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    PODER JUDICIRIO

    T R I B U N A L DE J U S T I A D O E S T A D O D E S O P A U L O

    ACRDO

    T

    A I ? A o n f P

    E JUST

    I

    |

    D E S

    0 P ULO

    ACRDO/DECISO MONOCRTICA

    REGISTRAD O(A) SOB N

    T

    1

    1

    I

    SOCIEDADE DE ADVOGADOS - Agravo retido no

    acolhido - Ao de nulidade de contrato de sociedade

    de advogados - Requisito de validade de serem os

    scios advogados, segundo norma cogente do

    Estatuto do Advogado - Infundada a tese dos rus de

    que a sociedade no de advogados, mas de

    prestao de servios, se tais servios so de natureza

    estritamente judicial - Inexistncia de incapacidade do

    advogado autor para celebrao do contrato

    -

    Ao

    de nulidade julgada procedente

    PRESTAO DE C ONTAS - Ao julgada parcialmente

    procedente, reconhecida a sociedade de fato entre as

    partes advogados - Advogada r, que recebeu verbas

    de sucumbncia a serem repartidas igualmente com o

    advogado

    autor

    que lhe deve contas

    INDENIZAO POR DANO MORAL - Ao julgada

    improcedente, pois as condutas dos rus no foram

    suficientes para causar qualquer dano imagem ou

    honra do

    autor

    bem como sua depresso profunda -

    Simples fato de noticiarem nos autos que o advogado

    autor se encontrava suspenso do exerccio

    profissional que constitui dever de ofcio, de fato

    verdadeiro.

    Distribuio das verbas de sucumbncia das trs

    aes conexas que no comportam qualquer reparo -

    Recursos no providos.

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de

    Apelao Cvelr\-543.251.4/0-00 da Comarca de SO CAETANO DO

    Apelao Cvel n

    s

    543.251.4/0-00 - SO CAETAN O DO SUL - Voto n

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    SUL, onde figuram como apelantes e, reciprocamente, apelados

    CARLOS CONR ADO e DOROTI M ILANI AGUIAR E OUTRO:

    ACORDAM, em Quarta Cmara de Direito

    Privado do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, por

    unanimidade negar provimento aos recursos, de conformidade com o

    relatrio e voto do Relator designado, que ficam fazendo parte do

    Acrdo.

    So recursos de apelao interpostos contra

    a r. deciso de fls. 117/20, que julgou procedente a ao ordinria de

    nulidade contratual, com pedido de tutela antecipada, ajuizada por

    CARLOS CONRADO em face de DOROTI MILANI AGUIAR E

    OUTRO, para o fim de decretar a invalidade do contrato de sociedade

    de advogados de fls. 23/25, por legitimao de um dos contratantes.

    Reconheceu a existncia de sociedade de fato entre os dois

    advogados, fixando em 50% o valor da verba honorria devida a cada

    uma das partes (autor e primeira r) nos processos em que atuaram

    em parceria.

    A r.

    decisum

    julgou ainda parcialmente

    procedente a ao de prestao de contas que se processa em

    apenso

    (processo n- 575/06),

    condenando os rus a prestarem as

    contas pedidas, com exceo daquelas j prestadas.

    Finalmente a sentena julgou improcedente a

    ao de indenizao por danos morais (processo n- 567/06), por

    entender inexistir violao a direito de personalidade por mero

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    fl

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    inadimplemento contratual e por ter a primeira r comunicado nos

    autos que o autor se encontrava suspenso dos quadros da OAB.

    Ambas as partes recorreram da sentena.

    Recorre o autor CARLOS CONRADO

    alegando, em sntese, que se encontrava incapaz no momento da

    assinatura do contrato de sociedade de advogados, devendo

    prevalecer o acordo verbal estabelecido entre o apelante e a primeira

    r ,

    de diviso dos honorrios advocatcios na proporo de 60% para o

    apelante e 40% para a apelada. Insiste que a percepo diferenciada

    do rateio dos honorrios se justifica, pois arcou com sozinho com as

    despesas dos processos e atuou sem ajuda por quase uma dcada.

    No tocante ao de prestaes de contas,

    aduz o autor recorrente que os documentos apresentados pelos rus

    no podem ser considerados como uma prestao de contas, pois

    sequer foram acostados os recibos de depsito e dos pagamentos

    aduzidos. Depreende-se que os rus tentam criar um passivo para no

    pagar o devido ao ap elante.

    J no que concerne ao dano moral, afirma o

    autor que a certido expedida pela Ordem dos Advogados do Brasil

    para informar ao juzo competente que o autor estava suspenso do

    exerccio profissional denota conduta foram antitica e imoral,

    causando dano a sua honra e imagem, alm de depresso profunda.

