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LFG – CIVIL – Aula 02 – Prof. Pablo Stolze – Intensivo I 5. EMANCIPAÇÃO “Regra geral: a menoridade cessa aos 18 anos completos. Art. 5º, do Código Civil” “Segundo Washington de Barros Monteiro, esta maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se completa 18 anos.” Lembrar do senso comum: Deu meia noite, todos cumprimentam o aniversariante. Ninguém espera o dia acabar. 5.1. Conceito e Espécies Emancipação traduz uma forma de antecipação da capacidade plena, podendo ser: Voluntária Judicial Legal Emancipação Voluntária (art. 5º, § único, I, 1ª parte) Essa emancipação, prevista no art. 5º, § único, I (1ª parte) é aquela concedida pelos pais ou por um deles na falta do outro, em caráter irrevogável , mediante instrumento público independentemente de homologação do juiz desde que o menor tenha 16 anos completos. Desde a Constituição de 1988, não há a primazia do pai. É um ato dos pais ou de qualquer deles na falta do outro. E se só a mãe tiver a guarda do filho, ela sozinha com toda documentação em dia e com a guarda do filho homologada na sentença, mas sem a autorização pai, pode emancipar? Negativo. A emancipação é um ato dos pais. Até porque no momento que vc emancipa, vc extingue o poder familiar. A mãe pode ter a guarda, mas o pai tem o poder familiar. A emancipação voluntária é um 16

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5. EMANCIPAÇÃO

“Regra geral: a menoridade cessa aos 18 anos completos. Art. 5º, do Código Civil”

“Segundo Washington de Barros Monteiro, esta maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se completa 18 anos.”

Lembrar do senso comum: Deu meia noite, todos cumprimentam o aniversariante. Ninguém espera o dia acabar.

5.1. Conceito e Espécies

Emancipação traduz uma forma de antecipação da capacidade plena, podendo ser:

Voluntária Judicial Legal

Emancipação Voluntária (art. 5º, § único, I, 1ª parte)

Essa emancipação, prevista no art. 5º, § único, I (1ª parte) é aquela concedida pelos pais ou por um deles na falta do outro, em caráter irrevogável, mediante instrumento público independentemente de homologação do juiz desde que o menor tenha 16 anos completos.

Desde a Constituição de 1988, não há a primazia do pai. É um ato dos pais ou de qualquer deles na falta do outro.

E se só a mãe tiver a guarda do filho, ela sozinha com toda documentação em dia e com a guarda do filho homologada na sentença, mas sem a autorização pai, pode emancipar? Negativo. A emancipação é um ato dos pais. Até porque no momento que vc emancipa, vc extingue o poder familiar. A mãe pode ter a guarda, mas o pai tem o poder familiar. A emancipação voluntária é um ato conjunto se os dois forem vivos. Só na falta de um é que pode ser feita só pelo outro.

Além disso, é lavrado em instrumento público, registrado no cartório do registro civil de nascimento do menor, independentemente de homologação do juiz. Não depende de sentença do juiz.

O menor precisa autorizar a emancipação pelo pai? A lei não diz. O menor não precisa autorizar a emancipação, até porque é menor. Ele participa do ato emancipatório porque esse ato repercute na esfera jurídica dele, mas isso não significa que esse menor tem o poder de autorizar ou não seus pais.

É ato irrevogável. Desde que os pais manifestem a vontade de forma válida, não podem revogar a posteriori.

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OBS.: “Forte parcela da doutrina brasileira, a exemplo do professor Silvio Venosa, na linha de julgados do próprio STF (RTJ 62/108 RT 494/92) sustenta que, na emancipação voluntária, persiste a responsabilidade civil dos pais pelo ato ilícito do menor.”

Seu filho tem 18 anos, pegou o carro dele e causou um acidente. O pai não será responsabilizado. Se tem 17 e é emancipado, e é como se tivesse atingido 18 anos. ele é capaz. Tem plena responsabilidade jurídica. Em princípio os pais diriam: meu filho causou um dano, mas é emancipado e não tenho responsabilidade sobre ele. É a regra, lógico! Porque a emancipação antecipa a capacidade plena. Ocorre, contudo, que se essa regra não for relativizada, inequívocas injustiças aconteceriam. Pensem no pai e na mãe que sabem que o filho de 17 anos não tem parâmetro, é irresponsável e o emancipam para evitar que tenham que assumir eventuais prejuízos causados por esse filho. Se isso fosse possível, a vítima ficaria irressarcida.

Assim, a doutrina desenvolveu, especialmente para essa hipótese de emancipação voluntária (e só para ela), com o intuito de combater raciocínios fraudulentos como esse, a seguinte tese: na emancipação voluntária, a responsabilidade dos pais persiste até que esse filho tenha atingido os 18 anos de idade. Apesar de estar tecnicamente emancipado.

Emancipação Judicial (art. 5º, § único, I, 2ª parte)

Na emancipação judicial, o menor é emancipado pelo juiz, ouvido o tutor, desde que tenha 16 anos completos.

Os menores que estejam sob tutela (órfãos, por exemplo), são emancipados pelo juiz e não pelo tutor. O procedimento é instaurado. Se não foi o tutor que instaurou, ele vai ser ouvido em qualquer hipótese porque pode ser até que o MP, no exercício da curatela dos interesses desse menor, entenda que ele pode ser emancipado. O juiz ouve o tutor e, se for o caso, emancipa o menor.

OBS.: “O art. 91, da LRP, Lei de Registros Públicos, Lei 6.015/73, estabelece que quando o juiz conceder a emancipação, deverá comunicá-la de ofício ao oficial de registro caso não conste dos autos prova de este registro ter sido feito em 8 dias.”

