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03-MorfossitaxedoPortugues

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MMMMMORFOSSINTAXE ORFOSSINTAXE ORFOSSINTAXE ORFOSSINTAXE ORFOSSINTAXE DODODODODO

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Morfossintaxedo Português

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Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource

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Tipos de Morfemas Quanto ao significado

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

INTRODUÇÃO A MORFOLOGIA

ESTRUTURA DAS PALAVRAS

Morfema ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 07○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Morfemas Lexicais Morfemas Gramaticais

Morfemas ClassificatóriosMorfemas DerivacionaisMorfemas Flexionais

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Morfema Flexional de Gênero ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Morfema Flexional de Número ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Morfema Flexional do Verbo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Tipos de Morfemas Quanto ao Significante ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Aditivo Subtrativo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Alternativo Morfema Zero ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Alomorfia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Atividade Complementar

FORMAÇÃO E CLASSES DE PALAVRAS

Formação de Palavras ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Derivação

Composição ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Classes de Palavras ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Critério Semântico○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Critério Morfológico

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Critério Sintático○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Atividade Complementar

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1213131415161617

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2021

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28292930

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

Sintagma Nominal ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 33

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A Gramática Comparativa e os Neogramáticos O Estruturalismo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

INTRODUÇÃO A SINTAXE

O SINTAGMA

Sintagma Verbal ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Sintagma Preposicional○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Sintagma Adjetival e Sintagma Adverbial ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Sintagma Adjetival Sintagma Adverbial ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Atividade Complementar

A GRAMÁTICA TRADICIONAL

Os Filósofos Gregos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 49Dos Romanos à Idade Média ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Da Renascença ao Século XVIII ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Outras Abordagens Sobre a Gramática ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Gramática Gerativo-Transformacional ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Atividade Complementar○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Atividade Orientada

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Glossário○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Referências Bibliográficas

383943434445

505051

51515252536264

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Apresentação da Disciplina

Aluno companheiro,

Para você, como um estudante de letras, é importante saber aestrutura da língua. Então, nessa disciplina, vamos conhecer um poucoda estrutura da língua portuguesa para contribuir para a formação dosfuturos lingüistas. Conhecer a estrutura da língua é estudar a suamorfologia e a sua sintaxe. Assim, a partir desse momento, vamoscomeçar a estudar esse assunto para ajudar a você, professor da línguamaterna, a refletir sobre o ensino da língua portuguesa.

Compreender a morfologia e a sintaxe da língua portuguesa éessencial para a produção textual e para refletir sobre o atual ensinode gramática da língua portuguesa. É muito importante associar oensino de gramática normativa com o uso da língua. Não adianta ensinaruma gramática para decorar regras. É preciso pensar que o ensino degramática está relacionado com produção textual. Essa mudança deperspectiva é necessária para que o atual ensino de português sejaconcebido e praticado com um outro olhar, atentando para o ponto devista prático de estudar a língua portuguesa. Desejo que essa disciplinao ajude a transformar a atual prática de ensino da língua.

Sucesso!

Professora Laura Almeida

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INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA

ESTRUTURA DAS PALAVRAS

A Morfologia é, geralmente, conceituada como o componente da gramática queanalisa a estrutura interna das palavras. Mas, o que é palavra? Não é simples definir o queé palavra. Conforme Sândalo (2001), na lingüística, como em qualquer ciência, um dosproblemas básicos é identificar critérios para definirmos as unidades básicas de estudo.

Para Basílio (1987), a palavra é uma dessas unidades lingüísticas que são muitofáceis de reconhecer, mas bastante difíceis de definir, se tomarmos como base de definiçãoa língua falada. Esse fato acontece porque, na língua falada, não fazemos pausas sistemáticasentre cada palavra pronunciada. Para uma criança em fase de aquisição da escrita, é difícilsaber quando começa e quando termina uma palavra. Geralmente, elas escrevem váriaspalavras juntas, como se elas fossem uma só.

Para definir palavra, os critérios semânticos não nos ajudam, já que não podemosfazer distinção entre construtor e aquele que constrói. Esses dois termos possuem o mesmosignificado. Então, não é porque eles têm significados semelhantes que vão constituir umapalavra.

Os critérios fonológicos também não nos ajudam. É impossível elaborar um testebaseado em critérios fonológicos que possa ser aplicado para sabermos se estamos lidando

MORFEMA

Outro dia, maltratei bastante o valor da linguagem como instrumento expressivo davida sensível. Agora, conto um caso que exprime bem a força dominadora das palavrassobre a sensibilidade. Quem reflita um bocado sobre uma palavra, há-de perceber quemistério poderoso se entocaia nas sílabas dela. Tive um amigo que às vezes, até na rua,parava, nem podia respirar mais, imaginando, suponhamos, na palavra batata”. “Ba” queele, “ta” repetia, “ta” assombrado. Gostosissimamente assombrado. De fato, a palavrapensada assim não quer dizer nada, não dá imagem. Mas vive por si, as sílabas sãoentidades grandiosas, impregnadas do mistério do mundo. A sensação é formidável.(ANDRADE, 1961)

VVVVVamos começar nosso estudo?amos começar nosso estudo?amos começar nosso estudo?amos começar nosso estudo?amos começar nosso estudo?

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com uma palavra ou com uma frase. Observe o exemplo: (detergente), podecorresponder a uma palavra e a uma frase. Se for uma palavra, é um utensíliode limpeza. Se for uma frase, é o ato de prender pessoas (deter gente).

Muitos lingüistas preferem definir palavras usando critérios sintáticos.Uma seqüência de sons só pode ser definida como uma palavra se puder ser

usada como resposta mínima a uma pergunta e se puder ser usada em várias posiçõessintáticas. Observe os exemplos a seguir:

1.1.1.1.1. O que Ana comprou na feira hoje?

2.2.2.2.2. Tomate.

3.3.3.3.3. Ana comprou tomate na feira hoje.

4.4.4.4.4. Tomate foi o que Ana comprou na feira hoje.

Assim, nos exemplos 1 e 2, tomate ocorre como a menor resposta possível à questãodada. No exemplo 3, tomate ocorre como objeto da sentença e no exemplo 4, tomate ocorrecom sujeito da sentença. Assim, de acordo com o critério sintático, palavra é a unidademínima que pode ocorrer em várias posições sintáticas na sentença.

A palavra ou vocábulo mórfico é a unidade máxima da Morfologia. As unidades mínimasda Morfologia são os elementos que compõem uma palavra. Seriam os fonemas? Não. AMorfologia tem seus próprios elementos mínimos. Esses elementos são os morfemas. Oselementos que carregam significado dentro de uma palavra são chamados de morfemas esão estes a unidade mínima da Morfologia. O morfema é a menor unidade significativa dapalavra, segundo Carone (2004). Ele é indivisível e portador de significação ou funçãogramatical.

Zanotto (1986) coloca que as palavras mar e sol constituem, cada uma, um morfema,porque são unidades significativas indivisíveis. Se isolarmos qualquer parte desses vocábulosma-, so-, por exemplo, ela não terá nenhuma significação. Também pode acontecer de omorfema ser constituído de um só fonema, ou de uma só sílaba, como em é, há, mas éapenas coincidência. O morfema pode coincidir, mas não pode ser confundido com ovocábulo, nem com a sílaba, nem com o fonema.

Memória e assombração. In: _______. Os filhos da Candinha. São Paulo, Martins, 1963, p.161.

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É importante, para a compreensão do comportamento dos morfemas, a distinçãoque Bloomfield (1933 apud CARONE, 2004) faz entre formas livres e formas presas. CâmaraJr. (2004) acrescentou, também, as formas dependentes.

Formas livres são aquelas que podem constituir, isoladas, um enunciado suficientepara a comunicação. Elas são autônomas e podem sozinhas constituir uma frase. Umaforma de identificar as formas livres é através de pergunta e resposta. Por exemplo, osvocábulos que couberem como resposta à pergunta são formas livres. Observem revistasno enunciado:

O que você vai vender?

Revistas.

O fato de uma forma ocorrer, ou a possibilidade de poder ocorrer sozinha, ou numapergunta, ou numa resposta ou em outro contexto, caracteriza-a como forma livre e, portanto,como vocábulo mórfico ou palavra. Os substantivos, os verbos, os adjetivos são sempreformas livres. Uma parte dos advérbios, dos pronomes e o numeral também são formaslivres.

As formas presas não são suficientes para, sozinhas, constituírem um enunciado.Elas só funcionam ligadas a outras, como o prefixo re- em refazer e a marca de plural -s emrevistas. O vocábulo ou palavra apresenta-se, assim, como a unidade a que se chega quandonão é possível a nova divisão em duas ou mais formas livres. Segundo Zanotto (1986), asformas presas são parte integrante de um vocábulo. Na língua escrita, elas estão ligadasdiretamente a outra forma, como é o caso dos afixos, desinências e radicais, que serãoestudados mais adiante.

As formas dependentes, conforme Koch e Silva (2003), funcionam ligadas às formaslivres, como em:

As notícias da falsificação do jornal espalharam-se rapidamente.

As formas dependentes distinguem-se das livres, porque não podem funcionarisoladamente como comunicação suficiente. Elas, também, diferenciam-se das presas pelaspossibilidades de intercalação de novas formas e de variação da posição na frase. Osartigos, as preposições, as conjunções são formas dependentes, pois não possuemautonomia no discurso. Elas sempre aparecem acompanhadas de outras formas.

Zanotto (1986) comenta que existem algumas características que ajudam a diferenciaras formas presas das dependentes. Enquanto as presas são parte de vocábulo e ocupamposição fixa junto à forma de que fazem parte (repor), as dependentes formam um vocábulo,embora sem autonomia no discurso, e podem mudar de posição em relação ao vocábulode que dependem (chamou-te e não te chamou), ou aceitam a intercalação de outras formas(o amigo, o meu caro colega).

Koch e Silva (2003) colocam que tanto as formas livres como as dependentes oraapresentam-se indivisíveis (como em sol, a), ora são passíveis de divisão em unidades

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menores (in-feliz-mente, im-pre-vis-í-vel, a-s). Em infelizmente, a forma livrefeliz está combinada com formas presas (in- e –mente). Em imprevisível, aforma livre é composta somente por formas presas (im-, -prev-, -vis- -í-, -vel).

Dessa forma, não se pode confundir o conceito de formas livres,dependentes e presas com o de morfemas. As formas livres estãorelacionadas com a frase, ou seja, com o funcionamento das unidadeslingüísticas no enunciado. As formas presas fazem parte do vocábulo, portanto

não funcionam sozinhas, são morfemas como os afixos e as desinências. As formasdependentes são vocábulos, que se referem às formas livres, como as preposições e osartigos. As formas livres, presas e dependentes podem constituir um morfema ou não.Exemplo:

Sol – uma forma livre e um morfema;

Mas, cafés – uma forma livre com dois morfemas.

A forma livre será simples, se for dividida em unidades mórficas menores, comoradical, afixos, desinências, vogal temática. Se apresentar mais de um radical, serácomposta. As formas compostas podem ter várias constituições.

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Assim, as formas livres e as formas dependentes constituem os vocábulos mórficos,que tanto podem ser compostos por uma única unidade morficamente indivisível (mar), comopodem ser compostos por duas ou várias unidades menores. Essas unidades menoresindivisíveis são os morfemas. Quando o vocábulo for indivisível, equivale a um único morfema,ou seja, esse vocábulo é monomorfêmico.

Viu como não é tão complicado?Viu como não é tão complicado?Viu como não é tão complicado?Viu como não é tão complicado?Viu como não é tão complicado?

Zanotto (1986) afirma que o morfema é a unidade elementar no âmbito da morfologia.É, dessa forma, a unidade mínima significativa. Não deve, por isso, ser confundida com aunidade mínima distintiva da palavra, que é o fonema. O fonema refere-se ao som da palavra.Também não há relação necessária entre morfema e sílaba ou morfema e fonema. Poracaso, pode coincidir o morfema com a sílaba ou com o fonema ou com o próprio vocábulo,mas é mera coincidência. Fonema e sílaba são componentes fonológicos. Morfema éconstituinte morfológico.

Você deve estar se perguntando: como se deve fazer para destacar cada umdos morfemas constituintes do vocábulo mórfico?

São dois caminhos para fazer com segurança a segmentação do vocábulo emmorfemas. Um processo é o da significação e o outro é o da comutação. Na significação, éimportante destacar que como os morfemas são unidades significativas, só faz sentidoconsiderar como morfema se esse segmento for significativo, se for responsável por parteda significação total do vocábulo. Na significação, é preciso não segmentar além do permitidopela funcionalidade dos elementos, nem deixar de segmentar quando possível. Por exemplo,a seguinte segmentação carp-int-eiro está incorreta, porque a significação básica, o radical,não é carp-, mas carpint-. Além disso, não há significação em -int-. Assim, carpint- é ummorfema único e indivisível nesse vocábulo.

O segundo caminho é realizar a comutação entre os vocábulos, mantendo numa colunauma parte permanente e noutra coluna elementos em contraste. Segundo Carone (2004), acomutação é troca de um segmento do plano da expressão e tem como resultado umaalteração no plano do conteúdo. Nesse processo, há a comparação entre palavras,substituindo ou eliminando parte da palavra. Essa troca de elementos fará com que hajanova significação, novo vocábulo.

