00_g&T_o Desenvolvimento Integrado de Um Projeto de Renovação de Fachadas Estudo de Um Caso Francês

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O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE UM PROJETO DE RENOVAÇÃO DE FACHADAS - ESTUDO DE CASO FRANCÊS

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  • O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE UM PROJETO DE RENOVAO DE FACHADAS: ESTUDO DE UM CASO FRANCS

    O DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DE UM PROJETO DE RENOVAO DE FACHADAS: ESTUDO DE UM CASO FRANCS

    OLIVEIRA, Luciana Alves OLIVEIRA, Luciana Alves M.Eng., Doutoranda da Escola Politcnica da USP, Departamento de Engenharia de Construo Civil M.Eng., Doutoranda da Escola Politcnica da USP, Departamento de Engenharia de Construo Civil [email protected]@poli.usp.br

    MAIZIA, Mindjid Prof. Dr. - Universit de Compigne Gnie des Systmes Urbains [email protected]

    MELHADO, Silvio Burrattino Prof. Associado - Escola Politcnica da USP Departamento de Engenharia de Construo Civil [email protected]

    RESUMO

    O mercado de reabilitao e renovao de edifcios no Brasil apresenta um grande potencial de crescimento; entretanto, ainda existe grande carncia de informaes quanto s melhores prticas para desenvolvimento dos seus projetos, bem como para garantir a qualidade da sua execuo e a exeqibilidade das operaes de manuteno na fase de uso do edifcio renovado. Alm disso, grande parte das legislaes e normas tcnicas brasileiras diz respeito construo nova e no prev diferenciao para a reabilitao, o que muitas vezes pode inviabilizar tais projetos. Portanto, o processo de reabilitao ou renovao de edifcios, conseqentemente o desenvolvimento de seus projetos, apresenta vrias dificuldades e questes a serem respondidas, alm de requisitar uma maior integrao entre as suas atividades. Alguns estudos mostram que o desenvolvimento integrado de projetos mais vantajoso que o seqencial, sugerindo ainda que na Frana o desenvolvimento de projetos mais integrado que seqencial comparado ao desenvolvimento de projeto adotado no Brasil. Dessa forma, o objetivo do trabalho analisar o processo de projeto de renovao das fachadas de um empreendimento francs, a partir de um estudo de caso, evidenciando as diferenas entre o desenvolvimento integrado e o desenvolvimento seqencial dos projetos. Alm disso, objetiva-se analisar se o processo de projeto adotado na Frana, nesse tipo de empreendimento, pode servir de exemplo para a construo brasileira. Conclui-se que as etapas e as atividades do processo de projeto do estudo de caso francs so parcialmente integradas. Entretanto, apesar de no totalmente integrado, o esquema de desenvolvimento de projeto francs apresenta mais vantagens que o brasileiro e pode servir de modelo para este ltimo, especialmente, em razo da integrao das atividades nas etapas iniciais de projeto, do contedo abrangente de cada uma dessas atividades, bem como pela forte presena de agentes de coordenao de projetos e de obras.

    Palavras-chaves: desenvolvimento integrado de projetos, projeto de fachadas, reabilitao, renovao/ retrofit.

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

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  • THE INTEGRATED DESING PROCESS OF BUILDING FACADE RENOVATION: A FRENCH CASE STUDY

    ABSTRACT

    The sector of building rehabilitation or renovation is one of the most promising areas in Brazil. However, the Brazilian expertise in this kind of design and to guarantee the quality of the construction as well as the feasibility of maintenance operations of building renovation is still deficient. Moreover, because of the fact that the greatest part of the Brazilian standards concerns the new construction, the rehabilitation and renovation design can become impracticable. Therefore, renovation and its design process show some difficulties and questions to be answered. In addition, renovation projects require a greater integration between their phases. Some studies showed that the integrated design process is more advantageous than the sequential one. Furthermore, they also suggested that the French design process is more integrated than sequential when compared to the Brazilian. Thus, based on a French case study, this paper aims to make a comparative analysis between the integrated and the sequential design processes of building facades renovation and analyze if the French design process can serve as a reference model to the Brazilian sector of buildings renovation. In conclusion, the French design process, although partially integrated, have more advantages than the Brazilian one and it is useful as a model for this one because of the integration of its activities in the initial stages of the design process, the good content of each one of these stages, as well as the existence of the design and the construction site coordinators. Key-words: integrated design process, facade design, rehabilitation, renovation/ retrofit

    1 INTRODUO

    O mercado de reabilitao e renovao1 de edifcios no Brasil apresenta um grande

    potencial de crescimento, especialmente nos grandes centros urbanos, como So

    Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Isso em funo da necessidade de modernizar

    fachadas e instalaes face s novas tecnologias e exigncias estticas atuais, do

    nmero crescente de edifcios com mais de quarenta anos e carentes por renovao

    e do surgimento de leis de incentivos ficais que visam incentivar aes para

    revitalizao de centros urbanos como, por exemplo, a Lei n 12 3502 Lei de

    fachadas da cidade de So Paulo e a disposio de financiamento de US$ 100

    milhes do BID para a Prefeitura Municipal de So Paulo para serem investidos em

    projetos de recuperao da rea central da cidade (FERREIRA et al, 2003).

    1 Neste artigo adotar-se- que reabilitao a ao de restabelecer o empreendimento ao seu estado de origem, utilizando tecnologias disponveis, restabelecendo, portanto, seu valor venal, mas no necessariamente alterando caractersticas arquitetnicas. J a renovao a ao de restabelecer o empreendimento ao novo por profundas transformaes que tornam o empreendimento em melhor estado e com novo aspecto. A renovao significa perda de caractersticas histricas e visa prolongar a vida til, eventualmente, modificar o uso e aumentar o valor venal do imvel, incorporando modernas tecnologias (Choay, 1992 e Kolliker et al, 1999).

