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Autoria A própria epístola nos informa sobre o nome do seu autor: Tiago (1.1). Esse nome, para a igreja

primitiva, sempre esteve associado ao filho mais velho de José e Maria, e, portanto, um dos irmãos da grande família biológica do Senhor Jesus (Mt 13.55,56).

Na época da Reforma, entretanto, Lutero questionou a canonicidade deste livro, por sua ênfase ao caráter ilibado, atitude santa, e na prática de boas obras, num aparente contraste com a doutrina paulina sobre a justificação pela fé. Mais tarde, entretanto, a Igreja percebeu que o livro, na verdade, se preocupa com os aspectos práticos da conduta cristã e revela o modo pelo qual a fé opera na vida cotidiana de cada crente em Cristo.

Durante o período da Reforma, foram cogitados alguns outros possíveis autores para esta carta, como Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João, mas sua morte prematura, vítima de martírio por sua fé sincera e valorosa no Senhor, por volta do ano 44 d.C., é muito anterior à publicação da obra, tirando-lhe qualquer possibilidade efetiva de ter sido o autor. Além disso, uma série de características internas e externas solidificadas ao longo dos últimos séculos, mediante descobertas arqueológicas e melhor exegese dos manuscritos gregos, apontam o irmão do Senhor como autor da carta que leva seu nome. Tiago, em sua teologia e prática doutrinária, demonstra considerável semelhança com o ensino de Jesus Cristo. Uma comparação entre esta carta e o conhecido Sermão do Monte revela mais de dez evidentes paralelismos.

Mediante orientação do Espírito Santo, Tiago foi escolhido como moderador da Igreja em Jeru-salém, logo após o Pentecostes (At 15). Ao escrever sua epístola, conferiu ao texto um caráter de elevada autoridade espiritual sem ser pernóstico ou presunçoso. Mesmo não apresentando qualquer forma apologética explícita, sua carta, quando dividida nos 108 versículos que a compõem, revela nada menos do que 54 mandamentos.

Tiago também foi um dos poucos a quem Jesus Cristo apareceu logo após a ressurreição (1Co 15.7). O apóstolo Paulo o considerou “sustentáculo” (coluna) da Igreja (Gl 2.9), tanto que, em sua primeira visita a Jerusalém, após sua conversão, procurou reunir-se com Tiago (Gl 1.19), gesto que repetiu em sua última visita à Cidade Santa (At 21.18).

Quando Pedro foi liberto da prisão, logo pediu que os amigos comunicassem o fato a Tiago (At 12.17). Portanto, a importância da pessoa e da posição de Tiago ganhou tal notoriedade que Judas, o discípulo autor da missiva bíblica que leva seu nome, julgou necessário apenas se apresentar como “irmão de Tiago” (Jd 1.1), levando em consideração o prestígio e a boa fama do irmão do Se-nhor e líder da Igreja em Jerusalém, o qual foi martirizado por causa de sua fé cristã, no ano 62 d.C.

Propósitos Tiago preocupou-se em escrever uma obra de natureza claramente judaica, porém realçando o

cristianismo vital, marcado pela fé que age, que ganha expressão e pleno significado em atitudes e ações práticas em nome de Cristo.

Seu texto fluido, severo, mas informal, é delicadamente construído (em excelente grego) à se-melhança dos escritos sapienciais do Antigo Testamento, trazendo à memória do leitor os sábios conselhos bíblicos de Provérbios.

O tema central de Tiago é a “religião pura” (1.27), fé que é testada por meio das muitas provas, tentações e aflições pelas quais o verdadeiro povo de Deus passa todos os dias. Essas provações positivas e negativas do cristianismo puro revelam nossas contrastantes qualidades espirituais e carnais. A carta apresenta exemplos sobre a tentação útil e a absolutamente maléfica, sobre a fé verdadeira e a reprovável, sobre o ser carnal e o ser espiritual. O alvo de Tiago é oferecer à Igreja uma correta e concreta instrução quanto à atitude ética dos crentes. Comparado ao apóstolo Paulo, Tiago demonstra pouco interesse em doutrina sistemática e formal, embora a carta não esteja isenta de profundas e significativas afirmações teológicas (1.12; 2.1-19; 3.9; 5.7-14). Tiago procura tratar dos principais assuntos do cotidiano dos crentes por meio de máximas (provérbios) e pérolas de sabedoria.

Tiago escreve como um pastor prático, preocupado com o bem-estar espiritual dos seus filhos

INTRODUÇÃO TIAGO

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na fé, livre dos costumeiros e extenuantes embaraços teológicos. O primeiro capítulo, por exemplo, introduz e apresenta uma sinopse dos tópicos que serão tratados de forma mais ampla e profunda nos capítulos seguintes.

Data da primeira publicação Tiago endereça sua carta primeiramente “às doze tribos dispersas entre as nações” (1.1), ou seja,

aos judeus convertidos ao senhorio de Cristo, provenientes da igreja primitiva de Jerusalém, os quais, logo depois do martírio de Estevão, se dispersaram por toda a região da Fenícia, por Chipre e pela Antioquia da Síria (At 18.1; 11.9). Isso nos ajuda a compreender a natureza visivelmente judaica da carta, como o uso do título hebraico de Deus em grego kyrios sabaoth, que significa “Senhor dos Exércitos” (2.1; 5.4-8), a expressão hebraica synagoge (“assembléia” em grego), em referência ao tradicional lugar de reunião dos cristãos (2.2), bem como a quantidade de referências às provas, perseguições, opressões, e seu conhecimento íntimo dos leitores mais diretos.