É uma pegadinha boa: o juiz concede a emancipação ouvido o tutor se não houver prova nos autos de que foi feito o registro no cartório de registro civil de pessoas naturais, onde está registrado o nascimento deste menor. De ofício, o juiz determina o registro e, a partir daí, surte efeito essa emancipação judicial.

Emancipação Legal (art. 5º, § único, II a V)

Essas hipóteses de emancipação caem em concurso feito água. Essa emancipação decorre da própria lei e o Código Civil estabelece as hipóteses de emancipação legal.

a) Casamento

É a primeira hipótese de emancipação legal. É o casamento que emancipa e não a união estável. Como se trata de instituto que extingue o poder familiar dos pais, não se deve estender

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isso à união estável. Isso é hermenêutica. Uma interpretação extensiva seria descabida. A partir de que idade a mulher pode casar? 16 anos. E o homem? 16 também. Não era assim. No Código de 1916, o homem só poderia casar com 18 anos. O Código novo equiparou a capacidade para casar em 16 anos de idade. Entre 16 e 18, homem e mulher podem casar, mas precisam da autorização do seu representante ou do juiz.

O Código Civil, no art. 1520, estabelece duas situações em que o casamento pode se dar abaixo dos 16 anos de anos: diante de gravidez e para evitar imposição e cumprimento de pena criminal. Quando o professor chegar em família vai explicar isso.

“Ainda que venha a se separar ou divorciar posteriormente, a emancipação decorrente do casamento permanece.”

E se o casamento for anulado ou declarado nulo, a emancipação persiste? Isso foi perguntado pelo MP. O divórcio gera efeitos ex nunc (dali pra frente), mas a pergunta não é essa. A questão trata de anulação. Essa matéria não é simples. Em família veremos que a doutrina não se entende quanto aos efeitos da sentença que invalida o casamento. O professor segue a linha daqueles que entendem que a sentença que declara nulo o casamento não tem efeitos para o futuro, mas para o passado. O fato é que grande parte da doutrina entende que o sujeito que se casou em 2003 tem o seu casamento anulado por sentença hoje, a sentença retroage os seus efeitos (eficácia ex tunc), de maneira que se a sentença que invalida o casamento tem efeitos retroativos, logicamente, que a emancipação perderá efeitos, salvo na hipótese do casamento putativo, em que se mantém alguns efeitos do casamento por conta da boa-fé.

Quem tem o casamento invalidado retorna ao status civil de solteiro porque o registro é cancelado.

No direito canônico é assim. A única hipótese de se casar novamente perante a Igreja Católica é quando se tem o primeiro matrimônio anulado porque a anulação faz retroagir os efeitos do casamento.

“Seguindo a corrente que sustenta a retroatividade dos efeitos da sentença que invalida o casamento (Fábio Tartuce, Fernando Simão, Cristiano Chaves, Zeno Veloso), concluímos que a emancipação decorrente desaparece.”

b) Exercício de emprego público efetivo

Quando o Código Civil diz isso, logicamente que isso se estende ao cargo público. Na verdade, o legislador quis dizer que o exercício de uma função publica efetiva (cargo ou emprego) emancipa. Isso é comum? Alguém pode se emancipar hoje no Brasil assumindo um exercício público efetivo abaixo dos 18 anos? Não. Isso é dificílimo. Mas na função pública da carreira militar, ela pode iniciar aos 17 anos de idade. A carreira militar nos dá um bom exemplo de exercício de função pública que pode emancipar.

c) Colação de grau em curso de ensino superior

De ocorrência ainda mais difícil que a situação anterior. Alguém conhece alguém que tenha concluído curso superior abaixo dos 18 anos de idade. Só se conseguir entrar na universidade com 13 anos e se formar com menos de 18. Mesmo na vigência do Código anterior,

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em que a maioridade civil era alcançada aos 21 anos, isso era difícil de ocorrer. Caiu em uma prova da AGU confundindo isso com a aprovação no vestibular. Era pra marcar errada.

d) Estabelecimento civil, comercial ou Exercício da relação de emprego desde que o menor com 16 anos completos tenha economia própria.

Emancipa-se por força de lei (com sentença que decorre de lei).

A diferença entre estabelecimento civil e comercial será feita na semana que vem. Só para adiantar:

O estabelecimento civil traduz o exercício de uma atividade não empresarial. Exemplo: serviço artístico ou científico. O menor com 16 anos completos é um exímio músico e é professor de violão em uma sala alugada. Ele tem um estabelecimento civil. Ou professor de inglês, de matemática...

O estabelecimento comercial traduz o exercício de uma atividade empresarial. Exemplo: compra e venda de verduras. Acontece muito no interior. O menor monta uma quitanda para revender os produtos que compra no campo. Por conta deste pequeno estabelecimento comercial, já com 16 anos completos e economia própria está emancipado com força de lei.

O NCC inovou quando estabeleceu que há emancipação em virtude da relação de emprego desde que o menor com 16 anos completos tenha economia própria. A Constituição fixou a capacidade laborar em 16 anos. Abaixo disso, o menor pode trabalhar como aprendiz. Quantos menores, com 17 anos, trabalham no shopping da cidade, é vendedor da loja, com carteira assinada, estão emancipados e nem imaginam. Se alguém resolve litigar com esse menor emancipado, pode colocar em preliminar na inicial que esse menor já é emancipado, tem capacidade plena porque é menor empregado, 16 anos completos e economia própria.

“O que significa economia própria?” Quer seja no estabelecimento civil, quer seja no estabelecimento comercial, quer seja na relação de emprego, o menor com 16 anos completos só se emancipa tendo economia própria.

Isso faz lembrar uma prova da magistratura aplicada há pouco que perguntou o seguinte: “O que é sistema aberto no direito civil?” A resposta a essa indagação nos remeterá a resposta à primeira indagação.