Para reforçar a segurança desse processo, pode-se fazer o caminho inverso, ouseja, manter o sufixo e comutar o radical.

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Carone (2004) assegura que, com experimentos semelhantes esucessivos, chegaremos a identificar os morfemas. A partir dessa combinação,obtêm-se todas as construções possíveis numa língua. Ao usarmos acomutação, obteremos a segmentação do vocábulo em seus morfemasconstituintes.

Os morfemas são classificados quanto ao significado e quanto aosignificante. A seguir, essa classificação será analisada mais detalhadamente.

VVVVVamos vamos vamos vamos vamos ver os tipos de morfer os tipos de morfer os tipos de morfer os tipos de morfer os tipos de morfemas?emas?emas?emas?emas?

TIPOS DE MORFEMAS QUANTO AO SIGNIFICADO

Considerando o significado, os morfemas dividem-se em morfemas lexicais egramaticais. Essa divisão leva em conta a função ou significação que o morfema desempenhano conjunto do vocábulo.

MORFEMAS LEXICAIS

Os Morfemas Lexicais (ML) – são os portadores da significação básica do vocábulo.São chamados de lexemas. São eles os responsáveis pela significação externa, nãogramatical. Essa significação está contida no radical do vocábulo. Assim, o lexema dovocábulo é o seu radical. Observemos este conjunto:

[mar, maré, marinha, marinheiro, marítimo, maresia]

Nesse exemplo, percebemos que em todas as palavras aparece o elemento mar-.Os vocábulos do conjunto são aparentados por um vínculo de forma e sentido. O elementomar- é o radical. Esse é o elemento irredutível e comum a todas as palavras de uma mesmafamília. O elemento é irredutível quando não pode mais ser segmentado. Desse modo, oradical é o núcleo semântico da palavra. O núcleo é irredutível. Ele apresenta forma e sentido,podendo receber elementos diversos e servir como ponto de partida para a produção decognatos. Dessa maneira, podemos concluir que o radical corresponde ao elementoirredutível e comum às palavras de uma mesma família. Analisemos a série:

[ferro, ferreiro, ferradura, ferramenta]

Nessa série, constamos que o segmento ferr- representa o radical, visto que ele é oelemento comum a todas as palavras da mesma família. Em resumo, o radical é a partecentral da palavra, obtido a partir da eliminação dos afixos, vogal temática e desinências.Esses elementos serão explicitados nos próximos capítulos.

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MORFEMAS GRAMATICAIS

Os morfemas gramaticais são responsáveis pelas funções gramaticais do vocábulo.Com exceção dos lexemas, os demais constituintes mórficos do vocábulo são morfemasgramaticais. Podem ser divididos, segundo a sua função, em três grupos: morfemasclassificatórios, morfemas flexionais e morfemas derivacionais.

Morfemas ClassificatóriosOs morfemas classificatórios (MC) distribuem os vocábulos em categorias. São as

vogais temáticas, tanto verbal como nominal. A vogal temática (VT) é um segmento fônicoque se acrescenta ao radical para agrupar vocábulos (nomes e verbos) em categorias. Écomum identificá-la a partir do infinitivo. Quando o verbo está nessa forma, as vogaistemáticas são as vogais que antecedem o –r.

A vogal temática agrupa os verbos em três categorias, correspondendo às trêsconjugações verbais:

Verbos de vogal temática –a-: primeira conjugação, como em amar;Verbos de vogal temática –e-: segunda conjugação, como em vender;Verbos de vogal temática –i-: terceira conjugação, como em dormir.

De acordo com Kehdi (1996), das três vogais temáticas verbais, a mais produtiva éa que caracteriza a primeira conjugação, visto que todos os verbos novos são a elaincorporados, como exemplo, discar, tricotar.

Os nomes também formam três categorias, conforme a vogal temática queapresentam:

Vogal temática –a, como em sala, porta;Vogal temática –e, como em alegre, presente (às vezes, na escrita, ocorre como ‘i’:caqui);Vogal temática –o, como em muro, alto (às vezes, na escrita, ocorre como ‘u’:europeu).

Dessa forma, -o e -e átonos finais, nos nomes, são a vogal temática desses nomes.O -a final de telefonem-a e artist-a é a vogal temática, porque não representa a flexão degênero. Mas o -a de bel-a é desinência de gênero feminino. O gênero masculino é umaforma não marcada, ou seja, não possui desinência de gênero. O -o em bel-o é a vogaltemática e não é desinência de gênero. O –a átono final será, então, desinência de feminino,quando se opuser a um masculino sem esse –a. No vocábulo artist-a, esse morfema éusado tanto para o masculino como para o feminino, então ele não pode ser uma desinênciade gênero, mas sim uma vogal temática. Quando o –a átono final não fizer oposição a ummasculino, será uma vogal temática.

O radical somado à vogal temática formam o tema. Este serve de base para oacréscimo das desinências. Observemos os exemplos:

Am- (radical), -a- (vogal temática), ama (tema).Port- (radical), -a (vogal temática), porta (tema).

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Morfossintaxedo Português

ô e ó, como em avô e pó;ê e é, como em dendê e café;á e ã, como em maracujá e irmã;i e u, como em bisturi e caruru.

Os nomes que não apresentam vogal temática e, portanto, nem tema,são chamados atemáticos. São atemáticos os vocábulos oxítonos terminadospor vogal:

No singular, os nomes terminados em l, r, e s também não apresentam vogal temática.Estas aparecem apenas quando os vocábulos estão no plural:

mar, mares, -e vogal temática;vez, vezes, -e vogal temática;mal, males, -e vogal temática.

Morfemas DerivacionaisOs morfemas derivacionais servem para formar novas palavras com o acréscimo de

afixos. Os afixos são morfemas que se anexam antes, no meio ou depois do radical paraalterar o seu sentido ou acrescentar-lhe uma idéia secundária. Podem contribuir, ainda,para a mudança de classe do vocábulo, como exemplo: mal (adjetivo) e maldade(substantivo). Os afixos são classificados em prefixos, infixos ou sufixos.

a) Prefixos – prefixo é um acréscimo feito antes do radical. Serve para derivar palavras.Os prefixos alteram o sentido das palavras às quais se juntam.

Imoral e desonesto têm significados antônimos a moral e honesto.

b) Infixo – é um morfema que se intercala no meio do vocábulo. Não existe infixo emPortuguês. Alguns autores citam, como infixos, as chamadas consoantes e vogais de ligação:cafezinho, facilidade. No entanto, não podemos considerá-las como infixo, visto que nãointerferem na significação do vocábulo, ficando, assim, descaracterizados como morfemas.Na descrição mórfica, vogais e consoantes de ligação podem fazer parte do morfemaseguinte.

Ruazinha (o morfema –inha uniu-se a consoante de ligação –z-).

Quanto às vogais de ligação, em português, existem apenas duas: /i/ e /o/. O /i/ deligação acontece em vários contextos, mas vamos destacar apenas um exemplo em que avogal antecede o sufixo –dade: dignidade. O /o/ só ocorre como vogal de ligação quandoela pode ser isolada, como é o caso de gasômetro. Nesse exemplo, temos os lexemas gáse metro.

As consoantes de ligação mais ocorrentes em português são /z/ e /l/, conformepodemos verificar nos exemplos: cafezal, capinzal, paulada, chaleira. Pode haver, ainda, aocorrência de outras consoantes, como /t/, em cafeteira.

c) Sufixo – é um morfema acrescido após o radical para derivar nova palavra. Ossufixos flexionais são denominados desinências e serão estudados no próximo tópico. Afunção dos sufixos é acrescentar ao radical uma idéia secundária ou enquadrar a palavranuma outra classe gramatical.

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Pedra – pedreiro;Leal – lealdade.Kehdi (1996) menciona que a diferença entre prefixos e sufixos não é meramente

distribucional. O acréscimo de um prefixo não contribui para a mudança de classe do radicala que se atrela, diferentemente do que ocorre com os sufixos. Esse fato pode ser observadono exemplo acima: leal (adjetivo) e lealdade (substantivo).

Os sufixos podem ser nominais, quando contribuem para a formação de nomes(substantivos e adjetivos), e verbais. Como exemplo de sufixos nominais, há o sufixo –mentoe –al (armamento e mortal). Em português, há um número grande de sufixos verbais: -ejar, -ear, -izar, -e(s)cer, -itar (purpurejar, galantear, civilizar, florescer, saltitar). Há também o sufixoadverbial –mente. Este se prende à forma feminina do adjetivo: rapidamente.

Morfemas flexionaisOs morfemas flexionais correspondem às flexões de gênero e número nos nomes

(desinências nominais) e às flexões de tempo e modo nos verbos (desinências verbais).Mesmo que se posicionem à direita do radical, como os sufixos, apresentam duas diferençasimportantes com relação aos morfemas flexionais. O sufixo possibilita a criação de umanova palavra. Ao acrescentarmos o sufixo –eiro ao substantivo ferro, obtemos um novosubstantivo, ferreiro. Os morfemas flexionais não criam um novo vocábulo, apenasdeterminam o plural e o feminino. Casas não é uma outra palavra formada a partir de casa.O morfema –s de casas determina apenas o plural de casa.

Outra diferença importante é que as desinências são morfemas que não se podemdispensar, mas os sufixos podem ser dispensados. Há palavras, em português, sem sufixos.No entanto, todo verbo está associado às noções de tempo, de modo, de número e depessoa. O verbo estudou, por exemplo, está na 3ª pessoa do singular (número) do pretéritoperfeito (tempo) do indicativo (modo).

Essas considerações permitem-nos rever os problema do grau, interpretado emnossas gramáticas como flexão. A expressão do grau pode ser feita de duas formas: umcarrinho e um carro pequeno. Ou seja, -inho não é elemento de emprego obrigatório. Dessaforma, essa terminação –inho deve ser classificada como um sufixo e não como umadesinência de grau.

Morfemas Flexionais

Os morfemas flexionais correspondem às flexões de gênero e número nos nomes(desinências nominais) e as flexões de tempo e modo nos verbos (desinências verbais).Mesmo que se posicionem à direita do radical, como os sufixos, apresentam duas diferençasimportantes com relação aos morfemas flexionais. O sufixo possibilita a criação de umanova palavra. Ao acrescentarmos o sufixo –eiro ao substantivo ferro, obtemos um novosubstantivo, ferreiro. Os morfemas flexionais não criam um novo vocábulo, apenasdeterminam o plural e o feminino. Casas não é uma outra palavra formada a partir de casa.O morfema –s de casas determina apenas o plural de casa.

Outra diferença importante é que as desinências são morfemas que não se podemdispensar, mas os sufixos podem ser dispensados. Há palavras, em português, sem sufixos.No entanto, todo verbo está associado às noções de tempo, de modo, de número e depessoa. O verbo estudou, por exemplo, está na 3ª pessoa do singular (número) do pretéritoperfeito (tempo) do indicativo (modo).

Essas considerações permitem-nos rever os problema do grau, interpretado emnossas gramáticas como flexão. A expressão do grau pode ser feita de duas formas: umcarrinho e um carro pequeno. Ou seja, -inho não é elemento de emprego obrigatório. Dessaforma, essa terminação –inho deve ser classificada como um sufixo e não como umadesinência de grau.

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Morfossintaxedo Português

Morfema Flexional de GêneroO gênero, em português, pode exprimir-se através de flexão (garoto/

garota), de derivação, quando uma das formas, masculina ou feminina, éformada pelo acréscimo de um sufixo ao radical (conde/condessa) ou porheteronímia, quando o masculino e feminino são representados por doisvocábulos diferentes (bode/cabra).

Garota e Garoto Conde e Condessa

Abordaremos, nesse material, apenas a formação de gênero através da flexão. Kehdi(1996) menciona que, ao contrário do que vinha afirmando a gramática tradicional, segundoa qual uma forma feminina -a se opõe uma masculina –o, deve-se propor uma descriçãooriginal, um feminino –a oposto a um masculino sem morfema para determiná-lo. As palavrasmasculinas teriam apenas a vogal temática –o e não um morfema de gênero masculino –o.No vocábulo belo, o morfema –o é vogal temática e há ausência de morfema de gêneromasculino, ou morfema zero. No vocábulo bela, –a é o morfema de gênero feminino.

Não podemos considerar –o como marca de masculino por opor-se a –a (comogaroto/garota), porque esse mesmo raciocínio nos obrigaria a considerar como masculinoo –e de mestre, que também se opõe a –a de mestra. Se é fácil associar –o a masculino, omesmo não se dá com –e, que pode estar ligado a um outro gênero, com em ponte (feminino).O melhor a fazer é considerar o masculino como uma forma desprovida de flexão específica,em oposição ao feminino, caracterizado pela flexão em –a. A vogal final das formasmasculinas seria, assim, uma vogal temática.

