20
Revista Política e Planejamento Regional Temática: PLANEJAMENTO, GESTÃO E GOVERNANÇA EM DIFERENTES ESCALAS <OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>. ACESSIBILIDADE X SUSTENTABILIDADE RESUMO Este artigo apresenta e discute as condições de uso em centros históricos na área urbana . A sustentabilidade alcançada a partir de soluções visando a acessibilidade para as pessoas em geral, inclusive as que possuem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida. Discute-se a acessibilidade sem barreiras, considerando o envelhecimento da população, como um parâmetro de sustentabilidade das cidades históricas, dos patrimônios da humanidade, garantindo sua longevidade. A preservação e a promoção de ações efetivas, com intervenções que atendam plenamente seus usuários, unidas numa perspectiva positiva, como instrumentos que possam proporcionar a sustentabilidade do patrimônio. Ressaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas para serem alcançada até 2030, demonstrando o quanto importante e atual são essas ações. Palavras chaves: patrimônios históricos, sustentabilidade, acessibilidade, agenda universal. ABSTRACT

 · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

  • Upload
    doduong

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Revista Política e Planejamento Regional

Temática:

PLANEJAMENTO, GESTÃO E GOVERNANÇA EM DIFERENTES ESCALAS

<OMITIDO PARA REVISÃO CEGA>.

ACESSIBILIDADE X SUSTENTABILIDADE

RESUMO

Este artigo apresenta e discute as condições de uso em centros históricos na área urbana . A sustentabilidade alcançada a partir de soluções visando a acessibilidade para as pessoas em geral, inclusive as que possuem algum tipo de deficiência ou mobilidade reduzida.Discute-se a acessibilidade sem barreiras, considerando o envelhecimento da população, como um parâmetro de sustentabilidade das cidades históricas, dos patrimônios da humanidade, garantindo sua longevidade. A preservação e a promoção de ações efetivas, com intervenções que atendam plenamente seus usuários, unidas numa perspectiva positiva, como instrumentos que possam proporcionar a sustentabilidade do patrimônio.Ressaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocadospela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas para serem alcançada até 2030, demonstrando o quanto importante e atual são essas ações.

Palavras chaves: patrimônios históricos, sustentabilidade, acessibilidade, agenda universal.

ABSTRACT

This article presents and discusses the conditions of use in historic centers in the urban area. The sustainability achieved through solutions aimed at accessibility for people in general, including those with some type of disability or reduced mobility.Accessibility is discussed without barriers, considering the aging of the population, as a parameter of sustainability of the historical cities, of the patrimony of humanity, guaranteeing its longevity. The preservation and promotion of effective actions, with interventions that fully serve its users, united in a positive perspective, as instruments that can provide the sustainability of the equity.In addition, the importance of the sustainable development objectives (ODS)By the UN in the universal agenda, consisting of 17 goals and 169 goals to be achieved by 2030, demonstrating how important and current these actions are.

Key words: historical heritage, sustainability, accessibility, universal agenda.

Page 2:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

1. INTRODUÇÃOO planejamento das cidades deve prever conforto, acessibilidade, segurança para

seus usuários, com o objetivo de se tornarem cada vez mais humanizadas. Nos sítios históricos

o desafio de se prever alternativas que atendam ao mesmo tempo a conservação do patrimônio

e garantam a acessibilidade às pessoas de forma mais ampla possível.

Patrimônio histórico são atributos reconhecidos por uma sociedade. Trata-se de uma

riqueza que passa a ser guardada, protegida, garantindo o registro de suas tradições,

realizações, formas de trabalhar, de morar, de se divertir, de viver.

Em 1988, através da Constituição, houve uma ampliação do conceito de patrimônio, substituindo a nominação Patrimônio Histórico e Artístico, por Patrimônio Cultural Brasileiro, passando a considerar os diversos tipos de patrimônio, o Material, Imaterial, Arqueológico e da Humanidade (IPHAN, Patrimônio Cultural, 2014).

Toda sociedade que se empenha em preservar sua história, nos mais variados

formatos, deve garantir o acesso pleno, garantindo, inclusive a sobrevivência e o sentido da

preservação desse acervo eleito por ela.

