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8º Encontro da ABCP 01 a 04/08/2012, Gramado, RS Área Temática: 05 - Estado e Políticas Públicas Título: Políticas locais de Ciência e Tecnologia no Brasil Thales Novaes de Andrade (UFSCar)

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8º Encontro da ABCP

01 a 04/08/2012, Gramado, RS

Área Temática: 05 - Estado e Políticas Públicas

Título: Políticas locais de Ciência e Tecnologia no Brasil

Thales Novaes de Andrade (UFSCar)

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Políticas locais de Ciência e Tecnologia no Brasil

Resumo:

O presente trabalho se dispõe a discutir o processo recente de formulação de políticas públicas locais de Ciência e Tecnologia no país. A maior parte da literatura tem se interessado em analisar a implementação de políticas de C&T no âmbito federal ou estadual (BAUMGARTEN, 2008; DAGNINO, 2007), mas é possível perceber recentemente o aparecimento de outros agentes relevantes como secretarias municipais e redes como o Mercocidades. Com isso faz-se necessário analisar como os atores políticos locais estão definindo diretrizes para formular e implementar ações na área científica e tecnológica. A relação com empresas locais, parques tecnológicos e universidades faz com que sejam buscadas interações diferentes daquelas que se dão nas esferas nacionais e estaduais. O trabalho pretende discutir essas tendências na literatura internacional e explorar o caso do município de São Carlos.

O presente Introdução

No presente texto pretendemos estudar a formulação de políticas

públicas locais de Ciência e Tecnologia no país. Esse é um tema o qual a

Ciência Política e a Sociologia do Conhecimento têm dado pouca atenção, e

esse trabalho pretende contribuir através de uma análise específica do

município de São Carlos (SP).

A produção tecnológica está sofrendo efeitos das transformações

internacionais em termos de reorganizações institucionais e alterações do

financiamento e desenvolvimento de políticas de inovação. Os grupos que

comandam as atividades de inovação tecnológica vêm adquirindo uma grande

convergência em escala mundial e impondo novas fórmulas de cooperação e

financiamento.

A globalização e a internacionalização do campo científico e tecnológico

representam tendências que têm afetado fortemente a constituição dos grupos

sociais que conduzem a prática tecnológica em âmbito mundial. Hoje é

possível detectar processos globais de articulação de empresas, laboratórios e

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instituições públicas de pesquisa produzindo tecnologias desenraizadas do seu

contexto local (GINGRAS, 2002; VESSURI, 2008; WHITLEY, 2006).

A maior parte da literatura tem se interessado em analisar a

implementação de políticas de C&T no âmbito federal (BAUMGARTEN, 2008;

DAGNINO, 2007), apontando as tendências recentes do Estado brasileiro em

se adequar às novas regras de financiamento do setor com a globalização e

formação de sistemas nacionais de inovação.

Os sistemas subnacionais de ciência e tecnologia também tem recebido

alguma atenção dos analistas. Segundo Quadros et al (2000), o sistema

paulista de inovação apresenta uma baixa capacidade de integração com o

sistema produtivo paulista em relação ao sistema público de C&T.

Os autores sugerem existir um descompasso entre a produção científica

efetuada nas universidades paulistas e ao mesmo tempo uma baixa

participação de cientistas em atividades de P&D e ínfima interação com

empresas.

Em linhas gerais, repete-se no estado de São Paulo o que ocorre no

país como um todo, um investimento acentuado em produção científica que

não reverte em depósito de patentes e investimento próprio em P&D

empresarial.

E no cenário local? Esse quadro se repete de forma mecânica? As

mesmas tendências tendem a ser verificadas no cenário de cidades médias por

exemplo.

No contexto europeu, diversos países tem feito esforços consideráveis

para descentralizar políticas de ciência e tecnologia e atrelá-las ao quadro

regional. Isso tem propiciado uma maior autonomia para localidades

específicas em formularem sua próprias articulações dentro dessa temática de

C&T (SILVA, 2000).

É possível perceber recentemente na América Latina aparecimento de

outros agentes relevantes como secretarias municipais e grandes redes de

municípios, como o Mercocidades, que vem promovendo trocas de

experiências e consorciamento de investimentos em Ciência e Tecnologia.

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Com isso faz-se necessário analisar como os atores políticos locais

estão definindo diretrizes para formular e implementar ações na área científica

e tecnológica. A relação com empresas locais, parques tecnológicos e

universidades faz com que sejam buscadas interações diferentes daquelas que

se dão nas esferas nacionais e estaduais.

