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INTRODUÇÃO 2 CORÍNTIOS Autoria Não há qualquer dúvida sobre o fato de que o apóstolo Paulo foi o autor dessa segunda carta endereçada à Igreja em Corinto. Alguns meses depois de escrever 1 Coríntios, Paulo decidiu que era necessário realizar um encontro pessoal aos irmãos coríntios, mesmo que essa visita fosse representar um momento doloroso para todos, era imperioso que acontecesse urgente. Os problemas e desvios doutrinários apontados por Paulo, em sua primeira carta, ainda não haviam sido corrigidos (2Co 2.1; 12.14; 13.1-2). Houve, ainda, uma terceira carta, enérgica e pesarosa (2.4), mas, segundo a providência divina, perdeu-se no tempo e no espaço sem jamais ter feito parte do cânon neotestamentário. Alguns historiadores e teólogos sugerem que os capítulos 10 a 13 poderiam ser parte da carta “corretiva ou severa”, contudo não há qualquer evidência real em favor de tal divisão em 2 Coríntios. Propósitos Essa é uma epístola apostólica enérgica e corajosa. O principal objetivo de Paulo, claramente expresso pela maneira fraternal, mas firme, com que profetiza a verdade e aplica a Palavra de Deus, é evitar que falsos mestres, que haviam se infiltrado na igreja, minassem a pureza do cristianismo, contestando sua integridade pessoal e autoridade apostólica. Paulo não escreve como mero líder autoritário, temeroso pela possível perda de sua posição de comando, mas sim como verdadeiro pai espiritual dos cristãos de Corinto, aos quais amava profundamente e se preocupava em que tivessem o maior e melhor crescimento espiritual, alimentando-se da verdade bíblica e livres das ideologias pagãs, místicas e judaizantes que se propagavam por toda a Corinto da época. A situação da Igreja em Corinto era de tamanha carnalidade e desrespeito às autoridades espiritu- ais que Paulo precisou falar sobre sua ppria pessoa e testemunho imaculado em Cristo. Embora tivesse apelado para o pprio conhecimento pessoal e íntimo que os coríntios tinham dele e de seu caráter, e ainda que tivesse recordado os enormes sofrimentos incorridos com o objetivo de levar-lhes a mensagem regeneradora e salvadora do Senhor, ele agiu com sensível humildade, trans- parência e sinceridade, expressando muitas vezes seu embaraço com a necessidade de evidenciar tais aspectos da sua vida e ministério em Cristo. Por todo o texto desta notável e rica epístola, per- cebemos a mais elevada dignidade, devoção, fé serena e inabalável, bem como a mais autêntica e intensa paixão do pastor por seu Deus e povo. Paulo tem a coragem de se apresentar aos seus leitores como o mais fraco e inútil dos homens, exemplo dos pecadores, mas perfeitamente consciente que é justamente por meio dessa fragilidade humana que o amor e o poder de Cristo se revelam ao mundo como fruto da Graça, soberana, infalível e perene de Deus (12.9). Esta epístola apostólica se aplica aos nossos dias em que o estrelato “gospel” parece ofuscar o brilho sublime e poderoso da glória de Deus nos homens de fé. Por isso, seu estudo e aplicação prática são mais do que oportunos. Sua nota especial está sobre a doutrina da reconciliação em Cristo; e seu tema de glória, por meio do sofrimento consciente, sincero e dedicado, que significa uma verdadeira renovação da visão e da vitalidade do povo de Deus. Data da primeira publicação Historiadores, arqueólogos e biblistas concordam que a segunda epístola de Paulo aos Coríntios foi publicada no mesmo ano de 1 Coríntios, ou seja 55 d.C. Com base em 1Co 16.5-8, concluímos que 1 Coríntios foi escrita na cidade de Éfeso, antes do evento do Pentecostes (na primavera). Cerca de seis meses mais tarde, já na Macedônia, mas antes do inverno, o apóstolo se vê impelido a escrever 2 Coríntios (2Co 2.13 e 7.5). Em sua saudação inicial, Paulo deixa claro que a carta tinha como principais destinatários a Igreja em Corinto e todos os demais cristãos do vasto território da Acaia (província romana que englobava toda a região grega ao sul da Macedônia). 2CO_B.indd 1 8/8/2007, 15:27:19

008 corintios 2º

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INTRODUÇÃO

2 CORÍNTIOS

Autoria Não há qualquer dúvida sobre o fato de que o apóstolo Paulo foi o autor dessa segunda carta

endereçada à Igreja em Corinto.Alguns meses depois de escrever 1 Coríntios, Paulo decidiu que era necessário realizar um encontro

pessoal aos irmãos coríntios, mesmo que essa visita fosse representar um momento doloroso para todos, era imperioso que acontecesse urgente. Os problemas e desvios doutrinários apontados por Paulo, em sua primeira carta, ainda não haviam sido corrigidos (2Co 2.1; 12.14; 13.1-2).

Houve, ainda, uma terceira carta, enérgica e pesarosa (2.4), mas, segundo a providência divina, perdeu-se no tempo e no espaço sem jamais ter feito parte do cânon neotestamentário. Algunshistoriadores e teólogos sugerem que os capítulos 10 a 13 poderiam ser parte da carta “corretiva ousevera”, contudo não há qualquer evidência real em favor de tal divisão em 2 Coríntios.

Propósitos Essa é uma epístola apostólica enérgica e corajosa. O principal objetivo de Paulo, claramente

expresso pela maneira fraternal, mas firme, com que profetiza a verdade e aplica a Palavra de Deus,é evitar que falsos mestres, que haviam se infiltrado na igreja, minassem a pureza do cristianismo,contestando sua integridade pessoal e autoridade apostólica.

Paulo não escreve como mero líder autoritário, temeroso pela possível perda de sua posição de comando, mas sim como verdadeiro pai espiritual dos cristãos de Corinto, aos quais amava profundamente e se preocupava em que tivessem o maior e melhor crescimento espiritual,alimentando-se da verdade bíblica e livres das ideologias pagãs, místicas e judaizantes que se propagavam por toda a Corinto da época.

A situação da Igreja em Corinto era de tamanha carnalidade e desrespeito às autoridades espiritu-ais que Paulo precisou falar sobre sua própria pessoa e testemunho imaculado em Cristo. Embora tivesse apelado para o próprio conhecimento pessoal e íntimo que os coríntios tinham dele e de seu caráter, e ainda que tivesse recordado os enormes sofrimentos incorridos com o objetivo de levar-lhes a mensagem regeneradora e salvadora do Senhor, ele agiu com sensível humildade, trans-parência e sinceridade, expressando muitas vezes seu embaraço com a necessidade de evidenciar tais aspectos da sua vida e ministério em Cristo. Por todo o texto desta notável e rica epístola, per-cebemos a mais elevada dignidade, devoção, fé serena e inabalável, bem como a mais autêntica eintensa paixão do pastor por seu Deus e povo.

Paulo tem a coragem de se apresentar aos seus leitores como o mais fraco e inútil dos homens,exemplo dos pecadores, mas perfeitamente consciente que é justamente por meio dessa fragilidadehumana que o amor e o poder de Cristo se revelam ao mundo como fruto da Graça, soberana,infalível e perene de Deus (12.9).

Esta epístola apostólica se aplica aos nossos dias em que o estrelato “gospel” parece ofuscar o brilho sublime e poderoso da glória de Deus nos homens de fé. Por isso, seu estudo e aplicaçãoprática são mais do que oportunos. Sua nota especial está sobre a doutrina da reconciliação emCristo; e seu tema de glória, por meio do sofrimento consciente, sincero e dedicado, que significa uma verdadeira renovação da visão e da vitalidade do povo de Deus.

Data da primeira publicaçãoHistoriadores, arqueólogos e biblistas concordam que a segunda epístola de Paulo aos Coríntios

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foi publicada no mesmo ano de 1 Coríntios, ou seja 55 d.C.Com base em 1Co 16.5-8, concluímos que 1 Coríntios foi escrita na cidade de Éfeso, antes do

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evento do Pentecostes (na primavera). Cerca de seis meses mais tarde, já na Macedônia, mas antesdo inverno, o apóstolo se vê impelido a escrever 2 Coríntios (2Co 2.13 e 7.5). Em sua saudaçãoinicial, Paulo deixa claro que a carta tinha como principais destinatários a Igreja em Corinto e todosos demais cristãos do vasto território da Acaia (província romana que englobava toda a região grega ao sul da Macedônia).

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Esboço geral 1. Saudações especiais com ações de graças (1.1-11)2. Paulo responde direta e claramente a seus críticos (1.12 – 7.16)

A. Mudança de planos missionários por amor aos coríntios (1.12 – 2.4)B. Orientações de como lidar com o pecador arrependido (2.5-11)C. Paulo se entristece por não encontrar Tito em Trôade (2.12-16)D. O ministério apostólico confiado por Cristo a Paulo (2.17 – 3.5)

E. Comparação entre a Antiga e Nova Aliança (3.6-18)F. Filosofia de ministério de Paulo (4.1-6)G. A fé que movia Paulo sempre para frente (4.7 – 5.10)H. O maravilhoso ministério da reconciliação com Deus (5.11 – 6.10)I. Paulo apela ao coração dos cristãos em Corinto (6.11 – 7.4)J. Finalmente, Paulo se encontra com Tito na Macedônia (7.5-16)

3. A oferta dos crentes para socorrer a Igreja em Jerusalém (8.1 – 9.15)4. Paulo precisa confirmar sua absoluta autoridade apostólica (10.1 – 13.14)

A. Paulo responde às acusações de fraqueza espiritual (10.1-11) B. Paulo evita comparações e busca cumprir sua missão (10.12-18)

C. Paulo persiste em defender seu apostolado sincero (11.1 – 12.18)D. Paulo adverte quem ousar opor-se à sua autoridade (12.19 – 13.10)E. Exortação, saudação e bênção apostólica (13.11-14)

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2 CORÍNTIOS

Saudações de Paz e Graça

1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo,

à Igreja de Deus em Corinto, com todos os santos, em toda a Acaia;2 graça e paz sejam convosco, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.1

Consolados para consolar3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Se-nhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação,2

4 que nos consola em todas as nossastribulações, para que também sejamos capazes de consolar os que passam por qualquer tribulação, por intermédio da consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.5 Porquanto, da mesma maneira como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, igualmente por meio de Cris-to transborda a nossa consolação.6 Ora, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; se somos consola-dos é, pois, para vossa consolação, a qual vos proporciona perseverança, a fi m de que suporteis as mesmas afl ições que nós também estamos passando.7 E a nossa esperança a vosso respeito está fi rme, visto que sabemos que sois participantes dos sofrimentos e, de igual forma, o sereis da consolação.

8 Irmãos, não desejamos que desconhe-çais as tribulações que atravessamos naprovíncia da Ásia, as quais foram muitoç ç qç

acima da nossa capacidade de suportar,de tal maneira que chegamos a perder aesperança da própria vida.9 De fato, já tínhamos sobre nós a senten-ça de morte, para que não confi ássemosem nós mesmos, mas somente em Deus,que ressuscita os mortos.10 Ele nos livrou e seguirá nos livrandode tão horrível perigo de morte. É nele

g

que depositamos toda a nossa fé quecontinuará nos livrando,11 contando também com a ajuda dasvossas orações por nós, para que, pelofavor que nos foi concedido pela inter-cessão de muitos; da mesma forma, pormuitos, sejam oferecidas ações de graçasa nosso respeito.

Mudanças por amor à igreja 12 Esta é a nossa glória: o testemunhoda nossa consciência de que temos nosconduzido no mundo, especialmente emnosso relacionamento para convosco,em santidade e sinceridade que vêm deDeus, não em sabedoria carnal, mas deacordo com a graça de Deus,3

13 pois absolutamente nada vos escreve-mos além dos assuntos que ledes e bementendeis; e espero que os compreendaisde forma plena,

1 Paulo reivindica sua plena autoridade apostólica (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1) em resposta às acusações de seus adversários(11.13). A Igreja de Deus é a comunidade dos crentes em Cristo, representantes locais da imensa Igreja universal (1Co 1.2). Apalavra secular e original grega Ekklesia (Assembléia) é qualificada pela frase “de Deus”, como “Israel de Deus” em Gl 6.16. Os“santos” é uma outra expressão que se refere ao povo de Deus e significa “aqueles que foram separados para adorar e servir aoSenhor” (Rm 1.7). O nome Acaia diz respeito à Grécia, em oposição à Macedônia, situada ao norte. Embora Paulo tenha escritoem resposta aos coríntios, seu conteúdo e princípios teológicos beneficiaram muitas outras igrejas (até nossos dias) por meiodas cópias que circularam por toda a Grécia.

2 Deus não é uma entidade invisível e desconhecida. Ele é o Pai e Deus de Jesus Cristo, o Messias, nosso Senhor. A expressãoidiomática “Pai das misericórdias” significa que o Senhor é “fonte de toda a graça e perdão”. Deus “da consolação” quer dizer“Deus Paraclesis”, ou seja, “Deus Presente, Amigo, Encorajador”.