Quando o codificador elaborou o código de 2002 deixou claro que um dos princípios do novo código civil é o chamado princípio da operabilidade. O que tem isso a ver com sistema aberto? Nossa sociedade mudou imensamente. Por conta disso, o legislador percebeu que o direito não poderia consagrar o sistema fechado, como o código da França pretendeu. Hoje, o direito mundial, consagra sistemas abertos.

Um sistema aberto de normas é um sistema permeado de conceitos vagos e cláusulas gerais. Quanto mais conceitos vagos um sistema contiver, melhor a aplicação concreta da norma. É o que Miguel Reale chama de princípio da operabilidade. O operador opera melhor a norma se ela contiver conceitos vagos a serem preenchidos no caso concreto. Esse conceito de economia própria tem tudo a ver com sistema aberto, que é um conceito vago a ser preenchido no caso concreto.

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“O Código Civil brasileiro integra um sistema jurídico aberto, permeado de cláusulas gerais e conceitos vagos ou indeterminados. Segundo o professor Miguel Reale, à luz do princípio da operabilidade, tais conceitos deverão ser preenchidos observando as características do caso concreto (economia própria, justa causa e risco são exemplos de conceitos vagos ou abertos).”

Arruda Alvim diz que os conceitos abertos são expressões de valores. Economia aberta é expressão de valor. Caberá ao juiz preencher o que se entende por economia própria no caso concreto para melhor aplicar a norma. Por isso, Miguel Reale utiliza a expressão “princípio da operabilidade”. O legislador não estabeleceu um critério para definir economia própria. Cabe ao juiz fazer isso no caso concreto. Então, pergunto: “Um menor com 17 anos, empregado, que percebe 1 salário mínimo, tem economia própria?” Depende. Um menor mais humilde pode estar se mantendo com um salário mínimo. Um salário mínimo, em tese, não dá a alguém economia própria, mas vai depender da análise do caso concreto. Um menor de boa condição social que mora com os pais e ganha um salário mínimo, não terá economia própria.

6. EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA OU NATURAL

Cuidado com essa matéria “morte”. Maria Helena Diniz tem um livro “O estado atual do biodireito” e que fala muito bem do assunto.

Há décadas atrás, o referencial da morte era a parada cardíaca. Mas a comunidade médica percebeu que usar esse referencial para a morte porque a parada cardíaca pode ser revertida. Ela é um referencial, óbvio, mas não um referencial seguro.

“O critério que a comunidade científica mundial tem adotado é a morte encefálica como referencial mais seguro do momento da morte, inclusive para efeito de transplante (no Brasil, ver Resolução 1480/97, do Conselho Federal de Medicina).”

Art. 6º, do Código Civil:

“Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.”

A primeira parte do artigo traz a regra geral. No momento em que é declarado o óbito, este é levado a registro.

OBS: (Importante para concurso para notário): “A morte deve ser atestada por um profissional da medicina, podendo também ser declarada por duas testemunhas, na falta do especialista.”

Situação pouco comum. A lei de registros públicos fala isso, mas a regra não é essa. A regra é que seja declarada por um profissional de medicina. O médico examina o cadáver, declara o óbito, a documentação é enviada ao cartório de registro civil que expede a guia de sepultamento e faz o registro do óbito no Livro de Óbitos. Depois será aberto inventário, etc.

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Morte REAL : Essa morte, que é aferida à luz do corpo, do cadáver, é a morte chamada de morte real. É aquela que pressupõe a análise do corpo morto.

Morte PRESUMIDA : O Código Civil estabelece, além da hipótese de morte real, duas hipóteses de morte presumida:

1) Morte presumida COM decretação de ausência.

2) Morte presumida SEM decretação de ausência – são dois os casos:

a) morte provável de quem estava em perigo de vida;

b) desaparecido/prisioneiro não for encontrado até dois anos após o término da guerra.

1) Morte presumida COM decretação de AUSÊNCIA (art. 6º, 2ª parte)

“Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.”

Conceito: “Ausência ocorre quando uma pessoa desaparece do seu domicílio sem deixar do seu domicílio sem deixar notícias ou representante que administre os seus bens (ver apostila no material de apoio: Texto Complementar 01 – pág. 38). O procedimento é disciplinado a partir do art. 22, do Código Civil.”

Quando a pessoa desaparece do seu domicílio sem deixar representante, é aberto um procedimento. Há na ausência, uma primeira fase que é a fase de sucessão provisória dos bens do ausente, que são, provisoriamente, transferidos aos seus herdeiros. Expirados os prazos da lei e o ausente não voltou, o juiz abre a chamada sucessão definitiva. Quando isso acontece, nesse momento, ele é considerado morto por presunção. Esta sentença, que reconhece a morte do ausente, é registrada no livro de óbito? Não. Existe um livro no cartório de registro civil de pessoa natural, um livro próprio pra vc registrar atos como a ausência. Quando o juiz abre a sucessão definitiva, nesse momento, ele é considerado morto por presunção.

OBS.: “A sentença de ausência não é registrada no livro de óbito, mas sim, em livro especial.”

O PROFESSOR FOI ENFÁTICO NA RECOMENDAÇÃO DE ESTUDAR ESSA MATÉRIA PELA LEI SECA E PELO MATERIAL DE APOIO. ASSIM, COPIEI NO QUE TANGE À AUSÊNCIA, TANTO A LEI SECA CORRELATA, QUANTO O COPIADO DO TEXTO COMPLEMENTAR 01 (PÁG. 38), DA APOSTILA 01 DO PROFESSOR PRA POUPAR TRABALHO. É O QUE VAI TRANSCRITO ADIANTE, ATÉ COMEÇAR A MORTE PRESUMIDA SEM DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA, QUE É A DO ART. 7º.

A ausência é, antes de tudo, um estado de fato, em que uma pessoa desaparece de seu domicílio, sem deixar qualquer notícia.