Morfema Flexional de Número

Comparemos os membros do par:

Casa / casas

Ao fazermos essa comparação, verificamos que, enquanto o plural é caracterizadopelo –s, o singular não apresenta nenhuma desinência específica. A ausência de desinênciapara o singular permite afirmar que, no que se refere ao número, o singular é caracterizadopelo morfema zero, que será estudado mais adiante, ao passo que o plural é marcado peladesinência –s.

Com relação aos nomes paroxítonos terminados em –s, como lápis, simples, quepermanecem invariáveis no singular e no plural, podemos considerar um alomorfe zero,que, também, será tratado nos próximos tópicos. Nesses casos, a identificação do númeroocorre através da concordância.

Lápis preto / lápis pretos

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Morfema Flexionais do VerboSegundo Kehdi (1996), há dois tipos de desinências verbais: as que exprimem modo

e tempo (modo-temporais) e as que indicam número e pessoa (número-pessoais). Nasformas verbais portuguesas, as desinências modo-temporais precedem as número-pessoais.

Desinências ou morfema flexional modo-temporais

Pretérito imperfeito do Indicativo – estudava (1ª conjugação) –estud (radical)/ -a- (vogal temática)/ -va (desinência modo-temporal).

Desinências ou morfema flexional número-pessoais

1ª pessoa do plural – estudávamos (1ª conjugação) – estud (radical)/ -a- (vogaltemática)/ -va- (desinência modo-temporal)/ -mos (desinência número/pessoal).

Para resumir os morfemas gramaticais que acabamos de estudar, observem que amorfologia derivacional, conforme Sândalo (2004), tem característica de alterar a categoriagramatical de uma palavra. Em nacionalização, temos a transformação do adjetivo nacionalem substantivo. A morfologia derivacional também não é produtiva, já que não podemosadicionar qualquer morfema derivacional a qualquer radical. O morfema –iz- adicionado aosubstantivo hospital vai criar hospitalizar, mas não podemos fazer o mesmo em clínica ecriar clinizar. Podemos dizer clinicar e não clinizar.

A morfologia flexional não altera categorias. Ela estabelece ligações entre as palavras.No trecho, os macacos bonitos, se o vocábulo macaco está no plural, todos os outros termosrelacionados a ele vão para o plural também. A morfologia flexional é produtiva. Ou seja,qualquer verbo pode ser marcado por um morfema indicando terceira pessoa do plural(plantamos, comemos) e qualquer artigo pode ser pluralizado (mesas, copos).

Todos esses morfemas lexicais e gramaticais, que acabamos de ver, são classificadosquanto ao significado. Veremos, a seguir, os morfemas classificados quanto ao significante.

Ainda temos a cAinda temos a cAinda temos a cAinda temos a cAinda temos a classiflassiflassiflassiflassificação dos morficação dos morficação dos morficação dos morficação dos morfemas quanto aoemas quanto aoemas quanto aoemas quanto aoemas quanto aosignifsignifsignifsignifsignificanteicanteicanteicanteicante. V. V. V. V. Vamos a ela?amos a ela?amos a ela?amos a ela?amos a ela?

TIPOS DE MORFEMAS QUANTO AO SIGNIFICANTE

Segundo Zanotto (1986), os tipos de morfemas quanto ao significante são: aditivo,subtrativo, alternativo, zero (Ø).

ADITIVOO morfema aditivo é representado pelo acréscimo de um segmento mórfico ao

morfema lexical (radical). Esse acréscimo pode ocorre antes, no meio ou depois do radical.

Antes do radical – são os prefixos. Exemplo: impor.No meio do radical – são os infixos. Na língua portuguesa não há infixos, como já

vimos anteriormente. O que pode ocorrer no meio do vocábulo são as consoantes e asvogais de ligação.

Depois do radical – são os sufixos e os morfemas flexionais. Exemplo: papelada/casas.

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Morfossintaxedo Português

SUBTRATIVO

Os morfemas subtrativos resultam da supressão de um segmento fônicodo morfema lexical. No conjunto órfão – órfã, a noção de feminino, em vez deaparecer indicada através da adição de um morfema à forma masculina, ocorrea subtração dessa forma.

ALTERNATIVOOs morfemas alternativos caracterizam-se pela alternância de fonemas dentro do

próprio lexema. Vamos observar os seguintes exemplos:

Avô e avó;Pude e pôde.

Entre os nomes, a vogal tônica /-ô/ do masculino singular pode alternar com um /-ó/no feminino e no plural, conforme demonstram os exemplos a seguir:

Povo – povos; formoso – formosa.A alternância dos nomes é um traço morfológico secundário, porque ela complementa

as flexões de gênero e número. Os exemplos citados, além das marcas /-s/ e /-a/, carregamna formação do número e gênero, respectivamente, a alternância vocálica /-ô/ - /-ó/ comotraço redundante.

MORFEMA-ZERO (Ø)

O morfema zero, representado pelo símbolo Ø, consiste na ausência significativa demorfema. Kehdi (1996) menciona que, ao compararmos estas duas formas verbais:

Falávamos;Falava Ø.

Quanto a falávamos, destacamos o morfema /–mos/, indicativo de primeira pessoado plural. Em relação a falava, sabemos que representa a primeira ou terceira pessoa dosingular. No entanto, não existe nesse vocábulo nenhum segmento que exprima essasnoções. É a ausência de marca que, aqui, indica a pessoa e o número. Nesse caso, falamosem morfema zero.

Para haver um morfema Ø, é preciso que o morfema Ø corresponda a um espaçovazio. Esse espaço vazio deve opor-se a um segmento. No par utilizado, o Ø de falavacontrapõe-se ao /–mos/ de falávamos.

Além disso, na análise do morfema Ø, é importante destacar que a noção expressapor esse morfema Ø deve estar relacionada com a classe gramatical do vocábulo em questão.No exemplo citado anteriormente, as noções de número e pessoa existem, obrigatoriamente,em qualquer forma verbal portuguesa. Contudo, no par:

Fiel;Fielmente.

Não podemos considerar a ausência do sufixo /–mente/ no vocábulo fiel como ummorfema Ø, porque, em português, morfemas como –mente não são atribuídos a todos osadjetivos. Não há formas, em nossa língua, como vermelhamente.

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Mas, no par a seguir esse fato não acontece:

Casa Ø;Casas.

A palavra casa no singular é a ausência do morfema de plural. Dessa forma, temos,aqui, um exemplo de morfema Ø (de singular), porque a noção de número é inerente aqualquer substantivo de nossa língua. O singular, em português, caracteriza-se pela ausênciade morfema de número, isto é, pelo morfema zero, enquanto o plural apresenta morfemaaditivo sufixal –s. Vejamos outros exemplos quanto ao número:

Menino Ø – meninos;Ave Ø – aves.

O morfema Ø também ocorre para indicar o gênero masculino em oposição aofeminino que, em geral, é marcado pelo morfema –a. Vamos analisar mais alguns exemplos.Em:

Aluno Ø, mestre Ø.

O masculino está indicado pelo morfema zero (de gênero). O –o e –e átonos finaissão, nesse caso, vogal temática. Mas, o feminino tem como marca o morfema –a. Observem:

Aluna, mestra.Aluno Ø, mestre Ø.

O morfema zero é um artifício para dar mais coerência à descrição da estruturamorfológica, uma vez que demonstra, no vocábulo, a ausência significativa de um morfema,como os morfemas de número e de gênero nos nomes e os morfemas número-pessoais emodo-temporais nos verbos. Vejamos os exemplos com os vocábulos verbais:

Observemos, a seguir, alguns exemplos de tipos de morfemas:

(ele) anda – (nós) andamos: morfema aditivo;cor – cores: morfema aditivo;(nós) falamos – (ele) fala Ø: morfema zero;réu – ré: morfema subtrativo.pôde – pode: morfema alternativo.

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Morfossintaxedo Português

ALOMORFIA

Zanotto (1986) coloca que o prefixo grego alo significa diferente, emorfia quer dizer forma. Assim, alomorfia significa forma diferente para omesmo morfema. Dessa maneira, em, por exemplo:

chuva e pluvial.

Temos o mesmo semantema com duas formas: chuv- e pluv-. São formas diferentesdo mesmo radical. A alomorfia, segundo Carone (2004), constitui, assim, uma diferença designificante e não de significado.

Kedhi (1996) coloca que nem sempre os morfemas são caracterizados por umaúnica forma. Assim, no adjetivo infeliz, a comparação com feliz permite-nos depreender omorfema in-. Esse mesmo morfema realiza-se como i- antes de radicais iniciados por l-, m-e r-: ilegal, imoral e irreal. Essas diferentes realizações são designadas como alomorfes.

Nos verbos, há também casos de alomorfia. O morfema da 1ª pessoa do singular dopresente do indicativo realiza-se com o morfema –o (falo, bebo e parto) e com o morfema –ou, condicionado por alguns radicais (vou, sou, dou estou).

Os casos de alomorfia são muito numerosos no Português. Vejamos uma relação deradicais alomórficos:

alm-a / anim-ar;cabeç-a / de-capit-ar;chumb-o / plumb-o.

É preciso não confundir alomorfe com acomodação ortográfica. Zanotto (1986) afirmaque a alomorfia é forma com fonemas diferentes. Escrita diferente nem sempre provocaalomorfia. Assim, os radicais de paz e pacificar não são alomórficos, porque o fonema semantém, mesmo que a escrita seja alterada.

Quando, numa série de alomorfes, houver a ausência de um traço formal significativonum determinado ponto da série, podemos denominar de alomorfe Ø essa ausência. É oque se pode verificar no substantivo pires, que apresenta a mesma forma para o singular epara o plural. Não há, nesse vocábulo, um morfema que indique o plural. A idéia de númeroocorre quando a palavra está inserida num contexto:

o pires novo (singular);

os pires novos (plural).

Os vocábulos lápis e artista, por exemplo, funcionam isolados e inalterados paraindicar as significações gramaticais de singular-plural e de masculino-feminino,respectivamente. Nesse caso, os morfemas básicos de plural /-s/ e de feminino /-a/ realizam-se algumas vezes como Ø na qualidade de alomorfes.

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AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

11111..... Com base no quadro a seguir, elabore um texto confrontando derivação e flexão.

2.2.2.2.2. Leia o texto a seguir e analise, morfologicamente, as palavras em destaque:

O homem trocado

O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de recuperação.Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.

- Tudo perfeito – diz a enfermeira, sorrindo.- Eu estava com medo desta operação...- Por quê? Não havia risco nenhum.- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...

E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de bebêsno berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca entenderamo fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro, ele fora viver comseus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depoisque esta não soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.

- E o meu nome? Outro engano.- Seu nome não é Lírio?- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...

Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia.Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O computadorse enganara, seu nome não apareceu na lista.

- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passadotive que pagar mais de R$ 3 mil.

- O senhor não faz chamadas interurbanas?- Eu não tenho telefone!Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram felizes.- Por quê?- Ela me enganava.

Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas quenão fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:

- O senhor está desenganado.

Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simplesapendicite.

- Se você diz que a operação foi bem...

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Morfossintaxedo Português

A enfermeira parou de sorrir.- Apendicite? – perguntou, hesitante.- É. A operação era para tirar o apêndice.- Não era para trocar de sexo?

Observe o quadro e analise morficamente as palavras retiradas do texto:

VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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FORMAÇÃO E CLASSES DE PALAVRAS

Catar feijão

Catar feijão se limita com escrever:jogam-se os grãos na água do alguidar

e as palavras na folha de papel;e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,água congelada, por chumbo seu verbo:pois para catar esse feijão, soprar nele,e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:o de que entre os grãos pesados entreum grão qualquer, pedra ou indigesto,um grão imastigável, de quebra dente.

Certo não, quando ao catar palavrasa pedra dá à frase seu grão mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,açula a atenção, isca-a com risco.

Carone (2004) diz que João Cabral teoriza, desmascarando o segredo mágico dapalavra poética, aplica sua receita e cria duas palavras-pedra: flutual e fluviante, eidentificamos a causa do estranhamento. O poeta mudou os sufixos das palavras flutuante efluvial. Um jogo morfológico, possível graças à propriedade dos morfemas de se encaixareme desencaixarem como peças de um brinquedo infantil, com as quais fazemos tratores,casas ou moinhos de vento. Esta é a beleza de estudar a formação das palavras: a liberdadede criação.

VVVVVocê não acocê não acocê não acocê não acocê não acha que a fha que a fha que a fha que a fha que a formação de palaormação de palaormação de palaormação de palaormação de palavrvrvrvrvras enriquece aas enriquece aas enriquece aas enriquece aas enriquece anossa língua?nossa língua?nossa língua?nossa língua?nossa língua?

FORMAÇÃO DE PALAVRAS

O léxico de uma língua, conforme Carone (2004), pode ampliar-se por empréstimode palavras de outras línguas. Mas os recursos mais atuantes são internos ao sistema,sempre prontos para entrar em processo e desencadear a formação de novas palavras.Vamos tratar, a partir desse momento, da natureza desses procedimentos e fazer algumasreconsiderações sobre a classificação dos morfemas.

Basílio (1987) menciona que estes processos tão simples e transparentes, de cujofuncionamento nem sempre nos conscientizamos, escondem mistérios às vezes resistentesa toda tentativa de explicação. Um dos problemas básicos com que se defronta a pesquisano campo da formação de palavras é o da aceitação ou não de combinações de formas.