3 Para defender sua lealdade diante dos ataques mentirosos de seus inimigos, Paulo usa a expressão grega eilikrineia (since-ridade) que se refere ao processo de sacudir cereais numa peneira a fim de separá-los das cascas e de toda a sujeira. Por isso,Paulo se sente em paz diante do exame perscrutador de Deus e de qualquer investigação apurada dos irmãos (Sl 139.23). Afinal,o apóstolo não era um estranho, pois havia previamente convivido dezoito meses com a igreja quando chegara pela primeira vezem Corinto (At 18.11) e, portanto, seu caráter e dedicação ao serviço do Senhor tornaram-se evidentes diante de todos.

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14 assim como também já em parte nos compreendestes, de que somos o vosso motivo de orgulho, assim como sereis o nosso no Dia do Senhor Jesus.4

15 Confi ando nisso, e para que rece-bêsseis um segundo benefício, planejei primeiro visitá-los16 durante a viagem para a Macedônia, e de lá voltar até vós, e por vosso intermé-dio ser enviado à Judéia. 17 Será que ao planejar assim, o fi z com leviandade? Ou será que, ao tomar deci-sões, tenho agido de forma carnal, com-prometendo-me ao mesmo tempo com “sim” e “não”?18 Entretanto, como Deus é fi el, a nossa palavra em relação a vós certamente não é “sim” e “não” ao mesmo tempo.5

19 Porquanto, Jesus Cristo, o Filho de Deus, que entre vós foi anunciado por nós, isto é, por mim, Silvano e Timóteo, seguramente não foi um “sim” e “não”, mas nele sempre existiu o “sim”; 20 Pois, tantas quantas forem as promes-sas de Deus, todas têm em Cristo o “sim”. Por isso, por intermédio dele, o “Amém” é proclamado por nós para a glória de Deus. 21 Ora, é Deus quem faz com que nós e vós permaneçamos fi rmes em Cristo. Ele nos ungiu, 22 nos selou como sua propriedade e fez habitar o seu Espírito em nossos cora-

ções como garantia de tudo o que está por vir.23 Portanto, invoco a Deus por minha testemunha de que foi para vos poupar que não voltei a Corinto. 24 Não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas sim como vossos coopera-dores para que tenhais alegria, pois é pela fé que estais fi rmados.6

2Sendo assim, decidi que não mais iria visitá-los com tristeza.1

2 Pois, se os entristeço, quem me alegrará senão vós, a quem eu tenho entristecido?3 Escrevi como escrevi para que, quando eu for, não seja amargurado por aqueles que deveriam alegrar-me. Quanto a to-dos vós, eu estava convencido de que a minha alegria é a de todos vós.4 Porquanto, vos escrevi em meio a gran-de afl ição e angústia de coração, e commuitas lágrimas, não para constrangê-los, mas para que soubessem como é profundo o amor fraternal que alimentopor vós.2

Perdoando o pecador 5 Se um de vós tem causado tristeza, não tem entristecido somente a mim pes-soalmente, mas, em parte, para não ser severo demais, a todos vós.6 Assim, a punição que foi imposta pela maioria a essa tal pessoa é sufi ciente.

4 Alguns irmãos na igreja em Corinto haviam se deixado enganar pelas calúnias dos “falsos apóstolos” que estavam infiltradosentre os crentes. Paulo aponta para a volta gloriosa de Cristo como o “Dia do Senhor” (1Ts 2.19,20).

5 Os inimigos de Paulo tinham procurado persuadir os cristãos em Corinto de que, como mudara seus planos, sua palavranão era digna de crédito, pois ele seria uma pessoa instável e irresponsável. Paulo reafirma seu compromisso de amor para comDeus e seu ministério, e faz referência à mensagem do Evangelho que pregara aos coríntios: uma vez crendo no Evangelho,descobriram que era de todo verdadeira e isenta de ambigüidades, e por meio da experiência que tiveram com seu podertransformador, comprovaram ser uma grande afirmativa em Cristo, em que todas as promessas de Deus são, de fato, “sim”!

6 Paulo mudou seu plano inicial somente por causa da grande compaixão que sentia por seus “filhos na fé” em Corinto, poisnão queria precisar usar a “vara da repreensão” contra os altivos e arrogantes que estavam tumultuando a igreja (1Co 4.21).Contudo, foi muito mal interpretado e difamado por alguns. Mesmo na qualidade de apóstolo, Paulo não deseja impor suas diretrizes de forma despótica; antes, deseja ser conselheiro e servo, promovendo a santificação e a alegria espiritual dos seus amados irmãos.

Capítulo 21 Paulo faz referência a um segundo encontro com os irmãos em Corinto o qual lhe trouxe grande amargura. Não se trata da

primeira visita, quando houve a fundação da igreja local na cidade, todavia não se sabe ao certo quando ocorreu esse encontrodoloroso. Contudo, fica claro que a visita que está por acontecer será a terceira, e que Paulo deseja evitar outros dissabores e oconstrangimento de precisar usar o rigor da sua autoridade apostólica (conforme 12.14; 13.1 e 1Co 4.21).

2 Paulo escreveu uma carta repreensiva entre 1Co e 2Co, mas que não foi preservada entre os textos canônicos da Bíblia.Juntamente com a severidade das palavras, lágrimas de amor fraterno acompanharam a admoestação do apóstolo de Cristo.

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7 Agora, todavia, deveis perdoar e enco-rajá-lo, para que não seja dominado por amargura excessiva.8 Portanto, insisto convosco que confi r-meis o vosso amor fraternal para com ele.9 Foi também por esse motivo que vos escrevi, ou seja, saber se, por meio dessa prova, seríeis obedientes em tudo.10 Se perdoardes alguma coisa a alguém, também eu perdôo; e aquilo que perdoei, se é que havia alguma falta a ser perdo-ada, perdoei na presença de Cristo, por amor de vós,11 a fi m de que Satanás não tivesse qual-quer vantagem sobre nós; pois não igno-ramos as suas artimanhas.3

Ministros da Nova Aliança12 Quando cheguei a Trôade para pregar oEvangelho de Cristo, ainda que essa porta me tivesse sido aberta pelo Senhor,13 não tive plena paz em meu espírito, porque não encontrei ali meu amado irmão Tito. Por isso, me despedi deles e rumei para a Macedônia.4

14 Contudo, graças a Deus, que sempre

nos conduz vitoriosamente em Cristo, epor nosso intermédio exala em toda parteo bom perfume do seu conhecimento;5

15 porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e mesmo para com os que estão perecendo.16 Para estes últimos, somos cheiro demorte para a morte, mas para aquelesoutros, a boa fragrância de vida paravida. Mas quem são os que estão capaci-tados para essas verdades?6

17 Ao contrário de muitos pregadores,não somos mercenários da Palavra deDeus, mas anunciamos a Cristo comsinceridade, da parte de Deus e na suapresença.7

3Será que com isso estamos tentandonos recomendar novamente a nós

mesmos? Será que necessitamos, comoalguns, de cartas de recomendação paravós ou de vossa parte? 2 Vós mesmos sois a nossa carta, escritaem nosso coração, conhecida e lida portodos.1

3 Vós mesmos tendes demonstrado que

3 Paulo refere-se a uma pessoa específica que o teria ofendido muito, mas que não se trata do homem incestuoso de 1Co5.1, que Paulo não tolerou na igreja. Esse outro transgressor sofreu uma pena eclesiástica imposta, de forma democrática, pordecisão da maioria da igreja. Contudo, como o culpado demonstrou arrependimento por seu pecado, Paulo exorta aos coríntiosque encerrem o castigo e recebam o arrependido na comunhão da igreja. A disciplina na igreja, por mais necessária e importanteque seja, não deve ser aplicada sem graça e esperança sincera de recuperação do penitente (Mt 18).

4 Paulo havia viajado rumo ao norte, de Éfeso a Trôade, famosa cidade no litoral do mar Egeu. Embora soubesse que seu amigoTito (8.16-23) estava seguindo o mesmo itinerário, mas na direção inversa, ansiava poder encontrá-lo de passagem em Trôade, afim de ter notícias dos coríntios, coisa que não ocorreu, e o fez partir rapidamente para a cidade de Filipos na Macedônia.

5 Paulo abre um parêntese na descrição do seu itinerário (que retoma em 7.5) e passa a refletir sobre a fé triunfante: um louvora Deus por sua graça inesgotável e incessante para com todas as nossas situações de vida, mesmo as mais ameaçadoras eaparentemente destrutivas. Paulo usa a expressão grega “triunfo” que era aplicada aos glamourosos cortejos dos generais e im-peradores, trazendo seus tesouros de guerra (em desfile por ruas perfumadas pela queima de grande quantidade de especiariasaromáticas), acompanhados de uma enorme fileira de cativos. No mesmo pensamento, o apóstolo faz referência aos sacrifíciosaceitáveis a Deus no AT (Gn 8.21; Êx 29.18).

6 À medida que o aroma do Evangelho é espalhado no mundo, pelo testemunho cristão, todos podem experimentar o seu bomperfume. Entretanto, essa fragrância pode ser interpretada de duas maneiras: cheiro de vida eterna, pelos salvos; e cheiro demorte e destruição, por aqueles que estão perecendo. Não porque a mensagem do Evangelho possa exalar um cheiro mortífero,mas porque os incrédulos, ao rejeitarem a graça vivificante de Deus em Jesus Cristo, confirmaram sua escolha: a morte eterna.Quem são os capacitados a compreender esse mistério? (a resposta está em 3.5).

7 Paulo usa a palavra grega “mercadejar”; comum entre muitos caixeiros viajantes da época, que procuravam de todas as7

maneiras iludir e enganar seus clientes, com a finalidade de lhes vender suas mercadorias e obter lucros escorchantes, parafazer duas afirmações muito sérias: 1) Havia – já naquela época – falsos mestres, que aproveitando a explosão de crescimentodo cristianismo tinham se infiltrado nas comunidades cristãs e, particularmente, na igreja de Corinto, com o principal objetivo dearrancar bens e dinheiro dos membros ingênuos da igreja; 2) Paulo defende sua sinceridade e lealdade para com o Senhor e comos irmãos, lembrando que havia decidido pregar o Evangelho sem nada receber em troca, sempre procurando não ser pesadofinanceiramente aos cristãos de qualquer igreja (11.7-12; 1Co 9.7-15).

Capítulo 31 Corinto havia sido invadida por grande quantidade de falsos crentes e andarilhos milagreiros, que se diziam mestres da verda-

de apostólica. Por isso, os coríntios passaram a pedir cartas de recomendação aos missionários e mestres cristãos que chegavam

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sois uma carta de Cristo, resultante de nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos!2

4 E é por intermédio de Cristo que temos tamanha confi ança em Deus.5 Não que possamos reivindicar qual-quer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus.3

6 Ele nos capacitou para sermos minis-tros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porquanto a letra mata, mas o Espírito vivifi ca!4

A relevância da Nova Aliança7 Com letras sobre pedras foi gravado o ministério que trouxe a morte; no en-tanto, esse ministério veio com tamanhaglória que os fi lhos de Israel não conse-guiam sequer fi xar os olhos na face de

Moisés, por causa do resplendor do seu rosto, mesmo que esse brilho estivesse se desvanecendo.5

8 Não será o ministério do Espírito mui-to mais glorioso?9 Ora, se o ministério que trouxe a condenação era glorioso, quanto mais ainda será o ministério que produz a justifi cação!6

10 Porquanto o que no passado foi glo-rioso, agora não tem o mesmo esplendor, quando comparado com essa glória insuperável.11 E se o esplendor que estava dissipando se manifestou em glória, quanto maior será a glória do que permanece!12 Sendo assim, visto que temos essa qualidade de fé, expressamos muita confi ança.7

13 Não somos como Moisés, que se cobria com um véu sobre a face para que os fi lhos de Israel não observassem

à igreja. Paulo não precisava de qualquer recomendação, pois sua obra estava estampada na própria vida de muitos membrosda igreja, transformados pelo poder do Evangelho. Entretanto, mesmo com todos os cuidados, alguns impostores conseguiamforjar falsas cartas de recomendação e se infiltrar nos ministérios da igreja.

2 Os documentos e as cartas eram comumente redigidos sobre pergaminho ou papiro. Paulo compara o desbotamento naturalda tinta (letras) e sua facilidade de ser encoberta com a marca indelével e permanente do Espírito. A Palavra de Deus está escritano coração dos crentes, não em placas de argila ou pedra como no Sinai (Jr 31.33; Ez 11.19; 36.26). Paulo explica, logo a seguir, a importância dessa diferença entre a antiga e a nova aliança (vv. 7- 18).

3 Paulo responde aqui a pergunta levantada em 2.16. Nossa força, capacidade, dons e talentos vêm do Senhor. O cristão maduro tem plena consciência dessa verdade e, por isso, desenvolve uma auto-estima equilibrada, louvando a Deus pela maneiracomo foi criado (Sl 139.13-17).