Em termos metodológicos nosso interesse é realizar um estudo de caso

junto ao a cidade de São Carlos (SP). Essa é uma experiência destacada de

desenvolvimento tecnológico regional que tem lugar junto a importantes

instituições universitárias, como USP e UFSCar e unidades da Embrapa

(TORKOMIAN, 1996).

Acredita-se que uma análise do caso de São Carlos permitirá verificar a

as articulações locais e em que medida esses grupos dirigentes mantém

articulações com instituições científicas e de ensino.

A partir dessas informações será possível detectar as tendências de

fortalecimento de determinadas áreas e grupos de interesse junto a instituições

tecnológicas internacionais e as proximidades e distanciamentos entre práticas

científicas e tecnológicas desses diferentes agentes.

POLÍTICAS DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO BRASIL

Durante as décadas de 50, 60 e 70 do século passado o

desenvolvimento científico e tecnológico dos países latinoamericanos foi

incorporado na agenda política formal, mas teve poucos efeitos reais em

termos de autonomia e consolidação de projetos nacionais efetivos.

A perspectiva nacional-desenvolvimentista foi marcante na trajetória do

setor estatal de C&T. Desde a década de 1950 até o período militar, era forte

no cenário político e científico a perspectiva de construção do “Brasil-potência”,

e o Estado era o agente fundamental que implementava todos os grandes

projetos científicos e tecnológicos, e a burguesia nacional não era vista como

um parceiro efetivo. As parcerias feitas na área de C&T tinham um caráter

basicamente intra-estatal, sem articulações significativas com o setor privado

nacional e internacional (BAUMGARTEN, 2008).

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Segundo Vessuri (2008), o tema da modernização foi uma meta coletiva

recorrente, e diversos países latinoamericanos estabeleceram-na como idéia

central nos seus processos políticos. Porém, a capacidade da comunidade de

pesquisa em alavancar um processo autosustentado de crescimento foi

insuficiente.

Para Vessuri (2008), a entrada nos anos 90 mostra que a falta de

pujança dos setores privados e o endividamento contínuo dos governos

nacionais inviabilizaram a expansão dos grupos de pesquisa em áreas

estratégicas.

As elites acadêmicas da América Latina estavam ainda muito atreladas

aos aparelhos estatais e às políticas públicas de ciência e tecnologia com

feições corporativas e autocentradas, sem dinamismo e capacidade de agenda

efetiva (VESSURI, 2008).

Diversos autores apontam que persistem variados desafios econômicos

e institucionais para a construção de espaços efetivos de produção tecnológica

na América Latina atual. Segundo Thomas (2007), a falta de sinergias entre os

setores tecnológicos e produtivos e a baixa capacidade de formulação de uma

agenda política própria para a área são aspectos que ainda restringem as

possibilidades de atuação produtiva dessas políticas.

A política de Ciência e Tecnologia foi tradicionalmente comandada pela

comunidade de pesquisa situada nas universidades públicas e centros de

pesquisa estatais. Os grupos situados em posições de destaque nessa

comunidade desfrutam até hoje de uma condição favorável para o

estabelecimento dos rumos da ciência e tecnologia no país.

Nos anos 80 começa a ocorrer uma grande mudança com a criação do

Ministério de Ciência e Tecnologia durante o governos Sarney. Segundo Diniz

(2001),

Com a criação e atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia, na segunda metade da década de 1980, foram sendo estabelecidas as condições para um salto nas políticas científicas e tecnológicas, melhorando a articulação entre os vários órgãos e instituições, procurando estabelecer um conjunto de políticas globais e setoriais e, ao mesmo tempo servindo como instância coordenadora na criação de vários fundos e outros mecanismos de ação. (DINIZ, 2001: 20).

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Segundo Dagnino (2007), esse controle da comunidade de pesquisa

sobre a política nacional de ciência e tecnologia se fez valer muitas vezes de

prerrogativas e interesses corporativos, visando à auto-preservação de

determinados grupos e correntes disciplinares. Essa presença marcante da

comunidade de pesquisa na implementação das políticas para o setor de

ciência e tecnologia em certa medida inibiu a participação de agentes do meio

produtivo.

A implementação da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio

Exterior (PITCE), durante o primeiro governo Lula, e a promulgação da Lei de

Inovação no 10.973/04 foram esforços necessários, mas não suficientes para

alterar a cultura de inovação das empresas brasileiras. Seguindo os passos

das economias centrais, seria necessário formar um movimento amplo de

iniciativas, um novo pacto social tecnológico para sintonizar tanto empresas,

que historicamente não investem na área, como universidades, alheias às

práticas de mercado, como o setor público, excessivamente burocrático.

