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Propriedades do ciberepaço Jornalismo on- line Professor mestre Artur Araujo ([email protected])

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Propriedades do ciberepaço

Jornalismo on-lineProfessor mestre Artur Araujo ([email protected])

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Duas teses convergentes Muitos são os estudos que vêm contribuindo para o

conhecimento do ciberespaço. Dois teóricos, entretanto, se destacam por oferecer um

conjunto de definições satisfatórias sobre as características da web

Ambos são professores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o matemático Lev Manovich e a professora de literatura Janet Horovitz Murray

A partir dessas características, que somam nove itens, podemos construir idéias sobre os sites da web

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As diferenças entre Murray e Manovich

Enquanto Lev Manovich analisa o ambiente digital a principalmente partir da produção, Janet Murray pensa a questão a partir do usuário da mídia digital.

As duas visões da questão complementam-se e enriquecem a compreensão do funcionamento da mídia on-line.

Veremos como ambas as conclusões convergem no decorrer da exposição.

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As idéias de Manovich A principal obra de Manovich sobre o tema é o livro “The

Langage of New Media” (A linguagem da nova mídia) (MIT press, 2001), ainda não traduzido para o português.

O autor, cuja formação é Matemática, vem pesquisando o tema desde o início de sua carreira acadêmica, na década de 1970, na Universidade de Moscou. Ele defende que o ambiente digital é composto de cinco propriedades fundamentais:

Representação numérica Modularidade Automação Variabilidade Transcodificação cultural

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Uma mídia no computador O fundamento da argumentação de

Manovich é o seguinte: “Como a nova mídia é criada em

computadores, distribuída via computadores e arquivada em computadores, a lógica do computador influencia significativamente a lógica da mídia”

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Representação numérica A primeira propriedade desse ambiente é, para Manovich, a

representação numérica. Ele diz que o computador, ao constituir-se como canal de

comunicação, constrói um ambiente fundamentado na lógica binária, na lógica digital,o que implica necessariamente uma representação numérica.

É por meio da representação numérica que a mídia digital torna-se programável.

É também por meio do fato de a mídia ser programável que observaremos mais adiante seu potencial participativo e enciclopédico.

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Modularidade A modularidade também é chamada pelo autor de “princípio fractal”. Em seu livro, Manovich explica (p. 31):

“A world wide web é completamente modular. Consiste em numerosas páginas; cada uma, por sua vez, consistindo de elementos separados de mídia. Normalmente, pensamos nesses elementos como pertencentes a determinados websites, mas isso é apenas uma convenção, reforçada pelos navegadores (browsers) comerciais (...) A estrutura da programação de computadores, cujos padrões foram definidos na década de 1970, envolve a criação de pequenos e auto-suficientes módulos (chamados de sub-rotinas, funções, procedimentos e scripts), que são reunidos em programas maiores”

A propriedade modular é um dos fundamentos de um importante traço da mídia on-line no que tange ao usuário, que é sua característica procedimental, o que veremos adiante com Murray.

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Automação A codificação numérica da mídia e a estrutura

modular permitem a automação de várias operações.

Programas como editores de imagem e animação, processadores de texto e planilhas permitem criar, a partir de comandos simples, produtos complexos.

Tal procedimento acarretou, no ambiente digital, um processo de democratização do uso, observado não só por Manovich, mas também por Pierre Lévy e por Janet Murray.

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Automação, democratização No livro “As tecnologias da inteligência”, Lévy destaca (p. 57-56):

"Os críticos da informática acreditaram, ingenuamente, nos informatas que sustentavam, até cerca de 1975, que a 'máquina' era binária, rígida, restritiva, centralizadora, que não poderia ser de outra forma. Através de suas críticas, subscreveram a idéia errônea de uma essência da informática. Na realidade, desde o começo dos anos sessenta, engenheiros como Douglas Engelbart conduziam pesquisas na direção de uma informática da comunicação, do trabalho cooperativo e da interação amigável (...). Em 1979, quando Daniel Bricklin e Robert Frankston lançaram a primeira planilha, o Visicalc, eles usaram o Apple 2. Ao mesmo tempo, eles reinventaram a microinformática ao permitir aos executivos e aos pequenos empresários que fizessem previsões contábeis e financeiras sem que precisassem programar".

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Variabilidade A nova mídia, defende Manovich, por suas características

previamente expostas (representação numérica, modularidade e automação) tem como desdobramento uma potencialidade extra: ela pode existir em infinitas versões.Mais que copiar, a nova mídia permite a multiplicação de objetos com pequenas variações.

Manovich acrescenta: “A lógica da nova mídia corresponde à lógica pós-industrial de

‘produção por demanda’ e da logística do ‘just-in-time’ (no exato momento) que tornaram-se possíveis pelo uso de computadores e de redes de informática em todos os estágios de produção e distribuição.

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Variabilidade, o narrowcasting A idéia de produtos sob demanda apresentada por

Manovich também por percebida por Nicholas Negroponte em sua obra Vida Digital (2002, p. 24), que destacou o potencial de narrowcasting (transmissão de conteúdo para grupos com interesses específicos) da rede.