4 Os “ministros” são aqueles que “servem” à causa do Senhor (4.1; Rm 15.16; Cl 1.7; 4.7; 1Tm 4.6). Aqui, Paulo retoma otema do v.3: “tábuas de corações humanos” (Hb 7.22 e 8 a 10). Paulo adverte a igreja sobre os judaizantes (judeus cristãos quequeriam guardar a Torá e as leis rabínicas), os quais se diziam discípulos de Pedro (1Co 1.12; Hb 11.22), e revela que os cristãos,em cujos corações habita o Espírito, têm a Lei escrita em suas próprias almas pelo Senhor: o Deus vivo, conforme a promessa da nova aliança, entregue pelos profetas do AT (Jr 31.31-34; 32.39,40; Ez 11.19; 36.26). A expressão grega literal: “a letra mata, maso Espírito dá vida” não quer dizer que o significado externo e literal da Bíblia seja mortífero ou inútil; e que o sentido interior, místico e subjetivo tenha maior valor. O termo original “letra” tem o sentido de “lei” ou “padrão de conduta” (Êx 24.12; 31.18; 32.15,16),diante do qual todos os seres humanos são culpados (pecadores – Rm 3.23) e, por isso, já estão condenados à separaçãoeterna de Deus (morte). O sacrifício expiatório de Cristo pagou a pena de todos os que têm fé nesse ato salvífico do Senhor, e portanto, são agraciados com a habitação do “Espírito do Deus vivo” em seus corações, a fim de fortalecê-los e conduzi-los aoamadurecimento espiritual. É o Espírito Santo, que cumprindo a promessa da nova aliança escreve a Lei no interior da alma docrente, concede-lhe amor pelos mandamentos do Senhor, os quais ele antes odiava, e lhe abençoa com capacidade para viveruma vida cristã autêntica e testemunhar ao mundo o poder regenerador e transformador do Evangelho. Um poder que antes, pormais inteligente ou virtuoso que fosse, não dispunha.

5 A Lei, conforme a antiga aliança, entregue ao povo de Deus no Sinai, não era, de forma alguma, má ou infrutífera. Na verdade,Paulo a conceituava como santa, justa, boa e espiritual (Rm 7.12-14). O erro e a pecaminosidade está na alma e nas ações daspessoas que, como transgressores da Lei, trazem sobre si justa condenação e punição. A glória de Deus estava presente naentrega da Lei, e o seu brilho ficava refletindo no rosto de Moisés quando este descia da montanha (Êx 34.29,30).

6 O ministério do Espírito Santo produz justificação e vida, em vez de condenação e morte. A expressão original “justiça” temum sentido objetivo de “justificação”, e pessoal de “santificação”.

7 Paulo comenta, no trecho que vai de 3.12 a 4.11, as duas principais dificuldades dos ministros (servos do Senhor): 1) a7

cegueira e surdez espiritual dos ouvintes e 2) a fraqueza do ministro.

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que o resplendor em seu rosto estava se dissipando.14 E, por isso, a mente dos israelensesse fechou, pois até hoje o mesmo véupermanece quando é lida a antigaaliança. Não foi retirado, porquantoé somente em Cristo que ele pode serremovido.8

15 De fato, até nossos dias, quando Moi-sés é lido, um véu cobre seus corações!16 Contudo, quando alguém se converte ao Senhor, o véu é retirado.9

17 O Senhor é o Espírito; e onde quer que o Espírito esteja, ali há liberdade.10

18 Mas todos nós, que com a face des-coberta contemplamos, como por meio de um material espelhado, a glória do Senhor, conforme a sua imagem estamos sendo transformados com glória cres-cente, na mesma imagem que vem do Senhor, que é o Espírito.11

O apóstolo é fi el ao ministério

4Portanto, tendo este ministério pelamisericórdia que nos foi outorgada,

não desanimamos.1

2 Pelo contrário, rejeitamos os proce-dimentos secretos e vergonhosos; nãofazemos uso de qualquer tipo de engano,nem torcemos a Palavra de Deus. Mas,por meio do claro ensino público da ver-dade, recomendamo-nos à consciênciade todas as pessoas, perante a Deus.2

3 Contudo, se o nosso evangelho estáencoberto, para os que estão perecendoé que está encoberto.4 O deus, desta presente era perversa, cegou o entendimento dos descrentes, a fi m de que não vejam a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.35 Pois não pregamos a nós mesmos, masa Jesus Cristo, o Senhor, e a nós mesmoscomo vossos servos por causa de Jesus.

8 Moisés usava um véu para cobrir o rosto, a fim de impedir que os israelenses vissem a glória de Deus se desvanecendo eisso viesse prejudicar a fé e a obediência do povo (Êx 34.33-35). Esse mesmo véu ainda reside, figuradamente, na memória dosjudeus e os impede de reconhecer o caráter temporário e insuficiente da antiga aliança. Somente as pessoas que recebem aCristo como Deus e Salvador pessoal têm a capacidade de perceber como a nova aliança transcende e substitui para sempre aantiga. E isso, por causa da glória maior.

9 Paulo se refere à Torá ao dizer “quando Moisés é lido”. O versículo 16 é uma citação do texto de Êx 34.34 da Septuaginta (atradução grega do AT).

10 O Senhor (em hebraico Yahweh) que significa Jeová, em Êx 34.34, corresponde ao Espírito na nova aliança anunciada peloapóstolo Paulo. A presença do Espírito de Deus na alma do crente o liberta da Lei e do legalismo e o influencia a fazer a vontadedo Pai por amor (Rm 8.14). Os termos: Espírito, Espírito de Cristo, Espírito de Deus, o Espírito Santo e Cristo são expressõesintercambiáveis com, basicamente, o mesmo significado. Isso porque o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, e as duasprimeiras pessoas da trindade realizam seus propósitos mediante a ação do Espírito Santo (Rm 8.9-10; At 16.6,7; Gl 2.20).

11 Moisés, ao se aproximar do Senhor e ouví-lo, tinha seu rosto iluminado por Sua glória, que resplandecia e encorajava atodos à sua volta. Contudo, com o passar dos dias, o brilho da glória do Senhor, estampado em Moisés, começava a perder seufulgor, e ele procurava esconder seu rosto natural. Paulo afirma que os cristãos estão sendo transformados dia após dia, comglória cada vez maior. O próprio Jesus Cristo é a glória de Deus na plenitude do seu esplendor (Hb 1.3); dele é a glória pereneque não se dissipa nem perde o brilho. A mesma que tinha o Pai antes de haver criado o universo (Jo 17.5). Os cristãos fiéis sãofeitos participantes dessa glória à medida que caminham mais e mais em comunhão com o Espírito de Cristo. A essa caminhadaespiritual, que dura a vida toda, se dá o nome de “santificação”.

Capítulo 41 Quando o Senhor, por sua graça e misericórdia, nos chama para a realização de uma obra, juntamente com a missão nos

concederá toda a capacidade e as forças necessárias para que possamos perseverar e vencer em meio às adversidades eobstáculos. Como Paulo, somos chamados ao glorioso ministério da reconciliação (3.6). É o poder de Deus que transforma omais obstinado, cruel e cego dos corações, e não qualquer de nossas habilidades pessoais (At 1.8; Rm 1.16).

2 Na época do apóstolo Paulo, já havia os “atores pseudocristãos” (expressão derivada da palavra grega “hipocrisia”), falsosmestres evangélicos que usavam todo tipo de ardil e manipulação para convencer seu público sobre suas próprias crenças,com o objetivo de conquistar um grupo de patrocinadores para seus projetos pessoais. Paulo, entretanto, pode apelar para aconsciência de cada um dos coríntios e invocar sua própria integridade diante do Senhor, porquanto a sua teologia, ética e práticamissionária eram demonstradas em toda parte por meio da transparência, clareza e fidelidade com que expunha a verdade, semjamais apelar para a fraude ou qualquer tipo de engano (1.12, 18-24).

3 Apesar de todas as possíveis explicações sobre o mal e a incredulidade sobre a terra, o fato é que há um poder invisívelagindo eficazmente nos bastidores da existência humana, que emana da pessoa de Satanás, o arquiinimigo de Deus. As pessoasque defendem e praticam a impiedade e perversão da Palavra de Deus (de alguma forma) seguem ao Diabo e têm de fato feitodele seu deus. O apóstolo se refere a “era presente” em contraste com a “era eterna” purificada por Jesus para sempre (Gl 1.4),

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82 CORÍNTIOS 4, 5

6 Porquanto foi Deus quem ordenou: “Das trevas resplandeça a luz!”, pois Ele mesmo resplandeceu em nossos cora-ções, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.4

O poder do servo vem de Deus7 Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para demonstrar que este po-der que a tudo excede provém de Deus e não de nós mesmos.5

8 Sofremos pressões de todos os lados, contudo, não estamos arrasados; fi camos perplexos com os acontecimentos, mas não perdemos a esperança;9 somos perseguidos, mas jamais desam-parados; abatidos, mas não destruídos;10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus, da mesmaforma, seja revelada em nosso corpo.6

11 Pois nós, que estamos vivos, somos cotidianamente entregues à morte por amor a Jesus, para que a sua vida tambémse manifeste em nosso corpo mortal.12 De maneira que em nós opera a morte, entretanto em vós, a vida!13 Assim está escrito: “Cri, por isso decla-rei!” Com esse mesmo espírito de fé, nós

igualmente cremos e, por esse motivo, falamos.7

14 Temos certeza de que aquele que res-suscitou o Senhor Jesus dentre os mor-tos, da mesma forma nos ressuscitará com Ele e nos apresentará convosco.15 Tudo isso é para o vosso benefício, para que a graça, que está alcançando mais emais pessoas, faça transbordar as muitasações de graça para a glória de Deus.

O motivo e efeito das afl ições16 Portanto, não desanimamos! Ainda que o nosso exterior esteja se desgas-tando, o nosso interior está em plena renovação dia após dia.17 Pois as nossas afl ições leves e passa-geiras estão produzindo para nós uma glória incomparável, de valor eterno.18 Sendo assim, fi xamos nossos olhos, não naquilo que se pode enxergar, mas nos elementos que não são vistos; pois os visíveis são temporais, ao passo que os que não se vêem são eternos.8

A morada eterna do cristão

5Estamos certos de que, se esta nossa temporária habitação terrena em que

e continua a usar o exemplo do véu sobre o rosto de Moisés no sentido de cobrir a glória divina aos que não desejam ver com osolhos da fé e receber o Evangelho, a verdadeira glória eterna (3.12-18). Jesus Cristo, o Filho, e a segunda pessoa da Trindade, é o único capaz de revelar plenamente a imagem de Deus, pois Cristo é o próprio esplendor da glória de Deus (Hb 1.3). Ele é averdadeira Imagem de Deus (em latim Imago Dei) na qual o homem foi originalmente criado e na qual a humanidade salva estáexperimentando o poder da transformação, até que, no final dos tempos (dessa era decadente), na segunda e gloriosa volta deCristo, todos os crentes sinceros serão feitos à semelhança de Jesus (1Jo 3.2).

4 Essa foi a expressão que Deus usou na criação (Gn 1.2-4), da mesma maneira como abençoa o novo nascimento (a novacriação) dos crentes em Cristo, à medida que as trevas e amarras do pecado são dissipadas pela poderosa luz do Evangelho. A glória que ilumina o coração de Paulo e dos cristãos fiéis é o esplendor do rosto de Cristo, que veio até nós da parte do Pai celeste para habitar em nossa alma e não apenas num tabernáculo no deserto (Jo 1.14).

5 Era costume esconder tesouros em vasos de barro, que exteriormente não tinham qualquer adorno nem chamavam aatenção. Foram em vasos simples como esses que se encontraram os conhecidos Rolos do Mar Morto, no monte Qunrampróximo ao mar Mediterrâneo, e outros muitos tesouros. Paulo usa a idéia de que a insuficiência absoluta do ser humano revelaa grandeza e a total suficiência de Deus em toda essa carta à igreja em Corinto. A fraqueza física de um ministro de Deus inclui: “temor e tremor” (1Co 2.3); enfermidades (2Co 12.7); e todo o tipo de tribulações e perseguições (vv. 8,9).

6 A fragilidade da pessoa humana, tão bem representada na figura do “vaso de barro” pode ser observada na própria vida diária do apóstolo Paulo, em suas constantes adversidades e perseguições que o esbofeteavam por amor do Evangelho e por meio dasquais compartilhava as aflições e a glória de Cristo (v.1.5; Rm 8.17; Fp 3.10; Cl 1.24).

7 A fé no Senhor produz o testemunho cristão (Sl 116.10). Por isso, Paulo dedicava-se à vida missionária incansavelmente a fim7

de levar aos desconhecidos em todo o mundo a gloriosa Palavra da salvação: o Evangelho. O mesmo Espírito que nos concedea fé é o Espírito da: adoção (Rm 8.15), da sabedoria (Ef 1.17), da graça (Hb 10.29) e da glória (1Pe 4.14).