A partir desse período ocorreu uma grande transformação das atividades

de inovação tecnológica, com a formulação de políticas integradas, abarcando

setores produtivos, Estado e centros de pesquisa tecnológica. Estas

instituições tiveram nas últimas décadas uma redefinição importante,

procurando sintonizar o país àquilo que se praticava nas economias avançadas

(ARBIX, 2007).

A criação dos fundos setoriais para financiamento de pesquisas, a

formulação da Lei de Inovação e o crescimento na importância das

Incubadoras de Empresas a consolidação dos Parques Tecnológicos apontam

para a tendência de se integrar experiências e práticas de inovação tecnológica

(LEMOS, 2000).

Na área tecnológica a criação dos fundos setoriais representou uma

nova forma de financiamento de pesquisa em diferentes áreas com recursos

extra-orçamentários. Apesar de trazer importantes benefícios para diferentes

áreas, essa iniciativa levou a uma clivagem significativa, privilegiando setores

tecnológicos de ponta e consequentemente retirando financiamento de centros

de pesquisa propriamente científica. (PACHECO, 2007).

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Um dos resultados mais salientes dessa política foi tornar a problemática

da inovação um tema autoreferente, que se autonomiza em relação à

discussão sobre desenvolvimento científico. Segundo dados expressos na

análise de Baumgarten (2008), a diferenciação entre interesses notadamente

científicos e tecnológicos é clara (BAUMGARTEN, 2008: 217).

Esse desequilíbrio aponta para uma situação que se faz sentir cada vez

mais nas políticas de C&T, a tendência de desmembramento entre essas duas

áreas. Diversos recursos orçamentários tendem a ser dirigidos a áreas de claro

rendimento tecnológico, em detrimento da formação científica e da pesquisa

básica.

Outro indício claro de alteração na concepção de pesquisa e

desenvolvimento tecnológico pode ser sentido no financiamento da pesquisa

no interior das universidades. Recentemente vem sendo implantados em

algumas universidades incentivos para que alunos desenvolvam projetos de

iniciação voltados explicitamente à inovação tecnológica. Ou seja, os recursos

do PIBIC, oriundos do CNPq estão sendo revertidos para a formação de alunos

que desenvolvam projetos em empresas sob supervisão de docentes

universitários.

A partir dos anos 90, novas experiências de fomento à inovação

passam a conclamar o engajamento dos setores produtivos nessa agenda.

Mas é necessário estabelecer parcerias e troca de experiências entre setores

de larga divergência. As relações entre empresas e centros de pesquisa

estatais constituem problemas sistêmicos de difícil solução, e a reforma

administrativa de 1995 buscou acertar esses impasses (VERONESE, 2006).

Nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), deu-se

um processo de reforma administrativa de caráter gerencial. Mudança do

paradigma gerencial da administração pública que, dentre outras coisas,

pretendia orientar as organizações estatais pelos parâmetros de mercado

(BRESSER PEREIRA, 1998).

Entre as formas de reordenação do setor de C&T apareciam as

transformações de universidades e centros de pesquisa para o modelo de OS

(Organização Social), previsto na Lei no 9.637/98. Este modelo de gestão seria

a conversão das entidades estatais em associações civis, qualificadas como

organizações sociais. (VERONESE, 2006).

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Apesar do governo não ter conseguido emplacar todas essas

transformações das instituições estatais de pesquisa em organizações sociais

como pretendia, a verdade é que essas novas práticas de gestão na área de

tecnologia já encontravam espaço considerável nas discussões sobre o tema.

Nos últimos anos teve início uma ação estratégica, com os Planos

Plurianuais e um arcabouço institucional específico para a ciência, a tecnologia

e a inovação. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) elaborou o “Projeto

de Diretrizes Estratégicas para a Ciência, Tecnologia e Inovação em um

Horizonte de 10 Anos” (DECTI). O projeto foi estruturado em cinco grandes

temas, e entre eles figura os “Desafios Institucionais”, interessado nos aspectos

legais e institucionais para alcance das metas do projeto. Esses desafios são

considerados como imperativos inadiáveis para a internalização de tendências

que se apresentavam claramente no cenário internacional, a constituição de

sistemas de inovação agregados e interativos, que abarcassem mecanismos

de compartilhamento de infra-estrutura, direitos de propriedade intelectual e

disponibilização de mão de obra qualificada.

