01 Migrações Internacionais_ Teorias Política e Movimentos Sociais

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    O contextoSTE TEXTO se insere no entendimento das migraes internacionais recen-tes contextualizadas a partir de processos macroestruturais de reestrutu-rao produtiva e no contexto internacional da atual etapa da globaliza-

    o, em suas mltiplas dimenses e desdobramentos. A crescente importncia das migraes internacionais no contexto da glo-

    balizao tem sido objeto de um nmero expressivo de contribuies impor-tantes, de carter terico e emprico, que atestam para sua diversidade, seus significados e suas implicaes. Parte significativa desse arsenal de contribuies se volta reflexo das grandes transformaes econmicas, sociais, polticas, de-mogrficas e culturais em andamento no mbito internacional, especialmente a partir dos anos 1980. Como eixo de reflexo, situam-se as mudanas advindas do processo de reestruturao da produo, o que implica novas modalidades de mobilidade do capital e da populao em diferentes partes do mundo.

    O debate evidencia posturas ideolgicas e vises de mundo que se confron-tam na tentativa de enfrentamento das contradies e crise da ordem capitalista he-gemnica na atual etapa de desenvolvimento sustentvel, modelo hoje institucio-nalizado, que, depois do fim da guerra fria e da expanso da etapa de flexibilizao de acumulao de capital, alinha os pases desenvolvidos e em desenvolvimento, colocando em xeque as possibilidades daqueles que no pertencem ao banquete dos ricos, industrializados, desenvolvidos e felizes versus os pobres, sempre em de-senvolvimento dificilmente completado, cuja dinmica gerou os novos contornos da pobreza e excluso, novos pequenos osis internos de dinamismo econmico e novos limites para a ao de polticas de welfare state e de proteo social.

    As novas modalidades migratrias demandam, no cenrio da globalizao, a necessidade de reavaliao dos paradigmas para o conhecimento e o enten-dimento das migraes internacionais no mundo, e a incorporao de novas dimenses explicativas torna-se imprescindvel, assim como a prpria definio do fenmeno migratrio deve ser revista.

    imprescindvel que se considerem, hoje, o contexto de luta e os compro-missos internacionais assumidos em prol da ampliao e da efetivao dos direitos

    Migraes internacionais:teorias, polticase movimentos sociaisNEIDE LOPES PATARRA

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    humanos dos migrantes, mas tam-bm necessrio que se discutam quais os grupos sociais contemplados nas polticas oficiais ancoradas em direitos humanos; preciso reconhecer, nesse contexto, que os movimentos migrat-rios internacionais representam a con-tradio entre os interesses de grupos dominantes na globalizao e os Esta-dos nacionais, com a tradicional pti-ca de sua soberania; h que tomar em conta as tenses entre os nveis de ao internacional, nacional e local. Enfim, h que considerar que os movimentos migratrios internacionais constituem a contrapartida da reestruturao ter-ritorial planetria intrinsecamente rela-cionada reestruturao econmico-produtiva em escala global.

    Acontecimentos como o 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e sua estratgia militar preventiva iniciada com a guerra do Iraque, os conflitos no Oriente Mdio, as tenses entre comunidades de imigrantes muulmanos na Europa, entre outras manifestaes das contradies e dos conflitos que per-meiam a vida coletiva neste incio de sculo, reforam tambm as dimenses de racismo e xenofobia. Vemos uma exploso de movimentos dos emigrados pelo mundo; as manifestaes recentes na Frana nos ensinaram que a segunda gerao de imigrantes muulmanos no se considera e no considerada fran-cesa; os imigrantes, nos Estados Unidos, se organizam em movimentos contra a proposta lei de imigrao em discusso no Congresso americano e promovem a gigantesca manifestao vista no ltimo 1 de maio. Enfim, a questo migrat-ria internacional explodiu e sua governabilidade necessariamente passa agora pelos movimentos sociais.

    Os direitos humanos, nesse contexto, passaram a ser o instrumento leg-timo e aceito de concertao interna e internacional. As polticas migratrias so, assim, celebradas e formuladas a partir dessa legitimao; a efetivao desse caminho ainda est longe de se concretizar; h muito que ser feito, explorando as brechas que as propostas de governana internacional das migraes acabam por configurar. As propostas de organismos internacionais, inclusive no sentido da formulao institucional de medidas jurdicas para a efetivao dos direitos humanos dos migrantes, mediante parcerias, acordos bi ou trilaterais e multila-terais, de um lado, e a moldura dos acordos de integrao econmica regional, de outro, constituem uma brecha importante no monitoramento de polticas

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    Jean Charles de Menezes (1978-2005)

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    migratrias; da o papel imprescindvel dos movimentos sociais e outras vozes da sociedade civil organizada.