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Visando a não permitir que este patrimônio fique sem titular, o legislador traçou o procedimento de transmissão desses bens (em virtude da ausência) nos arts. 22 a 39, do NCC e também nos arts. 1.159 a 1.169, do CPC (cuja leitura se recomenda, por se tratar de matéria minuciosamente positivada – eu transcrevi).

O NCC reconhece a ausência como uma morte presumida, em seu art. 6º, a partir do momento em que a lei autorizar a autorizar a abertura da sucessão definitiva.

Para se chegar a esse momento, porém, um longo caminho deve ser cumprido, como a seguir veremos.

a) Curadoria dos Bens do Ausente.

A requerimento de qualquer interessado direto ou mesmo do MP, será nomeado curador, que passará a gerir os negócios do ausente até o seu eventual retorno.

“Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.”  

Na mesma situação se enquadrará aquele que, tendo deixado mandatário, este último se encontre impossibilidade, física ou juridicamente (quando seus poderes outorgados forem insuficientes), ou simplesmente não tenha interesse em exercer o múnus.

“Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.”

“Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.”

Observe que essa nomeação não é discricionária, estabelecendo a lei uma ordem legal estrita e sucessiva, no caso de impossibilidade do anterior, a saber:

1. O cônjuge do ausente, se não estiver separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência;

2. Pais do ausente (destaque-s que a referência é somente aos genitores, e não aos ascendentes em geral);

3. Descendentes do ausente, preferindo os mais próximos aos mais remotos;4. Qualquer pessoa à escolha do magistrado.

 “Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja

separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.

§ 1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

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§ 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.

§ 3º Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.”

b) Sucessão provisória.

Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou , se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos (art. 26, do NCC), poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

  “Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.”

“Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;

II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;

IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.”

Por cautela, cerca-se o legislador da exigência de garantia da restituição dos bens, nos quais os herdeiros se imitiram provisoriamente na posse, mediante a apresentação de penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos, valendo-se destacar, inclusive, que o § 1º, do art. 30 estabelece:

“Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.”  

“§ 1º Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.”

 Esta razoável cautela de exigência de garantia é excepcionada, porém em relação aos

ascendentes, descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua condição de herdeiros (§ 2º, do art. 30), o que pode ser explicado pela particularidade de seu direito, em função dos outros sujeitos legitimados para requerer a abertura da sucessão provisória, ao qual se acrescenta o MP, por força do § 1º, do art. 28, do NCC.

“§ 2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.”

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Em todo caso, a provisoriedade da sucessão é evidente na tutela legal, haja vista, por exemplo, o que é expressamente determinado pelo art. 31 (“Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína”), bem como pelo que diz o art. 29 (“Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.”).

Um aspecto de natureza processual da mais alta significação, na idéia de preservação, ao máximo, do patrimônio do ausente, é a estipulação, pelo art. 28, do prazo de 180 dias para produção de efeitos da sentença que determinar a abertura da sucessão provisória, após o que, transitando em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, caso existente, ou ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente tivesse falecido.

“Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

§ 1º Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.

§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.”

Com a posse dos bens do ausente, passam os sucessores provisórios a representar ativa e passivamente o ausente, o que lhes faz dirigir contra si todas as ações pendentes e as que de futuro àquele foram movidas.

Na forma do art. 33, os herdeiros empossados, se descendentes, ascendentes ou cônjuges terão direito subjetivo a todos os frutos e rendimentos dos bens que lhe couberem, o que não acontecerá com os demais sucessores, que deverão, necessariamente, capitalizar metade destes bens acessórios, com prestação anula de contas ao juiz competente.

Se, durante essa posse provisória, porém, se prova o efetivo falecimento do ausente, converter-se-á a sucessão em definitiva, considerando-se a mesma aberta, na data comprovada, em favor dos herdeiros que o eram àquele tempo. Isto, inclusive, pode gerar algumas modificações na situação dos herdeiros provisórios, uma vez que não se pode descartar a hipótese e haver herdeiros sobreviventes na época efetiva do falecimento de desaparecido, mas que não estavam mais vivos quando do processo de sucessão provisória.

c) Sucessão definitiva.

Por mais que se queira preservar o patrimônio do ausente, o certo é que a existência de um longo lapso temporal, sem qualquer sinal de vida, reforça as fundadas suspeitas de seu falecimento.

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Posto isto, presumindo efetivamente o seu falecimento, estabelece a lei o momento próprio e os efeitos da sucessão definitiva.

De fato, dez anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura de sucessão provisória, converter-se-á a mesma em definitiva – o que, obviamente, dependerá de provocação da manifestação judicial para a retirada dos gravames impostos – podendo os interessados requerer o levantamento das cauções prestadas.

“Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.”

Esta plausibilidade maior do falecimento presumido é reforçado, em unção da expectativa média de vida do homem, admitindo o art. 38 a possibilidade de requerimento da sucessão definitiva, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

 “Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também,

provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.”

d) Retorno do Ausente.

Admite a lei a possibilidade de ausente retornar. Se este aparece na fase de arrecadação de bens, não há qualquer prejuízo ao seu patrimônio, continuando ele a gozar plenamente de todos os seus bens.

Se já estiver sido aberta a sucessão provisória, a prova de que a ausência foi voluntária e injustificada, faz com que o ausente perca, em favor do sucessor provisório, sua parte nos frutos e rendimento (art. 33, parágrafo único).

“Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.”  

“Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.”

Em função, porém, da provisoriedade da sucessão, o seu reaparecimento, faz cessar imediatamente todas as vantagens dos sucessores imitidos na posse, que ficam obrigados a tomar medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu titular (art. 36).

“Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão

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para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.”

Se a sucessão, todavia, já for definitiva, terá o ausente o direito aos seus bens, se ainda incólumes, não respondendo os sucessores havidos pela sua integridade, conforme se verifica no art. 39, nos seguintes termos:

Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.  

Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.