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Transcodificação cultural A transcodificação cultural é, para Manovich, a

principal conseqüência da digitalização da mídia. Os desdobramentos plenos dessas conseqüências o teórico russo considera prematuro ainda definir, mas ele os define em contraponto aos da mídia tradicional.

Nova mídia Mídia tradicional

Descontinuidade (unidades decupáveis)

Continuidade (unidades plenas)

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Transcodificação: a diferença entre as mídias

Toda mídia digital compartilha a representação digital

As mídias analógicas têm fundamentos distintos

A mídia digital permite, estimula, o acesso aleatório

A mídia analógica, se não o impede, dificulta-o

A codificação digital implica cotas fixas de informação (e perda de informação, quando um objeto é transcodificado do analógico)

A representação analógica permite acréscimos de informação

A cópia digital é idêntica ao seu original digital

A cópia analógica sempre implica perda em relação ao original

A mídia digital é interativa, no sentido de objetos manipuláveis

A mídia analógica se não impede, dificulta a interação no sentido de manipulabilidade

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As idéias de Murray A principal obra de Murray sobre o tema é o livro

“Hamlet no Holodeck” (Ed. Unesp, 2003). A teórica defende que o ambiente digital tem quatro

propriedades básicas São procedimentais São participativos São espaciais São enciclopédicos

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Um ambiente procedimental O procedimentalismo, destaca Murray,

decorre do fato de os computadores, por serem máquinas, exigirem do usuário o conhecimento de procedimentos para acioná-lo e fazê-lo funcionar.

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Um ambiente participativo A propriedade participativa é aquela que

torna o ambiente digital passível de interação, o que deve ser compreendido tanto como a capacidade de sentir-se parte do meio quanto como a faculdade de modificar-lhe a natureza.

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A vocação "Durante séculos, um pequeno número de escritores

encontrava-se em confronto com vários milhares de leitores. No fim do século passado (século 19), a situação mudou. Mediante a ampliação da imprensa, que colocava sempre à disposição do público novos órgãos políticos, religiosos, científicos, profissionais e regionais, viu-se um número crescente de leitores —de início, ocasionalmente— desinteressar-se dos escritores. A coisa começou quando os jornais abriram suas colunas a um ‘correio de leitores’ e, daí em diante, inexiste hoje em dia qualquer europeu, seja qual for a sua ocupação, que, em princípio, não tenha a garantia de uma tribuna para narrar a sua experiência profissional, expor suas queixas, publicar uma reportagem ou algum estudo do mesmo gênero. Entre o autor e o público, a diferença, portanto, está em vias de se tornar cada vez menos fundamental".

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A participatividade antes da web "A invenção da imprensa jogou para longe o anonimato,

estimulando sonhos de fama literária e o costume de considerar o esforço intelectual como propriedade privada. Os meios mecânicos de multiplicar o mesmo texto criaram um público - um público leitor. O crescimento de uma cultura orientada para o consumidor gerou a preocupação com marcas de autenticidade e gerou a preocupação de proteger contra o roubo e a pirataria. A idéia dos direitos autorais - o direito exclusivo de reproduzir, publicar ou vender uma forma de trabalho artístico ou literário - nascia.A fotocópia [xerografia] -a coletânea das idéias de cada homem- anuncia a era da publicação instantânea. Qualquer um agora pode ser tanto autor quanto publicador"

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A participatividade segundo Lévy "Cada indivíduo, cada organização são

incitados não apenas a aumentar o estoque, mas também a propor aos outros cibernautas um ponto de vista sobre o conjunto, uma estrutura subjetiva. Esses pontos de vista subjetivos se manifestam em particular nas ligações para o exterior associadas às home pages afixadas por um indivíduo ou grupo".

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Um ambiente espacial A espacialidade, por sua vez, é uma característica que

decorre das interfaces gráficas, que criam um efeito de “navegabilidade” na experiência sensorial do internauta.

A navegabilidade, decorrência das interfaces gráficas no ciberespaço, expressa-se sobremaneira, no caso do hipertexto, no conceito de link.

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O hiperlink como espacialidade Além da sensação de espacialidade que o jogo de

referências desse recurso oferece, a proposta, para Lévy, evoca o processo de semiose da leitura:

"A metáfora do hipertexto dá conta de uma estrutura indefinidamente recursiva do sentido, pois já que ele conecta frases cujos significados remetem-se uns aos outros, dialogam e ecoam mutuamente para além da linearidade do discurso, um texto já é sempre um hipertexto, uma rede de associações".

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Um ambiente enciclopédico A última propriedade do ambiente digital é a

capacidade enciclopédica, definida pela pesquisadora como o grande potencial de arquivamento de memória dos computadores e das redes de servidores que gerenciam o sistema.

Esta é, por sua vez, a propriedade assíncrona da web, que convive dialeticamente com sua propriedade sincrônica. Nicholas Negroponte, em sua Vida Digital, já apontava essa característica como parte do ambiente on-line.