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Segunda parte do estudo Seja quem você é - Um cidadão peregrino. Ideal para pequenos grupos.
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Estudos doutrinários sobre a Identidade Cristã – Quinta, 24 de abril de 2008.
Peregrinação Espiritual no Novo Testamento
A Nova Aliança também compara os crentes a peregrinos. O próprio Jesus se
apresentou como O Caminho, em Jo 14:6. Os seus discípulos passarem a ser
conhecidos como os seguidores “do Caminho” (At. 9:2; 19:9, 23; 22:4; 24:14,
22). Isso aponta tanto para o compromisso particular, como para o
compromisso público com o Mestre.
Além de Lucas, no livro de Atos, outros escritores bíblicos trataram sobre o
assunto da peregrinação cristã.
Paulo
Paulo, escrevendo aos filipenses, sabia que aqueles irmãos se sentiam
importantes por fazerem parte de uma colônia romana1. Mesmo assim, o
apóstolo lembra-lhes de que possuíam uma outra cidadania, infinitamente
superior: ... a nossa pátria [cidadania] está nos céus, de onde também aguardamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo. (Fp.3.20). Usando a palavra cidadania (pátria), Paulo
sabia que isso “apelaria a eles e para algo que eles podiam entender
facilmente” 2. Assim, ele lembrou àquela igreja da sua natureza peregrina, e
com isso, talvez, tenha sugerido que, sendo uma colônia do céu na terra, a
igreja é responsável por espalhar sobre os povos “os costumes, a cultura, os
modos de vida e leis de sua pátria celestial” 3, aguardando desse modo a
segunda vinda de Cristo (Fp. 3.20,21).
Hebreus
A carta aos hebreus, por sua vez, comparou a jornada da igreja com a
peregrinação do povo de Israel pelo deserto (3.7-4.13). O objetivo era alertar
1 “Para proteger o império, os Romanos estabeleciam alguns dos seus cidadãos fiéis (normalmente veteranos de guerra) em várias cidades e então as governavam do mesmo modo que a cidade de Roma era governada. Uma colônia romana era organizada e controlada pela lei Romana, e os cidadãos da colônia tinham os mesmos privilégios de quem vivia em solo italiano. Era uma alta honra para uma cidade ser chamada de colônia, e os residentes faziam de tudo o que pudessem para trazer glória ao nome de Roma” (Wiersbe, W. W., Be what you are: 12 intriguing pictures of the Christian from the New Testament . Tyndale House: Wheaton IL,1996).
2 Martin, R. P., Word Biblical Commentary: Philippians. Vol. 43, Word, Incorporated, Dallas, 2004.
3 Idem.
Estudos doutrinários sobre a Identidade Cristã – Quinta, 24 de abril de 2008.
aos crentes, para que evitassem cometer os mesmos erros daquele povo e
perseguissem a santificação 4.
Além desse alerta, alguns crentes peregrinos do passado foram
apresentados como bons exemplos. Abraão, Isaque e Jacó tinham consciência
de que eram “estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (11.13), e acreditavam estar
“procurando uma pátria” (11.14).
Os cristãos que receberam essa carta passavam por uma fase difícil, e
precisavam de incentivo para continuar firmes (Hb.4.14; 10.23). A confissão
dos patriarcas, de que eram peregrinos e forasteiros sobre a terra (11.13), “deveria
ser entendida como um termo técnico significando uma pública profissão de fé.
Isto serve para alinhar a resposta de fé dos patriarcas à dos membros da
comunidade cristã, que estavam sendo estimulados a conservar firmes a sua
confissão” 5.
Tanto o mau exemplo do povo de Israel no deserto como o bom exemplo
dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, deveriam ambos servir como advertência
e incentivo aos cristãos em todos os tempos, para que eles tanto corrigissem
suas faltas pelas dos outros, como também imitassem aos que andaram e
trabalharam neste mundo sem perder de vista a pátria superior, prometida por
Deus.
Pedro
O apóstolo Pedro, em sua primeira carta, também considera a vida cristã
como uma peregrinação (I Pe. 1.17), e chama os crentes de peregrinos e
forasteiros (I Pe.2.11).