8 Nossos sofrimentos são reais e dolorosos, por vezes, desesperadores. Contudo, o cristão jamais os atravessa sozinho (Sl 23),mas sempre na solidária e poderosa companhia do Pai, em Cristo Jesus. Somos encorajados pelo apóstolo Paulo a fixar nosso olhar de fé na glória eterna, e não somente nos momentos circunstânciais e passageiros dessa nossa curta existência terrena.Alegrias e tristezas passam muito depressa, e não devemos, portanto nos prender a qualquer delas. Concentrar toda a nossa

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vivemos for destruída, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, não construída por mãos hu-manas.1

2 Enquanto estivermos morando nessa tenda, gememos, almejando ser revesti-dos da nossa morada celestial,3 porquanto, se de verdade estivermos vestidos, não seremos surpreendidos sem roupa.2

4 Porque, enquanto estivermos residin-do nesse tabernáculo, murmuramos e somos angustiados, pois não queremos ser despidos, mas sim revestidos da nossa casa celestial, para que aquilo que é mortal seja completamente absorvido pela vida.3

5 Ora, foi Deus mesmo quem nos prepa-rou para isso, e concedeu-nos o Espírito como plena garantia do que está por vir.6 Portanto, andamos sempre confi antes, cientes de que enquanto presentes nesse corpo, estamos distantes do Senhor.7 Pois vivemos por fé e não pelo que nos é possível ver.4

8Sendo assim, caminhamos em confi ança,e preferimos estar ausentes desse corpopara estarmos completamente presentescom o Senhor.9 Por isso, temos a ambição de lhe sermosagradáveis, quer estejamos vivendo nessecorpo, quer o deixemos.5

10 Porquanto, todos nós deveremos com-parecer diante do tribunal de Cristo, afi m de que cada um receba o que mereceem retribuição pelas obras praticadaspor meio do corpo, quer seja o bem,quer seja o mal.6

Perfeita reconciliação com Deus11 Portanto, compreendendo o que signi-fi ca temer ao Senhor, procuramos persu-adir todas as pessoas. O que somos estámanifesto diante de Deus e esperamosque semelhantemente esteja bem claroem vossas consciências.12 Não estamos tentando outra vez nosrecomendar a vós, mas vos concedemosa oportunidade de vos orgulhardes pornossa causa, de maneira que tenhais

atenção nos eventos do dia-a-dia (visíveis) pode nos levar ao desânimo (v. 1,16). Apesar das realidades não palpáveis (invisíveis)não terem aparência de realidade (Hb 11.1-27), têm valor eterno e são imperecíveis. Por isso, somos estimulados a olhar para océu, de onde vem chegando nosso Salvador em glória e onde vamos viver para sempre, não para as aparências transitórias doscenários deste mundo que agoniza (Fp 3.20; Hb 12.2).

Capítulo 51 Paulo chegou a uma perfeita compreensão sobre a temporalidade e fragilidade do nosso corpo e o equiparou a uma simples

tenda nômade (vulnerável e passageira), como o tabernáculo dos judeus no deserto (2Pe 1.13). Nossa habitação no céu, entre-tanto, é sólida e permanente como uma construção de alvenaria (edifício): uma obra das mãos de Deus (Hb 9.11). Só recebere-mos o corpo ressurreto por ocasião do iminente glorioso retorno de Jesus Cristo (Jo 14.2; Fp 1.23; Lc 16.9; 23.43; 2Co 12.24).

2 Nossa casa eterna (refúgio seguro), provida por Deus, é retratada por Paulo como algo que o cristão veste. Um corpo sem suaroupagem é o estado daqueles cuja habitação temporária e terrena foi – de uma hora para outra – destruída pela morte.

3 Os cristãos sinceros participam da vida e da ressurreição de Cristo, portanto, não serão consumidos pela morte (como sediz desde a antigüidade), mas “absorvidos pela vida” em Cristo, conforme a alteração feita por Paulo no antigo adágio popular. A morte e a sepultura sempre foram consideradas as grandes devoradoras da vida. Cristo alterou maravilhosamente o destino dosseres humanos que nele crêem (Sl 69.15; Pv 1.12; Is 25.8; 1Co 15.54; Fp 3.21).

4 Ainda que nossa alma resida temporariamente em uma casa (corpo) terrena, isso não significa que o cristão esteja privadoda presença espiritual do Senhor para ajudá-lo em sua peregrinação diária. Essa é a missão do Espírito Santo em nossasvidas (Rm 8).

5 Paulo sabia que o crente, após a morte do corpo, segue para um estado intermediário entre a morte e a ressurreição.Contudo, esse estado incorpóreo e incomunicável com os que ainda vivem na terra não é um limbo (lugar para onde vão asalmas das crianças sem batismo, segundo a teologia católica do séc.XIII), pois o cristão sincero, assim que morre é acolhido nacasa do Pai e começa a receber as recompensas à sua fé; e isso é incomparavelmente melhor do que a vida nesse nosso corpo(Fp 1.23). Paulo usa literalmente a expressão grega: philotimoumetha, que significa: “fazemos nossa ambição”, para dizer da suapaixão em fazer a vontade de Deus, quer estivesse com vida, quando da segunda vinda do Senhor, quer já houvesse adormecidoe deixado seu corpo terreno.

6 Mediante a fé sincera na pessoa e no sacrifício remidor de Cristo, todo cristão é alcançado pela graça da justificação plenae eterna de Deus (Rm 5.1). Entretanto, será necessário que cada crente seja julgado e responda por suas ações (1Co 3.13-15). Portanto, compareceremos à presença do Senhor com nossas memórias, sobretudo, o quanto realizamos por meio docorpo durante nossa existência na terra. Logo em seguida, entretanto, reconheceremos que nossos pecados e faltas foram

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resposta para os que se orgulham dasaparências e não do que está no coração.13 Pois, se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é porque vos amamos.7

14 Porquanto o amor de Cristo nos cons-trange, porque estamos plenamente con-vencidos de que Um morreu por todos; logo, todos morreram.15 E Ele morreu por todos para que aque-les que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou. 16 Assim, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista meramente humano. Ainda que outrora tivéssemos considerado a Cristo assim, agora, contudo, já não o conhecemos mais desse modo.17 Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passa-ram, eis que tudo se fez novo!8

18 Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por inter-médio de Cristo e nos outorgou o minis-tério da reconciliação. 19 Pois Deus estava em Cristo reconci-

liando consigo mesmo o mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos, e nos encarregou da mensagem da reconciliação. 20 Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus vos encorajasse por nosso intermédio. Assim, vos suplicamos em nome de Cristo que vos reconcilieis com Deus.21 Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta por todos os nossos peca-dos, a fi m de que nele nos tornássemos justiça de Deus.9

6E nós, como cooperadores de Deus, vos exortamos a não acolher a graça

de Deus de forma inútil.1

2 Porquanto diz o Senhor: “Eu te ouvi no tempo oportuno e te socorri no dia da salvação” Com certeza vos afi rmo que esse é o momento propício, agora é o dia da salvação!2

As marcas do ministério3 Não damos motivo de escândalo em atitude alguma, a fi m de que nosso mi-nistério não seja achado em falta.

todos lavados e apagados para sempre pelo poder do sangue de Cristo (1Jo 1.9). As Escrituras não oferecem base teológicasustentável para a doutrina de um purgatório, onde as almas dos cristãos passariam por um período de punições e purificaçãoaté poderem adentrar aos céus. Os pagãos e incrédulos passarão por um outro tipo de julgamento (Rm 2.5-16), a fim de seremcondenados à separação eterna de Deus (morte). Aqui, no entanto, Paulo trata especificamente dos cristãos.

7 Normalmente, os falsos líderes cristãos não se preocupam com o desenvolvimento de uma espiritualidade genuína, sadia e7

profundamente alicerçada em Cristo. Eles se concentram na popularidade e na própria riqueza. Por isso, os inimigos de Paulo, o acusavam de algum tipo de desequilíbrio mental ou emocional, pois sua história de conversão e a paixão sincera com quepregava e exercia o ministério missionário eram além do normal. Paulo, contudo, procurava manter a sensatez por amor aoscoríntios (1Co 2.1-5).

8 Deus toma a iniciativa de reconciliar a humanidade consigo mesmo. Ele é o reconciliador, que une o pecador rebelde aoseu Criador (reúne – religa – religião ou religare, em latim). Cristo, o Filho de Deus, é o agente vital dessa reconciliação (18,19).A redenção é o cumprimento dos propósitos de Deus na criação, e isso ocorre em Cristo, por quem tudo o que existe foi criado(Jo 1.3; Cl 1.16; Hb 1.12) e em quem todas as coisas são perfeitamente restauradas em nova criação (Rm 8.18-23; Ef 2.10). Nós,os reconciliados, somos os ministros (servos e embaixadores) e devemos proclamar a mensagem de reconciliação ao mundo(o Evangelho).

9 Deus se fez humano em Cristo e se identificou com o pecado da raça humana, sem pecar, como única forma legal de cumprirtoda a Lei e redimir todo aquele que crê nesse último, suficiente e eterno sacrifício vicário: Jesus na cruz do Calvário (Is 53.6; Jo 20.21). Essa é a lógica do Evangelho: o único homem, completamente justo, tomou sobre si nosso pecado e suportou o castigoque merecíamos. Desta maneira nos outorgou sua justiça e, por intermédio dela, a plena reconciliação com Deus (1Co 1.30).

Capítulo 61 O cristão que anda egoisticamente e não busca viver o Evangelho de forma coerente à vontade do Espírito Santo e à Palavra

de Deus, transforma a graça divina apenas numa religião vã e ritualística (5.15).2 O tempo “aceitável” ou “sobremodo oportuno” refere-se, em seu sentido geral, a todos os atos salvíficos de Deus ao longo

da história da humanidade, contudo, seu cumprimento mais específico concretiza-se nessa época da graça, entre a primeira e asegunda vinda de Jesus Cristo. Os crentes em Deus do AT foram contemplados com a mesma graça salvadora do Senhor pormeio das promessas que viram e acolheram à distância, pela fé, e que se cumpriram plenamente na pessoa e obra de Cristo (Jo8.56; Hb 11.13).

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4 Ao contrário, como servos de Deus, recomendamo-nos de todas as maneiras: em muita perseverança; em sofrimentos, privações e tristezas;3

5 em açoites, prisões e tumultos; em traba-lhos árduos, noites sem dormir e jejuns; 6 em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e no amor sincero; 7 na Palavra da verdade e no poder de Deus; com as armas da justiça, tanto no ataque como na defesa, 8 por honra e por desonra, por difama-ção e por boa reputação; tidos por deso-nestos, mas sendo verdadeiros; 9 como desconhecidos, porém bem co-nhecidos; caminhando como quem está prestes a morrer, mas eis que vivemos; torturados, mas não mortos;10 entristecidos, mas sempre felizes; po-bres, mas enriquecendo a muitas pesso-as; nada tendo, mas possuindo tudo.4

Exortação a uma vida santa11 Ó, irmãos em Corinto, temos falado

ç

francamente convosco, com nosso co-ração aberto!12 Nosso amor fraternal por vós não está restrito, contudo, vós tendes limitado vosso afeto para conosco.13 Em termos de justa retribuição, vos

falo como a fi lhos, abri, pois, também osvossos corações.14 Jamais vos coloqueis em jugo desigualcom os descrentes. Pois o que há de co-mum entre a justiça e a injustiça? Ou quecomunhão pode ter a luz com as trevas?15 Que harmonia entre Cristo e Belial?Que parceria pode se estabelecer entre ocrente e o incrédulo?16 E que acordo pode existir entre otemplo de Deus e os ídolos? Porquantosomos santuário do Deus vivo. Comodeclarou o próprio Senhor: “Habitareineles e entre eles caminharei; serei o seuDeus, e eles serão meu povo!”17 Portanto, “saí do meio deles e separai-vos, diz o Senhor, e não toqueis em nadaque seja impuro, e Eu vos receberei.18 Serei para vós Pai e sereis para mim fi lhos e fi lhas”, diz o Senhor Todo-Pode-roso!5

7Amados, visto que temos essas pro-messas, purifi quemo-nos de tudo o

que possa contaminar o corpo e, porconseguinte a alma, aperfeiçoando asantidade no temor de Deus.1

Consolo em meio às afl ições2 Acolhei-nos em vosso coração; a nin-guém tratamos com injustiça, a nenhu-

3 A palavra original grega hupomone, traduzida em algumas versões por “paciência”, tem o sentido de “seguir com a firmeesperança de chegar a um final feliz”. Um dos pais da Igreja, Crisóstomo, chamou essa virtude de “a raiz de todos os bens”,ao considerar a “perseverança” como um dos fundamentos da vida cristã. Paulo zelava por sua vida com Deus e por seutestemunho como apóstolo (missionário e ministro de Cristo). Diferentemente dos falsos mestres de seu tempo (que viviammuito bem em função do dinheiro que extorquiam de religiosos incautos), Paulo pagava um preço muito alto por sua condutasincera e verdadeira. Sua carta de apresentação era escrita com suas próprias marcas (no corpo e na alma) em favor das igrejas,especialmente dos cristãos de Corinto (4.8-12).

4 Paulo havia aprendido que as verdadeiras e eternas riquezas não se consistem em bens mundanos, mas em ser “rico paracom Deus” (Lc 12.15-21). O cristão não é impedido de ser próspero materialmente, mas deve preservar seu maior e mais impor-tante bem: a herança de Cristo (1Co 1.4,5; 3,21; Ef 2.7; 3.8; Fp 4.19; Cl 2.3).