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  • Entretanto, ainda existe uma carncia de informaes quanto s melhores prticas

    para desenvolvimento de projetos de reabilitao ou renovao de edifcios, bem

    como para garantir a qualidade da sua execuo e a exeqibilidade das operaes

    de manuteno na fase de uso do edifcio renovado.

    Uma primeira questo do processo talvez seja o objetivo da renovao. Cabe

    observar que a renovao de um edifcio e suas partes pode ser feita no somente

    para adequao s exigncias estticas e de durabilidade, mas tambm para

    adequao s outras exigncias de desempenho como, por exemplo, a de

    incrementar o desempenho trmico da fachada visando aumento da eficincia

    energtica do edifcio e, conseqente, contribuio para minimizao de impactos

    ambientais.

    Acredita-se que a anlise da viabilidade tcnica e, eventualmente, econmica, do

    processo de reabilitao ou renovao de edifcios tambm deve ser uma das

    primeiras questes a serem abordadas. Esta anlise baseia-se no resultado de vrios

    estudos, dentre eles: o diagnstico inicial das condies de desempenho do edifcio

    e a anlise do edifcio a ser reabilitado, ou renovado, no contexto histrico e

    arquitetnico da cidade.

    Integrando ainda a etapa de anlise da viabilidade, tem-se a questo da

    necessidade, ou no, de adaptar os edifcios a serem reabilitados ou renovados s

    legislaes e normas tcnicas atuais, especialmente daquelas que dizem respeito

    segurana e habitabilidade desses edifcios. Ressalta-se que grande parte das

    legislaes e normas tcnicas brasileiras diz respeito construo nova e no prev

    diferenciao para a reabilitao ou renovao, o que muitas vezes pode

    inviabilizar projetos de reabilitao ou renovao de empreendimentos.

    Nota-se, portanto, que o processo de reabilitao ou renovao de edifcios,

    conseqentemente, o desenvolvimento de seus projetos, apresenta vrias

    dificuldades e questes a serem respondidas, alm de requisitar uma maior

    integrao entre as suas atividades. Acredita-se que a conduo (desenvolvimento)

    2 A Lei n 12 350 Lei de fachadas - d iseno fiscal de IPTU (Imposto predial territorial urbano) por um perodo de 10 anos para os edifcios que fizerem um trabalho de recuperao/restauro e/ou reforma em suas fachadas (FERREIRA et al, 2003; Vespucci, 2004).

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  • integrada das atividades de projeto mais vantajosa que uma conduo seqencial,

    porm requer integrao entre os diversos agentes do processo desde as etapas

    iniciais.

    Um projeto tem desenvolvimento seqencial quando o incio de uma atividade

    depende do trmino da outra, onde as atividades realizadas montante so

    determinantes para aquelas situadas mais jusante. J um projeto que tem um

    desenvolvimento integrado pressupe trabalho em equipe, comunicao

    sistemtica, treinamento e parcerias, alm da participao dos representantes de

    todos os principais agentes do processo nessas equipes com o objetivo de levar suas

    necessidades e expectativas a todo o processo (MELHADO et al, 2005; FABRICIO,

    2002). Este esquema de desenvolvimento de projetos implica em integrar

    montante as dimenses que ocorrem tradicionalmente jusante.

    Alguns estudos mostram que o desenvolvimento integrado de projetos mais

    vantajoso que o seqencial, sugerindo ainda que na Frana o desenvolvimento de

    projetos mais integrado que seqencial, comparado ao desenvolvimento de

    projetos no Brasil. Dessa forma, o objetivo do trabalho analisar o processo de

    projeto de renovao das fachadas de um empreendimento francs, a partir de um

    estudo de caso, evidenciando as diferenas entre o desenvolvimento integrado e o

    desenvolvimento seqencial dos projetos. Alm disso, objetiva-se analisar se o

    processo de projeto adotado na Frana, nesse tipo de empreendimento, pode servir

    de exemplo para a construo brasileira.

    A elaborao deste artigo foi dividida em duas partes: a descrio do estudo de

    caso, cujo objetivo foi exemplificar o processo de projeto de renovao de em

    empreendimento imobilirio na Frana, no qual a renovao das fachadas foi uma

    das operaes principais; e a anlise deste estudo de caso, a qual visou analisar as

    vantagens e desvantagens do processo. Quanto ao estudo de caso, este foi realizado

    em trs etapas: anlise de documentos, incluindo projetos e documentos tcnicos

    de referncia; conversa com os projetistas e visita obra em execuo e aps sua

    finalizao.

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  • 2 ESTADO DA ARTE: O SEGMENTO DE REABILITAO E RENOVAO NA FRANA

    O mercado de reabilitao e renovao de edifcios na Frana praticamente

    equivalente ao da construo nova (Ministre des Transports, de l'Equipement du

    Tourisme et de la Mer secteur du BTP, 2006)3. Isso, em funo das vrias

    operaes de re-urbanizao das principais cidades da Frana, como as operaes

    dos bairros parisienses4.

    Entretanto, existem certas limitaes impostas a estes projetos em razo das

    legislaes, especialmente no que diz respeito a alteraes arquitetnicas,

    tecnolgicas e de uso deste empreendimento. Isto , se um edifcio apresenta

    alguma importncia histrica para a regio, uma proposta preliminar (plano de

    conservao) do seu projeto de reabilitao deve ser submetida aprovao por

    um conselho municipal, segundo orientaes do Cdigo de Urbanismo Francs

    (Code dUrbanisme Franais - parte regulamentar; Livre III; chapitre III; sous-

    section III; article R313-11; edio 2006).

    Com relao parte legislativa do setor da construo civil francesa, pode-se dizer

    que ela ampla e constantemente revisada, regulamentando principalmente os

    empreendimentos pblicos. Por exemplo, existe uma lei que regulamenta a

    atividade dos agentes de concepo, execuo e de coordenao do projeto e da

    obra, tanto para construo quanto para reabilitao e renovao de

    empreendimentos (LEI MOP regulamentada por decreto em 1993).