    Por fim, o autor recorrente alega que as

    verbas de sucumbncia e os honorrios advocatcios devem ser

    custeados pelos rus, j que f oi ele o vencedor da lide.

    Irresignados, os rus DOROTI MILANI

    AGUIAR E OUTRO tambm recorrem, alegando, em sntese, que no

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    houve vcio de consentimento no negcio jurdico firmado com o autor.

    Insistem que sociedade firmada pelas partes no de advogados, mas

    mera prestadora de servios, motivo pelo qual no se pode alegar sua

    invalidade sob o fundamento de um dos membros no ser advogado.

    No que tange a ao de prestao de contas,

    alegam os rus, preliminarmente, que o autor deixou de recolher as

    custas processuais, apesar de lhe ter sido negada a concesso dos

    benefcios da justia gratuita, sendo , portanto, nulo o processo.Quanto

    ao mrito da ao, afirmam os rus que sempre prestaram contas ao

    autor e que ele deveria provar docume ntalmente os fatos que alega .

    Os recursos foram contrariados (fls. 573/579

    e 581/597).

    o relatrio.

    1.

    Rejeita-se inicialmente o agravo retido

    interposto pelos rus s fls. 467/468.

    Sustentam os rus cerceamento de defesa,

    em razo da dispensa da colheita do depoimento pessoal do autor em

    audincia. O frgil recurso no se sustenta, por m ais de uma razo.

    Primeiro, porque o autor no foi intimado

    especificamente a prestar depoimento pessoal, sob pena de confesso.

    Segundo, porque ocorreu a oitiva de

    testemunhas sem protesto dos agravantes. O tardio pedido de

    depoimento pessoal inverteria a colheita da prova, causando potencial

    nulidade.

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    Terceiro, o indeferimento do pedido se deu em

    audincia, oportunidade em que os agravantes deixaram de manifestar

    inconformismo no prprio termo.

    2.

    Tambm no prospera a preliminar de

    nulidade da ao de prestao de contas, por falta de recolhimento das

    custas do processo.

    Da anlise dos autos tem-se que o autor

    recolheu devidamente as custas processuais, conforme demonstra o

    documento de f ls. 152/155 da ao de prestao de constas (apensa aos

    autos principais).

    3. Quanto ao mrito, os recursos de apelao

    no merecem provimento, e a lcida sentena se mantm por seus

    prprios e bem deduzidos fundamentos.

    A lide principal tem por objeto a nulidade de

    contrato, sob duplo fundamento: incapacidade do autor e falta de

    legitimao do ru, por no ser advogado.

    Reconheceu a sentena - e bem - a nulidade

    do contrato rotulado de Sociedade Civil de Trabalho (fls. 23/25), na

    verdade de sociedade civil de advogados para prestao de servios

    jurdicos em demandas judiciais.

    No h qualquer incapacidade do autor a ser

    reconhecida. Isso porque, segundo o laudo mdico de fls. 302/304 e 311,

    o autor esteve internado no perodo com preendido entre 09 de fevereiro e

    23 de maro de 2.004, enquanto o acordo supracitado apenas fo i firmado

    em 27 de m aro daquele ano, ou seja, aps a alta m dica.

    O contrato realmente nulo, mas por razo

    diversa. Embora rotulado de Contrato de Sociedade Civil de Trabalho (fls.

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    23/25), depreende-se que a sua causa, a operao econmica que

    pretendia realizar, de acordo com a clusula 1

    a

    .,era a formao de uma

    sociedade de advogados, a qual ter como objetivo prestar todos os

    servios inerentes pro issode maneira conjunta ou individualmente... .

    Na clssica lio de

    Enzo Roppo,

    embora seja o

    contrato um conceito jurdico, reflete uma realidade exterior a si prprio,

    pois sempre traduz uma operao econmica

    (O Contrato, Almedina,

    Coimbra, 1.988, ps. 7 e seguintes).

    Tal constatao est intimamente

    ligada noo de causa do negcio jurdico, ou seja, o fim econmico e

    social reconhecido e garantido pelo direito, uma finalidade objetiva e

    determinante do negcio que o agente busca alm do fato em si mesmo

    (Caio Mrio da Silva Pereira, Instituies de Direito Civil, 18

    a

    Edio,

    Forense, vol. I, p. 319).

    Determinantes para definir o regime jurdico

    sero a atividade e a causa do negcio entabulado pelas partes, ainda

    que rotulado de modo diverso.