    Migrao internacional: afinal, do que estamos falando?O entendimento dos processos sociais envolvidos nos fluxos de pessoas en-

    tre pases, regies e continentes passa pelo reconhecimento de que sob a rubrica migrao internacional esto envolvidos fenmenos distintos, com grupos so-ciais e implicaes diversas. Se, de um lado, nos interessa reter esse termo como forma de legitimar e garantir a visibilidade do que estamos tratando, nos fruns internacionais e nacionais, de outro, carregamos o desafio de concretizar, em termos terico-conceituais, as diversas e complexas interligaes de instncias sociais, econmicas, culturais, jurdicas e institucionais, entre outras, que envo-lucram os movimentos de pessoas que cruzam fronteiras de Estados-nao.

    J na dcada de 1990, o ento comit de migrao internacional da IUSSPelaborou cuidadoso documento de reviso e avaliao das teorias de migrao inter-nacional; os autores buscaram explicar as principais teorias clarificando pressupostos e proposies-chave a elas subjacentes, buscando modelos que descreveriam o incio do movimento internacional contemporneo identificado com o desenvolvimen-to da sociedade urbano industrial moderna e, em seguida, teorias que se referem continuidade ou persistncia, no tempo e no espao, dos fluxos migratrios.

    Nesse sentido, os autores consideraram, inicialmente, a macro e a micro-teoria neoclssica, a chamada nova economia da migrao, a teoria do mercado dual de trabalho e a teoria do sistema mundial. Sobre a persistncia dos movi-

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    Matozinho Otoni da Silva chora ao mostrar a foto do filho morto pela polcia britnica.

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    mentos migratrios, os autores incluem a teoria de redes, a teoria institucional e a teoria da causao acumulativa (Massey et al., 1993a, b).

    Concordamos com os autores em que essas teorias elaboram mecanismos causais que operam a nveis bastante amplos e diversos de anlise, o que acarreta implicaes diferentes para a formulao de polticas; tambm concordamos com a necessidade, na formulao de teorias que norteiam a interpretao emprica dos fenmenos, de tomar em conta tanto os grandes processos de transformao atual como motivaes e processos de deciso no nvel individual e familiar.

    No podemos nos esquecer, no entanto, de que os diversos enfoques re-presentam diversas vises de mundo, diversas hierarquias, diversas dimenses que dificilmente podem ser mescladas na reconstruo dos fenmenos. Essesenfoques, alm disso, so incorporadas diferencialmente nos relatrios que pre-conizam novas polticas e aes para a conflitiva e tensa coexistncia, no mundo em globalizao, de sua inerente necessidade contraditria de operar com fluxos constantes e crescentes de grupos sociais que se deslocam, principalmente aque-les que se deslocam dos pases pobres para os pases ricos.

    Por sua vez, o corte adotado como momento de incio dos movimentos migratrios contemporneos o pensar migrao na sociedade urbana indus-trial nos faz perder a dimenso histrica de movimentos populacionais que corroboraram decisivamente na configurao das sociedades nacionais atuais, garantindo especificidades das problemticas dos Estados-nao que hoje devem delinear polticas migratrias para lidar com seus cidados que saem ou que en-tram de seus limites geogrficos.

    Embora concordemos com os autores no que se refere dificuldade de estabelecer os limites da teorizao sobre migrao internacional, teramos que considerar claramente que algumas contribuies colocadas no texto derivam de outras construes tericas globais, como a Sociedade Informacional e a Socie-dade em Rede de Castells e as Cidades Globais de Saskia Sassen. A contribuio desses autores tem sido absolutamente necessria na compreenso da problem-tica, mas no se constituem como teorias de migrao internacional; trata-se da compreenso dos efeitos e implicaes das transformaes da sociedade global sobre os intensos deslocamentos de contingentes populacionais que esto modi-ficando a geografia do mundo.

    Partindo do processo de reestruturao produtiva e da etapa de acumula-o flexvel, Simmons (1987) explora as vinculaes entre as principais dimen-ses da teoria da regulao sobre os emergentes processos de migraes internas e internacionais em distintas partes do mundo. O autor retoma a idia anterior-mente muito cara aos estudiosos de populao sobre a questo da reproduo temporal e espacial de trabalho na sociedade capitalista; cada regime de acu-mulao corresponde, grosso modo, a um regime demogrfico a ele relacionado. Considerando a transio do fordismo para a acumulao flexvel e suas dimen-ses mais significativas, o autor conclui que os padres de migrao contempo-rnea refletem duas dimenses do regime capitalista corrente: sua instabilidade

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    e a nova estrutura de oportunidades econmicas que emerge com a acumulao flexvel. Nesse contexto, a migrao : descentralizada, temporria, circular, res-ponsiva, de riscos calculados, geradora de conflitos, global e regulada.