    Um outro exemplo interessante a Legislao trmica de 2000 - RT 2000

    (MINISTERE DE LECOLOGIE, DU DEVELOPPEMENT ET DE

    LAMENAGEMNT DURABLES - Decreto 2000-1153 de 29/11/2000), atualizada

    evolutivamente para a RT 2005 (Decreto n2006-592 de 24/05/2006 e Arrt de

    24/05/2006), a qual estabelece as caractersticas trmicas dos elementos de vedao

    do edifcio e tambm o consumo mximo de energia desse edifcio. A legislao

    trmica se aplica atualmente construo nova e s partes novas da construo, ou

    3 Ministre des Transports, de l'Equipement, du Tourisme et de la Mer secteur du BTP - Plaquette "La construction en Europe" chiffres 2005 Publication 2006. (Disponivel em 21/03/07, em http://www.btp.equipement.gouv.fr/) 4 Informao disponvel em: Acesso em 20/03/2007

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  • seja, no caso de ampliaes, os elementos construtivos devem respeitar s

    exigncias estabelecidas na RT 2005. No caso de empreendimentos de renovao ou

    reabilitao, cujas reas dos edifcios em projeo a serem modificadas forem maior

    que 1.000m2, deve-se prever melhoramentos com relao ao desempenho trmico

    do edifcio, atuando principalmente sobre os elementos construtivos das fachadas,

    sobre o sistema de aquecimento e ventilao e sobre a produo de energia

    renovveis (MINISTERE DE LECOLOGIE, DU DEVELOPPEMENT ET DE

    LAMENAGEMNT DURABLES Decreto n2007-363 du 19 mars 2007)

    Alm das legislaes, deve-se destacar a presena intensiva e extensiva da

    normalizao tcnica, a existncia de um sistema de avaliao de produtos, alm de

    referenciais tecnolgicos5 que guiam as decises dos profissionais (DTUs -

    Documents Techniques Unifis para sistemas construtivos tradicionais e Cahiers

    techniques du CSTB para sistemas construtivos no tradicionais).

    Observa-se tambm que o sistema de seguros, o qual obrigatrio para todos os

    agentes que participam do processo de produo de um empreendimento6, seja ele

    construo ou reabilitao, apia-se bastante na normalizao. Por exemplo, um

    produto ainda no normalizado exige procedimentos especiais de avaliao de

    desempenho (como os Avis Techniques 7) e pode significar aplices mais caras.

    Com relao ao processo de produo de um empreendimento, geralmente tem-se

    quatro fases principais, seja o empreendimento na Frana ou no Brasil, mesmo no

    caso de reabilitao ou renovao: a concepo do produto; o desenvolvimento de

    projetos; a execuo e a entrega da obra e a gesto do empreendimento. Entretanto,

    as diferenas entre os pases encontram-se em como cada uma destas fases so

    conduzidas. Na Frana, por exemplo, preconiza-se que na etapa de diagnstico

    (etapa inicial da fase de desenvolvimento de projetos de empreendimentos de

    reabilitao) os vrios agentes do processo sejam envolvidos, visando que a

    5 Segundo Cleto (2006), trata-se de documento tcnico de referncia, no normativo, de carter consensual entre os principais agentes envolvidos na cadeia produtiva, que recomenda boas prticas para o processo de produo de edifcios, abrangendo as fases de planejamento, de projeto, de execuo e de uso. 6 Code de la construction franaise partie lgislative section 8 13eme, abril de 2006. 7 Trata-se de um documento oficial, contendo um parecer produzido por uma comisso composta de especialistas, em relao a um material ou uma tcnica construtiva no tradicional. Sua elaborao apia-se em resultados de ensaios realizados em laboratrio, resultados obtidos em canteiro de obras piloto e a partir de anlises comparativas com materiais ou tcnicas j conhecidas (VIGAN, 1993).

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  • viabilidade de cada soluo seja desde esta etapa analisada, dando um carter mais

    dinmico que linear ao processo. Alm disso, existe uma etapa de estudos para

    execuo, ou seja, as fases de projeto e de obra so interligadas por uma etapa

    intermediria de preparao da execuo de obras, a qual visa minimizar os

    problemas de interao projeto-obra. O Quadro 1 ilustra as etapas do processo de

    produo de um empreendimento de construo ou reabilitao na Frana

    comparadas s etapas no Brasil.

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  • Quadro 1 - Etapas do processo de produo de um empreendimento de construo ou reabilitao na Frana e no Brasil Quadro 1 - Etapas do processo de produo de um empreendimento de construo ou reabilitao na Frana e no Brasil

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    construo nova reabilitao construo nova reabilitao construo nova renovao construo nova renovao

    esboos estudo do estado de conservao do edificio estudos preliminaresestudo do estado de conservao do edificio

    proposta de alternativas estudo das alternativas proposta de alternativas estudo das alternativas

    assistncia para recepo da obra

    projetos para produo

    detalhamento construtivo

    compatibilizao final dos projetos

    projeto do produto detalhado e validado

    Direo e execuo dos trabalhos

    Gesto e manuteno do empreendimento

    Projetos para produo e planejamento da execuo

    Recepo da obra

    Fases gerais do processo de

    produo de um empreendimento

    memoriais, especificaes e cadernos de encargos (CCTP Cahier des Clauses Techniques

    Particulires )

    projeto legal / aprovao do projeto (PC)

    anteprojeto preliminar (APS)

    estudo da viabilidade da operao

    compatibilizao dos projetos

    EtapasP

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    Produto da etapa

    anteprojeto definitivo (APD)

    Produto da etapa

    Direo e execuo dos trabalhos

    Gesto e manuteno do empreendimento

    estudo da viabilidade da operao

    anteprojeto

    projeto basico (projeto pr-executivo)

    projeto executivo

    projeto para produo

    projeto legal

    plano de ataque

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    Frana ( loi MOP - Arrete du 23/12/1993; Hutter,2003) Brasil (Melhado et. al , 2005)