Por exemplo, por que aceitamos facilmente palavras como convencional e religioso,mas não aceitamos convencioso ou religional? Poderíamos dizer que se trata apenas deuma questão de uso. As duas palavras são bem conhecidas e sabemos que as palavras

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Morfossintaxedo Português

são religioso e convencional. A explicação é válida. Muitas vezes, nãoconsideramos certas construções como palavras viáveis pelo simples fato deque já existem outras, consagradas pelo uso.

Nesse momento, você deve estar se fazendo uma pergunta: por queformarmos palavras? Ao acrescentarmos o sufixo –ção ao verbo agilizar como objetivo de torná-lo substantivo. Este seria, assim, uma das razões paraformamos palavras. Então, temos uma palavra de uma classe ou categoria

lexical, um verbo, por exemplo, e precisamos usá-la como substantivo. Nesse caso, formamosuma palavra nova para poder utilizar o significado de uma palavra já existente num contextoque requer uma classe gramatical diferente.

Este é, sem dúvida, um dos usos mais freqüentes na formação de palavras novas.Esse aspecto da formação de palavras, ou seja, a mudança de classe de palavra é umrecurso muito importante para a produção textual. Ao escrever um texto, podemos mudar aclasse da palavra para evitar a repetição de palavras. Por exemplo, estamos escrevendoum texto sobre a beleza negra. Para não repetir a palavra beleza no texto, podemos usar overbo embelezar, o adjetivo belo, fazendo, obviamente, alterações na estrutura da frase.

Há, também, outras maneiras de formar palavras sem a mudança de classegramatical. Vejamos, por exemplo, o caso dos diminutivos. Podemos estabelecer dois fatos.O primeiro caso é que o diminutivo é usado para adicionar ao significado de um palavrauma referência a uma dimensão pequena (casa/casinha) ou um sentido afetivo (amor/amorzinho). O segundo caso é que o diminutivo sempre acompanha a classe da palavrabásica à qual se aplica. Ou seja, não há mudança de classe de palavra.

MELO NETO, João Cabral. Melhores Poemas. São Paulo: Global, 1998.

Livro – substantivo / livrinho – substantivo também.

Um outro exemplo sem mudar a classe da palavra seria o do sufixo –eiro. Uma dasvárias acepções desse sufixo seria a formação de substantivos que indicam indivíduos queexercem alguma atividade sistemática em relação ao objeto concreto que serve de basepara a formação da palavra. Por exemplo:

Sapato – sapateiro (indivíduo que conserta sapato).

Um outro exemplo de palavras que formamos sem alterar a classe gramatical é ocaso de palavras formadas com o acréscimo de prefixo. Os prefixos nunca mudam a classeda palavra a que se adicionam. O prefixo é usado para formar outra palavra semanticamenterelacionada com a palavra-base. Analisemos os exemplos com os prefixos pré- e re-:

Pré-vestibular e pré-adolescência;Refazer, relembrar.

Uma outra razão para haver a formação de palavras numa língua é a economia depalavras. Por que não temos uma palavra para cada uso semântico necessário ou paracada classe gramatical? Em vez de termos algo como viável/viabilidade ou fazer/desfazer,poderíamos ter palavras, como acontece, por exemplo, com querer/vontade, bonito/beleza?

Ou seja, para cada mudança de classe ou acréscimo semântico, poderíamos teruma palavra inteiramente diferente. Mas, nesse caso, tornaria a língua um sistema de

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comunicação menos eficiente porque teríamos que multiplicar muitas vezes o número depalavras do vocabulário básico. Assim, a razão básica de formamos palavras é a de queseria muito difícil para a memória captar e guardar formas diferentes para cada necessidadeque nós temos de usar palavras em diferentes contextos e situações.

Silva e Koch (2003) mencionam que para fazer uma análise dos mecanismosutilizados na formação de palavras, é importante destacar a existência de palavras simplese composta. As palavras simples contêm apenas um morfema lexical e as palavras compostascontêm mais de um morfema lexical. As simples podem, portanto, ser primitivas ouderivadas. As primitivas são as que não se originam de nenhuma outra palavra e servem debase para a formação das palavras derivadas.

Os principais processos de formação de novas palavras são a derivação e acomposição. No próximo tópico, veremos esses processos mais detalhadamente.

DERIVAÇÃO

A derivação, conforme, Silva e Koch (2003) consiste na formação de palavras pormeio de afixo agregados a um morfema lexical (radical). Em português, este é o procedimentomais produtivo para o enriquecimento do léxico. Realiza-se sobre apenas um morfema lexical,ao qual se articulam os morfemas derivacionais (os afixos). A derivação é classificada emprefixal, sufixal, prefixal e sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.

A derivação prefixal acontece quando há adição de prefixos ao morfema lexical.Reter, ilegal, subtenente, compor.

A derivação sufixal ocorre sempre que acrescentamos sufixos ao morfema lexical.

Saboroso, ponteira, grandalhão, barcaça, vozinha, toquinho.

A derivação prefixal e sufixal é o acréscimo de um prefixo e um sufixo ao morfemalexical. Nesse tipo de derivação, o vocábulo pode existir isoladamente ou com o prefixo oucom o sufixo.

Inutilizar – inútil / utilizar;Infelizmente – infeliz / felizmente.Deslealdade – desleal / lealdade.A derivação parassintética é a adição simultânea de um prefixo e um sufixo ao morfema

lexical. A parassíntese diferencia-se da derivação prefixal e sufixal pelo fato de o prefixo e osufixo serem acrescentados ao morfema lexical ao mesmo tempo. Os prefixos que geralmenteentram na formação dos vocábulos parassintéticos são es-, em- ou en- e a-.

Anoitecer – não existe o vocábulo anoite nem noitecer.Entardecer – não existe entarde nem tardecer.Esvoaçar – não há esvoa nem voaçar.

A parassíntese consiste, basicamente, num processo de formação de verbos, emespecial daqueles que exprimem mudança de estado, tais como engrossar, amadurecer,rejuvenescer, mas encontram-se também, na língua, adjetivos formados por parassíntesecomo desalmado e desdentado.

Nos tipos de derivação apresentados até o momento, a palavra nova resulta deacréscimo de afixos aos morfemas lexicais. Neles, há, pois, uma constante: a palavraderivada amplia a primitiva.

Há, porém, um processo de criação vocabular – a derivação regressiva – que é feita,ao contrário dos outros processos, pela subtração de morfemas.

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Morfossintaxedo Português

caçar (palavra primitiva) – caça (palavra derivada);cortar (palavra primitiva) – corte (palavra derivada);jogar(palavra primitiva) – jogo (palavra derivada);

Esse tipo de derivação, também chamada de deverbal, é responsávelpela formação de substantivos que provêm de verbos. São substantivos deverbais os nomesde ação.

Há, ainda, um outro tipo de derivação: a derivação imprópria, isto é, ao processo deenriquecimento vocabular provocado pela mudança da classe de palavras. Nesse processo,acontece a passagem de substantivos a adjetivos, de adjetivos a advérbios.

Rádio-relógio – relógio é um substantivo e foi usado nesse vocábulo como adjetivo.Ler alto / falar baixo – alto e baixo são adjetivos e foram usados nessa forma como

advérbios.Esse tipo de derivação é um processo sintático-semântico e não morfológico, uma

vez que não há alteração no vocábulo. Ocorre, assim, mudanças na sua posição na frase(sintaxe) e no seu sentido (semântica).

COMPOSIÇÃOA composição, segundo Silva e Koch (2003), é o processo de formação de palavras

que cria novos vocábulos pela combinação de outros já existentes, dando origem a umnovo significado. Através desse processo combinam-se dois morfemas lexicais, ocorrendoentre eles uma união dos sentidos de cada morfema.

Guarda-chuva;Pé-de-moleque.

A partir da combinação dos morfemas lexicais, a composição dá origem a uma palavracomposta. Esse processo de formação de palavras pode ocorrer por justaposição ou poraglutinação.

A justaposição acontece quando as palavras se unem sem qualquer alteração fonéticaou gráfica. Na justaposição, os vocábulos que se combinam são colocados lado a lado,mantendo a sua autonomia fonética. São escritos ora unidos, ora separados, com ou semhífen.

Girassol;Pé-de-vento;Amor-perfeito.

A aglutinação é o processo no qual as palavras se juntam, com a perda de algunselementos fonéticos.

Planalto = plano + alto;Aguardente = água + ardente;Pontiagudo = ponta + agudo.

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Silva e Koch (2003) colocam que, do ponto de vista sincrônico, só se leva em contaa aglutinação quando, através da análise mórfica, for possível a depreensão de doismorfemas lexicais. Nos casos em que o falante nativo não tem consciência da existênciadesses dois morfemas, não podemos considerar um caso de composição. É o que ocorrecom vocábulos como fidalgo (filho de algo), agrícola (habitante do campo), aqueduto (condutorde água). O que representam hoje, por exemplo, os morfemas agri e cola? Só um estudiosoda história da língua pode descobrir a aglutinação nessas palavras.

Basílio (1987) menciona que o que caracteriza e define a função do processo decomposição é a sua estrutura, de tal maneira que, das bases que se juntam para formaruma palavra, cada uma tem seu papel definido pela estrutura. Por exemplo, em compostosdo tipo substantivo + substantivo, o primeiro substantivo funciona como núcleo da construçãoe o segundo como modificador ou especificador:

sofá-cama, peixe-espada, couve-flor.

Além da derivação e da composição, existem, em português, outros processos deformação de palavras: a abreviação, a reduplicação ou a onomatopéia, as siglas e ohibridismo.

A abreviação, ocasionada por economia, consiste no emprego de uma parte dapalavra pelo todo, até limites que não prejudiquem a compreensão. Esse fato ocorre emvocábulos longos. Vejamos os seguintes exemplos:

auto (por automóvel);foto (fotografia);moto (motocicleta).

A reduplicação, também chamada de duplicação silábica, consiste na repetição deuma sílaba na formação de novas palavras como Zezé. Quando a reduplicação procurareproduzir aproximadamente certos sons ou certos ruídos, tem-se as onomatopéias:

tique-taque;zum-zum;

As siglas consistem na redução de longos títulos às letras iniciais das palavras queas compõem:

PTB (Partido Trabalhista Brasileiro);IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O hibridismo é a união de duas palavras, cujos elementos provêm de línguas diversas:

Sociologia: latim + grego;Burocracia: francês + grego.

Silva e Koch (2003) não consideram o hibridismo um novo processo de formaçãovocabular, visto que o falante nativo, exceção feita ao estudioso da língua, não conseguereconhecer sincronicamente a origem da palavra. Essa distinção será feita num estudodiacrônico ou num levantamento etimológico. Assim, parece mais adequado tratar ohibridismo como um processo de justaposição quando resulta da junção de dois morfemaslexicais ou entre os de derivação, quando é formado pela combinação de afixo e morfemalexical.

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Morfossintaxedo Português

CLASSES DE PALAVRAS

Vimos anteriormente que uma das funções mais comuns que temospara a formação de palavras é a mudança de classe. O sufixo –mentotransforma um verbo num substantivo, como no exemplo a seguir:

Neste caso, o melhor é esquecer (verbo).Neste caso, o melhor é o esquecimento (substantivo).

O sufixo –dor, que também forma um substantivo a partir de um verbo, confere a essesubstantivo a noção de indivíduo caracterizado pela idéia veiculada pelo verbo. Vejamos oexemplo abaixo:

Carlos pensa (muito).Carlos é um pensador.

Basílio (1987) ressalta que a questão da função da mudança de classe nos processosde formação de palavras está envolvida com a própria questão das classes de palavras.Assim, como já abordamos a formação de palavras no tópico anterior, vamos tratar, a partirdesse momento, a questão das classes de palavras.

As classes de palavras podem ser definidas por critérios semânticos, sintáticos emorfológicos. As gramáticas normativas privilegiam o critério semântico na classificaçãodas palavras, embora utilizem todos os critérios.

O CRITÉRIO SEMÂNTICOAs classes de palavras são definidas a partir do critério semântico quando

estabelecemos tipos de significado como base para a atribuição de palavras a classes.Basílio (1987) coloca que a maioria das definições de substantivo encontrada nas gramáticastradicionais é de base semântica. Geralmente, o substantivo é definido com relativa facilidadepelo critério semântico.

Porém, o conceito do adjetivo é bem mais difícil a partir do critério semântico, vistoque o adjetivo não pode ser definido por si só, sem a pressuposição do substantivo. Suarazão de ser é a especificação do substantivo.

Criança bonita;Criança magra;Criança sadia.

Com esses exemplos, podemos verificar que uma série de conceitos diferentes podeser expressa pela especificação de um adjetivo ao substantivo. Esta é a função do adjetivo:especificar o substantivo. É uma função nitidamente semântica, mas é uma funçãodependente do substantivo por sua própria natureza.

Quanto ao verbo, é comum defini-lo semanticamente como a palavra que exprimeações, estados ou fenômenos. Essa definição, pura e simples, em termos semânticos, nãoé suficiente, já que ações, estados e fenômenos podem ser expressos por substantivos.Dessa forma, é preciso acrescentar à definição semântica do verbo, uma definiçãomorfológica.