Portanto, todos esses fatores somados à natureza eminentemente judaica da carta, e à demons-tração de uma ordem eclesiástica simples – os líderes da comunidade cristã são designados apenas como “presbíteros” e “mestres” (5.14; 3.1) – nos levam a entender que Tiago a redigiu quando a Igreja ainda vivia sob uma acirrada influência judaica por volta do ano 49 d.C.

Esboço geral de Tiago 1. O objetivo divino com o desenvolvimento da religião pura (1.1-27) A. Saudação apostólica (1.1) B. A provação que deve ser recebida com alegria (1.2) C. Deus usa as aflições para aperfeiçoar o caráter (1.3) D. É vital a obediência ao Espírito Santo (1.4) E. O Espírito Santo conduz à verdadeira sabedoria (1.5) F. Receber o dom da sabedoria depende da fé (1.6-7) G. A falta de fé expõe o Eu carnal e anula o Espírito (1.8) H. Os pobres devem ser ricos em Cristo (1.9-11) I. A importância da atitude pessoal na provação (1.12) J. Deus não empurra ninguém para o Mal (1.13) K. O desejo egoísta catalisa o poder do Mal (1.14-16) L. O ponto de partida de toda a bênção (1.17) M. Na obra redentora de Cristo: seu amor leal (1.18) N. O cristão sincero age com sabedoria (1.19-21) O. Um coração santo produz atos de justiça (1.22-27) 2. Provas da religião verdadeira e pura (2.1 – 5.20) A. Prova da submissão do Eu à direção de Cristo (2.1-13) B. Prova da fé que age em favor do próximo (2.14-26) C. Prova do amor cristão como estilo de vida (3.1-18) D. Prova da vitória do Espírito sobre o Eu carnal (4.1-12) E. Prova da falibilidade da direção do Eu carnal (4.13-17) F. Prova da administração espiritual dos bens (5.1-6) G. Prova da paciência sob as opressões da vida (5.12) H. Prova da perseverança na oração com fé (5.13-20)

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TIAGO

Apresentação e saudação

1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas

entre as nações: Saudações.1

Como atravessar as provações2 Meus amados irmãos, considerai mo-tivo de júbilo o fato de passardes por diversas provações.3 Porquanto sabeis que a prova da vossa fé produz ainda mais perseverança. 4 E a perseverança deve ter plena ação, a fi m de que sejais aperfeiçoados e comple-tos, sem que vos falte virtude alguma.2

Como ganhar sabedoria5 Se algum de vós tem falta de sabedoria, rogai a Deus, que a todos concede libe-ralmente, com grande alegria. 6 Todavia, peça-a com fé, sem qualquer sombra de dúvida, pois quem crê com reservas é semelhante à onda do mar, agitada e levada pelos ventos.

7 Não imagine tal pessoa que assim rece-berá coisa alguma do Senhor,8 pois é vacilante e inconstante em todos os seus caminhos.3

Tudo passa, e passa depressa 9 Contudo, o irmão de condição humilde deve gloriar-se em sua dignidade.10 O irmão rico deve orgulhar-se em sua pequenez, pois ele também “passará como a erva do campo”.11 Porque o sol se levanta com seu calor intenso e seca a planta; cai, então, a sua fl or, e toda a sua beleza e glória desvane-cem. Da mesma forma, o rico defi nhará em meio a seus muitos compromissos.4

Provação e tentação se diferem 12 Feliz a pessoa que persevera na prova-ção, porquanto, após ter sido aprovada, receberá o prêmio da coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam.5

13 Entretanto, ninguém ao ser tentado

1 Tiago é o irmão mais velho de Jesus Cristo e líder da Igreja em Jerusalém (Mt 13.55; Jo 7.2-5; At 15.13). Não deve ser confundido com o apóstolo Tiago, pois este morreu muito cedo para ter escrito esta carta (44 d.C.). Paulo, após ter sido convertido, em sua primeira visita a Jerusalém, conheceu Tiago e passou a considerá-lo como “apóstolo” e “coluna da igreja” (Gl 1.19; 2.9). Pedro, assim que foi solto da prisão, mandou avisar Tiago (At 12.17) e o apóstolo Judas considerava Tiago tão conhecido que o menciona em sua carta somente como “irmão Tiago” (Jd 1). Tiago foi torturado, apedrejado e morto, às mãos do sumo sacerdote Anano, por causa de Cristo, em 62 d.C. Essa é uma das mais antigas cartas do NT (cerca de 50 d.C) e foi endereçada primeiramente aos judeus cristãos que haviam sido dispersos pelo mundo conhecido da época. Tiago usa a expressão hebraica kyrios sabaoth, que significa “Senhor dos Exércitos”, para se referir ao título de Deus conhecido pelos judeus (5.4). Usa também outra expressão hebraica, traduzida para o grego como synagoge, “sinagoga”, que significa “assembléia”, para referir-se à Igreja como “reunião” dos membros do Corpo de Cristo (2.2).

2 Assim como o ser humano nasce e se desenvolve à medida que aprende a viver mediante a superação de dificuldades; da mesma forma, ao nascermos espiritualmente pela fé em Cristo, é necessário que passemos por várias provações, a fim de que essa fé seja aperfeiçoada e aprendamos a viver de forma madura, dirigidos pelo Espírito de Deus (1Pe 1.6-9; Rm 5.3-5). A expressão grega hupomone retrata uma das principais virtudes cristãs: a “perseverança” ou “constância”, que é a capacidade de caminhar confiando em Deus para um futuro melhor, apesar de as circunstâncias presentes nem sempre serem favoráveis (2Ts 3.5).

