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    Flexibilizao e DesregulamentaoPor: Mario Antonio Lobato de Paiva

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    II

    FLEXIBILIZAO E DESREGULAMENTAO

    M. A. Lobato de Paiva(*)

    A flexibilizao o imperalismo atualizado,

    o neoliberalismo, o retorno high tech ao

    feudalismo.

    M. A. Lobato de Paiva

    As persistentes crises contemporneas tem tido um impacto particularmente

    destrutivo sobre o emprego, pondo em causa o modelo tradicional do Direito do Trabalho,

    tal como foi sendo construdo na sua poca urea, em particular nos anos 60. Esse modelo

    de Direito do Trabalho, assegurando um acrscimo de tutela dos trabalhadores, tem sido

    acusado de constituir fator de rigidez do mercado de emprego e da alta de custo do

    trabalho, e , nessa medida, de contribuir para o decrscimo dos nveis de emprego.

    Da que as legislaes tendam hoje para a flexibilizao, admitindo-se com mais

    facilidade a mobilidade geogrfica e profissional dos trabalhadores e a suspenso e a

    cessao dos contratos de trabalho.

    Fala-se ao mesmo tempo, de desregulamentao, ou seja, da progressivasupresso de regras imperativas, como o correspondente alargamento da liberdade de

    (*)Mario Antonio Lobato de Paiva advogado membro da Union Internationale des Avocats sediado en Pars,Francia; integrante de la Red Mexicana de Investigadores del Mercado Laboral; colaborador da Revista do

    Instituto Goiano de Direito do Trabalho; Revista Forense; do Instituto de Cincias Jurdicas do Sudeste Goiano eRevista de Jurisprudncia Trabalhista Justia do Trabalho; Autor de diversos artigos e do livro A Lei dosJuizados Especiais Criminais editora forense, 1999.

    Endereo para Correspondncia: Paiva Advocacia- escritrio Travessa Frutuoso Guimares n 300, Ed.Ana Cristina, 1

    andar. Fone: 984-48-4 e 223-92-93, e-mail: [email protected]

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    III

    estipulao. Verifica-se um significativo recuo da fora imperativa das leis do trabalho,

    admitindo-se que as convenes coletivas as adaptem com vista a setores ou empresas em

    crise. Em suma, a legislao do trabalho est mais aberta economia e s necessidade de

    adaptao conjuntural.

    Assiste-se ao fim do sempre mais, isto , da crena do progresso social ilimitado e

    sem recuos, pelo acrscimo de regalias para os trabalhadores. Na verdade, a conjuntura

    tem forado os trabalhadores a suportarem condies de trabalho menos favorveis e- aqui

    e alm a verem retiradas conquistas que se pensava estarem a repercurtir os seus efeitos

    no funcionamento dos sistemas de proteo dos trabalhadores.

    O novo Direito do Trabalho beneficia, cada vez mais, do protagonismo dos grupos

    organizados e que buscam consensos trilaterais (Estado, organizaes de empregadores e

    organizaes de trabalhadores), que se exprimem em convenes ou pactos sociais. O

    sindicalismo tem perdido a fora e militncia, mas ganha poder de interveno nas

    decises polticas, econmicas e sociais.

    de resgistrar igualmente o declnio da classe operria como tal e a ascenso dos

    setores de servios e de certos trabalhadores autonmos, num mundo em que se vai

    esbatendo a concentrao industrial, se vo diversificando as grandes empresas e se

    encontram formas mais maleveis de organizao (a propsito deste conjunto de

    problemas fala-se de terceirizao).

    O atual Direito do Trabalho surge pela idia e pelos mecanismos de concertao

    social. Fenmeno dos nosso dias, potenciado pela evoluo das crises econmicas, a

    progressiva interveno tripartida dos parceiros sociais (sindicatos, associaes patronais e

    Governo) para consensualmente definirem e executarem a poltica econmica e social.

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    IV

    Este fenmeno corresponde a um novo esprito do Estado, menos centralizado, mais aberto

    aos grupos naturais e mais preocupado com a eficcia de seus atos. a este propsito que

    se referem constantemente as idias de participao, de concertao e de busca de

    consensos, que expressam um mtodo de administrar e legislar em que o Estado sepreocupa:

    A) em ouvir os principais interessados (p.ex., sindicatos, empresrios) e em trocar

    informaes e discutir as medidas a tomar;

    B) em aferir com esses interessados as tcnicas de sua prpria interveno,

    pretendendo persuadi-los em vez de utilizar esquemas de mera autoridade;C) em corresponsabilizar esses interessados na definio de polticas econmico-

    sociais e na respectiva execuo.

    Este mtodo de administrao do Estado exprime-se normalmente por acordos,

    subscritos pelo Governo e pelas confederaes patronais e de Centrais sindicais e estende-

    se, por vezes, a domnios to vastos que para eles apropriada designao de PactoSocial.

    A sua funo a de realizar, no domnio propriamente social, a poltica de

    concentrao permanente, inspirada na idia de que os interesses dos empresrios e os

    interesses dos trabalhadores so, por natureza, solidrios, embora divergentes ou opostos

    entre si. Quer dizer: o jogo destes interesses no um jogo estratgico ou de soma zero.

    Pelo contrrio, nele ambos os parceiros podem ganhar se evitarem a ecloso, de conflitos

    agudos e o emprego de mtodos drsticos, compondo com a justia possvel suas naturais

    diferenas.

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    V

    Nem sempre tm sido animadores os sucessos da concertao social tripartida ou do

    pacto social alargado. Contudo, em certos pases europeus exemplar o caso austraco-

    so extraordinrios os resultados de um sistema de concertao que permite

    simultaneamente a paz social e nveis elevados de desenvolvimento econmico, numquadro de vida democrtico. Mesmo nos pases latinos, podem-se encontrar sucesso

    assimilveis, como em Itlia e na vizinha Espanha, traduzidos em acordos-quadro que

    permitem razovel estabilizao econmica e social.

    ainda de notar que o direito laboral se debate entre dois impulsos de sinal

    contrrio: de uma parte, a sua generalizao a todo o mundo do trabalho (deixa de ser umdireito operrio para abranger os trabalhadores autonmos, da administrao pblica); de

    outra parte, a tendencial excluso do seu quadro tutelar de certos privilegiados.

    Reconhece-se, com efeito, que a posio dos quadros superiores pouco tem que ver

    com o conjunto de princpios e de questes em torno dos quais se estrutura o Direito do

    Trabalho. Da que se venha caminhando no sentido da distino de regimes.

    So imprevisveis os reflexos do Direito do Trabalho nos acontecimentos da

    atualidade. O descrdito do marxismo e a perda da sua capacidade de mobilizao e a das

    foras sindicais a ele ligados, o desaparecimento do bloco sovitico, o desmantelamento

    dos regimes socialistas de planificao central pelas prprias massa de trabalhadores, a sua

    transio para o sistema de mercado, a volatizao de referncias como o chamado

    socialismo real e as vrias revolues socialistas, as modificaes na diviso internacional

    do trabalho e a emergncia de novos pases e a terceirizao, tudo isto ter seguramente

    um influxo profundo nas mentalidades dos trabalhadores, na conscincia coletiva e na

    orientao dos sindicatos e movimentos de massas.