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    Protesto em frente da Casa Branca, em Washington, contra a poltica de imigrao dos EUA.

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    Numa abordagem histrica e ampla dos movimentos internacionais mundiais, Cohen (1999) insere a dispora em sua reconstruo desses movimentos: dispora,que na acepo grega da palavra significava migrao e colonizao, aqui retomada em sua classificao histrica; nesse sentido, os judeus so considerados o caso mais tpico; africanos e armnios tambm so classificados no tipo de dispora por vitimi-zao; os britnicos representam uma dispora imperial; os indianos, a dispora do trabalho; e os chineses e libaneses constituem a dispora comercial. interessante observar que, para Cohen, os povos caribenhos representam a dispora cultural.

    Ampliando e historicizando o conceito de disporas, o autor acaba conver-gindo para as categorias e conceitos que comparecem nos vrios discursos sobre migrao internacional no mundo contemporneo ou, mais especificamente, no mundo globalizado. Considerando a enorme distncia que separa os Estados-nao (aproximadamente duzentos pases no mundo atual) e o que ele chama de nation-people, estimados em 2000, ressalta os limites e as vulnerabilidades dos Estados-nao tambm sob essa ptica.

    Mesmo no caso de democracias bem estabelecidas, a antiga pressuposio de que os imigrantes iriam se identificar com seu pas de adoo em termos de lealdade poltica, cultura e linguagem, j no pode ser tomada como garantida, pois os movimentos so mais ditados pelas circunstncias dos pases de origem do que pelo desejo de estabelecer uma nova vida.

    A anlise das disporas na era da globalizao toma em conta alguns aspec-tos relevantes: mudanas rpidas e densas no mundo econmico e sua relao com subsetores (comunicao, transporte, diviso internacional do trabalho, corpo-raes internacionais, comrcio liberal e fluxos de capital), que se vinculam s formas de migrao internacional pelas relaes de permanncia, temporarieda-de e cidadania; o desenvolvimento das cidades globais, que, em conseqncia, altera as transaes, interaes e a concentrao de determinados segmentos do mundo econmico em determinadas cidades; o cosmopolitanismo e o localismo;a criao e promoo de culturas locais ampliadas como cultura cosmopolita; e, por fim, a desterritorializao da identidade social, como desafio hegemonia do Estado-nao, transfomando o antigo focus de submisso e fidelidade em favor da sobreposio, permeabilidade e formas mltiplas de identificao.

    O autor tambm aponta que o contexto global atual tem alterado o carter da migrao internacional, sobretudo no que se refere livre circulao da massa migratria, seletividade na sano de instalao (permanente ou temporrio) nos lugares e, na oficializao, preveno e restrio de entradas. Por sua vez, a migrao global que agrega pessoas e riqueza implica novos comportamentos e estratgias por parte dos grupos sociais envolvidos na sua prtica poltica, seu conhecimento das leis e direitos dos migrantes, as condies para os recm-che-gados, conexes oficiais e burocrticas etc.

    Ainda nessa linha de pensamento que enfoca a migrao internacional con-tempornea na perspectiva de considerar o fenmeno pelo conjunto de variveis relevantes no processo de integrao global, est a anlise de Castles & Miller

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    (1998). Segundo os autores, a migrao internacional freqentemente causa e efeito de vrias formas de conflitos e no um fenmeno isolado. Aqui tam-bm a historicidade elemento integrante do entendimento do que se passa no mundo contemporneo; a migrao internacional no uma inveno do sculo XX ou da modernidade; tem sido parte da histria da humanidade nos ltimos tempos, embora tenha aumentado em volume e significncia desde 1945 e, mais particularmente, desde meados dos anos 1980.

    Os autores ressaltam as relaes tnicas e as novas minorias formadas ps-70 no processo de reestruturao econmica global; a diviso racial e tnica so aspectos de diferenciao social; contudo, nesse processo, ampliam-se as questes, trazendo ao contexto outras dimenses, como classe social, gnero e posio no ciclo de vida, e, em seu conjunto, reproduzem a heterogeneidade existente para a populao nativa.