3 De todas as virtudes que podemos pedir ao Senhor, uma das mais importantes é a sabedoria: a capacidade de enfrentar as provações com um tipo especial de alegria, somente produzida pela fé no amor e no poder de Cristo, em associação ao consolo produzido pelo Espírito Santo, que é a certeza de que Deus está operando (Pv 1.2-4; 2.10-15; 4.5-9; 9.10-12). Quem crê, duvidan-do, não caminha para o porto seguro, mas vaga como as ondas do mar (Ef 4.14).

4 O cristão pobre não deve se entregar às lamúrias, mas considerar sua riqueza e posição elevada em Cristo (v.9; 2.5). O cristão que desfruta de uma condição socioeconômica mais privilegiada, ou mesmo o que é rico, deve reconhecer sua insignificância e carência de Deus, seguindo a Jesus com humildade (v.10; Mt 6.30). Tanto pobres quanto ricos devem cooperar com os que possuem, uns com os outros, e todos com a comunidade (Rm 12.1-8).

5 Tiago, assim como outros autores do NT, usa a figura da coroa de folhas (literalmente em grego: grinalda), símbolo da vitória perfeita, que era colocada sobre a cabeça dos vencedores olímpicos ou dos militares que se destacavam nas batalhas (Mt 5.3-12; Fp 4.1; Ap 1.3; 2.10; 2Tm 4.8; 1Pe 5.4).

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deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Ora, Deus não pode ser tentado pelo mal, e a nenhuma pessoa tenta.6

14 Cada um, porém, é tentado pelo pró-prio mau desejo, sendo por esse iludido e arrastado. 15 Em seguida, esse desejo, tendo con-cebido, faz nascer o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte.7

Deus nos gerou para abençoar 16 Meus amados irmãos, não vos permi-tais ser enganados. 17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há oscilação como se vê nas nuvens inconstantes.8

18 De acordo com a sua vontade, Ele nos gerou pela Palavra da verdade, a fi m de sermos como que os primeiros frutos de toda a sua criação.9

Como viver a Palavra de Deus 19 Assim, meus queridos irmãos, tende estes princípios em mente: Toda pessoa deve estar pronta para ouvir, mas tardio para falar e lento para se irar.20 Porque a ira do ser humano não é ca-paz de produzir a justiça de Deus.21 Portanto, livrando-vos de todo tipo de impureza moral e aparência de maldade,

recebei humildemente a Palavra em vós implantada, a qual é poderosa para sal-var a vossa vida.22 Sede praticantes da Palavra e não simplesmente ouvintes, iludindo a vós mesmos.23 Porquanto, se alguém é ouvinte da Palavra e não praticante, é semelhante a um homem que contempla o próprio rosto no espelho; 24 e, depois de admirar a si mesmo, sai e logo se esquece da sua aparência.25 Porém, a pessoa que observa atenta-mente a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negli-gente, mas praticante zeloso, será muito feliz em tudo o que empreender.10

26 Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo. Sua espiritualidade não tem valor real algum!27 A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como sincera e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas difi culdades e, especialmente, não se deixar corromper pelas fi losofi as mun-danas.11

Não fazer acepção de pessoas

2 Caros irmãos, como crentes em nos-so glorioso Senhor Jesus Cristo, não

6 Deus não pode ser tentado porque é santo por natureza, e, portanto, nada existe no pecado que o interesse. Ao passo que o ser humano tem uma queda natural para o pecado (Gn 3), que pode ser vencida pelo poder do Espírito Santo, à medida que o crente descobre quão magnífico é o prazer de viver de acordo com a vontade de Deus. As palavras “tentação” e “provação” têm origem na mesma expressão grega. Contudo, Deus considera todos os nossos obstáculos como provas de fé para a vitória, ao passo que Satanás espera que sejamos tentados (iludidos por nossas vontades), derrotados e destruídos, assim como ele próprio (Gn 22.1; Mt 4.1).

7 Satanás não é criativo, mas grande plagiador das coisas de Deus, que habilmente procura usar para suas intenções maléficas. Sua maneira de agir não mudou em todos esses milênios de história da humanidade. Os passos destrutivos: cobiça, pecado e morte foram os mesmos usados para seduzir (tentar) os primeiros seres humanos (Gn 3.6-22), e outros homens de Deus ao longo da história (2Sm 11.2-17).

8 Tiago combate as idéias supersticiosas e espiritualistas que sempre permearam as doutrinas judaicas. A astrologia, por exemplo, afirmava que o destino nos homens era determinado pelos astros. Tiago afirma que é Deus quem nos assiste em tudo, outorgando dons e virtudes às pessoas, especialmente aos seus filhos. Deus, diferentemente dos corpos celestes e dos fenôme-nos atmosféricos, é uma pessoa imutável (Hb 13.8; Ml 3.6).

9 O maior e mais importante dos dons é a regeneração produzida pelo Evangelho (Jesus Cristo). Assim como os primeiros frutos de uma colheita indicavam a qualidade da safra, os primeiros cristãos representavam que muitos haveriam de ser salvos até a iminente volta do Senhor (Lv 23.9-14; Jo 3.3-8; Cl 1.5; 1Pe 1.22,23).

10 O pecado escraviza e avilta o ser humano; a salvação em Cristo e a obediência voluntária à lei moral da Palavra de Deus proporcionam ao crente a jubilosa liberdade de se tornar a pessoa que Deus planejou para desfrutar da sua amizade e do seu Reino (Sl 19.7; Rm 8.2; Tg 2.12).