Segundo a Constituição, o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos

culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a

difusão das manifestações culturais (BRASIL 1988. Art. 215).

Diversos esforços em nível mundial têm sido realizados para a promoção de

acessibilidade das cidades. Em 2007, Organização da Nações Unidas - ONU, promoveu a

assinatura de protocolos facultativos entre os países membros em prol dos Direitos das

Pessoas com Deficiência (ONU, 2007) . Na Convenção de Nova York em 2009, o Brasil

assumiu o compromisso com acessibilidade em âmbito internacional que resultou no Decreto

Federal nº 6.949/2 em 2009, o país reconhece o direito e promove ações para se estabelecer a

acessibilidade (BRASIL, 2009). Em 2012 foi institucionalizada a Lei 12.587/12, que institui as

diretrizes para Política Nacional de Mobilidade Urbana (BRASIL, 2012).

As cidades, então, a partir de então, passaram a implementar algumas soluções

buscando atender a lei, mas não necessariamente os seus usuários.

Existe uma diferença enorme na interpretação e realização por imposição da lei e o

que é verdadeiramente é efetuado visando o benefício do usuário. Isso pode ser observado

sob diversas perspectivas, seja pela qualidade das intervenções que muitas cidades adotaram,

seja pela qualidade dos materiais utilizados, ou ainda, pela inadequação das dimensões, o que

torna ainda mais evidente a falta empatia do executor com seus usuários. Em muitos casos,

nota-se uma ausência da continuidade de elementos de acessibilidade instalados nas cidades,

criando uma falsa sensação de que o lugar está acessível, cumprindo com o seu papel,

Page 3:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

criando, ao invés disso, situações que podem atrapalhar a percepção das pessoas com

qualquer necessidade especial, tornando o espaço ainda mais inseguro.

Sítios históricos apresentam sempre uma situação mais delicada, pois há uma grande

preocupação em relação a preservação de suas características originais e integridade.

Intervenções visando a acessibilidade devem prever uma adaptação à norma NBR 9050:2015,

sobre Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

Necessariamente as intervenções não devem resultar em situações comprometedoras das

características físicas existentes de um patrimônio, não são exatamente situações antagônicas.

A acessibilidade e a preservação do bem podem ser fatores unidos numa perspectiva positiva,

como instrumentos que possam proporcionar a sustentabilidade do patrimônio.

Este estudo se deterá na acessibilidade como instrumento promotor da

sustentabilidade em sítios históricos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

No dicionário Novo Aurélio, Século XXI ,FERREIRA,1999, p.1910, sustentabilidade, é

o que tem “qualidade de sustentável”, ou seja, de se manter, de permanecer.

A manutenção dos bens culturais e seus significados dependem das pessoas. A

sustentabilidade das cidades históricas está vinculada ao equilíbrio entre os valores

patrimoniais que comportam e da capacidade delas de gerir condições de acessos às pessoas.

As cidades históricas devem inclusive ter a preocupação da sustentabilidade dos seus

centros urbanos no que diz respeito ao envelhecimento da população, pois há uma crescente

concentração de pessoas nas cidades. Conforme dados do Censo 45.606.048, ou seja, 23,9%

da população total têm algum tipo de deficiência visual, auditiva, motora, mental ou intelectual

(IBGE, 2010). Além disso, o processo de concentração de idosos nas áreas urbanas é mais

visível em termos absolutos, pois acompanha o movimento geral de urbanização das

populações (MOREIRA,1998,p.24). Esse é um dos fatores que foi contabilizado nas estáticas

do IBGE 2010. A população idosa tem uma tendência de crescimento, assim, é uma realidade

que deve ser levada em conta nos planejamentos das cidades.

Acessibilidade como conceito foi evoluindo no decorrer do tempo, passou a ser

obrigatório por pressão social e se tornou sinônimo de inclusão social.

O conceito de Acessibilidade remete à possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertas ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida (ABNT 9050, 2015, p.2).