    Estudos preliminares Diagnstico

    Anteprojeto

    Projeto Executivo

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    Assistncia para contratao das empresas (ACT)

    Etapas

    Planejamento para a execuo

    planejamento da execuo

    chamada de propostas para execuo das obras

    edital de concorrncia para contratao de empreiteiras

    Desenvolvimento do produto

    Diagnstico (no obrigatrio)

    Formalizao

    Detalhamento

    simulao de alternativas tcnicas e econmicas

    Recepo da obraprojeto "as-built" projeto "as-built" (DOE)

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  • Com relao aos agentes que participam das fases de produo de um

    empreendimento francs, observa-se que dois agentes so os principais

    responsveis: o empreendedor (matre douvrage), responsvel financeiro e

    jurdico do empreendimento; e a matrise doeuvre, conjunto de profissionais

    responsveis pelo estudo, concepo, assistncia contratao de empresas

    construtoras e organizao e coordenao da execuo das obras. Atualmente, a

    partir da implantao da Lei MOP, quatro tipos de profissionais integram a

    matrise doeuvre: os arquitetos, os economistas, os engenheiros especialistas e o

    coordenador de execuo das obras (ordonnancement, coordination et pilotage -

    OPC) (Ministre du travail, 2007)8

    O arquiteto denominado matre doeuvre (coordenador de projetos) quando ele

    responsvel pelo desenvolvimento e coordenao dos projetos, pela coordenao e

    compatibilizao dos projetos para produo na etapa de preparao da execuo

    das obras e pela garantia da execuo da obra conforme o projeto aprovado.

    Segundo mostra o Quadro 1, ele participa de quase todas as etapas da produo de

    um empreendimento. J a coordenao da execuo das obras pode ser feita de

    duas formas: uma empresa geral que contrata e coordena as pequenas construtoras

    responsveis pela execuo das partes da obra (lotes), ou um agente, ou empresa,

    que contratado para coordenar as vrias pequenas construtoras que, por sua vez,

    so contratadas diretamente pelo empreendedor (corps d'tats spars). (Ministre

    du travail, 2007)

    Com relao ao esquema de desenvolvimento de projetos, se seqencial ou

    integrado, existem vrios trabalhos que ilustram as vantagens do esquema

    integrado e preconizam seu emprego nos projetos franceses. Prost (1992), j na

    dcada de noventa, mostrou como a concepo do projeto deve ser dinmica e no

    linear, onde as solues e decises devem ser resultado de um desenvolvimento

    integrado das vrias atividades de uma etapa de projeto. Maizia (2004) ilustra, a

    partir de um caso prtico, como um esquema integrado de desenvolvimento de

    projetos permite reduzir os conflitos existentes entre os sistemas (entre as vrias

    8 Ministre du travail des relations sociales et de la solidarit. Informao disponvel em: http://www.travail.gouv.fr/publications/CEP/maitrise_oeuvre/maitrise.html, acesso 03/09/2007

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  • atividades e disciplinas de cada etapa de projeto) e pode facilitar a concepo dos

    projetos e a coordenao do seu desenvolvimento.

    Resumidamente, apresentaram-se neste item algumas caractersticas do setor da

    construo francesa, particularmente do segmento de reabilitao e renovao de

    edifcios, que guardados os devidos contextos, conforme Melhado; Souza, 2000,

    podem servir de referncia para o setor da construo civil brasileira. Essa

    afirmao est baseada na existncia, naquele pas, de legislaes que definem o

    papel dos agentes dos processos de projeto e de produo do empreendimento;

    pela presena intensiva e extensiva da normalizao tcnica; pela existncia de um

    sistema rgido de avaliao e normalizao de produtos; pela existncia de um

    sistema de seguro-construo que incita ao cumprimento de normas tcnicas e de

    legislaes; pela existncia da etapa de estudos da execuo, denominada por

    Souza (2001) de PEO - Preparao da Execuo da Obra, que inclui detalhamento

    construtivo e projetos para produo; alm da tendncia de que os

    desenvolvimentos das atividades das fases de projeto e de execuo de obras

    tenham um esquema mais integrado do que seqencial.

    3 ESTUDO DE CASO: DESCRIO E ANLISE

    3.1 DADOS GERAIS DO EMPREENDIMENTO

    O empreendimento objeto deste estudo de caso localiza-se em uma das regies

    centrais de Paris, capital da Frana. O objetivo deste projeto foi o de renovar um

    empreendimento imobilirio, sendo que as principais intervenes foram feitas nas

    fachadas.

    Este empreendimento composto por trs edifcios. Dois edifcios tm suas

    fachadas para a rua B, sendo aqui denominados de B1 e B2. O edifcio cuja fachada

    encontra-se na rua A e o edifcio B1 foram construdos entre o final do sculo

    dezoito e o incio do sculo dezenove. O edifcio B2 foi construdo em meados de

    1930. Alm das fachadas que se localizam nas ruas (fachadas externas), existem as

    fachadas dos ptios internos (fachadas internas), conforme ilustra o esquema da

    Figura 1.

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  • Figura 1 Planta do empreendimento estudo de caso (anteprojeto definitivo)

    Cabe observar que as fachadas externas, em funo das legislaes francesas e

    parisienses, no podiam ser totalmente alteradas, pois as caractersticas

    arquitetnicas da poca da construo deveriam ser mantidas. J as fachadas

    internas foram modificadas de forma a criar harmonia de estilos e tambm

    incrementar o desempenho trmico e a eficincia energtica do edifcio.