OBS.: Situação interessante diz respeito ao efeito dissolutório do casamento, decorrente da ausência, admitido pelo novo Código Civil, em seu art. 1571, § 1º:

“§ 1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.”

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL:

CAPÍTULO VIDOS BENS DOS AUSENTES

Art. 1.159. Desaparecendo alguém do seu domicílio sem deixar representante a quem caiba administrar-lhe os bens, ou deixando mandatário que não queira ou não possa continuar a exercer o mandato, declarar-se-á a sua ausência.

Art. 1.160. O juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhe-á curador na forma estabelecida no Capítulo antecedente.

Art. 1.161. Feita a arrecadação, o juiz mandará publicar editais durante 1 (um) ano, reproduzidos de dois em dois meses, anunciando a arrecadação e chamando o ausente a entrar na posse de seus bens.

Art. 1.162. Cessa a curadoria:

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I - pelo comparecimento do ausente, do seu procurador ou de quem o represente;

II - pela certeza da morte do ausente;III - pela sucessão provisória.

Art. 1.163. Passado 1 (um) ano da publicação do primeiro edital sem que se saiba do ausente e não tendo comparecido seu procurador ou representante, poderão os interessados requerer que se abra provisoriamente a sucessão.

§ 1o Consideram-se para este efeito interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;II - os herdeiros presumidos legítimos e os testamentários;III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito subordinado

à condição de morte;IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

§ 2o Findo o prazo deste artigo e não havendo absolutamente interessados na sucessão provisória, cumpre ao órgão do Ministério Público requerê-la.

Art. 1.164. O interessado, ao requerer a abertura da sucessão provisória, pedirá a citação pessoal dos herdeiros presentes e do curador e, por editais, a dos ausentes para oferecerem artigos de habilitação.

Parágrafo único. A habilitação dos herdeiros obedecerá ao processo do art. 1.057.

Art. 1.165. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito 6 (seis) meses depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, se procederá à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

Parágrafo único. Se dentro em 30 (trinta) dias não comparecer interessado ou herdeiro, que requeira o inventário, a herança será considerada jacente.

Art. 1.166. Cumpre aos herdeiros, imitidos na posse dos bens do ausente, prestar caução de os restituir.

Art. 1.167. A sucessão provisória cessará pelo comparecimento do ausente e converter-se-á em definitiva:

I - quando houver certeza da morte do ausente;II - dez anos depois de passada em julgado a sentença de

abertura da sucessão provisória;III - quando o ausente contar 80 (oitenta) anos de idade e

houverem decorrido 5 (cinco) anos das últimas notícias suas.

Art. 1.168. Regressando o ausente nos 10 (dez) anos seguintes à abertura da sucessão definitiva ou algum dos seus descendentes ou

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ascendentes, aquele ou estes só poderão requerer ao juiz a entrega dos bens existentes no estado em que se acharem, ou sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos alienados depois daquele tempo.

Art. 1.169. Serão citados para lhe contestarem o pedido os sucessores provisórios ou definitivos, o órgão do Ministério Público e o representante da Fazenda Pública.

Parágrafo único. Havendo contestação, seguir-se-á o procedimento ordinário.

DICA: Em alguns temas, tem que aprender a usar a LEI SECA!!! Ausência é um desses temas, sem grandes divagações teóricas e que basta a leitura da lei para esgotar o assunto.

2) Morte presumida SEM decretação de AUSÊNCIA (art. 7º)

“Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:

  I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.

 Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses

casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.”

Além da hipótese da ausência, há outra situação de morte presumida é a prevista no art. 7º do Código Civil Brasileiro e que é novidade no Código Civil!!! Novidade antes apenas prevista na Lei de Registros Públicos.

Aqui ele não simplesmente sumiu! Ele desapareceu em circunstâncias que nos levam a crer que ele morreu realmente, ou seja, se estava em perigo de vida (caso do Ulisses Guimarães), se desaparece em Guerra.

Nesses casos o procedimento não é de ausência, é de justificação (ouve testemunhas, analisa documentos). Neste procedimento, o juiz colhe a prova e profere sentença declarando o óbito.

“Nas hipóteses do art. 7 º, existe um procedimento de justificação em que o juiz colhe a prova e, por sentença, declara óbito.”

Esta sentença deve ser registrada no livro de óbito mesmo. Aqui não é ausência. É procedimento de justificação da morte.

Na comarca do professor ele declarou um óbito por sentença de um senhor cujo carro foi encontrado de porta aberta no meio da estrada. Ele esgotou todos os meios de prova.

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Mas se ele voltar, tem que voltar com um procedimento para obter a declaração oficial da inexistência do ato que reconheceu o seu óbito.

(fim da 1ª parte da aula)

7. COMORIÊNCIA

“Comoriência é a situação jurídica de morte simultânea. A regra da comoriência, prevista no art. 8º, do Código Civil, somente deve ser aplicada quando não for possível indicar a ordem cronológica dos óbitos.”

Na França: estabelecia o Código Francês anterior um rol de presunções: presume-se que a mulher morre primeiro e homem, depois. Teixeira de Freitas fazia uma crítica muito grande a isso. Argentina, Chile, Brasil afastaram-se desse tipo de tabelamento de presunções. O Código Civil estabelece uma regra neutra, precisa:

“Não podendo se indicar a ordem das mortes, presume-se que a situação é de falecimento simultâneo, abrindo-se cadeias sucessórias autônomas e distintas.”

“Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.”

“A regra da comoriência só se aplica se o concurso não der a ordem cronológica dos óbitos.”

Sr. Miogue (único parente: sobrinho Ishiro) e Srª Mioga (único parente: sobrinho Kasuo), casados, morrem tragicamente em um acidente de carro. Não foi possível indicar a ordem cronológica dos óbitos. Neste caso, aplica-se a regra da comoriência. Ou seja, são considerados mortos simultaneamente, abrindo-se cadeias sucessórias separadas. Metade que corresponde ao Sr. Miogue irá para Ishiro e a metade de Mioga, para Kasuo. O ponto é: mortos simultâneos não herdam um do outro!