11 Desde a Queda (Gn 3), a humanidade vive um estado de rebelião contra Deus, que se intensifica a cada século, apesar de todos os aparentes movimentos religiosos observados em todo o mundo. Os crentes são incentivados a perseverar na Verdade e na simplicidade do Evangelho, a fim de não serem seduzidos por falsas religiosidades (Jr 22.16; 1Jo 2.15).

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façais acepção de pessoas, tratando-as com preconceito ou parcialidade.1 2 Se, por assim dizer, entrar na vossa sinagoga, algum homem com anéis de ouro nos dedos, trajando roupas caras, e, ao mesmo tempo, entre uma pessoa pobre, vestindo roupas velhas e sujas,2 3 e tratardes com atenção especial ao homem bem trajado e o honrardes di-zendo: “Eis aqui um lugar digno da sua pessoa. Assentai, pois”, mas disserdes ao pobre: “Tu, podes fi car ali em pé!” ou “Assenta-te no chão, próximo ao estrado onde ponho os meus pés”, 4 não fi zestes discriminação preconcei-tuosa e vos tornastes como juízes que usam critérios perversos?5 Ouvi, meus amados irmãos. Não es-colheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdei-ros do Reino que Ele prometeu aos que o amam?6 Contudo, vós tendes menosprezado o pobre. E não são os ricos que vos opri-mem? Não são eles que vos arrastam para os tribunais?7 Não são os ricos que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado?3

8 Se vós, entretanto, observais a Lei do Reino, como está registrada na Escritura e que ordena: “Amarás o teu próximo

como a ti mesmo”, então estareis agindo corretamente;4

9 se, todavia, tratais as pessoas com par-cialidade, estareis incorrendo em pecado e sereis condenados pela Lei como trans-gressores. 10 Porquanto, quem obedece toda a Lei, mas tropeça em apenas uma das suas ordenanças, torna-se culpado de quebrá-la integralmente.5

11 Pois Aquele que proclamou: “Não adulterarás”, também ordenou: “Não matarás”. Ora, se não adulteras, porém cometes um assassinato, tornastes da mesma forma, transgressor da Lei.12 Falai e procedei com todos, como quem haverá de ser julgado pela lei da liberdade;13 pois será exercido um juízo sem mise-ricórdia sobre quem também não usou de compaixão. A graça triunfa sobre o juízo!6

As atitudes demonstram a fé 14 De que adianta, meus caros irmãos, alguém proclamar sua fé, se não tem obras? Acaso essa fé pode salvá-lo?7

15 Se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados de roupa e passando priva-ção do alimento de cada dia,16 e qualquer dentre vós lhes disser: “Ide

1 Os cristãos sinceros, que receberam a glória de Cristo, quer dizer, foram abençoados com a shekiná (em hebraico: “a iluminação da presença de Deus entre os seus”), devem receber todas as pessoas com carinho e respeito, sem qualquer discriminação, preconceito ou favoritismo, pois Deus, nosso Pai, recebe todos os crentes como filhos.

2 Tiago usa uma antiga expressão hebraica mô’ẽdh (lugar santo – Sl 74.8), como fora traduzida na Septuaginta (tradução grega do AT), isto é, synagoge, porém não com o sentido de atribuir santidade ao edifício, mas às pessoas que ali se reúnem para adorar a Deus. Assim, a expressão hebraica mais próxima do termo “sinagoga” seria kenẽseth (assembléia).

3 Na cerimônia do batismo cristão, o nome de Cristo é invocado sobre o novo convertido (neófito) como um sinal de bênção (Mt 28.19; At 2.38). Assim como no AT, os antigos homens de Deus abençoavam suas descendências em o Nome do Senhor, como fez Jacó (Gn 48.16).

4 A lei do amor é chamada de “real” ou “régia” por ser a suprema origem e síntese de todos os demais mandamentos e ordenanças. Seu Autor é o Rei do Universo e inclui todas as leis que regulam as relações humanas (Lv 19.18; Mt 22.36-40; Rm 13.8-10).

5 A impossibilidade de algum ser humano guardar toda a Lei de Deus (muito menos da forma como Jesus a interpretou), só nos deixa uma solução: confiar de todo coração naquele que foi o único capaz de cumprir plenamente a vontade do Pai, vencer a morte e nos legar vida eterna em seu Nome. É em Jesus Cristo que a compaixão e a graça de Deus triunfam sobre o juízo que merecemos (v.13; Êx 20.13; Dt 5.17,18; Mt 5.18,19; 23.23; Hb 7.26,27).

6 Esta passagem é um dos vários exemplos de citações dos ensinos de Jesus Cristo nessa carta (Mt 5.7; 18.33-35). 7 O autor não está afirmando que as boas obras podem salvar algum ser humano, interpretação equivocada que induziu Lutero

rejeitar essa carta como canônica por algum tempo. Tiago afirma que a fé sincera e viva se manifesta, naturalmente, por meio de boas obras, assim como a vida no corpo se demonstra a partir do trabalho da respiração, no bater do coração e tantas outras funções do organismo vivo (Ef 2.10; Rm 3.24).