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No caso do advérbio, teríamos algo semelhante ao caso do adjetivo, já que advérbiospermitem especificação da ação, estado ou fenômeno descrito pelo verbo. Assim, podemosperceber que o critério semântico é fundamental para a definição das classes vocabulares,mas não é um critério suficiente.

O CRITÉRIO MORFOLÓGICO

O critério morfológico, de acordo com Basílio (1987), é a atribuição de palavras adiferentes classes, a partir das categorias gramaticais que apresentem e das característicasde variação de forma que se mostrem em conjunção com tais categorias. De acordo com ocritério morfológico, o substantivo é definido como uma palavra que apresenta as categoriasde gênero e número, com as flexões correspondentes.

Apesar de mostrar eficiência em relação a classes como verbo e advérbio, a definiçãomorfológica do substantivo não diferencia adequadamente esta classe da dos adjetivos, jáque estes possuem as mesmas categorias. A classe dos verbos é a mais privilegiada quantoa uma definição pelo critério morfológico, por causa da riqueza e particularidade da flexãoverbal. Dessa maneira, o verbo, muitas vezes, é definido exclusivamente a partir de critériosmorfológicos. Quanto ao advérbio, este pode ser definido em oposição às demais classesanalisadas pela propriedade de ser morfologicamente invariável.

O CRITÉRIO SINTÁTICO

As classes de palavras também podem ser definidas, segundo Basílio (1987), porum critério sintático. Nessa situação, atribuímos palavras às classes a partir de propriedadesdistribucionais (em que posições estruturais as palavras podem ocorrer) e funcionais (quaisas funções que podem exercer na estrutura sintática).

O substantivo é a palavra que pode exercer a função de núcleo do sujeito, objeto eagente da passiva. Outra possibilidade de caracterização é a posição de núcleo frente adeterminantes como artigos, demonstrativos e possessivos ou modificadores, comoadjetivos. Assim, por exemplo, dizemos que sapato é um substantivo porque podemos dizero sapato, meu sapato, este sapato, sapato bonito. Já bonito não é um substantivo, pois nãopodemos dizer o bonito, meu bonito, este bonito.

Adjetivo é definido como palavra que acompanha, modifica ou caracteriza osubstantivo. É interessante notar, no entanto, que a definição puramente sintática do adjetivonão é suficiente, visto que não distingue adjetivos de determinantes. Estes últimos tambémacompanham o substantivo. A diferença é que os determinantes apontam e estabelecemrelações enquanto adjetivos caracterizam ou especificam. Mas essa diferença é mais denatureza semântica e discursiva do que sintática.

A classe dos verbos é bastante difícil de definir em termos sintáticos, dado que opredicado pode não ser verbal. Já no caso do advérbio, a definição sintática é fácil, já queo advérbio exerce junto ao verbo função de modificador, análoga à função exercida peloadjetivo junto ao nome. Essa colocação não cobre todos os casos, uma vez que as palavrasque consideramos como advérbio podem-se referir à frase como todo.

Uma questão que se coloca em relação às classes de palavras é a questão damultiplicidade de critérios de classificação. Em princípio, um item lexical é um complexo depropriedades morfológicas, sintáticas e semânticas. Assim, sua pertinência à classe deveser estabelecida em termos morfológicos, semânticos e sintáticos.

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Morfossintaxedo Português

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

As questões dessa atividade complementar estão relacionadas com esse texto.

Os Estatutos do Homem(Ato Institucional Permanente)

Artigo 1: Fica decretado que agora vale a verdade,que agora vale a vida,e que de mãos dadas,trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo 2: Fica decretado que todos os dias da semana,inclusive as terças-feiras mais cinzentas,têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo 3: Fica decretado que, a partir deste instante,haverá girassóis em todas as janelas,que os girassóis terão direitoa abrir-se dentro da sombra;e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo 4: Fica decretado que o homemnão precisará nunca maisduvidar do homem.Que o homem confiará no homemcomo a palmeira confia no vento,como o vento confia no ar,como o ar confia no campo azul do céu.Parágrafo único: O homem confiará no homemcomo um menino confia em outro menino.

Artigo 5: Fica decretado que os homensestão livres do jugo da mentira.Nunca mais será preciso usara couraça do silêncionem a armadura de palavras.O homem se sentará à mesacom seu olhar limpoporque a verdade passará a ser servidaantes da sobremesa.

Artigo 6: Fica estabelecida, durante dez séculos,a prática sonhada pelo profeta Isaías,e o lobo e o cordeiro pastarão juntose a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

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Artigo 7: Por decreto irrevogável fica estabelecidoo reinado permanente da justiça e da caridade,e a alegria será uma bandeira generosapara sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo 8: Fica decretado que a maior dorsempre foi e será semprenão poder dar amor a quem se amae saber que é a águaque dá à planta o milagre da flor.

Artigo 9: Fica permitido que o pão de cada diaTenha no homem o sinal de seu amor,mas que sobretudo tenha sempreo quente sabor da ternura.

Artigo 10: Fica permitido a qualquer pessoa,a qualquer hora da vidao uso do traje branco.

Artigo 11: Fica decretado, por definição,que o homem é um animal que amae que por isso é belo,muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo 12: Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.Tudo será permitido,inclusive brincar com os rinocerontese caminhar pelas tardescom uma imensa begônia na lapela.Parágrafo único: Só uma coisa proibida:amar sem amor

Artigo 13: Fica decretado que o dinheironão poderá nunca mais compraro sol das manhãs vindouras.Expulso do grande baú do medo,o dinheiro se transformará em uma espada fraternalpara defender o direito de cantare a festa do dia que chegou.Artigo Final: Fica proibido o uso da palavra liberdadea qual será suprimida dos dicionáriose do pântano enganoso das bocas.A partir deste instantea liberdade será algo vivo e transparentecomo um fogo ou um rio,ou como a semente do trigo,e a sua morada será sempre o coração do homem.

(Santiago do Chile, abril de 1964)

1. 1. 1. 1. 1. Há os palavras que indicam qualidade e que podem dar origem a nomes, ouseja, há que são derivados de qualidade. Veja exemplos:

(MELLO, Tiago de. Faz escuro mas eu canto. In: ________. Vento Geral. Poesia 1951/1981. Rio: EditoraCivilização Brasileira, 1984)

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Morfossintaxedo Português

Agora, faça você:

Há outras formas de relação entre palavras que pertencem a uma mesma família.Veja as frases:

a)a)a)a)a) Fica proibido o uso da palavra liberdade.

a.a.a.a.a.1)1)1)1)1) Foi feita a proibição de usar a palavra liberdade.

2. 2. 2. 2. 2. Reestruture as frases usando uma palavra que pertença à mesma família dapalavra em destaque:

a)a)a)a)a) Defender o direito de cantar.a.a.a.a.a.1)1)1)1)1)b)b)b)b)b) O homem confiará no homem.b.b.b.b.b.1)1)1)1)1)c)c)c)c)c) Conhecer a justiça.c.c.c.c.c.1)1)1)1)1)d) d) d) d) d) Esperar dias melhores.d.d.d.d.d.1)1)1)1)1)e)e)e)e)e) As janelas permanecerão abertas.e.e.e.e.e.1)1)1)1)1)f) f) f) f) f) Tudo será permitido.f.f.f.f.f.1)1)1)1)1)

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INTRODUÇÃO À SINTAXECada qual é livre para dizer o que quer, mas sob a

condição de ser compreendido por aquele a quem se dirija.A linguagem é comunicação, e nada é comunicado se odiscurso não é compreendido. Toda mensagem deve serinteligível. Jean Cohen (apud Garcia,1986:7)

O SINTAGMASabemos que os discursos são compreendidos como seqüências lineares de

morfemas e palavras. É lógico que as palavras não são usadas por acaso. Existem, pois,regras que as organizam de modo que seu uso faça sentido. Dessa forma, a sintaxe possui,justamente, o objetivo de analisar as palavras juntas em segmentos, que passam a cumprirfunções específicas no discurso, e as relações entre os segmentos.

Antes de estudarmos o sintagma, lembremos, agora, alguns conceitos:

Frase corresponde a todo e qualquer enunciado de sentido completo, capazde promover a comunicação. Uma frase pode ser um item lexical, um sintagma,uma oração, ou mesmo, um período.

Oração ou frase verbal é a unidade de organização gramatical em que osconstituintes (unidades lingüísticas) se articulam e se organizam, segundo ospadrões convencionais, a fim de expressar o pensamento. Da mesma forma queos constituintes se organizam estabelecendo orações independentes, o quechamamos de períodos simples, as orações se juntam através dos mecanismossintáticos de coordenação ou subordinação, criando os períodos compostos.

Período é todo enunciado constituído de uma ou mais orações. Pode sersimples (formado por apenas uma oração) ou composto (formado por mais deuma oração)

Você sabe o que significa sintagma? Pois bem, sintagma é um termo que foiestabelecido pelo lingüista Saussure (1999: 142) com o objetivo de designar a combinaçãode formas mínimas em uma unidade lingüística superior.

Segundo Barreto (1993:18), sintagma é um conjunto de elementos que forma umaunidade significativa dentro da sentença. Esses elementos possuem entre si relações dedependência e de ordem. A dependência se refere à questão de que nem todos os elementosfazem parte de um mesmo nível, havendo assim uma hierarquia, e de que uns são constituintesde outros. Quanto à ordem, vemos que as palavras seguem uma organização seqüencial,por exemplo, os artigos precedem os substantivos e as locuções adjetivas são usadasapós o nome que qualificam.

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Morfossintaxedo Português Nível de sentença: As duas crianças voltaram do colégio.

Nível dos sintagmas: As duas crianças / voltaram do colégio.Nível dos vocábulos: As / duas / crianças / voltaram / da / praia.

No sintagma, os elementos organizam-se em volta de um elemento fundamental,denominado núcleo, o qual, às vezes, pode constituir sozinho o próprio sintagma. A naturezado sintagma depende do tipo de elemento o qual constitui o seu núcleo, logo temos:

sintagma nominal (SN)/ núcleo - nome: A casa de Maria é grande.sintagma verbal (SV) / núcleo - verbo: As funcionárias fizeram os relatórios.sintagma adjetival (SA) / núcleo - adjetivo: As casas são espaçosas demais.sintagma adverbial (SADV) / núcleo - advérbio: Os chefes chegaram da viagem

mais cedo.sintagma preposicional (SP) / núcleo - preposição: De repente, todos os alunos

falaram.

A constituição de uma sentença não recebe a atuação dos vocábulosisoladamente. Os vocábulos associam-se em sintagmas os quais se encontramentre o nível da oração (ou sentença) e o nível dos vocábulos:

Observe a sentença a seguir:

As três garotas voltaram da festa.

Podemos ver que esta oração possui dois grandes sintagmas: um sintagma nominal(SN) as três garotas, cujo núcleo é o nome garotas, e um sintagma verbal (SV) voltaram dafesta, cujo núcleo é a forma verbal voltaram. Na sentença As três garotas / voltaram da festa,o sintagma nominal e o sintagma verbal, respectivamente, possuem as funçõestradicionalmente conhecidas como sujeito e predicado e apresentam-se como constituintesobrigatórios na estrutura da oração.

Ocorre, determinadas vezes, na sentença, a presença de um terceiro sintagma,facultativo: um sintagma preposicional (SP) ou um sintagma adverbial (SADV), como em:

As três garotas / voltaram da festa / cedo.

_________________S__________________ SN / SV / SADVAs três garotas / voltaram da festa / às duas horas.

_________________S__________________ SN / SV / SP

Os sintagmas cedo e às duas horas são modificadores da sentença, logo estandono mesmo nível da sentença: S SN + SV + (SP) + (SADV)

SINTAGMA NOMINAL

O sintagma nominal possui, geralmente, como núcleo, um nome (N), mas pode serrepresentado por um pronome (pro), por uma sentença (S), ou não ser preenchidolexicalmente (?). Quando o nome é o núcleo, ele pode vir sozinho, precedido por umdeterminante (Det) e / ou por um modificador (SA) ou, ainda, seguido por um modificador(SA ou SP).

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Sendo assim, o SN pode ser:

SN ? N PedroSN ? pro (qualquer pronome substantivo)SN ? ? Comi (sujeito não lexicalmente preenchido)SN ? Det + N O meninoSN ? Det + Mod (SA) + N O inteligente meninoSN ? Det + N + Mod (SA) O menino inteligenteSN ? Det + Mod (SA) + N + Mod (SA) O inteligente menino brasileiroSN ? S2

O problema é que eles não virão

Saiba mais...

O determinante pode ser simples ou complexo. Quando é simples,representa-se como artigo definido ou indefinido, como numeral ou como pronomeadjetivo. Quando complexo, constitui-se de mais de um elemento: Det (Pré-Det)Det base (Pós-Det).

Os artigos, os demonstrativos e alguns indefinidos apresentam-se comodeterminantes–base. Exemplos:

Aquelas dez criançasAs primeiras pessoasAlguns outros professores

Os quantificadores (todos, ambos) são pré-determinantes e os numerais, ospossessivos e alguns indefinidos são pós-determinantes.