Outro indício claro de um fortalecimento dessa internacionalização da

pesquisa científica aparece na consolidação da legislação de inovação no

Brasil. A Lei de Inovação Tecnológica (Lei Federal n.º 10.973/2004), que

“dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no

ambiente produtivo e dá outras providências”, tem como objetivo criar um

ambiente propício para aumentar o envolvimento das empresas no

desenvolvimento de projetos. A Lei, elaborada segundo os parâmetros da

experiência francesa, se orienta para alguns fins específicos: criação de

ambiente para parcerias entre universidades, institutos tecnológicos e

empresas; estimular a participação de instituições de ciência e tecnologia no

processo de inovação; incentivar as inovações no interior das empresas.

Ela também viabiliza a presença de empresas no espaço público e

compartilhamento de infra-estrutura e recursos humanos, públicos e privados,

para a pesquisa tecnológica. E, o que é mais polêmico, normatiza as condições

para pesquisadores de instituições públicas de pesquisa desenvolvam projetos

tecnológicos, com oferecimento de bolsas para inovação e o pagamento de

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adicional à remuneração, além de licença para abertura de empresa

tecnológica.

Estão previstos também recursos diretamente às empresas por ocasião

de desenvolvimento de projetos de inovação mediante comprovação de

contrapartida e apresentação de resultados.

A implantação da lei gerou uma grande controvérsia entre governo e

universidades. A Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior

(ANDES), foi um dos setores que mais criticamente se posicionou quanto aos

princípios da referida lei, apontando que ela levaria a uma privatização do

desenvolvimento tecnológico brasileiro dentro de uma agenda

internacionalizada.

Em suma, tal projeto de lei oferece todas as condições para que as pesquisas em desenvolvimento alcancem o mercado, sem vínculo com a universidade. Finalmente, a lei permitirá que um outro espaço suspeito seja criado nas instituições para que estas realizem o processo de gestão da inovação. Trata-se do “Núcleo de Inovação Tecnológica” que, em conjunto com as fundações de apoio de direito privado, definirá os rumos de cada universidade. Com efeito, esse projeto de lei representa um terrível golpe contra as universidades brasileiras, que poderão transformar-se, celeremente, num centro de produção de mercadorias e numa mentira para aqueles que esperam delas benefícios para a indústria brasileira. (ANDES, 2003: 38)

A questão que preocupa parte da academia brasileira reside na

possibilidade que essas novas regras de atividade tecnológica levem a uma

subordinação da agenda científica aos imperativos empresariais sem que haja

contrapartidas claras para os setores responsáveis pela produção de

conhecimento científico.

Apesar de ainda ser prematuro avaliar os impactos dessas políticas na

sociedade brasileira, elas demonstram que a temática da inovação adentrou na

agenda pública do país e estão sendo criados mecanismos de avaliação e

programas de desenvolvimento específicos.

Também na sociedade brasileira ocorreu uma profunda transformação

das atividades de inovação tecnológica. A formulação de políticas integradas,

abarcando setores produtivos, Estado e centros de pesquisa tecnológica

tiveram nas últimas décadas uma redefinição importante, procurando sintonizar

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o país àquilo que se pratica nas economias avançadas (Ver especialmente

ARBIX, 2007).

Políticas estaduais de Ciência e Tecnologia

Diversos estados brasileiros dispõem hoje de políticas específicas

voltadas a atividades de Ciência e Tecnologia. As capacidades de

implementação dessas políticas são diferenciadas, dependem da maturidade

institucional e da presença qualificada de diferentes atores, governamentais e

não governamentais.

De um modo geral, as iniciativas dessas diferentes entidades

subnacionais deixam muito a desejar. Os autores que analisam a

implementação dessas políticas são quase todos unânimes em apontar que

ainda falta muito para que as diferentes regiões consigam se aproximar dos

padrões internacionais d implementação de políticas eficientes e bem

concatenadas de ciência e tecnologia. Segundo a análise de Gusmão (2006),

as diferentes regiões e estados brasileiros demandam

“...a necessidade de implementação, no âmbito das diferentes agências governamentais, de sistemas de informação mais completos e compatíveis entre si, conformando o que se poderia chamar de um “sistema nacional integrado de estatísticas de C&T”. Através da adoção de um marco conceitual e metodológico comum, tal sistema facilitaria a realização mais sistemática de estudos e compêndios estatísticos, de acordo com os procedimentos já consolidados internacionalmente. Um sistema dessa natureza demandaria também a manutenção, no interior das diferentes agências – especialmente da esfera estadual - de uma infra-estrutura mínima e de competências específicas, na maioria das vezes quase inexistentes, para a viabilização de um processo permanente de acompanhamento dos resultados e principais impactos de seus programas de ação. A “estadualização” ou “regionalização” de fontes de dados oficiais demanda trabalho árduo e criterioso de consistência, e importantes iniciativas do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) buscam atender a essas necessidades. Trata-se de equipar os diferentes estados brasileiros de infra-estrutura e competências mínimas para a produção de estatísticas de C&T. Neste aspecto,

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instâncias como o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (CONSECTI) e o Fórum Nacional das Fundações e Entidades de Amparo à Pesquisa dos Estados e Distrito Federal têm importante papel a desempenhar...” (GUSMÃO, 2006: 18).