Pedro afirma estar escrevendo de Babilônia (1 Pe.5.13). Provavelmente, ele
usa aqui uma linguagem figurada, para falar de si mesmo e dos cristãos como
um povo exilado, longe de casa, assim como foi o caso dos judeus aprisionados
na poderosa Babilônia do tempo de Daniel, 650 anos antes de o apóstolo
escrever sua carta. Porém, a Babilônia dos dias de Pedro era bem diferente, e
4 Trotter, Jr, A., Interpreting the Epistle to the Hebrews, Grand Rapids, Baker Book, 1997, p. 214.
5 Lane, W. L., Word Biblical Commentary- Hebrews 9-13, vol. 47B: Dallas, Word, Incorporated, 2002.
Estudos doutrinários sobre a Identidade Cristã – Quinta, 24 de abril de 2008.
não passava de “uma vila pequena e insignificante; não há nenhuma indicação
de que Pedro a tivesse jamais visitado”. 6
A comparação feita por Pedro acontece em três partes da carta:
Em 1.1, Pedro considera os crentes como ... forasteiros da Dispersão
Em 1.17, ele orienta: … portai-vos com temor durante o tempo da vossa
peregrinação,
Em 2.11, ele apela aos crentes: Amados, exorto-vos, como peregrinos e
forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a
alma...
Os crentes são chamados de forasteiros e peregrinos. Em geral a diferença
possível entre essas duas palavras é que “um forasteiro está longe de casa,
mas um peregrino está a caminho de casa7”. Porém, Pedro não parecia
interessado em apontar diferenças entre os dois termos, que aparecem juntos
em 2.11, e lembram Gn. 23.4, onde Abraão se considera “estrangeiro e morador”
entre o povo Hitita. Parece que o principal interesse de Pedro é com a vida
moral dos crentes (que devem temer a Deus, 1.17, e evitar paixões carnais,
2.11). Agindo assim, os crentes andariam verdadeiramente “como estrangeiros
cuja verdadeira cidadania está nos céus” 8.
Considerações Finais
Através da Bíblia, vimos que a comparação dos crentes com peregrinos vem
desde Abraão, aquele que foi peregrino em todos os sentidos. Vimos também
que andar no Caminho, além de ser privilégio do cidadão dos céus, requer o
esforço de toda uma vida, como bem escreveu João Bunyan, em seu famoso
livro O Peregrino:
Quero dar-te alguns esclarecimentos sobre o caminho que deves seguir. Olha para frente. Estás vendo um caminho estreito? É por esse caminho que deves seguir. Não desanimes. Por ele passaram os profetas, os patriarcas e os apóstolos. Há muitos desvios, mas, se não te queres desviar, segue sempre o caminho reto, que é estreito e difícil... Não te desanimes. Prossegue alegremente, e quando menos esperares esse fardo desaparecerá9.
6 Mays, J. L., Harper & Row, P., & Harper's Bible commentary, San Francisco, Society of Biblical Literature.,1996.
7 Wiersbe, op.cit.8 Black, A., & Black, M. C., The College Press NIV commentary- 1 & 2 Peter, College Press Pub.,
Joplin, Mo. 1998.9 Bunyan, João, O Peregrino, São José dos Campos, Editora Fiel, 2003, p. 30.
Estudos doutrinários sobre a Identidade Cristã – Quinta, 24 de abril de 2008.
Como povo do Caminho, é confortante saber que Deus está com os Seus
filhos durante a jornada, quer estejam juntos ou separados. Tentações e
dificuldades – vindas de fora ou do próprio coração – deverão surgir. De
qualquer modo, o peregrino cristão nunca, jamais, andará sozinho.
Minha Segurança
Somente contigo e com ninguém mais
Meu Deus,
Seguirei em meu caminho.
O que posso temer, quanto Tu estás por perto,
Ó Rei da noite e do dia?
Mais seguro estou em Tua mão, do que se um exército
Estivesse ao meu redor10.
10 Oração de Columba de Iona, sexto século, in: A Prayer Treasury, Colorado Springs, A Lion Book, 1998, p.24.