5 Os inimigos de Paulo tentaram jogar os coríntios contra ele, alegando que o apóstolo era neurastênico e desprovido de realfraternidade pelos cristãos (5.13). Paulo, no entanto, está preocupado em evitar que a igreja de Corinto seja arrastada para opecado por falsos mestres, que usam de lisonja e demagogia, a serviço do Diabo (Belial é um termo derivado do hebraico paraldesignar Satanás – Dt 13.13). Por isso, o apóstolo faz menção à proibição das “misturas de fé” (Dt 22.10). Se os coríntios sealiarem a esses “pregadores de si mesmos”, portanto, “não cristãos”, se colocarão em “jugo desigual” e quebrarão a harmoniae a comunhão que os mantém em sintonia com Cristo. Paulo adverte aos crentes que não podem voltar à idolatria, pois agoraforam feitos moradia do Espírito de Deus (tabernáculos, templos) ao se entregarem ao Evangelho (1Ts 1.9). Como edifícios(pedras vivas), separados para a residência permanente do Senhor, não é concebível que estabeleçam qualquer aliança de fé ecomunhão com pessoas que andam sem o Espírito de Deus habitando em suas vidas (1Co 6.19,20).

Capítulo 71 A vontade de Deus sempre foi estabelecer uma relação sincera de amor e adoração entre sua maior criação: o ser humano, e

seu Criador (6.16-18). Para que essa comunhão ocorra, é necessário que o homem se separe de toda imundícia contaminadora.Quanto mais progredimos no processo de santificação, mais próximos de Deus desejamos estar (1Ts 4.7; 1Jo 3.3).

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ma pessoa prejudicamos, de ninguém jamais nos aproveitamos.3 Não digo isso para de alguma forma vos condenar, pois já afi rmei que estais em nosso coração para juntos morrer-mos ou vivermos. 4 A minha confi ança em vós é grande,e muito me orgulho por vossa causa;sinto-me grandemente confortado etransbordante de júbilo em toda a nossatribulação.2

É Deus quem consola o abatido5 Pois, nem quando chegamos à Macedô-nia tivemos descanso; pelo contrário, em tudo fomos atribulados; externamente, lutas; internamente, temores.6 Deus, contudo, que consola os abatidos; consolou-nos com a chegada de Tito;3

7 e não somente com a vinda dele, mas semelhantemente com a consolação que Tito recebeu de vós. Ele nos relatou sobre a saudade, a tristeza e a preocupação que tendes por mim, de maneira que me ale-grei ainda mais.8 Porquanto, mesmo que vos tenha en-tristecido com a minha carta, não me arrependo. De fato, a princípio me arre-pendi, pois percebi que aquelas palavras vos entristeceram, ainda que por pouco tempo. 9 Agora, no entanto, me alegro, não porque fostes contristados, mas porque o efeito da tristeza vos levou ao arrepen-dimento. Porquanto, segundo a vontade de Deus é que fostes entristecidos, a fi m

de que não sofrêsseis prejuízo algum por nossa causa.10 A tristeza, conforme o Senhor, não produz remorso, mas sim uma qualidade de arrependimento que conduz à salva-ção; porém, a tristeza do mundo traz a morte.4

11 Pois vede o que esse constrangimento, segundo a vontade de Deus produziu em vós: que dedicação, mas igualmente que defesa própria, que indignação, que temor, que saudade, que preocupação, que anseio por ver a justiça estabelecida! Em todos os aspectos, provastes estar inocentes nessa questão.12 Portanto, ainda que eu vos tenha escrito, não foi por causa daquele que praticou o mal, nem por causa daquele que foi prejudicado, mas para que diante de Deus vos fosse possível perceber a si mesmos como sois dedicados fraternal-mente a nós.13 Por todas essas manifestações de afeto, fomos revigorados. Além do ânimo que recebemos, alegramo-nos muito mais ao contemplar a alegria de Tito, porquanto sua alma semelhantemente foi contem-plada com o encorajamento que recebeu de todos vós.14 Pois eu havia declarado a ele que es-tava orgulhoso de vós, e não fui decep-cionado por vós; mas como tudo que vos afi rmamos era verdade, assim também o orgulho que manifestamos a Tito se provou verdadeiro.15 E o carinho dele para convosco é ainda

2 Paulo havia sido acusado por falsos cristãos de ser injusto, destrutivo, ranzinza e fraudulento, erros que eles própriospraticavam. A demorada digressão que começou em 2.14 termina aqui, com uma exclamação de satisfação. As notícias quePaulo havia aguardado com tanta ansiedade da igreja de Corinto se revelaram boas e tranqüilizadoras, proporcionando grandealegria à alma do apóstolo.

3 Paulo retoma a narrativa que iniciara em 2.12,13, quando compartilhava como sua esperança de se encontrar com Tito em Trôade fora frustrada e como, ansioso por obter notícias e mais depressa voltar aos coríntios, rumou para a Macedônia. Agora,contudo, explica que ao chegar na Macedônia encontrou-se com seu amado amigo Tito, o qual lhe trouxe boas notícias da igrejaem Corinto, acrescentando que ele próprio havia sido muito bem recebido pela igreja, o que muito alegrou o coração de Paulo.

4 A palavra original grega metanoia significa “arrependimento”, mas no sentido de uma convicção prática em relação a mudançade atitude ou caminho. Decisão necessária para a conversão e salvação de qualquer pessoa (Lc 13.3,5). A “tristeza conforme oSenhor” refere-se ao sincero e profundo sentimento (conclusão) de se ter pecado contra a vontade explícita de Deus e, por isso, estar condenado à separação eterna de Deus (morte). Seguida de arrependimento, confissão e mudança, possibilita a salvação(Mt 11.28). Por outro lado, a “tristeza do mundo” é um tipo de depressão e frustração egoísta, motivada pelas conseqüênciasdolorosas das atitudes pecaminosas praticadas, e não por um arrependimento teocêntrico.

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13 2 CORÍNTIOS 7, 8

mais intenso ao recordar da obediência de todos vós e de como o recebestes com temor e tremor.16 Alegro-me por poder depositar plena confi ança em vós.

Contribuir com generosidade

8Agora, irmãos, desejo que tenhais ple-no conhecimento da graça que Deus

concedeu às igrejas da Macedônia.1

2 No meio da mais severa tribulação, a grande alegria e a extrema pobreza deles transbordaram em rica generosidade.2

3 Porquanto posso dar testemunho de que contribuíram de livre vontade na medida de seus bens, e até mesmo acima disso!3

4 Pois nos solicitaram, com muita in-sistência, o privilégio de participar da assistência em favor dos santos.5 E não simplesmente fi zeram o que esperávamos, mas primeiramente deram a si mesmos ao Senhor, e a nós pela von-tade de Deus.4

6 De tal maneira que pedimos a Tito que, assim como já havia começado, seme-lhantemente completasse essa expressão de graça da vossa parte.5

7 Todavia, assim como tendes transbor-dado em tudo, em fé, em palavra, emconhecimento, em toda a dedicação eno amor que temos despertado em vós,vede que igualmente transbordeis nesseprivilégio de contribuir.8 Não vos digo isso como quem dá or-dens, mas para provar a sinceridade dovosso amor, mediante a comparaçãocom a dedicação de outros.9 Pois conheceis a graça de nosso SenhorJesus Cristo, que, sendo rico, tornou-sepobre por vossa causa, para que fosseisenriquecidos por sua pobreza.6

10 Portanto, esse é meu conselho: convémque façais vossas contribuições, já quedesde o ano passado fostes os primeiros,não somente a contribuir, mas também asugerir esse plano de cooperação. 11 Agora, pois, completai a obra, a fi m deque a forte disposição de realizá-la sejaigualada ao zelo em concluí-la, de acordocom os bens que possuís. 12 Porque, se existe disposição, isso éaceitável conforme o que alguém possui,e não segundo o que não tem.7

13 Entretanto, nosso desejo não é queoutros sejam aliviados enquanto sejais

1 Os capítulos 8 e 9 revelam conceitos de Deus sobre o ministério dos crentes de contribuir; com suas vidas, bens e dinheiropara o progresso do Evangelho em todo o mundo. A contribuição para o sustento e avanço da obra de Cristo ou para assistênciasocial deve alicerçar sua motivação principal na mesma graça divina que levou Jesus a entregar-se por nossa salvação emsacrifício perpétuo (v.9).

2 Paulo salienta que os macedônios não contribuíram do que lhes sobejava, mas tirando sem medida da sua própria pobrezaofertaram com generosidade e grande alegria. A expressão grega original haplotetos, aqui traduzida por “generosidade”, tem osentido de “singeleza de coração”. Somos motivados a contribuir com liberalidade (literalmente: sem calcular quanto estamosdeixando de poupar), livres de motivos egoístas (Rm 12.8).

3 Quando a graça do Senhor inunda a vida do crente, sua contribuição não somente é teocêntrica (dirigida pelo Espírito), es-pontânea e generosa, como também realizada com muita alegria interior. Portanto, não é necessário que os crentes pressionemou sejam pressionados a cooperar. O testemunho de Paulo e de outros irmãos serviram de grande testemunho e motivação.

4 Antes da motivação para a contribuição material e financeira com o ministério da Igreja, o crente é impulsionado pelo EspíritoSanto a doar sua vida a Jesus, seu Salvador e Senhor. Os macedônios se ofereceram como missionários ao lado de Paulo, e paracooperar de todas as formas com a expansão do Reino de Deus por todo o mundo. O crente sincero chega à conclusão de quepessoas (almas) são muito mais importantes do que dinheiro (12.9,10).

5 A coleta das ofertas havia começado entre os coríntios sob a orientação de Tito, acerca de um ano atrás (v.10; 9.2). Entretanto,pelos problemas surgidos na igreja, tal plano de ação havia perdido o interesse geral. Paulo, então, está enviando Tito de volta àIgreja em Corinto, levando consigo essa carta de encorajamento.

6 Deus-Filho em sua encarnação e morte expiatória na cruz do Calvário, no lugar de todo crente, esvaziou-se da sua glória eriqueza absoluta para que, por meio da sua pobreza, nós pudéssemos ser enriquecidos. Esse é o grande incentivo e motivaçãode toda a generosidade cristã sobre a terra até o glorioso retorno do Senhor.

7 Ao contribuir, o mais importante é a sinceridade e a boa vontade, independente do valor monetário da oferta. Nosso exemplo7

mais notável é o da viúva pobre, observado por Jesus em Mc 12.41-44. O método de arrecadação usado em Corinto tinha sidoproposto pelo próprio apóstolo em sua primeira carta (1Co 16.1,2).

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sobrecarregados, mas que haja justo equilíbrio.14 No presente momento, a vossa fartura suprirá a grande necessidade deles, para que, de igual modo, a abundância deles venha a suprir a vossa privação, e assim haja igualdade. 15 Como está escrito: “Quem muito havia colhido não o fez em excesso, para que nada faltasse a quem pouco recolhera”.8

Zelo na coleta das ofertas 16 Agradecemos a Deus por ter colocado no coração de Tito a mesma dedicação por vós;17 pois Tito não apenas aceitou a nossa solicitação, mas já partiu para vos visitar, com muito entusiasmo e por iniciativa própria. 18 E juntamente com ele estamos envian-do o irmão, que é recomendado por todasas igrejas por seu serviço no evangelho.9

19 E não apenas por esse motivo, mas ele também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem, enquanto ministramos essa graça para a glória do Senhor e para demonstrar nossa boa vontade.20 O nosso cuidado é evitar que alguémnos acuse em relação ao modo de admi-nistrar essa generosa oferta,21 pois estamos empregando todo o zelo necessário para fazer o que é correto, não somente ao olhos do Senhor, mas tam-bém perante aos olhos dos homens.10

22 Além de tudo, estamos enviando com

eles o nosso irmão que, muitas vezes ede várias maneiras, já nos provou serzeloso, e agora ainda mais dedicado,por causa da grande confi ança que eletem em vós.23 Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, eles são apóstolos das igrejas e glória para Cristo.11

24 Portanto, diante das demais igrejas, manifestai a esses irmãos a prova do amor que tendes e a razão do orgulho que temos de vós.