    Como eixos de anlise, os autores consideram a tendncia de globalizao e acelerao da migrao mencionando tambm a diferenciao, a feminizao e a politizao dos migrantes. Diversidade tnica, racismo, multiculturalismo so temas que devem ser tratados de forma conjunta como efeito da distino en-tre a populao receptora e a populao imigrante, freqentemente visto como estrangeiro ou quase cidado; a regulao dessa populao migrante passa pela dimenso do trabalho, em que alguns migrantes ficam concentrados em certos tipos de atividade geralmente com baixo status social e vivem segregados em reas residenciais de baixa renda. Alguns casos so evidenciados para reforar o argumento: o declnio da migrao laboral no Leste europeu; a formao de novas minorias tnicas na transio de alguns pases do Sul europeu de tradi-o emigratria, para pases de imigrao; a continuao da migrao motivada pela via econmica, contudo considerando mudanas nas reas de origem e das formas de migrao; novos movimentos migratrios (interno e internacional) conectados com a economia e mudanas sociais pela dimenso global.

    Os autores ainda salientam o desenvolvimento de uma nova massa de refu-giados e asilados, especialmente depois do colapso do bloco sovitico, o aumento da mobilidade, com fluxo permanente e temporrio de pessoas altamente qualifica-das, e as questes de regulao e poltica de segurana articulada e fortalecida por blocos que tambm foram relevantes na era da migrao no mundo moderno.

    Numa outra vertente terica e com outro enfoque disciplinar, Sayad (1998),socilogo nascido na Cabilia e radicado na Frana, chamado por Bourdieu um analista do inconsciente, traz novas dimenses aos processos de transferncias de grupos e culturas de mundos diferentes para o seio da civilizao ocidental. Com estudos realizados entre 1975 e 1988, trata da reproduo da emigrao, do retorno como elemento constitutivo da condio do migrante e a reinsero como afirmao da identidade nacional do pas de emigrao. Para Sayad, ade-mais, os processos de emigrao e de imigrao so movimentos complemen-tares que s podem parecer idnticos para quem os v de fora e de longe sem buscar realmente entend-los.

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    Em excelente nmero especial da Travessia Revista do Migrante (2000),o pensamento de Sayad trazido em textos selecionados que reproduzem os elementos principais de sua reflexo, a partir de entrevistas e reconstruo dos significados dos movimentos de transferncia de culturas para os agentes do pro-cesso. Na apresentao desse nmero especial da revista, Afrnio Garcia ressalta que, alm dessas dimenses e da metodologia peculiar para anlise qualitativa dos significados do processo de desenraizamento dos migrantes, os trabalhos de Sayad so exemplares de estudos dos significados do Estado-nao e de comu-nidade nacional no sculo XX (ibidem, p.6).

    As contribuies aqui sintetizadas, embora sem a pretenso de um levanta-mento exaustivo, merecem destaque por apresentarem a historicidade e especifi-cidades dos movimentos internacionais de populao, seus significados e impli-caes, apontando dimenses imprescindveis na nossa avaliao das propostas internacionais sobre governabilidade e polticas sociais, bem como no crescente e necessrio debate no Brasil sobre as emergentes propostas oficiais nacionais de polticas de emigrao e de imigrao de e para o pas.

    Finalmente, interessante considerar dois discursos antagnicos apresen-tados no I Forum Social das Migraes, realizado em Porto Alegre em 2005: o discurso contundente e eloqente de Robert Kurz (2005), para quem a situa-o contempornea da sociedade mundial passa pelos movimentos migratrios sociais modernos e pelas guerras de ordenamento e aes policiais globais do Ocidente orientados pelos Estados Unidos, e o discurso de George Martine (2005), considerando a necessidade de incrementar os aspectos positivos dos movimentos migratrios internacionais para que a globalizao se complete.

    Em sua anlise, Kurz (2005) parte de uma relao causal entre migrao, guerras de ordenamento mundial e barbrie nos limites histricos do moderno sistema produtor de mercadorias; assim, a situao atual do mundo forte-mente determinada a partir de dois fenmenos: pelas guerras de ordenamento mundial e das aes policiais globais do Ocidente sob liderana dos EstadosUnidos e pelos movimentos migratrios volumosos e globais de uma ordem e de um tamanho provavelmente nunca vistos antes (ibidem, p.25). Recuperando processos histricos, Kurz chega s estruturas da migrao universal, incluindo fluxos internos e internacionais de pessoas gerando uma grande, global e socio-econmica migrao em massa.

    Os fluxos internacionais atuais assumem novas direes com novas impli-caes,

    se dirigem do leste para o oeste, do sul para o norte; em direo Unio Eu-ropia e a toda a Europa ocidental, passando a fronteira oriental; do norte da Africa e das reas alm do Saara do sul, ultrapassando o Mar Mediterrne; em direo aos Estados Unidos partindo de toda a Amrica Central e da Amricado sul. (ibidem, p.31)Migrao como processo universal e global, que se realiza em todos os

    lugares simultaneamente, sob novas dimenses, no seria mais uma mobilizao

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    de fora de trabalho para o capitalismo, mas sim a desmobilizao mundial da fora de trabalho na terceira revoluo industrial (ibidem, p.29); isso porque o capitalismo vai se tornando insular, ou seja, a reproduo capitalista se reduz a ilhas ou osis da produtividade e rentabilidade, em torno das quais surgem desertos econmicos.