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em paz, aquecei-vos e comei até satisfa-zer-vos”, porém sem lhe dar alguma ajuda concreta, de que adianta isso?8

17 Deste mesmo modo em relação a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta.18 Entretanto, alguém poderá afi rmar: “Tu tens fé, e eu tenho as obras; mos-tra-me tua fé sem obras, e eu te de-monstrarei minha fé mediante as obras que realizo”. 19 Crês, tu, na existência de um só Deus? Fazes bem! Até mesmo os demônios crê-em e tremem!9

20 Queres pois, assegurar-vos, ó homem insensato, de que a fé sem obras é de fato inútil?21 Ora, não foi Abraão, nosso pai na fé, justifi cado por obras, quando ofereceu seu próprio fi lho Isaque sobre o altar?10

22 Vês desta forma que tanto a fé como as obras estavam agindo juntas, e a fé foi aperfeiçoada pelas obras.23 Cumpriu-se, assim, a Escritura que

declara: “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça”, e ele foi chamado amigo de Deus.11

24 Observais que uma pessoa é justifi ca-da por meio das suas ações, e não sim-plesmente por dizer que crê.12 25 Exemplo semelhante é o de Raabe, a meretriz: não foi ela aceita por Deus pelas obras, quando acolheu os mensageiros de Israel e os conduziu à liberdade por um outro caminho? 26 Portanto, assim como o corpo sem espírito está morto, da mesma forma a fé sem obras está morta.13

Sábio é quem domina o seu falar

3 Caros irmãos, não vos torneis muitos de vós mestres, porquanto sabeis que

nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.1

2 Afi nal, todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não peca no falar, tal pessoa é perfeita, sendo igualmente capaz de dominar seu próprio corpo.2

8 Essa ilustração sobre uma fé inócua forma um instrutivo paralelo com a ilustração do falso amor, apresentada pelo apóstolo João em sua primeira carta. Enquanto Tiago conclama cada cristão a colocar sua fé em prática, João – da mesma forma – nos exorta a amar não apenas com palavras, mas mediante atitudes concretas (1Jo 3.17).

9 Tiago demonstra toda a sua formação judaica ao expressar sua fé monoteísta, o mais importante dos credos do judaísmo, conhecido em hebraico como: shema, o grande convite para que a humanidade “Ouça!” que há um Único e Todo-poderoso Deus: Yahweh (Dt 6.4; Mc 12.29).

10 Ao analisarmos esse versículo dentro do contexto fica claro que Tiago está usando um fato histórico, reverenciado por toda a comunidade judaica, para reforçar seu argumento de que a fé genuína tem como resultado natural o bom procedimento e as boas obras. É importante notar que o ato de fé de Abraão ocorreu antes de responder afirmativamente à solicitação de Deus, comprovando que a fé que já habitava no coração de Abraão era pura e verdadeira (Gn 15.6; Gn 22.1-14). A fé salvadora produz atitudes divinas (Gl 5.6).

11 O grande propósito de Deus é que o ser humano seja seu amigo, de forma voluntária e sincera. Abraão foi uma dessas pessoas (2Cr 20.7), e nós também podemos ser amigos de Deus mediante nossa fé em Jesus Cristo, seu Filho (Jo 15.14).

12 Infelizmente algumas pessoas afirmam que crêem em Deus apenas para dar seguimento a uma tradição familiar, por mera compreensão intelectual ou conveniência. A fé legitima e aceita por Deus, nasce do arrependimento, brota no coração, floresce por toda alma e produz frutos de justiça que são as boas obras e atitudes (Mt 3.8; 7.16; Jo 15.2).

13 Evidentemente, Tiago não está aprovando a condição de vida de Raabe anterior à sua conversão. Pelo contrário, ele está enfatizando a graça de Deus, pregando a boa nova de que, em Cristo, todos nós podemos encontrar uma nova vida e razão para viver. Tiago aponta para a fé operosa de Raabe, que não apenas reconheceu a misericórdia e o poder do Senhor, mas tornou-se cooperadora com Deus (Js 2; Hb 11.31).

Capítulo 31 Todos os cristãos recebem dons do Espírito e são responsáveis por seu devido uso em prol da comunidade. Os mestres,

assim como os pastores e profetas, têm o dever de usar seus dons espirituais para comunicar corretamente a Palavra de Deus e zelar por um comportamento à altura do que pregam. Um juízo mais rigoroso aguarda aqueles que se exaltam como mestres e líderes espirituais, obrigam o povo a duras disciplinas, contudo, eles mesmos, não seguem o Caminho quanto aos princípios mais elementares da vida cristã, como a humildade, misericórdia e o desapego ao poder e aos bens materiais. Humildemente, Tiago se coloca como um líder que não está imune a qualquer dessas faltas e, portanto, também precisa da compaixão do Senhor e da Igreja (Rm 12; Ef 4.11; 1Co 12.28; Mt 23.1-33; Lc 20.47).

2 A maneira ideal de refrear a língua não é apenas guardar silêncio e ficar amargurado, mas, sim, submeter ao Senhor toda a revolta, tristeza e pensamentos ruins, na certeza de que ele cuidará de tudo o que não nos é possível resolver, e nos dará a melhor direção para agir na solução dos assuntos que nos dizem respeito (2Co 10.5; Fp 4.8; Mt 12.34).

