos outros, que pintavam também no

mesmo papel.

O resultado final ficou bonito esteticamente, apesar de não ser esse o objectivo,

o que é sempre gratificante e contribui para a nossa auto-estima. “...não requer uma

preocupação estética, o objectivo é somente o de possibilitar e facilitar a

comunicação” (citado em 2). No final senti ainda uma grande calma interior e

satisfação.

Esta actividade foi totalmente livre. Cada grupo pintou o que quis. Segundo

Read (citado por LIMA, 1995, p.46), “a expressão livre é (...) a exteriorização sem

constrangimento das actividades mentais de pensamento, sentimento, sensação e

intuição”. Desta forma, a pintura dá a oportunidade de expressar no papel sentimentos e

emoções o que pode facilitar o autoconhecimento, tão importante para a mudança de

comportamentos.

“Sempre sob uma sensação subjectiva, interior, mesmo quando parece querer

representar algo do real o conteúdo emocional está sempre presente” (LIMA, 1995,

p.49). “...o mundo interno dos indivíduos (...) se há uma maneira de conhecermos algo

desse outro mundo é certamente através da imagem pintada. São documentos vivos”

(SILVEIRA em 5).

Através da pintura o indivíduo exprime o que vem do seu eu mais profundo,

libertando emoções e sentimentos, muitas vezes desconhecidos pelo próprio, o que pode

conduzir a um processo de restruturação do sujeito.

Assim, a pintura poderá ter benefícios para o grupo em questão, tais como

(baseado em LIMA, 1995):

- expressão livre sem condicionalismos;

- libertação de tensões;

- apaziguamento, bem-estar, confiança, estabilidade emocional. “Com a pintura,

trabalha-se a estruturação e a área afectiva emocional, chegando ao equilíbrio das

emoções” (NOBRE em 1);

- envolvimento na pintura, o que melhora a capacidade de concentração. Na

pintura “a atenção, a concentração e o contacto com a realidade são explorados”

(NOBRE em 1);

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“A actividade livre desenvolve o espírito de iniciativa, a espontaneidade, a

invenção, a «praxis», a adaptação social, contraria a instabilidade e pode melhorar a

atenção. A pintura fixa os instáveis...” (LIMA, 1995, p.49).

RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO:

Esta técnica foi apenas experienciada de forma breve, mas o suficiente para me

aperceber bem dos seus efeitos, ao ponto de continuar a utilizá-la em diversas situações.

Esta técnica baseia-se na contracção e relaxamento alternado de grupos musculares, um

de cada vez (que penso não ser relevante descrever com mais pormenor, pois seria uma

mera transcrição exaustiva). Ao ser experimentada em sala de aula, pude sentir em

primeiro lugar, um estado de tensão muscular e depois a sensação de relaxamento, uma

verdadeira sensação de alívio e bem-estar. É importante sentir este contraste, visto que,

muitas vezes, já não nos apercebemos do estado de tensão muscular, que se torna quase

crónico devido ao stress do dia-a-dia.

Esta experiência foi extremamente gratificante e satisfatória e, na minha opinião,

seria também uma boa experiência para o grupo em questão, uma vez que provoca

níveis elevados de bem-estar; ao exercermos a máxima tensão em todos os grupos

musculares principais, progressivamente, há uma libertação da energia acumulada, em

excesso, libertam-se tensões; o relaxamento é o alívio total, o equilíbrio corpo-mente.

Esta minha opção também se deve ao facto de esta técnica ser relativamente

simples, directa e facilmente ensinável (POLONSKY, 1997).

Com o tempo, o grupo começa a dominar a técnica e conseguirá, em

determinadas situações difíceis, o relaxamento pela mera recordação (POLONSKY,

1997). Este tipo de relaxamento, “pode ser usado como um comprimido antiansiedade”

(DAVIS, 1996, p.29).

O Relaxamento Muscular Progressivo, provoca: relaxamento muscular;

diminuição da frequência cardíaca; diminuição da pressão arterial; percepção da

diferença entre tensão e relaxamento, o que se traduz num estado de tranquilidade e

bem-estar.

“A prática do relaxamento progressivo pode aliviar a ansiedade, porque é

difícil para o corpo ou para a mente estar simultaneamente relaxado e ansioso” (em 6).