    A estruturao dos movimentos populacionais macios corresponde aos diversos graus da crise e do colapso econmico em diversos pases; envolve, em primeiro lugar, especialistas qualificados e estudantes; em segundo, envol-ve fora de trabalho jovem masculina para servios pesados e inferiores que crescentemente enfrentam a concorrncia dos excludos nativos; em terceiro, fora de trabalho jovem feminina, incluindo prostituio, servios domsti-cos ou enfermeiras de clnicas ou asilos (ibidem, p.29-34). Nesse sentido, no haveria polticas migratrias, mas uma batalha estrutural diante dos efeitos per-versos, para as sociedades no-desenvolvidas, do modo de produo capitalista atual.

    Para Martine (2005), a migrao internacional, no contexto da globali-zao, no somente inevitvel, como seria potencialmente positiva. Essedeslocamento espacial macio deve ser entendido como parte das estratgias de sobrevivncia, de impulso para alcanar novos horizontes, e a globalizao, nes-se contexto, age como fator de estmulo, ao aumentar o fluxo de informaes a respeito dos padres de vida e das oportunidades existentes ou imaginadas nos pases industrializados (ibidem, p.47). No entanto, mesmo havendo estmulo migrao internacional, esse no acompanhado por um aumento, na mesma medida, de oportunidades, pois as fronteiras que se abrem

    para o fluxo de capitais e mercadorias, esto cada vez mais fechados aos mi-grantes. Essa a grande inconsistncia que define o atual momento histrico no que se refere s migraes internacionais [...] Essa inconsistncia , em grande parte, responsvel pelo aumento de indocumentados e do trfico de pessoas pelas fronteiras. (ibidem, p.48)

    Em matria de polticas de migrao, a globalizao far cada vez mais ne-cessria a transio do controle migratrio para a gesto migratria em um sentido amplo. Isso no significa que os Estados abandonem sua atribuio de regular a entrada de estrangeiros e supervisionar sua admisso que contemple a permanncia, o retorno, a reunificao, a revinculao, o trnsito nas fronteiras e a mudana de pessoas para outros pases. A proposta de anlise da migrao in-ternacional como vantajosa de certa forma minimiza o carter de enfrentamento e ausncia de direitos sociais por que passam os migrantes nos pases receptores. No entanto, o deslanchar dessas proposies est amplamente ancorada na per-cepo, por parte das sociedades receptoras, das consideradas enormes vanta-gens dos movimentos migratrios dos pases em desenvolvimento para os pases desenvolvidos e, ao se despirem de formas veladas de preconceitos e racismo, co-mearo a apreciar os benefcios que aportam as migraes (ibidem, p.48-50) .

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    As afirmaes de Martine, no entanto, correm o risco de imprimir um carter instrumental ao migrante; seu destino depende, nesse sentido, da per-cepo positiva e da boa vontade dos pases receptores. No entanto, esses pases recebem uma mo-de-obra flexibilizada e que se sujeita a todas as formas de su-perexplorao de trabalho, contribuem para sua produo e consumo e carreiam prvios investimentos dos pases de origem em sua formao, educao e sade. Essa situao resulta em considerveis montantes de remessas que acabam por tornar dependentes pessoas e famlias inteiras e que, ao fim e ao cabo, podem reforar, por essa via, sua condio de eternos pases em desenvolvimento.

    Esse rpido percurso, absolutamente no exaustivo, sobre as reflexes te-ricas que emergem a partir das evidncias dos volumosos, conflitivos e ame-aadores movimentos migratrios internacionais do mundo contemporneo, talvez possa nos iluminar no prosseguimento de nossas reflexes e de nossos compromissos com as especificidades, desenvolvimentos e implicaes para os pases latino-americanos e, especificamente para o caso do Brasil, no contexto da globalizao.

    interessante reter que, por perspectivas analticas diversas, h uma certa convergncia no que se refere s caractersticas, tendncias e implicaes que as-sumem as migraes internacionais a partir de aproximadamente os anos 1980. Essa convergncia se dilui, no entanto, quando deparamos, de um lado, com discursos de inspirao neoclssica ou ancorados em teorias neoliberais e, de outro, com discursos que identificam nos movimentos migratrios internacio-nais atuais expresses ntidas e inevitveis de conflitos e contradies agudizadas na atual etapa de desenvolvimento capitalista; h que considerar, portanto, as

    Imigrantes ilegais no Centro de Deteno Hoya Fria, em Santa Cruz de Tenerife, na Espanha.