“Esse é o ponto fundamental da comoriência: um comoriente não herda do outro!”

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LIVRO I - DAS PESSOAS

TÍTULO II - DAS PESSOAS JURÍDICAS CAPÍTULO I - DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II - DAS ASSOCIAÇÕES CAPÍTULO III - DAS FUNDAÇÕES

1. PESSOA JURÍDICA

O ser humano é gregário por excelência. O homem procura o homem. A teoria da pessoa jurídica tem a sua essência na sociologia porque o homem é gregário por excelência. Ele tende a se agrupar. Dentro desta perspectiva, do aspecto gregário, ele tende a fazer isso para o bem e para o mal (formação de quadrilha ou bando no direito penal).

A pessoa jurídica nasce como decorrência do fato associativo (ver Sociologia Jurídica –Antônio Machado Neto).

Isso é verdade porque o conceito-base de pessoa jurídica tem conexão com esse fato associativo. Mas existe um tipo de pessoa jurídica especial que não nasce desse fato associativo. E por isso ela é especial. Trata-se das fundações, que veremos na semana que vem.

1.1. Conceito

“A pessoa jurídica é o grupo humano, criado na forma da lei, e dotado de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns.”

Teixeira de Freitas não chamava pessoa jurídica de pessoa jurídica, se referia a ela como “ente de existência ideal”. Mas no Brasil consagrou-se a expressão “pessoa jurídica”. Houve quem chamasse de pessoa fictícia, pessoa mística.

Pessoa jurídica é um grupo humano personificado pelo direito, vocacionado à realização do fim social. E o empresário individual é pessoa jurídica? Cuidado com isso!

Empresário individual é pessoa física. Tanto é que o patrimônio do empresário individual é o próprio patrimônio da pessoa física. No Brasil não há destacamento do patrimônio do empresário individual. A pessoa que se inscreve na junta comercial, chamada firma individual, é pessoa física! Mas não tem CNPJ? São ficções tributárias! Mas um homem, pessoa física, não é pessoa jurídica, não pode ser. Para efeitos técnicos, se considera, mas na essência, pessoa jurídica como decorrência do fato associativo, é o grupo humano personificado.

A pessoa jurídica sofreu terrivelmente para ganhar reconhecimento no direito brasileiro e comparado. Vc vai entender agora que para a pessoa jurídica ter sido reconhecida como sujeito de direito o caminho foi muito árduo.

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1.2. Teorias Explicativas da Pessoa Jurídica

Duas grandes correntes se bifurcaram:

Corrente NEGATIVISTA – Planiol, Duguit e outros. “Esta corrente, como o nome está a indicar, negava ser a pessoa jurídica sujeito de direito.” Em outras palavras, não aceitava a tipologia. Negava autonomia, negava o reconhecimento da pessoa jurídica como sujeito de direito. Diziam que não há pessoa jurídica porque diziam que era um patrimônio coletivo ou um condomínio, grupo de pessoas físicas reunido. Essa corrente não vingou. Mas Na ciência do direito ganhou força a corrente seguinte

Corrente AFIRMATIVISTA – “A corrente afirmativista aceitava a teoria da pessoa jurídica, ou seja, reconhecia a pessoa jurídica como sujeito de direito.” Dentro dessa teoria, pulularam inúmeras teorias. Não dá pra falar de todas. Mas há a teoria kelseniana, lógico-formal, há a teoria institucionalista, a pessoa jurídica é uma instituição. Dentre todas, destacamos três teorias principais dentro da corrente afirmativista que aceitavam a tipologia da pessoa jurídica:

Teoria da ficção – “Desenvolvida por Savigny a partir do pensamento de Windscheid, sustentava que a pessoa jurídica seria um sujeito com existência ideal, ou seja, fruto da técnica jurídica.”

Savigny, no seu pensamento extremamente abstracionista, dizia que a pessoa jurídica é um sujeito de existência meramente ideal, ou seja, na linha de pensamento da teoria da ficção a pessoa jurídica não teria uma atuação social. Teria existência meramente abstrata, liberal. Seria fruto apenas da técnica jurídica, sem que tivesse uma atuação social, uma dimensão social. O grande erro do pensamento de Savigny foi ter abstraído demais a pessoa jurídica, negando-lhe uma atuação social. Uma pessoa jurídica, contudo, participa de relações sociais, ainda que presentada por seus membros. Mas ninguém nega que uma pessoa jurídica autonomamente participa da vida social.

Teoria da realidade objetiva ou organicista – “Para essa segunda teoria, a pessoa jurídica não seria fruto da técnica jurídica, mas sim, um organismo social vivo.” Clóvis Beviláqua.

Era o contraponto da teoria da ficção. Ia de um extremo a outro, dizendo que a pessoa jurídica não era fruto da técnica do direito com existência meramente ideal. Seria um organismo com atuação social presencial perceptível, como se fosse uma célula em organismo maior. Seria um organismo social vivo. Clóvis Beviláqua era tão vinculado à sociologia (matéria fundamental), positivista inclusive, que chega a dizer que o Brasil jamais terá bons juristas porque aqui há calor e havendo calor nós somos muito mais vocacionados à dança, à poesia e à música. A sociologia é uma das matérias mais importantes do curso de direito, mas não podemos chegar ao ponto de dizer que a pessoa jurídica seria simplesmente fruto da sociologia ou um organismo social vivo. Negativo.

Teoria da realidade técnica – “Esta terceira teoria, aproveitando elementos das duas correntes anteriores, mais equilibrada, afirma que, posto a pessoa jurídica seja personificada pelo direito, tem atuação social, na condição de sujeito de direito”.