Geralmente, os SNs são encontrados com, no máximo, quatro posições pré-nominaispreenchidas, mas, segundo Lemle (apud Barreto, 1993:24), um SN pode apresentar atésete posições pré-nominais. Observe o exemplo construído por Lemle:

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Morfossintaxedo Português

Alguns desses elementos podem ocorrer também após o nome:

Todas estas horas Estas horas todasAquela minha casa Aquela casa minha

A inversão pode denotar, às vezes, uma ênfase desejada, como, por exemplo:

Marido meu não faria isso!

Mas, tratando-se de adjetivo, a colocação pré ou pós-nominal pode acarretar umatransformação no conteúdo semântico:

Boa mulher Mulher boaPobre criança Criança pobre

Na sentença, o sintagma nominal pode assumir as funções de sujeito (SU), objetodireto (OD), objeto indireto (OI), predicativo do sujeito (PRETsu), predicativo do objeto(PRETo), aposto (APO), vocativo (VOC) e adjunto adverbial (ADV).

Vejamos os exemplos:

Aquele lindo garoto sorriu-me. (função: sujeito)

Comprei aquele lindo sapato. (função: objeto direto)

Aquele elegante rapaz deu-me bombons. (função: objeto indireto)

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João é um ótimo filho. (função: predicativo do sujeito)

Recorde que a sigla COP refere-se ao verbo copulativo.

Considero João um ótimo filho. (predicativo do objeto)

Pedro, aquela maravilhosa criança, chegou do clube. (função: aposto)

Lindo filho, venha aqui! (função: vocativo)

Todos os dias, vejo este belo mar. (função: adjunto adverbial)

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Morfossintaxedo Português

Veja, especificamente, qual classe gramatical pode preencher o núcleodo SN:

11111. Substantivo próprio ou comum:Ana foi à Europa.A professora entregou a prova.

2.2.2.2.2. Um pronome pessoal reto ou oblíquo:Vimos Daniel na praia, mas ele não nos viu.

3. 3. 3. 3. 3. Qualquer pronome substantivo:Ninguém faltou ontem.

4. 4. 4. 4. 4. Uma palavra substantivada:O despertar na praia é magnífico.

5. 5. 5. 5. 5. Um numeral:Dois é suficiente.

a.a.a.a.a. É claro que ele não veio. SN ? S SU [S2]b.b.b.b.b. Eu não sei se ele virá. SN ?S OD [S2]c. c. c. c. c. A realidade é que ele não virá. SN ? S PRETsu [S2]d.d.d.d.d. Apenas lhe digo isto: que ele não virá. SN ? S OD [NU + APO < S2 >]

Pausa para respirar...

Lembre-se de que o SN pode ser preenchido, também, por uma sentença. Exemplos:

Partiremos, agora, para um novo tipo de sintagma. Vamos lá!

SINTAGMA VERBALO sintagma verbal (SV) representa mais um elemento básico da sentença: possui

como constituinte principal o verbo, o qual pode mostrar-se em um tempo simples, em umcomposto ou em uma locução verbal. O SV pode ser representado somente pelo núcleo, ouseja, o verbo, ou pelo verbo acompanhado de modificadores ? precedidos ou não depreposição ? ou dos elementos por ele subcategorizados. Observe os exemplos:

O garoto estudou. SV ? VO garoto está estudando. SV ? AUX + VO garoto estudou bem. SV ? V + AdvO garoto estudou os textos. SV ? V + SNO garoto precisa de ajuda. SV ? V + SPO garoto deu um brinquedo ao seu irmão. SV ? V + SN + SPO garoto conversou com o irmão sobre o jogo. SV ? V + SP + SP

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O garoto mora em Salvador. SV ? V + SPO garoto é estudioso. SV ? COP + SAO garoto é um gênio. SV ? COP + SNO garoto está com fome. SV ? COP + SP

Atente-se:Com exceção do SV, que exerce exclusivamente a função de predicado, todos os

outros sintagmas podem agir como modificadores de sentença.

VVVVVerererereremosemosemosemosemos, a, a, a, a, agggggororororora, mais um noa, mais um noa, mais um noa, mais um noa, mais um novvvvvo sintao sintao sintao sintao sintagma: ogma: ogma: ogma: ogma: oprprprprpreeeeeposicional. Prposicional. Prposicional. Prposicional. Prposicional. Pronto?onto?onto?onto?onto?

SINTAGMA PREPOSICIONAL

Podemos dizer que, de modo geral, o sintagma preposicional ou preposicionado(SP) é formado de uma preposição seguida de um sintagma nominal (SN).

SP ? prep + SNMas é possível ver, em alguns autores, a apresentação desta regra:

Analise as orações a seguir:O jornaleiro saiu cedo.

Adv.O jornaleiro saiu de manhã.

SP (loc. adv.)O jornaleiro saiu à mesma hora todo o ano.

SP (loc. adv.) SN (loc. adv.)

Verifica-se, através do esquema arbóreo abaixo:

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Morfossintaxedo Português

As expressões em destaque, mesmo não apresentando estruturasidênticas, apresentam a mesma função: o de modificadores circunstanciais(no exemplo dado, de tempo). Considerando o fato desses modificadoresserem expressos, na maioria das vezes, por locuções adverbiais,geralmente introduzidas por preposição, pode-se assim passar a entendê-los como sintagma preposicional.

Os argumentos a favor dessa opinião são:

1. 1. 1. 1. 1. Muitos sintagmas preposicionais desempenham o papel de modificadorescircunstanciais, da mesma forma que os advérbios:

A jovem viajou cedo.A jovem viajou de madrugada.

2.2.2.2.2. Muitos advérbios apresentam uma locução adverbial correspondente:Eles pularam agilmente.Eles pularam com agilidade.

3.3.3.3.3. Os advérbios representam um inventário fechado, ao passo que as locuçõesadverbiais constituem, praticamente, um inventário aberto.

4. 4. 4. 4. 4. Uma descrição mais coerente dos modificadores circunstanciais ocorre quandotomamos como base não a estrutura, mas a sua função que é a mesma de muitos SPs.

Conheça as possíveis funções do SP:a.a.a.a.a. Adjunto adnominalAna ganhou um colar de pérola.

b.b.b.b.b. Adjunto adverbialJoão saiu da praia às quatro horas.

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Observe que, no exemplo acima, a expressão que denota circunstância de temporefere-se à sentença. Mas pode referir-se somente ao verbo, como em:

Silvio veio a pé da escola.

c.c.c.c.c. Objeto indiretoCarlos obedeceu às regras empresariais.

d.d.d.d.d. OblíquoTomás precisa de atenção. PREDv [ NU + OBL (CON + NU) ] CON – concectivo (preposição)

e.e.e.e.e. Complemento circunstancialLucas saiu do salão. PREDv [ NU + CIRC (CON + ADN + NU) ]

f.f.f.f.f. predicativo do sujeitoFlávio está com febre. PREDn [ COP + PRETsu (CON + NU) ]

g.g.g.g.g. predicativo do objeto direto ou do objeto indiretoChamaram Pedro de mercenário. PREDvn [ NU + OD (NU) + PRET od(CON + NU) ] vn (verbo-nominal)

h.h.h.h.h. agente da passivaO garoto foi punido pelo treinador. PREDv [ AUX + NU + APA (CON + ADN +NU) ]

i. i. i. i. i. complemento nominalEles têm medo de que os atrapalhem. S {SU [NU] + PREDv [ NU + OD (NU + CN < CON + S2>) ] }

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Morfossintaxedo Português

Observe que o complemento nominal pode apresentar um SPconstituído por Prep S2, como ocorre no exemplo acima.

Vamos relembrar as constituições dos sintagmas estudados até aqui!

Det (pré-det) det-base (pós-det)

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SINTAGMA ADJETIVAL E SINTAGMA ADVERBIAL

SINTAGMA ADJETIVAL

O adjetivo é o núcleo do sintagma adjetival e, damesma forma que sucede com os demais sintagmas, podevir só ou acompanhado de modificadores. Saiba que asentença pode acompanhá-lo também.

Atenção: O único elemento obrigatório é o adjetivo.Assim, o SA pode ser:

SA ? Adj.Inteligente

SA ? Adv. + Adj.muito inteligente

SA ? Adj. + Adv.Inteligente demais

SA ? Adj. + SPfácil para nós

SA ? Adj. + Adv. + SPfácil demais para nós

SA ? Adv. + Adj. + SPmuito fácil para nós

SA ? SComprei a boneca que fala

Observe que:

a .a .a .a .a . Somente o advérbio pode preceder o adjetivo;b .b .b .b .b . O advérbio e o SP podem vir após o adjetivo;c .c .c .c .c . O adjetivo pode ser precedido de um advérbio e seguido de um SP ou ser

seguido de um advérbio e de um SP. O que não ocorre é o adjetivo ser precedido e seguidode um advérbio.

O SA pode exercer, na frase, as funções de adjunto adnominal (ADN), predicativo dosujeito (PRET) e predicativo do objeto (PRET).

S ONão se esqueça!A função de ADN pode ser exercida por SAs, SPs (locuções adjetivas), Dets (artigos,

numerais, pronomes adjetivos) e as sentenças adjetivas.A grande fera de olhos escuros que vocês viram na mata.Det SA N SP S

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Morfossintaxedo Português

Na gramática tradicional, a constituição dessa oração é:ADN + ADN + NU + ADN < CON + NU + ADN > + ADN < S>

Vejamos o último sintagma...

SINTAGMA ADVERBIAL

SADV ? ADVMaria saiu tarde.

SADV ? ADV + ADVMaria saiu muito tarde.Maria saiu tarde demais.

SADV ? ADV + SPMaria saiu tarde para o encontro.

SADV ? ADV + ADV +SPMaria saiu muito tarde para o encontro.Maria saiu tarde demais para o encontro.

SADV ? S2Maria saiu quando sua mãe já havia viajado.

Exemplo:

Aqui, podemos ensaiar bastante o canto da ópera.

Aqui, podemos ensaiar bastante o canto da ópera.

Relembre, agora, as constituições do SA e do SADV:

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AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

As questões dessa atividade estão relacionadas com o seguinte texto:

A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá,numa versão política. Não é o nosso caso. Vai contada aqui no seu mais puro estilo folclórico,sem maiores rodeios.

Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Ao morrer nem conversou:foi direto para o Inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou:

– Qual é o lance aqui?Satanás explicou que o Inferno estava dividido em diversos departamentos, cada um

administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administradopor seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceumuito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.

Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o Departamento dos EstadosUnidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda aeternidade. Entrou no Departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regimeali.

– Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de 200graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de 100 graus abaixo de zero até as trêshoras, e voltar ao forno de 200 graus.

O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menosrigoroso. Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era tudo a mesma coisa.Foi aí que lhe informaram que era tudo igual: a divisão em departamentos era apenas parafacilitar o serviço no Inferno, mas em todo lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadaspela manhã, forno de 200 graus durante o dia e geladeira de 100 graus abaixo de zero, pelatarde.

O falecido já caminhava desconsolado por uma rua infernal, quando viu umdepartamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dosoutros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do angu”.Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila eramaior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas eletanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:

– Fica na moita e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira andameio enguiçada. Não dá mais de 35 graus por dia.

– E as quinhentas chibatadas? – perguntou o falecido.– Ah... o sujeito encarregado desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai

fora.

Inferno Nacional

11111. . . . . A partir do texto, crie sintagmas nominais que sejam compatíveis com as exigênciasdas caixinhas sintagmáticas abaixo:

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Morfossintaxedo Português

PONTE PRETA, Stanislaw. Tia Zulmira e eu. 4 ed. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1961, p. 175-7.

2.2.2.2.2. Represente, graficamente, os sintagmas nominais a seguir por meio das caixinhasque representam as regras da estrutura frasal:

a.a.a.a.a. A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte...b.b.b.b.b. Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó.c.c.c.c.c. O falecido não precisava ficar no departamento administrado por seu país deorigem.d.d.d.d.d. ...a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos.e.e.e.e.e. Pensou com suas chaminhas.f.f.f.f.f. A divisão em departamentos era apenas para facilitar o serviço no Inferno...

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3.3.3.3.3. A partir do texto, crie, agora, sintagmas verbais que sejam correspondentes aopreenchimento das caixinhas sintagmáticas:

4.4.4.4.4. Represente, graficamente, os sintagmas verbais a seguir por meio das caixinhasque representam as regras da estrutura frasal:

a. ...um camarada que abotoou o paletó.b. Ele agradeceu muito...c. ...pediu audiência a Satanás...d. O falecido ficou besta...e. O forno daqui está quebrado

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Morfossintaxedo Português

5.5.5.5.5. Forme sintagmas adjetivais de acordo com as exigências dascaixinhas sintagmáticas abaixo:

6. 6. 6. 6. 6. Identifique os sintagmas adverbiais nas frases abaixo e os represente por meiodas caixas sintagmáticas :

a. Vera correu bastante rápido.

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b.b.b.b.b. Mário viajou quando soube da notícia.

c. c. c. c. c. Fernando e Silvia se prepararam muito tarde para a cerimônia.

d. d. d. d. d. Minhas filhas trabalharam aqui.

e.e.e.e.e. João prometeu entregar o relatório depois para o diretor.