Page 4:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Para a proposição de soluções de acessibilidade aos bens culturais, devem ser

cumpridos dois requisitos: não produzir resultados incoerentes com o conjunto e dar respostas

às necessidades de qualquer visitante ou usuário. A reversibilidade das intervenções é

importante, uma vez que os avanços tecnológicos poderão possibilitar a troca dos materiais por

outros mais adequados ao longo do tempo. Assim a supressão de barreiras nos acessos aos

bens culturais deve ser executada de modo a:

a) resguardar a integridade estrutural dos imóveis;b) evitar a descaracterização do ambiente natural e construído;c) propiciar maior comunicação entre o usuário e o bem cultural;d) promover a livre circulação por todos os espaços;e) possibilitar a utilização de comodidades tais como espaços para repouso de visita e sanitários além de equipamentos e mobiliário urbanos, (RIBEIRO,2014,p.24)

Ainda segundo RIBEIRO, 2014, p16, a ideia de mobilidade deve estar voltada para as

pessoas e deve valorizar o espaço urbano:

Centros históricos, são lugares de fruição do patrimônio , então a Mobilidade e Acessibilidade Urbana deve estar voltada para as pessoas e deve valorizar o espaço urbano como lugar de encontro, circulação, cruzamento de diferenças. Ou seja, as áreas consagradas como patrimônio cultural devem se constituir em espaços onde é possível conhecer, usufruir e desfrutar do patrimônio cultural. Esses espaços devem proporcionar um deslocamento fácil e seguro para todos os usuários, além de possibilitar a permanência para sua fruição. Os centros históricos devem possibilitar o usufruto do espaço público e do patrimônio, garantindo o direito constitucional à cidade e a cultura, (RIBEIRO, 2014, p.16).

Assim, na medida em que os centos históricos passam a ter mais qualidade, a partir

de intervenções que possibilitem a mobilidade urbana e acessibilidade com segurança e

autonomia, tornam-se mais conhecidos e apropriados, o que ajudará na sua valorização.

No Brasil, segundo RIBEIRO, 2014, p.7, as questões de mobilidade e acessibilidade,

estão previstas por lei e o pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN,

mas a responsabilidade é do município em propor alternativas para atender as necessidades

de sua população.

As pessoas, por sua vez, estão cada dia mais exigentes, cientes de seus direitos, ao

mesmo tempo estão mais envelhecidas, com comprometimento de saúde e

consequentemente, com problemas de locomoção, de percepção visual ou auditiva. Novas

tecnologias ou elementos arquitetônicos podem transformar lugares inacessíveis ou inseguros

em ambientes atrativos para todos.

Page 5:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

3. ACESSIBILIDADE X SUSTENTABILIDADE

Em setembro de 2015, novamente a Organização das Nações Unidas - ONU liderou

discussões sobre planejamento das cidades, foram definidos os Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS), constituindo 17 objetivos e 169 metas para serem alcançadas até 2030 pelos

países membros. Aqui evidenciado alguns itens do objetivo número 11, o qual visa:

Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e

sustentáveis:

11.3 Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as capacidades para o planejamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países;11.4: Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo (ONU,2015);11.7 Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência, (ONU,2015,ODS 11).

Há uma grande preocupação com a acessibilidade e a salvaguarda dos bens culturais,

mas em nenhum momento se apresentaram como processos antagônicos, são ações

conjuntas e continuadas numa visão mais ampla, não demonstra haver qualquer dicotomia.

No 2º. Encontro Brasileiro das Cidades Históricas e Turísticas e Patrimônio Mundial

realizado em São Luiz , no Maranhão em 2016, foram abordadas esses objetivos colocados

pela ONU, entendendo que os objetivos e metas estabelecidos favoreceriam a sustentabilidade

das cidades históricas.

As cidades históricas não foram projetadas originalmente prevendo acessibilidade,

isso todos sabemos, são discussões contemporâneas, que requerem novas tecnologias para

cada solução. Os centros históricos, as edificações protegidas, deverão se adaptar e se

tornarem acessíveis, caso contrário, a preservação perderá o sentido ao longo do tempo,

sendo o isolamento uma situação possível de ocorrer, independente da importância do seu

acervo. As soluções devem prever a inclusão.