    Resumidamente, o projeto de renovao das fachadas objetivou:

    reabilitao das fachadas externas, por meio de sua recuperao e limpeza;

    renovao de parte da fachada externa dos edifcios B1 e B2, visando harmonizar a parte a ser renovada com a existente, por meio do

    prolongamento da volumetria do primeiro pavimento ao trreo, utilizando

    tecnologia de revestimento no-aderido9 em placas de rocha no edifcio B1 e

    em painis de madeira no edifcio B2;

    substituio de todos os caixilhos das fachadas, inclusive das fachadas internas, com exceo dos caixilhos da fachada externa do edifcio B2 que

    foram recuperados ao invs de serem substitudos. A substituio dos

    caixilhos visou incrementar tanto o desempenho esttico quanto trmico dos

    edifcios;

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  • renovao das fachadas internas incorporando revestimento no-aderido em placas de rocha e sistema de isolamento trmico exterior, alm da

    execuo de uma fachada envidraada no trreo do edifcio A.

    3.2 GESTO DO PROCESSO DE PROJETO

    Geralmente as construes na Frana so divididas em lotes, os quais praticamente

    coincidem com os subsistemas do edifcio e, conseqentemente, com as

    especialidades das empresas de construo. O empreendimento objeto deste estudo

    de caso foi dividido em dezesseis lotes. As etapas de contratao das empresas de

    construo (subcontratados) e de execuo das obras foram tratadas dessa maneira.

    Pode-se dizer que os projetos comearam a ser desenvolvidos por lotes a partir da

    etapa do projeto executivo.

    O Quadro 2 mostra os principais agentes deste empreendimento, especialmente

    daqueles que participaram do processo de renovao das fachadas. A Figura 2

    ilustra a relao contratual e funcional entre esses agentes, alm de mostrar que os

    agentes da fase de construo no participaram do processo desde as etapas iniciais

    de projeto, com exceo do coordenador de projetos da fase de execuo, que

    iniciou sua participao nas atividades de compatibilizao entre projetos, na etapa

    do anteprojeto.

    Nesse caso especfico, as funes do coordenador de projetos foram divididas entre

    dois agentes, os quais foram denominados de coordenador de projetos da fase de

    projeto (matre doeuvre de conception) e coordenador de projetos da fase de

    execuo (matre doeuvre de excution).

    9 A norma francesa AFNOR NF P 28 001 (1990) define fachada leve como sendo aquela fachada constituda de vrias camadas em que, pelo menos, a camada mais externa tem massa inferior a 100kgf/m2, podendo ser classificada em fachada cortina e fachada semi-cortina (aquelas em que uma das camadas fixada externamente estrutura do edifcio e a outra internamente e entre pavimentos). Neste sentido, enquadram-se nesta classificao de fachada semi-cortina aquelas vedaes cujo acabamento feito com revestimentos no-aderido, pois so constitudas de duas camadas: a mais externa (placas de revestimento) fixada, por meio de insertos metlicos ou estruturas secundrias, s paredes de vedao (camada interna).

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    111

  • Quadro 2 Principais agentes do processo e suas funes

    Agentes Responsabilidades / funo 1 Empreendedor (matre douvrage)

    2 Assistente tcnico do empreendedor

    Garantir aportes de recursos necessrios, estabelecer programas de necessidades para os projetos e contratar os profissionais que integram a matrise doeuvre.

    3 Coordenador de projetos da fase de projeto (matre doeuvre de conception)

    Responsvel pelo desenvolvimento e coordenao dos projetos, bem como pela aprovao do projeto junto aos rgos competentes. Na fase de execuo da obra, este agente foi responsvel por avaliar a conformidade da execuo com o projeto aprovado.

    4 Empresas de projeto de engenharia (bureau dtudes techniques)

    Responsveis pelo desenvolvimento dos projetos de cunho tcnico, bem como pelas questes de desempenho. Nesta obra especfica, essas empresas participaram desde a etapa de desenvolvimento do anteprojeto, pois todo o desenvolvimento dos projetos de eltrica, ar condicionado e segurana contra incndio foram de responsabilidade dessas empresas.

    5 Coordenador de projetos da fase de execuo (matre doeuvre dexcution)

    Responsvel pela coordenao das atividades de projeto relacionadas diretamente com a execuo da obra. Responsvel tambm pela compatibilizao entre projetos na etapa de preparao da execuo das obras, alm de ser ele o responsvel pela assistncia recepo das obras.

    6 Construtora geral Coordenador de execuo das obras (OPC / entreprise gnrale)

    Responsvel pelo gerenciamento e execuo das obras, bem como pela contratao e coordenao dos subcontratados para execuo das obras.

    7

    Controlador tcnico e de coordenao de segurana (bureau de contrle technique et CSPS)

    Responsvel por garantir a conformidade dos projetos, bem como a sua execuo, com cdigos de prticas, normalizao e legislaes tcnicas. Alm disso, neste empreendimento este agente tambm foi responsvel por coordenar e garantir o cumprimento das questes de segurana e sade do trabalhador.

    8 Subcontratados da construtora construtoras dos lotes (entrepreneurs)

    Responsveis pelo desenvolvimento do detalhamento construtivo, dos projetos e planejamento para produo, bem como pela execuo do respectivo lote. No caso das fachadas trs subcontratados foram necessrios, em razo dos vrios tipos de operaes.

    Observa-se que o detalhamento construtivo foi feito pela empresa subcontratada de

    cada lote na etapa de preparao da execuo das obras, sendo que a

    compatibilizao entre esses projetos foi feita pelo coordenador de projetos da fase

    de execuo.