No cenário brasileiro a experiência de São Paulo representa um caso

especial. O sistema de C&T paulista é capaz de responder por um grande

percentual da atividade científica do país, através dos investimento nas

universidades públicas e nos aportes advindos da Fundação de Amparo a

Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Nos anos 90, em termos de produção científica, aquela desenvolvida no

Estado de São Paulo equivale a metade da produção. Metade dos doutores do

país são formados no Estado. Residentes em São Paulo solicitam a metade do

número de patentes solicitadas por residentes no Brasi.

Mais recentemente, a política de Ciência e Tecnologia do estado tomou

um rumo claramente focado no setor privado., espacialmente nas médias

empresas. Essa foi uma virada recente da política estadual, procurando se

antenar as perspectivas internacionais.

“A nova agenda governamental de desenvolvimento tecnológico instituída nos anos 90 redefiniu o enfoque de uma política baseada na oferta da tecnologia para uma política focada na demanda do mercado e a empresa como principal agente do processo de inovação tecnológica. A nova política sinalizou, para os agentes econômicos, o caminho da acumulação e do desenvolvimento tecnológico pela conquista de novos critérios de qualidade e produtividade e pelo esforço tecnológico empresarial.” (QUADROS et al, 2000: 139)

Entretanto, o fortalecimento dessas articulações empresariais continua

incerto. A implementação de uma política científica e tecnológica articulada

com o setor produtivo e com os institutos de pesquisa continua dificultando as

promessas do sistema estadual. A aprovação da Lei Paulista de Inovação

tecnológica no início dos anos 2000 aponta claramente nessa direção.

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O caso do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) é significativo. Nos

anos 2000 o instituto criou o programa Novo Milênio, tendo como missão a

produção e capacitação laboratorial que dê conta de oferecer respostas rápidas

e precisas às demandas das empresas.

Para ajudar a gerir os novos investimentos disponíveis o IPT criou em

Julho de 2008 a “Célula de Gestão do Processo de Modernização”, cuja

“missão é tornar mais ágeis os processos de contratação de bens, serviços e

obras” (REVISTA IPT – Pesquisa & Tecnologia, 2009). A proposta é diminuir os

processos internos e estabelecer fluxos mais direcionados de tomada de

decisão.

Através dessas alianças com agentes públicos e científicos as elites

tecnológicas são capazes de criar formas de financiamento e compartilhamento

de estruturas que condigam com seus interesses mais imediatos. O caso do

IPT demonstra como as IPPs brasileiras foram instadas por uma agenda

internacional a modificarem sua lógica de funcionamento, incorporando novas

modalidades de contratação de serviços e captação de recursos.

A atuação mais bem articulada junto aos parâmetros de financiamento e

avaliação gestadas em organizações internacionais e o atendimento a

demandas empresariais são indícios de novas formas de atuação marcantes

no novo cenário científico privatizado.

Outros estados também estão buscando novos rumos de organização

científica e tecnológica. Na região Nordeste, historicamente os baixos indicies

de produção científica e tecnológica forçaram os governos federal e estaduais

a estabelecer linhas de ação.

No ano de 1974 foi criado o Programa do Trópico Semiárido (PTSA),

para a região Nordeste, que tinha como objetivo:

“coordenar e estimular a contribuição da ciência e tecnologia ao desenvolvimento econômico e social da região semi-árida doNordeste, e ao adequado conhecimento e controle de suas características ecológicas (BARROS, 1999, p.45).

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O PTSA procurou promover ações de fomento que abrangiam auxílios à

pesquisa, apoio a teses e congressos em universidades nordestinas (BARROS,

1999).

Mais recentemente, outros programas vieram para fortalecer a ciência e

tecnologia da região, como o Programa de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico para o Nordeste (PDCT-NE), vinculado aos Sistemas Estaduais de

C,T&I (SECT).A intermitência de tais programas e sua fragilidade institucional

tem dificultado sua mais ampla efetivação na região.