O IPHAN tem se posicionado favorável às questões da acessibilidade em cidades

históricas e monumentos, como segue:

Nos centros históricos brasileiros, são frequentes passeios estreitos, degraus. Alguns trajetos inseguros, automóveis disputando espaço com os pedestres. Embora seu traçado original resulte de condicionantes do processo histórico, sejam as questões de defesa, como Salvador e Olinda, seja por imposição da atividade econômica, como é o caso dos sítios mineradores de Minas Gerais e Goiás, nos dias atuais, a maioria dessas barreiras poderia ser reduzida mediante cuidados do poder público e de particulares para garantir o direito constitucional de ir e vir com segurança (RIBEIRO, 2014, p.:7).

Page 6:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Entre 2011 e 2013, o IPHAN fez estudos preliminares num grupo de quatro municípios

históricos que passaram por um plano de mobilidade e acessibilidade para conjuntos urbanos

protegidos. O projeto piloto, com a participação da população moradora, a partir de

diagnósticos, apresentou propostas para cada caso, tendo como finalidade a acessibilidade, a

mobilidade e a preservação do patrimônio urbano e ambiental. Participaram desse projeto as

cidades de Ouro Preto-MG, Laguna –SC, São Francisco do Sul –SC e Paranaguá – PR, num

primeiro esforço de demonstrar que era possível se atender a legislação e propor adaptações

aos sítios históricos. Os resultados desses estudos estão compilados no Caderno Técnico

número nove do IPHAN (RIBEIRO, 2014, p.65-80).

Conforme a Conferência de Nara (1994), cada cultura possui características

específicas relativas aos valores de seu patrimônio. O julgamento de sua autenticidade está

vinculado a uma série de fontes de informações que compreendem concepção e forma,

materiais e substância (essência), uso e função, tradição e técnicas, situação e assentamento,

espírito e sentimento e transformações históricas (IPHAN, 1994, p.3).

Alguns monumentos internacionais considerados patrimônio da Humanidade pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO tem buscado

alternativas e tecnologias para oferecer aos seus visitantes a facilidade de acesso. Assim por

exemplo o Coliseu na cidade de Roma, Itália. Um dos mais famosos em todo o mundo. Palco

de diversão lutas organizadas entre gladiadores e animais ferozes e espetáculos de batalhas

navais em uma arena cheia de água. Construção datada entre 72 dC. e 80 d.C. com

intervenções em 81 a 96 d.C, atualmente uma ruína (COLISEU, 2014). A partir de 2013,

passou a oferecer elevador para transporte de pessoas com necessidades especiais. Assim

todos os seus visitantes tem condições de visualizá-lo do alto, percebendo e vivenciando a sua

grandiosidade. Além disso, foram adaptas rampas em alguns locais mais estratégicos. Passou

a utilizar tecnologias como smartphones, para serem alugados, com tour orientado por um

intérprete virtual de linguagem de sinais em inglês e italiano (TURISMO ADAPTADO Fazendo a

Diferença na Busca pela Igualdade, 2013).

Os diversos modos de acesso disponibilizado pelo Coliseu, reforça a premissa que

não bastam rebaixamento de calçadas e rampas. Garantir o acesso físico é uma das

situações, deve haver uma preocupação com demais tipos de acessibilidades. Emprego de

soluções diversificadas, que no conjunto tornam o patrimônio acessível, como está

demostrando esse senhor de aproximadamente 1921 anos, o Coliseu, figuras 1 e 2, o qual

está dando lições de vitalidade, mostrando-se mais atual que muitos monumentos bem mais

jovens.

.

Page 7:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Fig.2-Plataforma de observação do Coliseu, acessada por elevadorImagem disponível em:

https://curtindoomundo.files.wordpress.com/2012/06/dscn4840.jpgAcesso em 09 maio 2017

Fig. 1-Elevador para acesso à plataforma de observação do monumento do Coliseu- Itália. Imagem disponível em:

https://turismoadaptado.wordpress.com/2013/09/20/coliseu-investe-em-tour-virtual-e-infraestrutura-para-garantir-acessibilidade/, Acesso em 07 maio 2017.