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    implicaes desses discursos para o desenho de polticas emergentes sobre os movimentos internacionais contemporneos, em suas mltiplas modalidades e dimenses.

    Soldados espanhis patrulham o permetro cercado em torno do enclave de Ceuta, no Marrocos.

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    Contraponto com polticas e governabilidadeA discusso sobre a governabilidade das migraes internacionais, sua re-

    gulao e os contornos que devem assumir os acordos bilaterais, multilaterais ou regionais para o delineamento e implementao de polticas especficas, no momento atual, sofrem o impacto de duas publicaes de organismos inter-nacionais com poder suficiente para se tornarem tema constante na imprensa mundial e moverem instituies oficiais e da sociedade civil. So elas: o relatrio da Comisso Global sobre Migrao Internacional das Naes Unidas (GCIM/UM, 2005), e o relatrio anual do Banco Mundial intitulado Economic Implica-tions of Remmitances and Migrations (2006).1

    Divulgados simultaneamente ao final do ano passado, esse dois documen-tos buscam pautar e orientar as aes e os programas de pases no sentido da governana das migraes internacionais na linha do reforo aos considerados aspectos positivos desses movimentos. Derivadas de duas exaustivas tarefas de documentao, reunies e discusses, as recomendaes acabam por configuar os dois eixos norteadores do debate atual: polticas migratrias ancoradas em Direitos Humanos e remessas dos emigrados como instrumento de combate pobre-za dos pases de origem.

    No recente relatrio da Global Commission on International Migration, podem-se reconhecer os dilemas, avanos e conflitos que a temtica das polticas de migrao internacional vem assumindo em anos recentes. Incentivada pelo secretrio-geral das Naes Unidas, a Comisso foi criada, no final de 2003, por um grupo de dezenove pases, entre os quais se inclui o Brasil, a fim de pro-mover um debate compreensivo entre Estados e outros atores.2 O relatrio evidencia, desde o incio, a postura de que os fluxos de pessoas dos pases pobres para os pases ricos pois disso que se trata podem ter aspectos positivos, o que embasa o reforo da colocao das migraes internacionais como uma das medidas de combate pobreza e diminuio dos contrastes e acirradas desigual-dades entre os pases.

    Nesse relatrio, consideram-se como migrantes pessoas que vivem fora de seu pas de origem por mais de um ano, bem como migrantes temporrios, e prope-se a apresentar novos enfoques a fim da corrigir o fracasso da co-munidade internacional em capitalizar as oportunidades e enfrentar os desafios associados migrao internacional. Assim, identifica-se como problema a falta de capacidade na formulao e implementao efetiva de polticas migratrias; enfatizada a necessidade de formulao de polticas migratrias coerentes, embora no esteja totalmente claro o que se entende por isso. Aponta-se que, em muitos casos, coexistem prioridades competitivas e demandas de curto prazo de diferentes ministrios governamentais e de diferentes instncias fora do go-verno. Decises importantes tomadas em reas como desenvolvimento, comr-cio, auxlio e mercado de trabalho so raramente consideradas em termos do seu impacto sobre a migrao internacional.

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    Considerando, ademais, a importncia de consultas e cooperaes como a base para a formulao e implementao de polticas, reconhece o peso da ques-to da soberania nacional, dimenso tradicionalmente forte nas barreiras que se levantam livre circulao de pessoas. Talvez, por isso mesmo, a Comisso aca-be por admitir que no pode haver um nico modelo de ao e que no h, no presente, consenso no que se refere introduo de um sistema global formal de governana para a migrao internacional, sendo necessrio o estabelecimento de novos instrumentos legais e agencias internacionais para tal fim.

    O documento, contudo, faz recair sobre os indivduos migrantes a respon-sabilidade pela promoo do desenvolvimento e reduo da pobreza nos pases de origem. Os seis princpios para ao apresentados no relatrio colecionam um conjunto de formulaes desejveis, porm de difcil viabilizao; por exemplo, almeja-se que a mudana de pas resulte de uma escolha individual ou familiar e no decorrncia de fatores negativos nas reas de origem; mas, para tanto, claro, os pases deveriam se desenvolver.

    A migrao internacional deve tornar-se parte integrante de estratgias nacionais, regionais e globais de crescimento econmico, tanto nos pases de-senvolvidos como nos pases em desenvolvimento. Embora afirmando respeito ao direito soberano de cada pas sobre quem entra e quem sai de seu territrio, estimula medidas de cooperao e proteo de migrantes irregulares, facilitando o retorno de seus cidados.