De forma diferente, nos estados do Sul essa situação está bem mais

articulada. No estado do Rio Grande do Sul é possível perceber uma

articulação mais densa entre os órgãos públicos estaduais, lideranças locais e

empresariado. Segundo a análise de Rucken (2004),.

O empreendedorismo das gestões dos governos locais examinados emerge como a capacidade de articular-se com os atores econômica e politicamente hegemônicos do lugar. Tais ações tendem a imprimir novos usos aos territórios dos lugares, considerando-se que aquelas são dotadas de capacidades de difusão de inovações a partir de infra-estruturas estratégicas dotadas de conhecimento. A alta densidade organizacional representada pelos programas analisados demonstra, em boa medida, que os governos locais, muito embora integrados às ações de inovação, não são os principais atores enquanto investidores.Tais investimentos têm sido oriundos da universidade comunitária privada examinada e do Estado. Neste segundo caso, os aportes de fundos provindos de políticas públicas, examinadas entre 1991 e 1998, representam, no âmbito do Programa dos Pólos Tecnológicos, compatibilidades com a capacidade de negociação dos atores locais/regionais e de fazer-se representar nos mecanismos de democracia participativa com projetos significativos no cenário das tendências das reestruturações produtivas e territoriais (RUCKEN, 2004: 175).

A presença de universidades bem sintonizadas ao sistema acadêmico

nacional e de políticas econômicas regionais consolidadas tem conferido aos

estados da região sul boa capacidade de implementação de programas

específicos e interação qualificada com empresas de porte pequeno e médio.

Contudo, a existência de políticas regionais bem acopladas ao cenário local é

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algo que pode ser verificado em regiões específicas e dentro de certos temas,

não se generalizando pelo país. Em muitos casos as empresas se adéquam

aos interesses políticos de grupos locais, mas sem a devida articulação com o

espaço regional.

Na próxima seção será examinada a questão das políticas mais

notadamente locais de Ciência e Tecnologia no país, enfatizando

especialmente as implicações da questão federativa e as redes que tem se

formado em torno da temática nos últimos anos.

Políticas Locais de Ciência e Tecnologia

A constituição promulgada em 1988 sem dúvida representa um ponto de

inflexão quando se discute políticas locais de Ciência e Tecnologia. A

descentralização administrativa e tributária propiciada pela Carta Magna

reorganizou as bases do sistema federativo brasileiro, abrindo espaço para que

os municípios tomassem a rédea de áreas de investimento e implementação de

políticas antes restritas ao âmbito da União ou dos Estados.

O municipalismo se assenta sobre uma capacidade mais efetiva de

autonomia dos dirigentes locais em estabelecerem metas e estratégias de ação

política.A partir de então a pauta de Ciência e Tecnologia começou a ser

pensada e delineada pelos dirigentes locais com ênfase crescente.

Segundo Almeida & Carneiro (2003) esse processo apresenta alguns

obstáculos e contratendências, pois nem todas as políticas públicas poderiam

teoricamente fugir da alçada da União. Segundo os autores,

Durante os anos 90, extensa produção legislativa - além de normas no âmbito ministerial - foi dando conteúdo aos princípios constitucionais. A tendência à descentralização impôs-se em todas as áreas de política social, exceto nas da previdência e ciência e tecnologia, que continuaram sob responsabilidade federal. (ALMEIDA & CARNEIRO, 2003: 128).

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Apesar da área de Ciência e Tecnologia se manter constitucionalmente

submetida à União, durante os anos 90 diversos estados criaram suas

Fundações de Amparo a Pesquisa (FAPs), inspiradas no padrão Fapesp.

No Brasil da última década foram criadas diversas secretarias municipais

voltadas a questão de ciência e tecnologia. Cidades de diferentes regiões como

Vitória, Londrina, Campinas, São Carlos e várias outras estruturaram órgãos

voltados para o estabelecimento de uma agenda própria para C&T, articulando

com empresas de base tecnológica, pólos tecnológicos e instituições de ensino

superior e pesquisa.

O caso de Vitória (ES) é paradigmático nesse sentido. É de lá que

emergiu pela primeira vez no país um sistema municipal de Ciência e

Tecnologia. O prefeito Vitor Buaiz (1989-1992) do PT foi responsável pela

implantação desse sistema pioneiro. A Lei Municipal nº. 3.763 e o Decreto nº.

8.741 de 27/12/1991 definiram a implantação e normatização desse política.

Foi então estabelecido o primeiro Sistema Municipal de Ciência e

Tecnologia com um Conselho e respectivo Fundo. A Incubadora de Base

Tecnológica TECVITÓRIA e o Planetário de Vitória foram as duas iniciativas

marcantes desse sistema em Vitória em um primeiro momento (GODINHO &

FERRACIOLLI, 2006).