A GRAMÁTICA TRADICIONAL

Uma formação gramatical intelectual sadia só pode ser atingida através de um racionale rigoroso do fenômeno da língua. Perini (apud Barreto, 1993:4)

Ao longo da história dos estudos lingüísticos, apenas a partir do final do século XIX einício do século XX, com o surgimento do Estruturalismo saussuriano, a sintaxe passou,efetivamente, a ser objeto de investigação. Antes disso, os estudos lingüísticos davam muitomais ênfase à semântica e à fonologia. Isso não quer dizer, entretanto, que não se tenhapensado nas relações entre as palavras nas construções das línguas. Por isso, não sepode deixar de estudar a abordagem mais comum que se tem sobre estas relaçõesexistentes entre as palavras na composição da frase e também do texto. Tal abordagemencontra-se na Gramática Tradicional, doravante GT, e tem origem na Antigüidade. Dessaforma, convém que saibamos como e porquê a gramática normativa surgiu.

OS FILÓSOFOS GREGOS

Por volta do século V a.C., começaram a ser desenvolvidos estudos no ramo dafilosofia acerca da linguagem humana na Grécia antiga. De um modo geral, a análise dosgregos se restringia à descrição fonética, à etimologia e a análise gramatical das palavras,tanto nas suas classes como nas suas flexões, embora alguns gregos tenham ultrapassadoa barreira morfológica estabelecendo relação entre classes na produção discursiva. Aconcepção de que a linguagem é a expressão do pensamento surge nessa época.Aproximadamente no século II a.C., a língua passou a fazer parte dos estudos literários.

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Morfossintaxedo Português

Duas razões motivaram esse novo direcionamento: o desejo de tornar possívele acessível a leitura dos clássicos e também a preocupação com o uso“correto” da língua. Esta é a origem da Gramática Tradicional.

Na descrição das classes de palavras, Dionísio de Trácia, filósofo doséculo II a.C., por exemplo, estabeleceu em seu trabalho, partes do discurso,analisando não só o seu significado, sua flexão e sua formação, mas também

sua integração na oração. De todos os gregos, o que mais escreveu sobre sintaxe foiApolônio Díscolo, também do século II a.C. que parece ter realizado a primeira tentativa dese estabelecer uma teoria sintática abrangente e sistemática aplicada à língua grega. Elemanteve as oito partes do discurso definidas por Dionísio – substantivo, verbo, particípio,artigo, pronome, preposição, advérbio e conjunção – e redefiniu alguns termos filosóficos.Sua descrição sintática se baseia nas relações entre substantivo e verbo, e entre as outraspartes do discurso.

DOS ROMANOS À IDADE MÉDIA

Os romanos mantiveram a tradição gramatical,seguindo o modelo das gramáticas gregas. A maiorcontribuição no campo da sintaxe foi atribuída a Varrão (séculoI a.C.) que distinguiu flexão de derivação. Entretanto, asgramáticas escritas pelos últimos gramáticos latinos, como asde Donato e de Prisciano (século IV d.C.), foram as maisinfluentes para a Idade Média. Os gramáticos da Idade Médiase pautaram nas gramáticas dos romanos, como as escritaspor Donato que eram adotadas para o estudo do latim clássico,que era a língua usada no ensino, na diplomacia, pelos eruditose, principalmente, pela Igreja Católica. A gramática da IdadeMédia retoma o estudo lingüístico no âmbito da filosofia, cominfluências dos pensamentos aristotélico e cristão. Asgramáticas escritas no período medieval se diferenciam dasgramáticas da Antigüidade principalmente pelo fato de nãoterem o caráter pedagógico, mas sim teórico e científico.

DA RENASCENÇA AO SÉCULO XVIII

Na Renascença, novamente os estudos gramaticais se voltam para a literatura,buscando facilitar a leitura de clássicos e tentando conter o processo variacional. Nessaépoca publicou-se a primeira gramática da Língua Portuguesa, Grammatica de linguagemportuguesa, de Fernão de Oliveira, em 1536. A partir da Renascença, principalmente com osurgimento do iluminismo e da influência da filosofia grega, são retomadas as especulaçõesfilosóficas acerca da linguagem e das línguas. Os estudos lingüísticos continuaram ainvestigar as categorias gramaticais, a possível existência de um sistema lógico inerente atodas as línguas, a sintaxe com base na ordem das palavras e no papel principal da línguade expressar o pensamento.

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OUTRAS ABORDAGENS SOBRE A GRAMÁTICA

A GRAMÁTICA COMPARATIVA E OS NEOGRAMÁTICOSNos fins do século XVIII, o interesse pela origem das palavras, já existente desde a

Antigüidade, se ampliou. Os estudos buscavam identificar parentesco entre as línguas,através da descrição e da comparação delas. Esse tipo de estudo foi chamado de GramáticaComparada ou Lingüística Histórica. Sua maior importância foi o fato de ter mostrado que amudança lingüística é um processo regular, constante e universal. Nesse mesmo período,surgiram os neogramáticos, estudiosos da língua que formularam, de forma sistemática, osprincípios e métodos da gramática comparada. Desses princípios, o que mais se destaca éo das leis fonéticas, que tinham caráter absoluto, não aceitando exceções. Tal pensamentofoi influenciado pelo pensamento vigente na biologia da época: o modelo positivista deDarwin, no qual a evolução biológica acontece segundo leis imutáveis. Outro princípio dosneogramáticos importante indicava que somente o método histórico era válido como métodocientífico, excluindo, assim, o uso lingüístico corrente na época.

O ESTRUTURALISMO

Em oposição ao método comparativista, surge, no início do século XX, oestruturalismo, firmando a lingüística como ciência independente. Ferdinand de Saussure,através de suas aulas de lingüística geral, influenciou muitos outros lingüistas, mesmo depoisde sua morte, quando alguns de seus alunos publicaram as anotações de suas aulas sob otítulo de Cours de Linguistique Générale (Curso de Lingüística Geral). As maiorescontribuições de Saussure foram:

Interpretação da língua como um fenômeno social.Admissão do estudo da língua sob o ponto de vista sincrônico, sem refutar a validade

de se estudar a língua em momentos diferentes. Surgem os conceitos de sincronia versusdiacronia.

A dicotomia, langue (língua) versus parole (fala) através da qual se diferencia línguade fala, dando preferência ao estudo da langue, que é considerada comum para todos osmembros de uma comunidade.

Adoção da primazia da fala sobre a escrita, diferente das gramáticas normativas. Osestudos estruturalistas passaram a ser basicamente descritivos, deixando de lado juízos devalor.

Estabelecimento da dicotomia paradigma x sintagma, analisando as estruturas emconjunto, nas inter-relações que mantêm umas com as outras.

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Morfossintaxedo Português

Muitas escolas estruturalistas surgiram. Destaca-se o descritivismoamericano, criado por Bloomfield. Influenciado pelo behaviorismo, ele estudoua língua considerando a linguagem como parte do comportamento humanoque também funcionava com estímulos e respostas. Dessa forma, ele explicaa aquisição da linguagem como um processo de imitação. Também deu ênfaseà classificação e descrição dos fatos. Introduziu à análise sintática a expressãoconstituinte imediato, conceito-base do sintagma. Este conceito tirou os

lingüistas da “prisão terminológica” que limitava as análises sintáticas da GT. Porém, nãofoi suficiente para esclarecer frases que permitem mais de uma interpretação ou frasesdiferentes com o mesmo significado.

A GRAMÁTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL

Na tentativa de explicar as questões que o descritivismo de Bloomfield não conseguiuresolver, Chomsky propôs uma nova teoria que aplica regras quase matemáticas à estruturadas línguas, criando a Gramática Transformacional, ou Gramática Gerativa. O gerativismose diferencia das correntes anteriores pelo seu objeto de estudo. Em lugar de construçõesde uma língua, o estudo é dedicado à competência lingüística dos falantes/ouvintes e seuconhecimento inato sobre os mecanismos da língua que domina. Refutando a teoriabehaviorista de Bloomfield, Chomsky propõe um mecanismo inerente ao ser humano quelhe possibilita criar construções na língua que adquire, compreendendo e sendocompreendido pelos falantes desta língua.

AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividadesComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares

0000011111..... Qual a visão que os filósofos gregos da antigüidade possuíam sobre a gramática?

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02.02.02.02.02. Como a gramática era tratada na Idade Média e na Renascença?

03. 03. 03. 03. 03. Em que consistia a gramática comparada do século XIX?

04.04.04.04.04. Quais foram as contribuições de Chomsky e Saussure para os estudos lingüísticos?

AtividadeAtividadeAtividadeAtividadeAtividade

OrientadaOrientadaOrientadaOrientadaOrientadaCaro aluno,

Chegou o momento da atividade orientada a qual conferirá a aprendizagem ocorridaao longo das aulas. Desejo, sinceramente, que tenha aproveitado bastante os nossosencontros e que seu interesse pelos estudos cresça continuamente. Leia os textos e, emseguida, procure realizar as atividades de acordo com as orientações. Boa sorte e atémais...

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 11111Um escritor nasce e morre

Publiquei três livros, que foram extremamente louvados por meus companheiros degeração e de pensão, e que os critérios acadêmicos olharam com desprezo. Dois volumesde contos e um de poemas. Distribuí as edições entre jornais, amigos, pessoas que mepediram, e mulheres a quem eu desejava impressionar.

Sobretudo entre as últimas. Minha tática, de resto, era simples, consistia em jamaispronunciar ou sugerir a palavra literatura. Eu não era um literato que se anunciava, mas umhomem que, no fundo, sofria por saber-se literato. Minha literatura assumia feição estranha,com alguma coisa de nativo e contrariado na origem, mas vegetando, não obstante.

- O Senhor escreve coisas lindíssimas, eu sei...

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Morfossintaxedo Português

- Calúnia de meus inimigos. Infelizmente, é impossível viver sem fazerinimigos. Eles é que espalham isso, não acredite...

Meu sorriso gauche de dentes não suficientemente íntegros (ganheifama de irônico por causa de meu sorriso envergonhado), sublinhava a intençãodiscreta da negativa.

O sujeito afastava-se, impressionado. Muitas preocupações nacionaisnão se estabelecem de outro modo. Eu escrevia .

1. 1. 1. 1. 1. Escreva no quadro abaixo as palavras destacadas no texto e analise-as, em suaconstituição mórfica.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos de Aprendiz. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p. 1224.

Leia o texto a seguir:

A raposa e as uvas

Uma raposa estava com muita fome. Foi quando viu uma parreiracheia de lindos cachos de uva. Imediatamente começou a dar pulospara ver se pegava as uvas. Mas a latada era muito alta e, por maisque pulasse, a raposa não as alcançava.

- Estão verdes – disse, com ar de desprezo.E já ia seguindo o seu caminho, quando ouviu um pequeno ruído.Pensando que era uma uva caindo, deu um pulo para abocanhá-

la. Era apenas uma folha e a raposa foi-se embora, olhandodisfarçadamente para os lados. Precisava ter certeza de que ninguémpercebera que queria as uvas.

Também é assim com as pessoas: quando não podem ter o que desejam, fingemque não o desejam.

(12 fábulas de Esopo. São Paulo: Ática, 1994)

2.2.2.2.2. As palavras destacadas em negrito possuem o morfema zero. Assim, a partirdesses exemplos, construa o seu conceito de morfema zero.

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3.3.3.3.3. A primeira palavra sublinhada é um exemplo de morfologia flexional e a segundapalavra sublinhada é um exemplo de morfologia derivacional. Faça uma distinção entre amorfologia flexional e a morfologia derivacional.

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 222221.1.1.1.1. Lembra-se do jogo dominó? Pois bem, abaixo temos algumas peças nas quais

estão escritos os sintagmas estudados anteriormente. Você deverá desenhar estas mesmaspeças e organizá-las em uma folha separada, de modo que fiquem coerentes com o queestá sendo pedido.

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2.2.2.2.2. Agora você deverá descrever sintagmas nos espaços vazios, com base em cadaestrutura sublinhada, na peça do dominó. Você deverá organizá-la, em uma folha separada,de modo que os sintagmas, descritos por você, estejam associados com as estruturasapresentadas, tal qual um jogo de dominó.

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3. 3. 3. 3. 3. Analise com atenção a oração:

Aquela emocionante peça teatral é de autoria de uma famosa autora de televisão.

Agora, responda:a) “Aquela emocionante peça teatral” pertence a que tipo de sintagma, e qual sua

função sintática?

b) ‘da autoria de uma famosa autora” corresponde a qual sintagma e que funçãosintática possui?

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c) Qual é a função sintática de “de uma famosa autora de televisão?”

d) “de televisão” possui a mesma função sintática da questão c? Se a resposta fornegativa diga a função.

e) Quantos SAs existem em “Aquela emocionante peça teatral?”

Etapa Etapa Etapa Etapa Etapa 333331. 1. 1. 1. 1. Leia o texto abaixo e faça a descrição sintagmática dos termos destacados.