Orientações quanto à coleta

9Ora, quanto à assistência em favor dos santos, não há necessidade de que

vos escreva, 2 porquanto estou convicto da vossa to-tal disposição, da qual me orgulho de vós diante dos macedônios, informando que a Acaia está pronta para contribuir desde o ano passado. E a vossa dedicação tem incentivado muitos outros.3 No entanto, estou enviando esses ir-mãos, com o propósito de que nosso or-gulho por vós, nesse aspecto, não se torne inútil, a fi m de que estejais preparados, como afi rmei que de fato estariam,4 a fi m de que, se alguns macedônios forem comigo e os encontrarem despre-parados, nós, para não vos mencionar, não sejamos envergonhados por tanta confi ança que depositamos em vós.5 Sendo assim, considerei necessário pedir a esses irmãos que vos visitassem e

8 Os cristãos de Corinto eram economicamente mais prósperos que os macedônios. No entanto, Paulo lhes lembra da instabilidade da vida, onde as situações podem se alterar de uma hora para outra (Rm 15.27). Assim, no futuro, os crentes judeus(na época necessitados da oferta) poderão ajudar os coríntios de alguma forma. Paulo faz referência a Êx 16.18,19 e lembra umapassagem na vida dos israelitas, quando colheram diariamente o maná no deserto. Os idosos e fracos juntavam menos do quenecessitavam, enquanto os jovens e vigorosos recolhiam mais. Entretanto, a distribuição era equânime, de modo que o excessode uns compensava a falta de outros, e todos tinham suas necessidades supridas. Esse é o sentido do termo “igualdade” nadoutrina bíblica.

9 Tanto aqui como no v.22, não se é possível precisar quem é “o irmão” citado por Paulo. Tudo indica que sejam Lucas e Tíquico(At 20.4; Ef 6.21; Cl 4.7). De qualquer maneira, homens de Deus, bem conhecidos por sua fidelidade ao ministério.

10 É muito importante que o servo do Senhor seja avaliado não somente por Deus, que a tudo contempla, mas pelo povo daigreja, sobre a maneira bíblica, correta, ética e honesta com que vive e administra a obra de Cristo.

11 Paulo usa o termo original grego apostolos, no sentido técnico e missiológico do NT, isto é, “mensageiro” (Fp 2.25). Sãorepresentantes legais da igreja, oficialmente eleitos pelos cristãos por sua fidelidade indiscutível ao Senhor para servirem ao povo como delegados eclesiais. Poucos irmãos podem ser escolhidos como apóstolos, mas todo crente pode refletir a glória de Cristoem sua vida (3.18; At 20.4).

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preparassem de antemão a vossa contri-buição, que já havia sido prometida, para que esteja pronta como oferta generosa e não como algo arrancado da avareza.1

Semeando e colhendo fartura 6 Lembrai-vos: “aquele que pouco se-meia, igualmente, colherá pouco, mas aquele que semeia com generosidade, da mesma forma colherá com fartura”.2

7 Cada pessoa coopere conforme tiver proposto em seu coração, não com pesar ou por constrangimento, pois Deus ama o doador que contribui com alegria.8 Certos de que Deus é poderoso para fazer que toda a graça vos seja acrescen-tada, a fi m de que em todas as áreas da vida, em todo o tempo, tendo todas as vossas necessidades satisfeitas, transbor-deis em toda boa obra.9 Como está escrito: “Distribuiu, doou dos seus bens aos necessitados; a sua fi -delidade será eternamente reconhecida”.10 Aquele que oferta a semente ao que semeia, e pão ao que tem fome, também vos suprirá e multiplicará a semente e fará desenvolver os frutos da vossa fi -delidade.11 Sereis enriquecidos em todas as áreas de vossas vidas, a fi m de que possais ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a vossa boa vontade resulte em ações de graças a Deus.

12 Porquanto, ao ministrar essa assis-tência não apenas estais suprindo as necessidades dos santos, mas semelhantemente pro-movendo o transbordamento de variadasexpressões de louvor e gratidão a Deus.3

13 Por intermédio dessa prova de verda-deiro serviço ministerial, muitos outroslouvarão a Deus pela obediência queacompanha a vossa confi ssão do Evan-gelho de Cristo e pela generosidade dovosso coração em compartilhar vossosbens com eles e com todos os outros. 14 E eles, orando em vosso favor, de-monstram a profunda afeição que têmpor vós, por causa da extraordináriagraça de Deus que vos foi concedida.15 Graças a Deus por nos haver oferecidoseu maior e mais indescritível dom!4

A autoridade apostólica de Paulo

10E eu mesmo, Paulo, vos rogo pelapaciência e bondade de Cristo;

eu, que segundo dizem, quando vosconfronto face a face sou “humilde”, en-tretanto, quando ausente sou “ousado” no falar;2 suplico-vos que, quando estiver con-vosco, não seja obrigado a usar de rigor eaudácia, tal como penso que ousarei agir,para com alguns que imaginam que nosconduzimos por padrões meramentehumanos.3 Porquanto, embora vivendo como seres

1 A doutrina do NT sobre a contribuição econômica e financeira enfatiza os seguintes princípios: a total liberdade e esponta-neidade (At 5.4; 2Co 8.11); a paz e alegria em contribuir (v.7), especialmente com os irmãos em Cristo (Gl 6.10). Entretanto, afalta de cooperação com a Igreja demonstra ausência de sensibilidade ao Espírito de Deus (1Jo 3.17; Tg 2.15,16). As ofertas oucontribuições regulares têm a finalidade de manter e expandir a obra do Senhor e possibilitar que nenhum membro da família deCristo precise viver em miséria (8.14). Testemunhos de doação sempre provocarão expressões de louvor e gratidão a Deus (9.12).A responsabilidade espiritual de contribuir com a Igreja é própria dos membros do Corpo de Cristo (Mt 25.34-46). Contudo, ospobres não podem usar qualquer princípio bíblico para evitar a necessidade de trabalhar com afinco, nem reivindicar eventuaisdireitos sobre as posses dos mais prósperos. Tanto o egoísmo como a ociosidade são atitudes contrárias à vontade expressade Deus (2Ts 3.10).

2 Adágio rabínico bem conhecido, mas não presente no livro de Provérbios do AT. A doação cristã é sempre uma cooperaçãocom Deus e seu Reino, e deve ser espontânea, fruto do amor. As bênçãos decorrentes de se obedecer à voz do Espírito sãocertas e inevitáveis (Lc 6.38).

3 Paulo salienta que o efeito da doação generosa dos coríntios vai ultrapassar em muito os limites da Igreja em Jerusalém(destino específico dessa oferta), chegando à Igreja em todo mundo (e todas as épocas), promovendo em toda parte e em muitospovos profundas manifestações de louvor ao Senhor (vv.13,14).

4 O próprio Deus a quem servimos é o maior exemplo de generoso doador, pois deu a si mesmo, na pessoa do seu FilhoJesus Cristo, por nossa eterna salvação. Nesse sentido, qualquer contribuição cristã é apenas uma maneira de manifestar nossaadoração, gratidão e louvor por essa dádiva inefável (8.9; 1Jo 4.9-11).

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humanos, não lutamos segundo os pa-drões deste mundo.1

4 Pois as armas da nossa guerra não são terrenas, mas poderosas em Deus para destruir fortalezas!5 Destruímos vãs fi losofi as e a arrogância que tentam levar as pessoas para longe do conhecimento de Deus, e dominamos todo o pensamento carnal, para torná-lo obediente a Cristo.2

6 E estaremos preparados para repreen-der qualquer atitude rebelde, assim que alcançardes a perfeita obediência.3

7 Por hora, observais tão somente a apa-rência externa dos eventos. Se alguém está convicto de que pertence a Cristo, deveria considerar este fato: assim como essa pessoa, nós também somos proprie-dades de Cristo.4

8 Pois ainda que eu tenha me gloriado um pouco mais da autoridade que o Se-nhor nos outorgou, não me envergonho desse sentimento, pois essa autoridade é para edifi cá-los e não para destruí-los.

9 Não desejo que vos pareça que minha intenção é amedrontá-los com minhas cartas.10 Pois, como alardeiam alguns: “as car-tas dele são duras e exigentes, contudo ele pessoalmente não impressiona, e sua pregação é desprezível”.5

11 Considerem tais pessoas que aquilo que somos em carta quando estamos distantes, seremos em atitudes, quando estivermos presentes. 12 Pois não ousamos igualarmo-nos oucompararmo-nos com alguns que se re-comendam a si mesmos. Entretanto, estes, medindo-se e comparando-se entre si, de-monstram quão faltos de sabedoria são.13 Nós, porém, não nos orgulharemos além do limite adequado, mas limita-remos nosso gloriar ao âmbito da ação que Deus mesmo nos confi ou, o qual vos alcança inclusive!14 Com certeza, não estamos indo longe demais em nosso orgulho, como seria se não tivéssemos chegado até vós, porquan-

1 Os primeiros nove capítulos dessa carta demonstram que Paulo já havia conseguido solucionar alguns dos muitos problemasda Igreja em Corinto. Entretanto, um remanescente arrogante, rebelde e faccioso continuava perturbando a paz da igreja comilações e calúnias contra a autoridade apostólica de Paulo. Esse grupo propagou a falsa idéia de que Paulo era neurastênico,inconstante e inseguro (1Co 1.20; 4.10; 14.3). Eles alegavam que, em suas cartas, o apóstolo se beneficiava da distância eda impessoalidade para ser enérgico e corajoso. Mas, em suas visitas pessoais, era dócil e fraco. Paulo apela à mansidão e benignidade de Cristo, características típicas do Messias (Zc 9.9), para confrontar firmemente seus opositores, antecipando-lhes que terão oportunidade de comprovar a autoridade espiritual que ele recebeu de Deus; e que no Reino de Deus, segurança epoder não têm nada a ver com retórica e violência.

2 Paulo está preparado para a guerra, suas armas não são mundanas e de uso comum por parte daqueles que pretensiosa-mente confiam apenas em sua capacidade intelectual e carisma pessoal. O apóstolo zela por estar em comunhão com Deus epleno do Espírito Santo, e não teme rechaçar os ataques dos falsos pregadores que procuram desviar o povo do caminho santodo Senhor para as fronteiras da perdição (1Co 2.13,14). Armas contaminadas pelo mal são incapazes de combater o pecado econquistar almas para Cristo (Zc 4.6). Portanto, todo o pensamento deve ser oferecido a Cristo em sacrifício, somente assim oâmago do nosso ser ficará plenamente submisso ao governo do Espírito Santo (Rm 12.1,2).

3 Paulo procura não visitar os irmãos em Corinto até que a igreja, de forma geral, esteja submissa ao Espírito e, portanto,obediente aos princípios da Palavra ministrados pelo apóstolo. Pois quem não é dirigido pelo Espírito Santo não tem qualquerrespeito ou temor à Palavra. Contudo, em breve, os “desobedientes e rebeldes” sentirão o poder e o rigor da disciplina apostólica(Mt 16.19).

4 Um dos problemas na igreja dos coríntios era o partidarismo. Vários grupos dividiam doutrinariamente a igreja. Haviaum grupo que se autodenominava “de Cristo” (1Co 1.12) e, justamente esses crentes se aliaram aos falsos mestres, paraquestionarem a experiência pessoal de Paulo com Cristo e seu chamado ao apostolado. Paulo, que tivera um encontro real emarcante com o Senhor ressurreto, tendo sido convocado ao ministério por Ele, e recebido do próprio Senhor o conteúdo doEvangelho que ensinava, afirma categoricamente pertencer a Cristo tanto quanto qualquer crente convicto (At 9.3-9; 22.6-11;26.12-18; Gl 1.12; 2Co 12.2-7).

5 Paulo não abdicou de sua erudição e notável inteligência, apenas deu maior destaque e expressão à sua experiência comCristo e ao poder do Espírito Santo em sua vida. Por isso, desprezou a eloqüência formal e a ostentação de conhecimentoacadêmico, em prol de maior transparência e autenticidade na pregação da Mensagem (Cristo, o Messias, Filho do Deus vivo,crucificado em nosso lugar, para a salvação eterna do crente) e no discipulado dos cristãos, especialmente, na Igreja em Corinto(11.6; 1Co 2.1-5). Os falsos mestres e inimigos do Evangelho faziam uso da arte da retórica com o principal objetivo de extorquir bens e dinheiro daqueles que se deixavam envolver pela lábia, lisonja e falsa simpatia. O amor e a franqueza de Paulo eram tãoverossímeis que seus próprios críticos e opositores não conseguiam “desprezar” o poder de suas palavras.

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to vos alcançamos com o Evangelho deCristo.15 E da mesma forma, não caminhare-mos além de nossos limites, orgulhando-nos de trabalhos que outros realizaram; pelo contrário, nossa esperança é que, à medida que for desenvolvendo a fé que habita em vós, semelhantemente o nosso ministério se estabeleça ainda em vosso meio,16 para que assim nos seja possível pregar o Evangelho nas regiões que estão alémde vós, sem nos vangloriarmos em cam-po de atuação de outro. 17 Apesar de tudo, “quem se gloriar, glo-rie-se no Senhor”,6

18 porquanto, quem se vangloria não será aprovado, mas sim aquele a quem o Senhor recomenda.

Cuidado com a lábia do Diabo

11Quisera eu me suportásseis ainda um pouco mais na minha loucura!