É interessante perceber um aspecto curioso. O Sistema Municipal de C,

T & I de Vitória está vinculado a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade

(SEDEC), e não a uma secretaria de C&T propriamente. É através do

Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia (CMCT) que as políticas são

idealizadas. O orçamento para a área é definido no Fundo (FACITEC).

Atualmente o Fundo financia projetos de pesquisa, concede bolsas e

auxilia na promoção de eventos técnico científicos na cidade por meio de

editais. Outras secretarias municipais e a participação em redes internacionais

complementam os recursos destinados a área, em forma de networking. Trata-

se de uma iniciativa pioneira e bem sucedida de articulação de atividades na

área de C&T no âmbito local.

É bem verdade que essas estruturas não dispõem das mesmas

condições orçamentárias que outras áreas mais consolidadas da gestão

municipal, mas de qualquer forma significa um avanço em termos de agenda

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para a área. Segundo Baiardi (2007), essa tendência aponta para uma

renegociação dos interesses em C&T, pois

A defesa de uma política de C&T&I regional e autônoma justifica-se para que haja uma produção autóctone do conhecimento que leve a inovações. A importância dessa autonomia de gestão dos recursos de pesquisa e de produção regional do saber se explica porque a transferência de tecnologia, seja no âmbito internacional ou no âmbito de um Estado-nação com desequilíbrios econômicos e sociais entre as regiões, não atende às especificidades da demanda regional, marcada pela diversidade e por particularidades culturais inquestionáveis... A produção regional do conhecimento científico-tecnológico intensifica a oferta de inovações no território (BAIARDI, 2007: 33).

A capacitação dos municípios para inserir essa agenda de preocupações

continua sendo uma incógnita. Diferentes territórios contam com um estoque

de pessoal que não dispõem de conhecimentos suficientes para elaborar

planos sustentáveis de atividade técnico-científica.

A fixação de profissionais e a elaboração de articulações entre

associações científicas, empresas e departamentos acadêmicos são tarefas

que demandam uma intervenção séria de instituições nacionais e estaduais de

fomento, no mais das vezes alheias às demandas locais.

Para Godinho & Ferraciolli (2006), essas iniciativas tem propiciado

crescimento na produção e publicação cientifica, com pesquisadores locais

atuando em redes cooperativas de pesquisa nacionais e internacionais, geridas

por instituições públicas..

Instituições locais de Ciência e Tecnologia, como escolas, museus,

parques, planetários e exposições sofrem fortes restrições orçamentárias. Uma

das formas de lidar com esses déficits pode consistir em implementação de

projetos que captem recursos públicos, privados e do terceiro setor, que podem

ser mais facilmente geridos mediante a implementação de políticas locais

estabilizadas.

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O caso de São Carlos

São Carlos é um município de porte médio do Estado de São Paulo

situado a 240 km da capital, pertencente a Região Metropolitana de Ribeirão

Preto, e com população em torno de 210.000 habitantes.

A cidade também é conhecida como “Capital Nacional da Tecnologia”,

em virtude de lei apresentada pelo deputado federal Lobbe Neto e aprovada

pela presidente Dilma Roussef em 2011. No município se dá a maior

concentração per capita de pessoas com doutorado do país, 1 para 180,

enquanto a média nacional é de 1 para 5.423 habitantes.

A cidade agrega diversas instituições científicas significativas no cenário

nacional. Duas universidades públicas de grande porte (USP e UFSCar), um

dos primeiros parques tecnológicos do país (Parqtec), duas unidades da

Embrapa (Pecuária Sudeste e Instrumentação Agropecuária) e uma

universidade privada (Unicep).

Histórico

Esse sistema de instituições começou a se formar a partir dos anos 70 e

passou a atrair diversas firmas para a região, que conta atualmente com um

número expressivo de empresas de base tecnológica (por volta de 50).

A fundação da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos ocorreu

no final dos anos 40 e foi um aspecto decisivo para o desenvolvimento do

sistema de Ciência e Tecnologia no município. A Escola de Engenharia de São

Carlos (EESC), criada formalmente em 1952, possibilitou o crescimento da

área de exatas, especialmente a física, e aproximou a universidade das

indústrias (NOSELLA & BUFFA, 2003).

No final dos anos 60 foi criada a Universidade Federal de São Carlos,

que também investiu fortemente na área de exatas, tendo criado de forma

pioneira o Departamento de Engenharia de Materiais (SGUISSARDI, 1993).