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    112

  • Legenda Legenda Contratante principal Contratante principal Contratado pelo contratante principal empresas principais que integram a matrise doeuvre Contratado pelo coordenador de obras subcontratado (construtoras especializadas)

    Construtora geral(Coordenador de

    execuo das obras)

    Coordenador de projetosda fase de projeto

    (Matre duvre de conception)

    Controlador tcnico e coordenador de

    segurana

    Empreendedor

    (matre douvrage)

    Empresas de engenharia

    Sub-contratado 1 (recuperao fachadas

    e revestimento empedra)

    Coordenador de projetosda fase de execuo

    (Matre duvre dexcution)

    Sub-contratado 2 (esquadrias metalicas

    e fachadasenvidraadas)

    Sub-contratado 3 (esquadria e paineis de madeira)

    relao contratual

    ligao / comunicao entre os agentes e suas atividades

    Construtora geral(Coordenador de

    execuo das obras)

    Coordenador de projetosda fase de projeto

    (Matre duvre de conception)

    Controlador tcnico e coordenador de

    segurana

    Empreendedor

    (matre douvrage)

    Empresas de engenharia

    Sub-contratado 1 (recuperao fachadas

    e revestimento empedra)

    Coordenador de projetosda fase de execuo

    (Matre duvre dexcution)

    Sub-contratado 2 (esquadrias metalicas

    e fachadasenvidraadas)

    Sub-contratado 3 (esquadria e paineis de madeira)

    relao contratual

    ligao / comunicao entre os agentes e suas atividades

    relao contratual

    ligao / comunicao entre os agentes e suas atividades

    Figura 2 Esquema da relao contratual e funcional entre os agentes do processo

    Um dos inconvenientes desse esquema de relao entre os agentes do processo foi

    a falta de comunicao entre os subcontratados responsveis pelo desenvolvimento

    do detalhamento construtivo e o projetista de concepo (coordenador de projetos

    da fase de projeto), o que ocasionou alguns problemas de interface como, por

    exemplo, detalhes construtivos desenvolvidos diferentemente do inicialmente

    concebido. Alm disso, ocorreram alguns problemas de interface entre os prprios

    projetos para produo dos diversos lotes, uma vez que os subcontratados no se

    comunicavam entre si, nem os subcontratados do mesmo subsistema como no caso

    das fachadas, resultando em problemas de interao que foram resolvidos

    unicamente pelos coordenadores.

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    113

  • O Quadro 3 visa ilustrar resumidamente as diferentes informaes contidas em

    cada etapa do processo do projeto, bem como os agentes participantes de cada

    etapa.

    Quadro 3 Etapas de projeto, seus contedos e agentes responsveis

    Etapa Produto da etapa Contedo Agentes participantes

    da etapa

    Dossi histrico

    Estudo sobre a histria do imvel, o qual incluiu plantas da poca e de outras intervenes realizadas, bem como informaes a respeito de materiais e componentes utilizados na poca da construo dos imveis

    Empresa contratada pelo empreendedor (matre

    douvrage), especializada neste tipo

    de servio Projeto arquitetnico do imvel existente

    Plantas, cortes e vistas dos edifcios do empreendimento antes do incio das operaes de reabilitao e renovao

    Projetista especializado em levantamentos

    geomtricos

    Diagnstico do estado de conservao dos imveis

    Estudo sobre as condies de desempenho dos edifcios e de seus componentes, possibilitando a anlise da viabilidade tcnica e econmica da realizao do projeto

    Empresa de engenharia especializada neste tipo

    de servio com a cooperao do

    coordenador de projetos Dia

    gns

    tico

    Esboos das possibilidades do projeto de arquitetura (estudo de viabilidade)

    Estudos e elaborao de esboos do projeto arquitetnico, considerando as vrias possibilidades de modificao do projeto existente. Este estudo de viabilidade considerou questes arquitetnicas e tambm algumas questes tcnicas, alm de legislaes sobre a possibilidade de alterar arquitetonicamente o invlucro do edifcio. O Plano de conservao aprovado na prefeitura foi feito a partir desses esboos

    Coordenador de projetos da fase de projeto

    (matre doeuvre de conception)

    Anteprojeto preliminar

    Projetos que englobaram as concluses do estudo de viabilidade e estabeleceram preliminarmente as exigncias de desempenho e qualidade do projeto e da obra. Nesta fase tambm foi feito um planejamento preliminar do cronograma fsico do projeto e da obra

    Coordenador de projetos da fase de projeto +

    Empresas de projeto de engenharia

    (bureau dtudes techniques)

    Ant

    epro

    jeto

    Anteprojeto definitivo

    Projetos que incorporaram o resultado dos estudos anteriores, compatibilizando-os com as legislaes pertinentes, especialmente relativas higiene e segurana. Estes projetos foram apresentados ao empreendedor, visando sua aprovao antes de iniciar a elaborao do projeto legal para solicitar permisso de construir. Nesta etapa as solues tecnolgicas comearam a ser consideradas em funo das exigncias de desempenho e qualidade anteriormente estabelecidas

    Coordenador de projetos da fase de projeto +

    Empresas de projeto de engenharia +

    Coordenador de projetos da fase de execuo (matre doeuvre de

    excution)

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    114

  • Quadro 3 Etapas de projeto, seus contedos e agentes responsveis (continuao).

    CCTP - Caderno de clusulas tcnicas particulares

    Caderno resultante da anlise da viabilidade do emprego de componentes e materiais, bem como de tecnologias construtivas. Este documento incluiu memoriais, especificaes e caderno de encargos, cujo objetivo foi facilitar a contratao das empresas construtoras de cada lote, pois contm as exigncias com relao ao desempenho e s caractersticas fsicas dos subsistemas e seus componentes, alm de indicar as obrigaes tcnicas do contratante de cada lote, bem como os critrios para recepo dos componentes e servios.