Rogo-vos que sejais pacientes comigo.1

2 Pois tenho verdadeiro ciúme de vós e esse zelo vem de Deus, pois vos consagrei em casamento a um único esposo, que é Cristo, a fi m de vos apresentar a Ele como virgem pura.2

3 Entretanto, receio que, assim como a

serpente enganou Eva com sua astúcia,também a vossa mente seja de algumaforma seduzida e se afaste da sincera epura devoção a Cristo.4 Porquanto, se alguém vos tem pregado um Jesus que não é aquele que ensinamos, ou se recebeis um outro espírito, que não o Espírito que creio, terdes recebido, ou ainda um evangelho diferente do que tendes abraçado, a tudo isso muito facil-mente, tolerais.5 Contudo, não me julgo em nada infe-rior a esses “eminentes apóstolos”.3

6 Pois, ainda que não use de eloqüen-te oratória, no entanto, não me faltaconhecimento. Em verdade, nós vos temos demonstrado isso em todo tipode situação.7 Será que cometi algum pecado aohumilhar-me com o propósito de vosexaltar, pois vos preguei gratuitamente oEvangelho de Deus?8 Para vos servir, despojei outras igrejasde seus recursos, recebendo delas susten-to fi nanceiro.9 Mas, quando estava presente convos-co, e passei necessidade fi nanceira, não me permiti ser pesado a ninguém, pois quan-do os irmãos vieram da Macedônia, supriram toda a minha necessidade. Em

6 Segundo um dos pais da Igreja, Clemente de Roma, o apóstolo Paulo, em cumprimento ao seu chamado missionário (apostó-lico) chegou até as regiões da Espanha, muito “além” das terras gregas. Quanto aos rebeldes e opositores de Corinto, nem seusnomes passaram para a história (At 19.21; Rm 1.11-15; 15.23-28). Paulo havia aprendido a não se orgulhar de suas capacidades,experiências e dons pessoais, mas a glorificar o Nome do Senhor em sua vida, por isso cita o profeta Jeremias (Jr 9.24).

Capítulo 111 Com o objetivo de tornar evidente a falsidade de alguns auto-intitulados “apóstolos de Cristo”, Paulo se vê obrigado a compa-

rar sua vida e obras em Cristo com as atitudes desses falsos mestres que estavam dividindo a Igreja em Corinto e colocando oscristãos contra o verdadeiro mensageiro do Senhor. Ao ter que apresentar suas credenciais e falar de suas virtudes para aquelesa quem tanto amava e tanto conhecia, Paulo ironiza sua situação e comunica aos seus leitores que só estando fora de si paraverbalizar tantas jactâncias e obviedades; como, aliás, apreciavam fazer os falsos apóstolos.

2 Zelo é a expressão que retrata o cuidado extremo (ciúme) de Deus para com seu povo (noiva) Israel no AT (Is 54.5; 62.5;Os 2.19-20). Cristo é, muitas vezes, identificado no NT como o Noivo, sendo a Igreja, personificada como sua noiva (Mt 9.15; Jo3.29; Rm 7.4; 1Co 6.15; Ef 5.23-32; Ap 19.7-9; 21.2). Paulo era reconhecido como pai espiritual dos coríntios (6.13), e “amigo doNoivo” (Jo 3.29). Por isso, tinha a responsabilidade de garantir a saúde e a educação (espiritual e moral) da “virgem” (a Igreja nãomaculada por falsas doutrinas) e conduzí-la pura ao casamento fiel e eterno com o Noivo.

3 A estratégia da falsidade é que ela, de fato, não é toda mentirosa, há sempre elementos de verdade em seu contexto, e issoa torna ainda mais sagaz e perniciosa. Os inimigos de Paulo eram judeus também e estavam apresentando um Jesus de acordocom as suas próprias doutrinas judaicas (v.22). Os coríntios estavam aceitando conceitos de um “espírito” de escravidão, medoe mundanismo (Rm 8.15; 1Co 2.12; Gl 2.4; Cl 2.20-23) em vez de apresentarem o fruto do “Espírito”: liberdade, amor, alegria,paz, coragem e poder (3.17; Rm 14.17; Gl 2.4; 5.1-22; Ef 3.20; Cl 1.11; 2Tm 1.7). Historicamente, líderes religiosos, hereges,despóticos e carismáticos têm sido mais ovacionados pelo mundo do que os santos servos do Senhor. Por isso, os crentes e asigrejas precisam ter cuidado para não se deixarem influenciar pelos “superapóstolos” ou “eminências”, conforme a ironia usadapor Paulo, e, assim, em se afastar da verdade (Gl 1.6-9).

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tudo evitei ser um peso para vós, e assimcontinuarei a caminhar.4

10 Tão certo como a verdade de Cristo está em mim, absolutamente ninguémna região da Acaia poderá privar-me dessa glória.11 Por quê? Será porque não vos tenho dedicado amor fraternal? Ora, Deus sabe que vos amo!12 O que faço, e seguirei fazendo, tem o objetivo de não dar oportunidade aos que procuram ocasiões de serem consi-derados iguais a nós nas obras de que se orgulham.5

13 Porquanto, tais homens são falsos apóstolos, obreiros desonestos, fi ngindo-se apóstolos de Cristo.14 E essa atitude não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. 15 Portanto, não é surpresa alguma queseus serviçais fi njam que são servos da justiça. O fi m dessas pessoas será de acor-do com o que as suas ações merecem.

Fracos na carne, fortes em Cristo16 Afi rmo, uma vez mais, que ninguémme considere louco. Mas, se assim pen-sais, recebei-me como quem acolhe a um fraco de juízo, pois assim, ao menos, terei algo de que me orgulhar. 17 Ao declarar esse orgulho, não o estou fazendo segundo o Senhor, mas como quem perdeu a sensatez.

18 Considerando que há muitos que se orgulham de acordo com padrões mun-danos, ora, eu de igual modo posso me orgulhar.19 Assim, vós que sois tão lúcidos, certa-mente sabeis acolher os desequilibrados!20 Porquanto, de fato, acolheis até quem vos escraviza ou vos explora, ou aqueles que sobre vós se exaltam, e até mesmo suportais quem vos esbofeteia.21 Para minha vergonha, devo admitir que fomos fracos. Todavia, naquilo em que todos os outros se atrevem a orgu-lhar-se, falando como louco, também eu me atrevo.22 Ora, são eles hebreus? Eu também sou. São israelitas? Eu também sou. São des-cendentes da Abraão? Eu também sou.23 São servos de Cristo? Eu ainda mais, me expresso como se estivesse enlou-quecido, pois trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente em perigo de morte várias vezes.6

24 Cinco vezes, recebi dos judeus trinta e nove açoites.25 Três vezes fui espancado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei um dia e uma noite exposto à fúria do mar.7

26 Muitas vezes, passei por perigos em viagens, perigos em rios, perigos entre assaltantes, perigos entre meus próprios compatriotas, perigos entre os gentios,

4 Paulo usa uma expressão muito rara em grego para construir uma metáfora em relação ao procedimento dos falsos apóstolos.O termo, aqui traduzido por “pesado”, tem a ver com a atitude predatória de um peixe oriental que primeiro paralisa (hipnotiza) sua presa para, em seguida, devorá-la tranqüilamente.

5 Era comum nas regiões da Grécia (a província de Acaia ficava ao sul, onde se localizava a cidade de Corinto), no século I, osmestres religiosos e filósofos itinerantes receberem por qualquer ensino que ministravam. Paulo, contudo, havia decidido em seucoração, não cobrar nada pela proclamação do Evangelho e discipulado cristão, embora aceitasse ofertas voluntárias, conformeo ensino de Cristo (Lc 10.7; Gl 6.6). Os falsos apóstolos alegavam que o ensino de Paulo era fraco e sem qualidade acadêmica,por isso era de graça. Na verdade, desejavam que Paulo passasse a cobrar por seu ministério, e assim se igualasse a eles. Oapóstolo se nega a proceder assim e insiste em continuar sua jornada de pregar e testemunhar o dom gratuito de Deus. Irmãosda Macedônia e da Igreja em Filipos foram movidos pelo Espírito e supriram todas as necessidades do apóstolo do Senhor (At18.5; Fp 4.15).

6 Paulo usa uma expressão grega, semelhante a “alucinado ou doido”, para expressar figuradamente seu estado hipotéticode total descontrole emocional e psíquico, em função de ter que dar provas da verdade transparente e inegável que vive desdeque conheceu a Cristo.

7 Os judeus costumavam aplicar um castigo, muitas vezes mortal, chamado “quarentena”, que consistia de uma sessão de 407

chibatadas menos uma (Mt 10.17). Oito fustigações são mencionadas aqui, cinco pelas mãos dos judeus (Dt 25.1-3) e três porautoridades romanas, que usavam varas nessas ocasiões; apesar da cidadania romana de Paulo, que deveria tê-lo protegido desse tipo de castigo (At 16.22-29).

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perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos.8

27 Trabalhei arduamente; por diversas vezes, fi quei sem dormir, passei fome e sede, e, muitas vezes atravessei longos períodos em jejum; suportei frio enudez.28 Além de tudo isso, pesa diariamente sobre mim a responsabilidade que tenho para com todas as igrejas.29 Ora, quem se enfraquece, que eu semelhantemente não me sinta enfra-quecido? Quem se escandaliza, que eu de igual forma não fi que indignado? 30 Se, portanto, devo me orgulhar, então que seja nas atitudes que revelam minha própria fraqueza.9

31 O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito por toda a eternidade, sabe que não estou falseando a verdade.32 Em Damasco, o governador da cidade, sob a autoridade do rei Aretas, vigiava a cidade dos damascenos com o fi rme propósito de prender-me.10

33 Todavia, através de uma janela, desce-

ram-me muralha abaixo dentro de umcesto. E assim, fui livrado das mãos dele.

O espinho na carne e a glória

12Considerando, pois, ser necessárioque vos exponha minhas glórias,

embora não me seja vantajoso orgu-lhar-me, passarei às visões e revelaçõesdo Senhor. 2 Conheço um homem em Cristo que hácatorze anos foi arrebatado ao terceirocéu. Se foi no corpo ou fora do corpo,não entendo exatamente, Deus o sabe.3 Mas sei que esse homem, se isso ocor-reu no corpo ou fora do corpo, não sei,mas certamente Deus o sabe,1

4 foi arrebatado ao paraíso e ouviu pala-vras inexprimíveis, as quais não é conce-dido ao homem comentar.5 Nesse homem me orgulharei, mas nãoem mim mesmo, a não ser em minhaspróprias fraquezas.2

6 Ainda que eu decidisse gloriar-me nãoseria, de fato, insensato, porquanto esta-ria narrando verdades. Contudo, evitofalar sobre isso para que ninguém pense

8 Em todos os lugares, todos os dias, Paulo corria risco de vida por causa do Evangelho e dos amados irmãos, como nos relataseu amigo Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos: Icônio (14.5), Listra (14.19), Filipos (16.22), Tessalônica (17.5), Éfeso (19.26).

9 Paulo reconhece que sua própria fraqueza e as limitações humanas abrem caminho para que ele possa experimentar todoo esplendor e poder da graça superabundante do Senhor. Por isso, ele chega à conclusão de que se há qualquer motivo deorgulho e glória, é na obra que a misericórdia de Cristo realizou em sua vida, e não em sua pessoa, ou em algum trabalho quetenha realizado. O servo de Deus que exorta os crentes a não se preocuparem, várias vezes se desesperou por amor à Igreja deCristo (At 20.19; Cl 2.1).

10 Paulo refere-se ao rei Aretas IV, sogro de Herodes Antipas, que reinou sobre os árabes da Nabatéia de 9 a.C. a 40 d.C.Nessa época, o terrível imperador romano, Calígula, havia devolvido Damasco para Aretas, pois essas terras já haviam lhepertencido no passado.

Capítulo 121 Paulo usa de um recurso lingüístico, em seu texto original grego, para narrar sua extraordinária experiência pessoal de arre-

batamento (extática ou êxtase), preservando, quanto possível, a humildade e a confidência diante do privilégio de vivenciar talfenômeno, no qual viu e ouviu manifestações inefáveis do Senhor. A maneira de Paulo se colocar (um homem em Cristo) indicaque ele não se considerava merecedor de tamanha graça, nem ao menos compreendia se tal evento se deu como uma visãomagnífica e extasiante ou se seu corpo físico foi trasladado para um plano celestial, contudo recebeu o fato de boa vontade comoprova do seu chamado apostólico. Paulo não induziu ou conquistou sua experiência especial com Cristo, por isso não se sentiano direito de dar ocasião a qualquer autoglorificação (vv. 5,6). Esse evento extraordinário aconteceu há catorze anos passados, oque indica que Paulo estava em Tarso, logo antes da sua primeira viagem missionária (At 9.30; 11.25).

2 Paulo tem certeza de sua experiência arrebatadora, diferentemente dos falsos apóstolos que apenas teorizavam sobre visõese revelações divinas. Ainda que os rabinos israelenses acreditassem em sete céus, Paulo aqui se refere ao “terceiro céu” comoum lugar chamado “paraíso”, o céu mais elevado, situado muito além do céu imediato formado pela atmosfera terrestre, e forado espaço exterior com todos os seus astros e galáxias, chegando onde Deus tem seu trono (Dt 10.14). Por isso, declara-se queJesus Cristo ressurreto e glorificado passou pelos céus e, agora, tendo sido elevado além de todos os céus, está exaltado acimado “terceiro céu”, onde as almas dos crentes que já deixaram seus corpos materiais descansam na presença do Senhor (Hb 4.14;7.26; Fp 1.20-23). A grandeza e as maravilhas presenciadas por Paulo ampliaram extraordinariamente sua fé e poder espiritual;entretanto, para que se mantivesse consciente de sua humanidade limitada e se preservasse humilde, uma aflição permanente edolorosa lhe foi imposta (v.7). Sua glória deveria estar sempre e somente no Deus de toda a graça (1Pe 5.10).