Page 8:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Boa parte de nossas cidades históricas são tratados como ruínas, sem na verdade

terem ainda alcançado essa condição. Manutenções mínimas, em muitos casos são bem

menores que o necessário para garantir a sua conservação e uso com segurança das pessoas.

A falta de preocupação com a acessibilidade acaba gerando inúmeras situações de

exclusividade, pois se não há calçadas com larguras adequadas, se não é oferecido carros

adaptados para se vencer trechos íngremes, se não há elevadores, nem corrimãos em

escadas, nem piso tátil, nem recursos tecnológicos que supram, pelo menos parcialmente, a

inacessibilidade com imagens e sons, muitas pessoas ficam impedidas de usufruir de um

ambiente ou espaço cultural. Será a própria condição das pessoas, o envelhecimento da

população que acabará influenciando na convivência com essas cidades. O caminho da

sobrevivência é o equilíbrio entre as questões da preservação e acessos sem barreiras, ações

inclusivas que proporcionarão a sustentabilidade e a longevidade dos nossos sítios históricos,

a exemplo do Coliseu. Afinal se preserva os monumentos históricos para quem?

Segundo Brandi, 2005, apud Assis, 2012, p.70, para aqueles que não consideram a

acessibilidade como um desafio urgente do restauro, estão adotando uma postura de

congelamento do patrimônio.

Diversos sites de turismo oferecem serviços de informação sobre cidades históricas.

Quando as pessoas buscam informações para verificarem o quanto a cidade desejada oferece

de facilidade que valesse a pena a visitação, os seus atributos históricos não necessariamente

virão em primeiro lugar nessa pesquisa, mas sim as facilidades de acesso. Lembrando, ainda,

que um sítio histórico não pode ser considerado unicamente como lugar turístico, há os

trabalhadores, os moradores, que muitas vezes estão excluídos da própria cidade. O que dizer

para eles?

O tipo de terreno, se plano ou montanhoso, apresenta basicamente a mesma

proporção de complexidade. As intervenções devem ser avaliadas não só pela presença de

elementos que proporcionam facilidades de acesso sem barreiras, mas também, pela sua

eficácia e eficiência. A utilização de tecnologias que venham facilitar essa empreitada, será

necessária sempre que houver desníveis como escadarias, ou inclinações muito íngremes

devido ao tipo do relevo que se apresenta, lançar mão de ajudas técnicas,(IPHAN, 2003,p.3).

Assim, como exemplo de uma implantação de sucesso, foi a solução encontrada para

o monumento do Cristo Redentor do Rio de Janeiro - RJ, figura 3, a instalação de escadas

rolantes com largura (80cm de largura) e velocidade adequadas( velocidade de 0,5 m/s) para

atender inclusive cadeirantes, (RIBEIRO, 2012, p.140).

Page 9:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Para vencer terrenos com inclinações muito acentuadas, como Ouro Preto, MG e

Congonhas, MG, figuras 4 e 5.

Fig.4-OUROPRETO -MGCidade histórica do século XVII e

início do XVIIIRelevo montanhoso

Acervo pessoal- registro set 2016

Fig. 3-Escadas rolantes de acesso ao monumento do Cristo RedentorFonte: MOREIRA, 2008 apud RIBEIRO, 2012, p.140.

Page 10:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

Seria necessário a implantação de circuitos estruturados com um sistema carros

acessíveis, figuras 6 e 7, oferecidos às pessoas, como por exemplo, temos:

Para as configurações planas que apresentam grau acentuado de dificuldade de

acesso devido a pavimentação, como a cidade de Paraty, RJ, figura 8, providenciar um circuito

acessível nas ruas é uma das soluções possíveis como o exemplo da cidade de Pirenópolis –

Fig. 5 -CONGONHAS- MG(Santuário do Bom Jesus de Matosinhos)