    Coordenador de projetos da fase de projeto +

    Empresas de projeto de engenharia

    (bureau dtudes techniques)+

    Coordenador de projetos da fase de execuo

    Proj

    eto

    exec

    utiv

    o

    Projeto executivo

    Plantas, cortes e vistas que incorporaram as informaes do CCTP e as eventuais modificaes exigidas pelos rgos que emitem a permisso de construir. Estes projetos, bem como o CCTP so peas integrantes do contrato das subcontratadas

    Coordenador de projetos da fase de projeto +

    Empresas de projeto de engenharia +

    Coordenador de projetos da fase de execuo

    Detalhamento construtivo, projeto e planejamento para a produo

    Cada subcontratado responsvel pela execuo de um lote teve que, a partir das peas contratuais (Projeto executivo mais CCTP), desenvolver um detalhamento construtivo, bem como um projeto e planejamento para a produo do lote, os quais continham, entre outros, quantitativos, detalhes de interface com os elementos construtivos de outros lotes; meios operacionais; e medidas de segurana, segundo as orientaes do coordenador de segurana da obra.

    subcontratado de cada lote

    + coordenador de projetos da fase de

    execuo + coordenador de execuo (construtora geral)

    Prep

    ara

    o d

    a ex

    ecu

    o d

    a ob

    ra

    DAF (demande dapprobation de fourniture) comprovao da qualidade do material ou componente

    Comprovao da qualidade dos materiais e componentes a serem utilizados, o qual antes de ser posto em obra precisa receber a aprovao dos projetistas e das empresas de projeto de engenharia. A comprovao da qualidade pode ser: uma ficha tcnica do produto, um relatrio de ensaio de produto, um Avis Technique ou ensaio em prottipo.

    subcontratados de cada lote

    + coordenador de projetos da fase de

    execuo + coordenador de execuo

    + empresas de projeto de

    engenharia

    Etapa Produto da etapa Contedo Agentes participantes

    da etapa

    Ao observar o Quadro 3 nota-se que o contedo das etapas de projeto foi

    abrangente e bastante completo e que as discusses iniciais, por exemplo, com

    relao ao desempenho, foram tomando forma com o desenrolar das etapas de

    projeto. Percebe-se ainda que as exigncias da qualidade, bem como a maneira de

    comprovar seu atendimento, foram claramente definidas pelo CCTP e DAF.

    Com relao ao esquema de desenvolvimento das etapas e suas atividades,

    observa-se, como demonstrado na Figura 2, que os agentes participantes das etapas

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    115

  • iniciais so diferentes daqueles participantes na etapa de preparao da execuo

    de obras, com exceo do coordenador de projetos da fase de execuo.

    Concluindo-se que os outros agentes do processo no tm ligao entre eles, o que

    resulta em duas fases bem definidas (projeto e obra), interligadas pelo coordenador

    de projetos da fase de execuo.

    As etapas iniciais do processo de projeto apresentaram um desenvolvimento mais

    integrado do que a etapa de preparao da execuo, pois, alm da presena do

    coordenador de projetos, os agentes principais tiveram ligao entre si. Estas etapas

    foram consideradas por estes mesmos projetistas como dinmicas e eficientes, pois

    vrias decises estratgicas e operacionais foram feitas nestas etapas, o que

    segundo eles teve grande influncia para a qualidade final do produto. J o

    desenvolvimento da etapa de preparao da execuo, apesar de ser uma etapa de

    ligao entre fases (transio entre projeto e execuo das obras), ocorreu de forma

    bastante seqencial, como se observa na Figura 3.

    A - B = detalhamento construtivo e projeto para produo desenvolvido pelo subcontratado e enviado para analise para os coordenadores

    C = projetos enviados aos outros agentes

    D = todas as sugestes analisadas e re-passadas empresa-contrutora, que devolve ao subcontratado para reviso

    Sub-contratado do lote 6 fachada e

    esquadria metalicaEmpresa construtora

    geral

    Coordenador concepo(matre duvre de conception)

    Coordenador de execuo (matre duvre dexecution)

    Empreendedor e/ ou assistente

    A

    B

    D

    C

    Contrle tcnico

    Escritorio de engenharia

    A - B = detalhamento construtivo e projeto para produo desenvolvido pelo subcontratado e enviado para analise para os coordenadores

    C = projetos enviados aos outros agentes

    D = todas as sugestes analisadas e re-passadas empresa-contrutora, que devolve ao subcontratado para reviso

    Sub-contratado do lote 6 fachada e

    esquadria metalicaEmpresa construtora

    geral

    Coordenador concepo(matre duvre de conception)

    Coordenador de execuo (matre duvre dexecution)

    Empreendedor e/ ou assistente

    A

    B

    D

    C

    Contrle tcnico

    Escritorio de engenharia

    Figure 3 - Esquema de difuso e validao de documentos da etapa de Preparao da Execuo da Obra

    Nesta etapa de preparao da execuo de obras pode-se dizer que as informaes

    para retroalimentar o processo foram concentradas sobre a empresa construtora

    (coordenador de execuo) e que, apesar de existir a figura de dois coordenadores

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    116

  • (projeto e execuo), o desenvolvimento desta etapa teve um esquema mais

    seqencial que integrado entre as atividades. Isso porque os assuntos inicialmente

    foram tratados por lotes individualmente e, posteriormente, quando comearam a

    surgir problemas de interface que as solues comearam a ser pensadas de forma

    mais integrada.

    3.3 O PROJETO DE RENOVAO DAS FACHADAS INTEGRADO AO PROCESSO DE PROJETO DE RENOVAO DO EMPREENDIMENTO

    O projeto das fachadas foi desenvolvido pelos projetistas de arquitetura integrado

    aos outros projetos desde a etapa dos estudos preliminares at a etapa do

    anteprojeto, na qual os componentes, que seriam utilizados nas fachadas, bem

    como seus desempenhos, foram preliminarmente definidos.

    A partir da etapa dos projetos executivos os projetos foram desenvolvidos

    separadamente em funo dos lotes, pois as fachadas, como foram objeto de

    operaes diferentes, foram divididas em mais de um lote: lote 2 (limpeza e

    revestimento em pedra); lote 06 (esquadria e revestimento em madeira) e lote 7

    (fachadas e esquadrias metlicas). Para cada lote foi desenvolvido um CCTP

    (Caderno de Clusulas Tcnicas Particulares) diferente. Observa-se que tanto o

    CCTP quanto os projetos executivos integraram o contrato firmado entre a

    construtora geral e a subcontratada responsvel pela execuo do lote. Desta forma,

    as exigncias de qualidade com relao, por exemplo, ao desempenho das fachadas

    e a sua eficincia de execuo foram objetivamente e preliminarmente definidas

    antes do incio da contratao da empresa subcontratada.