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3 Ora, ao colocarmos freios na boca dos cavalos, para que eles nos obedeçam, con-seguimos controlar o animal todo.4 Observai, por exemplo, os navios: em-bora sejam de grande porte e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, de acordo com a vontade do piloto.5 Do mesmo modo a língua é um peque-no órgão do corpo, no entanto se van-gloria de grandes realizações. Vede como um bosque imenso pode ser incendiado apenas por uma fagulha.6 Semelhantemente, a língua é fogo; é um mundo de iniqüidade; a língua está localizada entre os órgãos do nosso corpo, e pode contaminar a pessoa por inteiro, e não somente põe completamente em cha-mas o curso da nossa existência, como aca-ba, ela mesma, incendiada pelo inferno.37 Pois toda espécie de feras, aves, répteis e criaturas marinhas é possível domar e, de fato, tem sido domada pelos seres humanos; 8 a língua, contudo, nenhuma pessoa consegue dominar. É um mal incontro-lável, cheia de veneno mortal.9 Com a língua bendizemos o Senhor e Pai, porém com ela amaldiçoamos nossos semelhantes, criados à imagem de Deus.4

10 Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus queridos irmãos, isso não está certo!11 Acaso pode, uma mesma fonte, jorrar água potável e água salobre? 12 Ora, meus irmãos, é possível que uma fi gueira produza azeitonas ou uma vi-dei-ra, fi gos? Assim, também, uma fonte de água salgada não pode jorrar água doce.

Cultivemos a sabedoria dos céus 13 Quem, dentre vós, é sábio e tem verda-deiro entendimento? Que demonstre por seu bom proceder cotidiano, mediante obras praticadas com humildade que têm origem na sabedoria.14 No entanto, se abrigas em vosso cora-ção inveja, amargura e ambição egoísta, não vos orgulheis disso, nem procurai negar a verdade.15 Porquanto, esse tipo de sabedoria não vem dos céus, mas é terrena; não é celestial, mas demoníaca.5

16 Pois, onde existe inveja e rivalidade, aí há confusão e todo tipo de atitudes maléfi cas. 17 Porém, a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura, repleta de miseri-córdia e de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia.18 Ora, a justiça é a colheita produzida por aqueles que semeiam a paz.

Nossa guerra contra as paixões

4 De onde vêm as batalhas e os desen-tendimentos que há entre vós? De

onde, senão das paixões que guerreiam dentro de vós.1

2 Cobiçais e nada tendes. Matais e inve-jais, porém não conseguis obter o que desejais; viveis a brigar e a promover contendas. Todavia, nada conquistais por que não pedis. 3 E quando pedis não recebeis, porquan-to pedis com a motivação errada, sim-plesmente para esbanjardes em vossos prazeres.2

4 Adúlteros! Ou não estais cientes de que a amizade com o mundo é inimizade

3 Tiago usa uma figura de linguagem para revelar que a decadência do mundo se evidencia a cada dia e, portanto, não devemos esperar significativas melhoras, especialmente no padrão moral, social e ético dos povos. Somos advertidos a cuidar bem do nosso pensar e falar (língua), pois Satanás busca, diuturnamente, influenciar (incendiar) nossas mentes para o mal e tudo quanto é próprio do inferno (Jo 8.44; Mt 5.22; Lc 16.23).

4 Novamente Tiago faz alusão aos princípios ensinados por Jesus Cristo. Considerando que o ser humano foi criado por Deus com tanto carinho, e à sua semelhança (Gn 1.26,27), amaldiçoá-lo ou tratá-lo com indignidade é o mesmo que ofender ao Criador e Pai (Gn 9.6).

5 O Senhor não é Deus de desordem e confusão, mas de paz e verdade (1Co 14.33). Capítulo 41 A expressão grega original hJdonw'n usada por Tiago, significa “prazeres” ou “paixões” e deu origem à nossa palavra

“hedonismo”.2 Aqui, a expressão “matar” é usada como hipérbole, para enfatizar o malefício do “ódio”. A oração deve ser um exercício de

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contra Deus? Ora, quem quer ser amigo do mundo se torna inimigo de Deus.3

5 Ou imaginais que é sem razão que a Escritura afi rma que o Espírito que Ele fez habitar em nós zela com ciúmes dos seus?4

6 Todavia, Ele nos outorga graça ainda maior. Por isso, declara a Escritura: “Deus se opõe aos arrogantes, mas con-cede graça aos humildes”.5

7 Portanto, sujeitai-vos a Deus. Resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós!6

8 Achegai-vos a Deus, e Ele acolherá a todos vós! Pecadores, limpai as vossas mãos, e vós que tendes a mente dividida pelas paixões, purifi cai o coração, 9 entristecei-vos, arrependei e chorai. Abandonai o riso fácil e pranteai, trocai a vossa euforia pelo pesar. 10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará!7

Não julgar ou falar mal dos irmãos11 Caros irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem se põe a falar contra algum irmão ou passa a julgar o seu irmão, acaba protestando contra a Lei e a julga tam-bém. Ora, se passas a julgar a Lei, cessas de obedecê-la e assumis a posição de juiz.8

12 Um só é o Legislador e Juiz, Aquele que

pode salvar e aniquilar. Tu, no entanto, quem és, para julgar o teu semelhante?

Submeter nossos planos a Deus 13 Agora, prestai atenção, vós que acla-mais: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá nos estabeleceremos por um ano, negociaremos e obteremos grande lucro”.14 Contudo, vós não tendes o poder de saber o que acontecerá no dia de ama-nhã. Que é a vossa vida? Sois, simples-mente, como a neblina que aparece por algum tempo e logo se dissipa. 15 Em vez disso, devíeis afi rmar: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. 16 Entretanto, estais agora vos orgu-lhando das vossas capacidades. E toda vanglória como essa é maligna.17 Refl eti sobre isso, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.

Advertência aos poderosos

5 E agora, prestai atenção, vós, os ricos! Chorai e arrependei-vos, porquanto

desgraças haverão de cair sobre vós.1 2 Vossas riquezas apodreceram, e vossas

contínuo diálogo com nosso Pai celestial, e não uma fórmula para fazermos com que Deus satisfaça todos os nossos desejos. O bom pai sempre se preocupa em dar o melhor e mais saudável aos seus filhos, nem sempre correspondendo às expectativas imaturas e imediatas deles (Mt 7.7-11).