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Essa é a melhor teoria. É a que pega o que tem de melhor nas duas anteriores. Diz que a pessoa jurídica é personificada pelo direito, mas não deixa de ser sujeito de direito com atuação social. É intermediária na medida em que, sem olvidar que a personalidade da pessoa jurídica é conferida pelo direito, não lhe nega atuação social. Esta é a melhor como é a teoria adotada pelo Código Civil brasileiro.

1.3. A Personalidade da Pessoa Jurídica

Em que momento a pessoa física se personifica? Desde o nascimento com vida ou, para quem segue a linha concepcionista, desde a concepção. O registro civil de nascimento tem caráter declaratório ou constitutivo da sua personalidade? Declaratório. Ele apenas declara o nascimento, a aquisição da personalidade. O que personifica a pessoa física, não é o registro, é o nascimento com vida.

E a pessoa jurídica? Em que momento se personifica? Seu registro é declaratório ou constitutivo? Com a entrada em vigor do código novo, não há mais dúvida: quem disciplina a personificação da pessoa jurídica, não é o Código Comercial, derrogado pelo NCC que acabou com a polêmica. Fica claríssimo que o registro da pessoa jurídica é constitutivo de sua personalidade. É constitutivo com eficácia ex nunc.

O Código Civil em seu art. 45 firma a natureza constitutiva do registro da pessoa jurídica, com eficácia ex nunc. A aquisição da personalidade da pessoa jurídica só se dá a partir do registro. Essa é a corrente inaugurada pelo NCC:

“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.”

O registro da pessoa jurídica é constitutivo da sua personalidade. Sem ele, não há que se falar em obter o CNPJ. A regra é: a pessoa jurídica personifica-se pelo registro do seu ato constitutivo. Mas, excepcionalmente, algumas pessoas jurídicas, além do registro demandam uma autorização ou aprovação específica do Poder Executivo. Caio Mário diz que se faltar a autorização específica, a pessoa jurídica é inexistente, porque não basta o registro.

OBS.: “Regra geral: a personificação da pessoa jurídica, regra geral, decorre simplesmente do registro do seu ato constitutivo, mas, em algumas situações, é necessária uma autorização especial de constituição dada pelo Poder Executivo.”

Exemplo: Vamos criar um banco. Não basta o registro do ato constitutivo. Tem que ter autorização específica de constituição do Banco Central. Uma operadora de plano saúde tem que ter autorização específica da ANS. A seguradora, para se constituir, tem que ter autorização específica da SUSEPE (Superintendência de Seguros Privados).

“Art. 45. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.”

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A partir do momento em que há o registro do ato constitutivo no respectivo registro, a pessoa jurídica personifica-se. Para ela nascer é necessária a inscrição do registro do seu ato constitutivo no respectivo sistema de registro público. As pessoas jurídicas que não têm esse registro funcionam como sociedades despersonificadas. Isso é estudado a partir do art. 986, do Código Civil, matéria do direito empresarial. Isso é o que a doutrina anterior denominava sociedade irregular ou de fato. Sociedade que carece do registro do ato constitutivo no sistema do registro público respectivo, é despersonificadas. As sociedades irregulares são perigosas. Ela pode até ter capacidade processual, mas não é pessoa jurídica. Por isso os sócios respondem pessoalmente.

A pessoa jurídica nasce do registro ou da inscrição do seu ato constitutivo no respectivo registro. O que é ato constitutivo e que registro é esse? O ato constitutivo da pessoa jurídica (o zigoto da pessoa jurídica) que será levado a registro é ou o estatuto ou o contrato social. Para que registro é levado esse ato constitutivo? Ou para a Junta Comercial (registro público de empresa – aqui no Rio, a JUCERJA), ou para o chamado CRPJ, Cartório de Registro de Pessoa Jurídica. Quando se leva para um ou quando se leva para outro, veremos a partir da próxima aula.

OBS.: “Algumas pessoas jurídicas têm registro em sistema especial, a exemplo da sociedade de advogados, que têm registro na OAB”.

O direito civil tem uma face interessante com o direito empresarial. O professor gosta de recomendar resumos. Há um de direito comercial (pra quem não está com tempo de ler), muito bom, Maximiliano (trabalho digno de elogio).

Questão de concurso: “O que se entende por ente despersonalizado?” tecnicamente, esses entes não são pessoas jurídicas. A própria terminologia nega. Maria Helena Diniz diz que esses entes são dotados de personalidade anômala, mas, em verdade, não são personificados. A rigor, pessoas jurídicas não são. O que esses entes têm é capacidade processual. Entes que não são pessoas jurídicas, mas tem capacidade processual. Exemplo: espólio, condomínio. E se tiver CNPJ? Isso é ficção tributária. A rigor, não é pessoa jurídica. Não tem estrutura da affectio de um contrato social. Massa falida é outro exemplo de ente despersonificado.

1.4. Espécies de Pessoa Jurídica de Direito Privado

O Código Civil diz no seu art. 44 (redação original): “são pessoas jurídicas de direito privado: associações, sociedades e fundações.” Na próxima semana veremos cada uma delas. O Código Civil dizia isso, no art. 44. Só que o art. 2.031 dizia, na sua redação original, que os empresários, associações e fundações teriam um prazo de um ano para se adaptarem ao novo Código Civil. Foi um desespero isso. Se não se adaptassem, passariam a funcionar como sociedade irregular. Esse artigo 2.031 desesperou todo mundo. Quando o Código Civil entra em vigor, dentro da categoria das associações, duas classes muito fortes se insurgiram: as organizações religiosas e os partidos políticos. Foram até o legislador e disseram que não aceitavam se adaptar daquele jeito ao NCC. O legislador, então, modificou o art. 44 que passou a dizer o seguinte:

“Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações.