    O detalhamento construtivo, o qual foi desenvolvido pela empresa subcontratada

    com a coordenao da construtora geral (coordenador de obras) e do coordenador

    de projetos da fase de execuo, teve que seguir as diretrizes e os desempenhos

    estabelecidos pelo CCTP e pelos projetos executivos, podendo eventualmente

    introduzir modificaes quanto proposta de montagem e detalhes construtivos,

    mas no quanto qualidade especificada. Dependendo da complexidade, os

    detalhamentos construtivos e o projeto para produo podem levar meses para

    serem desenvolvidos e aprovados. No caso especfico tais projetos foram definidos

    aps, aproximadamente, cinco meses de estudos e anlises. Acredita-se que um dos

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    117

  • motivos pelos quais o perodo de desenvolvimento destes projetos foi

    relativamente grande deveu-se ao esquema de desenvolvimento destes projetos, o

    qual foi muito mais seqencial que integrado.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Um projeto, seja ele de reabilitao, renovao ou construo, ocorre dentro de um

    certo intervalo de tempo e decomposto em etapas, as quais contm um certo

    nmero de atividades em funo dos seus contedos, sendo, portanto, possvel

    formar um arranjo entre essas atividades e etapas e represent-lo por intermdio de

    um grfico (segundo a teoria de grficos), resultando basicamente em esquemas de

    desenvolvimentos seqenciais, integrados ou parcialmente integrados.

    O esquema seqencial supe que as atividades ocorram uma aps a outra. Neste

    caso, quando um problema surge numa atividade as posteriores a ela ficam

    impedidas de prosseguir, por exemplo, um dado que no foi bem avaliado e deve

    ser re-avaliado gera uma interrupo no processo at que a atividade seja re-feita.

    O projeto desenvolvido desta forma geralmente mais oneroso para o processo de

    produo, tanto do ponto de vista de atrasos quanto das escolhas das solues

    construtivas, s vezes feitas em razo da impossibilidade de retorno das atividades

    (por exemplo, instalar uma soluo tecnolgica custosa para compensar um erro de

    concepo ou de clculo).

    Para desenvolver um projeto, acredita-se, conforme exposto neste artigo, que o

    mais conveniente adotar um desenvolvimento integrado das atividades de

    projeto, o qual demanda implicao dos agentes desde as primeiras etapas do

    processo de projeto. Por exemplo, na reabilitao ou, sobretudo nas renovaes de

    tipo ambiental, a integrao de questes de energia permite mobilizar

    antecipadamente as solues de concepo (por exemplo, rea de vidro em funo

    da orientao da fachada) antes de procurar solues tecnolgicas (por exemplo,

    materiais com alto grau de desempenho como os vidros com isolao reforada -

    VIR), freqentemente mais onerosas.

    O desenvolvimento integrado requer coordenao entre os agentes desde o incio

    do projeto e tambm a identificao e coerncia dos objetivos, alm de requerer um

    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    118

  • acompanhamento permanente do projeto durante todas as etapas. Estas condies

    so caras, mas no mais que aquelas de um esquema seqencial quando se

    considera o custo de diversas correes.

    Acredita-se que no Brasil a grande maioria dos empreendimentos de reabilitao e

    renovao realizados recentemente teve o desenvolvimento de seus projetos de

    uma forma mais seqencial que integrado, especialmente nas etapas iniciais do

    processo de projeto, o que acarretou em prejuzos financeiros, especialmente por

    atrasos do cronograma de execuo e pela adoo de solues tecnolgicas

    geralmente onerosas.

    Do estudo de caso francs exemplificado neste artigo nota-se que as etapas e as

    atividades do processo do projeto foram parcialmente integradas, umas, como as

    etapas de estudos preliminares e de anteprojetos, foram mais integradas que

    outras, como a etapa de preparao da execuo das obras. Entretanto, apesar de

    no totalmente integrado, o esquema de desenvolvimento de projeto francs

    apresenta mais vantagens que o brasileiro e pode servir de modelo para este

    ltimo, especialmente, em razo da integrao das atividades nas etapas iniciais de

    projeto, do contedo abrangente de cada uma dessas atividades, bem como pela

    presena do coordenador das atividades de projeto e de execuo de obras, que,

    mesmo nas etapas cujo desenvolvimento mais seqencial que integrado, o

    gestor de todas as interfaces.

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ASSOCIATION FRANCAISE DE NORMALISATION - AFNOR - NF P 28 001 Faade lgre dfinitions classification terminologie. Paris, 1990

    CHOAY, F. Lallgorie du patrimoine, Paris, Seuil, 1992.

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    MINISTERE DE LECOLOGIE, DU DEVELOPPEMENT ET DE LAMENAGEMNT DURABLES . Dcret n2006-592 de 24/05/2006 e Arrt de 24/05/2006 (Rglementation thermique RT 2005)

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    Vol. 3, n 1, Maio de 2008 Gesto & Tecnologia de Projetos

    120

    RESUMOTHE INTEGRATED DESING PROCESS OF BUILDING FACADE RENOVATION:ABSTRACTINTRODUOESTADO DA ARTE: O SEGMENTO DE REABILITAO E RENOVAO NA FRESTUDO DE CASO: DESCRIO E ANLISE3.1 DADOS GERAIS DO EMPREENDIMENTO3.2 GESTO DO PROCESSO DE PROJETO3.3 O PROJETO DE RENOVAO DAS FACHADAS INTEGRADO AO PROCESS

    CONSIDERAES FINAISREFERNCIAS BIBLIOGRFICAS