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a meu respeito mais do que seja capaz de observar em minha vida ou de mim pode ouvir. 7 E, para impedir que eu me tornasse arrogante por causa da grandeza dessas revelações, foi-me colocado um espinhona carne, um mensageiro de Satanás para me atormentar.3

8 Por três vezes, roguei ao Senhor que o removesse de mim.9 Entretanto, Ele me declarou: “A minha graça te é sufi ciente, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Sendo assim, de boa vontade me gloriarei nas minhasfraquezas, a fi m de que o poder de Cristo repouse sobre mim.4

10 Por esse motivo, por amor de Cristo, posso ser feliz nas fraquezas, nas ofensas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Porquanto, quando estou en-fraquecido é que sou forte!5

As credenciais do apóstolo11 Tornei-me insensato porque vós me obrigastes a isso. De fato, eu devia ser recomendado por vós, visto que em nada fui inferior aos “superapóstolos”, mesmo considerando que eu nada seja.12 Os sinais distintivos de um apóstolo foram demonstrados entre vós com

grande perseverança, por meio de obras extraordinárias, maravilhas e milagres.13 Assim, em que fostes inferiores às outras igrejas, a não ser no fato de que eu mesmo jamais ter me constituído num peso para vós? Perdoai-me por esta ofensa!

O amor missionário em ação 14 Eis que, pela terceira vez, estou pre-parado para partir ao vosso encontro, e não vos serei pesado; pois não vou em busca de vossos bens, mas procuro a vós mesmos. Porquanto, não são os fi lhos que devem poupar seus bens para os pais, mas sim os pais para os fi lhos.15 Desta forma, de boa vontade e por amor de vós, investirei tudo o que possuo e também me desgastarei pessoalmente em vosso favor. Assim, visto que os amo tanto, serei menos amado por vós?16 Seja como for, não tenho sido um peso sobre vós; no entanto, como sou “ardilo-so”, vos “conquistei com astúcia”.6

17 Ora, será possível que eu vos tenha ex-plorado por meio de algum missionário que vos enviei?18 Eu mesmo orientei a Tito para que vos visitasse, acompanhado de outro irmão. Porventura Tito vos explorou? Não mi-

3 Muitas são as conjeturas e especulações acerca da natureza desse “espinho na carne”, que afligia permanentemente apessoa do apóstolo e o fazia se sentir fraco e humilhado. Paulo, no entanto, jamais foi claro sobre isso nas Escrituras, nem seusdiscípulos e amigos. Para Lutero, se tratava das constantes perseguições; especialmente por parte dos judeus, seus própriosirmãos, aos quais Paulo dedicava tanto amor (Rm 9.3). De fato, nos textos hebraicos do AT, o termo “espinhos” pode significar também “inimigos” (Nm 33.55; Js 23.13). Por outro lado, esse fora o “espinho na carne” do próprio Lutero em sua luta pelaReforma. Paulo teve muitos sofrimentos físicos, padeceu de malária (Gl 4.13), de uma doença que muito lhe prejudicara a visão(Gl 4.15) e de fortes enxaquecas. Isso, sem falar, de todas as lutas espirituais e psicológicas que um servo de Deus da estaturade Paulo certamente enfrentou.

4 Assim como Jesus no Getsêmani, Paulo insistiu com Deus para que o livrasse daquele tormento. Entretanto, o Senhor preferiucobrir o sofrimento do apóstolo com Graça e Poder. É assim, que muitas vezes, Deus nos abençoa nessa terra: não destruindoou retirando o mal que nos aflige e enfraquece, mas transformando nosso sofrimento em motivo de fé, crescimento espiritual etestemunho da sua graça e amor eterno. Paulo havia aprendido a desfrutar da Graça do Senhor mesmo em meio aos sofrimentos,fraquezas e lutas dessa vida. Por isso, usou expressões que tinham a ver com a glória de Deus (em hebraico Shekinah) pousando sobre o templo (Jo 1.14; Ap 7.15). O termo “repouse” (em grego episkenőse) tem o sentido de “fazer seu tabernáculo”.

5 Paulo aprendeu a fazer as pazes com o sofrimento. Aceitou sua condição e se apropriou da glória e do poder espiritual queDeus lhe oferecia. Substituiu sua fraqueza humana pelo poder de Cristo, a arrogância natural pela humildade que deriva de umafé inabalável no amor e na graça de Deus. Paulo chegou ao estágio de sentir-se feliz nas experiências angustiantes - sem sermasoquista - por meio da certeza (fé) de que todas as coisas contribuíam – de alguma forma – para seu bem e o tornavam aindamais forte no Senhor (Rm 8.28; Jo 15.5; Fp 4.13).

6 Os “superapóstolos”, assim chamados irônica e literalmente por Paulo, caluniavam o apóstolo do Senhor, alegando que ele usava as arrecadações em favor dos cristãos pobres de Jerusalém em seu benefício pessoal e, por isso, não precisava ser“pesado” às igrejas onde ministrava. Na verdade, entretanto, esses falsos cristãos é que fraudavam tanto a teologia bíblica quantoa prática moral (11.13-15).

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nistramos nós pelo mesmo Espírito? Não seguimos juntos o mesmo caminho?

Deus é nosso Juiz e Salvador 19 Pensais que durante todo esse tempoestamos tentando nos defender diantede vós? Ora, é diante de Deus que apre-sentamos nossa defesa em Cristo, e todasas nossas atitudes, amados irmãos, têm opropósito de vos fortalecer.7

20 Porquanto, temo que, ao visitá-los, nãoos veja como eu gostaria, e que vós tam-bém não me encontrem como esperavam.Receio que haja entre vós brigas, invejas,ódio, ambições egoístas, calúnias, mexeri-cos, arrogância e muita confusão. 21 Temo ainda de que, quando estiver convosco outra vez, o meu Deus me hu-milhe diante de vós, e que eu lamente por muitos dos que pecaram anteriormente e que ainda não chegaram à conclusão que precisam se arrepender da impureza, das relações sexuais ilícitas e da devassidão moral que viviam praticando.

Exercer a autocrítica cristã

13Esta será a terceira vez que vou visitar-vos. Sendo assim, “toda

questão precisa ser confi rmada pelo de-poimento de duas ou três testemunhas”.

2 Já vos adverti quando estive entre vós,pela segunda vez. Agora, estando ausente,volto a dizer aos que anteriormente pe-caram e a todos os demais que, quandoretornar, com certeza não os pouparei,3 visto que estais exigindo que apresenteuma prova de que Cristo fala por meuintermédio. Ele não é fraco ao lidar con-vosco, mas sim, poderoso entre vós. 4 Porque, apesar de haver sido crucifi cadoem fraqueza, Ele vive, e isso pelo poderde Deus. Semelhantemente, somos fracosnele, mas, pelo poder de Deus viveremoscom Ele para vos servir.1

5 Examinai, portanto, a vós mesmos, afi m de verifi car se estais realmente na fé.Provai a vós mesmos. Ou não percebeisque Jesus Cristo está em vós? A não serque já estejais reprovados.2

6 Mas tenho a esperança de que compre-endais que nós não fomos reprovados. 7 Agora, oramos a Deus para que nãopratiqueis mal algum; não para queos outros observem que temos sidoaprovados, mas para que façais o que écorreto, embora pareça que tenhamosfalhado.8 Porquanto, nada podemos fazer contraa verdade, mas somente a favor dela.3

9 Pois nos alegramos quando somos enfra-

7 Paulo se submeteu à loucura de ter que apresentar suas credenciais apostólicas e defender sua própria pessoa e ministério,7

não para manter seu prestígio elevado e reputação ilibada perante os cristãos de Corinto, mas especialmente por causa do nomedo Senhor. É diante de Deus que ele se levanta, pois sua posição está na pessoa e na obra de Cristo. Longe de ser egocêntrico,sua preocupação está em cooperar com o crescimento espiritual dos irmãos em Cristo. Essa é a principal finalidade de sua vidae ministério (10.8).

Capítulo 131 Paulo adverte que não hesitará em tomar duras medidas disciplinares contra aqueles que, se declarando cristãos, insistem em se

manter rebeldes à Palavra de Deus, e cita Dt 19.15 para ordenar-lhes que restabeleçam a ordem na igreja (v.1). Essa rebeldia contraas palavras de Paulo é uma afronta à pessoa de Cristo que o nomeou Seu apóstolo. A autoridade do apóstolo é a mesma autoridadedo seu Mestre, e quem quiser se opor a Paulo, contando com sua suposta fraqueza e insegurança, descobrirá que Cristo é Deusfalando por meio do Seu apóstolo, e que Ele não é fraco, mas poderoso e justo (Fp 2.8; 4.13; Rm 1.4; 6.4; 1Pe 3.18).

2 Em vez de se entregarem às exigências e reivindicações imaturas e perversas (influenciados pelos falsos apóstolos), os cristãossão encorajados a examinar suas próprias consciências e avaliarem suas atitudes para com Deus, em relação aos seus semelhan-tes, e àqueles que lealmente doam suas vidas em favor do ministério. O termo “examinai” (em grego original peirazõ) significa “tes-tar”, “avaliar” o quanto estamos sendo “dignos” de nossa “convocação para sermos cristãos” (2Ts 1.11,12). O cristão que realmenteprocura viver o Evangelho e, portanto, está firme na fé, tem prazer em favorecer a ação do Espírito Santo na produção do Seu fruto(Gl 5.22; Mt 7.16). Paulo usa ainda a expressão “provai” (no original grego dokimazõ) que era usada quando alguém precisava“confirmar” ou “testar” o valor e a autenticidade de uma moeda. Alguns falsários fabricavam moedas de chumbo com a estampadas moedas de prata. No entanto, quando eram jogadas sobre o mármore, o som que produziam na colisão contra a pedra, logodenunciava a moeda falsa. Assim, o crente demonstra sua verdadeira fé, especialmente, quando sob provações.

3 Paulo não pede muito. Seguindo o pensamento grego, apela para a simples e definitiva expressão da verdade. Sendo assim,é impossível exercer a plena autoridade apostólica de uma maneira que não tenha a verdade como fundamento. Portanto, se a

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quecidos, e vós sois fortalecidos; rogamospor vosso aperfeiçoamento contínuo.410 Por esse motivo, escrevo estas palavras estando ausente, para que, quando eu estiver convosco pessoalmente, não ne-cessite ser rigoroso no uso da autoridade que o Senhor me outorgou para edifi cá-los, e não para destrui-los.

Saudações fi nais aos coríntios11 Sem mais, irmãos, despeço-me de vós! Procurai agir com maturidade, tende

verdade, que é Cristo, for reconhecida pelos cristãos até sua chegada em Corinto, não mais haverá necessidade de constrangi-mentos e correções disciplinares, pois a própria igreja se submeterá ao Espírito Santo e voltará ao bom senso cristão.

4 Paulo não se importava em sacrificar-se, desde que isso contribuísse para o aperfeiçoamento espiritual dos seus filhos nafé. Os cristãos de Corinto eram “fortes”, pois haviam sido abençoados com toda a graça e dons espirituais. No entanto, esta-vam confusos (ludibriados por falsos líderes cristãos e suas doutrinas espúrias) e não exercitavam seus dons com altruísmoe dedicação, necessitando, portanto, de aperfeiçoamento (Ef 4.12), ou seja, uso e preparação das virtudes espirituais paravencer os dias de luta e aflição. Esse preparo espiritual se adquire somente pela experiência sincera, dedicada e perseveranteem Cristo (2Tm 2.15).

5 A partir daqui, a bênção apostólica ou trinitária passa a ser uma tradição do culto cristão em todo o mundo. A graça de Cristonos revela o amor do Pai (v.11) que, por sua vez, nos concede o selo (o direito legal) para sermos filhos de Deus (Jo 1.12) porintermédio do Espírito Santo que produz comunhão fraternal entre os filhos de Deus em todos os povos, línguas e culturas. A santa trindade é um mistério conhecido como verdadeiro, não por meio de qualquer teorização lógica ou filosófica, mas simplesmentemediante a própria experiência cristã dos santos apóstolos e discípulos, por meio da qual o ser humano é alcançado pela graçasalvadora e transformadora do Cristo ressurreto, reconhecendo o amor e o perdão de Deus-Pai, e consagrando sua vida aos cuidados do Espírito Santo, procurando viver em comunhão com as três pessoas do único, poderoso e eterno Deus.

bom ânimo, encorajai-vos mutuamente, tende um só pensamento principal e vi-vei em harmonia. E o Deus de amor e paz estará convosco.12 Saudai-vos uns aos outros com o beijo santo. 13 Todos os santos vos enviam saudações.

A bênção apostólica 14 A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós!5

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