    Se, de um lado, devemos admitir que o relatrio possa representar avanos no tratamento com os migrantes internacionais e abrir brechas para a militncia dos agentes envolvidos, de outro, h que ressaltar os limites e as inviabilidades contidas nas propostas. Algumas colocaes representam um abismo entre as condies concretas de migrao internacional, na contradio da nova ordem internacional, em que, alm das grandes disparidades econmicas e culturais entre os pases catalogados como pases no-desenvolvidos ou em desenvolvi-mento, o capital financeiro e a livre circulao de bens e servios implicam a formao crescente de excedentes populacionais internacionais, conflitos entre mo-de-obra nativa e estrangeira e a formao de uma mercado dual de traba-lho, como foi visto nas formulaes tericas.

    Na globalizao, os capitais, a tecnologia e os bens circulam livremente, mas as pessoas no; se a governabilidade das migraes internacionais se res-tringe a acordos entre governos, como lidar com o decisivo papel de agentes econmicos, dos interesses de corporaes e empresas inter ou transnacionais, as necessidades do mercado de trabalho dos pases desenvolvidos, entre outras dimenses. Na verdade, polticas migratrias devem ser discutidas junto com polticas econmicas e comerciais, junto OMC e OIT. Nesse sentido, se isola-da, a chamada poltica migratria coerente, ancorada em direitos humanos, pode se tornar uma armadilha, que novamente garanta os interesses dos pases desenvolvidos, canalizado para o apoio de movimentos de migrantes tempor-rios, os quais acabam por configurar o envio de remessas, que, alm de resultar

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    de atividades econmicas sabidamente de seu interesse, so apresentadas como sua contribuio para o combate pobreza dos pases de origem.

    O documento do Banco Mundial, complementar ao do Global Commis-sion, centra-se na questo das remessas dos migrantes de pases pobres a pases ricos como o aspecto fundamental na governabilidade das migraes internacio-nais e refora a idia de que essas remessas contribuem para o combate a pobre-za nos pases de origem. Na apresentao do documento, considera-se que os aspectos positivos das migraes internacionais para os pases pobres so de trs tipos: as remessas, a reduo das presses no mercado de trabalho interno e con-tatos com mercados internacionais e acesso tecnologia. Por a se percebe qual a noo de desenvolvimento que norteia o trabalho; a questo do desemprego nos pases em desenvolvimento e o acessos desses pases tecnologia atribuda s migraes temporrias de contingentes populacionais documentados. impres-sionante a consagrao, no discurso, da diviso entre os pases desenvolvidos e os outros, diviso a se perpetuar, uma vez que, implcito ao documento, a pobreza deve diminuir, mas no se consideram as condies e viabilidades estruturais de desenvolvimento desses pases de origem na nova ordem mundial.

    Dado que se consideram tambm os aspectos negativos nas migraes internacionais explorao, abuso e perda de pessoal altamente qualificado , as migraes tm obstaculizado os desenvolvimentos em alguns pases o relatrio enfoca a questo das remessas; a migrao de trabalhadores especializados; os determinantes das migraes; proteo social e governana e as articulaes en-tre comrcio, investimento estrangeiro direto e migrao, bem como, e princi-palmente, polticas para incrementar o impacto das remessas no desenvolvimen-to, concluindo com a afirmao de que a migrao, comparada com os fluxos histricos de pases da Europa e sia para as Amricas, ao final do sculo XIX e incio do XX, tambm hoje pode constituir uma fora importante no combate pobreza: Migration remains an important force for fighting poverty, the key mission of the World Bank (p.vi).

    Os nmeros apresentados so eloqentes e tm sido amplamente divulga-dos na imprensa: os migrantes enviaram oficialmente mais de US$ 167 bilhes para suas famlias nos pases em desenvolvimento no ano passado; os latino-ame-ricanos enviaram US$ 55 bilhes, e destaca o Mxico, com aproximadamente US$ 17 bilhes; em segundo lugar o Brasil, com US$ 5,6; Colmbia com US$3,8; Haiti conforma com as remessas (1 bilho) de 25% de seu PIB. Os dados evidenciam as enormes disparidades entre os pases de origem quanto a seu ta-manho e suas condies econmicas, sociais e culturais, o que, portanto, resulta em efeitos muito distintos das remessas; no se pode negar que pases pequenos da Amrica Central e Caribe acabem por depender decisivamente da transfern-cia financeira de seus emigrados; so justamente os pases onde a chamada fuga de crebros tambm constitui um dos aspectos negativos dessa emigrao; o Mxico configura um caso singular, com sua histrica migrao transfronteiria, predominantemente de origem rural e a enorme cifra atingida pelas remessas.