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IV – as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825/03) V – os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825/03)”.

O legislador retirou do seio da associação a organização religiosa e os partidos políticos que são associações. Mas por que o legislador fez isso? Ele retirou do conceito de associação a organização religiosa e o partido político para permitir com isso a modificação do art. 2.031. no momento que fez essa retirada, permitiu mudar também o art. 2.031 que diz que as pessoas jurídicas, associações, sociedades, fundações e empresários, devem se adaptar ao novo código, salvo, organizações religiosas e partidos políticos. As outras organizações (ONGs, associações de bairro, etc.) vão ter que se adaptar. A razão de o legislador haver desdobrado ao rt. 44, foi permitir excluir do prazo de adaptação as igrejas e os partidos políticos.

“O art. 44, do Código Civil, fora desdobrado acrescentando-se as organizações religiosas e os partidos políticos, para permitir em sequência, a alteração do art. 2.031, eximindo estas entidades de se adaptarem ao NCC.”

Imagina o choro das outras associações, das sociedades de empresários. Tanto foi o choro que embora o legislador não tenha eximido mais ninguém, que esse prazo de um ano de adaptação ao novo Código Civil foi modificado várias vezes, findando em 11 de janeiro de 2007.

Isso está na apostila, no tópico: Breve Síntese do Drama Existencial Vivido pelo art. 2.031, do NCC, ora transcrita:

BREVE SÍNTESE DO “DRAMA EXISTENCIAL” VIVIDO PELO ART. 2031 DO CC:

O artigo 2031 do CC, originariamente, previa que:

“Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, terão o prazo de um ano para se adaptarem às disposições deste Código, a partir de sua vigência; igual prazo é concedido aos empresários.’

Posteriormente, sofreu a interferência de dois diplomas legais (Leis 10.825 de 2003 e 10.838 de 2004), que resultou nas seguintes mudanças: abriu-se um parágrafo único para excluir organizações religiosas (igrejas) e partidos políticos da sujeição ao prazo de adaptação e a dilatação para dois anos do prazo previsto para os empresários e demais entidades adaptarem os seus atos constitutivos.

Em seguida, a Medida Provisória 234 de 10-01-2005 estenderia mais uma vez o prazo legal para 11 de janeiro de 2006. E, mais recentemente, a Lei nº 11.127, de 28-06-2005 alargaria o prazo mais uma vez, para fixar como termo final o dia 11 de janeiro de 2007.

Segundo o professor Richard Domingos, eis algumas conseqüências da não-adaptação a este prazo:

"As piores conseqüências são: impedimento de participação em licitações; impossibilidade de abertura de contas bancárias; impedimento de obter empréstimos e financiamentos; impedimentos de fornecer produtos ou serviços para grandes empresas e, terem o contrato considerado irregular, o que faz com que as responsabilidades dos sócios passem a ser ilimitadas e não mais restrita ao valor do capital social, podendo os sócios e administradores responder com seus bens pessoais"

1.5. Pessoa Jurídica Pode Sofrer Dano Moral?

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“Ainda vigora no Brasil a corrente que sustenta a tese segundo a qual a pessoa jurídica sofre dano moral (Súmula 227, do STJ e art. 52, do Código Civil).”

“Súmula 227 – Pessoa jurídica sofre dano moral.”

“Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.”

Dano moral é lesão a direito da personalidade. Se vc diz que pessoa jurídica pode sofrer da no moral diz que pode sofrer lesão a direito da personalidade. Alguns autores dizem que se trataria de dano extrapatrimonial. Mas pessoa jurídica pode sofrer dano moral. A Súmula 227 já diz isso. O art. 52 diz que pessoa jurídica goza de alguns direitos da personalidade, e se dano moral é lesão a direito da personalidade, se esses direitos forem lesados, haverá dano moral.

Que direito à personalidade a pessoa jurídica poderia ter? Direito à imagem.

“O STJ tem admitido a reparação do dano moral à pessoa jurídica, especialmente por violação à sua imagem (RESP 752.672/RS, RESP 777.185/DF)”

A pessoa jurídica, pois, sofre dano à sua imagem, à sua honra objetiva. Essa corrente é a predominante no Brasil. E não é a corrente do Arruda Alvim que é filiado a uma corrente que entende que dano moral é um dano essencialmente de cunho psicológico, com repercussão eminentemente psicológica. Ele deu o seguinte exemplo: imagine que alguém diga por aí divulgando que determinada sociedade empresária venda produtos de má qualidade. Mentira. Dano moral à imagem. Esse é mesmo um dano moral ou seria sempre um dano de expressão econômica, já que a empresa vai passar a vender menos? Em ultima ratio, o dano tem uma tradução econômica, material. E o hospital filantrópico que teve sua imagem caluniada? Se alguém ficar por aí falando mal, receberá menos doações. E como fica isso? Mas no Brasil, a que vigora é a que aceita a reparação por dano moral.

“O Enunciado 286, da IV Jornada de Direito Civil, ainda que por via oblíqua, culminou por negar, ou enfraquecer a tese vigente no Brasil defensiva do dano moral à pessoa jurídica.”

Esse enunciado acaba se aproximado mais do professor Arruda Alvim, ambos vão de encontro à teoria que ainda é a vigorante no país e vão de encontro até ao próprio NCC:

“286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.”

OBS.: “O STJ, conforme notícia de 17/10/08 (RESP 963.387) afastou a incidência de imposto de renda sobre a indenização por dano moral.”

Resp 963.387 (STJ): “A indenização por dano estritamente moral não é fato gerador do Imposto de Renda, pois se limita a recompor o patrimônio imaterial da vítima, atingido pelo ato ilícito praticado. O entendimento da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o de que a negativa da incidência do Imposto de Renda não se dá por isenção, mas pelo falo de não ocorrer riqueza nova capaz de caracterizar acréscimo patrimonial.”

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