Cidade histórica do século XVIIIRelevo montanhoso

Acervo pessoal- registro set 2016

Fig.6 -Vans acessíveis para vencer relevos íngremes

Disponível em:http://

www.eurovan.com.br/aluguel-carro-van-

cadeirante.php. Acesso em 06 maio 2017

Fig. 7-Carros acessíveis para vencer relevos íngremes

Disponível em::http://www.blogdocadeirante.

com.br/2014/07/. Acesso em 06 maio 2017

Page 11:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

GO, que instalou passarelas com piso regular, mantendo ainda o original, mas permitindo um

trajeto adequado aos usuários. Além disso, Paraty necessita de estabelecer também acessos

adequados aos seus edifícios, além de sinalização, e banheiros adaptados.

Há um exemplo em Pirenópolis-GO, figura 9, resultante de um projeto denominando

“Pirenópolis sem Barreiras”, realizado em 2000. No qual foram feitas passarelas com piso

regular, sobre um piso original (SOARES,2003: 116, apud RIBEIRO, 2014, p.47).

Fig. 8 -PARATY -RJRua de Paraty

Cidade histórica da segunda metade do século XVIII e primeiras décadas do século XIX

Relevo planoAcervo pessoal. Registro em jan 2014

Fig. 9 -PIRENÓPOLIS-GOExemplo de passarelas com piso regular desenhando

um circuito acessível.Foto: Silvio Cavalcanti,2014

RIBEIRO, 2014, P.47- Caderno de Mobilidade e Acessibilidade Urbana em Centros Históricos No. 9.

Page 12:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

As áreas históricas não se restringem ao sítio histórico em si, devem ser consideradas

de maneira global, as instalações, o desenho urbano, os meios de transportes integrados, a

segurança, concorrem para a promoção de bem estar da população e acesso pleno a todas

as áreas da cidade.

.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A projeção apresentada pela ONU em 2015 com os Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS) previstos para serem alcançados até 2030 coloca em pauta as

discussões, entre outros assuntos que envolvem questões de sustentabilidade, a inclusão sem

barreiras. Como alcançar essas metas vai depender de cada país, das leis reguladoras, dos

atores envolvidos neste processo e principalmente na pressão social exigindo de seus

governos um posicionamento mais atuante que promova a inclusão das pessoas com

deficiência.

No Brasil, as discussões sobre acessibilidade vem sendo apresentadas em diversas

oportunidades, mais fortemente após a promulgação da Lei 12.587/12. São muito pertinentes

e atuais, mas há urgência de um enfrentamento dessas questões visando a sustentabilidade, a

inclusão, a acessibilidade sem barreiras com a participação popular de pessoas com

deficiência, buscando ir de encontro as necessidades reais dos usuários, pois são assuntos

que dizem respeito a vida diária das pessoas. Lançar mão de tecnologias apropriadas para

assegurar a acessibilidade, a segurança e a autonomia das pessoas, é necessário.

A discussão, a ação de discutir, tem sido praticada nos congressos, nas

universidades. A ação prática, resultante, tem sido muito tímida. As soluções arquitetônicas

podem tornar as cidades históricas acessíveis e inclusivas, evitando um futuro isolamento.

A sustentabilidade busca o equilíbrio e auxiliará nos planejamentos e na permanência

das cidades ao longo do tempo. Em se tratando de patrimônios históricos, necessita de

planejamento e estratégias para prover no futuro a continuidade e manutenção dos mesmos.

Não alcançaremos nenhum estágio sustentável para as nossas cidades históricas apenas

com discussões. As ações devem trazer soluções para os espaços buscando a harmonia do

ambiente das cidades.

REFERÊNCIASABNT NBR 9050:2015 Acessibilidade A Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. Disponível em: http://www.ufpb.br/cia/contents/manuais/abnt-nbr9050-edicao-2015, p.2, Acesso em 04 Maio 2017.

Page 13:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

ASSIS, Elisa Prado de, Acessibilidade no Bens Culturais Imóveis: Possibilidades e Limites nos Museus e Centros Culturais, Dissertação apresentada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo- USP, 2012,p.70. Disponível em: file:///C:/Users/Ecio/Downloads/ACESSIBILIDADE%20NOS%20BENS%20CULTURAIS%20Elisa_Prado_Assis_ME%20(2).pdf, Acesso em: 12 maio 2017.