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3. Conclusão

As técnicas atrás referidas seriam integradas no programa normal existente no

Hospital de Dia em questão. Por exemplo, o Grupo I poderia desenvolver uma das

técnicas (por exemplo, as Técnicas Psicomusicais) às Segundas-feiras e a outra técnica

(Modelagem) às Quartas-feiras. O Grupo II, teria, por exemplo, Pintura às Terças-feiras

e Relaxamento Muscular Progressivo às Sextas-feiras. Estas são apenas sugestões entre

as muitas possíveis. É de salientar também que as sessões, não deveriam decorrer

durante mais de 1h30/ 2h pois tornar-se-iam exaustivas e desgastantes. As sessões de

Relaxamento, por sua vez, não necessitariam ser tão longas.

A aproximação a este tipo de doentes através da arte ou outras técnicas, é mais

um meio, que se tem mostrado eficaz, para chegar até estes e para que estes cheguem

até eles próprios e, por sua vez, aos outros. O objectivo fulcral é ajudar as pessoas a

conhecerem-se, possibilitar o diálogo interior através de mediadores, e conhecerem o

mundo ao seu redor, de forma adequada.

“As emoções são mais que muitas, são todas diferentes e muito intensas. As

palavras parecem insignificantes: é preciso recorrer ao som, ao gesto, à expressão

facial, ao desenho, enfim!...” (LEITE, p.13).

A insuficiência da palavra é muitas vezes sentida por todos nós, o que leva cada

vez mais a recorrer a outras formas de expressão e comunicação, por vezes, mais

eficazes que a linguagem verbal.

“É através da expressão artística que o homem

consegue colocar o seu verdadeiro «self» da maneira

mais pura e directa que possa existir”

(NOBRE, citado em 1).

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4. Referências Bibliográficas

BOLANDER, Verolyn Rae - Enfermagem Fundamental: Abordagem

Psicofisiológica. Lisboa: Lusodidacta, 1998. ISBN 972-96610-6-5;

BROFMAN Gilberto – Grupo com Deprimidos in ZIMERMAN, David E.;

OSORIO, Luiz Carlos – Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes Médicas,

1997. ISBN 85-7307-212-2;

COSTA, C. Moura – O despertar para o outro: musicoterapia. São Paulo:

Summus, 1989;

DAVIS, Martha; ESHELMAN, Elisabeth Robbins; McKAY, Matthew –

Relaxamento Progressivo in Manual de relaxamento e redução do stress. São Paulo:

Summus, 1996. ISBN 85-323-0487-7; p. 29-32;

POLONSKY, William H. – Treino do relaxamento in JACOBSON, James L.;

JACOBSON, Alan M. – Segredos em Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

ISBN 85-7307-225-3; p. 304-310;

ZREBIEC, John F. – Terapia de Grupo in JACOBSON, James L.;

JACOBSON, Alan M. – Segredos em Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

ISBN 85-7307-225-3; p.297-303.

AFONSO, José de Abreu – Grupo Terapêutico na Intervenção Comunitária:

uma experiência no atelier de artes plásticas da Associação Comunitária de Saúde

Mental. Servir. ISSN 0871-86IX. n.º 2 (1996), p.55-58;

LEITE, Teresa Paula – Música: Terapia e Educação (texto fornecido pelos

professores);

LIMA, Isabel – Atelier de pintura um espaço para a expressão livre. Integrar.

ISSN 0872-4865. n.º 6 (1995), p.46-50;

OLIVEIRA, Sandra Santos – Comunidades Terapêuticas e intervenção em

doentes mentais crónicos. Integrar. ISSN 0872-4865. n.º 16 (1998);

RIBEIRO, Pedro Lau – O que é a psicoterapia? Mundo Médico. Ano 1, n.º 1

(1998), p.48-50;

VERDEAU-PAILLÈS, Jacqueline; CALADOU, Jean-Marie Guiraud – As

técnicas psicomusicais activas de grupo e a sua aplicação em Psiquiatria (texto

fornecido pelos professores).

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Outras Fontes:

1) http://www.terapeutaocupacional.com.br/arteterapia.htm (Érika Nobre)

2) http://www.arteterapia.com/port/arteterapia/

3) http://www.argilamariadagloria.psc.br/ (Maria da Glória Cracco Bozza)

4) http://www.daycare.com.br/a_arte_como_meio.html (Claudia Amorim)

5) http://hps.infolink.com.br/peco/psique1/htm (entrevista com Nise da

Silveira)

6) http://www.geocities.com/sitecognitivo/estrategiascomportamentais.htm

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