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    O caso brasileiro tambm peculiar, por seu tamanho, pela origem dos migrantes, pela maior tendncia circularidade e ao retorno; no nosso caso, as remessas, que vm crescendo desde os anos 1990, se tornam mais expressivas nos ltimos anos, provocando iniciativas oficiais para sua captao nos principais centros de concentrao de brasileiros no exterior.

    No conjunto, essas transferncias financeiras so vistas, no relatrio, como a contribuio, via migrantes temporrios, dos pases receptores, ricos, aos pases de origem, pobres, o que imprime s polticas migratrias o carter de polticas assistenciais. Como bem assinala Marmora (2005), no cmputo dessas remessas no est considerado o outro lado da balana ou seja, o que foi investido nos pases de origem em seus cidados que se dirigem aos pases ricos, nem a con-tribuio que estes realizam nos pases de destino, no tempo em que l exercem suas atividades econmicas, freqentemente com remunerao baixa e aqum dos nativos que, ademais, desprezam ocupaes de pouco prestgio.

    Enquanto isso, aumenta desproporcionalmente o volume de migrao ir-regular ou clandestina, bem como a situao de vulnerabilidade de crescente volume de migrantes; os traslados realizam-se com o recurso de atravessadores de planto que a transformam num negcio de ocasio; recrudescem reaes de xenofobia, intolerncia, discriminao e conflito. Ademais, os atores que no falam nos relatrios esto, cada vez mais, falando em manifestaes pblicas e reivindicaes de movimentos sociais. Parece ser inevitvel, no encaminhamento de propostas de governabilidade das migraes internacionais, tomar em conta a voz dos atores envolvidos e essa voz, de maneira ntida e irreversvel, se faz presente nos crescentes e fortes movimentos sociais.

    Um bote carregando 177 imigrantes ilegais interceptado pela guarda costeira italiana.

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    Nesse conceito, h que considerar se os dois eixos norteadores dos acordos para o delineamento de polticas migratrias internacionais tendentes a privile-giar a migrao temporria e o retorno remessas e direitos humanos podero representar um avano na governabilidade dos movimentos internacionais e no interesse dos grupos sociais envolvidos; parece difcil que por a se avance no sentido da livre-circulao de pessoas no mundo globalizado, onde os capi-tais, a tecnologia e os bens se movem livremente.

    Notas

    1 Pode-se imaginar o montante de recursos financeiros e humanos para a realizao desses relatrios, que envolvem considerveis equipes de funcionrios internacionais, viagens, fruns de discusses, assessorias, pessoal de apoio etc. A nfase no tema, por-tanto, atesta a importncia que as migraes internacionais assumiram nas agendas de rgos das Naes Unidas, no Banco Mundial, no BID e nas instituies congneres.

    2 O Brasil esteve representado, nessa tarefa, pela cientista social Mary Castro, coorde-nadora de migraes internacionais na Comisso Nacional de Populao e Desenvol-vimento (CNPD). Mary Castro h tempo vem defendendo a ptica dos direitos hu-manos no tratamento da questo migratria. Ver referncias bibliogrficas para suas contribuies mais recentes.

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    RESUMO APRESENTAM-SE subsdios para o debate sobre polticas de migrao internacional que j se estende para movimentos sociais de expressivos contingentes documentados e no-documentados nos principais pases de destino. Recomendaes de organismos inter-nacionais defendem polticas migratrias em termos de direitos humanos e na superviso de remessas, consideradas um dos aspectos positivos das migraes e auxlio no combate pobreza dos pases de origem. O contraponto com formulaes tericas sobre o fen-

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    meno evidencia incoerncias e inviabilidades dessas propostas se no forem articuladas com esforos para o desenvolvimento econmico e social dos pases envolvidos.

    PALAVRAS-CHAVE: Polticas de migrao internacional, Remessas, Direitos humanos dos migrantes.

    ABSTRACT THE TEXT presents arguments for the debate concerning international migra-tion policies; this debate, nowadays, involve social movements of increasing number of documented and undocumented migrants in the main destination countries. Interna-tional organisms recommend migration policies based on human rights and remittances, considered as a way of reducing poverty in origin countries. Nevertheless, considering theoretical approaches and recent mass movements we can argue about the viability of the propositions as well as the necessity of also considering the structural conditions for the development efforts in these countries as a fundamental manner of combating poverty and improving their level of life.

    KEYWORDS: International migration politics, Remittances, Migrants human rights.

    Neide Lopes Patarra professora livre-docente e pesquisadora aposentada do IFCH/Nepo-Unicamp e pesquisadora titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisa Social da ENCE/IBGE. @ [email protected]

    Recebido em 26.5.2006 e aceito em 29.5.2006.