3 A palavra “adúlteros” é usada em seu sentido mais amplo: “desleais” ou “infiéis”, a fim de enfatizar o grave erro das pessoas que professando amar a Deus, no dia-a-dia e em seus relacionamentos, demonstram amar muito mais ao mundo e tudo o que ele pode proporcionar (Jr 1.27; 31.32).

4 Essa é a única referência explícita à pessoa do Espírito Santo nessa carta. Tiago afirma que Deus, na pessoa do seu Espírito, zela por seus filhos, onde habita, com ciúmes por nossa devoção leal e integral (Êx 20.2-6).

5 Tanto Tiago quanto Pedro (colunas da Igreja) deram ênfase a essa passagem do AT no NT (Pv 3.34; 1Pe 5.5). 6 A única maneira eficaz de resistirmos às artimanhas do Diabo, assim como aos desejos e paixões da nossa própria carne, é

nos rendendo incondicionalmente ao Senhor, em plena devoção (1Pe 5.8,9; Mt 4.10). Ao atendermos o chamado de Deus e dele nos aproximarmos com sinceridade, seremos recompensados com seu abraço acolhedor e sua presença poderosa em nossas vidas (Sl 24.3-6). A arrogância e o egoísmo contribuem para uma submissão, cada vez maior, do ser humano ao Diabo e um proporcional afastamento de Deus (Dt 4.7).

7 Os sacerdotes, no AT, antes de se aproximarem do Santo dos Santos (no tabernáculo), e, portanto, de Deus, tinham que pas-sar por uma cerimônia em que, enquanto lavavam as mãos e os pés numa bacia de bronze, podiam refletir sobre suas vidas e se arrepender de eventuais pecados ainda não confessados. Essa lavagem era um símbolo da purificação espiritual (Êx 30.17-21). Ao sermos iluminados pelo Espírito de Deus, e notarmos o quanto esse mundo jaz nas trevas, a vã alegria se torna em tristeza pelo pecado e sincero arrependimento (Mt 23.12).

8 Falar mal de um irmão ou arrogar-se como juiz, condenando as decisões e procedimentos dos semelhantes é menosprezar a segunda parte do primeiro mandamento da Lei, não levando em consideração o amor fraternal que é exigido por Deus no trato com todos (Mt 22.34-40; Êx 20.16; Sl 15.3; 50.19,20; Pv 6.16,19).

Capítulo 51 A riqueza é uma bênção adicional quando recebida por um coração que ama a Deus e seu Reino. Tiago, entretanto, faz um

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roupas fi nas desvaneceram, roídas pela traça. 3 Vosso ouro e vossa prata, todos estão oxidados. E a ferrugem deles testemu-nhará contra vós e, assim como o fogo, vos devorará a carne. Tendes acumulado bens demais nestes últimos tempos. 4 Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que vós, desonestamente, deixastes de pagar está clamando por justiça; e tais clamores chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos.2

5 Tendes vivido regaladamente sobre a terra, satisfazendo todos os vossos de-sejos, e tendes comido até vos fartardes, como em dias de festa.6 Condenais e matais o justo, sem que ele tenha vos oferecido qualquer resistência.

Coragem no dia do sofrimento 7 Portanto, meus irmãos, sede pacientes até a vinda do Senhor. Observai como o lavrador aguarda o precioso fruto da terra, esperando com paciência, até que receba as primeiras chuvas de outono e as que encerram a primavera.3 8 Sede vós, igualmente, perseverantes.

Fortalecei o vosso coração, porquanto a vinda do Senhor está próxima.9 Irmãos, não vos queixeis uns dos ou-tros, para que não sejais também assim julgados. Eis que o Juiz está às portas!4

10 Irmãos, tomai como exemplo de paciência e perseverança a atitude dos profetas, que pregaram em Nome do Se-nhor, diante do sofrimento. 11 Eis que consideramos bem-aventura-dos todos quantos demonstraram fé ao atravessar muitas afl ições. Tendes ouvido falar a respeito da paciência de Jó e bem sabeis que solução fi nal o Senhor lhe providenciou. Ora, o Senhor é pleno de compaixão e misericórdia.5

Orientações fi nais 12 Contudo, meus queridos irmãos; não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem tampouco façais qualquer outro juramento. Seja sufi ciente a vossa pala-vra; sendo sim, que seja sim; quando não, não. Procedei assim para não cairdes em condenação.6

13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Há alguém encorajado entre vós? Cante louvores.7

parêntese em sua carta para prevenir os ricos não cristãos de que seu fim está próximo (At 2.17; 1Tm 4.1; 2Tm 3.1; Hb 1.2; 1Jo 2.18). A arrogância e o sentimento de exagerada confiança que exibem, por causa do acúmulo de bens que possuem, são meras ilusões passageiras. O AT, em muitos momentos, ao longo da história, faz declarações semelhantes (Is 13 – 23; Jr 46 – 51; Ez 25 – 32; Am 1.3 – 2.16; Sf 2.4-15). As roupas, normalmente confeccionadas em tecidos finos e exclusivos, para clientes exigentes e adornadas com ouro e pedras preciosas, sempre foram um sinal de requinte e poder no Oriente (At 20.33).

2 A expressão “Senhor dos Exércitos”, em grego transliterado sabaoth, aparece na Septuaginta (tradução do AT em grego) como “Todo-Poderoso” (Rm 9.29; Is 1.9).