Com o crescimento das parcerias entre a universidade e indústria, foi criado no

começo dos anos 90 o Núcleo de Informações Tecnológicas em materiais (NIT-

Materiais) que por meio de consultorias, esclarecimentos e treinamento tem

auxiliado empresas nos ramos de plástico, cerâmica, borracha entre outros.

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O ParqTec foi instalado em S. Carlos pelo Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 17 de dezembro de

1984, como uma entidade privada e sem fins lucrativos, tem como finalidade

promover o desenvolvimento regional otimizando o custo da transação

inovação tecnológica - mercado e valorizando o empreendedorismo. As áreas

principais de atuação do ParTec são as TIC; Novos Matérias; Instrumentação

Eletrônica; Automação & Robótica; Química Fina e Óptica.

Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia

Desde o início da década passada a cidade passou a contar também

com uma Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e

Tecnologia, seguindo o caminho de diversos outros municípios. Até

recentemente o secretário de São Carlos ocupava um cargo de destaque em

escala nacional como vice-presidente do Fórum Nacional de Secretários e

Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Uma atividade relevante da secretaria é a organização de eventos, como

as Mostras de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas Municipais, sendo

que várias edições foram realizadas em São Carlos nos últimos anos, em

parceria com a rede Mercocidades. Isso demonstra a alta sintonia internacional

do município em relação as atividades voltadas para a área no contexto

latinoamericano.

Os objetivos principais consistem em:

O objetivo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia é planejar, estudar, desenvolver e executar políticas para o desenvolvimento ciência, tecnologia e inovação; executar programas e atividades de desenvolvimento econômico sustentável do Município; incentivar a implantação de programas de qualidade e produtividade na indústria e serviços; executar programas de fomento ao turismo; gerir infraestrutura e proteger o patrimônio turístico.

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É interessante notar que as metas da secretaria implicam em

desenvolver atividades diversas, e não necessariamente concatenadas, como

turismo, patrimônio, meio ambiente e assessoria a empresas.

Não há, portanto, uma definição clara das atribuições de diferentes

áreas na caracterização geral das atividades da pasta. Esta está subdividida

em diferentes departamentos e assessorias de atividade:

Estrutura Organizacional

Departamento de Desenvolvimento Econômico Divisão de Relacionamento com o Setor Produtivo

Departamento de Fomento ao Turismo

Assessoria de Marketing Divisão de Planejamento Turístico

Departamento de Políticas para o Desenvolvimento da

Ciência, Tecnologia e Inovação Divisão de Relacionamento com Instituições de

Tecnologia e Inovação

Apesar de direcionada à área de Desenvolvimento Sustentável, seus

departamentos internos não lidam diretamente com a temática ambiental, que

fica pulverizada em diferentes secretarias, como de Serviços Públicos e

Desenvolvimento Urbano.

Outro dado significativo que pode ser apurado ao se examinar o histórico

da secretaria é que os últimos titulares da pasta não possuem pós-graduação e

nem atuam como pesquisadores de destaque em área tecnológica. Percebe-se

um perfil mais notadamente empresarial e de atuação junto ao terceiro setor,

como entidades de classe, cooperativas e empresas. Como exemplo, o ex-

secretário possui um cargo relevante no Instituto Inova São Carlos, que é

uma associação civil de interesse público que congrega empresas de

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tecnologia responsáveis pela implantação de Parques Tecnológicos no

município.

Essas informações permitem identificar um aspecto curioso da política

municipal de Ciência e Tecnologia. Por um lado, uma atividade bem situada

internacionalmente e boa capacidade de atuação em redes, dado que tem

sediado eventos e tem participação nos fóruns da área.

Por outro lado, as atribuições da secretaria e suas intervenções não são

tão claras, pois parecem estar misturadas com a área de meio ambiente e

desenvolvimento empresarial.

Conclusões

As políticas locais de C&T parecem estar a meio caminho de sua

implementação no Brasil. Enquanto que em países centrais existem fórmulas

governamentais e agenda propícias para suas atividades, no país esse

movimento ainda é recente e pouco regulamentado.

Poucos municípios estão aptos a implementar suas políticas de forma

autônoma e constante, devido a ausência de instituições científicas locais

fortes e as tendências centralizadoras de nosso sistema federativo, que estão

em constante redefinição.

A discussão do caso de São Carlos é especialmente interessante em

relação a essas questões. Se por um lado há um conjunto de instituições e

práticas governamentais propícias a implementação de políticas bem

concatenadas, por outro ainda faz-se necessária uma maturação institucional

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em termos de metas e modelos de formulação de políticas intersetoriais e

formação de quadros especializados.

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