BRASIL, Constituição Federal de 1988, art. 215. Disponível em:.http://www.senado.gov.br/atividade/const/con1988/con1988_08.09.2016/art_215_.aspfile:///C:/Users/Ecio/Downloads/constituicao_federal_35ed.pdf, Acesso em: 12 maio 2017.

_____, DEC 6.949/2009 Promulga a convenção internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência 25/08/2009.Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm, Acesso em 06 maio 2017.

_____, Lei 12587/12 ,Política Nacional De Mobilidade Urbana, 2012.Disponível em: fonte http://www.emdec.com.br/eficiente/repositorio/6489.pdf, Acesso em 06 maio 2017.

Carros acessíveis .Disponível em: :http://www.blogdocadeirante.com.br/2014/07/, Acesso em 06 maio 2017.

COLISEU. Disponível em: http://romaitalia.com.br/Coliseu.htmlA, . Acesso em 11 maio 2017.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Novo Aurélio- Sec. XXI, Ed. Nova Fronteira, 1999, p.1910.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo 2010. Disponível em: http://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em: 12 abr 2016.

IPHAN, Patrimônio Cultural,2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218 .Acesso em 05 maio 2017.

_____, Instrução Normativa No. 1, 2003, p.3. Disponível em: http://www.comphap.pmmc.com.br/arquivos/lei_federal/instrucao_01_2003.pdf, Acesso em 05 maio 2017.

_____, Manual de Acessibilidade em Centros Históricos está disponível no site do Iphan.Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/65/, Acesso em 05 maio 2017.

_____, Conferência de Nara.1994, p.3. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Conferencia%20de%20Nara%201994.pdf, Acesso em 05 maio 2017.

MOREIRA, Morvan de Mello, Envelhecimento da População Brasileira: Aspéctos Gerais, 1998, p. 24. Disponível em: http://www.ciape.org.br/matdidatico/enfermagem/envelhecimento_populacao_brasileira.doc,Acesso em: 12 maio 2017.

ONU, Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,2007. Disponível em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=424-cartilha-c&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192

Page 14:  · Web viewRessaltando-se ainda, a importância dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), colocados pela ONU na agenda universal, constituída de 17 objetivos e 169 metas

_____, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável- 17 OBJETIVOS PARA TRANSFORMAR NOSSO MUNDO, Objetivo 11. Tornar As Cidades e os Assentamentos Humanos Inclusivos, Seguros, Resilientes e Sustentáveis. Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/ods11/, acesso em 05 maio 2017.

RIBEIRO, Sandra Bernardes, Mobilidade e Acessibilidade Urbana Em Centros Históricos, Caderno Técnico 9 ,Organização,IPHAN,2014, p7, p.16, p.24, P.47, p.65-80. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/CadTec9_CadernoAcessibilidade_m.pdf, acesso em: 07 maio 2017.

RIBEIRO, Gabriela Souza Martins; BEZERRA, Laura; MONTEIRO, Circe Maria Gama. O desafio da acessibilidade física diante da sacralização do patrimônio histórico e cultural, PROARQ 19, 2012, p.140. Disponível em: <http://www.proarq.fau.ufrj.br/revista/public/docs/cadernosproarq19.pdf>, acesso em 11 maio 2017.

Trajetos com sinalização para pessoas com baixa visão. Disponível em :http://poracaso.ocponline.com.br/noticias/piso-tatil-estamos-fazendo-nossas-calcadas-direito, acesso em 06 maio, 2017.

TURISMO ADAPTADO Fazendo a Diferença na Busca pela Igualdade.Disponível em: https://turismoadaptado.wordpress.com/2013/09/20/coliseu-investe-em-tour- virtual-e-infraestrutura-para-garantir-acessibilidade/, acesso em 06 maio 2017.

Vans acessíveis. Disponível em: http://www.eurovan.com.br/aluguel-carro-van-cadeirante.php, acesso em 06 maio 2017.