Os turistas secretos

Havia um casal que tinha uma inveja terrível dos amigos turistas – especialmente dosque faziam turismo no exterior. Ele, pequeno funcionário de uma grande firma, ela, professoraprimária, jamais tinham conseguido juntar o suficiente para viajar. Quando dava para asprestações das passagens não chegava para os dólares, e vice-versa; e assim, ano apósano, acabavam ficando em casa. Economizavam, compravam menos roupa, andavam sóde ônibus, comiam menos – mas não conseguiam viajar para o exterior. Às vezes passavamuns dias na praia. E era tudo.

Contudo, tamanha era a vontade que tinham de contar para os amigos sobre asmaravilhas da Europa, que acabaram bolando um plano. Todos os anos, no fim de janeiro,telefonavam aos amigos: estavam se despedindo, viajavam para o Velho Mundo. De fato,alguns dias depois começavam a chegar postais de cidades européias, Roma, Veneza,Florença; e, ao fim de um mês, eles estavam de volta, convidando os amigos para verem osslides da viagem. E as coisas interessantes que contavam! Até dividiam os assuntos; a elecabia comentar os hotéis, os serviços aéreos, a cotação das moedas, e também o ladopitoresco das viagens; a ela tocava o lado erudito: comentários sobre os museus e locaishistóricos, peças teatrais que tinham visto. O filho, de dez anos, não contava nada, masconfirmava tudo; e suspirava quando os pais diziam:

Como fomos felizes em Florença!O que os amigos não conseguiam descobrir era de onde saíra o dinheiro para a

viagem; um, mais indiscreto, chegou a perguntar. Os dois sorriram, misteriosos, falaramnuma herança e desconversaram.

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Depois é que ficou se sabendo.Não viajavam coisa alguma. Nem saíam da cidade. Ficavam trancados em casa

durante todo o mês de férias. Ela ficava estudando os folhetos das companhias de turismo,sobre – por exemplo – a cidade de Florença; a história de Florença, os museus de Florença,os monumentos de Florença. Ele, num pequeno laboratório fotográfico, montava slides emque as imagens deles estavam superpostas a imagens de Florença. Escrevia os cartões-postais, colocava neles selos usados com carimbos falsificados. Quanto ao menino, decoravaas histórias contadas pelos pais para confirmá-las se necessário.

Só saíam de casa tarde da noite. O menino, para fazer um pouco de exercício; ela,para fazer compras num supermercado distante; e ele, para depositar nas caixas decorrespondência dos amigos os postais.

Poderia ter durado muitos e muitos anos, esta história. Foi ela quem estragou tudo.Lá pelas tantas, cansou de ter um marido pobre, que só lhe proporcionava excursões fingidas.Apaixonou-se por um piloto, que lhe prometeu muitas viagens, para os lugares mais exóticos.E acabou pedindo o divórcio.

Beijaram-se pela última vez ao sair do escritório do advogado.A verdade – disse ele – é que me diverti muito com a história toda.Eu também me diverti muito – ela disse.Fomos muito felizes em Florença – suspirou ele.É verdade – ela disse, com lágrimas nos olhos. E prometeu-se que nunca mais iria a

Florença.

a) Um casal tinha uma inveja terrível dos amigos turistas.

b) “Ele, pequeno funcionário de uma grande firma, ela, professora primária, jamaistinham conseguido juntar o suficiente para viajar”.

c) “Quando dava para as prestações das passagens não chegava para os dólares, evice-versa; e assim, ano após ano, acabavam ficando em casa”.

d) “Economizavam, compravam menos roupa, andavam só de ônibus, comiam menos– mas não conseguiam viajar para o exterior”.

e) “Contudo, tamanha era a vontade que tinham de contar para os amigos sobre asmaravilhas da Europa, que acabaram bolando um plano”.

f) “De fato, alguns dias depois começavam a chegar postais de cidades européias”.

g) “E as coisas interessantes que contavam!”

h) “O filho, de dez anos, não contava nada, mas confirmava tudo”.

i) Ele montava slides em que as imagens deles estavam superpostas a imagens deFlorença.

j) “Foi ela quem estragou tudo. Lá pelas tantas, cansou de ter um marido pobre, quesó lhe proporcionava excursões fingidas. Apaixonou-se por um piloto, que lhe prometeumuitas viagens, para os lugares mais exóticos.”

(SCLIAR. Moacir. Melhores Contos. São Paulo: Global)

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2. 2. 2. 2. 2. Leia o texto abaixo e faça a descrição sintagmática dos termosdestacados.

Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu oboato do milagre. É sempre assim. Começa com um simples boato, mas logo o povo –sofredor, coitadinho, e pronto a acreditar em algo capaz de minorar sua perene chateação– passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade, para poder fazer do milagrea sua esperança.

Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso, homem bom, tranqüilo, amigo dagente simples, que fora em vida um misto de sacerdote, conselheiro, médico, financiadordos necessitados e até advogado dos pobres, nas suas eternas questões com os poderosos.Fora, enfim, um sacerdote na expressão do termo: fizera de sua vida um apostolado.

Um dia o vigário morreu. Ficou a saudade morando com a gente do lugar. E era emsinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal e qual o deixara. Eraum quartinho modesto, atrás da venda. Um catre (porque em histórias assim a cama dopersonagem chama-se catre) uma cadeira, um armário tosco, alguns livros. O quarto dovigário ficou sendo uma espécie de monumento à sua memória, já que a Prefeitura localnão tinha verba para erguer sua estátua.

E foi quando um dia... ou melhor, uma noite, deu-se o milagre. No quarto dos fundosda venda, no quarto que fora do padre, na mesma hora em que o padre costumava acenderuma vela para ler seu breviário, apareceu uma vela acesa.

– Milagre!!! – quiseram todos.E milagre ficou sendo, porque uma senhora que tinha o filho doente, logo se ajoelhou

do lado de fora do quarto, junto à janela, e pediu pela criança. Ao chegar em casa, depoisdo pedido – conta-se – a senhora encontrou o filho brincando, fagueiro.

– Milagre!!! – repetiram todos. E o grito de “Milagre!!!” reboou por sobre montes erios, vales e florestas, indo soar no ouvido de outras gentes, de outros povoados. E logocomeçaram as romarias.

Vinha gente de longe pedir! Chegava povo de tudo quanto é canto e ficava ali plantado,junto à janela, aguardando a luz da vela. Outros padres, coronéis, até deputados, paraoficializar o milagre. E quando eram mais ou menos seis da tarde, hora em que o bondososacerdote costumava acender sua vela... a vela se acendia e começavam as orações. Ricose pobres, doentes e saudáveis, homens e mulheres, civis e militares caíam de joelhos,pedindo.

Com o passar do tempo a coisa arrefeceu. Muitos foram os casos de doençascuradas, de heranças conseguidas, de triunfos os mais diversos. Mas, como tudo passa,depois de alguns anos passaram também as romarias. Foi diminuindo a fama do milagre eficou, apenas, mais folclore na lembrança do povo.

O lugarejo não mudou nada. Continua igualzinho como era e ainda existe, atrás davenda, o quarto que fora do padre. Passamos outro dia por lá. Entramos na venda e pedimosao português, seu dono, que vive há muitos anos atrás do balcão, a roubar no peso, que nosservisse uma cerveja. O português, então, berrou para um pretinho, que arrumava latas degoiabada numa prateleira:

– Ó Milagre, sirva uma cerveja ao freguês!

O Milagre

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Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naqueleafilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião. Milagreera apelido.

– E por quê? – perguntamos.– Porque era ele quem acendia a vela, no quarto do padre.

a) “Naquela pequena cidade as romarias começaram quando correu o boato domilagre”.

b) “Começa com um simples boato”

c) “o povo – sofredor, coitadinho, e pronto a acreditar em algo capaz de minorar suaperene chateação – passa a torcer para que o boato se transforme numa realidade”

d) “Dizia-se que ali vivera um vigário muito piedoso”

e) “Um dia o vigário morreu”.

f) “E era em sinal de reconhecimento que conservavam o quarto onde ele vivera, tal equal o deixara”.

g) “logo começaram as romarias”

h) “Com o passar do tempo a coisa arrefeceu”.

i) “Um pretinho arrumava latas de goiabada numa prateleira”

j) “ele acendia a vela no quarto do padre”

PONTE PRETA, Stanislaw. O milagre. In:___________. O melhor de Stanislaw Ponte Preta. 3 ed. Rio deJaneiro, José Olympo, 1988.

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Glossário

ALOMORFE – é cada uma das diferentes formas fônicas (morfes) queum morfema assume em função do contexto lingüístico. Por exemplo, o morfema –s marcao plural em português com as formas (-s) (depois de vogal, como em cartas) e (-es) (depoisde consoantes, como em mares, cartazes). (Houaiss)

DETERMINANTE – constituinte de um sintagma que tem por função especificar osentido do outro termo, o determinado, com o qual tem uma relação de subordinação.(Houaiss)

DIACRONIA – descrição de uma língua ou de uma parte dela ao longo de sua históriacom as mudanças que sofreu; lingüística diacrônica. (Houaiss)

DISCURSO – língua em ação tal como é realizada pelo falante [para muitos lingüistas,a palavra discurso é sinônimo de fala e figura em igualdade de sentido na dicotomia língua/ discurso]. (Houaiss)

GRAMÁTICA - palavra de origem grega, surgida a partir de grámma, que significa“letra”. Inicialmente, Gramática era o nome das técnicas de escrita e leitura, mas,posteriormente, começou a se referir ao conjunto das regras que garantem o uso padrão dalíngua – gramática normativa. Atualmente, designa, também, a descrição científica dofuncionamento de uma língua – gramática descritiva. (Cipro Neto)

MODIFICADOR – numa análise em constituintes imediatos, é o elemento cujadistribuição diverge da distribuição da construção total (por exeplo., em a menina de cabeloslouros, o modificador é de cabelos louros, e o núcleo, menina). (Houaiss)

MORFEMA – é a menor unidade lingüística que possui significado, abarcando afixos,formas livres e formas presas e vocábulos gramaticais. (Houaiss)

MORFEMA DERIVACIONAL – é o afixo. É o morfema que cria um novo vocábulo,combinando-se a um radical. Por exemplo, -eir- em livreiro. (Houaiss)

MORFEMA FLEXIONAL – morfema empregado na flexão dos substantivos, adjetivosou verbos, sem mudar a classe da palavra. Por exemplom, o -s de plural em irmãs. (Houaiss)

MORFEMA GRAMATICAL – é morfema que se acrescenta aos radicais dos nomese verbos para expressar noções gramaticais de número gênero, caso, pessoa, tempo emodo. (Houaiss)

MORFOLOGIA – estudo da constituição das palavras e dos processos pelos quaiselas são construídas a partir de suas partes componentes, os morfemas. (Houaiss)

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SEMANTEMA – parte de um vocábulo que expressa um conceito, uma idéia de caráterlexical (substância, qualidade, processo, modalidade da ação ou da qualidade). Estápresente em diferentes elementos lexicais: radicais, palavras simples e palavras compostas.Não está presente nos morfemas com funções exclusivamente gramaticais. (Houaiss)

SENTENÇA – palavra que também pode ser usada no lugar de frase e oração.

SIGNIFICANTE – imagem acústica que é associada a um significado numa línguapara formar o signo lingüístico. (Houaiss)

SIGNIFICADO – conteúdo semântico de um signo lingüístico; acepção, sentido,significação, conceito, noção. Na terminologia Saussuriana, a face do signo lingüístico quecorresponde ao conceito, ao conteúdo. (Houaiss)

SINCRONIA – estado de língua considerado num momento dado independente daevolução histórica dessa língua. (Houaiss)

SINTAGMA – termo estabelecido por Saussure (1922, 170) para designar acombinação de formas mínimas numa unidade lingüística superior. (Camara Jr.)

SINTAXE – estudo que se destina a tratar das relações que os termos estabelecementre si nas sentenças e das relações que se formam entre as sentenças nos períodos.

VERBO COPULATIVO – é o mesmo que verbo de ligação.

VOCÁBULO - é o mesmo que palavra; cada uma das unidades átonas do léxico(preposições, conjunções, artigos, pronomes oblíquos) que não podendo constituir umenunciado sozinhas, se agregam a outra formando um vocábulo fonético [Não se confundecom afixo, porque admite intercalação de outros elementos entre ela e a unidade a que seliga]. (Houaiss).

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BARRETO, Therezinha Maria Mello. Atualização em língua portuguesa paraprofessores de 2° grau. Módulo II. Análise lingüística: a morfossintaxe do português.Salvador, 1993.

BASÍLIO, Margarida. Teoria Lexical. São Paulo: Ática. 1987.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. São Paulo:Editora Vozes, 2004.

CAMARA Jr., J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. Referente à línguaportuguesa. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. São Paulo: Editora Ática, 2004.

CIPRO NETO, Pasquale; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 1.ed. São Paulo: Scipione, 1997.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da línguaportuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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ZANOTTO, Normélio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. Caxias do Sul:EDUCS, 1986.

ReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasBibliográficasBibliográficasBibliográficasBibliográficasBibliográficas

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AnotaçõesAnotaçõesAnotaçõesAnotaçõesAnotações

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