3 Tiago encoraja aos crentes que estão sofrendo sob o domínio dos ricos ímpios, a exercerem a macrothumesate, em grego, uma espécie de “paciência confiante no arrependimento dos injustos e expectativa” da parousia, expressão original grega usada para indi-car a visita oficial de um rei a uma cidade dentro do seu domínio (Rm 2.4; 1Pe 3.20; 2Pe 3.9); termo que passou a designar “o glorioso retorno do Senhor” (1Ts 4.15; 2Ts 2.1). Em Israel, as chuvas do outono surgem em outubro e novembro, pouco depois de semeados os grãos, e as últimas chuvas da primavera ao final de abril, alguns dias antes da colheita (Dt 11.14; Jr 5.24; Os 6.3; Jl 2.24).

4 Os cristãos são exortados a ter paciência com crentes e descrentes, pois a volta do Senhor se aproxima rapidamente, quando a plena justiça universal será estabelecida definitivamente. Esse glorioso retorno de Cristo já era considerado iminente pela igreja primitiva, pois os “últimos dias” são contados a partir da encarnação de Cristo (Rm 13.12; Hb 1.1; 10.25; 1Pe 4.7; Ap 22.20).

5 Ao contrário do que pensam alguns teólogos, Jó não tinha uma paciência desinteressada e passiva (Jó 3; 12.1-3; 16.1-3; 21.4), mas perseverante e confiante na misericórdia do Deus Todo-Poderoso (Jó 1.20-22; 2.9,10; 13.15).

6 Uma vez mais, Tiago menciona as palavras de Jesus em seu ensino doutrinário (Mt 5.33-37). O irmão de Jesus e pastor da Igreja em Jerusalém não está condenando os juramentos solenes, pois eram uma antiga prática judaica, legalmente válida, quan-do se precisava atestar uma palavra empenhada (Êx 22.11). Assim como foi instado a fazer Jesus perante Caifás (Mt 26.63,64), e Paulo, ao expressar seu zelo para com a Igreja (Rm 1.9; 9.1). Tiago está condenando o uso leviano do santo nome de Deus ou de qualquer pessoa ou objeto sagrado para garantir a verdade do que se diz. Os cristãos devem ser conhecidos como pessoas cujas palavras são absolutamente dignas de crédito, sem nem mesmo a necessidade de juramentos.

7 Tiago usa o termo grego euthumei, raro no NT, e que significa “ter coragem e bom ânimo diante das adversidades”. Somente Paulo havia usado essa mesma expressão anteriormente (At 24.10; 27.25). Quanto aos sofrimentos, os crentes devem seguir o exemplo de Cristo e crer no poder da oração (Lc 22.44).

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14 Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da igreja, a fi m de que estes orem sobre a pessoa enferma, ungindo-a com óleo em o Nome do Senhor;8

15 e a oração, feita com fé, curará o do-ente, e o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, será perdoado. 16 Portanto, confessai vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A súplica de uma pessoa justa é muito poderosa e efi caz. 17 Elias era uma pessoa frágil como nós. Ele orou fervorosamente, rogando para

que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio.9 18 Então, fez outra oração, e os céus derramaram suas chuvas e a terra produziu os seus frutos.19 Queridos irmãos, se algum de vós se desviar da verdade e alguém o recondu-zir a ela, 20 lembrai-vos disso: quem ajudar um pecador a se arrepender do seu mau caminho salvará da morte essa alma e contribuirá para o perdão de uma grande multidão de pecados.10

8 Diferentemente do que afirmam alguns teólogos, essa não é uma indicação para a prática da “extrema unção”. Primeiro, porque Tiago está se referindo aos presbíteros e não aos sacerdotes; segundo, porque o uso do verbo grego original sozo, cujo significado é, ao mesmo tempo, “salvar” e “curar”, indica uma oração para a vida e não preparativo para a morte. O óleo era o remédio mais conhecido e eficaz contra várias doenças e dores. Os antigos filósofos e médicos, como Plínio e Galeno, já reco-mendavam seu uso. Jesus, embora não usasse óleo em suas curas, autorizou seus discípulos a fazê-lo como uma ilustração do poder de Deus para curar a alma e o corpo do ser humano, sendo a maior das curas o perdão dos pecados e a doação da vida eterna. Os presbíteros devem levar os enfermos à essa conclusão e, assim, lhes facilitar o acesso à saúde (salvação) perfeita em Cristo (Is 1.6; Lc 10.34; 1Tm 3.1; 5.17; Mc 6.13; Mt 9.21,22; 14.30; 24.13,22; Lc 7.50; 8.12,36,48,50).

9 Esses três anos e meio representam apenas uma cifra arredondada (metade de sete), tendo como base os registros nos Livros dos Reis (1Rs 17.1; 18.1; 41-46; Ap 11.1-6).

10 Tiago oferece aos crentes mais de 50 mandamentos sobre o amor e a Lei do Senhor, a fim de que a Igreja saiba zelar pelo bom testemunho dos seus membros, com toda a fé (oração), carinho e respeito, visando à perfeita saúde espiritual e o encora-jamento de todos nas horas de provação (Lc 22.32). O cristão, que se desvia do Caminho, mas que é reintegrado, tem todos os seus pecados absolvidos pelo poder do sangue remidor de Cristo, além de produzir grande júbilo espiritual em seus irmãos na Igreja, e a manutenção do bom testemunho dos cristãos perante o mundo (Hb 6.4-8; 2Pe 2.20-21; 1Co 11.30; 1Jo 5.16).

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