    Determinantes para definir o regime jurdico sero

    a atividade e a causa do negcio entabulado pelas partes, ainda que

    rotulado de modo diverso. Na lio da melhor doutrina estabelecendo-se

    o nexo de causalidade entre o efeito e o ato, chega-se disciplina

    aplicvel ao negcio

    (Maria Celina Bodin de Moraes Tepedino, O

    procedimento de qualificao dos contratos e a dupla configurao

    do mtuo no direito civil brasileiro, Revista Forense, Vol. 309, p.35).

    Em poucas palavras, o contrato rotulado de

    trabalho, na verdade, tinha como causa, como fim econmico e jurdico, a

    criao de sociedade para prestao de servios privativos de

    advogados.

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    fato incontroverso que um dos scios - ou

    contratantes - Walmir Cavalcanti de Aguiar, no e nem nunca foi

    advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB.

    Pois bem. texto expresso do Estatuto da

    Advocacia que um dos requisitos para a formao da sociedade de

    advogados de que todos os scios, sem exceo, sejam advogados

    regularmente inscritos na OAB. A inobservncia de tal elemento essencial

    acarreta a invalidade do contrato, pois viola frontalmente norma de ordem

    pblica (artigo

    3 -

    da L. 8.906/94).

    Nulo o contrato escrito, remanesce a

    sociedade de fato, verbalmente acordada, entre o advogado autor e a

    advogada r.

    Absolutamente correta a sentena ao

    determinar que o rateio dos honorrios se faa em igual proporo entre

    as partes, diante da ausncia da mais plida prova no sentido de

    consenso de rateio desigual, em maior proporo para o autor.

    Frgeis os argumentos postos no recurso, de

    que o autor arcou com o pagamento das despesas dos processos e

    atuou por maior tempo, diante da absoluta falta de prova a respeito dos

    fatos.

    4.

    Tambm correta a sentena ao julgar a

    ao de prestao de contas.

    As contas foram parcialmente prestadas pelos

    rus,

    no perodo que medeia entre maro e outubro de 2.004 (fls. 18/27).

    Se o autor discorda das contas, a questo outra. Nada impede o

    ajuizamento de ao de cobrana de eventual diferena a que se julgue

    credor.

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    Em relao ao restante do perodo em que

    perdurou a sociedade de fa to entre as partes, so devidas as contas, pois

    os rus levantavam em nome prprio honorrios que pertenciam

    parcialmente ao autor.

    No prospera a alegao dos rus de que

    sempre prestaram contas ao autor e que deveria ele provar os fatos que

    alega.

    Isso porque,

    qualquer dos scios tem direito de pedir aos dem ais

    que prestem co ntas de suas gestes sociais

    (JTJ 172/129),

    (Theotnio

    Negro, Cdigo de Processo Civil,3 7

    ed., Ed. Saraiva, So Paulo,

    2.005, p. 907).

    5. Finalmente, no que diz respeito

    indenizao por danos morais, tambm foi correta a deciso proferida

    pelo M M. Juiz a

    quo.

    O simples inadimplemento o dever de prestar

    contas, ou de repassar parte dos honorrios advocatcios, por si s,

    insuficiente para lesar direito da personalidade do credor e gerar

    pretenso de indenizao por danos morais.

    Tambm se mostra dbil o argumento de que

    o dano moral decorre da informao prestada pelos rus ao juzo, de que

    o advogado autor teria sido suspenso pela OAB durante certo perodo.

    O fato da suspenso do exerccio da

    advocacia rigorosamente verdadeiro, no negado sequer pelo autor.

    No somente era faculdade, mas dever de ofcio dos rus comunicar o

    fato aojuzo,diante de suas conseqncias processuais.

    bvio o dever de advogados comunicarem ao

    juiz a suspenso de advogado, quer colega de escritrio, quer ex

    adverso,

    com o propsito de evitar nulidades processuais. Diga-se, alis,

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    que tal providncia caberia ao prprio autor, por dever de lealdade

    processual.

    No mais, a prpria OAB divulga, publica e

    comunica aos tribunais periodicamente a lista dos advogados suspensos

    ou eliminados, de modo que o fato j era pblico, verdadeiro, e em nada

    violou a honra ou o bom nome do autor.

    6. Correta tambm a distribuio das verbas

    de sucumbencia, diante do decaimento parcial das partes nas trs aes

    conexas.

    Como o autor venceu inteiramente uma ao,

    parcialmente outra e perdeu a terceira, corretamente arbitrou-se na

    sentena que as custas deveriam ser custeadas por ambas as partes, na

    proporo de 60 % para os rus e 40% pelo autor.

    Correta, em suma, a sentena, no havendo

    nada nela que ser alterado.

    Em face do exposto, pelo meu voto, nego

    provimento aos recursos.

    Participaram do julgamento, os

    Desembargadores nio Zuliani (Presidente e Revisor) e Teixeira Leite (3

    Juiz).

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